Espero que encontre uma pessoa sem a qual não possa viver. Espero muito. E desejo que nunca precise saber como é tentar viver sem ela.
A Seleção - Kiera Cass
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Estou sentado no sofá da sala, com meu braço sobre os ombros de Zoe enquanto assistimos um programa de talentos todo em italiano.
Ela não entende quase nada, mas fica encantada quando as pessoas começam a cantar.
— Dominik, posso falar com você um minuto? — Meu pai entra na sala, com os braços cruzados. Vejo ele franzir o rosto quando olho pra Zoe, e não é a primeira vez.
— Já ajudei a colocarem a tenda no jardim, as caixas estão empilhadas e as outras coisas só vão chegar amanhã. O que falta? — Pergunto, na defensiva. Sinto Zoe apertar minha mão em um sinal.
— Não é pra isso que te chamei, quero apenas conversar. — Diz vagamente, fazendo meus nervos borbulharem.
Olho pra minha namorada falsa, que oferece um sorriso pra mim.
— Vai, fico aqui te esperando. — Ela me fala, tentando apoiar.
Levanto do sofá, colocando as mãos no bolso e caminhando atrás do meu pai.
Ele me leva para outra parte da casa, perto de aonde fica o campo. Lembro claramente dos piqueniques que minha mãe fazia aqui, só nós dois. Afinal, Angelo nunca tinha tempo.
— Queria te levar pra dar uma volta na cidade, sua tia Vivian disse que você não trouxe um terno pro casamento. — Começa a falar, seguindo em frente em direção ao carro estacionado.
— Os dois ternos que eu tenho já usei várias vezes, preferi alugar algum por aqui. — Explico, tentando manter um diálogo tranquilo com ele.
— Claro, faz todo sentido um garoto milionário ter apenas dois ternos. — Sinto ironia na sua voz, e percebo que está com aquele sorriso superior no rosto.
Respiro bem fundo, puxando todo oxigênio do mundo pra não surtar. Queria apenas que a Zoe estivesse aqui pra me fazer rir de alguma coisa ou segurar minha mão.
— E essa sua namorada? É sério mesmo ou algo temporário? — Finalmente chega no ponto que tanto queria. Esperou tanto tempo pra isso.
— Diga logo de uma vez, pai. Pare de ficar rodeando o assunto. — Declarei, olhando a vista da fazenda se afastar. Espero chegar o mais rápido possível no centro de Verona.
— Não estou rodeando nada, quero apenas saber se tem certeza. — Responde indiferente, dando de ombros como se seu comentário fosse útil.
— Pediu que eu trouxesse uma acompanhante, eu trouxe minha namorada. Ponto final. Sua participação na história acaba aqui. — Tracei o limite, sem ainda querer olhar em seu rosto.
— Não pode simplesmente sair por aí trazendo garotas como ela pra nossa fazenda. Contou também que um dia tudo isso vai ser seu? Ótimo! Quando descobrir que existem mulheres interesseiras, não volte arrependido. — O discurso ensaiado dele vem a tona.
— Quer me explicar o que significa "garotas como ela"? — Digo, me controlando ao máximo. Minha voz soa estranhamente calma quando encaro meu pai.
Ele suspira, apertando forte o volante. Espero com paciência sua explicação.
— Não foi isso que quis dizer. Zoe parece uma garota legal e tal, mas é mesmo a pessoa certa pra liderar uma herança tão grande? Não pode viver sendo músico pra sempre. Um dia vai precisar cuidar do que é seu por direito. — Tenta me aconselhar. Fecho os olhos, me acalmando.
— Pai, eu tenho vinte e dois anos. Conquistei todo o dinheiro que tenho com o esforço do meu trabalho. Cometi alguns erros pelo caminho, mas isso faz parte. Hoje posso dizer que não estou minimamente interessado nessa herança e nem pretendo me casar por agora. — Falei tranquilo.
Por dentro, travava uma luta de gritar pra ele parar o carro e voltar andando.
— Eu cometi o pior erro de todos quando casei com sua mãe. Caroline queria apenas saber de gastar dinheiro e de viagens, não quero que passe pela mesma coisa. — Ainda insistiu.
— Minha mãe tem os defeitos dela, mas pelo menos nunca fingiu que eu não existia por três anos e nem me julga por seguir meu verdadeiro sonho. — Rebati na mesma hora.
Angelo se calou, talvez percebendo que casar com minha mãe não foi seu único erro. Odiava quando dizia isso, parecia que o erro de toda briga e separação dos dois foi culpa minha.
— Acho que te devo um pedido de desculpas por causa disso. — Murmurou. Vi a vista da cidade chegando e me contive.
— Eu ficava encarando o celular esperando sua ligação, pai. Por três anos. — Digo, sentindo a mágoa falar mais alto.
— Desculpe, filho. É que você foi pra tão longe, sem nem olhar pra trás. Eu ficava esperando uma ligação sua pedindo algum conselho, uma ajuda ou até mesmo dizer que sentia minha falta na sua nova vida. — Confessou. Comecei a observá-lo. — Mas quando acompanhei as notícias, vi que estava indo tão bem sem mim, entendi que já tinha tudo.
— Tinha tudo, menos meus pais presentes. Minha mãe sempre viajando e me ligando por cinco minutos uma vez na semana, enquanto o meu pai nem me atendia. — Decidi dizer, sentindo que aquelas dúvidas estavam sendo respondidas.
— Eu... sinto muito. Sei que somos totalmente diferentes, e sempre discutimos bastante, mas vou tentar melhorar. Apenas me desculpe, Nik. — Diz meu apelido, aquele que me chamava quando eu era um garotinho.
Acenei com a cabeça, disposto a perdoar. Ele estacionou o carro e saímos juntos.
Passamos aquela manhã escolhendo um terno pra alugar, e no final do dia, quando voltei pra casa, me senti mais leve de fato. Foi uma conversa rápida, mas surtiu efeito.
Encontrei Izabela e Zoe conversando no sofá. Henrico jogava no celular e sorriu abertamente quando me viu entrando. Dei um sorriso pra ele também.
— O que acha de aprender algumas notas no violão agora, fratellino? — Disse, fazendo o garoto pular do sofá e sair correndo pra seu quarto, procurando o violão que tinha.
Me sentei ao lado da minha namorada falsa, dando um beijo na bochecha dela.
— No começo foi horrível, mas no fim nem foi tão ruim assim. — Murmurei no ouvido dela, recebendo um olhar orgulhoso.
— Você conseguiu lidar com seu maior medo, parabéns. — Respondeu, ajeitando o óculo em meu rosto. Meu coração não pode evitar de acelerar quando ela me tocava.
Henrico voltou com o violão e se sentou entre mim e Zoe, exalando alegria.
— Obrigada por isso, Dominik. Seu pai tinha razão quando disse que você sempre foi um ótimo filho. — Izabela falou, tocando naquele assunto tão delicado. Meu pai disse isso?
— Por nada. Afinal, amanhã seremos oficialmente da mesma família. — Foi o que eu disse.
Depois de passar minha tarde ensinando acordes pra Henrico e comendo a macarronada mais deliciosa do mundo todo, deitei na cama cansado.
Peguei meu celular e tirei uma foto de Zoe, que usava uma skin care verde no rosto e ainda assim continuava linda. O coque no cabelo e sentada na poltrona do quarto.
Coloquei um coração do lado e postei nos amigos próximos do Instagram. Sabia que meus amigos estavam super curiosos pra saber o que estava acontecendo e isso iria render.
Mandei uma mensagem pra minha mãe, que deveria estar no Japão nesse dia. Contei resumidamente tudo que tinha acontecido e disse que me ligasse logo.
Seu trabalho de aeromoça nesse tempo de férias não deixava tanto tempo livre.
Por fim, ignorei as cinquenta e oito mensagens que meus amigos mandaram assim que postei aquela foto. Ficariam comentando sobre o assunto pelo resto da semana.
— Sua irmã está dizendo que você está postando poucas fotos, ela quer saber como é o piso das casas daqui. — Eu disse, lendo as mensagens pela barra de notificação.
— Realmente, estou tirando apenas fotos das paisagens. Você me ajuda a tirar algumas fotos minhas agora? Vi alguns cantinhos aqui perfeitos pra isso. — Me pediu, tirando sua câmera da mala pequena.
Deixei meu celular de canto e todas aquelas mensagens, indo ajudá-la.
E assim foi a minha noite. Zoe trocava de roupa a cada instante, fazendo uma pose diferente, enquanto eu a seguia com aquela câmera na mão.
Em um certo momento, coloquei pra gravar e fui até ela, lhe ensinando a dançar valsa. Chorei de tanto rir quando caímos no gramado e sujamos nossas roupas. Mas quem se importa?
Era um momento feliz que eu jamais esqueceria.
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