REDENÇÃO - Irmãos Fiori: Livr...

ailujcoutinho által

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*** ESSE É O TERCEIRO LIVRO DE UMA SÉRIE, NÃO É NECESSÁRIO LER OS ANTERIORES PARA ENTENDER ESSA HISTÓRIA, MAS... Több

DEDICATÓRIA
EPÍGRAFE
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
GRUPO NO TELEGRAM!
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPITULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPITULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
BIENAL!
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS

CAPÍTULO 23

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ailujcoutinho által



MARIA CLARA

- Terra chamando Maria Clara! - Nina diz, estalando os dedos graciosos na frente do meu rosto subitamente muito corado, por perceber que minha amiga passou os últimos dez minutos completamente engajada em uma conversa que mal me lembro a metade.

Era assim que eu andava ultimamente. Completamente distraída.

Eu gostaria de poder dizer que a razão disso era óbvia: um carro velho que dá problema demais, uma conta recorrente no cartão de crédito que não termina nunca, um carinha que furou o nosso encontro. Algo assim, mundano. Ordinário mesmo. Mas eu estaria mentindo.

Porque o motivo da minha distração está sentado a três cadeiras de distância, me encarando tão profundamente que não posso fazer nada além de pensar no decorrer das últimas semanas. Principalmente naquele pequeno detalhe em que meu chefe, melhor amigo e irmão mais velho da minha amiga mais antiga me beijou.

Me devorou.

Após fazer a surpresa mais perfeita do mundo pra mim.

Após me trazer de volta para casa, quando já fazia anos - nove deles, especificamente -que eu me sentia completamente inadequada em qualquer lugar, principalmente dentro de mim mesma. E foi tudo muito demais. As emoções todas recaindo sobre mim de uma vez. A pintura, a viagem, os meses do cheiro, sorriso, tudo dele enevoando a minha mente. Nossa barragem simplesmente rompeu. Não aguentou a força de tudo. E nunca me senti mais completa em toda a minha vida.

Se eu acreditasse nessas baboseiras de destino, acaso, almas gêmeas perdidas e tudo mais, eu diria, sem sombra de dúvidas, que uma parte de Salvatore, e uma parte minha, parte tão grande que me assustava, pareciam perfeitas um para a outra. Éramos perfeitos juntos. Sua boca na minha, suas mãos em mim, seu coração sob a minha palma.
Era tudo muito íntimo. Tudo muito nosso. Perfeito.
Como a manhã seguinte em que dormimos juntos ainda na casa de Cadu, sua respiração cadenciada, os dedos percorrendo meu rosto sonolento com carinho, e o sussurro naquele italiano deliciosamente perfeito que me arrepiou da cabeça aos pés.

- Perfetta.

Perfeita.

Aqueles dois metros de músculos com um rosto esculpido pelos deuses tinha me chamado de perfeita.

Eu. Euzinha!

Era bom demais pra ser verdade.

Por isso, lutei contra todos os meus instintos que me imploravam para me aconchegar a ele e nunca mais soltar, e levantei da sua cama sem sequer me despedir, escapulindo de volta pro meu quarto antes que qualquer um acordasse.
Desde então, eu estava uma bagunça completa.. Totalmente aterrorizada. Querendo muito mais.

Com Salvatore era assim. Nunca havia um meio termo. Tudo ou nada. Congelando ou fervendo. Morno jamais. E aquele homem sabia como fazer uma mulher pegar fogo...

Tanto que na volta da viagem, o silêncio que pairava entre nós era tão carregado que nem mesmo as piadinhas de Cadu conseguiam cortá-la. Bastava olharmos um para o outro e lá estava tudo de novo. Gritando. Chamando. Implorando. Como dois imãs. Agora que eu sabia o gosto do seu beijo, a forma que ele me conduzia, que enxergava a minha alma, que me protegia, eu não fazia ideia de como voltar a ser o que éramos antes. Não havia caminho de volta. Pelo menos não para mim.

Quando ele estacionou na frente do meu apartamento, Cadu e Mari pareciam sentir que algo estava prestes a acontecer, pois rapidamente saíram do carro, pegaram as malas no carro e sumiram por dentro da portaria.

E sobramos nós dois.

Tudo muito incerto. Tudo muito novo. Tudo delicioso.

Não sei quem se mexeu primeiro, mas em um piscar de olhos, meu cinto foi destravado, eu subi para seu colo e sua boca estava na minha novamente. E eu me perdi.

Salvatore era tudo que eu gostava em um homem. A medida perfeita entre tomar e conceder. Obedecer e comandar. E conforme seus beijos desciam por meu colo, e meu quadril deslizava sobre o seu, eu sabia que estava arruinada para o resto da população masculina. Ele era todo gostoso. Todo lindo. Todo... meu. Por aqueles minutos. Por aqueles instantes de desejo desenfreado e cego.

- Não sei no que você está pensando mais deve ser bom para estar me ignorando com esse sorriso sonhador. - Nina debocha, colocando as mãos nos quadris cobertos por uma calça jeans clara.

Esfrego o meu rosto porque hoje estou perdida. Completamente derrotada para meu cérebro traidor.

- Não é nada demais, Nina. Só animada para ver o que Gabriel preparou para mim. - digo, falando parcialmente a verdade. Gabe me entregaria minha moto hoje. E eu não fazia ideia do que me esperava já que deixei a escolha por sua conta, desde que fosse econômica e coubesse no meu orçamento. Gabriel pareceu muito animado por ter essa liberdade - ou bem, tão animado quanto Gabriel pode ser com sua aura de bad boy que odeia o mundo.

A questão é que contar para Nina que estou fantasiando sobre as delícias que a boca de seu irmão faz está fora de cogitação, mesmo que sua expressão de sabichona nesse momento deixe claro que ela sabe mais do que demonstra. O que agradeço, porque as coisas já estão confusas demais sem o resto da família se mantendo para opinar. E sabemos que as opiniões seriam unânimes.

Se amem. Se casem. Tenham pequenos bebês lutadores comedores de macarrão. Final feliz com música do Coldplay tocando no fundo.

Mas isso tudo eu deixava para Marina e Alex.

Nunca fui do tipo comercial de margarina, apesar de saber que os dois estavam longe de terem tido uma história de amor tranquila.

Sempre preferi os romances que se tornam suspense, até chegarem num terror arrepiante.

Eu torcia para que esse não fosse o nosso caso. Porque apesar de após o nosso beijo no carro, Salvatore ter claramente dado um passo para trás, dizendo que deveríamos ir com calma, não quero pensar sobre as possibilidades de o que temos se tornar qualquer coisa além de algo bonito e cheio de respeito. Como já vinha sendo muito antes dessa confusão de sentimentos se desenrolar entre nós dois.
Não importava se nunca mais nos tocaríamos com segundas intenções. Ou se Salvatore tinha ressalvas, assim como eu também tinha. Eu só não podia perdê-lo. Nenhum deles.

- Tenho certeza que é em Gabriel que você está pensando. - Ela desdenha, revirando os olhos bonitos.

E sou salva de ter que dar uma resposta porque uma Violeta muito descontente corre em minha direção, erguendo os bracinhos para que eu a pegue no colo. Melissa também parece descontente, apesar de não ser tão intensa com suas emoções como sua irmã mais velha por três minutos. Ela simplesmente pula do colo do pai, de onde Violeta também saiu, e corre para Salvatore, que a segura com carinho. Os olhos de Salvatore me procuram, pousando primeiro em Violeta, antes de percorrerem o meu rosto. Não diz nada, só me olha, antes que Melissa aperte seu rosto entre suas mãozinhas exigentes e Violeta faça o mesmo comigo.

- Diz pra ele, titia Maria. - Ela manda, brava, fazendo o biquinho mais adorável do mundo, antes de olhar para o pai, que parece ter noção de que se colocou em uma enrascada com as filhas. Seu olhar ainda é culpado quando ele caminha até nós.

- Dizer o que para o seu papai, minha lindinha? - Eu pergunto, tentando me manter séria porque seja lá o que for, deixou as duas gêmeas emburradas, e isso nunca era uma coisa boa. Principalmente para o pai babão que elas tinham.

- Diz para ele que quando eu crescer, o meu cabelo e o da Mel vão ser igual ao seu, cheio de tóin-óin-óin. - Ela diz, se embolando nas palavras, me deixando como sempre, chocada por ser tão pequena e já ter um vocabulário tão extenso. Mas com uma família que não calava a boca um só segundo do dia, não era difícil de imaginar. Só então presto atenção no que ela acabou de falar, e quase tenho uma síncope de tanto segurar o riso, e a vontade de encher suas bochechas rosadas de beijinhos. Elas eram adoráveis.

- Cheio de cachinhos, você quis dizer, minha princesa? - Pergunto, tentando me assegurar, e tentar achar uma resposta esperta que não machuque seus sentimentos, já que não há nenhuma chance que seu cabelo castanho escorrido se torne algo perto dos meus cachos cheios.

- Cachinhos não, tóin-óin-óin. - Ela corrige, com a petulância de seus três anos.

- São molinhas, eu já falei, Vivi. - Melissa grita, do colo do seu tio, que mal consegue conter o sorriso também.

- Quero o seu cabelo, titia Maria. - Violeta diz, pegando meus cachos longos em suas mãos e colocando-os em volta de sua cabeça. Agora, segurar o riso é impossível. Gargalho com vontade. - O meu é chato. Marrom que nem cocô.

Agora, a risada de todos enchem o ar. Elas eram uma comédia.

- Por que vocês estão rindo da minha irmã? - Mel pergunta, cruzando os bracinhos pequenos sobre o peito.

- Não estamos rindo dela, amorzinho, estamos felizes por vocês serem tão perspicazes. - Nina diz, indo estalar um beijo na cabeça de sua filha do meio.

- Filha, seu cabelo é lindo do jeito que é. - Alex tenta dizer, mas recebe um olhar enviezado de Violeta.

- Você não conta, papai. - Ela resmunga. - Pra você, estamos sempre princesas. - Violeta, diz, se balançando no meu colo. E eu só consigo rir.

- Porque vocês são minhas princesas. As mais lindas do mundo. - Alex diz, se afogando no pescoço de Vi, que solta uma risadinha contra sua vontade.

- A gente só acredita no tio Salvatore. - Melissa diz, com a voz adorável que embola vogais e consoantes, sem nunca perder o charme infantil.

Alex nem tenta esconder o horror, seu rosto é tomado por uma máscara enciumada.

- Por que o Salvatore? - Ele pergunta, enquanto Salvatore se levanta com Melissa no colo e caminha até o meu lado, pegando Violeta com seu braço livre. Ele assim, completamente feliz com dois bebês no colo, faz meu útero se contorcer de fofura.

- Por que ele parece um príncipe. E só príncipes conhecem princesas. - Violeta rebate, se agarrando ao pescoço do tio, que parece prestes a morrer de amor a qualquer segundo.

- Isso mesmo, minhas florzinhas. E eu digo que vocês são perfeitas do jeito que são. - Salvatore diz, estalando um beijo na cabeça de cada gêmea.

- Bonitas que nem a titia Maria? - Mel pergunta com um biquinho adorável, piscando os cílios longos para o tio.

E estamos todos tão concentrados na fofura de todo aquele diálogo, que sou pega completamente desprevenida pelas palavras seguintes de Salvatore, que chegam até mim feito um sussurro.

- A tia Maria é a mulher mais bonita que eu conheço, e eu tenho certeza que vocês serão ainda mais bonitas que ela em breve.

Todos nós caímos em silêncio, deixando que sua fala ecoe. E eu só consigo encará-lo, por ser assim, tão ogro... tão príncipe. E os olhos dele me buscam também, dizendo mais do que qualquer palavra.

- E eu não pareço um príncipe? - Alex pergunta finalmente ultrajado, quebrando todo o momento como se as filhas tivessem dezesseis anos completos, o que pareciam ter de fato.

- Não. - Mel responde simplesmente, se jogando para o colo do pai. Violeta, agora feliz, faz o mesmo.

- Você é o nosso rei, papai.

E Alex parece completamente satisfeito.





- Estamos grávidos!

É isso que uma Ana Cecília com lágrimas nos olhos e um Danilo com a expressão mais feliz que eu já na vida gritam, assim que nos reunimos na grande mesa de Mama Helena.

Eles tinham recrutado a família inteira porque tinham uma surpresa, e todos damos graças a Deus por Ana ser do tipo prática, que não tinha paciência para balões e fogos de artifício.

Ainda assim, a notícia demora cinco segundos para ser processada por todos nós. Mas é apenas isso. Porque em um piscar de olhos, todos estamos de pé, gritando, chorando e se agarrando de felicidade.

Aninha e Dan seriam pais.

De um bebêzinho perfeito que era o fruto de tudo que eles tinham lutado muito para conquistar. De todos nós, eles eram quem mais mereciam essa benção. Essa felicidade linda, carregada de nada além de luz.

Pura luz.

Nina e Ana são as que ficam abraçadas por mais tempo. Elas eram como irmãs, foram criadas assim, e tinham passado por tantas coisas juntas que eu sabia que seriam melhores amigas para sempre, e não havia duvidas de quem seria a madrinha daquele bebê que mal havia sido descoberto, mas que já era completamente amado por uma família doidinha e barulhenta.

Vou abraçar Danilo, que já foi parabenizado pela maioria de nós, inclusive seu sogro, que também está emocionado, ainda que seja muito mais contido do que o resto de nós.

- Dan! - Eu digo com um pequeno soluço. Ele sorri e nem hesita antes de me puxar para um abraço apertado.

- Não consigo pensar em alguém que tenha maior vocação para ser pai do que você! - Digo, o apertando de volta. Porque é verdade. Todos os Montenegro-Fiori eram homens para casar, e seriam pais maravilhosos, mas Danilo era o único de todos eles que tinha perdido muita coisa pelo temperamento italiano explosivo, por falar antes de pensar. Por agir antes de refletir. Hoje em dia, não havia um melhor observador, melhor amigo de conversa e parceiro do que ele. Ele seria o melhor amigo do filho antes de qualquer outra coisa. E isso era valioso nos dias de hoje.

Quando ele me solta, o sorriso em seu rosto, aquela imagem de pura felicidade, fazem meus olhos se encherem novamente.

- Obrigado, Bela Merida. - Ele diz, antes de estalar um beijo na minha cabeça. - Nada me deixa mais feliz do que saber que meu filho terá uma tia como você.

- Não me faça chorar mais! - Digo, apontado um dedo em sua direção. Ele apenas ri mais.

- Faça ela chorar sim, amor. - Ana diz, surgindo ao nosso lado. E em um piscar de olhos, toda a expressão corporal de Danilo muda. O rosto relaxa, as mãos a procuram, as pernas se ajeitam no chão. Como se subitamente toda a gravidade tivesse mudado, e fosse Ana que o mantivesse ali de pé, todo o centro da sua existência.

Era isso que as pessoas tinham sorte de achar. Amor e devoção genuínos.

- Aninha! - Eu digo, chorando mais uma vez, antes de puxá-la para um abraço apertado. - Parabéns!

Ana soluça também, me abraçando mais.

- Obrigada, Bela Merida. Por tudo. Por continuar aqui com a gente. Por fazer parte da nossa família. Por ser tão forte. - Ela sussurra, para que somente eu possa ouvir.

Ana sabia que eu tive uma infância muito difícil. No auge de sua depressão, após a armação contra Danilo, senti que era justo compartilhar uma fração do que havia acontecido comigo a tantos anos, para que ela soubesse que ela ficaria bem. Que aquela dor aniquilante não duraria para sempre. Contei para ela sobre os abusos que sofri após fugir de casa. Contei sobre como tive que lutar para ter o mínimo de dignidade. Era mais do que qualquer um deles sabiam sobre o meu passado. E apesar de ter lhe entregado uma versão bem diluída da realidade, fiquei feliz, aliviada por ter feito isso, pois acabamos nos aproximando muito mais.

- Eu é quem agradeço, Aninha. - Falo, me afastando, para olhar seu rosto bonito que brilha com uma felicidade completamente nova. Inteira. De quem sabe que foi a guerra e venceu.

- E espero que você continue na nossa família para sempre, carregando um sobrenome italiano. - Ela pisca para mim, e não consigo rebater, porque Cadu já a agarrou por trás e está rodopiando seu corpo, enquanto ela gargalha feliz.

E o resto da tarde se desenrola assim. Com lágrimas, risadas e o gostinho de recomeço. De calmaria. De comunhão.

Com gostinho de família.


Mal sentimos as horas passarem, e após combinarmos de jantarmos todos juntos no dia seguinte no restaurante árabe novo do centro da cidade para comemoramos novamente, todos começam a ir embora. Eu estou exausta pela semana no trabalho e meus esforços ferrenhos para não ser antiprofissional com Salvatore, que passou os últimos dois dias enfiado em uma das filiais que vinha dando trabalho, então quase me esqueço da surpresa de Gabriel.

- Onde você está indo, coisa linda? - Ele pergunta, segurando meus cachos com carinho. Nem preciso olhar para Salvatore para saber que ele está fuzilando o irmão. Agora, eu parecia perceber ainda mais cada movimento, cada olha atravessado. - Ainda tenho uma surpresa para você.

- Meu Deus, quase esqueci! - Digo, animada, ao lembrar do real motivo para ter vindo para a casa de Mama hoje. Eu amava ser independente, e ter uma moto faria exatamente isso por mim. Me daria liberdade de ir para qualquer lugar a hora que eu quisesse. Não havia nada que eu apreciasse mais.

- Ela já está lá fora te esperando. - Gabriel diz abrindo um de seus raros sorrisos verdadeiros.

- O que estamos esperando então?! - grito animada, agora praticamente correndo para a rua. Gabriel me segue silenciosamente. Mariana e Cadu também, mas Salvatore continua lá, me olhando distante.

- Você não vem? - indago, parando de andar. Salvatore me olha daquela forma que só ele sabe, como se quisesse dizer muito mais do que realmente está dizendo ou deixando de dizer.

- Aonde? - Ele pergunta, enfiando as mãos nos bolsos da calça preta pecaminosa.

Não hesito em abrir um sorriso completo antes de responder.

- Me ver sendo livre.

Volto a andar. Dessa vez, sabendo que sou seguida de perto por um Salvatore compenetrado. Não sei se eu gostava dessa energia estranha, pulsante entre nós. Parecíamos pisar em ovos. Mesmo assim, ele não segura as palavras preciosas que brotam em sua boca.

- Você já é livre, Maria. Mas sempre gosto de te ver feliz.

Príncipe. Eu disse.





- Você está de brincadeira, porra!

É isso que uma Mariana muito chocada grita, me fazendo arregalar os olhos, já que ela nunca xingava.

Mas ela tem razão em fazê-lo, porque não faço ideia de como Gabriel conseguiu comprar uma moto tão linda com o orçamento razoável que eu havia lhe dado.

Tudo bem, eu não fazia ideia de que moto era aquela. Eu era uma ótima piloto, sabia uma mecânica básica, e conhecia os modelos mais famosos de marcas populares. Mas fora achar que a moto azul e clássica é um charme, não faço ideia do que ela seja.

Mariana ainda está boquiaberta, parecendo uma pintura renascentista viva, enquanto caminha e ergue a mão, parecendo com medo de tocar a motocicleta bonita que nos encara. Gabriel, é claro, não perde um só momento, parecendo se afogar em cada murmúrio e expressão chocada.

- É uma Harley Fat Boy 2011. - Ela suspira, arrastando os dedos compridos pela lataria bonita.

E lá está a expressão agraciada de Gabriel. Feliz por ela saber exatamente do que estava falando.

Mariana era completamente apaixonada por motos, apesar de fugir do assunto como o diabo foge da cruz.

- Não é tão clássica assim. - Ele resmunga, apesar de parecer querer sorrir.

- É sim. Preconceito com Harley é proibido nessa família. - Ela resmunga de volta. - É... Linda, Maria. Sério. Uma obra de arte. Não sei nem como Gabriel conseguiu achar uma versão tão única. Você deve ter vendido seus dois rins e um pedaço do seu pulmão para pagá-la. - Ela murmura, agora se ajoelhando para observar cada detalhe possível.

- Fui eu que montei. - Gabriel comenta, e Mariana ergue os olhos completamente chocados para ele. - Você sabe que com a minha mecânica, tenho acesso mais fácil a esse tipo de coisa.

- Isso não é qualquer coisa. - Mariana diz, se levantado, parecendo completamente assombrada com a moto e sua ligação com Gabriel. - É perfeito... Um trabalho espetacular, e as peças estão tão lindas. A cor também. Eu não teria escolhido nada diferente.

E é ali, naquele momento, em que os olhos da minha melhor amiga - a pessoa mais altruísta e benevolente que eu conhecia, a pessoa que nunca pedia absolutamente nada para ninguém, que trabalhava num emprego merda, e ainda tinha que bancar um tio doente do interior, uma mulher que nunca reclamava, não importa o quão difícil a vida estivesse. Alguém que existia em doçura. - brilham como duas estrelas cadentes, que decido que ela precisa daquilo muito mais do que eu. Esse pedacinho de felicidade. Um pedacinho de liberdade também. Salvatore estava certo.

- Que bom. - Digo, casualmente. - Porque é sua.

Quatro pares de olhos me encaram, somente um calmo, como se esperasse que eu fizesse exatamente isso.

- O que?! - Mariana grita, completamente chocada.

- Presente de aniversário atrasado. - Digo dando de ombros. Porque estamos em outubro, e o aniversário dela foi em março, então essa desculpa não soa muito boa, mas é a única que eu tenho.

- Você merece, Mari. - Reitero, porque é verdade. Ela faria jus daquela belezinha muito mais do que eu.

- Maria Clara Lima, você não pode simplesmente comprar uma moto que custa mais do que nós duas juntas e me dar de presente! - Mariana grita, caminhando em minha direção. Pela minha visão periférica, posso ver que Salvatore e Gabriel tem sorrisos em seus rostos. Cadu parece chocado também. Eu sabia que ele já tinha tentado presentear a amiga de mil formas diferentes e Mariana nunca aceitava. Eu tinha que torcer que a moto fosse mais irresistível do que ameaças contra coleções de cerveja e destruição de seus coturnos.

- Posso sim. - Rebato, sorrindo. E Mari para bem na minha frente, os olhos verdes completamente confusos, mas também muito esperançosos, isso é óbvio.

- Por que você faria uma coisa dessas, Bela Merida? - Ela pergunta chorosa, já com o nariz avermelhado por segurar o choro.

Eu respiro fundo e digo a única coisa que faz sentido, uma parte vulnerável de mim que me custava compartilhar.

- Porque eu te amo, Mari. E você é como família para mim.

Mal tenho tempo de ver sua expressão, porque ela já me agarrou no abraço mais apertado do planeta terra e está me balançando de um lado pro outro, parecendo completamente feliz. Ela faz sons animados e antes que eu perceba, já estou gargalhando também. Ela me solta e corre para a moto, completamente pronta para pilotar e olhando para Gabriel, sei exatamente que ele nunca montou aquela moto pra mim. Foi para ela. Por aquela alegria infantil, genuína, que era difícil de se ver.

- Eu tenho a melhor amiga desse planeta! - Ela grita, a plenos pulmões, me fazendo gargalhar com vontade. A recíproca era verdadeira. - Vamos, quero te levar para estrear essa belezinha comigo! - Ela me chama, mas já está olhando para Gabriel em busca das chaves, e quando ele caminha em sua direção, lhe estendendo o cordão onde a chave balança, sei que nunca o vi tão satisfeito na vida.

Eu caminho até minha amiga, contagiada por sua felicidade, e subo atrás de seu corpo, me abraçando a sua cintura fina. Gabriel pega os dois capacetes que estão sobre sua moto, ao lado da de Mari e enfia um primeiro em minha cabeça, e o outro com delicadeza na cabeça de Mariana. Eu não perco nem um segundo do olha penetrante que eles trocam. Conviver com essa família estava me tornando uma fofoqueira também. Por isso, me forço a olhar para frente, onde Cadu segura o celular, já batendo um milhão de fotos nossas, e um Salvatore com um sorriso torto me observa em fixação.

Gabriel se afasta, Mari coloca a chave na ignição e a moto ronca sob nós. Ainda assim, não consigo parar de olhar para Salvatore e sua expressão que agora entendo como completamente orgulhosa.
É isso. Ele me encara com orgulho. Orgulho de mim.
Meus olhos descem até sua boca deliciosa que acompanha cada um de meus sonhos, e quando a moto finalmente se mexe, capto a única palavra que seus lábios formam, seguidas pelo meu sorriso favorito, aquele que chega até seus olhos castanhos e me tira todo o fôlego.

- Perfetta.

E dessa vez, me permito acreditar.







————————————————

Oi minhas florzinhas!

Que saudades imensasssss!!!! Como expliquei no grupo, tirei o último um mês e meio para descansar um pouquinho a mente, e estruturar a revisão do livro da Nina e do Alex, assim como o final de Redenção e os próximos projetos que seguirão após o fim da série irmãos Fiori. Para a minha surpresa e alegria, ainda teremos no mínimo, mais doze casais para encher nossos corações, entre Fioris, Rivieras, e muito mais!

Como sempre, agradeço muito pelo carinho, mensagens preocupadas e parceria que vocês me dedicam. Nessas últimas semanas, entre consultas ao médico, pois tenho uma doença autoimune, faculdade, trabalho, projetos e diversão com a família, foi a vocês que me agarrei. Vocês sempre me guiam de volta para casa, para onde meu coração está: aqui. Entre essas palavras, no som que meus dedos fazem no teclado, buscando sentido, revelando os mistérios do que ainda não compreendo.

Tenho tentado ser mais gentil comigo mesma e com meus processos. Não há pressa do lado daqui para escrever os próximos dez livros em cinco dias. Posso me dar ao luxo de passar algumas semanas focada em outras coisas que me fazem tão bem quanto.

Espero que vocês tenham gostado do capítulo e que não se esqueçam que essa história continua tão viva quanto sempre foi.

Em breve teremos muito mais!

Mill beijos,

Juju ❤️

Olvasás folytatása

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