Korean Killer • Jjk + Pjm

By euautoragi

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Poderia, o caso, aparentemente sem solução, de um assassino em série, causar uma catástrofe emocional? O agen... More

Epígrafe
Prólogo
Diaba
Havaí para Washington
Perigosa
O homem invisível
Cena do crime & prática de tiro
Dores e sabores
Culpa e agonia
Desentendimentos
Era uma vez um taco de golfe
A razão quase perdeu a guerra
Faíscas e olhos traiçoeiros
Território inimigo
Sobre dividir e compartilhar
Decisões necessárias
Sobre mergulhar e transbordar
Tiro no escuro
Quebra de rotina
De volta à Virgínia
Segredos, favores e conselhos
Um sonho de amor
Imersão
O amor é bonito
Tarde demais para pedir perdão
Sobre promessas vazias
Me acorde quando setembro acabar
Sobre malas da Barbie
Projeto Killer
Sincero, íntimo e suficiente
Sobre se afogar em imensidões
Portuga, Zezé e o Pé de Laranja-Lima
Alertas e desconfianças

Sobre confiar

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By euautoragi

⚠️ AVISO DE GATILHO ⚠️
(Comentários curtos sobre a arma do crime e cortes, mutilação. São descrições leves, mas se você se sente desconfortável, NÃO LEIA!)

Deixem seus votinhos ⭐ e não esqueçam de comentar bastante para apoiar a história.

Boa leitura!


Park Jimin

Escritório Federal de Investigação, sede do FBI - Washington, DC

12 de março de 2022

Estávamos atolados de trabalho desde que a técnica Alissa Dalton nos atualizou sobre as pesquisas da arma do crime. Ela havia chegado com uma enorme pilha de papéis.

- Qualquer um com dinheiro na mão e motivo para cometer um crime pode comprar uma faca de açougueiro e quebradeira. - Ela diz, já imaginando que a investigação foque em açougueiros como suspeitos principais.

Após a análise do corte feita já na primeira vítima, foi constatado o uso de uma faca com lâmina de bisturi extremamente afiada. Mas nenhuma das equipes de investigação que colocaram as mãos pelo caso se deram ao trabalho de fazer essa busca. Ela exige uma boa parte do orçamento pelo tempo que leva, e a pesquisa de campo que tem que ser feita.

Porém a arma é uma faca quebradeira Shadow Black, da Dalstrong de dez polegadas. Um modelo em específico, que estava à venda em oito estabelecimentos. Esses oito só no estado do Arizona, onde surgiu a primeira vítima. E em mais treze nos estados mais próximos, por um preço bem salgado, se tratando de uma faca, o que reduzia bastante a quantidade de compradores de cada estabelecimento. Mas sem saber nada sobre o desgaste da arma para se ter uma ideia de quando ela foi comprada, nossa margem de tempo de compra aumenta muito.

Sendo assim, somando os vinte e um estabelecimentos dentro e aos arredores do Arizona, temos uma extensa lista com mais de dois mil compradores nos últimos três anos. Destes, pelo menos mil e seiscentos sem emprego formal, tornando-se potenciais suspeitos.

E ainda que achemos pessoas que se encaixem perfeitamente no perfil, pode ser que elas não sejam o criminoso que procuramos, porque existe uma grande possibilidade de ele ter comprado a arma do crime em um lugar onde não procuramos, ou em uma data não investigada.

E o mais provável, com um método de pagamento não rastreável.

Mas seguimos com o trabalho, porque ainda existe uma chance de que o criminoso esteja entre esses, ou que essa busca nos leve a algum lugar.

- Todos esses nomes são de pessoas que compraram usando formas de pagamento rastreáveis. A chance de o nosso homem, conhecido pela meticulosidade, ter cometido um deslize desses é muito pequena. Quase nula. - O agente Lee comenta, bufando.

Procuro pelo comandante, que está quase puxando os cabelos, sentado no chão enquanto seus olhos leem cada documento numa velocidade absurda. Ele faz uma pausa rápida, tirando o óculos de leitura e fechando os olhos, respirando fundo.

Massageio a minha própria têmpora, o assistindo.

O tempo inteiro ele tem se mostrado energético no trabalho, e isso faz com que todos ao redor se sintam mais motivados a trabalhar, mas vê-lo assim, parecendo exausto, me faz sentir como se estivéssemos andando em círculos enquanto todo e qualquer fio de luz some, nos deixando na escuridão.

Desvio o olhar quando ele percebe que estou o encarando.

Meus olhos encontram o outro agente Park, que está concentrado na recodificação do software que utilizamos para busca e identificação geral de suspeitos. Seu objetivo é adaptar a plataforma para a pesquisa específica do caso, cruzando os dados dos compradores com a personalidade montada do suspeito.

- Eu vou cruzar com as informações do sistema, para reduzir a pesquisa. Podemos tirar aqueles que possuem contato ativo com mais de um membro na família, porque ficaria inviável para viajar tanto sem ser notado. - BoGum se pronuncia, digitando rapidamente.

Se ele trabalha com mais alguém, seria essa pessoa algum membro de sua família? Ou alguém de fora?

É bem provável que seja alguém de fora, em quem ele confie muito, já que alguém da família colocaria em risco sua identidade quando fosse pega e caísse na árvore genealógica.

Ainda que seja difícil imaginá-lo trabalhando com alguém, já que ele parece reservado e muito meticuloso, é uma hipótese que deve ser levada em consideração na investigação.

- Precisamos de mais. Temos que reduzir isso o máximo possível. - Ele murmura, enquanto digita freneticamente.

- O suspeito provavelmente não terá passagem pela polícia, porque além de muito cuidadoso, seria um risco para sua identidade imaculada. - Sugiro, o ajudando. - Antes se suspeitava que ele usasse os veículos das próprias vítimas para levá-las ao local de desova do corpo, mas isso não seria possível, já que Donhae Rodriguez não possuía um. Então ele deve ter o próprio veículo, de modelo popular para se misturar entre os demais.

Mas como ele passaria por entre as cidades com o próprio veículo sem ser parado em algum pedágio?

Assisto o agente fazer seu trabalho impecável, fazendo uma redução nas buscas com cada uma das informações que eu o passava, mas as dúvidas ainda me cercavam.

- Ele deve ter algum jeito de passar por entre os estados sem passar pelos pedágios, se não já teríamos um nome transitando pela rota que ele mesmo criou. - Comento em voz alta, colocando alguns fios de cabelo para trás da orelha.

E se ele tiver mesmo um cúmplice, e o veículo na verdade está no nome dessa outra pessoa?

Assim ele conseguiria se locomover sem ter sua identidade associada ao automóvel, o que é bem mais seguro para ele.

- Esqueça, considere aqueles que também não possuem veículos no próprio nome. Se ele realmente tiver um cúmplice, então precisamos considerar a possibilidade do possível parceiro dele ser o dono do automóvel. - Murmuro, estalando cada um dos dedos das minhas mãos, fitando a tela do computador.

- Levando em conta que ele tem um veículo próprio, deve ter algum pedágio que ele precisou enfrentar, eu tenho certeza. - Diz Taehyung, me fazendo concordar.

- Você pode buscar também por algum deles que recebeu a cobrança de qualquer pedágio desde o Arizona até Virgínia, cobrindo também os estados vizinhos. - Aviso, torcendo para que encontremos algumas correspondências.

Ele digita mais um pouco e nós esperamos alguns minutos até termos um resultado de busca feita pelo sistema. Meus olhos brilham quando a página carrega por completo, mostrando uma redução gigantesca em comparação ao número inicial.

133 perfis correspondentes.

- Já é um avanço enorme comparado ao caos que era quando começamos, vamos comemorar! - Diz Lee, dando socos no ar. - Mesmo que a chance do nosso cara estar nesse meio seja menor do que uma formiguinha, já é um bom jeito de descartar potenciais suspeitos e nos ajudar a ver a investigação com outros olhos.

- Tem razão! Mas não podemos ir à campo investigar todas essas pessoas. Precisamos de mais alguma coisa para reduzir ainda mais esse número. - Dessa vez é o doutor Kim quem se pronuncia, analisando os perfis encontrados.

Presumo que a melhor ideia é ir reduzindo pelas menores coisas, me colocando no lugar do assassino e supondo o que não se encaixa na vida cotidiana dele.

O que mais ele não pode ter em ativa no momento?

- Pensa Jimin, pensa... - Sussurro comigo mesmo, percebendo que os demais agentes estão focados em traçar rotas interligadas entre os homicídios e os estabelecimentos dentro da linha do tempo de compra.

- Histórico médico! - Taehyung grita, chamando a nossa atenção.

- Perfeito! Muito obrigado! - Mando um beijo para ele, em agradecimento. Ele apenas sorri e volta a fazer o que estava lhe tomando a atenção.

- Por onde você quer que eu comece? - O analista indaga, virando-se para me encarar.

- Exclua doadores de sangue dos últimos quatro meses, todos que tiverem feito qualquer tipo de consulta ou exame médico nesse mesmo período. - Dito, apoiando as mãos na mesa, com os olhos fechados em busca de concentração. - Ah, e ainda sobre o veículo, exclua também quem tiver recebido multa por alguma infração no trânsito, mesmo que pequena.

Enquanto vou dizendo, BoGum vai trabalhando e a nossa lista vai se reduzindo lentamente.

O que mais eu posso utilizar para reduzir?

Uma coisa pequena, que seja.

Minha mente trabalha, de repente voltando para uma das questões mais óbvias.

- Eu acho que o suspeito não arriscaria usar pagamentos rastreáveis novamente, então exclua todos que fizeram uso deste método do período de dezembro até hoje. - É a última sugestão que eu dou, antes de cair sentado na cadeira, cansado.

- Essa foi certeira, tenho certeza de que vai nos dar uma luz! - Taehyung fala, colocando a mão sobre o coração enquanto espera ansiosamente ao meu lado.

- Vocês conseguiram alguma coisa com as rotas? - Questiono, curioso. Ele balança a cabeça, em negação. - Que droga.

- Não se preocupa, alguma coisa positiva sairá daqui! Está quase lá. - BoGum avisa.

A barra de processamento está quase toda preenchida, indicando que o resultado está terminando de ser coletado.

- Vamos, vamos, por favor! - Esfrego uma palma na outra, torcendo para que a página carregue logo.

- Busca concluída. - O analista cantarola, mostrando a página completamente carregada.

Oito nomes.

- Isso! - Berro, sem conseguir conter a minha alegria. Qualquer chance tem que ser levada em conta no processo de investigação. E essa chance nós não iremos deixar passar despercebido.

Sem perder nem mais um segundo, colocamos para imprimir o perfil completo de cada um dos oito cidadãos.

- Que ótima notícia. - O comandante fala, vindo em nossa direção. Ele se posiciona atrás de mim, com uma certa distância, aproximando-se da tela para dar uma olhada no trabalho feito. - Isso é bom, muito bom.

Sua voz soa grave, produzindo ondas sonoras tão calmas e arranhadas que fazem a minha orelha esquerda latejar, numa luta contra os meus batimentos cardíacos.

Me encolho um pouco, sentindo a pele do meu pescoço se arrepiar, roçando contra a gola da minha jaqueta.

- Peguem um por um e apontem no mapa todos os locais em que eles tiveram que pagar a cobrança de pedágio, separando cada um deles por um esquema de cores diferentes de pinos. - Ordena o comandante.

Ele é o primeiro a pegar um perfil, e com os papéis em mãos, volta a se sentar na cadeira acolchoada.

Deixo os outros agentes fazerem suas escolhas e vou por último. Sobram dois perfis além do que eu peguei, e estes serão analisados logo após.

Checo as informações básicas contidas na ficha em minhas mãos antes de qualquer coisa, tratando a pessoa estudada apenas como um cidadão, antes de ser considerado um suspeito.

Wilmer Nixon Fitzgerald.

Aparência jovial, cabelos escuros e curtos, olhos castanhos, testa plana, bochechas salientes, nariz pequeno com ponta longa, lábios carnudos, pele de tom claro e levemente amarelado, sem pelos faciais.

Trinta e um anos, formado em educação física, pela Universidade de Princeton, em Nova Jersey, no ano de dois mil e quinze.

Sem conexão parental residindo na mesma região, sem informações sobre vínculo empregatício nos últimos cinco anos, sem imóvel registrado.

Possui veículo próprio, sendo um carro da marca Ford, modelo F-150 raptor, de cor preta.

- Nenhum vínculo empregatício registrado nos últimos anos, e ainda assim possui dinheiro para pagar uma picape nova? Em que será que você trabalha, senhor Fitzgerald? - Indago comigo mesmo, curioso.

Foco em estudar o perímetro em que ele foi pego em um pedágio, e realizo a conexão dele com o perímetro onde ele reside, em um pequeno apartamento alugado no centro de Houston, no Texas.

Enquanto estudo os perfis juntamente com os outros agentes, os identificando no mapa do país, o tempo passa rapidamente, e a produtividade cai consideravelmente em razão do cansaço.

Percebo que a equipe já não pode mais dar tudo de si e resolvo sugerir ao comandante o encerramento das atividades de hoje, para que possamos descansar.

Ele concorda sem pestanejar.

- Como já está tarde, vamos finalizar esse trabalho amanhã, logo cedo. Estejam aqui às sete, para estudarmos um pouco sobre cada perfil, antes de seguirmos com a investigação de campo, tudo bem? - Ele pergunta.

Concordamos imediatamente com a sua decisão.

- Encerramos por hoje. Obrigado por seus esforços! - Ainda que estejamos trabalhando aqui a poucos dias, ele sempre faz questão de nos agradecer pelo nosso trabalho, e eu admiro isso nele. Não poderia ter pessoa melhor para comandar essa equipe. - Agora vão para casa descansar. Não esqueçam de se alimentarem bem e relaxarem a mente.

Começamos a empilhar os documentos com base nos últimos resultados colhidos, os guardando em pastas separadas. Quando terminamos, o comandante nos dispensa, sinalizando com a mão para sairmos.

- Até amanhã, equipe. Tenham uma boa noite. - Diz o doutor Kim, se despedindo com uma reverência. Me despeço dele com um aceno, observando os demais saindo pela porta, logo atrás dele.

Me viro para procurar Jeon, que está organizando a própria mesa, completamente focado em sua tarefa.

- Comandante? - O chamo, atraindo sua atenção.

- Pois não, Park? - Ele replica, parando o que está fazendo para me ouvir.

- Tivemos algum retorno dos sistemas de vigilância e de segurança das regiões próximas ao local do crime? - É uma dúvida que me perturba, já que toda e qualquer evidência captada pelas câmeras de segurança é útil para o progresso da investigação.

Para a minha infelicidade, ele nega. Meus ombros caem, indicando a minha decepção.

- Até então, zero resultados. Além disso, também não temos nenhuma imagem das câmeras de segurança dos bairros onde as vítimas residiam. Ele certamente acessa os sistemas de segurança e os desativa, mas o rastreamento ainda não é possível de ser realizado. - Ele explica.

- Além de assassino em série, ele também é um hacker agora? Ou pior, possui um parceiro que é um hacker que não pode ser rastreado?

Jeon comprime os lábios, me olhando nos olhos.

- Precisamos de um novo software de rastreamento para inserir nos sistemas de segurança da cidade, e que quebre as barreiras que ele construiu para não ser localizado. - Informa ele, voltando a organizar a própria mesa.

- Mas nós já temos o modelo mais recente, não temos tempo para esperar que criem um novo. - Contesto, colocando o meu celular em cima da mesa dele e cruzando os braços na altura do peitoral. Seus olhos se voltam para mim mais uma vez. - Não vamos encontrar o que precisamos aqui na América.

- Está sugerindo o quê? Que procuremos em outro país? - Assinto. - Tem muitas complicações... Eu não sei se isso daria certo.

Me sinto desanimado, mas ainda assim eu quero tentar. Nós precisamos tentar.

- Você pode tentar introduzir a ideia para a diretoria e para a equipe financeira?

- Você tem algo em mente? - Ele questiona, sem confirmar nada.

- Eu darei um jeito. - É tudo o que digo, ainda que eu não tenha tanta confiança assim nas minhas palavras. Tudo o que eu preciso é que ele confie em mim. - Mas eu preciso que você confie em mim e repasse a ideia.

O comandante me encara por alguns segundos, antes de dizer: - Tudo bem, então. Irei conversar com eles.

Um sorriso nasce em meus lábios ao ouvir suas palavras.

Ele confiou em mim.

- Não vou te decepcionar. - Disse eu, torcendo internamente para que as minhas palavras por si só trouxessem uma resposta para esse problema.

- Eu sei que não vai. - Ele fala, em voz baixa, com a sombra de um sorriso se desenhando em seu rosto.

Quando o silêncio se instala, pego o meu celular que estava sobre a mesa do comandante, o enfiando no bolso da minha jaqueta. Vejo que ele ainda está ocupado organizando as próprias coisas, então saio na frente, seguindo para o estacionamento para esperá-lo.

Ele não demora muito para chegar, logo me encontrando com seus olhos escuros e atentos.

Sorrio para ele, que retribui rapidamente.

- Então, agente Park, nossa corrida noturna ainda está de pé? - Ele pergunta, checando o horário em seu relógio de pulso. Meus olhos se prendem à pulseira de prata que brilha através da brecha de sua camisa social. Não é a primeira vez que a vejo, mas é a primeira vez que sinto curiosidade sobre desde que vi seu sobrenome gravado nela. - Ainda são sete horas e qualquer dia eu compartilho com você a história dessa pulseira.

Dou uma gargalhada pela forma como ele respondeu aos meus pensamentos como se estivesse ditando os minutos.

- Eu não sei se odeio ou se adoro esse lance nosso de analisar o que o outro está pensando ou fazendo. - Falo, entre as risadas.

- Você não parece ficar desconfortável com isso, e eu muito menos. Então eu acho que nós dois adoramos esse lance. - Ele diz, me lançando uma piscadela. Ignoro os efeitos que aquela ação produz em mim. - Então, ainda está disposto a correr com o seu comandante?

Meu comandante?

Essa fala atingiu alguma parte de mim que eu não soube identificar qual.

Afirmo positivamente com a cabeça, sem deixar o sorriso abandonar o meu rosto.

- Eu sempre trago roupas confortáveis porque treino todos os dias antes ou após o trabalho. Você trouxe algo para vestir? - Me questiona enquanto retira a gravata e abre alguns botões da camisa, se sentindo mais à vontade. Mais uma vez ele fazendo isso e levando toda a minha sanidade mental junto de suas ações. Isso deveria ser ilegal. - Algo me diz que não...

Nego com a cabeça, fazendo um bico involuntário nos lábios.

- Eu não sabia que iria correr com você hoje, mas quando eu aceitei, pensei que não teria problemas em voltar ao hotel só para trocar de roupa. - Respondo, dando de ombros. - Você pode me esperar? Prometo que não vou demorar muito. - Esfrego as palmas uma na outra, como se fosse uma mosca, em um pedido silencioso de "por favor".

Ele me direciona uma risada infantil, muito provavelmente achando minhas mãos fofas mais uma vez. Qualquer dia eu uso elas para esganá-lo e ele nunca mais as verá assim!

Digo e repito isso pra mim mesmo, porque o meu corpo parece gostar da ideia de ver ele pensando de maneira doce sobre as minhas mãos.

- Posso sim. Vou acompanhar você até o hotel, e de lá saímos para correr.

- Ok. - Encerro a conversa montando na minha diaba e colocando o capacete.

Dirigimos lado a lado por poucos minutos, seguindo em direção ao hotel onde estou hospedado.

Por alguma razão estúpida, começo a me sentir ansioso para compartilhar esse tempo com ele, mas não deixo esses pensamentos me dominarem e foco em dirigir.

Ao entrar na rua, já consigo ver a estrutura do hotel se destacando entre as outras construções. Chegando lá, paro bem perto de sua janela, batendo levemente contra o vidro para que ele abrisse. Assim que ele o faz, abro o visor do capacete.

- Vou estacionar a moto lá dentro logo. Em menos de quinze minutos estarei de volta, mas se você quiser esperar lá na recepção pode ficar à vontade. - Deixo a sugestão, vendo ele assentir.

- Não se preocupe. Vou esperar aqui com uma brechinha da janela aberta. Se eu não perceber que você chegou, pode bater no vidro ou me chamar pelo espacinho, tudo bem? - Ele pergunta, deslizando a destra pelos fios bem arrumados do cabelo. Isso mexe um pouco comigo, mas eu me impeço de continuar pensando sobre, mais uma vez.

Balanço a cabeça em resposta e aceno para ele antes de adentrar o estacionamento.

Após deixar a moto na minha vaga, pego o elevador e assim que paro no meu andar, paraliso por alguns segundos ao ver um rosto novo no corredor, o que faz o meu sexto sentido apitar. Tentando ignorar, finjo que não vi e corro até o meu quarto.

Percebo que os meus parceiros estão trancados em seus próprios quartos, provavelmente dormindo, rolando pela cama ou tomando banho.

Quem sabe...

Me apresso para tomar uma ducha rápida, para evitar de feder quando começar a suar ao lado dele. Me visto tão rápido quanto, colocando uma bermuda preta e um casaco cinza fino de treino, sem capuz e com mangas longas. Calço um par de tênis confortável e agradeço aos deuses por lembrar de passar desodorante antes de ir.

- Melhor levar uma arma... Nunca se sabe! - Comento comigo mesmo, fechando o pequeno bornal¹ ao redor da minha coxa, por debaixo do short. Coloco um 38 cano curto dentro do coldre, fechando com firmeza. - Não deve ter gente doida o suficiente para arriscar cometer crimes dentro do perímetro do escritório do FBI, então espero não precisar usar você. - Converso com o revólver, ajeitando o calção para cobri-lo.

Coloco o relógio digital inteligente para caso alguém me ligue de emergência, já que não levarei o celular. Confiro se terminei e saio avoado do quarto.

- Vou sair! Volto mais tarde. - Aviso em voz alta, sem esperar pela resposta dos outros dois agentes.

Logo me vejo saindo pelas portas de entrada do hotel, andando em passos largos até o carro do comandante. Dou a volta até ficar de frente para a janela dele, batendo no vidro para chamar sua atenção. Capto seus movimentos pela brechinha que ele deixou aberta, me afastando para dar espaço para que ele saia.

- Eita, você se trocou no carro! - É a primeira coisa que eu digo quando percebo que ele não está mais usando as roupas sociais de sempre. - Eu tinha me esquecido desse detalhe e nem te chamei para se trocar lá no hotel.

- Não tem problema, Park. Foi bem rapidinho. - Ele diz, trancando o carro.

Meus olhos viajam depressa pelo seu corpo, captando tudo o que há de novo. Tento ser o mais discreto possível, mas fica difícil quando vejo, pela primeira vez, seu braço inteiramente tatuado à amostra. Eu só tinha visto algumas sombras perto da barra da manga da camisa social, mas não imaginava que seriam tantas assim.

E ver ele de regata com toda aquela arte delineando seus braços fortes fez minha mente entrar em colapso. Os bíceps enormes que antes ficavam marcados pelo tecido da camisa de mangas longas, agora pareciam livres e muito convidativos.

Não me dei a permissão para olhar para o seu peitoral e abdômen que provavelmente estão coladinhos no tecido fino da camisa.

Umedeço os lábios com a língua, desviando meu olhar para meu smartwatch, conferindo o horário por mais tempo que o necessário. Ele não faz nada a respeito da maneira como lhe observei, porque está fazendo o mesmo comigo agora. E eu não me sinto incomodado.

Nem um pouco.

Na verdade, me sinto queimar feito brasa.

Olho ligeiro para suas pernas musculosas levemente envoltas pelo tecido folgado da calça de moletom cinza, me proibindo de admirar aquela região por muito tempo.

Foco, Park Jimin.

Como eu vou conseguir focar sabendo que, além de estarmos analisando um ao outro em silêncio, estamos usando roupas da mesma cor?

Nós nem combinamos, mas acabamos vestindo roupas que se completam. Ele com a regata preta e a calça cinza, e o tênis preto igual ao meu, só que de um tamanho maior.

Qualquer um que olhe, vai pensar que somos um casal, porque nossas aparências combinam muito e agora nossas roupas parecem se encaixar.

Arregalo levemente os olhos ao constatar que estamos em sintonia até mesmo fora do trabalho.

- Hm, acho melhor nos alongarmos logo, para que não fique muito tarde. - Ele sugere após pigarrear, me tirando dos meus devaneios.

- Sim, podemos usar aquelas barras que estão disponíveis agora. - Me refiro às usadas pelos ciclistas, que estão presas à calçada, próximas a nós.

Vamos até lá, cada um ficando com uma barra, usando-a de apoio para se alongar com cuidado. Tento não prestar atenção nele, mas pela mania de reparar em tudo no meu campo de vista, me pego assistindo seus músculos ficando cada vez mais marcados na roupa, à cada movimento que ele faz. Balanço a cabeça, jogando o cabelo para trás no impulso, com a mão direita apoiada no ferro e a outra puxando a perna para cima.

Fecho meus olhos ao sentir os dele me analisando de cima a baixo, percorrendo meu corpo inteiro com tanta presença que parecem estar tocando a minha pele. Abro um pouco a pálpebra, deixando-a semicerrada, captando sua pausa de longos segundos sobre o meu bumbum e as minhas coxas. Deixo uma risadinha escapar, me denunciando.

- Me desculpe, eu não quis parecer um sem vergonha. - Ele diz imediatamente, corado e completamente sem graça, mas sorrindo de volta para mim.

Não parece sentir muito, e eu nem quero que sinta.

Fito seu rosto bonito com meu olho esquerdo, mantendo o outro fechado. Pela expressão dele, ele sabe que eu gostei.

- Tudo bem. Não é como se eu também não tivesse feito o mesmo. - Rebato, jogando as cartas na mesa.

Volto a fechar os olhos, fazendo o último exercício de alongamento, sem saber qual foi a reação que ele teve.

- Vamos? - Lhe pergunto.

- Sim. - Ele responde, finalizando também. E então me fita, balançando as sobrancelhas num gesto convidativo. - Sem destino?

- Sem destino.

Descemos para o asfalto, ficando lado à lado, próximos ao meio-fio. Começamos com passos lentos e curtos, para equilibrar a frequência cardíaca e respiratória. Em algum momento sinto que desaprendi a andar, e é justamente quando sinto seus olhos pousarem sobre mim pela centésima vez ao dia.

- Você quer conversar ou prefere ficar em silêncio? - Tenho a coragem de lhe perguntar.

- Podemos correr em parcelas de trezentos metros, e as pausas usamos para conversar. Gosto de conversar com você. - Ele confessa, me fazendo sorrir.

- Tudo bem, então. Eu também gosto de conversar com você, comandante.

Trocamos olhares compreensivos, indicando o início da primeira rodada. Logo começamos a correr, olhando para um ponto fixo qualquer à nossa frente.

Equilibro a respiração para não acabar ficando com dor. Meus ouvidos se atentam à todo e qualquer barulho, me deixando calmo. Foco no som baixinho das solas dos tênis batendo contra o asfalto se unindo ao farfalhar das folhas das árvores espalhadas pelos canteiros.

Gosto da sensação pacífica que estar na companhia dele me traz, embora tenhamos nos conhecido recentemente.

Tenho certeza de que manteremos a amizade mesmo depois de solucionarmos o caso, ainda que eu precise voltar para o Havaí. Podemos conversar vez ou outra por alguma das poucas redes sociais que possuímos em comum.

Sim, nós já nos adicionamos nas redes sociais. Não que tenhamos muitas.

Ele só tem duas fora o Zoom, que usamos no trabalho, pelo que eu sei. FaceTime e Telegram. O adicionei nas duas, me sentindo decepcionado ao descobrir que ele não possui Instagram, nem mesmo uma conta privada.

É, eu esperava ver suas fotos.

Ainda bem que não pude, assim acabo evitando ficar atraído demais por ele.

Começo a desacelerar meus passos ao visualizar a contagem feita pelo meu relógio inteligente. Voltamos a caminhar, recuperando a respiração e acalmando os batimentos.

- Você é rápido, Park. - Ele me elogia, entre lufadas silenciosas de ar.

- Não tanto quanto você. - Devolvo o elogio, colocando as mãos na cintura, virando o rosto para encará-lo. - Você tem uma postura de corrida muito boa, até poderia participar das olimpíadas.

- Eu era um atleta no ensino médio, é por isso. Não me permiti perder o ritmo, porque preciso das minhas habilidades de adolescente para trabalhar. - Sua voz parece mais estável que a minha. Mas não estou muito afetado pela corrida.

Paro para imaginar como ele seria, alguns bons anos atrás, durante o colegial. Tenho absoluta certeza de que era um galã e que era muito paquerado. E a julgar pelo que disse sobre ser um atleta, deveria ter muitos fãs.

Não foi tão diferente de mim, então.

- Isso é de uma ajuda e tanto para esse tipo de trabalho. - Digo. - Eu foquei nas minhas habilidades de persuasão e no meu tiro perfeito. Mas tem algo que quase ninguém sabe sobre mim e que me torna ainda mais incrível na mira.

Ele parece pensativo.

- O astigmatismo, eu suponho. - Ele fala, girando a pulseira em volta do pulso largo. Dou duro para não me perder naquela atitude tão sensual, assentindo várias vezes seguidas sem querer. - Tem razão, isso te deixa ainda mais incrível. Principalmente porque você cerra um pouco o olho para alinhar a visão antes de atirar.

Fico impressionado que ele tenha reparado nesse detalhe.

- Mas você nem precisa fazer isso para acertar o alvo. Eu percebi quando você deu os últimos três tiros da última jogada, no treinamento tático, com uma postura debochada. Parecia aqueles playboyzinhos. - Ele revela, me deixando envergonhado.

- Você poderia ter escondido essa informação de mim, comandante. É vergonhoso ouvir isso sair da sua boca. - Falo, sentindo minhas bochechas esquentarem quando as cubro com as minhas palmas. - Aposto que você ficou se segurando para não rir!

Ele me olha, abrindo um sorriso bonito que chega até seus olhos, desenhando pequenas linhas na parte externa deles. Guardo a memória de seus dentes frontais superiores, um pouco mais salientes que os outros, se destacando com um brilho diferente dirigido à mim.

- Na verdade eu me senti muito atraído por você naquele momento. Se quer saber, eu até errei um tiro porque me distraí olhando pra você. - Confessa, em um tom de voz baixíssimo, como se quisesse manter aquela informação apenas para ele mesmo.

Minha boca se abre em um pequeno círculo, enquanto minhas sobrancelhas se erguem devagarinho. Eu não sei em que momento acabamos criando esse tipo de intimidade para falar tudo o que pensamos sobre o outro, mas eu me sinto bem com isso.

Processando o que ele disse, o encaro confuso. Ele morde o lábio inferior, um pouco constrangido.

Retomo minha expressão anterior rapidamente.

- Estou me sentindo muito mais confiante agora, Jeon.

- Mais do que você já é? Não é mesmo possível, é? - Ele brinca, esbarrando o braço no meu ombro levemente, me arrancando uma risada divertida.

- Eu acho que não... - Sussurro, olhando para o chão feito um bobo. - Ah, e se você quer saber, também me senti muito atraído por você naquele momento. As armas parecem pertencer às suas mãos.

Ele encara os próprios dedos, com um sorriso contido dançando em seus lábios pequenos e cheinhos. Volto a olhar para frente antes que acabe reparando demais nele.

- Amanhã precisaremos viajar para encontrar os nomes da lista de suspeitos. Você quer interrogar algum em específico? - Jeon me questiona, mudando de assunto.

Ele provavelmente pensou nas mesmas pessoas que eu, e está esperando uma oportunidade para irmos juntos.

É o que eu também faria, já que nos damos muito bem trabalhando juntos.

- Eu estava pensando nos dois com residência em Scottsdale e Tucson no Arizona, e aquele de Spring Valley, em Vegas. E você?

- O mesmo. Percebi que não tem muito registro de atividades deles nos últimos seis meses, então achei interessante começar por lá. - Concordo, em silêncio. - Podemos ir juntos, enquanto os outros ficam com os cinco restantes.

- Por mim tudo bem, é uma ótima ideia. - Pauso por alguns segundos antes de continuar a falar. - Ainda bem que não vou com a diabinha. Amo pilotar, mas para trabalhar não vale à pena aguentar a dor de ficar horas montado numa moto.

- Tem razão, é um inferno mesmo. - Diz ele, concordando. - Podemos pegar um voo para Phoenix, descendo para Scottsdale, e usar algum veículo corporativo para dirigir até Tucson. E de lá pegamos mais um voo, direto para Las Vegas.

- Sim. Podemos passar uma noite em cada lugar, ou vai ficar muito cansativo para nós dois.

- Gostei da ideia. - O comandante fala, cerrando o punho e erguendo o polegar. Era um de seus hábitos, que quase sempre vinham acompanhados de um sorriso ladino e uma piscadela.

Dou um pequeno sorriso antes que o silêncio se instale novamente, para que voltemos a correr mais trezentos metros.

E assim se mantém nossa noite. Com corridas silenciosas e pequenos intervalos para conversarmos sobre tudo o que queremos.

Me sinto feliz por estar tendo a oportunidade de conhecê-lo melhor, fazendo uma das coisas que eu mais amo na vida, que é correr ao ar livre.

O contador do relógio apita, avisando que já percorremos mais duzentos metros.

De repente um calafrio estranho percorre pelo meu corpo, arrepiando a minha pele. Estou me sentindo observado, mas olho ao redor discretamente e não consigo ver nada.

Inspiro lentamente, desligando a minha mente por alguns segundos para aproveitar o momento, mesmo que o meu peito esteja martelando de preocupação e o meu sentido de agente esteja apitando.


🚓


CHEGUEI!

Meio tarde, mas cheguei!

Sentiram a minha falta? Porque eu senti a de vocês (e muita) 😩

O que acharam do capítulo? Perceberam que ele ficou um pouco maior que os outros?

É pra compensar que o capítulo bônus vai estar mais curtinho 🗣️ e, SIM, vocês bateram a meta e no último dia do mês teremos atualização 🤸

É PRA GLORIFICAR DE PÉ IRMÃOS!

Agora me conta aí, quantas vezes tu desmaiou imaginando Park Jimin usando um bornal (acessório tático utilizado geralmente por policiais, militares e agentes para guardar armas em alguma parte do corpo) na coxa?

Eu acho que entrei em pane umas 300x aqui!

Imagina o comandante, então?

#Forças

Enfim, eu espero de coração que vocês tenham gostado do capítulo.

Agora vamos pros comentários aleatórios:

O QUE FOI ESSE PRIMEIRO CONCEPT PHOTO DO PROOF???? CAÍ DA MOTOQUINHA AQUI!

PLEASE, PARK JIMIN COM BLUSA DE BURAQUINHO!!!! O HOMEM TÁ PELADO MEU DEEE!

*respira fundo e se recompõe*

Vocês já estão sabendo que Korean Killer e Ossos em Chamas estão concorrendo ao #GrapesAwards lá no twitter? É uma premiação nova, criada pela equipe do Purple Writers para apoiar e ajudar escritores de fanfics e originais.

Por favor, corram lá pra deixarem seus votinhos nas minhas obrinhas 🥺 me deixaria muito feliz!

Anyways, acho que por hoje é só.

Não esqueçam de me seguir lá no twitter @eujkjmlovers e de usar as hashtags #KoreanKiller e #diabaetinhoso caso queiram comentar sobre a fic.

Obrigada pelos 600 seguidores, pelos 2k em Ossos em Chamas e pelos 7k em Korean Killer.

Eu nunca pensei que poderíamos atingir isso tudo, mas vocês chegaram e mudaram tudo isso :(

Muito obrigada por lerem e apoiarem essa história. Tudo isso aqui tem muita importância para mim, e eu levo cada um de vocês no meu coração.

Amo vocês, meus gatinhos ariscos e projetinhos de agentes especiais 💜

Até mais!

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