"Disappearing when you wake up
But there's nothing to be afraid of
Even when the night changes."
Night changes - One Direction
Thomas Pollock
Hoje é segunda-feira. O final de semana passou muito rápido, fiquei mais em casa e no domingo fui almoçar na casa dos meus pais, passei a tarde com eles.
Ouço alguém bater na porta e me ajeito na cadeira. Um segundo depois ela se abre e minha mãe entra apressada me deixando inquieto.
- Salut, mon fils. (Oi, meu filho.)
- Salut, maman. (Oi, mãe.) - ela dá a volta na minha mesa e dá um beijo na minha testa. - O que foi, mãe? Você tá estranha.
- Ah, é que tivemos um problema com a sessão de fotos para a coleção. - diz ela parecendo preocupada. - e eu preciso da sua ajuda.
- Eu não sei como eu poderia ajudar na coleção, mas pode falar.
- Você terá que substituir o fotógrafo hoje. - arregalo os olhos.
- Como assim, mãe? - levanto da minha cadeira. - E o fotógrafo que foi contratado? - pergunto.
- Ele sofreu um acidente de carro hoje cedo e está na UTI do hospital. Não tem previsão de volta. Sua vó está enchendo minha paciência para lançar a coleção logo, preciso que essas fotos sejam tiradas hoje. - fala minha mãe desesperada.
- Não sei se isso é uma boa ideia.- falo.
Nós fazemos de tudo para que ninguém me veja andando por ai e desconfie de quem eu sou. Me tornar o fotógrafo dessa coleção seria literalmente ir contra isso e me tornar conhecido na empresa. Mesmo que com outro nome.
- Filho, eu sei que é arriscado, mas eu também sei que você adora fotografia. Não é como se fosse ser um sacrifício pra você.
Sempre gostei de fotografia. Minha bisavó me deu minha primeira câmera, tirava fotos de várias coisas, paisagens, da minha família...Fui crescendo e me interessando mais ainda. Com isso, fiz cursos de fotografia por boa parte da minha vida.
Já pensei em tornar isso o meu trabalho, mas acabei desistindo. Não se gostaria tanto disso caso se tornasse uma obrigação. Além disso, sempre achei que meus pais precisassem de mim na empresa. Não que eles me cobrem, mas vi a felicidade da minha mãe quando aceitei me tornar o vice presidente da LeBlanc.
- A família do fotógrafo só me avisou agora a pouco o que aconteceu. A modelo já está pronta e está em cima da hora pra eu arrumar outra pessoa. Me ajuda, Thommy, s'il te plait (Por favor).
Pensando bem se eu for cuidadoso não tem tanto perigo assim. Ninguém aqui me conhece mesmo e como ela falou não seria um sacrifício pra mim ser um fotógrafo. Seria até bom ficar a tarde toda tirando fotos ao invés de sentado no escritório lendo vários contratos longos e tediosos.
- Tá bom, mãe. - ela sorri. - Só preciso tirar esse terno e colocar outra coisa.
- Muito obrigada! - diz me abraçando. - Se apresse, a modelo já está esperando, vou conseguir uma roupa menos formal e trago aqui pra você. - ela sai.
Elise Bennet
Eu não entrei na fila da paciência, mas como é trabalho tenho que aceitar.
Neste momento, estou no meu camarim esperando me chamarem para fazer as fotos.
Estou aqui há uma hora.
A maquiadora fez uma maquiagem mais simples. Por outro lado, o cabeleireiro fez ondas no meu cabelo e passou um fixador.
A Jasmine sempre fala que eu sou sem paciência. E não tenho como negar. Eu preciso trabalhar isso e não me estressar. Eles provavelmente tiveram algum problema.
Então o que me resta fazer é olhar pras paredes do Studio - que fica aqui mesmo na empresa da LeBlanc - enquanto espero. Dessa vez, ao montarem o cenário optaram por um fundo vermelho borgonha e um bege bem clarinho.
O outro modelo vai tirar as fotos individuais na quarta, e aproveitaremos para já fazer as fotos juntos também. Hoje eu tirarei as minhas sozinha.
A porta se abre e uma mulher elegante com o coque mais perfeito e alinhado que eu já vi entra com uma prancheta na mão. Ela é a responsável pela organização da sessão de fotos.
- Oi, desculpa a demora. - sorri fraco. - ocorreu um probleminha e tivemos que chamar um outro fotógrafo. Ele já chegou, pode me acompanhar.
Me levanto. Estou com uma roupa lisa branca que eles escolheram, mas o foco serão as joias que terei que trocar toda hora. Saio do camarim e vou até o studio, um homem alto está de costas com sua câmera.
- Tom. A modelo já está aqui. - o homem se vira e arregalo meus olhos. É o homem do Starbucks. - Elise, esse é Tom Woods, ele vai fazer as fotos.
Ele me fita com seus olhos azuis e tenho certeza de que ele também me reconheceu. Fico calada sem saber o que dizer.
Devo fingir que não me lembro dele e cumprimenta-lo como se nada tivesse acontecido? Deve pedir desculpas por ter gritado e sido mal educada na loja?
Não tenho tempo de decidir antes que a manager pedisse licença para checar a iluminação e saísse, nos deixando a sós.
- Oi, prazer. - digo e ele estende a sua mão em cumprimento e eu a pego, sem graça.
- O prazer é meu. - fala ele me cumprimentando de volta e apertando minha mão. A voz dele é grossa e rouca, né...? Não percebi antes esse detalhe. Por que você tá pensando nisso, Elise? - Pode ficar tranquila que hoje não tem perigo de eu estragar alguma roupa sua. - ele diz com um sorriso.
Eu solto sua mão abruptamente.
- Eu não deixei uma boa impressão no outro dia, né? - Ele não precisa nem responder, é óbvio que sim. Eu fui extremamente grosseira com o cara só porque ele, sem querer, manchou a minha blusa. Como disse, não tenho muita paciência. Tá bom que era a minha blusa mais cara e chique, e eu tinha um carinho especial por ela, mas ele não fez de propósito.
- Não. - ele arqueia as sobrancelhas - Mas ainda dá tempo de mudar. Se você aceitar sair comigo eu te conto depois se a minha impressão de você mudou ou não.
Minha expressão se fecha na hora. O que ele tá pensando? Que eu vou aceitar sair com um estranho, que estragou a minha blusa, para ele decidir o que acha de mim? Tá é louco! Eu nunca aceitaria isso.
Ele percebe seu erro segundos depois e tenta remediá- lo.
- Não foi isso que eu quis dizer...bom foi mas... - Ele se embola com as palavras - Você acha que é cedo demais, né?
- Tenho certeza.
- Desculpa, eu me precipitei - diz ele envergonhado.
- É...Eu tenho ir agora. Vamos começar as fotos. - digo me afastando. Isso foi muito estranho.
>>>
Começamos a fotografar de manhã e já está no final da tarde. Tivemos pausa para almoço, resolvi pedir em um lugar que a maquiadora me recomendou e chegou rapidamente. Estava muito bom. No final, a empresa arcou com o custo. Isso é ótimo. Eu sou paga para ser modelo e ainda recebo comida grátis. O que mais eu poderia querer?
Como já estou pronta para ir embora, saio do meu camarim. Meu telefone toca e vejo que é Claire.
Nossa! Ela é rápida. Nos reencontramos ontem e ela já está ligando. Até pensei em combinar alguma coisa com ela, seria muito bom retomar a amizade. Não tenho muita amigas. Nos últimos anos fiquei muito no lado profissional e acabei deixando a socialização de lado.
- Alô? Claire?
- Oi, Lise! Tudo bem?
- Estou ótima, e você?
- Estou bem também...estou te ligando porque abriu uma boate nova na cidade, a Beat. Meu irmão está me importunando para eu ir. E como estou sendo obrigada pensei em te arrastar nessa comigo...
- Eu... - começo mas ela me corta antes que eu consiga continuar.
- ... não se sinta obrigada a aceitar, se você tiver outra coisa pra fazer, não sei. Não se preocupe, eu não ficaria chateada nem nada. Talvez você nem goste muito de boates, eu também não sou muito acostumada a ir. É que eu gostei muito de te rever no outro dia e queria muito que...voltássemos a ser amigas. - Ela termina e solta a respiração que estava prendendo desde que começou a falar.
A Claire sempre foi assim. Começa a tagarelar sem parar quando está nervosa. Ou seja, ela está nervosa por falar comigo. Deve querer mesmo retomar a amizade. Eu sei o quanto que ela é tímida, deve ter sido difícil pra ela ter coragem de me convidar. Sinto uma sensação boa me preencher. Também quero voltar a ser amiga dela.
- É... na verdade não tenho nada marcado não. Eu vou adorar sair com você para essa tal boate Beat. Vai ser ótimo. - digo, mesmo que não seja muito fã de boates. Sou uma pessoa mais caseira, não gosto muito de festas. Mas dessa vez vou fazer um esforço.
- Ah sério? Que bom! Nos encontramos na porta às 20 horas?
- Sim, te vejo lá as oito.
- Tchau, Lise.
Finalizo a ligação, coloco meu celular no bolsa e sigo para o elevador do andar. A porta se abre e a manager aparece.
- Elise, preciso falar com você. - agora estou preocupada. - A propósito, acho que não me apresentei. Sou Diarah, a manager da empresa.
- Prazer, sou Elise. - falo e entro no elevador junto com ela.
- É, eu sei. - diz alisando a uma dobra na sua camisa social branca.
- Gostaria de falar com você sobre uma nova ideia que a mãe da Kristal deu. - pausa. - na verdade foi uma troca. Já conversei com Kevin e Caleb, o outro modelo, sobre isso, só preciso da sua resposta.
- O que seria? - pergunto curiosa.
- Denise quer que façam a gravação e algumas outras fotos em Paris. Vocês viajarão no final da semana que vem. - ela olha para mim. - Tudo certo por você?
- Eu...acho ótimo. Vou sim! - digo sorridente e ela continua com a cara concentrada.
- Então ótimo. Vamos passar informações para você e Kevin logo.
Me despeço de Diarah e saio do elevador.
Meu Deus! França. Vou conhecer Paris. Não sei se vai dar para visitar algo, mas já estou satisfeita. Não acredito que meu trabalho já está me levando tão longe.
Saio do prédio e aceno para um táxi. Mais tarde irei para a boate encontrar Claire.
Será se essa raiva por causa da blusa da Chanel irá transformar em amor?
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