Burning Red - Fanfic Percabeth

By JuArchasely

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Convidada para a maior competição gastronômica internacional do mundo, a Chef Chase tem que enfrentar outros... More

Prólogo
Supercut of Us
(Never) Let Me Go
Breaking Down And Coming Undone
Hard Feelings Of Love
Secrets I Have Held In My Heart
What's That Like?
The Feel Of A Perfect Wave
I Wanna Make You Smile
Sacred New Beginnings
But You're Quicksand
Beautiful Mistakes
Loving Him Was Red
The One Who Burned Us Down
Maybe I Asked For Too Much
Put My Name At The Top Of Your List
The Memories Bring Back You
Christmases When You Were Mine
Don't Read The Last Page
Epílogo

I'll Love You Either Way

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By JuArchasely


As mãos da Chase tremiam e ela mal conseguia manter a respiração tranquila enquanto chegava em casa. Achava que tinha conseguido manter aquelas crises de ansiedade sob controle há alguns meses, mas tinham voltado. E ela sabia o porquê.

As malditas palavras ainda queimavam a retina dela e seu diafragma contraía junto com sua garganta, tentando soluçar as lágrimas que ela se forçou a conter todo o caminho do trabalho para casa. Tinha voltado sozinha porque Percy estava de férias. Chegaria em casa e o encontraria, e... e aí ela faria o que precisava fazer.

Tinha chegado ao próprio limite. Tinha chegado fazia tempo, na verdade, mas acreditava que era capaz de deixar tudo para trás assim que atravessasse o oceano. Aquela matéria acabava com sua pequena e doce ilusão, no entanto.

A raiva e a frustração faziam ela querer gritar ou bater em alguém. Sentia ódio, ódio de ser tão julgada. Sentia algo amargo no peito sempre que lia matérias elogiando o noivo e se odiava por isso. Se odiava por odiar o que o sucesso dele estava significando para ela naquele momento. Mas era a tristeza com o que precisava fazer que a devastava. O ódio, a raiva e a frustração eram as causas do fim de seu pequeno mundo colorido, e a tristeza era tudo o que restaria para trás no cenário desolado.

O anel do noivado brilhou em sua mão direita quando foi apertar o botão do andar no elevador, e ela quase caiu sentada chorando ali mesmo. Cada passo até o apartamento era excruciante, e agradeceu que a maçaneta que abria por fora não estava trancada.

E dentro do apartamento... a primeira coisa que a atingiu foi o cheiro de seu prato favorito, então a música baixinha, a mesa com velas... Annabeth queria vomitar. Deus. Tudo nela doía, depois da crise de pânico que tivera no carro, a respiração vinha em cacos de vidro e ela queria vomitar com todo o amor e dedicação arrumados na sua frente... quando ela estava ali para terminar tudo.

Ela não estava alheia ao quanto ele sofreria. Não, o próprio coração dilacerava com a ideia, então nem imaginava o quanto doeria nele, que não podia ter voz naquela escolha. Era uma decisão dela, e por mais que tivesse tentado, por mais que tivesse lutado... era demais pra seguir em frente. A ideia de odiar Percy por algo que não era culpa dele, a ideia de nunca conseguir alcançar os próprios sonhos e viver presa e amargurada... não conseguia conviver com isso.

O emprego na Itália tinha sido a pequena luz no meio de tanta escuridão. E aí alguém pegou aquele pequeno vagalume e esmagou sob os pés apenas por diversão. Quando ela olhava para o futuro via algo tão horrível... não conseguia desejar isso para si mesma, ou para a pessoa que ela mais amava naquele mundo.

Seu coração partiria como pedaços de vidro, mas eles poderiam sobreviver. Não odiariam um ao outro. Não estragariam aquela coisa linda que tinham por causa dos sentimentos que apodreciam e tinham gosto de fel dentro dela. Precisava fazer isso.

Foi por esse motivo que apagou as velas, deixando apenas a iluminação mais fraca. Foi por isso que parou a música, e não tentou dar um sorriso sequer quando ele saiu da cozinha, confuso, porque ela disse que precisava conversar.

Não na mesa posta. Não, ela não era tão masoquista.

Sentaram no sofá. Onde costumavam passar horas vendo filmes e conversando e fazendo coisas mais divertidas. Não tinha se tocado de que aquele era o apartamento dela. Queria ser ela a ir embora. Talvez deixasse que ele ficasse com o imóvel para fazer o que quisesse. Ela mesma teria que se livrar do que compraram na Itália, porque não achava que seria capaz de viver lá. A ideia queimava forte em seu peito, de um jeito que parecia um ataque cardíaco.

- Amore... o que foi? - queria que ele não usasse aqueles apelidos. Queria que as coisas fossem mais fáceis. - O que aconteceu?

Não conseguiu encontrar as palavras. Não conseguia dizer o que precisava em voz alta, ainda, então abriu o celular já na matéria, e entregou ao noivo. Futuro ex-noivo.

Não precisava ler. Tinha decorado as palavras odiosas. Cada. Uma. Delas.

"Noiva do premiado Chef do LA Seas, Percy Jackson, é contratada em icônico restaurante na ilha de Capri, na Itália. Fontes confiáveis disseram que o cozinheiro também se mudará junto com a noiva, Annabeth Chase, abrindo mão da vaga de Chef de Cuisine, e que já tem contatos nos restaurantes de lá para um futuro cargo. Um colega próximo aos dois mencionou a 'possibilidade de ter negociado a vaga da Chef Chase em troca de ser contratado no mesmo lugar, o que não seria novidade alguma, considerando que eles já estavam juntos quando a Chef foi contratada no LA Seas, crescendo rápido demais pra ser normal'. A dona do Restaurante e o próprio Chef sempre negaram os rumores, mas sabemos como essas coisas funcionam, certo?"

Desciam como a mais forte das bebidas por sua garganta e deixavam um gosto amargo na boca. A opinião de um chef italiano logo em seguida, insinuando que tal tipo de comportamento vindo das mulheres na cozinha era altamente reprovável e um sinal de que elas não deveriam estar no meio só piorava tudo.

Ela não conseguiria fugir. Aquilo a perseguiria e destruiria todos os seus sonhos. Conseguia ver sua carreira indo por água abaixo por causa de idiotas e não poderia permitir. Ainda era uma cozinheira quase inexperiente procurando espaço. Percy era um chef premiado e famoso e por mais que ela o amasse... não podia viver às sombras dele.

O que mais doía era que não era culpa dele. Não... nem dela, era. Não era algo que poderiam pedir desculpas um ao outro e resolver. Não tinha uma solução fácil.

No caso, a única solução era cortar aquilo pela raiz. Não podia ser diminuída, contestada ou agredida. Precisava daquela força, precisava de sua armadura. Precisava sair das sombras de alguém que ela amava, mas que a faria murchar e então se odiaria por isso.

- Anna... - o tom dele era estrangulado - Eu sinto muito - Não. Era ela quem sentia. Sentia muito pelo que estava prestes a fazer - O que eu...

- Você não pode consertar isso, Perseus - sem amor, sem apelidos - Não dá. Nenhum de nós pode. Não mais.

Girou a pulseira em seu pulso, ligeiramente folgada. Tinha emagrecido tanto naqueles últimos meses. Suas calças precisavam ser amarradas e ela tivera que comprar camisas novas para que não ficasse parecendo uma mendiga no meio de clientes chiques. Seu rosto estava anguloso, magro, e ela tinha parado de se olhar no espelho. Tinha parado de cuidar dos cachos, ou de se importar se estava bonita. Tinha abandonado qualquer prazer quando parou de tomar gelatos aos fins de semana, e de provar as receitas que fazia. Nem cozinhar parecia tão bom, mais.

Só quando estava na cama com o noivo conseguia se sentir melhor, sentir prazer em algo, e até isso era frustrante porque durava pouco. E então ela lembrava o quão péssima companheira ela era por ter começado a torcer o nariz sempre que o nome dele era mencionado na frente do dela nas matérias.

Nada disso a incomodava antes. Regozijava com as conquistas dele tanto quanto as dela própria. Odiava a pessoa que tinha se tornado. Odiava quem poderia se tornar se aquilo não fosse resolvido.

- Eu não posso mais, Percy - finalmente disse as palavras.

- O que você... - não terminou a pergunta, já imaginando a resposta, já trazendo dor em seus olhos e mágoa em seu rosto.

- Estou terminando, amor - quase chorou ao dizer o apelido - Me desculpe... mas eu não consigo. Eu não quero te odiar, eu - engoliu um soluço, lembrando do que tinha ensaiado, lembrando do que precisava explicar - Você tem sua carreira estabelecida, e nós dois sabemos que eu ainda tenho que lutar pela minha. Ter um restaurante é o meu sonho, e todos os dias.. todos os dias, desde que souberam que estamos juntos, eu só ouço que estou onde estou por sua causa. Porque você me colocou lá.

A dor das lágrimas dele não era apenas pelo que estava acabando ali, mas por ver o que sangrava dentro dela.

- Você me ensinou a não me rebaixar. A não aceitar esse tipo de coisa. Você me ensinou que preciso mostrar a eles que estão errados, preciso mostrar que eles deveriam me valorizar, e me desculpa... - soluçou, sentindo uma lágrima descer enquanto segurava a mão dele - Eu preciso terminar com você pra fazer isso. Eu preciso ir sozinha pra Itália. Eu preciso que me vejam, porque se eu nunca conseguir... - parou, enxugando uma bochecha, incapaz de olhar nos olhos dele; não achava que nunca conseguiria olhar para o oceano outra vez sem sentir uma faca girando em seu coração. Ela se sentia péssima, a pior pessoa do mundo, por estar fazendo aquilo. Se sentia egoísta, mesquinha e ver a dor no rosto dele, lembrar que estava acabando a história deles...

Mas ela não conseguia parar e dizer que não queria ser reconhecida, que não se importava com o que os outros diziam. Porque ela queria. E se importava.

Se importava em ser respeitada por seus subordinados na cozinha, se importava com os sussurros, se importava com as sabotagens, se importava sempre que um Chef importante a ignorava porque ela era a namorada do Chef Jackson e não chegava aos pés de ninguém porque tinha precisado dele para subir na carreira. Se importava que aquilo não o atingisse, que ela fosse a única a levar pedradas, e só queria gritar pro mundo e perguntar "porquê?!".

Mas ela sabia o porquê. Porque ela era mulher. Porque ela era inferior a ele na hierarquia. Porque eles nunca dariam a ela as mesmas chances e oportunidades que seu noivo tinha, e isso a deixava tão magoada.

- Eu sei que isso parece tão egoísta... - contorceu o rosto como se ouvisse outras vozes julgando-a por aquilo, e o coração do Jackson se partiu - você pode me odiar o quanto quiser por romper o noivado por minha carreira, mas...

- Não - ele interrompeu, suavemente, falando pela primeira vez desde que ela tinha começado - Eu nunca poderia te odiar por se amar mais do que me ama. Não posso te odiar por ir atrás dos seus sonhos, pimentinha - ela queria derreter contra a mão que ele apoiou em seu rosto - Eu te amo por ser igual a mim. Eu te amo por ser ambiciosa, por fazer o que precisa fazer pra ter o que quer. E, aparentemente... eu estou no caminho.

Ele parecia desolado. Tinha controlado as lágrimas até o momento, mas agora... agora elas escorriam livres, transbordando do verde oceano.

Não é como se fosse uma novidade. Não é como se ela não fosse dormir chorando por ter sido humilhada publicamente no restaurante ou na pequena mídia influente no meio gastronômico graças a algum idiota. Não é como se ele não soubesse que ele a atrapalhava... Mas sempre acreditou que conseguiam lidar com aquilo, acreditava que conseguiriam deixar para trás. Tinha planos tão grandes de abrir um restaurante com ela, de fazer um negócio de família... os dois tinham planos juntos, mas ele via, ele entendia o motivo dela sentir que aquilo tudo não era possível, mais.

- Annabeth - insistiu, uma última vez, porque precisava tentar, porque não podia deixar o amor da sua vida ir embora tão simples sem tentar, mesmo que tivesse feito de tudo para consertar aquilo desde que começou, e sempre escutasse as mesmas palavras dela: "não tem nada que você possa consertar, amor", - Sabidinha... você tem certeza que não existe.. que não podemos... não há nenhuma forma... - ela negou. Tinha pensado naquilo. Por meses. Depois de ser infernizada na cozinha, ter crises de ansiedade só de pensar em ir trabalhar, de não conseguir uma vaga em uma cozinha porque sussurraram que ela só tinha subido por dormir com o chefe... sua última esperança era a Itália. E se ela permitisse... aquilo seria contaminado, também.

- Eu prefiro terminar agora, sabendo que fiz o certo, do que te odiar no futuro. Eu tenho medo - não conseguiu conter o choro, e as próximas palavras seriam compreendidas por puro milagre - Eu tenho medo de nunca conseguir, sabe? E de te odiar por isso. Eu não quero. Eu não quero estragar a gente. Já está tudo ruim, já está tudo desmoronando, eu não quero...

Percy a abraçou, e eles lamentaram juntos, suas lágrimas molhando a roupa um do outro. Eles foram felizes. E Annabeth odiava o mundo por arrancar aquilo dela, também. Arrancaram o seu mérito, cuspiram em seus esforços, pisaram na sua esperança. E agora... ela deixaria a pessoa que mais amava para trás... porque amava mais os sonhos que cultivara dentro de si mesma, desde a infância. Tinha sido absurdo ter que decidir entre os dois, mas percebeu que não seria feliz desistindo da cozinha. Seria infeliz por muito tempo sem Percy, mas sem a cozinha? Sem perseguir seus sonhos..? Não existia uma opção de felicidade ali.

- Eu... eu vou sair do apartamento - tentou resolver as questões mais práticas enquanto enxugava os olhos - Pode ficar com ele...

- Não - a negativa foi dura, dessa vez - Eu saio. Não é meu. Na verdade... eu acho que tá doendo muito ficar aqui, mesmo agora. Eu... eu acho que vou embora, ok? - emoldurou o rosto dela enquanto contorcia o próprio - Eu entendo o que você está fazendo, e uma parte de mim tem orgulho - mordeu a bochecha com tanta força que sentiu o gosto metálico do sangue na língua - Mas eu estou perdendo o amor da minha vida, então me desculpa se eu não voltar antes de você ir embora. Depois eu pego minhas coisas, mas... não posso me despedir de novo. Eu não consigo, Annabeth.

Ela assentiu. Ela entendia. E chorou em silêncio enquanto ele recolhia as coisas mais importantes em uma mochila. Chorou ruidosamente quando o peso do que estava fazendo a abateu, e Percy a encontrou encolhida no sofá, ofegante, soluçando. Estava doendo tanto nela quanto nele. Doía como se estivessem cortando seu coração em pedacinhos. E ele achava que a ficha não tinha caído ainda. Pelo menos não a ficha de que passaria o resto da vida sem ela e que todos os planos que tinham feito estavam morrendo antes de nascer naquele exato momento.

Queria ajoelhar e implorar. Queria que ela mudasse de ideia, mas o pavor nos olhos dela... E tudo o que tinha visto ela passar...

Não era justo. Com nenhum dos dois. Não era justo. Nada naquela merda era justa.

Ele queria gritar e xingar o mundo e destruir alguma coisa que fizesse muito barulho. Queria socar alguém. Definitivamente iria socar alguém até o fim da semana dentro da maldita cozinha que havia destruído sua garota, mas ainda não sabia disso. Sentia algo vermelho e destrutivo gritando dentro dele naquele momento. Mas nada disso era direcionado à garota que chorava desesperadamente no sofá por ter tido que tomar a decisão mais difícil do mundo. Por ela... ele faria as coisas mais fáceis.

Pegou a mão da loira, com um olhar que era um misto de carinho e pesar, e ela saiu do próprio casulo para abraçá-lo uma última vez. Eles se permitiram ficar o tempo que fosse preciso, porque não teriam mais daquilo. Tempo. O deles tinha acabado.

Percy a beijou como se fosse a última vez. Porque era. Tentou decorar o máximo que podia daqueles olhos de tempestade que pareciam implorar para que ele não fosse embora. Se as circunstâncias fossem outras... ele diria não. Não deixaria ela terminar com ele. Daria um jeito.

Mas Annabeth estava certa. O lugar dela naquele meio era mais instável do que gelo fino. E estava muito, muito perto, de quebrar e fazer ela morrer congelada. Ela precisava fazer o próprio nome, e Percy sabia que morreria de orgulho ao ver o nome dela estampado nas manchetes. Annabeth Chase.

Não "namorada de Percy Jackson", não "noiva de Chef famoso e premiado".

Ela seria a chef premiada. Ela receberia os louros, ela teria os holofotes que odiava mas sabia serem necessários. Um dia ele iria ao restaurante dela, e veria tudo o que ela alcançou.

Daria de tudo para ver aquilo de perto.

Mas era ele quem estava impedindo aquilo no momento.

Era um tolo em pensar que o preço não seria cobrado. Que as pessoas os deixariam em paz. Que, de uma hora para a outra, pensariam nela como merecedora do que tivera, e não uma escaladora de fama alheia, principalmente depois de já terem começado a julgá-la assim.

Se pudesse voltar no tempo... Annabeth não teria aceitado o emprego no LA Seas, não teria sido tão tola. Se pudesse voltar, teria saído do restaurante ao primeiro sinal de problemas. Mas agora não adiantava. Não tinha mais conserto.

A forma como Percy parecia saber daquilo, sem protestar, tornava tudo mais fácil e mais difícil ao mesmo tempo. E abrir aquela porta para que ele fosse embora da vida dela para nunca mais voltar...

- Eu vou sentir sua falta, cachinhos dourados - ele gastou todos os apelidos em todas as frases possíveis, apelidos que nem usava no dia a dia, apenas pra ela se lembrar de cada um - Eu te amo.

- Eu te amo - lembrava quando disse aquilo pela primeira vez, pouco depois de acordar maravilhada de estar nos braços dele, de pensar que queria estar com ele pra sempre. Aquele pra sempre tinha durado tão pouquinho... seria a última vez que Percy ouviria aquelas palavras vindo dela - Eu realmente te amo. Me desculpa.

Ele não lhe deu um último beijo. Ou um último apelido. Ou um último "eu te amo". Já tinha dado todos, matando a última esperança dela de que dissesse algo antes de virar de costas para ela.

Mas ele olhou pra trás. E a encontrou na porta com os olhos grandes e tristes, e acenou, seu sorriso quase aparecendo. A porta do elevador fechou, levando-o embora pelo resto dos anos. E a da Chase, também. Com a loira escorada nela enquanto chorava o resto da noite.

"If you tell me you're leaving, I'll make it easy, it'll be okay. If we can't stop the bleeding, we don't have to fix it, we don't have to stay."


***


Annabeth se espreguiçou ao sair do quarto, bocejando. Tinha tirado um cochilo daqueles depois de fazer a prova do segundo dia. Só teria que esperar Piper à noite, mesmo, para treinar as entrevistas do dia seguinte, e ficar sentada no mezanino enquanto assistia à prova era mais cansativo do que poder andar de um lado para o outro cozinhando. Resumindo, aquele dia tinha sido um tédio, e ela só queria a própria cama ao chegar no apartamento, mas teve que se contentar com a cama que tinha alugado para aqueles dias. Droga, já estava sentindo falta de casa.

Encontrou a melhor amiga na cozinha, falando no telefone com alguém, com a testa franzida em algo que poderia ser preocupação ou talvez aborrecimento. Piper não reparou que ela estava se aproximando, focada demais no que a pessoa estava falando.

- Poxa, Jay, que droga - as sobrancelhas loiras se ergueram em curiosidade. Jay? Estavam nesse nível de intimidade? E por que ela estava falando com o Jason? - Vamos ver o que dá pra fazer, talvez outros concordem com sua ideia. Diz pra ele se cuidar, tá?

- Ele quem? - a outra mulher saltou de susto, olhando para a amiga com os olhos arregalados e a mão no peito contra o coração acelerado.

- Jesus, mulher! Não consegue dar um aviso? - ela sabia a resposta pelo sorrisinho esperto da amiga, que tinha feito de propósito, querendo pegar Piper no pulo falando com o Grace - Era o Jason.

- Isso eu entendi. Mas o que o "Jay" queria? - usou o apelido de provocação - Quem precisa se cuidar?

- Percy - o jogo tinha virado, porque a expressão da loira mudou de diversão para preocupação no mesmo momento - Ele pegou um resfriado, ou algo assim. Já tava meio mal hoje de manhã, e aparentemente foi por isso que foi mal na prova - ah, fazia mais sentido, agora, porque os chefs tinham falado sobre o sabor forte da comida dele; provavelmente não estava sentindo o cheiro ou o sabor do tempero direito, e tinha exagerado, mas não foi o pior, pelo menos. Chef Di Angelo não tinha acertado usar os ingredientes propostos, um pouco exóticos para o que ele conhecia, e tinha sido o eliminado da semana - Aí ele quer ver se consegue autorização para ele não fazer a entrevista amanhã, talvez adiar. Vou ver se converso com alguns dos outros agentes, pra falar com a produção. Alguns podem não concordar, achando que ele está recebendo algum tipo de vantagem, mas não seria legal ele não aparecer nas entrevistas, também.

A loira assentiu, compreendendo, e deixou a amiga fazendo o trabalho dela enquanto pegava o arquivo do episódio no computador, deixando o episódio protegido por dezenas de senhas e protocolos tocar enquanto ia para a cozinha. Tinha que focar mais na prova ao ar livre, e pensar em algo que não fosse xingar Chef Ares por ser um grande babaca.

Quando a McLean voltou para a cozinha, depois de várias ligações, encontrou a loira no fogão, mexendo algo em uma panela funda, enquanto olhava a parte da segunda prova com o canto do olho, já não exigindo tanto de sua atenção.

- O que está fazendo? - encostou nela, curiosa, cheirando a mistura.

- Canja de galinha - Piper a encarou, confusa - Você não disse que Percy estava resfriado?


***


O Jackson não queria abrir a porta, quando tocaram a campainha. Sentia seu corpo muito mole e a cabeça pesada, uma dor irritante no espaço entre os olhos, fora o nariz escorrendo e os espirros. Tinha brincado sobre a Chase ser de açúcar, mas o frio depois daquela chuva que pegaram o derrubara de jeito. Só queria ficar no seu sofá-cama, definhando, sem pensar direito que deveria estar estudando para as entrevistas que Jason estava tentando adiar, não abrir a porta.

Só que ele sabia que não poderia ser o loiro tocando a campainha. Não, ele tinha a chave. Quem seria? Bem, ele podia só ignorar, se não fosse importante, a pessoa iria embora.

A campainha tocou de novo, então uma batida em ritmo familiar soou na porta. Mas foi a voz que veio detrás dela que o fez levantar, curioso.

- Percy? Você está acordado? - era Annabeth, ele sabia. Sabia instintivamente pela forma como ela sempre batia na porta, e era impossível não reconhecer sua voz. Demorou mais do que o normal pra chegar na porta, e estava tonto ao abrir, dando de cara com a loira segurando uma panela com um pano de prato amarrando a tampa. Ela trazia um sorriso meio inclinado no rosto, sem aquela pequena covinha que marcava os seus sorrisos verdadeiros.

- Chase?

- Eu. - o inclinar de lábios se alargou, e então a loira ergueu as sobrancelhas - Putz... você está péssimo, mesmo.

- Obrigado pela parte que me toca - mas a loira soltou uma risada pela forma como ele fungou o nariz no final - O que é isso?

- Canja. Receita da Nonna. Você sabe que é a melhor possível pra esse tipo de coisa - cara, ela precisava parar de fazer aquele tipo de coisa se queria deixar o coração dele intacto, mas nunca se recusava uma canja de galinha da Nonna Chase quando estava doente, aquele negócio era potente mesmo - Ai, tinha que ser você mesmo pra alugar um flat, não é, Perseus.

- E tinha que ser você a reclamar, não é? - foi atrás dela rindo da forma como seu rosto se contorcia em uma careta de aversão para os cômodos todos misturados; ela achava uma aberração da arquitetura, ter o quarto perto da cozinha, e dormir na sala - Obrigado por isso. Realmente não precisava.

- Eu não ia me perdoar se deixasse você sem dar uma passada aqui. Jason avisou que você estava mal, então... - encolheu os ombros, colocando a panela na pia; Percy foi atrás dos pratos - Nonna também desejou melhoras. Precisei perguntar pra ela alguns detalhes da receita, e... ela perguntou quem estava doente.

- O que eles acham de você estar comigo, na competição, na corrida..? - o cheiro daquilo era simplesmente divino, e ele suspirou quando ela colocou o prato na sua frente.

- Não sei. Ninguém me disse nada, mas Nonna... - ele esperou, vendo como ela ficou perturbada ao fechar a panela - Ela sempre me disse que uma hora nós íamos voltar - riu, balançando a mão como se dispensasse o pensamento - Disse que eu estava sendo boba em colocar um ponto final em tudo, em desistir. Porque ninguém me aguentaria como você.

- Errada, ela não está - ele tentou aliviar o clima, e achou que conseguiu quando ela riu - Sempre gostei de Dona Marietta, ela é muito engraçada. Na verdade... tem poucas pessoas da sua família que eu poderia dizer que não gosto - Annabeth refletiu a postura dele, apoiando os cotovelos na bancada e o queixo na mão.

- Eles gostam de você, também - tentou controlar o sorriso nostálgico - Na verdade, eles disseram que gostaram de te ver na foto, até perguntaram de você, e tudo... Quando falo que ninguém disse nada, é porque não deram opinião, o que eu achei muito estranho.

- Sua família não dar opinião em algo? Dona Atena tá ameaçando as bolas de alguém com uma faca de novo? - foi impossível não cair na gargalhada lembrando de um episódio que envolvia muita cerveja e uma galinha que ninguém sabia onde o primo de dona Atena tinha arranjado. Era cada história....

A risada morreu e os dois pareceram perceber como era estranho falar daquela época, de quando estavam juntos, como boas memórias. Era a primeira vez que faziam aquilo. Parecia ter sido um desperdício de tempo passar quatro anos remoendo algumas coisas quando podiam contar rindo tantas coisas que viveram juntos. Percy resolveu oferecer uma saída estratégica quando o silêncio ficou constrangedor demais:

- Não vai comer? - apontou para o bowl que tinha pegado para ela, ainda vazio.

- Não. Comi antes de sair de casa. Fique à vontade - o cozinheiro assentiu, levando uma colherada à boca, sem sentir tanto o cheiro ou o sabor, mas só percebeu que estava realmente com fome quando levou quatro colheradas de vez, sentindo o estômago reclamar; estava cansado demais mais cedo para ter coragem de fazer algo para comer, e depois do fracasso no programa, ele não confiava muito em si mesmo. O quentinho da sopa era extremamente acolhedor, também.

Foi só então que parou para observar a loira sentada não muito longe dele no balcão e ela parecia olhar para detalhes da casa como uma forma de fuga; parecia deslocada e levemente desconfortável, sem querer iniciar uma conversa enquanto ele estava comendo tão entretido.

- Olha... eu não sou a melhor das companhias nesse momento - sorriu meio lânguido, sua mente não estava muito desperta, e era como se visse as coisas por meio de uma névoa de cansaço, agora que a surpresa da visita tinha passado - Mas... tem um controle ali em cima da mesinha. Pode pegar e assistir um pouco de TV, não precisa ficar aqui me observando comer. Tem aqueles canais de documentários que você gosta - ou pelo menos ele achava que ela ainda gostava, e provavelmente pensou certo, pois a Chase agradeceu, pegou uma cadeira, o controle e no primeiro canal que colocou parecia passar um documentário sobre aquelas lendas de maldições nas pirâmides do Egito. Algumas coisas não mudavam mesmo.

O californiano voltou o mínimo de atenção que conseguia manter para a comida, agora levando as colheres à boca mais mecanicamente, sem reparar nos olhares que, de vez em quando, a italiana lançava de esguelha, observando-o, com a cabeça ativa demais para prestar atenção realmente ao programa.

Estava muito confusa consigo mesma. Não sabia porque tinha dito aquilo que a avó lhe falara; ela nem admitia aquelas coisas aos pais, porque pareceria que ela concordava com aquilo em algum ponto, mas ela não podia. Não podia acreditar que eles ainda teriam uma chance. Não podia pensar que era temporário. Parte daquela decisão envolvia se desprender e seguir em frente, porque também não seria justo que ele esperasse até que ela se sentisse pronta para conviver com o tanto que a fama dele no meio influenciaria na carreira dela. Annabeth tomou uma decisão, e para ser justa com Percy, precisava se manter a ela, porque se abandonasse tudo para ceder à saudade, a falsas esperanças, sem ter cumprido o próprio sonho... aqueles quatro anos, todo aquele sofrimento, teria sido em vão.

Ou pelo menos era assim que ela pensava.

Mas não era ruim poder conversar com ele de novo e trocar tantas experiências que queria ter contado bem no momento que viveu. Percy sempre foi o primeiro a saber, depois que ganharam intimidade um com o outro. Todas as promoções, todas as ofertas e conquistas e novidades na vida da Chase, todas as tristezas... ele sabia primeiro. Demorou até que seu subconsciente entendesse que ele não estaria mais ali para ouvir. E agora parecia que cada vez que compartilhava algo... mais leve se sentia.

Tinha se apaixonado por ele por ser um espírito complementar, sua chama gêmea, que entendia os ímpetos egocentristas quando corria atrás de seus objetivos, que não a julgava por sua ambição ou orgulho porque a entendia, porque ambicionava ao lado dela e por ela. Percy não a podava, não a restringia, mas a equilibrava ao mesmo tempo que fortalecia sua vontade e via seu potencial de ir ainda mais alto. Ainda era muito bom estar perto dele só por causa disso.

- Ei, pode dizer a ela que a receita ainda funciona - a voz dele lhe chamou a atenção, e levantou da cadeira para andar uns três passos e chegar na "cozinha"; aquele estilo de vida, definitivamente, não era para ela - Estou me sentindo bem melhor. Só bastante cansado. Mas acho que se tomar mais disso quando acordar, amanhã já estou no ponto - a loira teria levado a sério se ele não tivesse tido a frase de um modo deveras arrastado, então apenas balançou a cabeça para pegar as coisas da mão dele quando percebeu que iria lavá-las - Não, pode deixar, eu faço isso.

- O doente aqui é você, não eu - quase não fez esforço pra tirar o prato da mão dele - E você tá zonzo demais pra me contestar - provou isso dando um petelequinho no nariz dele, que demorou um tempo a mais para reagir - Só vai lavar o rosto e se preparar pra dormir cedo, vai. Você precisa descansar. Deixa que eu cuido das coisas.

Riu sozinha quando ele saiu da sala murmurando, e foi estranhamente confortável lavar os pratos na cozinha dele, cantarolando uma música que estava em sua cabeça enquanto pensava que deveria ter algum refratário de vidro por aí para guardar o resto da canja, porque, assim como ela, ele odiava guardar comida em vasilhas de plástico ou panelas.

Foi apenas quando estendeu a mão para pegar a toalha no lugar que sempre ficou em seu apartamento e dar com o vazio, que percebeu que uma parte de sua mente voltava para a época em que eles estavam juntos involuntariamente. Estava acontecendo um pouco, quando ele estava por perto. A loira piscava e era como se nenhum dia tivesse se passado. Piscava de novo, e então lembrava que tinham se passado quatro anos. Havia muito tempo entre as duas realidades, e uma decisão que havia dividido os caminhos deles. Não importava que tivessem se cruzado de novo, ainda eram caminhos diferentes. Ele ainda voltaria para o outro lado do oceano quando o ano acabasse. Ela ainda tinha os próprios sonhos a perseguir.

- Você realmente está fazendo muito mais do que o necessário, Chase - a loira revirou os olhos enquanto guardava tupperware na geladeira.

- Aceite um pouco de ajuda de vez em quando, Jackson - se virou, sorrindo para a mão que ele apoiou no ombro dela - Viu? Não tirou nenhum pedaço. Você está alimentado, e agora pode dormir. E eu vou embora, então você vai poder parar de reclamar por ter uma pessoa que se importa e quer fazer algo por você - os olhos verdes semicerraram com o sarcasmo na voz dela.

- Obrigado, Annabeth - seu tom era sério, assim como a intensidade do seu olhar, mas foi sua mão, no antebraço da loira, que a fez sair da órbita, suas sobrancelhas franzidas, do nada - O que foi?

- Você está quente... - antes que ele pudesse protestar, as palmas das mãos dela estavam em sua testa e seu pescoço, a língua estalando - Você está com febre.

- Ah, é só uma febrezinha de nada. Vou ficar bem - tentou dispensar, mas o olhar dela já estava mudando, seus lábios se pressionando daquele jeito que ela fazia quando estava preocupada. Era tão adorável que ele queria colocá-la dentro de um potinho e proteger do resto do mundo. Ela, claro, o chutaria por sequer pensar isso.

- Você sabe que eu não vou te deixar sozinho - ele sabia, e esse era o problema; não queria que ela achasse que devesse algo a ele e escolhesse ficar, ter mais trabalho - E não tente me contestar. Eu sei que você fica bem enjoado quando a febre sobe.

- Eu tomei um remédio, mulher. Eu me viro bem sozinho - e agora ela cruzou os braços... ótimo. A batalha já estava perdida. Era melhor ele retirar os soldados de campo e recuar.

- Você não vai me fazer mudar de ideia. Vou ficar até você estar melhor, ou até o Jason chegar pra manter um olho em você - quase o ofendia que ela o tratasse como uma criança.

- Jason não vai vir. Ele não tá ficando aqui.

- Mais um motivo pra eu ficar - e dessa vez ela montou a guarda sentada na cadeira em que assistia o documentário antes, com um sorriso no rosto. - Só aceite. A gente pode brigar mais tempo, ou você pode deitar na sua cama quentinha e dormir enquanto eu assisto a um documentário bem quietinha, você escolhe - e maldita fosse, mas a segunda opção era terrivelmente tentadora. Todo o seu corpo implorou para que cedesse, e quando viu, já estava se enfiando debaixo da coberta fina, no lado mais perto da janela para pegar algum vento e não esquentar demais.

- Tudo bem... Você pode ficar, mas pelo menos senta aqui. Vai por mim, essa cadeira vai ficar muito desconfortável depois de um tempo - deu um tapinha no espaço ao lado dele na cama, para o qual a loira olhou um tanto desconfiada - Vamos, eu não mordo - ela lhe deu um olhar enviesado.

- Que mentira...você morde sim. - os sorrisos maliciosos deles cresceram ao mesmo tempo, e uma risada escapou dela enquanto levantava da cadeira e aceitava a oferta, se aconchegando em dois travesseiros contra o encosto do sofá que fazia as vezes de cabeceira.

- Se precisar de qualquer coisa, pode pegar. Tem comida na geladeira, água... Fique à vontade - a loira assentiu, ajeitando os travesseiros, a coberta em cima do colo, e mudando o canal para um documentário de vida marinha que já tinha assistido, mas amava as imagens. Só então percebeu que ele a observava, e revirou os olhos.

- Dorme, Percy. Sério, descansa, que eu não vou a lugar nenhum.

O Jackson achou tudo aquilo irônico, muito irônico, mas preferiu ignorar, assentindo e fechando os olhos. Não demorou muito para que ele apagasse, e ela respirou aliviada. Não era porque tinha decidido ficar que não era estranho estar na mesma cama que o ex. Deus... onde foi que ela se meteu? Bem, já que estava na chuva....

Arriscou passar as mãos e ajeitar a franja meio longa demais do cabelo dele para fora de seu rosto. Ainda era macio, e a visão dele dormindo ainda a fazia querer se encolher ao seu lado e abraçá-lo até pegar no sono. Lembrava como era gostoso dormir e acordar nos braços do namorado, e como as poucas oportunidades que teve de viver isso com alguém depois dele mal se comparavam. Mas aquilo já não era possível e, agora, tudo o que restava a ela era a chance de mexer naquele cabelo de leve em uma demonstração de carinho que ele nunca saberia porque estava dormindo. Era melhor, assim. Era melhor que não soubesse e não pedisse explicações.

Assim ela não precisaria admitir o tanto de coisa que passava no coração dela e que não deveria estar ali.


***


Quando Percy acordou, provavelmente teve a sensação mais estranha de sua vida, porque abriu os olhos apenas para ver a loira deitada no colchão ao seu lado e, por um segundo, ficou se perguntando se era sonho ou realidade, já que já faziam quatro anos desde a última vez em que dividiram a mesma cama. Mas, não. O cabelo curto, o short curto preto, a camisa azul... ela tinha se cansado em algum momento das últimas horas, e deitado no colchão. Estava lá porque ele teve febre, lembrou. E a loira teimosa não quis ir pra casa e deixá-lo sozinho. Sinceramente? Ela realmente precisava parar de fazer aquele tipo de coisa.

Sem coragem de se mexer, reparou que ela ainda não estava dormindo. Estava perto, mas não apagada. Sabia disso por causa de incontáveis noites observando-a enquanto trabalhava até tarde, e porque ela ainda mantinha aquela adorável mania de se ninar para pegar no sono. Era algo que ele amava nela: a forma como fazia um carinho leve em si mesma ou na pessoa mais próxima até dormir, e como dormia mais fácil quando ele fazia um cafuné, ou só mexia em sua mão, suavemente. O fazia imaginar uma Annabeth bebezinha muito mimada pelos pais e pela avó, ou que dividia o berço com o gêmeo, e tinha se acostumado a ser ninada daquela forma enquanto crescia.

Os olhos de tempestade o pegaram no flagra ao se abrirem, mas ele não se sentiu culpado. Sabia, silenciosamente - ou tinha a impressão de ter essa memória - que ela ficou mexendo no cabelo dele pouco antes de ele cair no sono de verdade, achando que o Jackson estava dormindo. Olhá-la era um pouco abaixo do nível de ousadia.

- Bom saber que você ainda faz isso - a testa dela se franziu em confusão e sono, e ele a surpreendeu pegando uma das mãos dela, tirando de onde se entranhava nos cabelos loiros - Ficar se acariciando até dormir. É fofo - de repente ela parecia mais alerta, a cor inundando suas bochechas em constrangimento; sabia que fazia aquilo, mas ficava sem graça quando as pessoas reparavam. E Percy sempre a provocou com sua mania, então ela achou justo usar algo que nunca tinha falado pra provocar de volta.

- Pelo menos eu não falo enquanto durmo - a cara dele em reação foi muito engraçada.

- Eu não falo enquanto durmo! Eu saberia se falasse - mas viu como ela estava com aquela expressão de que sabia de algo que ele não sabia, e ficou confuso - Eu falo? - ela assentiu, o sorriso se alargando para mostrar os dentes alinhados - O que eu falo?

- Ah, às vezes coisas meio bobas e sem sentido - ela passou a língua entre os dentes, como se tentasse lembrar - Às vezes você descreve uma receita... Antigamente, fazia várias declarações de como eu era linda, perfeita e o amor da sua vida - ela riu no final, para tranquilizá-lo de que a última parte era uma brincadeira.

- Eu não duvido muito de que eu faria isso, mesmo - entrou no jogo - Eu dizia essas coisas de você o tempo todo quando acordado - Annabeth riu, mordendo o lábio, enquanto ele encolhia os ombros - Dois anos de relacionamento e você nunca pensou em me contar isso, Chase?

- Eu achei que você sabia. Esse tipo de coisa a gente traz da infância - encolheu um ombro, enquanto tentava segurar o sorriso, a covinha entregando-a - E eu sempre achei bonitinho, então... - só então lembrou que a própria mão ainda estava na dele, e se sentiu estranhamente elétrica, de repente. O polegar de Percy deslizou em seu pulso e não deveria um movimento tão leve acordar todas as células do seu corpo, assim como aquele espaço não deveria ser quebrado para ele tirar o cabelo dela do rosto como se não sentisse aquele queimar sempre que se tocavam. A loira pigarreou, se virando um pouco no colchão - É... acho que está na hora de eu ir embora.

- Não - apesar do tom quase sussurrado, ele aumentou o aperto em sua mão - Fica - as sobrancelhas loiras se ergueram enquanto o coração dela disparava - Já tá tarde, o mínimo que eu posso fazer é não deixar você ir andando pro seu apartamento uma hora dessas da madrugada - um, dois segundos em silêncio, - Fica. Meu sofá-cama não é tão ruim assim, pra dormir. E tem espaço.

- Isso é uma péssima ideia - ela murmurou ao se aconchegar de volta, e a mão dele a soltou.

- Não é nada demais, na verdade - mentira, mentira, mentira. Ele estava surtando por dentro, mas não a deixaria ir sozinha, de qualquer forma. E sabia que ela era razoável, se virando no colchão, de costas pra ele, enquanto murmurava um "tá bom, boa noite, então" meio rígido, tentando colocar o máximo de distância entre eles dois. Percy provavelmente se sentia muito mais corajoso do que realmente era ao deslizar os nós dos dedos pelo braço dela - Relaxa, Chase. Sou só eu.

Era esse o problema, ela quis responder, mas não disse nada, se forçando a relaxar sob o toque dele. Com os minutos, se moveu para ficar mais confortável na cama, deitada de bruços como costumava dormir quando estava sozinha, e achando estranhamente reconfortante os círculos irregulares que os dedos dele desenhavam sobre sua camisa e na pele das costas que ficava exposta pelas alças finas. Estava cansada demais pra pensar que não deveria deixar que ele fizesse isso, que se abrisse a porta daquele carinho físico, haveria poucas barreiras restantes para um desastre iminente.

Não, ela só fechou os olhos e suspirou, arrepiando quando os lábios dele encontraram o ombro dela, tão leves que ela se perguntou se não estava imaginando coisas.

- Dorme, Annabeth... eu não vou a lugar nenhum.

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