Caio
Estava concentrado lendo o rótulo da embalagem de gel com glitter, pra saber se não daria irritação na pele, quando Will tira minha atenção colocando três potes de cores de diferentes na cestinha de compras. Estávamos comprando umas coisas pra ir à festa mais tarde, Lou estava com o Cassius em uma ONG, eles têm passado os últimos cinco dias direto lá. Passei a mão coçando a nuca e adicionando o pote de gel glitter dourado a cestinha, Will estava com o semblante meio abatido, os treinos estavam realmente bem puxados, e a pessoa anônima que resolveu perturbar nossa vida não descansava. A última mensagem quem recebeu fui eu " Qualquer um que pense, sabe que esses pingentes tem algo haver muito além de amizade, não acha?", eu quase enlouqueci e por precaução decidimos guardar as correntinhas.
Era meio sem sentido alguém estar fazendo isso, sei que eu e Will temos nossas desavenças pelo colégio, Will mais do que eu, mas não faz sentido nenhum, é meio impossível alguém ter descoberto da gente, só os amigos mais próximos sabem disso, então não faz sentido.
Segui pela grande fila de prateleiras até achar o que eu queria, nessa festa eu iria de Deus Horus, que pelo o que pesquisei ele tinha cabeça de Falcão, e os olhos representavam a lua e o sol. Uma coisa bem louca sobre esse Deus egípcio, é que ele feriu um olho lutando com outro Deus, e esse olho que ele feriu representava a lua, e os egípcios acreditavam que o olho ferido dele era responsável pelas fases da lua. Eu não tinha uma cabeça de Falcão óbvio, mas achei uma roupa no estilo egípcia bem bonita, e depois foi só conseguir os acessórios e achei super rápido também. Lou que iria nos ajudar com tudo isso, Will iria a essa festa como Ares, caótico que nem ele e bom eu acho que ele ficaria bem excitante nas roupas de tonalidade vermelha que ele procurava.
No final eu só esperava pela hora que a gente ia chegar em casa e ter uma fodinha temática, pensar nisso me faz rir e Will me olha como se tivesse sacado meus pensamentos impuros ali mesmo.
Lou já tinha comprado a roupa dele, ele iria de Poseidon, Ícaro iria de Apolo, já esperava por isso, na verdade não esperava e devo admitir que me senti meio deslocado por ser o único a ter escolhido o Deus egípcio. Mas por mim tudo bem, eu sei que é só para a gente se divertir e tentar esquecer de tudo que anda acontecendo.
— Já peguei tudo que vou precisar, até achei uma espada de madeira bem realista — Will disse puxando a espada da bainha e fazendo movimentos como se fosse um gladiador.
— Já achei os meus também, Lou vai ter uma trabalheira pra ajudar a gente — Will disse caminhando entre as prateleiras, para a parte do caixa onde pagaríamos tudo.
— Falar nisso, ele ainda não ligou nem nada será se está tudo bem? — Ele indaga me fitando.
— Tá sim, não se preocupa, já tem cinco dias que ele vai pra aquela ONG, e pelas fotos aposto que dá bastante trabalho ajudar cuidar daqueles cachorros — Digo me lembrando de uma foto que Lou mostrou pra mim, eram vários cachorros de todos os tamanhos e cores, e ele parecia estar gostando muito de estar ali, isso era uma das coisas que eu amava no Louis, ele se importava com tudo e todos, e é raro você ver alguém assim, bom por simplesmente ser, e eu apreciava muito isso no meu namorado.
— Ah, falar nisso, notou que Cassius tá melhorando com o trabalho em equipe? Treino passado ele jogou super bem, espero que isso continue até o nosso jogo — Assenti.
— Bom, não sei você, mas eu vejo pequenas mudanças acontecerem nele — Will deu de ombros como se não se importasse, mas a verdade era que Cassius tinha evoluído bastante em várias questões, talvez passar um tempo com o Louis realmente estivesse fazendo ele enxergar as coisas de uma forma diferente.
— Que seja — Disse pegando as sacolas e se encaminhando para o estacionamento do local.
Will guardou as compras no banco de trás e logo estávamos rodando de novo, acabamos parando em uma praça para tomar sorvete, Will ficou feito uma grávida, e só sossegou quando estávamos sentados no banco de madeira tomando os sorvetes e vendo o tempo passar, estava um pouco frio, mas não iria negar sorvete para ele.
— Essa história de ter alguém que saiba da gente, ela não te preocupa não? — Will disse fitando os balanços que estavam um pouco mais a nossa frente.
— Sim, me tira algumas horas de sono, porque eu sinto medo que façam algo pro Lou, e pelo jeito das mensagens não é uma brincadeira ou algo assim, é algo bem assustador e eu tenho medo de como isso possa terminar — Disse desabafando o que eu sentia.
— Entendo, eu tô meio pra baixo sabe, a carinha que vocês dois fizeram quando decidimos guardar as correntinhas por um tempo, cortou meu coração, e eu só queria que isso que está acontecendo não fosse real — Vi uma lágrima escorrer dos olhos do Will rapidamente ele limpa, ele estava bem frustrado com toda essa situação.
— Não chora tá? A gente precisa ser forte, algo me diz que isso não é nem o começo, a gente precisa ser forte pelo que a gente decidiu viver os três juntos, a gente tendo um ao outro, temos tudo — Suspirei observando o céu de fim de tarde começar tomar a cor laranjada misturado com um rosa.
— Vamos voltar pra casa, daqui a pouco o Cassius passa lá e deixa o Lou — me levantei acompanhando ele para o carro novamente, ficamos apenas em silêncio ouvindo a melodia da música Oceans ecoar dentro do automóvel.
Assim que chegamos em frente nossa casa, desci do carro com as sacolas e esperei Will para abrir a porta, deixei as sacolas no balcão da cozinha e abri a geladeira servido um pouco de iogurte pra mim. Guardei algumas louças que estavam por ali, e segui para o quintal e esguichei água nas plantinhas do Lou.
— O que fazemos por agora? — Will perguntou se sentando a mesa e me observando, estava escorado no balcão tomando meu iogurte.
— Acho que vou fazer umas panquecas pra gente comer, já que não vamos estar em casa no jantar, pelo menos algo devemos comer — Digo pondo o copo na pia e pegando os materiais necessários para fazer as panquecas.
— E eu vou ficar aqui sentado vendo você cozinhar — Ele diz se apoiando na mesa e me encarando.
— Ué, poderia me ajudar não acha? — Will dá um risinho e nega com a cabeça.
— É que você fica fofo cozinhando, prefiro só olhar mesmo.
Apenas balancei a cabeça e comecei fazer a massa, bati tudo no liquidificador e depois coloquei manteiga na frigideira, despejei a massa, virei com a espátula e assim continuei até ter uma pequena pilha de panquecas bem assimétrica, mas muitas das maiores obras de arte são assimétricas, então encararia dessa forma.
— A louça é sua — Apontei pro Will de forma intimidadora enquanto pegava a calda de chocolate na geladeira.
— Tudo bem — Ele ri levantando as mãos em rendição.
Deixei e cima da mesa e ouvi a campainha tocando, fui atender e Lou estava lá com o Cassius, dei espaço pra eles passarem, claro que ainda não havia me acostumado com Cassius, mas Lou se sentia tão à vontade, que me tranquilizava de certa forma.
— Tem panqueca? — Lou perguntou deixando a mochila perto da mesinha de centro e segue o cheiro basicamente me ignorando.
— Tem acabei de fazer — Digo indo atrás dele.
— Oi — Cassius disse esticando sua mão pra dar um toque na minha, apenas retribui e seguimos para cozinha, onde Will estava lavando a louça.
Will meio que travou quando viu Cassius, mas logo relaxou e terminou o que tava fazendo se sentando a mesa e servindo um pouco pra ele.
— Vocês vão de que hoje na festa? — Cassius puxa assunto, deve tá mais deslocado que a gente.
— Eu vou de Horus, Lou vai de Poseidon, Will de Ares, e Ícaro de Apolo, e você? — Perguntei meio apreensivo, seria muito provável que ele fosse de Ares também.
— Hades, achei uma roupa bem legal pra ir — Ele disse dando de ombros e comendo.
— Muito bom — Cassius diz de boca cheia e a gente acaba rindo.
Lou estava muito distraído com a câmera do celular, ele estava vendo as fotos que havia tirado e provavelmente acabaria revelando muitas delas. Após uns minutos ele estendeu o celular pra eu ver as fotos, eram realmente engraçadas e divertidas, e isso me fez pensar que talvez pudéssemos adotar um cachorro.
— Essa é a Piper — Disse se referindo a um pitbull da foto que estava com Cassius — Bem ela é um pouco arisca, a tratadora disse que ela foi resgatada perto da estrada, a moça disse que foi um atropelamento, ela perdeu a pata da frente por causa disso, mas ela tá se adaptando muito bem, e ama brincar com o Cassius.
Era engraçado que Lou falava tão calmo que era impossível qualquer clima de tensão se espalhar, percebi que a blusa dele tava meio suja de terra, e em algumas partes era até possível ver patinhas carimbadas com lama, acabei sorrindo só de pensar de como seria agradável ver ele no meio dos cachorros todo animado.
Quando terminamos de comer, Will me ajudou com a louça e Lou ficou conversando com Cassius, algo relacionado a ONG, olhei o relógio no celular e já estava marcando 18:30, a festa iria começar as 21:00 em ponto, mas como era coisa dos amigos do Lou, provavelmente teríamos de ir mais cedo pra lá. Enxuguei e guardei as louças, e Lou foi levar o Cassius na porta.
Sequei minhas mãos e fiquei sentado no sofá da sala, quando Lou voltou puxei ele pro meu colo o abraçando.
— Eca, você tá todo sujinho e cheirando a cão molhado, parece o cheiro do Will — Disse rindo da cara que ele fez e da que o Will também fez.
— Dia de banho hoje? — Will indagou rindo.
— Sim, muito cachorro pra dar banho, mas é bem divertido — Disse se aconchegando mais.
— Que bom que se divertiu, nós compramos nossas roupas, mais tarde a gente se arruma — Ele balança a cabeça assentindo e fica quieto.
— Os meninos mandaram uma mensagem pedindo pra chegar mais cedo, algo com relação a receber as pessoas.
— Tudo bem, a gente vai sim, a só mais uma coisa, atenção redobrada, algo me diz que nosso stalker provavelmente vai estar por lá — Will disse suspirando e levando a mão no cabelo.
— Não se preocupa, não vai acontecer nada tudo bem? — Disse fazendo cafuné nele.
Louis
Meu dia no colégio foi legal, todos bem animados por causa da festa, eu iria de Poseidon, já tinha comprado minha roupa, no dia que Ícaro comprou eu fui junto para resolver a minha logo. Hoje assim que sai da escola, fui para a ONG com o Cassius, tínhamos ido lá e de primeira ele ficou meio receoso da ideia, mas logo aceitou, ele estava gostando bastante de passar um tempo lá. Especialmente porque uma cadela bem arisca cedeu aos chamados dele, foi engraçado como ele teve jeito pra ela, e agora ela já está até comendo na mão.
Assim que chegamos em frente ao local da ONG entramos, inicialmente era uma casa, mas na parte de trás era um terreno bem grande, tinha um berçário onde tinham os filhotes, eu amei ficar cuidando no berçário, tinha uma mini clínica também, e as casinhas, na verdade não chegavam a ser casinhas, eram espaços com uma grade de madeira onde os cachorros ficavam dentro.
Era dividido em pavilhões, e em cada pavilhão morava certa de 20 cães, ao todo era 200 cães, tinha bastante gente voluntária e hoje iria aparecer mais, já que pelo que ficamos sabendo, no dia de banho muitas pessoas aparecem para ajudar.
— Boa tarde Louis, Cassius — Anne diz de forma simpática e retribuo o sorriso que ela me deu.
— Boa tarde Anne — Anne era a recepcionista, ela era muito divertida e estava se formando em medicina veterinária, então além de receber as pessoas ela atuava internamente na ONG quando outra pessoa fica cuidando da recepção.
Ela nos encaminhou para sala onde deixamos nossas bolsas, e logo Cristian apareceu para nos levar para os pavilhões, eu estava super animado, o som dos latidos me deixava bem ansioso. Eu havia feito amizade com um cachorro chamado biscoito, ele era um vira-lata bem fofo, tinha a pelagem branca e uma pintinha marrom na barriga.
— Biscoito sentiu sua falta Lou, ele deu de chorar agora, e acho que deve ser isso — Cris disse rindo.
— E a Piper? Como ela tá? — Cassius perguntou acanhado e eu quis rir, ficava feliz de ver ele focado em algo e conseguindo sair daquele casulo de problemas criados pelo pai.
O Pai do Cassius era doido, não tinha palavra melhor pra definir alguém tão ruim e perverso com o próprio filho, nas vezes que conversamos ele me contava um pouco sobre o convívio, mas nunca ia além, parecia ter uma barreira mental gigante e falar sobre qualquer coisa que fosse em relação ao velho Simon desgastava ele de forma absurda.
— Bem melhor que antes, continua desconfiada, mas já é um grande progresso. — Cris diz e Cassius dá um riso de lado, Piper literalmente amava ele, e era carinhosa com ele o que não era com nenhum dos cuidadores.
Continuamos andando e Cris abriu a casinha do biscoito e ele já saiu de lá na minha direção, e começou me lamber e latir era muito bom, iria conversar com os meninos pra adotar ele. Cassius nem esperou Cris e já foi soltando a Piper.
— Oi garotona, como você tá hein? — Ele dizia sentando no chão, enquanto ela lambia o rosto dele e pulava nos seus braços.
— Bom, agora deem banho neles e em seguida me procurem, vamos reunir todos vocês pra hora do banho, hoje todos tem que tomar banho, amanhã é o dia de visitas para eles poderem ser adotados. Assenti e chamei biscoito com a mão para perto de uma piscina rasa, um pote e tirei água jogando nele, passei o shampoo e mexi bastante.
— Sabe, acho que vou adotar você, você é fofo e lá em casa tem espaço pra você correr bastante, tem ervas daninhas pra você arrancar — Disse tampando as orelhas dele e enxaguando o shampoo.
Biscoito ficou o banho todo parado, assim que terminei enxuguei ele, e levei ele para a parte de trás dos pavilhões pra ele correr e secar um pouco, Cassius era bem atencioso com Piper, ainda mais que ela não podia se mover normalmente, mas ele sempre tava perto dela dando um jeitinho.
Nossa tarde se resumiu nisso, antes de irmos embora passamos para nos despedir dos nossos bebês, e em seguida saímos.
— Hoje foi legal, tô um pouco cansado, mas valeu a pena — Assenti.
— Sim, foi bem divertido, tô pensando em adotar o biscoito — Disse arrumando minha mochila nas costas.
— Quer carona pra casa? — Ele indaga me estendendo um capacete.
— Tudo bem, vamos — Coloquei e subi na garupa da moto dele, e logo estávamos indo embora.
Comemos panqueca e mostrei as fotos pros meninos, mas logo depois de sair do colo do Caio subi para tomar banho, assim que terminei desci novamente vestindo uma roupa folgada.
— Acho melhor a gente começar se arrumar, tem coisas que vão demorar pra fazer — Will disse me puxando pra deitar a cabeça na perna dele.
— Pode ser, a gente sobe e toma banho, e o Lou começa preparar as coisas pra gente se arrumar — Caio disse eu assenti e me levantei indo buscar umas coisas que emprestei da Andreia.
Peguei uma sacola que provavelmente estavam as roupas dele e subi para o quarto do Caio, deixei tudo por lá só esperando eles saírem do banho. Caio entrou no quarto minutos depois e se sentou na cama me observando.
— Eu comprei um gel glitter dourado, tipo como vou ser Horus, e ele é egípcio achei que seria legal algo que tivesse brilho — Concordo com a cabeça e vou tirando as coisas que eles compraram da sacola.
— Tudo bem, você veste sua roupa, e daí eu começo fazer a parte da maquiagem tá bom?
Caio assentiu e pegou uma saia no estilo egípcio e vestiu, depois uma daquelas coisas que os faraós usavam no pescoço, depois adicionou os acessórios e já estava super bonito daquele jeito.
— O que Horus representa? — Perguntei obviamente sabendo a resposta, passei horas e mais horas na biblioteca da minha antiga casa lendo livros de mitologia com Sebastian, a dele era a nórdica, ninguém sabia de mitologia nórdica mais do que ele.
— Sol e a lua pelo que percebi — Corei instantaneamente ao me lembrar do meu sonho onde ele e o Will representavam a mesma coisa, e por esse motivo eu desenhei no meu quarto, mas isso eles nem sonhavam.
— Tudo bem, se senta, vou fazer aquele delineado que eles usavam nos olhos antigamente.
Caio se sentou e peguei o delineador eu contornei os olhos dele, e em apenas um fiz a marca do olho de Horus. Em seguida Caio se levantou e peguei um pouco do gel glitter e espalhei no peitoral dele, era muito bom ter as mãos ali, passei um pouco no abdômen, pescoço, costas e um pouco no cabelo.
— Pronto, pode se olhar no espelho, você tá maravilhoso, disse sorrindo — Caio olhou e voltou me dando um beijinho.
— Obrigado amor, você deveria ir de Eros, consigo ver tua ereção daqui — Caio diz rindo em seguida e sinto meu rosto esquentar.
— Não tenho culpa de ter um namorado assim... tão gostoso — Ele ri e nega com a cabeça.
— Só toma cuidado pra não encostar por aí — Caio assentiu e permaneceu sentado na beirada da cama.
Assim que Will entrou fizemos o mesmo processo, Will ia ser Ares, assim que ele terminou de se vestir, peguei o gel glitter vermelho e preto, passei bem pouquinho perto dos olhos e em algumas partes do corpo. Will não foi muito difícil de aprontar, e ele também conseguiu uma espada, ambos estavam muito lindos.
— Pronto, agora sua vez lorde Poseidon — Apenas ri e peguei minha roupa, não era nada demais, eu ia usar uma espécie de armadura prateada, só que era de plástico e pra deixar bonito eu passaria o gel glitter azul e prata nela.
Assim que terminei tudo, coloquei um cordão de conchinha e uma coroa de louros dourada, Will me ajudou passando um pouco do gel glitter azul embaixo dos meus olhos.
— Hum, tá bom? — Disse perguntando para os meninos.
— Tá muito bom, lindo demais — Caio disse e eu sorri.
— Sim, você tá maravilhoso, Ícaro acabou de mandar uma mensagem dizendo que já tá chegando.
Descemos para esperar o Ícaro e quando ele chegou pude perceber que ele usava tudo dourado, foi engraçado ele olhou pro caio com a sobrancelha arqueada e eu apenas ri, Apolo era o deu sol, mas Horus também representava o sol.
Quando chegamos Ícaro estacionou o carro e descemos indo em direção a porta, que tinha uma faixa escrita "bem vindos ao olimpo", Ícaro riu dizendo que foi uma boa.
— Cadê a Andreia? — Caio perguntou fitando Ícaro.
— Ela vem depois com as meninas, dizendo ela que vem de medusa.
— Medusa é deusa? — Will perguntou confuso.
— Não, uma mulher que foi amaldiçoada por Atena, mas acho que muitos não vão vir necessariamente de deuses, capaz de ter muitos deuses repetidos — Disse e ele assentiu.
Tocamos a campainha e Pandora apareceu, estava moto bonita e nos recebeu com um sorriso enorme.
— Acho que temos dois Apolos? — Pandora disse me fitando.
— Não, é Horus e Apolo — Disse sorrindo.
Entramos e estava tudo cheio de luzes, a sala estava bem espaçosa apenas com três sofás formando uma espécie de círculo estranho. Andamos até a mesa e tinha vários copos de vidro, com uma plaquinha escrita "ambrósia", ambrósia era o alimento dos deuses, era usado pra repor energias e curar algum ferimento, mas se algum humano acabasse comendo ele morreria.
Os meninos pegaram os copinhos e foram virando, apenas fiquei vendo, peguei um saco de babata frita e fiquei sentado no sofá, foi engraçado quando após uns minutos eles começaram dançar, e a sala ficar um pouco cheia. Cassius apareceu de repente do meu lado e me deu um susto.
— Está gostando da festa Poseidon? — Acabei rindo dessa parte.
— Sim e você Hades? — Ele finge indiferença e nojo e acho incrível a atuação.
— Preferia estar torturando almas, mas estou aqui, ao lado do irmão do olimpo — Rimos igual dois idiotas.
— Você não dança não? — Ele indaga brincando com o anel de aço em formato de caveira, era lindo e tenho quase certeza que ele já tinha isso.
— Danço, mas o dia foi cansativo, só quero relaxar um pouco e descansar nesse sofá estranho — Cassius ri e dá um gole na bebida azul em seu copo e me passa em seguida, dou um gole fazendo careta, era horrível.
— Forte demais isso — Ele ri assentindo.
— Eles já beberam né? — Disse se referindo aos meninos.
— Um pouco, mas estão bem — Ele concordou.
— Vou andar um pouco tá? Depois volto, aproveita a festa — Assenti.
Continuei sentado no sofá, os outros estavam ocupados, e logo a casa estava cheia, e o som bem alto tocando rude boy, levantei e fui dançar também, era meio engraçado ter que dançar como se não tivéssemos nada, Will ria, Caio também ria e eu acabava rindo juntamente com eles.
Uma garota da minha sala começou dançar próximo a mim, e logo dançávamos de forma bem sincronizada e até meio obscena, o que fazia eu ter vontade de rir.
— Ah não, eu sou gay, desculpa — Digo quando ela tenta me beijar e acaba rindo pedindo desculpas em seguida.
Senti sede e decidir ir até a cozinha para tomar algo que não fosse alcoólico, peguei uma latinha de refrigerante e abri, comecei tomar e observar que muita gente já estava bêbada pelos cantos, dançando ou simplesmente jogado pelo chão.
— Ei, você é o Louis né? Tem um tal de Júlio te procurando, ele está no segundo andar — Assenti e me direcionei para as escadas.
Subi e logo estava no corredor que levava para os quartos, e não tinha ninguém, quando estava prestes a descer ouvi alguém chamar meu nome.
— Oi, você é o Louis? — Um cara que aparentava ser um pouco mais velho que os meninos pergunta.
— Sim, e quem é você? — Digo e ele ri como se não acreditasse na resposta o que me deixa em alerta.
— Não me reconhece? — Ele perguntou se aproximando.
— Não, eu deveria? — Ele sorriu me fitando.
— Gosto desse joguinho de fingir não conhecer, é mais excitante, tipo preza e predador como você me disse que gostava, mas tudo bem, vou entrar no seu jogo.
— Que? — Franzi o cenho.
— Você sabe, esquenta mais as coisas — Disse puxando minha cintura e colando meu corpo no dele, podia sentir o membro duro contra minha perna e me deu uma ânsia enorme e um desespero também.
— ME SOLTA! — Empurrei ele com tanta força que sentia que meus dedos iam quebrar.
— Qual é carinha, eu sei que você quer quanto eu — Ele começou apertar meu corpo na parede e eu já estava desesperado.
— Escuta aqui seu escroto, eu passei cinco dias desejando te foder, pra chegar agora e você bancar o desentendido, e você querendo ou não isso vai acontecer, vou te levar para aquele banheiro e vou fazer o que quiser com você, e você não vai fazer nada, não tem ninguém pra te ajudar, você vai ser meu até quando eu quiser, e quando eu cansar de te usar, vou te largar lá como o lixo que você é e pediu para ser tratado — Fiquei sem saber o que fazer, não conseguia raciocinar direito.
— Cara, solta meu namorado vai, solta logo antes que eu te encha de porrada — Ouvi a voz do Ícaro e nunca fiquei tão feliz na vida, sinto um nó na garganta.
— Ele e não é seu namorado, se fosse não estaria em um aplicativo de relacionamento.
Ele tenta me beijar, mas Ícaro é mais rápido e soca o rosto dele fazendo ele cair no chão, saio de perto sentindo meu estômago dar um nó e o ar me faltar, me sentia sufocando como se o ar estivesse faltando no cômodo.
— Como assim? — Me aproximei do Ícaro. O garoto pegou o celular abrindo um perfil que tinha uma foto minha, meu sangue gelou, alguém estava usando minha foto em uma rede social de relacionamento gay.
— Cara, isso é fake, e se você mandou foto do seu pau ou qualquer coisa que seja, a pessoa deve tá rindo da sua cara, mas não foi o Lou — Ele ficou sério e me encarou fechando a mão e Ícaro interviu novamente.
— Eu tô falando sério, as coisas não vão ficar boas pra você se encostar em um fio de cabelo dele, acho melhor você ir embora antes que eu chame a polícia — Ele recuou incerto, mas recuou.
Assim que ele saiu, soltei o ar que nem sabia está prendendo, Ícaro me abraçou e perguntou se estava tudo bem, assenti e logo encontramos os meninos. Acabamos saindo da festa, me despedi dos meus amigos e voltamos para o carro.
— Você tem que respirar fundo e soltar, vai te fazer bem — Ouço Will dizer enquanto eu continuava com a sensação de falta de ar.
— Você poderia ter chamado a gente Ícaro, ele estaria aos pedaços agora — Will disse irritado.
— Primeiro as mensagens e agora isso — Caio suspirou passando a mão no cabelo e andando de um lado para o outro inquieto.
— Vou deixar vocês na casa de vocês, daí vou pra minha, tô sem animo pra festa depois disso, essa situação tá me deixando agoniado também, se eu não tivesse subido pra ir no banheiro, sabe-se lá o que aquele otário teria feito com o Louis. Ficamos em silêncio até chegarmos na frente de casa.
— Você não quer passar a noite aqui, a gente toma banho e depois pede umas pizzas e faz maratona de filme — Will disse convidando Ícaro.
— Pode ser — Ele concordou.
— Olha a mensagem que chegou aqui "o jogo está apenas começando" — Caio disse lendo a mensagem.
— Quando eu descobrir quem é o filho da puta por trás disso, espero que ele tenha vida extra.
William
A festa que era pra servir de distração virou um fiasco em minutos, ainda estava puto só de pensar que alguém está tentando fazer mal contra os meninos, eu tô pouco me fudendo que façam algo pra mim, mas não quero que mexa com eles. Assim que todos estavam tomados banho, emprestei uma roupa pro Ícaro trocar, enquanto Caio e Lou estavam esperando a pizza.
— Cara obrigado, se não fosse você, não sei nem o que poderia ter acontecido — Disse sentando na cama e suspirando.
— Relaxa, assim como pra vocês, o Louis é muito importante pra mim, e jamais deixaria nada acontecer contra ele — Assenti, parte disso se dava pelo fato do Ícaro ter sentido algo pelo Louis muito antes de tudo se desenrolar entre a gente, eu não tinha certeza do que era, mas de certa forma ficava feliz que o carinho de amizade tinha permanecido.
— Valeu mesmo, vai parecer estranha a pergunta, mas você sentiu algo pra valer pôr ele? — Ele riu.
— Sim, antes mesmo de tudo desenrolar, eu me sentia atraído por ele assim que bati os olhos, e depois foi se tornando maior conforme a gente se conhecia, mas aí veio você, veio o Caio, não vou dizer que não gostaria de estar no lugar de vocês, adoraria, mas entendo que as coisas tem que ser da forma que foram feitas para ser, fico feliz de fazer parte da vida dele ainda, e como disse vou cuidar da melhor forma possível enquanto amigo — Ele diz e assenti sem saber mais o que dizer.
— Vamos logo descer — Disse assim que ouvi o barulho da buzina do entregador.
Abrimos as pizzas, servimos o refrigerante e ficamos assistindo vingadores na TV, mas com várias conversas paralelas, eu tô preferindo ficar em casa do que sair por aí, gostaria de procurar a polícia, mas teria que explicar tudo e não me sinto confortável pra isso, chega em uma delegacia e soltar a pérola "Olá tem um doido da cabeça perseguindo eu e meus namorados", nunca dariam ouvidos para isso.
— O que acham de a gente jogar baralho ou algo do tipo? — Perguntei já indo buscar as cartas.
— Uno é melhor — Ícaro e Lou concordaram com Caio.
Separei o uno e começamos jogar, Lou estava do meu lado direito e Ícaro ao esquerdo e Caio entre Lou e Ícaro, com o passar do jogo eu estava com duas cartas. Joguei o +4 pro Ícaro, ele jogou um +4 também, assim como Caio, estava torcendo pro Lou não ter nenhuma carta e então ele põe +2, e tive que pegar um bolo de cartas faltando uma pra ganhar, xinguei, mas logo todos estavam rindo da minha cara. Depois de horas jogando, decidimos ir dormir, nós três dormimos juntos como todos os dias e Ícaro ia dormir no quarto do Lou.
Após estarmos deitados, abracei Lou pela cintura e logo sentir Caio me abraçar por trás, dando um beijo na minha nuca, demos boa noite um ao outro e logo os dois estavam dormindo bem tranquilamente.
As vezes fico pensando se as coisas não são precoces demais entre a gente, por sermos novos ainda, sem maturidade pra um relacionamento tão complexo que foge a linha de raciocínio, mas acho que não devemos pensar tanto, apenas viver o hoje e o que a gente tem enquanto podemos fazer isso de forma "livre", porque um dia pode tudo ruir sem que a gente tenha o mínimo de controle sobre o que vai acontecer.