A alegria de Severus ao ver Harry caminhar lentamente diminuiu quando ficou claro que o Pequeno Demônio estava em uma missão para lhe dar cabelos grisalhos prematuros.
"Você é Potter reencarnado, não é?" Severus resmungou depois de agarrar Harry para que não caísse de cabeça na lareira mais uma vez e erguê-lo de forma que a criança ficasse no mesmo nível de seus olhos.
Harry gritou, uma pequena mão estendida para agarrar o nariz de Severus.
"Ba, ba, ba", ele gorgolejou.
Severus suspirou e convocou um elfo doméstico.
"O que Jiggle pode estar fazendo pela companheira do Mestre?" perguntou Jiggle quando ele apareceu.
"Você pode, por favor, colocar um feitiço de proteção na lareira?" Severus pediu, ignorando seu novo título.
"Oh!" Jiggle engasgou de horror. "Jiggle lamenta não se lembrar de colocar feitiços de proteção! Jiggle fará isso imediatamente!"
Com um estalar de dedos, o feitiço foi colocado na lareira junto com qualquer outra coisa que seria um perigo para mãozinhas curiosas.
"Obrigado," Severus disse antes de colocar a criança que se contorcia no chão.
Harry, que ainda não estava acostumado com seu novo talento descoberto, cambaleou um pouco antes de dar passos um tanto trêmulos em direção à cadeira almofadada, onde mais uma vez tentou se levantar.
Severus recostou-se e assistiu ao show.
~.~
Já era tarde da noite quando Lord Voldemort finalmente entrou em seu quarto. As chamas da lareira haviam morrido, deixando para trás brasas brilhantes. O poleiro de Edwiges estava vazio e uma janela deixada aberta enquanto no chão havia vários brinquedos e suprimentos para bebês.
No canto em frente à cama onde Severus dormia (Harry deve ter realmente desgastado o Mestre de Poções se o Lorde das Trevas pôde entrar sem acordá-lo) estava a cama do bebê.
Pisando silenciosamente sobre os itens no chão, Voldemort foi até a cama do bebê. Ele olhou para ele e deu um pequeno sorriso. Harry estava enrolado debaixo do cobertor. Apenas um pé, uma mão e vários fios de cabelo preto estavam saindo de baixo do cobertor.
O Lorde das Trevas encontrou seus dedos acariciando o cabelo preto macio antes que um som chamasse sua atenção. Ele se endireitou e congelou quando a figura na cama grande se mexeu, mas deu um suspiro de alívio quando Severus continuou dormindo. Ele não queria saber como o homem reagiria por ele estar aqui na calada da noite.
Dando uma última olhada em Harry, ele foi até Severus. Ao contrário de seu filho, os lençóis do Mestre de Poções haviam escorregado para formar uma poça na cintura. Olhos vermelhos como o vinho avistaram o peito esguio e nu. Na penumbra, o Lorde das Trevas pôde ver os últimos hematomas desaparecendo. Ele ficou lá por um longo momento antes de se virar e sair da sala.
"Milord."
Voldemort inclinou a cabeça ao ver Lorde e Lady Malfoy, o rosto do último enquanto em branco, fervia de raiva.
"Sim?"
"Milord, encontramos algo de seu interesse."
~.~
Na manhã seguinte, Narcissa entrou no quarto de Voldemort com Draco nos braços. Atrás dela estava Jacob.
"O Senhor solicitou sua presença", disse a Senhora Malfoy.
Severus ergueu os olhos de onde estava tentando e falhando em alimentar Harry com seu almoço (ele realmente precisava começar a ensinar a criança como se alimentar sozinho) e ergueu uma sobrancelha.
"Você sabe que ainda não posso sair da sala?"
"Sem problemas. Jiggle!"
Houve uma rachadura e o elfo doméstico apareceu.
"Como o Jiggle pode estar ajudando Lady Malfoy?"
"Por favor, lance o feitiço nesta sala. O Lord das Trevas deseja falar com Severus em sua sala do trono."
"Imediatamente!"
Um estalar de dedos e Severus sentiu a barreira da porta quebrar.
"Obrigada, isso é tudo," Narcissa disse antes de se voltar para Severus. "Você tem um pouco de comida aqui", disse ela, batendo no queixo.
Severus nem se incomodou, sabendo que seu queixo não era a única vítima na guerra alimentar. Harry não parecia melhor.
"Não importa," Narcissa suspirou. "Jacob."
Jacob pegou sua varinha e soletrou o Mestre de Poções e Harry de forma limpa. Feliz com os resultados, a Senhora Malfoy entregou seu filho ao Medibruxo antes de se voltar para Severus.
"Bem, levanta. Jacob vai cuidar das crianças."
Severus piscou. Ele se levantou e seguiu Narcissa para fora, embora ficasse um pouco inquieto quando eles começaram a se afastar cada vez mais da sala.
Quando eles entraram na sala do trono, eles foram saudados pela visão de Fenrir e Lucius olhando para uma coisa sangrenta e trêmula. Só poderia ser Peter Pettigrew ajoelhado em frente ao trono onde Voldemort estava sentado.
"Severus como você pediu, Milord," Narcissa disse com uma reverência antes de ficar ao lado de seu marido.
"Severus, aproxime-se."
O Mestre de Poções fez o que lhe foi ordenado, olhando para Pettigrew enquanto ele se postava ao lado do trono.
"Tenho certeza que agora você já adivinhou por que foi convocado."
Severus acenou com a cabeça, embora não tivesse certeza se deveria ficar irritado por eles terem descoberto ou irritado por terem demorado tanto para descobrir.
"E tudo isso é verdade?"
Severus sabia que o Senhor sabia que era, mas ainda queria ouvir dele.
"Sim."
Voldemort acenou com a cabeça. "Muito bem. O que devemos fazer com ele?"
Peter guinchou quando Severus olhou para ele antes de desviar o olhar para ver os outros cujos olhos estavam frios e ansiosos por vingança.
" Quem sou eu para tirar a diversão deles?" Severus pensou com um sorriso malicioso antes de falar.
"Faça com ele o que quiser, meu Senhor", disse ele, seu sorriso crescendo com o gemido vindo do chão.
"Muito bem. Fenrir, por que você não leva o rato para as masmorras."
Fenrir deu um grunhido feliz antes de agarrar o Animagus e arrastá-lo para fora da sala.
"E lembre-se," Voldemort gritou atrás dele, "precisamos que ele esteja vivo para que possamos encontrar seus outros cúmplices."
Fenrir bufou, mas acenou com a cabeça.
"Vá atrás dele para ter certeza de que ele obedece," Voldemort suspirou para os Malfoys.
"Como desejar, Milord."
Quando os dois Malfoys partiram, Voldemort voltou sua atenção para Severus. Ele se levantou e caminhou até o homem, parando bem na frente dele.
"Severus," ele começou.
O Mestre de Poções ergueu a sobrancelha e esperou. Ambas as sobrancelhas se ergueram quando sua mão foi segurada e o Lord das Trevas se aproximou. Ele congelou quando outra mão apareceu, os dedos se enterrando em seu cabelo enquanto a testa descansava contra a sua.
"Milord ...?" Severus parou quando os olhos de vinho tinto se encontraram com os seus próprios olhos negros.
Voldemort o encarou, sua mente correndo até que ele tomou uma decisão.
"Severus Snape, eu liberto você e Harry", disse ele.
Os olhos de Severus se arregalaram.
"Vocês podem partir o mais cedo possível."
Voldemort então beijou Severus na testa e saiu da sala, seus pés o levando para as masmorras onde um certo rato estava esperando.
Quando Voldemort voltou para seus aposentos, ele não ficou surpreso ao descobrir que todas as coisas do bebê tinham ido embora, e todo o resto voltou para seu devido lugar. Até o poleiro de Edwiges se foi.
O Lorde das Trevas também não ficou surpreso ao saber alguns dias depois que a casa de Severus havia sido vendida, e pai e filho haviam desaparecido.