"Quand il me prend dans ses bras
Qu'il me parle tout bas
Je vois la vie en rose
Il me dit des mots d'amour"
La vie en rose - Édith Piaf
Thomas Pollock
Na manhã seguinte, acordei cedo e troquei de roupa para ir tomar o café da manhã. Saio do meu quarto e desço até o restaurante.
Está bem cheio e percebo que a maioria das mesas são postas para dois. No canto esquerdo, Elise está sentada em uma mesa com Diarah, que se levanta, parecendo já ter terminado de comer.
Vendo que o lugar acabou de ficar vago me dirijo até mesa delas. Ao passar por mim Diarah me dá bom dia e sai pela porta parecendo apressada. Uma pequena mancha de café marca a sua blusa branca e logo entendo por que ela estava com tanta pressa.
Com certeza ela está indo se trocar no seu quarto. Não conheço ninguém mais sistemático e neurótico com organização do que Diarah. Ela sempre quer tudo perfeito e sem nenhum erro, usar uma blusa manchada seria o fim do mundo para ela.
- Está ocupado? - pergunto apontando para o lugar claramente vago na frente de Elise.
- Claro. Mesmo que não possa vê-lo, meu amigo imaginário está aí. - responde ela com ironia.
Eu olho feio e ela aponta para a cadeira.
- Senta aí.
- Já volto. - falo antes de ir buscar meu café da manhã.
Volto com dois pratos. Um com diferentes pães, já o outro com croissants, bolos e umas frutas também. Puxo a cadeira e noto a expressão espantada de Elise.
- Essa comida toda é só para o café ou você já tá fazendo um estoque pra viagem?- ela questiona, inquisidora.
Olho para os meus pratos. Sei que não são escolhas exatamente saudáveis, mas...Dá um desconto. Eu estou viajando, não é um dia comum.
- Não me olhe com essa cara, Elise. Eu tenho que armazenar bastante energia para o dia de hoje.
- Aham, tá. Até parece que é você que vai trabalhar o dia inteiro na filmagem do comercial e não ter o dia inteiro de folga pra conhecer a cidade. - ela coloca os cotovelos na mesa e apoia a cabeça nas mãos.
Hoje eu tenho dia livre. Como será a gravação do comercial e eu não tenho experiência com vídeos, minha me liberou e só farei as fotos de amanhã. Vou aproveitar o dia para rever meus amigos daqui. Morei na França por uns dois anos antes de fazer faculdade e voltar para Londres.
- Na verdade eu vou é encontrar com alguns amigos daqui. - conto.
- Você tem amigos aqui? - ela franze o cenho. - Já veio pra França antes?
Me repreende internamente. Era melhor não ter falado nada. Agora ela sabe dos meus amigos franceses. Pelo menos não contei da família, seria mais complicado de explicar.
- Sim. Eu morei aqui um tempo para fazer um curso de fotografia. - Não é totalmente mentira. Também não é totalmente verdade. Eu realmente morei em Paris, mas não pela fotografia. Eu estava na sede oficial da empresa LeBlanc aprendendo mais para quando fosse trabalhar na de Londres. - Conheço bem a cidade. Se quiser posso ser seu guia e te mostrar alguns lugares bem legais. - tento mudar o rumo da conversa.
Seus olhos brilham. - Sério? Eu estava mesmo querendo conhecer Paris, mas não tinha ideia de por onde começar.
Anoto meu número em um guardanapo e dou pra ela para que possamos combinar tudo. Ela olha para o papel desconfiada mas o pega.
- Você sabe que não vai ser um encontro, né?
- Isso seria tão ruim? - eu a encaro.
Ela desvia o olhar e responde "sim" rapidamente.
- Se é isso que você quer dizer pra si mesma, vá em frente. - digo com um sorriso, sabendo que ela simplesmente não quer ceder e admitir que gosta de passar seu tempo comigo.
- Muito engraçado. - ela responde fazendo uma careta e eu começo a rir.
- Olhe que casal mais lindo! - nós dois nos viramos abruptamente e damos de cara com a minha avó parada ao lado da mesa com um grande sorriso estampado no rosto.
- A gente não é um casal- diz Elise apontando para nós dois. Um instante depois ela parece perceber com quem está falando e sua postura muda. - Senhora LeBlanc. - murmura a morena se levantando para cumprimentar a dona da empresa.
Eu faço o mesmo fingindo estar vendo a minha chefe e não a minha avó.
- Me perdoem. Entendi errado. - responde Denise LeBlanc com seu forte sotaque. - Porém vocês formariam um belo casal. - completa com uma piscadinha.
Como não sabíamos o que responder minha avó continuou.
- Você deve ser Tom Woods. - ela aperta minha mão, se segurando para não dar uma risada, e eu a lanço um olhar cauteloso. Confirmo e ela olha para a garota do meu lado. - E você a Elise Bennet, a nossa querida modelo.
- Sou sim, é um prazer conhecer a senhora.
- O prazer é meu, querida. - a abraça. - Só vim aqui conhecer vocês e dizer que estou muito contente por tê-los na equipe dessa coleção que tem um significado tão importante pra mim.
O segurança da minha do hotel aparece no restaurante e diz que a manager está pedindo para chamar Elise. Eles tem que ir fazer a gravação da propaganda, e ela ainda precisa se preparar.
- Eu preciso ir. Quem sabe nos encontramos depois.
- Vá minha querida, depois conversamos mais.
Elise se levanta e vai em direção a porta junto com o segurança, deixando eu e minha avó a sos.
- Vem cá dar um abraço direito na sua avó, mon chéri (meu bem) ! - Ela me abraça apertado.
- Estava com saudades.
- Eu também. - Nos desprendemos um do outro. - Que ideia foi essa de mudar de nome e fingir ser fotógrafo? - ela dá uns tapinhas na minha cabeça.
- Fugindo da mídia, né vó? Você sabe como é isso.
- Uhum. Isso tem alguma coisa a ver com a linda moça que estava aqui minutos atrás? - ela estreita os olhos.
- Não. Do que você está falando? - desconverso. Não foi exatamente minha ideia, foi uma necessidade da empresa que aproveitei.
- Existe algo entre vocês? - pergunta com um sorriso e eu nego. - Uma pena, daria um casal tão bonito.
Denise e sua mania de querer me arranjar namoradas. É sempre assim com todos os netos. Nossa avó tenta dar uma de cupido e nos empurrar pra alguém. Na maioria das vezes ela não é bem sucedida. Com exceção de Lola, que está noiva de um filho de empresário. O pai dele estava fazendo negócios com a minha família, e minha avó apresentou ele à minha prima.
Elise Bennet
Ontem as filmagens consumiram grande parte do dia. Acabamos por volta das seis da tarde e quando voltei ao hotel fui direto tomar um banho e descansar.
A manhã de hoje também foi bem cheia. Logo cedo fomos tirar fotos na Rue de I'Université. O local tem como visão a Torre Eiffel, além de ter casas com uma linda arquitetura.
Quando terminamos a equipe toda foi almoçar em um restaurante lá perto. Diarah aproveitou para nos avisar de um jantar amanhã às oito da noite oferecido por Krystal e Denise LeBlanc. Ou seja, não é um convite, e sim uma intimação. Não que elas sejam autoritárias, mas quem faria uma desfeita com suas chefes.
Durante o almoço eu e Tom decidimos passear por perto do hotel hoje a tarde. Até convidamos o pessoal da equipe, só que eles preferiram ficar no hotel mesmo.
Fui até meu quarto só pra trocar de roupa e colocar algo mais confortável. Nós combinamos de nos encontrar três e meia na recepção do hotel.
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As ruas de Paris são bem diferentes das de Londres. O bairro em que estamos hospedados é muito próximo de outro famoso aqui na França, Montmartre, conhecido como bairro dos pintores. Dá pra ir a pé.
Então eu e Tom passemos por lá, ele me mostrando as coisas e explicando a história por trás enquanto eu admiro as magníficas construções parisienses. A basílica de Sacrecoeur, a Place das Tertres, uma praça com exposições de artistas, conhecemos até o Moulin Rouge, aquele cabaré que aparece no filme famoso que tem o mesmo nome.
Na volta passamos na frente de uma cafeteria na esquina chamada Est Belle Cafe. Na vitrine tem vários doces deliciosos e um cupcake parece estar me chamando.
- Podemos entrar aqui antes de voltar pro hotel? - aponto pra loja e Tom arregala os olhos.
- É melhor não. Já tá ficando tarde.
- É, mas vai ser rápido. Vamos. - ele ainda parece relutante então o puxo para a porta e ao entrar vou até o balcão. Uma mulher jovem e loira de uniforme me olha com sorriso nos lábios.
- Salut, bienvenue. (Oi, bem-vinda.) - diz e quando eu ia perguntar se ela falava inglês, a mulher olha para o meu lado e parece ficar surpresa. - Mon Dieu! Ça fait longtemps! (Meu Deus! Quanto tempo não te vejo!) - ela dá a volta no balcão e abraça Tom. Eles se conhecem? Será que ela faz parte dos amigos que Tom comentou que ia visitar ontem.
Os dois começam a conversar em Francês.
Me surpreendo ao ouvir Tom falar francês. Ele morou aqui, Elise, me lembro. É obvio que ele fala francês. Sua voz grossa fica diferente falando a outra língua. É tão sofisticado e excitante...Para, Elise.
Depois de um tempo eles parecem se lembrar que estou lá, parada sem entender uma palavra do que eles estão falando. Eles parecem ter muita intimidade.
- Desculpa, Elise. Essa é Lola, uma antiga amiga minha. - olho para ela.
- Pardon. Me empolguei, há muito tempo não via o Thom...Tom. - Ela coloca a mão no ombro dele e sinto uma pontada no estômago. Não examino o que isso quer dizer. Deve ser a fome. - Eu sou Lola. - ela abre um sorriso. Um sorriso largo demais e com dentes demais. Por que ela está tão feliz assim?
- Eu sou Elise. - sorrio fraco e a cumprimento tentando ser simpática.
- O que vão querer? - ela aponta para o enorme balcão de doces atrás de si.
- Um cupcake para levar, por favor. - ela pega e eu lhe entrego o dinheiro.
- Foi bom ver vocês! Depois conversamos mais. - diz para Tom.
Enquanto saímos da cafeteria e caminhamos até o hotel me pergunto se eles já foram algo mais que amigos.
Oii, gostaram? Votem por favor!!