Burning Red - Fanfic Percabeth

By JuArchasely

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Convidada para a maior competição gastronômica internacional do mundo, a Chef Chase tem que enfrentar outros... More

Prólogo
Supercut of Us
(Never) Let Me Go
Breaking Down And Coming Undone
Hard Feelings Of Love
Secrets I Have Held In My Heart
What's That Like?
The Feel Of A Perfect Wave
I Wanna Make You Smile
Sacred New Beginnings
I'll Love You Either Way
But You're Quicksand
Beautiful Mistakes
The One Who Burned Us Down
Maybe I Asked For Too Much
Put My Name At The Top Of Your List
The Memories Bring Back You
Christmases When You Were Mine
Don't Read The Last Page
Epílogo

Loving Him Was Red

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By JuArchasely


Àquela altura do campeonato, Annabeth já deveria saber melhor do que se meter em uma aposta com os Jackson. Mas ela era competitiva, e nunca aprenderia a não se meter em uma aposta. Em sua defesa, ela realmente achava que ia vencer. Estava levemente embriagada no show de um DJ famoso que Percy, uns amigos dele e a irmã a tinham arrastado, e a menina apostou quem conseguia beber mais shots. A Chase não imaginava que podia caber tanto álcool em uma pessoa tão pequena.

Nem pra Percy estar por perto pra avisar, né?

A loira já estava tonta enquanto Estelle ainda tinha ânimo para virar várias doses, então a italiana se rendeu, porque vencer aquela aposta boba não valia os pontos que ela precisaria levar quando metesse a cara no chão por não conseguir andar. Bem, pelo menos até ela ouvir o que teria que fazer. Porque a pirralha - todos a chamavam assim - não era apenas pé-de-cana, mas muito criativa.

Era por isso que agora, Percy - que tirou o palitinho menor e acabou ficando sóbrio e de motorista no rolê - estava tendo que ouvir aquelas palavras saídas da boca da irmã enquanto Annabeth sentava no banco da frente com o rosto tão pálido que ele achava que ela iria vomitar.

- Você precisa nos levar pra um estúdio de tatuagem - ela parecia uma pipoquinha saltitando no banco com aquele sorriso doido, e o Jackson olhou da namorada para a caçula e então pediu socorro para Piper, que nunca dizia não para qualquer convite que viesse com a palavra festa ou viagem, então estava, obviamente, ali com eles.

- Anna perdeu uma aposta e agora tem que fazer uma tatuagem sexy. Só leva a gente pro melhor estúdio que você conhecer - ah, era por isso que ela estava com uma expressão tão mortificada. O californiano não resistiu a gargalhar da pobre menina.

- É pra já, senhoritas - ainda ria quando pisou no acelerador e arrancou com o carro.

Annabeth Chase era a definição de favorita da vovó. Ela teve poucos amigos conforme cresceu, e a maioria, tirando Piper e seu irmão, eram vizinhos ou colegas muito próximos que conheciam a Nonna e morriam de medo dela - não que os dois citados não tivessem medo de Dona Marietta, também - então ela foi convidada a poucas festas na adolescência e mais velha, durante a faculdade, enquanto seu gêmeo aproveitava a farra, ela estava muito centrada pra fazer aquelas confusões.

Quase nunca bebia longe da família - as festas e shows que Estelle arranjava eram uma completa novidade - e nunca tinha feito uma tatuagem na vida. Se contasse à avó que tinha feito uma tatuagem sexy...

Ok, a avó não ia reclamar muito. Mas Dona Atena poderia cair dura no chão com o choque. Pelo amor de Deus.

Pelo menos a noite tinha começado divertida. O DJ era um rapaz muito bonito que fazia versões muito legais de várias das músicas favoritas da Chase. Além disso, a namorada dele estava no palco, cantando várias composições deles juntos, e Percy a tinha tirado para dançar ao som da versão remixada de "I Love You, Baby". Só até ali já tinha valido muito a pena. Ela bem que podia desmaiar antes de ter que fazer aquela tatuagem, não é?

- Chegamos - sentiu o coração acelerar ao anúncio do Jackson, mas pelo menos o estúdio Urban Tattoo tinha mais cara de clínica médica do que de estúdio de fundo de quintal, então ela se sentia mais tranquila.

Percy parecia ser da casa, e cumprimentou a dona, uma garota cheia de desenhos pela pele com cabelos pretos curtos que se chamava Thalia. Eles começaram a falar sobre a ideia de uma tattoo que pensou para ele, e Annabeth quase achou que poderia fugir, mas o namorado tinha um sorriso bem mais largo do que o do gato de Cheshire em exibição na parede junto com outras artes de traço bonito ao apontar para ela.

- Me dá um catálogo das suas tatuagens sexys, Thalia. Vamos escolher uma pra minha garota, ali - o olhar da tatuadora era um misto de diversão e pena ao balançar a cabeça e tirar um catálogo da estante.

- Boa sorte. Eu recomendo as mais simples, elas ficam mais bonitas - deu uma piscadinha para a loira como se tivesse uma daquelas, também, e a dica fosse pessoal. Ótimo, agora Annabeth estava com o rosto mais vermelho do que o de um camarão. Perfeito.

- Nananinanão - Estelle interrompeu Percy antes que ele pudesse entregar a pasta para a Chase - Nós vamos escolher - Annabeth poderia chorar por aqueles sorrisos diabólicos no rosto de suas amigas. Estava bêbada, mas não o bastante para fazer algo extremamente vergonhoso. Seu olhar era um claro pedido de socorro ao namorado, que resolveu se intrometer nas avaliações que as meninas estavam fazendo das tatuagens.

Descartaram desenhos de coração por serem muito simples, e as mensagens muito sujas por serem explícitas demais. Queriam tentar convencer a loira a tatuar uma frase ou "por que não?" na virilha, mas só a ideia de fazer algo naquela parte do corpo a fazia suar. Não era muito púdica, e Percy sabia disso, mas imaginou que a ideia de fazer uma tatuagem na virilha logo na primeira vez... aquilo doeria.

Ela também estava horrorizada com as ideias, dizendo que nunca mais teria coragem de tirar a roupa na frente de ninguém, e como o Jackson era o namorado que seria prejudicado com aquela história, puxou a pasta da mão das meninas sob protestos, e até que achou uma legal.

- Que tal essa? - era um desenho de fogo, uma chama simples, nada muito escandaloso. Estelle não gostou nem um pouco disso.

- Isso não é sexy. A regra é que tem que ser sexy - mas Piper interviu, com um sorriso conspiratório.

- E se for essa... na bunda - os três viraram ao mesmo tempo para ela, que suspirou, derrotada, e antes que pudesse sequer pensar em um argumento para protestar, já estava na sala de tatuagem com os três, sem calça e com a bunda pra cima enquanto as amigas decidiam que lugar exatamente aquele foguinho ia ficar.

A loira lançou um olhar mortal ao californiano pelo espelho, e uma delas perguntou se ele não queria ajudar a escolher, também.

- Não, eu estou muito bem, aqui - deu uma piscadinha para a namorada pelo espelho, e ela revirou os olhos, sabendo que ele tinha uma visão bem privilegiada dela de onde estava. Homens.

Com a bagunça que as duas meninas faziam e a concentração para não gritar de dor com agulhas furando a pele dela repetidamente - céus, como ela ia sentar com aquilo doendo daquele jeito? - a Chase nem reparou no som da segunda agulha, mesmo que Piper e Estelle tenham rido que nem hienas desesperadas ao ver o que o Jackson estava aprontando.

Mais de meia hora de muita tortura depois, a deixaram levantar e olhar no espelho. Tinha ficado bem bonitinho, até. Pelo menos ela não teria vergonha de sair na praia com aquilo. Mas tirar uma foto pra postar, do jeito que as amigas queriam??? Sem chance. Não, não, não. Ela não ia passar por aquela humilhação.

Percebeu que Percy não tinha vindo ao seu socorro e quando virou, ele estava levantando de uma cadeira perto de outro tatuador que ela nem tinha percebido - mas não deixou de notar as violetas lindas tatuadas em um grande espaço de seu braço - com um sorriso enorme no rosto ao se aproximar dela no espelho e fazê-la virar de lado para a superfície refletora e de frente para ele.

- Achou que eu ia deixar a diversão toda pra você, amor? - ela não entendeu a frase, pelo menos, não até ele encaixar a mão na bunda dela, e a loira perceber: ele tinha uma tatuagem idêntica à dela, mas na mão, na maior falange do dedo do meio - Agora estamos combinando.

Ela soltou uma risada histérica, e o beijou. Era por esse tipo de coisa que ela o namorava. Aquela energia caótica... o amava mais do que podia mensurar. Não estando sozinha, até aceitou tirar foto pro catálogo de casal da tal da Thalia, e em algum lugar de Los Angeles agora tinha uma foto dela só de calcinha no colo do namorado sem camisa com duas tatuagens de chamas combinando. Ela tentava não pensar muito em onde a mão dele estava naquela bendita foto. Bem... Pelo menos eles eram um casal bonito.

"Let's get tattoos together, something to remember. If it's way too soon, fuck it, whatever. Then at least we'll have tattoos together."


***


Sempre que perguntavam a Percy a sua cor preferida, ele dizia azul. Desde novinho, era azul. Talvez porque trazia tranquilidade, calma, paz... era a cor do céu e do mar e de tudo o que diminuía a velocidade da mente acelerada e hiperativa dele. E sempre que pensava em alguém para passar a vida, imaginava que a pessoa seria como o azul... calmaria, seu contraste. Como ele estava errado.

Porque a pessoa com quem tinha cogitado passar o resto da vida.. não tinha nada de azul.

Não, não... Annabeth não era a tranquilidade da cor suave. Desde que colocou os olhos nela, sabia que se Annabeth fosse uma cor, seria vermelho. Voraz, violenta, orgulhosa, uma chama de vida que queimava e brilhava e abastecia a todos com sua energia. Annabeth não era a calmaria, era a tempestade, o incêndio que se espalhava, a gêmea da chama interior que não o acalmava, mas o inflamava ainda mais. Toda a competitividade, o orgulho, os irrefreáveis desejos interiores, eram refletidos e ampliados e eles se entendiam tão bem que podiam se amar e ainda se odiar lindamente sempre que ultrapassavam o primeiro lugar do pódio que não tinha medalha de bronze. Só os dois.

O amor deles tinha sido vermelho, Percy sabia disso. Um vermelho intenso como o fogo, que queimou e queimou e queimou... até não queimar mais. Deixou marcas e impressões e um monte de cinzas pra trás, e o pior... o pior era saber que não era culpa dela, ou culpa dele, que aquilo se apagou. Não foi amor de menos, não foi intensidade demais... foi alguém que arrancou o oxigênio e os sufocou e matou as chamas gêmeas, deixando só o azul. De repente... a calmaria parecia calma demais.

Agora, ele sabia que estava se queimando de novo. Tão tentadoramente brincando com o fogo, porque não podia evitar. Era apaixonado pela força, calor e volatilidade. Aquele elemento roubado das mãos dos deuses por Prometeu que trazia a vida e também poderia extingui-la. Sua maldita e bendita tentação como um canto de sereia. Sabia que estava se queimando ao dormir com Annabeth naquela noite, mas só se preocupou em avaliar os estragos quando acordou na manhã seguinte, depois de incendiarem por horas.

Uma parte dele realmente esperava que ela não estivesse ali. Talvez ela entrasse em pânico, ou decidisse que estava cometendo um erro... A outra parte, mais esperançosa, se lembrou da sinceridade nos olhos dela ao dizer que ainda o amava. As duas concordavam, no entanto, que o amor não seria o bastante se nada mudasse. Pelo menos foi a segunda que venceu aquela discussão, comemorando internamente ao encontrar a loira ainda esparramada sobre ele, mergulhada no sono.

Sem querer acordá-la, sem querer quebrar o encanto, o Jackson apenas a observou dormir. Era o único momento em que ela era azul, poderia dizer. O único momento em que todas as guardas dela caíam, e a garota ressonava pacificamente. Ela não se movia muito durante o sono leve o bastante para se adaptar aos movimentos dele no decorrer da noite. Sua testa não estava franzida, seu rosto redondo estava sereno, pernas entrelaçadas às dele, a pele nua protegida pelo lençol, e algo se moveu no coração dele ao perceber que uma mão dela repousava em cima da tatuagem, no lado esquerdo do seu peito.

Não havia palavras para descrever o quanto ele estava chocado de tê-la em seus braços de novo quando tudo o que tinha desejado todos aqueles anos... bem, ele usava a pulseira por um motivo. Achava que mesmo se só tivessem mais aquela última noite e aquela manhã... já teria muito mais do que tinha pedido ao universo, e ficaria satisfeito. Porque ele a amava.

Amava a confiança nos olhos dela, amava o sorriso com a covinha, amava as manchinhas e sardas espalhadas por sua pele, amava como ela corava de constrangimento quando se arrumava demais. Amava os olhos de tempestade, os lábios rosados, os braços largos e macios, as mãos talentosas, a gordura acumulada na cintura e nos quadris. Amava aquelas duas tatuagens que o faziam sorrir por serem tão atrevidas. Ele a amava. E estava tudo bem se não pudesse tê-la, tinha se acostumado à ideia por quatro anos.

Mas que ele queria... ah, ele queria. Queria mais do que uma noite e um pedaço curto de tempo com a mulher que detinha seu coração com refém. Engraçado como ela tinha tentado devolvê-lo junto com o anel, mas o Jackson tinha passado tanto tempo procurando aquela parte dele como uma chave perdida dentro de casa... e acabou encontrando no sorriso da mulher de cabelos loiros e olhar atrevido. Tinha estado com ela esse tempo todo.

Não precisou esperar muito para que ela acordasse, e pelo menos a Chase não se surpreendeu - não muito - por acordar na cama dele. Os olhos tempestuosos piscaram para ele algumas vezes enquanto ela se espreguiçava, empurrando o peito dele levemente como uma gatinha antes de voltar a se soltar contra seu braço.

- Oi - seu tom era hesitante, e o cozinheiro espelhou o mínimo sorriso dela.

- Oi - deixou um beijo em sua testa e, bocejando, a loira finalmente se afastou, ficando de lado para olhá-lo - Agora nós podemos conversar, ou vai querer que eu só te foda, de novo? - os olhos da italiana brilharam em diversão.

- Proposta tentadora, Jackson - soltou uma risadinha - Mas... não vai me oferecer um café da manhã antes? - fechou os olhos, sonolenta e manhosa, quando ele acariciou seu rosto.

- Ah. Posso fazer algo pra você comer, se quiser, eu só... - ela riu baixinho, capturando a mão dele e deixando um beijo na tatuagem de chama.

- Estou só brincando - seu sorriso se alargou e a loira sentou, puxando o lençol para cobrir os seios. Ele não comentou como estavam expostos há cinco segundos, assim como o resto da metade superior dela. Imaginou que queria colocar um pouco de proteção, alguma barreira, para a conversa que teriam. A expressão séria dizia que não queria fugir, como também não sabia como começar.

- Então... - o encarou com interesse - Quer dizer que hoje eu posso te amar o quanto eu quiser? - nem mesmo Annabeth lembrava das palavras que tinha dito, como aquele desgraçado lembrava de cada detalhe? Ela precisou revirar os olhos, cruzando as pernas debaixo de si para se sentar adequadamente. Sentia a cabeça pesando um pouco, mas acreditava que todo o cuidado que o Jackson teve antes da terceira rodada dos dois, para garantir que eles comessem e se hidratassem, tinha funcionado bem contra a ressaca - Era verdade? O que você disse?

A insegurança na voz dele a partiu, e todo o sono restante drenou para fora de sua mente enquanto segurava a mão dele.

- É. É verdade. Eu ainda te amo, Percy. Eu... - soltou uma risada anasalada - Eu nunca deixei de amar. E agora estou apaixonada por você de novo. Acho que é meio difícil resistir ao seu charme - encolheu os ombros, mas não conseguiu se manter naquela fachada - E você ainda me ama.

Não era uma pergunta, e ele ainda não tinha dito aquilo em voz alta, mas...

- Amo - nada além de sinceridade, ali - Eu ainda te amo, Annabeth. Acho que nunca deixei de amar - e era um bobo por ter se convencido disso por um tempo. Estava se iludindo. Completamente.

- O amor não foi suficiente pra nós dois, Percy - e ali estava. A dolorosa e sincera realidade que tirou a leveza do que fizeram dos olhos da loira. Ela estava feliz, estava... extasiada. A muito tempo não era querida daquela forma, desejada daquele jeito, amada de maneira sequer semelhante. A primeira vez foi pura luxúria, a segunda foi pra matar a saudade, e a terceira... havia tanto carinho em cada toque... foi a que mais demorou, porque Percy a tinha desobedecido. Ele tinha desistido de transar com ela por transar. Ele a amou com intensidade e sem palavras, se demorando e desfrutando cada pedacinho, e deixou um sorriso no rosto dela mesmo quando caiu no sono. Ela se sentia como Ícaro, voando demais perto do Sol. E agora estava estatelada com a cara no chão.

- Não, não foi o bastante... - doeu nele a forma como ela murchou igual a um suflê perturbado. Annabeth era sempre tão durona para os outros, e tinha sido difícil achar a brecha naquela casca, entrar e ver a vulnerabilidade que ela mostrava a poucos. Ainda doía quando ela derrubava as defesas porque não tinha confiança ou força de vontade o bastante para mantê-las - Mas, sabe... fico feliz que tenha me contado. É menos solitário do que amar sozinho - ela até que tentou esboçar um sorriso.

- Eu não sei o que fazer com isso, na verdade - encolheu os ombros, parecendo desconfortável - Com esses sentimentos. Eu meio que não pretendia fazer nada a respeito antes da competição acabar. Ou talvez... nunca. Provavelmente nunca faria ou falaria nada.

- Por quê? - um longo suspiro saiu dela, e então parou de desviar o olhar para se fixar naquele verde oceano que merecia mais do que sua fuga.

- Porque não acho justo - as sobrancelhas negras se franziram em confusão - Fui eu que terminei com você, fui eu que fui embora. Não era justo chegar com meus sentimentos, depois de quatro anos, e jogar com seu colo com um "Então, eu ainda te amo, será que tem um lugar pra mim na sua vida?"

Annabeth nunca tinha admitido aquilo em voz alta, o motivo para simplesmente ignorar o quanto o californiano ainda a afetava. O medo de tudo se repetir ainda estava ali, com certeza, mas ultimamente tinha ocupado um lugar pequeno, cada vez menor conforme o tempo ia passando desde aquela bendita matéria. Tinha sido apenas uma em mais de três anos completos, e nem era como as outras que tinham destruído sua vida aos poucos. Cada vez mais só parecia uma besteira pequena. Mas ainda não tinha tomado qualquer atitude até a noite passada. E se não tivesse bebido tanto, talvez não tomasse nunca.

- Eu sabia que você ainda se culpava por isso - ele balançou a cabeça, pressionando os lábios - O que não é justo é não me dar a chance de saber. Eu também te amei, e eu ofereci minha amizade... realmente prefiro saber seus sentimentos do que viver na dúvida. Eu ia falar com você... não sei quando, não sei se antes da final, mas... é mais justo saber. Sempre. Eu prefiro saber.

- Ok - ela soprou, assentindo. Conversas sentimentais não eram o lugar de conforto dela, mas ela tinha melhorado nisso nos últimos quatro anos. Tinha ido a uma terapeuta por alguns meses e odiou ter alguém estranho ouvindo sobre sua vida, mas antes de abandonar o tratamento, a mulher disse que ela precisava conversar sobre aquelas coisas com alguém, que as pessoas que ela amava e confiava precisavam saber o que ela sentia. E a Chase se esforçou de verdade por aquilo.

- E... sim, talvez - uma sobrancelha loira se ergueu com a resposta inesperada - Talvez... exista um lugar pra você na minha vida, eu... não sei com certeza, é tudo muito... - gesticulou, sem conseguir expressar, mas ela entendeu - Mas talvez exista, sim. E você..? Se... se realmente existe essa segunda chance pra nós dois... existe lugar pra mim, na sua vida?

Estava feliz que a resposta dela não foi imediata ou desesperada. Não... ela tomou uns segundos, absorvendo a pergunta, então desviando o olhar antes de suspirar.

- Tem. Tem sim - aquilo era muito mais certeza do que ele, mas achava que era justo. Afinal, foi ela quem foi embora.

- Sabe que eu já te perdoei, não sabe? - Annabeth soltou um xingamento baixinho, porque ele parecia ler exatamente o que estava se passando na mente dela no momento, e o cozinheiro riu um pouco - É, eu sei que você está se culpando aí dentro, e eu não sei há quanto tempo. Não sei se você guardou isso, ou se só trouxe de volta agora, que estamos nos falando, mas... Eu te perdoei - inclinou a cabeça um pouco, mordendo o interior da bochecha - Na realidade... eu nunca te culpei de verdade. Foi você quem ficou com a decisão mais difícil na mão, e por muito tempo eu me culpei, sabe? Eu devia ter visto, antes. Deveria ter feito alguma coisa.

- Não, Percy - ela se aproximou, colocando a mão no braço dele - Você não tinha o que consertar. Eu deveria ter saído antes. Ou não deveria ter sido tola de ir trabalhar no restaurante com você. Nós dois sabíamos onde aquilo daria.

- Exato. Nós dois - o polegar dele desceu devagar pela lateral do rosto da Chase - E sabíamos que você seria a mais afetada. Eu não fiz nada. Não saí do meu lugar, eu fiquei quieto, tentando não piorar tudo, mas... Eu deveria ter te apoiado mais, eu deveria ter batido o pé, ou deveria ter feito de tudo pra você sair daquela cozinha. Eu insisti pra você sair do Sun's mas não prestei atenção o bastante quando você realmente precisava ir para outro lugar. Quando você estava sofrendo, eu estava ocupado demais cuidando da minha carreira para perceber o que você precisava. Me desculpa.

A loira apenas soltou um ruído surpreso. Eram perspectivas diferentes do mesmo final, mas... fazia sentido. Ele não estava errado. E ela, sabendo que tinha sido tola e ingênua... também não estava. Um desastre não era feito apenas por uma mão.

- Me desculpa - ela sussurrou - Por não ter me aberto mais. Por ter ido embora. Eu poderia ter feito tantas coisas, mas adiei, e no final, não restava outra escolha.

- Eu já te perdoei por isso. Já disse - beijou a testa dela, e a loira quis derreter contra ele; tinha sentido tanta falta disso - E valeu a pena. Olha onde você está agora, sabidinha - ele se afastou para sorrir para ela, para que visse seus olhos brilhando - Você faz sucesso, é chef renomada e premiada, e ainda maior do que eu era, quando terminamos - o moreno emoldurou o rosto dela com as mãos - Eu tenho tanto orgulho de você, da mulher que você é. Saiba disso. Mesmo se nós só tivermos essa última noite, mesmo se tudo o que conseguirmos seja uma recaída e uma segunda despedida. Valeu a pena. Tudo o que vivi com você, e tudo o que passamos. Valeu a pena.

Por um instante, parecia que as nuvens dos olhos dela vazariam, brilhando nas bordas, mas a loira o puxou para um beijo. Não conseguia, não podia ficar longe. Simplesmente amava o gosto daquelas declarações ainda na ponta da língua dele, adocicando e preenchendo seu coração. Interromperam o beijo, mas não se afastaram. Ele a abraçava como queria fazer desde que ela admitiu que o amava, e ela inspirava o cheiro dele, deixando que acalmasse o aperto em seu peito.

- Eu não quero só uma noite e uma despedida com você - sussurrou contra a pele dele.

- Eu também, não - subia e descia a mão pelas costas macias e expostas. Parecia um sonho poder tocá-la daquele jeito.

- Mas... ainda é tão estranho, sabe? - se afastou para que Percy visse seu rosto - Parece um sonho. Não parece...

- Não parece possível, depois de quatro anos acostumando a não me ter, estar aqui conversando sobre uma possível segunda chance pra nós dois - ela concordou, enfática - É, eu me sinto assim, também.

- E o que a gente faz? - o Jackson a olhou com uma expressão igualmente perdida, e então encolheu um ombro.

- A gente tenta? - riu consigo mesmo, porque, olha como a tentativa de amizade tinha acabado. Se bem que... só era um fracasso se olhasse por um ponto de vista. Poderia ser um sucesso, por outro - De qualquer forma... temos até o final de dezembro pra descobrir, e... temos mais tempo. Temos todo o tempo que precisarmos, mesmo quando eu for embora. Não vou sumir da sua vida de novo, Chase - aquelas palavras eram tão doces quanto dissolver um cubo de açúcar na boca, ou um daqueles biscoitinhos de menta que ela era apaixonada e se espalhavam em uma explosão por sua língua; era tudo o que Annabeth precisava ouvir, com os olhos verdes fixos nos seus - O amor não foi suficiente, antes, mas... talvez nós sejamos o suficiente, agora.

Ela queria acreditar naquilo, queria muito. E podia ver que ele também. Os dois estavam cansados demais de estarem separados, de se sentirem estranhos porque um pedaço do passado nunca os abandonou, de fato. Sempre que olhava para o mar, a Chase se lembrava de que nunca tinha pedido de volta o coração para o Jackson. Achava que era o bastante, terminar e ir embora. Esquecer foi muito mais difícil. Se apaixonar de novo foi impossível. Mas... se tudo desse errado... pelo menos seguiriam seus caminhos inteiros, sem amarras, sabendo que tinham feito o possível pra tentar de novo.

- Eu adoro como eu venho cheia de incertezas e você me dá a bandeja com a solução - riu, encostando mais nele, apoiando a cabeça no ombro tatuado - Tudo bem.

- Tudo bem? - ele perguntou, divertido.

- Vamos tentar - ela assentiu, abraçando-o e erguendo o olhar - Talvez a gente seja o bastante pra fazer dar certo, dessa vez. O que eu sei... é que eu te amo. Estou disposta a tentar, mesmo que talvez me machuque. Acho que tá na hora de desafiar a vida para uma revanche nesse assunto - o sorriso do californiano se alargou, e riu enquanto a beijava.

- Você não existe, pimentinha - ela encolheu um ombro, franzindo o nariz, e ele cutucou aquela covinha - Eu te amo. E sou um péssimo perdedor. A vida que lute - a risada dela era melodiosa, espontânea - Tem certeza de que ainda quer o café da manhã?

Ela diria que sim apenas para convencê-lo a cozinhar alguma coisa divina, mas percebeu como a mão dele tinha desviado o lençol e agora subia por sua coxa.

- Não... acho que pode esperar - soltou um gritinho e gargalhou quando ele a empurrou de costas para o colchão, tomando seus lábios e arrancando a barreira de tecido entre eles. Era muito, muito bom, que tivessem os sábados de folga.


***


Dava pra ver a felicidade no rosto da Chase pela forma como ela cantarolava uma música em italiano ao subir as escadas para o apartamento com um sorriso bobo no rosto. Tinha passado a manhã inteira com o Jackson, conversando, beijando, definitivamente não conversando... quando saiu de lá, achou que ia perder a confiança no acordo que fizeram, mas ele a beijou na porta do apartamento até ela perder o fôlego e fez questão de lembrá-la que ela não ia se livrar dele tão fácil dali pra frente. Annabeth não reclamou. Seu coração pareceu querer explodir no peito durante o caminho de volta.

- E sono strani amori che fanno crescere e sorridere fra le lacrime - murmurou a letra da música que sua mãe costumava ouvir ao fechar a porta do apartamento, e então escutou alguém lá dentro, ficando tensa.

- Annabeth? É você? - a loira reconheceu a voz de Piper, franzindo a testa, e então reparou que era ela o que ela achava ser um monte de cobertas não lavadas no sofá, com um pote de sorvete no colo - Onde você esteve?

- Você passou a noite aqui? - foi só então que notou as olheiras, os olhos inchados de quem claramente tinha chorado, e se preocupou pela amiga, sentando aos pés dela no sofá - O que aconteceu, Pipes? Está tudo bem?

- Não - sua resposta foi desolada - Mas não quero falar sobre isso... - a italiana suspirou para os olhos marejados, sabendo que a McLean ia começar a chorar se explicasse, então não insistiu. Estava muito, muito curiosa, e bem inclinada a sair dali e gritar um pouco com o Jason porque Piper era como ela, não chorava por qualquer besteira. Se estava daquele jeito, era porque algo muito errado tinha acontecido.

Uma olhada a mais para o rosto miserável da amiga e para a forma como ela abraçava o pote, comia o sorvete e fungava como se não tivesse vontade alguma de viver fez a loira decidir que a amiga precisava mais de apoio do que ela de respostas.

- Olha.. eu sei que você nem sempre me conta tudo, e tá tudo bem - a amizade delas não era baseada em contar tudo, embora a loira estivesse em uma política de se abrir sobre o Jackson, porque precisava de alguém para pôr controle nas coisas dentro de sua cabeça - Mas saiba que eu estou aqui. Sempre. Pro que precisar. Você pode me contar qualquer coisa, e eu não vou julgar.

Tentou, telepaticamente, fazer a amiga entender que ela sabia que ela estava saindo com o Jason e que era sobre isso que estava falando, mas achava que suas habilidades telepáticas não estavam funcionando direito.

- Ok... obrigada - a garota fungou de novo - Onde você estava? Não dormiu aqui, que eu sei. Onde passou a noite? - se a Chase já não fosse responder, o rubor em suas bochechas a entregaria mais rápido do que pudesse inventar uma resposta.

- Eu passei a noite com o Percy - agora ela tinha certeza de que estava vermelha do pescoço aos fios de cabelo, sob o olhar interessado da amiga, que até se levantou da sua postura de cadáver do sofá.

- Ele está doente de novo, é? - seu sorriso denunciava o sarcasmo, e a loira revirou os olhos.

- Não, Piper. Eu dormi com ele. Dormi... dormi mesmo, dessa vez - sua voz foi abaixando conforme os olhos coloridos se arregalavam, e quase acabou surda com o AAAAAAAHHHH!!! que a McLean soltou - Bom saber que uma boa fofoca te trouxe de volta à vida!

- Me conta tudo! E com detalhes. Os mais sórdidos possíveis, por favor, Deus sabe como eu preciso de uma boa distração nesse momento - Annabeth soltou um longo suspiro, puxando o pote da mão da amiga, precisando do apoio do doce gelado se ia mesmo contar tudo com detalhes, e quando a McLean falava detalhes, eram detalhes mesmo - Na verdade, me explica algo que eu preciso saber antes de você me contar tudo. Vocês estão juntos, agora?

- É... - deu de ombros, mas não conseguiu ao sorriso e o guinchinho bem feminino que saiu de sua garganta - Estamos - não tinha orgulho pelas oitavas mais agudas de sua voz, mas não ligou pra isso enquanto ria, e a amiga pulava em cima dela de empolgação fazendo a mesma bagunça de felicidade - A gente combinou de não atrapalhar a competição, não se preocupe.

- Amiga, dane-se a competição - os olhos coloridos estavam muito sérios - Eu só não quero que você não saia machucada disso. Então... conta comigo pra qualquer coisa. E me explica tudo, tudo mesmo, do que você combinaram - seus lábios se alargaram ao final do discurso - Estou tão, mas tão feliz por vocês - ela nem mesmo se lembrava mais do porquê de estar chorando, de alegria - Que bom que você se deu essa segunda chance, Anna.

- É.. eu também acho - Annabeth não conseguia parar de sorrir - E que bom que hoje estou de folga, porque é uma história muito, muito longa.

- Tem mais sorvete no congelador - seus sorrisos eram cúmplices - E vinho na adega - agora a loira fez uma careta.

- Não, vinho não. Acho que não quero ver uma taça de vinho tão cedo - ela riu da própria piada sozinha diante da confusão da outra - Vai lá pegar, que eu te explico tudo.

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