Doce Tentação

By HeyPicezah

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Melissa Santos, uma grande mulher com opiniões fortes e dona de si. Melissa se mudou para o Rio de Janeiro, e... More

Notas ¹
Elenco
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capitulo 12
Capítulo 13
Capitulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70¹
Capítulo 70²
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Capítulo 76
Capítulo 77
Capítulo 78
Capítulo 79
Capítulo 80
Capítulo 81
Capítulo 82
Agradecimentos

Capítulo 61

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By HeyPicezah

Começando o ano com capítulo novo, para estrear o primeiro dia de 2022 e para desejar feliz ano novo a todos vocês. Que 2022 seja um ano repleto de bênçãos e vitórias para todos nós. Mais um ano iniciando, mais chances de vencermos.❤

Uma boa leitura a todos.

Point of view Douglas Gonçalves.

Saio do carro sentindo a brisa quente bater contra o meu corpo. O Rio de Janeiro pode até fazer calor, mas aqui é o fogaréu em si, chega a ser pior do que o fogo de Melissa.

Na noite anterior onde estive com Pérola, disse que ela sabia onde me encontrar. Anos atrás Pérola foi um caso de curtição, desejo de ambas partes, apenas isso. Mesmo tendo uma consideração por ela, não chegamos a ter nada além daquilo, naquela época da minha vida o lema não envolver sentimentos era mais forte do que nunca. Além do mais, nunca cheguei a vê-la com outros olhos.

Quando mais nova ela se envolveu em dívidas, nada menos, nada mais, dívidas por drogas. Nessa época já havia acompanhado de perto a situação de Pato, pelo menos Pato tinha pessoas em sua volta que segurou a sua mão, diferente de Pato, Perola não tinha ninguém. O seu futuro era apenas um, morrer. Ou ela morria por alguma overdose, ou na mão de alguém.

A minha vida toda, as minhas relações com as pessoas foram movidas por conexão. A vida te ensina a ser insensível, e no meu caso que já presenciei muita coisa, poucas coisas me comovem, o que para muitos é digno de pena, para mim é só uma coisa sem importância, não muda nada na minha vida. Por isso que eu falo que sou movido por conexões, se eu sinto uma conexão com certa pessoa, eu sei que aquilo vai valer a pena, porque eu não sinto isso com qualquer um.

Com Pérola não foi diferente, quando eu bati os olhos nela eu senti essa conexão. Posso afirmar que não foi na maldade, porque ela estava em uma situação deplorável, digna de dó.

Costumava frequentar sempre o mesmo bar, em uma dessas idas, encontrei ela jogada no chão como nada, totalmente dopada, nem chapada eu poderia dizer, no estacionamento que dividia o bar da boate de stripper, qualquer um poderia fazer o que quiser com ela e ela não iria lembrar. Isso foi o de menos, o pior de tudo foi quando um homem agarrou o seu braço, ela mal conseguia se manter de pé e começou a puxá-la, como ela estava fora de si ela não fez nada.

Eu não conhecia ela e muito menos conhecia ele, eles poderiam ser amigos, talvez um casal.. Mas eu não tinha certeza de nada, como ele poderia ser um conhecido, ele também poderia ser um nojento qualquer.

Eu simplesmente poderia ir embora e seguir com a minha vida, eu não tinha nada a ver com aquilo. Mas o fato de saber que ela estava drogada não me deixava arredar o pé dali, outro fato é que como era uma desconhecida, poderia ser facilmente minha mãe naquela situação, não que a minha mãe fosse se drogar, mas em uma situação geral.

A situação era pior do que eu imaginava, Pérola não era só uma viciada como também trabalhava na casa de stripper ao lado, e se isso fosse todo o problema estava bom, o pior de tudo é que quem ela devia era nada menos do que o dono da casa, como ela não tinha dinheiro para pagar a sua dívida ela era obrigada a ter relações sexuais com clientes que frequentava o clube. Nisso tudo, o rapaz era o seu cafetão.

Minhas ações não são baseadas no que vou ganhar em troca, nunca pedi nada em troca para Pérola. Mas ontem a noite fiz questão de ressaltar que quando ela havia caído, eu fui o único que lhe estendeu a mão e a levantou. Não exijo nada em troca, mas espero a sua lealdade.

Uma das coisas que mais prezo é pela lealdade, se quebrar a minha confiança não tem volta, nunca será a mesma.

Entro no bar encontrando apenas dois homens em uma mesa, pelo jeito eles viraram a noite. Não marquei horário com Pérola, mas ela sabe que detesto o bar a noite, ainda mais quando ele fica cheio de bêbados, de bêbado já basta eu. Além do mais, nada do que uma dose de álcool para começar o dia.

Nego quando o garçom me pergunta se vou beber alguma coisa, estou sentindo o efeito do whisky até agora, no final das contas acabei pegando uma garrafinha d'água. Esse é o momento que agradeço por ter ouvido Melissa e não ter partido para outra garrafa de whisky, caso contrário, essa hora eu estaria apagado em um canto qualquer.

Falando em Melissa, confiro se ela não me mandou nenhuma mensagem, mesmo sabendo que nesse momento Dona Anna deve estar falando da vida dos outros com ela. Não quero nem imaginar o que elas estão conversando, não sendo de mim está ótimo.

- Oh, meu Deus. Eu não acredito no que estou vendo, Relíquia bebendo água invés de uma dose de whisky? Quanto tempo eu dormi?

- Tempo suficiente. Muitas coisas mudaram, não acha?

Não adianta, quando tem algo me incomodando não consigo agir normalmente. Se nem no dia a dia forço simpatia, agora não vai ser diferente.

- Bom, nem muitas coisas pelo jeito. O humor continua o mesmo. - resmunga. - Se não me chamou para afogar as mágoas, isso se trata de que?

- Quero saber de tudo que aconteceu nesse tempo que eu estava fora.

- Foram dois anos. - diz ao se sentar. - Muitas coisas mudaram.. Você deixou o comando com Santino, o jeito dele de comandar é diferente do seu. Paizão e você, apesar de tudo, haviam formado uma família, tínhamos os nossos lemas. Santino não quer uma família, ele quer um exército.

- Isso tudo acontece desde quando? Todas essas mudanças.

- Cinco meses depois que você se foi, ele começou a mudar toda a dinâmica. As pessoas que eram próximas a você ele distanciou, fazendo que desde então tudo que elas façam não sejam em contato direto com o esquema da facção, assim você não tem nenhuma informação.

- Por isso Borges está em outra cidade. - penso alto.

- Exatamente. Desde que não temos notícias de paizão, ele já mantinha Borges afastado.

- O que ele fez com você?

- Nada.. ele sabia que não tínhamos mais nenhum laço.. Naquele dia.. quando você saiu da sala ele entrou, ele estava escutando tudo. - relembra.

Quando fui embora, hora antes tivemos uma discussão, o que resultou no nosso distanciamento esses anos todos. O nosso único laço era a facção, de resto não havia mais nada. Sou orgulhoso e não daria o meu braço a torcer.

- Santino disse que iria me ajudar, que eu não estava sozinha.

- E ele ajudou?

- Talvez.. É complicado.

Observo o seus gestos ao falar de Santino, o seu olhar é de.. gratidão. Mesmo não querendo, no fundo isso me incomoda.

- Eu perguntei de você para ele, ele me disse que cada dia que passava você se afundava mais e mais. - conto omitindo algumas coisas e o seu olhar vacila. - Você acha que ele merece a sua gratidão?

- Eu não concordo com o que ele faz, nunca concordei, mas ele esteve comigo então sim, eu acho que merece.

- Tsc, tsc.. - nego procurando pelos seus olhos distantes. - Fala olhando pra mim, Amanda, olho a olho.

- Relíquia..

- Você acha que eu mentiria pra você? Que o que falei sobre Santino ao seu respeito é mentira? Ele não merece a sua lealdade, ele apenas te manipulou, assim como também fez comigo ao dizer que tudo estava bem, que as coisas se mantinham a mesma. Aposto que os comentários ao meu respeito não foram os melhores. - o seu silêncio é a minha confirmação. - Eu estou de volta, seja lá o que está acontecendo eu vou descobrir. Basta você me dizer.. em qual lado você está?

Eu não sou trouxa, que tem algo de errado com Santino isso eu sei, não cismo com alguma coisa à toa. Se ele estiver planejando alguma coisa, os seus planos vão por água abaixo. Posso considerar ele, mas não admito traição, e se ele estiver envolvido com o sumiço de paizão, eu não vou pensar duas vezes sobre eu mesmo resolver esse problema, garanto que não vai ser da melhor forma.

Não vou obrigar ninguém a ficar do meu lado, eu sei me virar sozinho. Mas é melhor estar do meu lado do que contra mim, porque quando eu for derrubar, eu vou derrubar todos que estão do outro lado, seja lá quem for. A partir do momento que estão contra mim não tenho mais consideração e o que estiver pela frente vai junto.

Sei o que falei sobre Santino abalou Pérola, e foi por isso que falei antes mesmo de perguntar de qual lado ela está. Não estou mentindo, muito menos inventando, apenas coloquei as cartas na mesa. De fato, quando perguntei sobre Pérola para Santino, ele me disse que ela estava em uma estado deplorável e que ela não tinha mais solução, isso porque ele disse que iria ajudar ela, imagina se não tivesse falado? Se ela escolher ficar do lado de alguém que se refere a ela dessa forma, por mim tudo bem, mas não é uma escolha que eu tomaria.

- É como diz o nosso ditado "hermano por hermano". Uma família nunca abandona um membro, eu estou com você.

- Boa escolha, Pérola. - mantenho a postura. - Quero que entre em contato com Borges, Santino disse que ele está em uma cidade vizinha. Vamos manter a descrição, a mensagem será em código, caso o celular esteja grampeado. Amanhã às nove da manhã na boate que Borges gerência.

Anoto o meu número em um guardanapo e entrego para Pérola, caso ela precise me ligar. A intenção de Santino era separar as pessoas que eram próximas de mim, desse jeito nada cairia no meu ouvido.

Antes de me levantar ressalto que é para a boate estar vazia, mesmo sabendo que Borges não daria o vacilo de deixar alguém lá quando formos nos encontrar, não quero ter a surpresa de encontrar alguma mulher praticamente nua, sei me portar, mas a boate gira em torno da putaria. Mulher é uma coisa sem explicação, para Melissa descobrir que eu estava em um lugar cheio de putaria é dois palitos.

- Relíquia? - chama minha atenção quando lhe dou as costas, olho para ela por cima do ombro. - Eu estou a dois anos limpa.

O motivo da nossa discussão foi que encontrei Pérola cheirando uma carreirinha, para um viciado se afundar não basta muita coisa. Depois de insistir eu acabei abrindo mão na hora da raiva, não adianta você querer ajudar alguém que não quer ser ajudado. Depois daquele dia não tive mais contato com ela. Não vou negar, fiquei feliz de vê-la na sala quando me encontrei com Santino. Ela está aparentemente saudável.

- Depois daquele dia você usou mais alguma vez?

- Usei. - suspira.- Mesmo com Santino dizendo que estava do meu lado, no fundo eu sabia que estava sozinha.. Eu havia perdido tudo e dessa vez eu não podia me perder, porque dessa vez eu não conseguiria me achar novamente. Foi difícil me reencontrar, eu não podia jogar isso fora. - balanço a cabeça vendo verdade nos seus olhos.

- Fico feliz por você, Pérola. - sou sincero sorrindo fraco. - Se cuida, até amanhã. - dito isso me viro seguindo o meu caminho.

O trajeto até em casa é rápido, por estar com a cabeça longe e cheia de coisas nem parece que eu estava do outro lado da cidade. Entro em casa sendo recebido pelo silêncio, informando que Melissa não está em casa, se ela estivesse seria a maior barulheira, tenho a confirmação disso quando encontro o quarto vazio.

Confiro o WhatsApp vendo a mensagem de Gafanhoto, nem longe eu tenho sossego dessa praga. Deixo o celular de lado e vou para o banho.

- Porra Melissa! Não fode caralho, que susto porra! - assusto com ela que acabou de entrar no quarto se assustando comigo também.

- Hm? Quem que está fodendo? Não tem ninguém fodendo aqui não. - diz sentando na cama para tirar os saltos, encaro ela que desvia o olhar.

- Tá toda estranha por quê?

- Quem? Quem tá estranha? Eu estou normal, você que está esquisito.

Nego não rendendo assunto, Melissa às vezes parece doida. Visto uma boxer e estico a toalha no banheiro, ao voltar para o quarto vejo ela encarar os pés com um biquinho.

- Eu nunca mais vou usar salto, eles acabaram comigo.

- Deixa eu ver. - peço sentando na cama.

- Aii! - choraminga manhosa quando coloco o seu pé sobre a minha coxa.

- Está doendo muito? - concorda. - Mas tu também cara, quer usar um salto que é quase o dobro do seu tamanho, não sei pra que.. agora fica aí. Adianta não filhona, tu não tem tamanho e é isso, não adianta ficar colocando salto não.

- Esfrega na minha cara de uma vez, que saco. Esses saltos que são desconfortáveis e eu fiquei muito tempo de pé, por culpa sua.

- An ala. - riu. - Vem colocar a culpa em mim não, assume os seus b.o, fica parada deixa eu ver. Até que não está tão ruim não, só está um pouco inchado. Dói? - afundo o dedo tendo um gemido doloroso em resposta. - É.. Vou tentar fazer massagem, no começo pode doer, mas fica tranquila que depois alivia.

- Tá bom, só.. AII PORRA! Puta que pariu, Douglas! Mão pesada do caralho.

- Vai ficar reclamando? Aquieta essa buceta gostosa e aproveita que eu tô fazendo massagem.

- Sabia que você tem que cuidar de mim?

- Aah eu tenho? - pergunto em deboche.

-Hurum.. ai meu senhor Jesus Cristo, que dor. - choraminga encostando as costas no travesseiro. - Não só como tem que cuidar, como também tem que me mimar. Está achando que para ter essa deusa do seu lado é fácil? Não é assim não meu amor.

- Te dou até leite pra deixar forte, tem mimo melhor do que esse? Coloca o outro pé aqui. Sabia que tu tem que me mimar também? Tem que saber tratar o princeso aqui.

- Ai meu Deus. - ri. - E como eu tenho que cuidar do princeso?

- Como eu sou um princeso, o recomendado é tu me dar um chá de uma em uma hora.

Ela ri me fazendo rir também. Massageio com cuidado, momento ou outro dou um tapinha para ela ficar com o pé quieto, sempre que eu pressionava o dedo em um lugar dolorido ela choramingava afastando.

- Você é tão bom com isso.

- Tsc, e no que eu sou ruim? Ainda mais com as mãos. - Sorrio malicioso. - O segredo é saber onde apertar.

- Você é o tipo de pessoa que nunca ficaria sem nada para fazer na vida, você faz de tudo um pouco. Obrigada. - manda beijo quando coloco os seus pés na cama. - Deita aqui. - bate na sua coxa e eu deito no meio das suas pernas com a cabeça no seu colo. - Que carinha é essa?

- Amanhã eu vou em uma boate. - escapo da sua pergunta e ela ri quando termino a minha frase.

- Aah, então você vai em uma boate?

- Iih, tá rindo de que? A gente falando o negócio sério e você nessa.

- Amado, você vai fazer o que em uma boate? Só me responde isso, pagar de dançarino eu sei que não vai. Olha a agressão! - gargalha quando empurro a sua cabeça.

- Vai lá, espírito de bozo. - resmungo.

- Agora estou falando sério. - diz segurando a risada. - Só não olha pra mim, se não vou rir. Você vai fazer o que lá?

- Relembrar os velhos tempos. - sorrio para ela que fecha a cara. - Ué, não era você que estava rindo até pro vento?

- Se liga, Douglas. Você que não fica esperto, vai lá relembrar os velhos tempos. A sua mãe está doida para me arrastar para conhecer alguns lugares, sabe como é né? Relembrar os velhos tempos, é como você mesmo diz, aquelas coisa.

- Aquelas coisa, só se for.. Vamo mudar de assunto, tô gostando do rumo que essa conversa está tomando não. - reclamo fazendo ela gargalhar.

- Pérola faz parte da facção?

- Faz, ela foi a segunda mulher a entrar.

- Pelo pouco que vi não tem muitas mulheres.

- Apenas duas com Pérola. Isso porque ela foi firme na decisão de querer entrar e forte o suficiente para passar por todo processo. Para entrar você passa por torturas. - falo ao ver a confusão no seu rosto. - Naquela época ela estava se recuperando ainda, ela era usuária de drogas e tinha anemia, a saúde dela não era a melhor. Se hoje ela faz parte é porque ela mereceu, as torturas não são fáceis.

- Vocês se conheciam antes disso tudo?

- Ela trabalhava.. trabalhar não é a palavra certa, porque ela era obrigada a ter relações sexuais com clientes de um clube de stripper, ela devia dinheiro de droga para o cafetão que administrava aquilo tudo. A primeira vez que vi ela, ela estava drogada e ele estava arrastando ela para o clube, ela iria transar fora de si, aquilo era estupro. Foi a maior treta com o cara, cheguei a falar que ela era a minha mulher. No final de tudo eu acabei acertando a dívida dela e ofereci ajuda, mas acabou que tivemos alguns problemas. Ela acha que eu abri mão dela, talvez eu tenha feito isso.. mas ela precisava enfrentar aquilo sozinha, mesmo tendo apoio aquilo era uma luta só dela, eu não podia guerrear contra algo que não era o meu oponente.

- Você fez o que estava ao seu alcance, não podemos lutar a luta dos outros. - diz acariciando o meu rosto. - E mesmo assim você fez muito, as vezes você se cobra muito.. às vezes até mesmo por algo que não está ao seu alcance e que depende de outra pessoa e não de você.

Concordo ficando em silêncio, no fundo eu sei que isso é verdade. É um defeito que sempre me gera frustrações, sempre fui uma pessoa que me cobra muito, às vezes até mesmo com algo que não depende de mim.

(...)

Sinto os meus músculos relaxarem junto da fumaça que escapa da minha boca. Não estava conseguindo dormir e para não acordar Melissa resolvi levantar para queimar um, que no final se tornou dois. Mesmo ela tendo um sono pesado, estava vendo que hora ou outra ela iria acordar comigo revirando na cama.

Já basta o dia todo com a mente a mil, quando chega de madrugada, no silêncio da noite a mente começa a maltratar. É nesse momento que você surta ou procura alguma coisa para se distrair, no meu caso é a maconha que me deixa levinho. O mundo caindo e eu rindo pro vento.

Fico rígido com o toque inesperado, me acalmo quando vejo as unhas grandes que fazem um belo estrago na pele. Melissa deita a cabeça no meu ombro e beija o meu pescoço sem dificuldade, como estou sentado na rede ela me alcança.

- Perdeu o sono?

- Fiquei sem sono e desci para queimar um, fiquei o dia todo sem dar um tapinha. E você?

- A gente deixou a sacada aberta, mesmo fazendo calor de madrugada, acordei com o vento frio e quando vi você não estava na cama, achei que tinha acontecido alguma coisa.

- Pode admitir que ficou com saudade. - riu e dou a última tragada. - Está com fome?

- Eu não estava, mas como você perguntou eu acabei ficando.

Riu puxando ela para a cozinha. Como eu sou um bom cozinheiro peguei o que tinha pela frente para montar um lanche.

- Maconheiro é assim mesmo? Quando está chapado junta qualquer comida e come?

- Tsc, confia minha gostosa, as melhores laricas se formam quando você está chapado. - falo quebrando doritos no meu lanche. - Ó, se liga no empratamento. - finco dois doritos em cima do pão e quebro alguns jogando no prato, junto do ketchup que passei para dar um tcham.

- O que você faz quando está chapado? Aah nada não, só incorporo um masterchef.

- Aiai, os invejosos passam mal. Agora avalia o prato do pai. - ela morde, quando ela vai falar interrompo esticando o potinho com doritos triturado. - De acompanhamento uma farofinha, você passa o pão no ketchup e depois na farofa.

- Vou ter que admitir.. achei que ficaria pior, posso engasgar qualquer hora com essa farofa? Posso. Posso entalar a qualquer momento? Também posso. Mas o que importa é que o sabor ficou bom.

- Se liga que aqui é masterchef. Aprendeu né? Vou ensinar de novo não.

(...)

Depois de deixar o carro estacionado e andar duas quadras, finalmente chego na porta dos fundos da boate. A porta está destrancada, ativo a trava ao passar por ela. A boate continua a mesma, apenas com pequenas mudanças. Essas paredes carregam grandes histórias.

Subo para o escritório escutando vozes, ao me aproximar escuto com mais clareza Borges provocar Pérola.

- Sem putaria que eu tô entrando. - aviso ao abrir a porta.

- A mesma coisa que perguntar se tem ladrão e chegar entrando na casa, por pouco você não viu o instrumento sagrado. - Borges ri mandando um beijo para Pérola que estende o dedo do meio para ele. - Assustei quando fiquei sabendo que você estava aqui. Não vou negar, esperava pela sua volta.

- É claro que esperava, a única coisa que tu podia fazer já que estava com o celular enfiado no..

- Opa, opa.. no coração, agora sou um homem do bem, sem palavrões, please. - encaro ele que me manda uma piscadela.

Depois você bate em um trem desse e é acusado de maus tratos aos animais. Vou direto ao ponto antes que eu acabe sequelando um negócio desses.

- As poucas vezes que você veio pra cá, ele mandava quem era próximo de você fazer algum serviço longe, deixava o mais afastado possível para não ter contato com você. Por um bom tempo isso funcionou.

- Santino sabe manipular as pessoas. - Pérola completa. - Na cabeça da maioria, eles acham que você abandonou a família, nem todos sabem o real motivo de você ter ido para o Brasil para expandir os negócios.

- Ele usou isso para ganhar a confiança dos outros. Você sabe como funcionava, sempre tem dois lados, Santino apresentou o dele, você não estava aqui então ele saiu sendo favorecido.

Sento no sofá em meio de um suspiro. Como eu pude deixar as coisas saírem do controle dessa forma, enquanto eu comia as balas do Rio de Janeiro, aqui os mexicanos resolveram pagar de el chapo.

- Te conheço tempo suficiente e sei que se você estivesse por dentro do que está acontecendo, você teria interferido a muito tempo. Os membros não têm mais voz, tudo que é decidido é por Santino. Ele está querendo criar um campo de guerra. Até hoje mesmo eu não sabia do que tinha acontecido com paizão, fui saber minutos antes de você chegar, isso porque Pérola me contou. Nesse momento eu não tenho sombras de dúvidas que quem está por trás disso é nada menos e nada mais que Santino, você sabe da ganância dele.

- Eu vou estrangular esse desgraçado.

- Opa, opa. Você não vai fazer nada agora, lembra do que você sempre diz, agir de cabeça quente não leva a nada, você não vai pensar direito. Porra, cadê aquele Relíquia? Você mesmo me ensinou como agir perante uma situação difícil. Não era você mesmo que dizia que temos que nos unir com o nosso adversário? Se ele quer jogar, vamos jogar. - Pérola fala de frente pra mim.

- Tô contigo irmão. - Borges aponta. - Somos a minoria, isso porque ninguém sabe da real situação, você sempre teve o respeito de todos. Bora botar pra foder, você é cria do maior da facção, só você consegue resolver isso. Paizão é duro de queda e.. Porra, é isso caralho! Filho da puta desgraçado! Essa era a intenção! Paizão foi feito de isca, aqui fora ele é forte, mas dentro do presídio ele fica vulnerável, Santino pode ter usado isso para te atrair, ele sabe da ligação que vocês dois tem. Nisso ele derruba dois coelhos numa cajadada.

- Mesmo não querendo, vou ter que concordar com Borges. Ele sabe que para os planos dele ir pra frente você tem que estar fora, você está acima dele, o intuito dele é comandar tudo.

Não estou decepcionado, no fundo eu sabia que ele tramava alguma coisa. Quando o assunto envolve dinheiro e poder não tem lealdade maior que supere isso.

A aproximação que tínhamos antigamente girava em torno de curtição, sabemos que amigos de curtição são passageiros. Eu era novo, via ele de outra forma, quando você está vivenciando o momento é maneiro, mas você enxerga tudo mesmo é quando você está de fora.

Consideração é algo recíproco, se a outra pessoa não tem, por que você vai ter?

Existe dois tipos de pessoa, aquela que vai ver o outro praticando o mal é deixa pra lá, deixa que o universo cobre. E tem aquela que se a pessoa te fode, ela fode três vezes mais. Sinceramente, a primeira opção nunca fez o meu tipo.

- Vou acionar os das antigas. - falo ao levantar.

- Fiquei esperando por esse momento a anos. Finalmente posso dizer que os Los diabos estão de volta! Guardei quando você foi embora. - Borges me estende a jaqueta da facção. - Bem vindo de volta filho da puta.

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