O Fim de Ostara

By literatorturing

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Quando a princesa Oleandra descobre uma trágica profecia sobre sua irmã mais nova, ela decide que fará de tud... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20

Capítulo 3

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By literatorturing

O ancião então queimou um pedaço de madeira e espalhou sua fumaça pela barraca com as mãos. O cheiro de fogueira invadiu minhas narinas e senti a súbita urgência de tossir, mas, por um motivo desconhecido para mim, não o fiz, contendo a tosse na garganta até a vontade cessar.

— O controle —, foram as últimas palavras que me disse. — É uma coisa engraçada. Quanto mais se tem, mais se deseja.

As lembranças de horas atrás invadiam minha cabeça e martelavam minha paz, impedindo-me de dormir. Observei a pequena menina-cogumelo pacificamente apagada em meus braços e chequei sua respiração, posicionando o dedo cuidadosamente em frente ao seu nariz.

Uma parte de mim ainda não conseguia acreditar no que havia escutado do velho Volva. Vera não parecia um semideus: ela não possuía uma partícula sequer de liderança em seu corpo, e com certeza não se interessaria em reinar. Então, por quê?

Movi meu braço de debaixo de sua cabeça e me sentei na cama. O quarto, iluminado apenas por uma vela na mesa de cabeceira, era bem menor que o meu quarto no castelo, o que ironicamente o tornava mais confortável. Os quadros que minha mãe pintara, ou os bordados que pendurara nas paredes emadeiradas de meu quarto, tinham sempre tons fortes de verde, pois ela sabia que era minha cor favorita.

Levantei-me, deixando uma cavidade vazia onde antes estava meu corpo, e peguei um xale vermelho do armário. Quando me direcionei à varanda, pude ver uma figura se balançando na rede, provavelmente observando as estrelas. Não que tivesse muito a observar, mas, ainda assim, abotoei meu robe até o pescoço e sentei-me na escada para fazer o mesmo.

— Você parece inquieta. — Disse ela.

— Você também.

Minha mãe riu de minha réplica, virando-se para mim com olhos brilhantes, ainda que na escuridão.

— No que está pensando, minha frostiana?

— Eu recebi uma previsão ruim de um Volva. — Admiti com facilidade, percebendo naquele momento que realmente estava precisando desabafar aquilo com alguém. — Eu não sei o que fazer. Até algumas horas atrás, eu estava profundamente insatisfeita com tudo, e parecia que nada nunca seria bom o suficiente. Mas, agora... — Só percebi que estava chorando quando gotas salgadas invadiram meus lábios. Enterrei minha cabeça em meus joelhos, deixando o resto das lágrimas escorrerem livremente pelo tecido branco sem que minha mãe as notasse. — Eu só quero que nada mude.

— Oh, minha querida. — Sua voz parecia uma faísca quente em meio a um inverno cruel. A escutei sentar-se ao meu lado, e, quando subi o rosto para enxergá-la, senti sua mão no meu ombro. — Uma coisa que sei com certeza é que o destino nunca é certeiro. Veja, eu mesma recebi inúmeras profecias que nunca se concretizaram. Os Volvas se enganam, às vezes, sabe? Acredito que os deuses não falam como nós, e muitas coisas saem erradas na tradução.

Seu sorriso me confortou o suficiente para que eu deitasse a cabeça em sua clavícula.

— Eu sei. Mas tenho medo.

— Você? Com medo? — Ela riu. — Oleandra, você sabe o porquê de eu ter escolhido esse nome para você? — Esbocei um "hm-hm". — É o nome de sua bisavó, Oleandra Hopia, que lutou na Batalha das Fronteiras.

— Você nunca me disse isso. — Acusei.

— Eu estava esperando um momento especial. — Aeg começou a enrolar uma mecha de meu cabelo em seus dedos. — Oleandra, sua bisavó, era uma das melhores guerreiras do reino Fúngi, e braço direito do rei. Foi por conta dela, inclusive, que meus pais conseguiram me aproximar da família real, e eu conheci seu pai.

Assenti, levemente surpresa. Os dois se separaram dois anos antes de Primavera nascer, e, desde então, minha mãe nunca havia sequer mencionado o nome de meu pai em uma conversa. Não sabia como se conheceram, ou como se separaram, e nunca tive a coragem de perguntar.

— Ela se sacrificaria voluntariamente pelo nosso reino, e foi o que aconteceu. Um soldado do reino Mammalia, tão grande e monstruoso, decidiu que seria uma boa ideia matá-la e devorá-la depois. Você consegue imaginar o que ocorreu em seguida?

— Ele morreu.

Minha mãe assentiu com a cabeça.

— Morreu intoxicado. E por isso fiquei tão feliz quando você, minha pequena Oleandra, nasceu de nossa espécie. Somos uma linhagem tão, tão forte. Até nossa carne e sangue são armas! — Ela apertou minha bochecha. — E, se existe uma família capaz de contornar todos os obstáculos do destino, é a nossa.

Inclinei a cabeça em entendimento. Eu poderia, naquele momento, fazer a difícil pergunta: "por que me abandonou?". No entanto, a coragem se dissolveu em meu peito antes mesmo da frase subir para a minha garganta.

— Oleandro é uma planta venenosa. — Mencionei.

— É?

— Mhm. E produz uma das flores mais lindas.

O sorriso de minha mãe se alargou de orelha a orelha.

— Escolhi o nome perfeito para a minha garota-veneno, então.

O rei Bekko estava bravo comigo novamente.

Quando eu e Primavera retornamos, os criados já nos haviam procurado pelos quatro cantos do palácio. Assim que notaram o sumiço de dois sapos-cogumelo nos estábulos, a conclusão óbvia de meu pai foi que eu havia fugido novamente.

E isso não seria um problema, se Primavera não estivesse envolvida.

— Você perdeu a cabeça, Oleandra? — Gritou ele, seu rosto branco ficando vermelho conforme as palavras transbordavam de sua boca. O criado que me levou até ele fechou a porta atrás de nós. — Como pôde colocar a vida de sua irmã em risco desta forma? E se alguém as reconhecesse por aí, e decidisse sequestrá-la?

— Ninguém nos reconheceria, pai. — Cruzei os braços. — Nossos rostos não são tão conhecidos quanto o rosto de Teodas.

Teodas quase nunca conseguia sair em anonimato, uma vez que boa parte de seus trabalhos eram voltados ao bem-estar da população. Quando estava frio, saía para entregar cobertas e sopa, e, quando o rei tinha algo importante a dizer, era o príncipe que ele enviava para passar sua mensagem. Ao contrário de mim e de Primavera, que nunca saíamos de casa sem ser às escondidas.

— Ainda assim, acha que não conseguiriam ver as semelhanças? — O homem suspirou, e seu rosto retornou ao tom original. — Oleandra, eu tolerei diversas rebeldias de sua parte por muitos anos. Mas, se insistir em colocar sua irmã em perigo desse jeito, não terei outra alternativa a não ser cortar qualquer contato entre vocês duas.

A ameaça me irritou. Não por ser uma ameaça em si, mas porque era completamente desnecessária, e porque eu sempre me importei mais com o bem-estar de Primavera que ele. Enquanto ele a jogava em uma aula depois de outra, forçando-a até a exaustão, eu estava ali, arranjando modos de fazê-la se sentir uma criança normal, e de encontrar felicidade fora daqueles muros.

— Minha intenção nunca foi colocá-la em perigo. — Murmurei, o tom forte. Claro que não diria a ele o quão incompetente era como pai, ou o quanto fazia questão da produtividade excessiva acima da saúde mental dos seus filhos, mas, ainda assim, vi-me mordendo o lábio para não gritar os xingamentos mais horrendos em seu rosto.

Ele me fitou com seus olhos grandes e escuros, analisando minha expressão enraivecida.

— Então pare de demonstrar o contrário.

Na volta para meu quarto, parei de chutar cada mobília que eu via pela frente apenas quando ouvi sons suaves e angelicais se espalhando por todo o corredor. Não era comum que Primavera tocasse de noite, então, um pouco apreensiva, aproximei-me de seu quarto para ver como estava.

A porta estava semiaberta, então pude observar sua figura fina sentada na cama, abraçando a cítara de modo tenro. Algo na maneira em que movimentava seus dedos, ressoando aquelas notas perfeitamente agrupadas, fazia meu corpo relaxar em imediato, e toda a raiva que senti pelo meu pai dissipar-se por completo.

Eu não queria chamá-la, pois não queria que parasse de tocar. Não era como nas vezes em que Primavera tocou para um público, ou até quando tocou para mim; daquela vez, apresentando-se para ninguém além de si mesma, parecia quase que em um transe, com os olhos fechados e os lábios formando um "O" perfeito. Até seu quarto azul-bebê, de alguma forma que não sei explicar, parecia mais alegre, quase dançante.

Foi então que notei, na mesa de cabeceira ao lado de sua cama, um vaso com um pequeno girassol. Eu já tinha visto aquela flor muitas vezes antes, mas pude jurar que sua posição havia mudado. As plantas faziam isso às vezes, dependendo da posição da luz ou da frequência na qual estavam sendo regadas, mas...

A folha solitária abaixo de seu caule começou a se mover para cima e para baixo ao ritmo da música, dançando sob o estímulo das notas.

Era um fenômeno inexplicável, que eu obviamente nunca vira antes, mesmo em todos aqueles anos estudando plantas.

Mas não se tratava só do girassol.

Flagrei-me involuntariamente repetindo o movimento com uma das mãos. Fora um movimento tão natural que eu nem sequer conseguiria dizer quando exatamente havia começado, mas, não importava o quanto eu me esforçasse, não conseguia parar de mover minha mão.

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