Harry
13 de Abril de 1971
A primeira vez que eu vi Cherry Houston foi na festa de aniversário de David em Malibu.
Havia vários fotógrafos no hall de entrada e David queria algo grandioso, portanto, a festa dele foi algo grandioso. Tinha várias pessoas famosas lá e eu acabei esbarrando com Cherry e Aaliyah é uma cinéfila afiada. As duas conversaram, mas o que mais chamou atenção foi as fotos que tirei com a ruiva.
O fotógrafo do evento pediu uma foto minha com a Cherry. Depois uma foto de Ally com a ruiva. Nenhuma foto de nós três juntos, mas ele tirou uma foto minha com Aaliyah a nosso pedido. Infelizmente, não foi essa a foto que saiu na revista no mês seguinte. Depois de algum tempo o fotógrafo mandou a foto de Aaliyah e eu juntos emoldurada e nós o pagamos por isso.
Contudo, não foi apenas isso, Cherry bebeu demais e precisou de ajuda para entrar no carro para que o motorista pudesse levá-la. Eu ajudei e tiraram uma foto nossa de frente ao carro. Tínhamos parado para isso.
Com as fotos em mãos, os escritores de revistas decidiram criar uma história. Jack não fez nada para impedir, ao longo desses anos, eu não fiz nada para impedir outras histórias como essa, intencionais ou não.
Então essa narrativa de ter tido um caso com Cherry aconteceu.
Ao longo dos anos, as conversas com Aaliyah, eram curtas. A mulher dizia que estava tudo bem, tínhamos algo como: O que importa é tocar o coração das pessoas e curtir cada segundo.
Só que agora é diferente, vamos ter um bebê. As pessoas tem que saber que Aaliyah Henderson é a mulher da minha vida e que vamos ter uma família juntos, isso é o certo.
Além disso, mesmo que a notícia de Frank e eu tenha sido reprimida e o fato de Stuart estar saindo com Megan tenha ajudado a mudar isso. Ainda tenho a sensação de que qualquer tropeço pode colocar tudo a perder, principalmente para o meu amigo.
Sei que preciso me acalmar sobre tudo isso, mas a verdade é que começo a me sentir ansioso.
Não deveria me sentir assim, deveria me concentrar nesse maldito filme que estou fazendo e em garantir que as pessoas saibam que eu estou com Aaliyah.
— Então você já fez teatro?
— Por dois anos, em Barcelona — digo e olho para Aaliyah. A mulher está com o cabelo preso, usando uma camisola e está devorando o bolo que Kiuanne fez.
Já deve ser o terceiro pedaço dela.
— Legal — ela diz com a boca cheia e sorri. — Agora vai estar em Hollywood, tipo, uau.
Sorrio também e limpo o canto da boca da mulher que estava sujo com farelo de bolo.
— É melhor você ir devagar com isso, ontem você vomitou porque comeu demais e comeu rápido — digo olhando para ela e a mulher respira fundo. — Estou certo, você sabe.
— Sim, esse é o problema — diz e beijo a testa dela. A mulher sorri para mim. — Mas me conta mais, como foi em Barcelona?
— Foi bom, bem, eu não tinha dinheiro para pagar a escola de teatro e nem ter onde dormir, então eu limpava o teatro para poder estudar e cantava em bares que me aceitavam para ter onde passar a noite.
— E quando foi que decidiu vir para cá? — Aaliyah pergunta curiosa e isso me faz sorrir.
— Gemma avisou quando meu pai morreu. Recebi o dinheiro da herança e você sabe — dou de ombros. — Se você quer ter sucesso tem que estar nos Estados Unidos.
A mulher continua me olhando com curiosidade e eu continuo a falar. Conto a ela essa parte da minha história, de como foram meus dias em Barcelona e que nos fins de semana eu normalmente viajava para outros países de trem. Como conheci vários lugares, pessoas nos meses que fiquei lá. Até voltar para Inglaterra e por fim decidi ir aos Estados Unidos.
Essa conversa com ela não é algo incomum, nossas melhores conversas são pela manhã, ou quando estamos na praia, ou deitados na cama curtindo preguiça.
Às vezes conversamos sobre nada com nada, como por exemplo, tentar imaginar como o mundo seria com um céu violeta e nuvens azuis. Ou como coisas mais sérias como o fim da guerra do Vietnã, mas infelizmente ainda existem problemas com outros países e outras guerras por aí. No entanto, nós também falamos sobre música, filmes e evidentemente sobre nossas vidas. Todas essas conversas são meus momentos favoritos, porque é o momento em que Aaliyah e eu encontramos nosso íntimo, a gente se junta e eu gosto disso.
Depois do nosso café da manhã, Aaliyah e eu trocamos de roupa e decidimos sair juntos para fazermos compras. Nós decidimos comprar algumas roupas e aquilo acabou chamando a atenção das pessoas. Fomos parados algumas vezes para assinar papéis e alguns fotógrafos apareceram para tirar fotos minhas e de Ally. Contudo, logo Henderson encontrou uma loja para entrar para comprar vestidos.
Nesse momento, eu apenas sabia que ela passaria muito tempo lá dentro da loja, então quando saí havia fotógrafos esperando. Passei um tempo tirando fotos até um dos fotógrafos perguntar:
— Harry, é verdade que você está gravando um filme com a Cherry Houston?
Eu o conheço, não me lembro do seu nome, acho que começa com N, talvez seja Nick. No entanto, sei que ele trabalha na PurpleCeleb.
— Sim — digo e olho para trás vendo que Aaliyah já estava indo pagar pelas suas roupas.
Retorno o meu olhar para o homem e seus olhos estavam me encarando curiosos. Poderia falar que estava participando desse filme, além disso, já saiu esses rumores nos dias anteriores. As pessoas estão falando mais disso do que sobre minha sexualidade ou a de Frank, o que é bom.
— E como você se sente sabendo que vai trabalhar com Cherry? — Coço meus olhos.
Vai começar.
— Ela é uma mulher incrível e talentosa.
— E tem a possibilidade de você estar fazendo esse filme para ficar mais perto dela? — O homem pergunta e os outros fotógrafos me olham com curiosidade. — Cherry é uma mulher bonita e vocês estão solteiros. Vocês realmente ficaram juntos na festa de David? Nós vimos as fotos — ele insisti.
Aquilo fez os outros fotógrafos ficarem curiosos e perguntam também. Uma enxurrada de perguntas que fofoqueiros queriam saber, mas não vou desviar da pergunta.
— Não estou solteiro faz um bom tempo — digo e nesse momento vejo Aaliyah saindo da loja. Ela me olha um pouco confusa e depois para os fotógrafos. Por um momento poderia jurar que eles estavam fingindo que não tinham entendido. Seguro a mão de Henderson. — Aaliyah e eu estamos juntos. Nós vamos nos casar.
Então, as perguntas voltaram como um redemoinho. Mais fotos e atenção. Naquela vez, atenção para mim e para Aaliyah, atenção para gente como casal.
Tirei uma foto segurando Henderson pela cintura e a beijando, ela acabou sorrindo e alguns dos fotógrafos parabenizaram a gente e disseram que isso é notícia de primeira página. Aquilo me deixou feliz e Aaliyah estava com um sorriso alegre. Quando saímos daquele pólo de atenção, a mulher deixou seu ombro deitado na minha cabeça.
— Você não sabe o que eu comprei — ela diz e paramos de frente a uma sorveteria.
— Sei sim, você comprou roupas. Talvez a loja toda — digo brincando e ela me empurra devagar.
— Lá tinha um bucket hat para bebê — ela sorri e me abro a sacola de papel me mostrando o bucket hat. Ele é amarelo e tem algumas flores brancas. É bem pequenino. — Para o primeiro verão do nosso bebê.
— É perfeito — sorrio e beijo a ponta do nariz de Ally. Ela sorri animada e acena com a cabeça.
— Eu estou ansiosa por isso — confessa e respira fundo. — Mas agora eu só quero um balde de sorvete.
Acabo rindo, mas também sentia uma vontade absurda de voltar a agarrá-la.
A verdade sobre tudo isso que estamos tendo é bastante simples. Eu a amo e sei que ela me ama. Nós dois conquistamos os sonhos que tínhamos guardados dentro de nós e fizemos isso juntos, portanto, nós estamos conectados. Aaliyah me faz acreditar na espiritualidade e na eternidade. Nunca me senti tão apaixonado assim e nem tão feliz. Quando estou perto dela, não existe nenhum sentimento comparado.
Ela é a minha alma gêmea.
Nesses último anos eu passei por vários lugares, onde as pessoas gritavam nossos nomes. Cantavam nossas músicas. Compravam nossos discos. E nos conheciam na rua. Eu amava tudo. A fama e o dinheiro. Só que ter conquistado ela, foi meu maior prêmio. Desde o momento que eu comecei todo esse relacionamento com Aaliyah eu nunca me senti tão completo e o céu parece como o limite para nós dois.
E é tudo que importa é estarmos juntos conquistando tudo isso.
Agora eu serei pai, caramba, estou tão feliz.
Nunca pensei que pudesse alcançar esse lugar, onde as coisas dão certo é o tipo de sensação que me faz acreditar que possa ser realmente permanente.
12 de Julho de 1971
As gravações do filme chegaram na metade, mas a outra metade da gravação que falta significa tanto trabalho quanto aquele que eu já realizei. Ainda sim, é algo que vem me deixando animado, acredito que seja por ser algo novo e que ainda não havia experimentado tão vivamente.
Entretanto, acredito que me sinto mais à vontade em um estúdio de música do que em um estúdio de gravação, apesar de ter sido interessante e animador estar gravando o filme.
Todo o processo de criar as notas e as melodias é excitante e coloca vida no meu sangue. Principalmente pelo fato de que quando eu estou na estrada, eu vejo perfeitamente até onde a minha música alcançou e como ela alegra e toca as pessoas de uma forma mais profunda e intensa. Fazendo elas se lembrarem ou criarem lembranças. Eu amo a música e amo fazê-la também.
No entanto, trabalhar em um personagem, incorporar ele dentro de mim de forma a convencer as pessoas que o meu personagem é diferente de quem eu sou. Bem, isso é tão excitante quanto escrever uma canção.
Atuar é algo de que gosto e também exige de mim tanto trabalho tal como é quando eu estou dentro do estúdio trabalhando em algum álbum.
Bem, também estou fazendo ambos e por isso as gravações para o filme estão estendidas e eu venho me sentindo mais exausto do que o normal. A minha agenda fica intercalada com as duas coisas e isso suga todas minhas energias.
Faço o que gosto, parece a vida ideal, mas é exaustivo.
Hoje, por exemplo, estou chegando em casa à meia noite. Foi uma gravação noturna, mas bem, é o trabalho. Agora eu só quero dormir na minha cama e ter que acordar apenas na hora do almoço.
Quando eu entro em casa vejo a luz da sala acesa e ao chegar lá vejo Aaliyah dormindo no sofá com um livro no colo. Ela está no quinto mês, a barriga fica evidente em quase todas as roupas que ela coloca, além disso, o desejo dela de comer doce aumentou. Em contraste, o enjoo melhorou e esse bebê vem se desenvolvendo cada dia mais.
Me aproximo da mulher e beijo a bochecha dela. Aaliyah se vira e reclama.
— Vamos para cama — digo e passo minha mão no braço dela. Aaliyah abre seus olhos e sorrio para ela — Vamos, uh.
A mulher acena com a cabeça e se senta no sofá. Depois, ela coça os olhos e eu passo a mão na sua barriga. Hoje, o bebê está quieto, mas semana passada ele tinha mexido bastante.
— O meu pai disse que viria aqui semana que vem — fala e boceja. Aceno com a cabeça e beijo a testa dela.
— Está bem, ele disse algo sobre o bebê?
— Só disse 'Uau!' — sorri cansada. — Então falou que viria para cá semana que vem.
Aaliyah finalmente contou sobre o bebê para o pai e também falou para a tia.
A avó de Aaliyah morreu no ano passado, ela ficou triste, mas depois, quando começamos a turnê, ela melhorou.
De todo modo, Ally contou para tia e o pai sobre o bebê e amanhã eu iria contar para minha irmã. Ainda estou pensando como irei contar para minha mãe sobre o bebê.
Só que quando Aaliyah boceja eu sei que tudo que devemos fazer agora é dormir. Então, eu me levanto e puxo a mulher para se levantar também.
Quando estávamos subindo as escadas Henderson agarra meu pulso e olho para ela.
— O que foi? — Pergunto preocupado. Aaliyah olha para baixo então eu vejo a perna dela suja de sangue.
Logo o sangue começou a pingar no chão e foi bem nesse momento que eu senti que eu também estava sendo ferido para sangrar.
{•••}
Ao chegarmos no hospital, levaram Aaliyah para longe de mim e uma enfermeira retornou quase uma hora depois. Estava preocupado e com medo. Medo de perder o bebê, medo de perder Aaliyah, de ter perdido os dois.
Ela está grávida de cinco meses, será que é possível o meu bebê sobreviver? Pode ter sido apenas um sangramento. Só que o olhar desanimado da enfermeira me fez tremer. Sabia que não seriam as melhores notícias. Então, apenas desejei que Aaliyah estivesse bem.
— Como eles estão? — Pergunto enquanto caminhava com a enfermeira pelo corredor do hospital.
— Senhor Styles, eu sou uma grande fã do trabalho de vocês — a mulher diz. — Vocês realmente tem músicas boas e eu admiro você e a sua noiva, por isso quando ela chegou eu só conseguia pensar: Caramba! Eu realmente tenho que ajudar vocês. Porque vocês me animam com suas canções.
Céus, agora não. Eu só quero saber de Aaliyah.
A mulher para de frente a um quarto e se vira me olhando, os seus olhos azuis me encaram entristecidos.
— O que houve? — Pergunto impaciente e ela respira fundo.
— Eu realmente amo o trabalho de vocês — diz e eu sou capaz de gritar com ela. Eu quero apenas saber de Aaliyah e do meu bebê. — E eu sinto muito mesmo, o médico e toda equipe fizeram tudo o que podia, mas o seu bebê não resistiu. Sinto muito.
A mulher não diz mais nada, apenas abre a porta e quando olho para dentro vejo Aaliyah chorando. Vou diretamente até ela e noto que ela também estava suada e em seus braços ela segurava nosso bebê. Tão pequeno.
No entanto, ele não estava mais aqui, não estava vivo e isso fez as lágrimas caírem facilmente em meus olhos. Aaliyah segurava com o dedo a mão do nosso bebê e soluçava. Não estava pedindo que ela conversasse comigo porque eu não saberia o que dizer a ela também.
Apenas sentia no fundo do meu peito tudo sendo dilacerado e rasgado.
Nosso bebê se foi.
— Um menino — Aaliyah soluça. — Meu menininho — diz e beija a testa do nosso filho. — Desculpa — soluça.
No entanto, Aaliyah não tem que se desculpar de nada, não foi culpa dela. Ela sempre se cuidou e foi reservada. Não fazia nada que excedesse o seu limite. Não foi culpa dela, mas acabo notando que não era para mim o pedido de desculpas e sim para o nosso garoto.
Eu beijo o topo da cabeça de Ally e ela me olha com o rosto todo molhado.
— Por que eu perco todo mundo? Todo mundo que amo vai embora — diz chorando.
— Não me perdeu, Aaliyah — digo olhando para ela. Seus olhos castanhos estavam mergulhados nas suas lágrimas e aquilo parecia ser um crime. — Você não me perdeu, Aaliyah — afirmo e sinto as lágrimas caindo nos meus olhos.
Doía em mim perder esse filho, mas estava doendo ainda mais ver Aaliyah tão quebrada.
Eu estava apenas caindo.
Então, Henderson apenas deita a cabeça no meu peitoral enquanto segurava o nosso menino pela primeira e última vez.
Enquanto tinha nosso filho em seus braços, Aaliyah continuava chorando e se lamentando. Ela se questionava baixinho do porquê terem levado nosso filho e assim como Henderson eu também entendia o motivo do nosso filho simplesmente ter ido.
O que fizemos de errado?
Continua...
Apenas
Notas: Heey gente, por favor não me matem e não desistam de mim e nem da história.
Não tenho muita coisa para dizer sobre o capítulo, porque ele realmente foi triste, então respirem fundo porque ainda tem mais capítulos para vocês até chegarmos no final. Ressaltando que a história vai até o capítulo 43 e terá epilogo.
Fiquem bem. Amo vocês. Até o próximo. Anna. Xx