Botaram o pescoço para fora d'água, quase que ao mesmo tempo. Imediatamente o gatuno arrancou a máscara de pano da cabeça para conseguir respirar.
-Bela entrada de cena, João Robbins! –disse Fabi, em pé, de fora da piscina, com um leve sorriso de satisfação.
-Você o conhece? –perguntou Lucas, franzindo o cenho.
-Ele é o caçula da Família Robbins, uma trupe de mágicos que se apresentou aqui no campus ano passado. Eu assisti ao show deles e lembro bem do seu rosto.
-Hmmmm, a gênia teve uma quedinha pelo mágico! –ironizou Lucas, sem conseguir conter a risada.
-Eu prefiro que me chame de "ilusionista". –disse João Robbins.
-Tem certeza? Pois eu acho que deveria te chamar de "Vento da Madrugada". –provocou Fabi, levantando sutilmente a sobrancelha esquerda.
-Deixa eu ver se entendi a dinâmica do casal. Ela é a espertinha e você o valentão, não é isso? –perguntou João, com um sorriso de canto de boca.
-Nós não somos um casal. –respondeu Fabi.
-Se você fosse mesmo tão espertinha, saberia que não sou eu que venho atacando o campus nos últimos meses. Existe alguém se passando por mim.
-Pra quê alguém iria querer se passar por você? –perguntou Fabi, desconfiada.
-Eu não vou ficar dando explicações pra vocês.
-Ah vai sim! Eu não me pendurei num guarda-chuva voador para você agora não colaborar com a gente! –resmungou Lucas, com um olhar intimidador.
-Ele disse que sabe o que aconteceu com a minha família, ok? Isso é tudo que eu posso dizer.
-Peraí, você se encontrou com esse cara? –perguntou Fabi.
-Nessa madrugada. Mas não consegui identificar o farsante. Ele estava vestindo um macacão cinza e uma máscara de pano preta como esta minha. –respondeu João, esticando o braço para mostrar a máscara.
-E uma focinheira sobre a boca que distorcia sua voz! –completou Fabi.
-Como você sabe? –surpreendeu-se João, jogando o corpo para trás.
-Por acaso esse seu sósia te disse que você tinha que fazer uma escolha?
-Disse! Você sabe quem é ele?
-Ela! –Fabi desviou o olhar para Lucas e completou. -A baixinha do mal!
-Pode desfazer essa cara de sabichona que eu já tinha sacado que era ela desde a hora em que ele descreveu o disfarce. –concluiu Lucas, dando de ombros.
-Do que vocês estão falando? –perguntou João, confuso.
-Que horas aconteceu esse encontro com o seu sósia? –respondeu Fabi, com outra pergunta.
-Por volta de uma e meia da manhã, por quê?
-Porque a mesma pessoa procurou nós três essa madrugada. –explicou Fabi. -Primeiro ela se encontrou com você, depois trocou o macacão cinza e a máscara de pano por um capuz vermelho e um disfarce de albina e me abordou na biblioteca do campus. Por último, tirou a maquiagem, botou uma peruca ruiva e foi atrás do paspalhão aí na Spectron. –concluiu apontando para Lucas.
-Não faz sentido! –respondeu João.
-Você é desses que procura sentido em tudo? –provocou Fabi.
-Pelo que percebi até agora, você gosta de bancar a detetive. E tudo que eu sei sobre detetives é que eles costumam ter um grande apreço pela lógica.
-Confesso que eu esperava mais de você meu caro ilusionista. Nem tudo é lógico nesse mundo. Quando as coisas deixam de fazer sentido, a imaginação se encarrega de dar as respostas. Às vezes tudo que você precisa é se desprender da realidade para enxergar além da lógica. E isso só a imaginação te oferece.
-Não liga não! Ela é louca assim mesmo! –disse Lucas, fazendo pouco caso de Fabi.
-A baixinha do mal tá testando a gente, será que vocês não percebem? Tudo isso não passa de um grande jogo.
-Ok! Mas afinal, pra quê aquela perseguição toda no telhado?
-Porque a gente precisa de você pra concluir esse jogo. Você vai arrombar o cadeado da porta do refeitório.
-Olhando assim até parece fácil! –exclamou Lucas ao ver João abrir o cadeado com um grampo de cabelo, da mesma forma que fez na noite passada com a porta do quarto do professor Tavares.
-Foi você mesmo quem disse. Eu sou o cérebro, ele é a chave e você é o músculo. –lembrou Fabi, provocando Lucas com uma piscadela de olho.
-E fez-se a mágica! –exclamou João ao abrir a porta do refeitório. –Estou dispensado?
-Não! Agora você vai até a cozinha com a gente! –avisou Fabi.
-Desculpa, mas eu não curto essa coisa de trabalho em equipe.
-E quem disse que você tem escolha? –perguntou Fabi.
-O cérebro já bolou algum plano mirabolante pra me impedir?
-Não! Isso é função pro músculo! –disse Fabi, apontando Lucas, que entendendo o sinal, fechou os dois punhos de forma ameaçadora.
-Ok! Já entendi! Eu vou com vocês. –aceitou João, sem muita resistência.