ALONE TOGETHER, marvel

By trwnity

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ALONE TOGETHER
CAST & SOUNDTRACK
GALERIA
EPรGRAFE
PARTE I
00. into the multiverse
01. freaky friday (savannah's version)

02. freaky friday (blake's version)

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By trwnity

QUANDO BLAKE DESPERTOU, ela não havia percebido nada de errado.

Claro, houveram sinais. Por exemplo, o par de coturnos logo ao lado da sua cama, que ela tinha quase certeza de que estavam guardados — afinal, sequer se lembrava de tê-los usado recentemente. Mas, para a cabeça sonolenta e estranhamente dolorida da menina, não existia motivo para fazer daquilo um grande caso, já que ela não era uma pessoa muito organizada. Dentre todas as pequenas mudanças no cenário, nenhuma foi significativa o suficiente para fazer com que Blake notasse instantaneamente que algo estava errado.

Sua cabeça estava... devagar. Mais do que considerava típico para uma manhã normal. Blake parecia ter sido religada depois de um sonho maluco — soava idiota, ela sabia, por isso apenas balançou a cabeça antes de se colocar em pé, ignorando o que seus instintos lutavam para dizer.

Sem de fato checar o próprio celular antes, apenas desligando o despertador e verificando o horário em destaque na tela de bloqueio, Blake trocou o pijama por roupas que normalmente vestia e agarrou a mochila. Considerando sua rotina, tinha certeza de que na noite passada colocara o uniforme de Aura na bolsa, então não sentiu necessidade de conferir mais uma vez o traje. Seu raciocínio continuava lento, ao passo que sua cabeça latejava levemente, impedindo que Blake pudesse ter um instante de sossego para observar devidamente o arredor.

Ela só pensava em tomar algum remédio ou, sei lá, cabular a primeira aula na enfermaria. Quem sabe conseguiria até mesmo tirar um cochilo por lá? Aura, como sempre, se pegou em meio a devaneios enquanto percorria o corredor de sua casa, em direção às escadas.

Só que as coisas rapidamente se tornaram meio óbvias demais para serem ignoradas, puxando-a pelos pés para a realidade.

Conforme descia as escadas, ela escutou a voz da mãe e da irmã conversando à distância, mais precisamente na cozinha da casa. Blake teria continuado o caminho despretensioso até a mesa, a fim de tomar seu café da manhã e pegar o bendito remédio para dor de cabeça, mas a voz da âncora do jornal matinal atraiu sua atenção no momento em que passou pela TV. Com curiosidade, a garota se virou para o aparelho.

Na típica barra vermelha no canto inferior da televisão, em letras brancas e garrafais, havia uma manchete tendenciosa explicando de modo geral o que estava acontecendo. Blake não poderia estar mais confusa com o que via. Uma onda de protestos começara em Nova York e a razão para o tumulto era, por algum motivo, os heróis. Perplexa, a jovem buscou pelo controle remoto, aumentando o volume para compreender o que a repórter no meio da multidão dizia.

Ela tinha certeza de que nada daquilo estava acontecendo no dia anterior, quando se deitou para dormir.

Após a reconstrução do Luna Park, manifestantes se reúnem para protestar contra as últimas ações dos heróis — a repórter explicou, segurando o microfone com força enquanto tentava falar mais alto que o coro incessante da multidão que passava por ela. — A manifestação, que teve início pacífico, começou a ganhar força na tarde de ontem pela revolta dos participantes.

A mulher continuou a falar, mas Blake deixou de prestar atenção nas palavras dela. Seus olhos se fixaram em um cartaz levantado para a câmera, por um homem de expressão séria e fechada. Riscada por um enorme X vermelho, estava uma imagem do Homem-Aranha.

Harrington se sentou na ponta do sofá, em frente à televisão, tentando assimilar o que diabos estava acontecendo. O ocorrido em Coney Island foi há pouquíssimo tempo atrás! O parque estava longe de ser reconstruído totalmente, mas eles prenderam o Abutre e as coisas estavam boas mais um vez — ao menos, por enquanto. Então por que diabos aquelas pessoas estavam lá fora, carregando cartazes de represália enquanto entoavam um coro contra os heróis, contra o Homem-Aranha?

E para além disso... Por que Blake não conseguia identificar nada sobre seu alter ego? Por que somente Peter?

Ela levou a mão ao bolso da calça, buscando pelo celular enquanto mantinha os olhos presos na movimentação do protesto, atenta aos detalhes. No entanto, antes que pudesse pegar o aparelho e procurar o número do namorado, sua mãe tirou o controle remoto de sua mão e desligou a TV, pegando-a de surpresa.

— De novo vendo essa baboseira, Blake? — por ser uma pergunta retórica, a garota permaneceu calada com a mente agora repleta de nós. — Vem, o café está na mesa.

Ela pensou em perguntar para Samantha o que estava acontecendo, mas sua mãe não parecia interessada. Sem contar que ela estava... diferente. De um modo que Blake não conseguia assimilar como um todo. Talvez fosse o cabelo estranhamente mais claro, ou as roupas que Blake não reconheceu logo de cara.

A garota percebeu que havia algo de errado ali, talvez indo além do que acontecia nas ruas. Um arrepio subiu por sua espinha quando a paranoia se alastrou por sua mente.

— Certo... — Blake enfim respondeu, a voz por um fio, observando enquanto Sam percorria o caminho de volta.

A mãe caminhou na frente da garota, voltando para a cozinha. Blake a seguiu enquanto tentava processar o que seu cérebro tentava alertar. Algo anormal parecia pairar sobre a atmosfera da sua casa, mas ela sequer conseguia conceber o quê. Havia a sensação de estranheza subindo por seu peito e nada além, mas, particularmente, Blake achava que já era o suficiente para deixá-la em alerta. Já os protestos, por sua vez, não faziam sentido com o que estava vivendo até a noite de ontem quando...

Espera aí.

Involuntariamente, Blake parou no lugar. Flashes do que parecia ser um sonho incomum preencheram sua mente de uma só vez, deixando-a ainda mais confusa. Ela se lembrava de usar o traje de Aura, se lembrava de estar voltando para a casa quando aquilo aconteceu: sua imagem tremeluziu, como se ela estivesse saindo e entrando em foco, e, no instante seguinte, a garota sentiu uma força sugando sua consciência. Foi quando desmaiou.

Fim.

Embora se esforçasse para recordar-se de mais detalhes, nada além daqueles flashes vinham-lhe na cabeça. A noite acabava ali; após isso, Blake estava acordando em sua cama. O intervalo de tempo até aquele momento em questão era um espaço em branco. Talvez Valerie a tivesse levado até a cama? Mas isso soava estúpido e foi logo descartado. Sua irmã não era forte o bastante para carregá-la por um lance de escadas inteiro, pelo menos não sem acordar sua mãe e colocar todo o anonimato de Aura em jogo.

Mas Valerie não faria isso. Não correria esse risco tão descabido; ela não era idiota. Além disso, Blake não reconheceu nenhum traço de cumplicidade em seus olhos, como quem dizia para que conversassem depois sobre um assunto de interesse mútuo e particular. Não, Valerie estava inteiramente alheia — assim como Samantha. Era como se nada tivesse acontecido.

E, honestamente, recordar-se de tão pouco não era o bastante para que ela distinguisse o que era real e o que era um sonho, apesar de ter a forte sensação de que a noite anterior não fora uma alucinação da sua cabeça cansada. A menina começava a questionar a própria sanidade, ou, no mínimo, a sua memória.

— Blake! — a voz de Valerie chamou sua atenção, pelo que pareceu ser a terceira vez seguida. Sam estalou os dedos em frente ao rosto da filha mais nova, para que ela acordasse do transe. — Fiz panquecas para você. Por que está parada aí feito uma idiota?

A heroína fez menção de responder a irmã, abrindo e fechando os lábios sem nenhum som sair, mas uma movimentação na escada interrompeu qualquer tipo de linha de raciocínio que ela poderia ter. Com o cenho franzido, Blake se virou na direção do barulho e quem encontrou ali fez seu estômago revirar.

Ela quis vomitar. Na verdade, ela achou mesmo que vomitaria. Conforme Oliver, seu pai, se aproximava dela com um sorriso largo no rosto, Blake sentiu o ímpeto de se esconder.

Mas antes que ele estivesse perto o suficiente para tocá-la, Blake se afastou, adentrando mais a cozinha com passos vacilantes, incapaz de desviar os olhos assustados do homem.

— O que você está fazendo aqui? — ela perguntou com a voz apressada e trêmula, trombando na mesa em meio ao nervosismo de se manter longe dele.

Uma expressão confusa tomou conta do rosto de Oliver e ele automaticamente olhou para Samantha, logo atrás de Blake. A garota reproduziu a ação, em busca de qualquer sinal de que as coisas estavam erradas e de que ele não deveria estar ali, mas tudo o que encontrou foi um semblante de dúvida dirigido à ela.

— Blake, o que foi isso? — Samantha perguntou, se levantando para poder se aproximar da filha e tocar gentilmente seus ombros. — Está tudo bem?

As mãos de Blake passaram a tremer tanto. Ela balbuciou algo que sequer compreendeu, alternando o olhar entre Samantha e Valerie, frustrada pelas reações espantadas que recebeu. Mas que inferno, o que havia acontecido para tudo estar tão diferente, ao ponto de ele ser tolerado? O que a jovem heroína tinha perdido? Estava ficando louca? Oliver, por sua vez, estava tão alheio à situação quanto as outras duas, e Blake o odiava ainda mais por isso.

Sua visão perdeu o foco momentaneamente quando uma onda de cores vibrantes a atingiu, e a dor chata de cabeça que vinha sentindo aumentou de forma acentuada, como se a alertasse de que algo havia mudado e agora as coisas estavam daquela forma: erradas. Harrington sentiu ainda mais vertigem. Ela precisou piscar algumas vezes para que o controle de seus sentidos voltasse e, assim, pudesse fixar seus olhos nos demais.

Blake segurou o encosto da cadeira com força, os nós de seus dedos ficando esbranquiçados com a pressão. Não queria que vissem suas mãos trêmulas — nem mesmo ela própria queria se ver numa situação tão vulnerável novamente.

Por ora, precisava sumir dali.

O pigarro sem jeito da irmã foi o que chamou sua atenção de volta.

— Blake, eu sei que hoje é sexta-feira 13 e estamos próximos do Halloween, mas não precisa agir assim — Valerie tentou descontrair um pouco, soltando uma risadinha nervosa de quem não estava entendendo nada. — Está me assustando.

Sexta-feira 13? Próximos do Halloween? Valerie havia enlouquecido de vez? A mais nova não duvidaria disso, se esse fosse o caso. Tudo se encontrava em um estado de bizarrice tão grande que aquela não seria a gota d'água.

Mas Blake tinha plena certeza de que era dia cinco de Dezembro de 2016, e os preparativos estavam focados no Natal. Ela já tinha até mesmo comprado e embalado os presentes! O Halloween havia passado há um certo tempo, tal qual se recordava. Portanto, se havia algo fora dos trilhos, não era exatamente a garota.

Ao menos, não dentro da sua perspectiva.

Aquela não era sua família de verdade. Não podia ser. Todas as coisas estavam erradas. Sua mãe jamais permitiria que Oliver pusesse os pés dentro daquela casa mais uma vez. Valerie não estaria tranquilamente fazendo panquecas se ele estivesse por perto. E Blake teria permissão para agir estranho com ele sem aqueles olhares julgadores recaindo sobre sua pessoa.

Era como se... como se aquela fosse uma outra versão da sua vida, por mais que não fizesse o menor sentido. De algum modo, estava tendo acesso a uma versão muito distinta e que, àquela altura, já começava a assustá-la para valer.

Semelhante a um sonho longínquo, mas real o suficiente para não ser capaz de despertar tão cedo.

— Tudo bem, filha? — Oliver quis saber. Ele deu alguns passos para frente, para perto dela.

Filha. Aquela palavra saindo da boca do homem que arruinou sua vida foi o estopim para a jovem, puxando-a para fora de seus pensamentos com brusquidão. Blake precisava sumir dali o mais rápido possível e descobrir que merda estava acontecendo. Ela precisava falar com Peter e com seus amigos urgentemente. Precisava de ajuda.

De má vontade, no entanto, a garota concordou com um movimento singelo de cabeça e um sorriso falso, mas que era o suficiente para contornar a situação. Ela disfarçou o ódio e a revolta em seus olhos como pôde, substituindo-os por uma suavidade montada superficialmente.

— Valerie acabou com a brincadeira — ainda com as mãos trêmulas, piscou para a irmã mais velha. — Bem, estou indo para o colégio.

— Mas ainda é cedo e você nem tomou o seu café — Oliver observou, verificando o relógio de pulso. — Tem certeza que nada aconteceu, Blake?

Só cala a sua boca e some da nossa casa, ela pensou, travando a mandíbula para controlar o impulso de dizer aquelas palavras.

— Sim, só tenho que me preparar para uma apresentação importante. — Forçou mais um sorriso, passando por ele e deixando a cozinha antes que mais um comentário fosse feito. — Não se preocupem comigo. Até mais tarde.

Com pressa, Blake agarrou a mochila na sala de estar e deixou a casa antes mesmo que sua família se despedisse. Ela agarrou o celular enquanto caminhava com passos largos pela calçada do seu bairro, buscando o número de seu namorado entre os demais. Consumida pelo nervosismo, ela procurou e procurou e procurou, achando que tinha o deixado passar em meio aos outros, mas não havia mais nada ali. O contato de Peter desaparecera do seu celular, assim como o de Ned.

Mais um nó se formou na garganta da garota e seu peito se afundou em um mar de incertezas. As peças não se juntavam e, meu Deus, Blake não conseguia formular um maldito pensamento coerente. Suas mãos tremiam de novo, incontroláveis. Por que o número de Peter não se encontrava mais em seu celular? Por quê, por quê, por quê?

O número de Rebecca continuava ali, registrado como se recordava, e então a heroína não perdeu tempo ao clicar sobre a tela e completar a ligação quase que desesperadamente. Enquanto a chamada era encaminhada, Blake continuou o trajeto de passos apressados pelo agitado Queens, adentrando nas áreas de maior movimento e comércio — seu destino, porém, ainda era incerto. Ela só pensava em se afastar de tudo aquilo o quanto antes e, quem sabe, conseguir uma mísera resposta.

Não poderia ser a única a perceber, poderia? Também não havia como ou porquê se tratar de uma brincadeira — ia muito além de qualquer limite plausível. Alguém precisava compreendê-la e, assim, ajudá-la. As coisas estavam profundamente erradas, então como ninguém tinha notado também?

Oi, Blake! — a voz apressada de Rebecca se sobressaiu, puxando a amiga para fora dos pensamentos. — Estou organizando as coisas para o jornal de hoje, as manifestações renderam algumas matérias. Sem querer ser chata, mas você pode ser breve?

Blake precisou de alguns segundos para assimilar todas as palavras, uma vez que seu cérebro estava longe dali. Passando a língua sobre os lábios, ela iniciou:

— Hm... Sim, com certeza — olhou para os lados. — Na verdade, queria te fazer uma pergunta sobre isso.

As manifestações? — do outro lado da linha, a amiga pareceu não entender o objetivo.

— É... quero dizer, eu não estou acompanhando os últimos acontecimentos — mentiu. — Por que as pessoas estão revoltadas com o Homem-Aranha?

Blake, que tipo de pergunta é essa? — riu pelo nariz, provavelmente achando que era uma brincadeira da amiga.

Para Rebecca, era impossível que estivesse falando sério. Quem em sã consciência não saberia dos acontecimentos que eles vinham vivendo nos últimos anos? O mundo vivia uma loucura desde o confronto entre o Capitão América e o Homem de Ferro. Mas, de alguma forma inexplicável, aparentemente Blake não sabia.

— Eu realmente preciso saber, Becca.

Alguns instantes de silêncio antecederam o suspiro pesado de Arellano. Ela cedeu, apesar de não compreender o que a amiga queria com aquela conversa. O tópico pareceu afetar seu humor e Harrington só queria entender o motivo — a versão que possuía dos fatos não terminara em ódio e protestos. Blake aproveitou a deixa para atravessar a rua, pressionando a jaqueta roxa ainda mais contra o corpo quando a brisa gelada do outono atingiu seu corpo.

Blake, onde você esteve nos últimos anos, hein? Numa caverna? — indagou quase revoltada, e a menina pôde ouvir a movimentação da amiga, que arrumava o ambiente em que estava. — O Homem-Aranha é um vigilante, isso já basta para 99% da população. O que aconteceu em Coney Island só piorou tudo.

— O quê?! Mas por quê?

Você está me deixando confusa, sério. — A amiga replicou de imediato. — O que aconteceu?

Blake também queria saber que porra tinha acontecido. Desde quando a população ficava contra os vigilantes, contra os heróis? Mesmo quando catástrofes aconteceram, a maior parte da sociedade continuou ao lado daqueles que juraram protegê-la. Tudo o que faziam — e isso em qualquer lugar do mundo — era para evitar que algo muito maior e pior tomasse força. Era doentio imaginar que, de uma hora para outra, na virada de uma noite, todas as pessoas do mundo mudaram de opinião.

Na sua versão do que tinha acontecido, ainda existia certa dose de esperança.

— E quanto a Aura? — quis saber, se esquivando da pergunta.

Quem diabos é Aura?

A jovem quase tropeçou nos próprios pés ao escutar aquilo. Por alguns segundos — que pareceram se tratar de uma eternidade —, Blake ficou parada, absorvendo a informação que lhe atingiu em forma de um murro no estômago. Ela só se lembrou de se mover quando um homem trombou em seu ombro e disse algo que a garota não se preocupou em ouvir — não deveria ser um elogio, de qualquer forma. A voz de Rebecca a chamou pelo telefone, ao menos duas vezes, e então Blake despertou.

A situação era pior do que tinha imaginado.

Inicialmente, a possibilidade de seu alter ego não existir não cruzou sua mente. Aura era algo inato de Blake, tal qual o Homem-Aranha era parte intrínseca de Peter. Pensar que ali, naquela versão distorcida, ela não existia — Aura não existia — causava em Blake uma enorme dor de cabeça e novamente aquela sensação vertiginosa se alastrava por seu corpo. Era como se um pedaço de quem ela era houvesse sido arrancado à força e sem aviso prévio.

Deus, que merda estava acontecendo? Que lugar era aquele? Aquela não era sua vida!

— Rebecca, olha... — limpou a garganta, firmando os passos novamente. Ela passou pela lanchonete do Sr. Delmar, mas não quis parar. Iria vomitar se comesse qualquer coisa. — Eu acho que não vou à aula hoje, ok? Minha cabeça está me matando, e eu nem estou fazendo sentido.

Blake, não mente para mim — ela soou preocupada. Como não estaria? O humor esquisito e as perguntas sem sentido da melhor amiga não eram habituais. — Você tem certeza que é só uma dor de cabeça? Eu posso te fazer companhia.

— Não se preocupa — respondeu de automático. — É só uma dorzinha chata de cabeça, de verdade. Te vejo amanhã? — arriscou.

Hm, sim. Te vejo amanhã, então — Becca não comprou a desculpa, mas sabia que não iria vencer se insistisse. Conhecia Blake o suficiente para perceber os limites da amiga, principalmente quando ela precisava de espaço. — Melhoras, amiga. Até.

— Até...

Sua voz se perdeu no meio dos sons externos quando a ligação foi encerrada. Ela guardou o celular no bolso do casaco e, de repente, se viu perdida ali. Profundamente perdida. Suas mãos começaram a tremer agora que não tinham mais o aparelho telefônico para apertarem, ao passo que seus olhos percorriam a rua. Ela girou nos calcanhares para ver o espaço por inteiro. O movimento das pessoas, os diversos veículos, os sons típicos da Nova York que ela conhecia tão bem... tudo pareceu exatamente igual ao que estava acostumada.

Exceto que Blake Harrington era uma intrusa total ali.

Por alguns alarmantes segundos, Blake achou estar completamente perdida e sozinha, com pessoas que ela deveria conhecer, mas que agiam de forma estranha e distinta. Ela sentiu os olhos marejados enquanto observava todos ao redor, que sequer olhavam-na de volta. A menina passou despercebida, como já era de imaginar — afinal, Nova York era aquilo: veloz e quase sempre indiferente.

Ela sabia exatamente onde e como encontrar Peter, mas a falta de garantia de que ele a reconheceria a deixava insegura. Igualmente não tinha mais o contato de Ned, o que significava que talvez não fossem mais próximos, e sua ajuda não viria como Harrington esperava. Rebecca, apesar de conhecer Blake, não conhecia Aura, porque Aura não existia. Como a amiga poderia lhe ajudar, então? Como diabos iria acreditar na sua história se tudo estava diferente?

Se Aura não existia, muito da vida que Blake conhecia também não. O que a levava para...

Tony.

Como um tiro cruzando a noite, o nome atravessou sua mente. Tony Stark, a pessoa que esteve com Blake antes da existência de Aura, a pessoa que a conheceu num período conturbado em sua vida. Sobretudo, era a pessoa que sempre a ajudou. Blake não sabia se o homem a reconheceria e sua ajuda era como um golpe de sorte, mas, de todas as possibilidades, ele era a última restante e a única com chance de levá-la a algum lugar. Era uma oportunidade de entender o que estava acontecendo.

Blake precisava arriscar. Esfregando os olhos carregados de lágrimas pesadas, ela tomou uma decisão.

E quando voltou a caminhar, Blake Harrington finalmente tinha um destino. A Torre dos Vingadores.

Aura foi recebida por uma imensa desordem.

Assim que deixou o metrô para trás ao chegar no centro de Manhattan, ela se encaminhou para a antiga Torre. Para seu alívio, nada parecia ter mudado na fachada do prédio que se destacava dentre os demais, próximo ao majestoso Empire State Building. Tudo estava conforme ela se recordava e, por alguns minutos, aquilo foi reconfortante.

O problema começou, de fato, quando ela avançou pelas portas.

Sua entrada não foi difícil. Havia um registro no seu nome, o que significava que Tony a conhecia, e eles deveriam ser próximos naquela versão também. Atípico, porém, era a ausência total de pessoas no prédio. Blake havia planejado uma desculpa esfarrapada para conseguir ver Stark, mas tudo o que recebeu foi vazio total. À princípio, pensou que o lugar havia sido vendido, tal qual se lembrava, mas o sistema de segurança ativado provou o contrário.

Ainda pertencia ao Homem de Ferro.

Os passos receosos da jovem ecoavam por todo o espaço, criando uma atmosfera desagradável. Ela observou atrás dos balcões da recepção, caminhou pelo saguão de entrada e checou até mesmo os banheiros do térreo em busca de algum sinal de vida. Notavelmente, a enorme recepção do prédio estava vazia.

— Tony? — chamou pela primeira vez, sentindo-se idiota ao ser abraçada pelo silêncio total. Mas sabia que, se ele estivesse em qualquer lugar ali, Sexta-Feira o alertaria de sua presença. — Sr. Stark, sou eu... a Blake.

Nada.

A menina engoliu em seco, incerta sobre o seu próximo movimento. Deveria ficar ali e aguardar por sabe-se lá quantas horas até ter notícias do herói? Deveria pegar o elevador e procurar nos andares acima? Deveria voltar para a casa, talvez ir ao colégio e, quem sabe, recorrer a Peter? Bem, as duas últimas opções foram rapidamente riscadas da sua lista mental. De todas as alternativas, só uma fez sentido para a mente de Blake.

Óbvio que não era esperar.

Sendo assim, decidiu ir em direção ao elevador. Ela apertou o botão que o traria para o térreo, ficando surpresa ao vê-lo descer até lá sem qualquer problema. Se tudo continuava a funcionar plenamente, onde estavam as pessoas? Apesar do aspecto abandonado, o ambiente mantinha sua funcionalidade. Algo estava errado ali também, e as peças não se encaixavam de maneira alguma.

As portas metálicas se abriram para ela e Blake adentrou a caixa, subindo para o andar do laboratório, conforme se recordava. Era lá onde Tony ficava a maior parte do tempo, mais do que na cobertura ou qualquer outro local, e era lá onde imaginou que poderia finalmente encontrá-lo. Contudo, quando o elevador parou e se abriu mais uma vez, Blake não conseguiu o que buscava.

Mais vazio. Mais bagunça.

— Tony? — chamou novamente, mais alto e mais insistente, como se por um milagre obtivesse uma resposta. — Alguém? Happy? Srta. Potts?

Ninguém a respondeu.

No lugar disso, ela se deparou com uma sala bagunçada. Remexida. Errada. Blake sentiu-se estranha ali, com um comichão nos dedos enquanto os pés se moviam prontamente para fora do elevador. Ela abandonou a mochila no chão, apoiada numa das cadeiras giratórias, e se aproximou de uma das máquinas do ambiente. Harrington nunca tinha visto aquela antes.

Não se parecia mais com o ambiente que Tony tinha antes — ou o que ela se lembrava de ter visto antes da Torre ser vendida. O laboratório, inicialmente, era algo pessoal de Stark e, apesar de não ser o maior exemplo de organização do mundo, nunca esteve em um estado tão... deplorável. Na percepção da garota, algo não parecia natural. Mas talvez pudesse estar errada; e se Tony também estivesse diferente?

Ela preferiu não pensar nisso por ora. Sofrer por antecipação só iria piorar a sua situação.

Três pontos vermelhos espalhados pela tela da máquina chamaram sua atenção. Embora tudo estivesse desligado, a leitura de algum tipo de assinatura havia sido registrada. Infelizmente, não era algo compreensível para a garota.

Blake não era uma pessoa envolvida com mecânica ou tecnologia — na verdade, ela era mais do que péssima quando o assunto era qualquer uma das duas opções. Portanto, quando percebeu que não iria chegar a algum lugar apenas observando o monitor da máquina, partiu em busca de algum sinal de Stark ao redor, ou, ao menos, algum tipo de pista do que havia acontecido.

Ela acendeu as luzes, os olhos imediatamente reclamando em resposta ao recente brilho. Sob a claridade, a sala pareceu ainda mais desorganizada. Uma parte dos papéis estava espalhada e manchada com um líquido marrom que só podia ser café, o que a fez concluir que uma movimentação intensa tinha ocorrido antes que a menina pudesse sequer imaginar estar ali. O copo térmico estava tombado e Blake o colocou em pé de novo, sentindo um aperto no peito ao perceber que o café restante já estava gelado. Seja lá o que tenha acontecido com o Homem de Ferro, fora há horas atrás.

Talvez até dias. Blake não saberia dizer.

O pouco visível das anotações de Stark não era suficiente para esclarecer suas dúvidas. Ela leu brevemente as palavras energia e máquina nas notas de rodapés em um desenho técnico. Havia também uma matéria retirada de um site de notícias, com um parágrafo específico grifado. Blake não a leu, mas conseguiu visualizar o nome de Wanda Maximoff no início.

A jovem passou mais tempo ali do que tinha percebido, lendo e relendo o que conseguia dentro dos desenhos técnicos, ao passo que tentava interpretar a função da máquina. Reuniu a papelada que conseguiu achar e rodou pelo recinto, em busca de qualquer outra informação importante.

No geral, parecia que Tony deixara o lugar às pressas. O motivo, todavia, não estava claro.

Ela sabia que o Homem de Ferro tinha muitos inimigos, uma lista enorme e quase infinita. Ela sabia também que muitos deles fariam qualquer coisa para derrubar Tony e conseguir acesso ao que era do herói. Mas, acima de tudo, Blake sempre soube que não era tão simples assim contornar a segurança da Torre ou simplesmente vencer Tony Stark, com armadura ou não. Ele sempre estava um passo à frente.

O que só deixava a situação ainda mais intrigante.

Blake coçou o topo da testa antes de deixar os papéis que conseguira espalhados pela superfície da mesa. Em pensamento, ela se desculpou com Tony antes de afastar os pertences dele de forma desajeitada, apenas para ganhar espaço e espalhar a papelada. Não era muito no total. Ela imaginou que grande parte dos documentos não seriam impressos em papéis — eles estariam sob o domínio de Sexta-Feira.

Mas ainda valia a tentativa.

Blake analisou o que tinha mais uma vez, agora em conjunto. Uma coisa era certa: a máquina com os três pontos vermelhos era a mesma máquina do desenho manchado de café. Tinha a ver com energia... mas de que tipo? A informação não constava em lugar nenhum. O que Harrington tinha a seu dispor não era suficiente para que conseguisse compreender que tipo de energia a máquina aferia e por que Tony havia a criado.

Seus olhos foram então capturados pela única matéria que Tony tinha impressa. Era o único documento que não tinha envolvimento significativo com a máquina — ao menos, não de forma explicitamente óbvia. Wanda.

Blake pegou o papel e o trouxe para perto, sentindo como se ele pesasse toneladas conforme as palavras eram lidas.

"O mais recente encontro entre as autoridades americanas e Wanda Maximoff gerou uma série de transtornos para uma pequena cidade localizada na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá. Após o confronto que se seguiu, Maximoff não foi mais avistada nas redondezas, deixando somente um rastro de destruição para trás."

Não era nem de longe como ela se lembrava. Isso não tinha acontecido.

Por que Tony tinha aquilo com ele, afinal de contas? E que relação Wanda Maximoff teria com a máquina ao seu lado?

Blake engoliu em seco, o corpo ainda arrepiado com a sensação ruim que tomou-lhe conta. A garota direcionou o olhar para toda a tecnologia espalhada pela sala, imaginando que, se quisesse mesmo saber o que estava havendo, teria de reunir coragem e se aventurar em tudo aquilo deixado por Tony — ela só não tinha certeza, porém, de que a verdade seria reconfortante, não depois do que lera sobre Wanda.

Tentando ignorar a parte mais negativa de seus pensamentos, Aura se encaminhou até o painel de controle de Stark. Sabia como era ajustado, pelo menos o princípio da coisa. Já havia visto o Homem de Ferro manuseando tudo aquilo antes... só precisava dar ínicio.

Blake levou os dedos lentamente em direção ao leitor digital. Quando sua mão se fixou ali e o brilho azul escaneou a palma, a garota inicialmente pensou que nada aconteceria.

Mas o inusitado aconteceu. Um brilho verde acendeu onde a mão de Blake descansava. As telas se iluminaram e ela se afastou de imediato — afinal, Deus sabe quais métodos de segurança Tony Stark poderia ter escolhido —, esperando pelo pior. Talvez lasers e alarmes exageradamente altos? Ou pior, armaduras. Os olhos da menina varreram todo o perímetro em busca de algo, mas tudo o que encontrou foi o sistema do laboratório sendo ativado. No lugar das possíveis armaduras, lasers ou alarmes, ela foi recepcionada pela voz feminina de Sexta-Feira, a inteligência artificial do Homem de Ferro.

Sistema operacional 100% iniciado — anunciou. — Seja bem-vinda, Blake. Como você está?

Os lábios da menina se abriram, demonstrando todo seu espanto.

— Você... está falando comigo? — perguntou para a sala vazia.

Claro — respondeu. — Fui programada para isso.

— 'Tá de sacanagem — sem dúvidas, era a reação mais franca que Blake poderia ter no momento. Uma risada desacreditada escapou pelos lábios da menina, desenhando um sorriso singelo na feição consternada dela. — Caramba. Ok, preciso de foco.

A inteligência artificial se manteve quieta, no aguardo do primeiro comando da jovem. Blake iria começar com uma pergunta sobre Tony, mas algo chamou sua atenção em uma das telas recém-iniciadas do ambiente. Ela piscou algumas vezes, tendo um déjà-vú de horas antes, quando Valerie dissera algo sobre sexta-feira 13 e Halloween.

Por que diabos a data registrada no monitor era 13 de Outubro?

— Meu Deus... Sexta-Feira, que dia é hoje?

13 de Outubro de 2017 — respondeu prontamente e com suavidade, como se o mundo de Blake não estivesse retornando ao estado de calamidade.

— Não, é impossível — negou com a cabeça, veementemente. — Eu fui dormir no dia cinco de Dezembro de 2016. Não tem como eu ter acordado quase um ano mais tarde.

Não, Blake, você deve ter se enganado — a IA respondeu, exibindo o calendário para a jovem atordoada. — A data está correta. Hoje é dia 13 de Outubro de 2017. Estamos numa sexta-feira.

Os olhos de Blake esbugalharam-se mais ainda. Ela conferiu a data no celular. O que achava ser um erro maluco, era verdade. Quem estava na data errada era Blake Harrington, e não o contrário.

— Se eu estou aqui... e hoje é 13 de Outubro de 2017... — pronunciar o dia não melhorou seu estado mental. — Que diabos eu estava fazendo no dia cinco de Dezembro de 2016?

Harrington não tinha o objetivo de conseguir uma resposta. A pergunta era mais um reflexo do seu desespero do que a necessidade de saber. De qualquer forma, Sexta-Feira não interpretou da mesma forma e, pegando-a de surpresa, uma gravação com a data apareceu por meio de um holograma azulado.

— O que é isso? Eu estava aqui?

Você veio visitar o Tony no dia em questão — a inteligência artificial relatou.

O registro não era grande coisa. A gravação se tratava somente de um corredor da Torre sendo percorrido por Blake, e ela tinha um presente de Natal nas mãos. O embrulho era terrível, então imaginou que fora feito por ela própria. De qualquer forma, aquilo não tinha acontecido na sua realidade. De jeito nenhum.

O presente de Natal de Tony Stark seria entregue apenas no dia 15 de Dezembro, antes que ele saísse com Pepper para uma viagem de final de ano. Ela imaginava que Stark fosse gostar do disco de vinil do Black Sabbath que encontrou numa loja antiga de Nova York durante suas tardes de patrulhas. Blake tinha tudo organizado para a entrega e até havia convencido Happy a lhe dar uma carona até o Complexo, onde Tony estaria.

Só que vendo as gravações, mais divergências foram percebidas. Primeiro, não era um vinil; segundo, foi entregue dez dias antes; terceiro, tudo tinha acontecido na Torre, que havia sido vendida na sua versão.

— Como isso é possível...?

Não restava dúvidas agora, não mais. Blake teve a total certeza de que, seja lá o que ou como houvesse acontecido, ela havia parado em outra realidade. Claro, soava impossível e ela começava a questionar a própria sanidade ao chegar a tal conclusão, mas, no momento, era a melhor que tinha.

A melhor e única.

Que outra explicação poderia encontrar?

A dorzinha chata em sua cabeça voltou a martelar sua mente. Ela fechou os olhos, franzindo as sobrancelhas enquanto pensava francamente sobre aquilo, considerando se não estava apenas ficando maluca. Mas não havia como. Tudo levava a crer que tinha razão, mesmo sendo absurdo. Seus dedos foram na direção de suas têmporas e ela os esfregou na região, na tentativa de colocar o raciocínio numa linha reta e objetiva.

Porém, tudo o que tinha eram ramificações do mesmo pensamento. Dezenas de perguntas e nenhuma maldita resposta.

Aura respirou fundo, decidida a fazer algo quando abriu os olhos novamente. Antes que pudesse escolher o ponto de partida, foi interrompida:

Alerta de segurança ativado — a voz robótica e, ainda assim, feminina de Sexta-Feira ecoou repentinamente pelo laboratório. — Duas presenças foram detectadas no térreo.

— O quê?!

Um monitor brilhou perto dela, como se fosse sua resposta.

Com um sobressalto, Blake se aproximou das telas dos computadores, buscando pelas imagens das câmeras de segurança. Logo, conseguiu o que queria e, sob seu comando, Sexta-Feira aumentou a imagem da câmera que focava diretamente no saguão. Seu coração bateu um pouco mais forte contra o peito ao reconhecer Peter ali.

Uma garota mais baixa e de longos cabelos castanhos vinha o acompanhando de perto. Blake não a conhecia, nem mesmo de vista pelo colégio, embora tenha se esforçado para se lembrar de sua feição pelos corredores; era de fato uma completa estranha, mas, por estar junto a Peter, Blake imaginou que se tratava de alguém confiável.

Ela os acompanhou com o olhar. A resolução da câmera era absurdamente boa e, pelo que Blake conseguia visualizar dentro do campo de visão do aparelho, eles pareciam bastante familiarizados com o local. Harrington continuou a acompanhar com o olhar a movimentação da dupla para dentro da Torre.

Peter aparentava maior normalidade. Ele parecia certo da ausência total de pessoas ali, ao contrário de Blake ou da outra garota. A desconhecida também demonstrou surpresa ao ver o lobby vazio, parando momentaneamente no balcão da recepção para checar por detrás dele. Então, Parker falou com ela e, dada a sua expressão, a informação a pegou desprevenida.

Blake cerrou os olhos para a imagem da menina, sentindo uma pontinha de esperança crescendo. Talvez não fosse a única com problemas de memórias por ali.

— Sexta-Feira, você consegue me dizer quem é ela? — inquiriu para a IA, ainda seguindo os movimentos da dupla pelo ambiente. — Digo, tem algum tipo de registro facial com você ou alguma coisa assim?

Em resposta ao pedido feito, uma imagem holográfica em tons de azul exibiu o rosto da menina diante dos olhos de Harrington. As informações sobre a desconhecida pipocaram em frente ao rosto de Blake e ela piscou um pouco para conseguir processar tudo aquilo. Não esperava tanto. Até mesmo matérias na internet sobre campeonatos de Jiu-Jitsu apareceram.

O nome dela é Savannah Evans — iniciou a inteligência artificial de Tony Stark. — Estuda no mesmo colégio que você, Blake. Tem certeza de que não a conhece?

O cérebro da loira voltou a dar um nó.

— Definitivamente não — murmurou.

Haviam mais coisas sobre Savannah. Blake correu os olhos de maneira vaga pela ficha possivelmente feita por Stark e encontrou algo sobre a garota ser afilhada de Rhodes — o que só deixou mais perplexa — e sobre um acidente de carro anos atrás. Nada ficou realmente fixo em sua mente cansada, mas Blake tentara assimilar mais que duas frases. Antes que pudesse saber mais, Sexta-Feira retomou:

Eles estão se encaminhando para o elevador.

Os olhos da jovem se arregalaram. O que faria? Ou melhor: o que diria? Merda, merda, merda. Ela se afastou do holograma para poder vê-los caminhar pelo saguão, adentrando o elevador enquanto conversavam seriamente. O registro de Savannah sumiu assim que Blake balançou os dedos no ar, como se o apagasse.

Devo permitir a subida para o laboratório?

— Sim? — sua afirmação soou mais como uma pergunta. — Sou uma intrusa aqui, Sexta-Feira, então fique à vontade para tomar as decisões.

A IA não respondeu, mas Blake soube que o elevador já estava subindo. Ela não pôde evitar o nervosismo que subiu por seu corpo e se instalou como uma massa de concreto no seu peito. O que aconteceria a seguir era um mistério.

Harrington manteve-se atenta às portas metálicas. Em questão de segundos, o familiar aviso de parada do elevador soou, e ele se abriu para revelar a dupla.

A sensação de apreensão que a consumia não diminuiu. Ela os percebeu primeiro; deixando a caixa de metal para trás, Peter e Savannah conversavam seriamente sobre algo que Blake não entendeu de imediato. Somente palavras lançadas ao ar — o nome de Tony, no entanto, era uma delas.

Eles pararam de falar assim que visualizaram a silhueta parada em meio às máquinas e demais tralhas de Stark. Blake não soube o que dizer. Sua garganta secou ao ver Peter olhando-a de volta. Queria muito ir até ele e puxá-lo para um abraço, porque sabia que se sentiria finalmente em casa se assim o fizesse. Mas a racionalidade a manteve com os dois pés fixos no mesmo lugar.

— Blake? — Peter perguntou, confuso.

Uma chama esperançosa queimou Blake de dentro para fora. Ela sentiu a mudança de sua postura quando se aproximou com alguns passos, mas a estranheza logo retornou ao notar que Peter não parecia exatamente certo da sua presença ali. Ele havia sido pego de surpresa, e não tinha movido um músculo na sua direção.

Era quase como se fossem desconhecidos mais uma vez.

Blake não soube o que dizer. Encabulada, ela viu Savannah trocar um rápido olhar com Peter.

— Você a conhece? — perguntou um pouco mais baixo, quase num sussurro.

— Ela estuda com a gente — explicou. — Quer dizer, estuda comigo.

A explicação pareceu bastar para a jovem, que anuiu de forma singela. Com cautela, ela voltou sua atenção para a loira parada no centro da sala.

— Meu nome é Savannah Evans — disse, apontando para si mesma. Blake pensou em dizer que já sabia, mas ainda não tinha voz para isso. — Esse é o Peter, mas acho que você já sabe disso. Bem... o que você veio fazer aqui?

Eu só quero voltar para casa, Blake pensou. Seus olhos demoraram um pouco mais em Peter, na esperança de enfim ser reconhecida por ele como deveria ser. Contudo, o olhar do garoto não era como ela se lembrava. Havia uma diferença na forma como ele a olhava de volta, assim como tinha reparado em sua família.

Nada estava certo. Aquele não era o seu Peter, e pensar nisso a fez querer chorar.

Engolindo em seco, Blake voltou a olhar Savannah.

— Tony — respondeu de forma vaga. — Eu vim vê-lo.

— Ótimo, nós também — caminhou na sua direção, e Blake conseguiu perceber que ela tentava parecer mais tranquila do que realmente estava. — Então você sabe alguma coisa sobre o paradeiro do Sr. Stark? — Savannah perguntou com certa esperança na voz.

Blake franziu o cenho.

— Eu é que te pergunto — replicou, incerta ao alternar o olhar entre a garota e Peter. Eles não tinham qualquer vestígio de boas notícias em seus semblantes, e ela finalmente começou a reparar nesses pequenos detalhes. — Encontrei todas as coisas reviradas e nenhum sinal dele.

Peter suspirou de maneira pesada, parecendo ainda mais derrotado. Não era a resposta que ele queria receber, mas Harrington não tinha outra.

— Sr. Stark está desaparecido, Blake — o rapaz explicou, escolhendo as palavras com cuidado. — Não temos notícias dele há meses.

Aura sentiu aquilo como um tapa na cara. Desaparecido. Seus lábios se entreabriram pela surpresa da confirmação e ela puxou uma lufada de ar por eles. Foi como tomar um banho de água fria, mesmo que já estivesse esperando aquele desfecho. Ainda assim, a confirmação da teoria arrancou o ar de seus pulmões, junto a um chão seguro para pisar.

Se Tony não estava mesmo ali, quem mais iria arrumar uma forma de levá-la de volta para sua realidade?

Quem mais encontraria um caminho? Uma solução?

— Você está bem? — Evans se aproximou com alguns passos pequenos, notando a dificuldade da loira para respirar num ritmo regular.

Blake pensou estar sufocada. Ela não tinha a menor ideia do que fazer agora.

A heroína tocou o tampo da mesa, apoiando-se para estabilizar a respiração agitada — o movimento dos pulmões fazia com que sua caixa torácica doesse como o inferno. O contato de seus dedos contra a superfície gelada a ajudou como podia, mas ainda parecia feri-la por ser assustadoramente real. Não era um pesadelo. Ela não podia acordar daquele sonho ruim. Sua mente se tornou, mais uma vez, um enevoado da mais pura confusão e sensações negativas. A ansiedade sem dúvida era sua maior inimiga, não importava em qual universo estivesse. O que poderia ter acontecido, no final das contas? Quando enfim acreditava estar perto de uma resposta esclarecedora, era lançada novamente para a estaca zero.

— Não. — Por fim, ela respondeu, deixando sua voz rouca sair livremente pela garganta arranhada. Tudo em que sua mente focava era na possibilidade horrenda de estar presa para sempre ali. — Nem um pouco bem, na verdade. Tem algo profundamente errado nesse lugar — levou os olhos na direção da dupla, afastando-se da mesa e endireitando a postura. Precisava manter a calma agora ou não chegaria a lugar algum. — Eu não sou daqui. Quer dizer, não posso ser. Estou no ano errado e tudo está terrivelmente diferente. Tony, ele... ele era a minha única chance de entender o que está havendo e de... de voltar.

Savannah e Peter se entreolharam, como se soubessem de um detalhe importante. Com mais um suspiro dolorido, Blake reprimiu as lágrimas e olhou para cima. Aproveitando o silêncio da dupla, a jovem prosseguiu num sussurro amedrontado:

— Eu acho que não pertenço a esse mundo.

Savannah foi quem se antecipou. Ela tinha um semblante lívido, como se de repente alguma peça tivesse se encaixado, e Blake imaginou o que aquilo poderia significar.

— Blake, qual é a última coisa da qual você se lembra?

Harrington franziu o cenho diante da pergunta. Não era exatamente isso que estava esperando escutar. Mas, bem, sua mente estava uma confusão e, desde que desmaiara nos fundos da sua casa, ela não tinha nada além de um espaço vazio na memória. Depois, se seguia todo aquele pesadelo. O que deveria contar a Savannah? O que era plausível e o que era fruto da sua mente bagunçada?

Blake ainda não sabia.

Mas arriscar a verdade era a única possibilidade para o momento.

— Eu me lembro de desmaiar — moveu os olhos para baixo, para os papéis que havia reunido. Tinha medo de parecer uma louca enquanto contava aquelas coisas, mas sua decisão estava tomada. — Foi mais estranho que isso, na verdade. Tinha um ruído alto, cores fortes e, de repente, eu me senti fraca, mas de uma forma diferente. Algo... mental. Depois disso, despertei aqui no dia, mês e ano errados, e com muitas coisas sem sentido acontecendo de uma só vez. Vocês precisam acreditar em mim, eu não estou maluca. — Suplicou, agora alternando os olhos azuis de forma enfática entre Savannah e Peter. Então, repetiu com mais certeza: — Eu tenho certeza de que não pertenço a esse mundo.

O silêncio que se estendeu não fora longo, mas Blake sentiu como se tivesse durado horas. Ela sentiu o toque gentil de Savannah em seu ombro e percebeu que Peter também se aproximava timidamente, afim de demonstrar apoio.

— Nós acreditamos — disse Evans. — Você não é a única.

O semblante confuso que desenhou um enorme ponto de interrogação no rosto de Blake era uma pergunta silenciosa boa o suficiente para fazer a garota prosseguir.

— O mesmo me aconteceu — Savannah puxou uma das cadeiras giratórias para mais perto, se sentando ao lado da loira. — Eu também me lembro de desmaiar nas mesmas condições que você. Então simplesmente acordei nesse universo, na data errada e com eventos completamente diferentes dos quais eu me recordo.

Harrington piscou algumas vezes. De forma involuntária, ela olhou para Peter. Claro, a heroína já deveria saber o que aconteceria; aquele Peter não tinha a familiaridade de sempre e, quando a olhou de volta, Blake não conseguiu conversar com ele através do olhar. Era assustador não reconhecê-lo totalmente, mas não conseguia evitar buscar o rosto dele todas as vezes que se sentia deslocada. Ao menos o garoto se esforçou para transmitir conforto.

— O que Savannah está dizendo é verdade — garantiu ele. — Você está certa, esse não é o seu mundo.

A boca de Blake ganhou um gosto amargo com a confirmação.

Não era como se tivessem uma solução para aquele problema, então a conclusão não tinha sido exatamente acolhedora.

— Então... estamos perdidas em um outro universo?

Savannah assentiu.

— É a única explicação plausível — falou. — Mas estamos aqui para encontrar uma maneira de voltar para casa. Peter vai nos ajudar a achar um caminho.

Foi a vez de Blake concordar com um movimento de cabeça, sem precisar olhar para Peter para saber que o que Savannah dizia era verdade. Ela confiava nele de forma quase instintiva — seja no seu, nesse ou em qualquer outro universo.

— Tony pode ter algo capaz de nos ajudar — Peter começou. — Só temos que procurar nos lugares certos.

A mente inquieta de Blake a lembrou dos papéis com informações da máquina — mais precisamente, sobre a energia desconhecida e sobre o monitoramento ainda indecifrado. Ela se levantou, surpreendendo a dupla ao seu lado, e caminhou com passos largos até a máquina.

— Eu encontrei essa máquina enquanto fuçava pelo laboratório, ela parece monitorar algum tipo de energia e tem três picos de assinaturas diferentes — ela esclareceu ao notar que não estava fazendo sentido para eles. — Quando eu cheguei, tudo estava desligado, até mesmo a Sexta-Feira, com exceção dessa coisa. — Apontou para a tela. — Vocês não acham estranho também? Tipo, não pode ser só uma coincidência.

Peter e Savannah acompanharam seu raciocínio. Eles se aproximaram, observando também o monitor. O registro continuava o mesmo: três picos, dois próximos e um distante, e três horários distintos acima de cada um. Era um padrão que, até o momento, não havia sido alterado.

— O que vocês acham que pode significar? — Blake perguntou, não aguentando o breve instante de silêncio.

Savannah crispou os lábios, incerta do que dizer. Peter se sentou na cadeira em frente ao monitor. Os três pontos não se moviam, não mudavam de tamanho e o horário registrado acima deles não se alterava. Blake observou quando Parker levou os dedos na direção da tela, tocando no primeiro ponto à esquerda.

Imediatamente a imagem se ampliou com o comando. Savannah e Blake trocaram um olhar intrigado antes de também ficarem mais próximas da tela.

— Um endereço?

— Me parece familiar... — Evans murmurou.

— É a localização da Midtown — Peter revelou, olhando de uma para outra.

Blake franziu o cenho, confusa. Os outros dois pontinhos vermelhos estavam distantes um do outro, em direção opostas, mas um deles se encontrava um pouco mais próximo do primeiro; mais próximo de seja lá o que Midtown poderia representar para a máquina. Imaginou também que não se tratava de uma coincidência.

— Espera um segundo... — ela murmurou, tomando frente para poder ampliar também a assinatura mais próxima do colégio. Ela reconheceu imediatamente o endereço. — Meu Deus.

— O que é? — Savannah correu os olhos pela localização, mas não significou nada para ela. — Blake? — chamou com mais urgência.

— É a minha casa.

Os três se entreolharam, quietos. A situação fez ainda menos sentido. O colégio, a casa de Blake... Qual era a relação entre esses dois lugares? Harrington começava a se sentir cada vez mais sufocada naquele lugar sem perspectiva de resposta.

Ela só queria voltar para a casa. A sua casa de verdade. Aquela que estava a universos de distância, aparentemente.

— Eu despertei na escola — Savannah começou de repente, chamando a atenção dos dois. — E a Blake, na casa dela.

Aura desceu o olhar para a tela mais uma vez, conferindo pela segunda vez o endereço. Uma luz se acendeu em sua mente, acompanhando o que Evans dizia.

— Somos nós... — complementou vagamente, recebendo um aceno positivo de cabeça da morena; era o que ela estava pensando também. Então, Harrington diminuiu a imagem, retornando para a tela em que exibia três pontos distintos. Seu foco retornou para os horários exibidos acima de cada marcação vermelha. — O horário, gente! Savannah, quando você acordou do desmaio?

A garota fez um breve esforço para se lembrar.

— Não era muito mais que nove horas.

— Aqui está marcando nove e quarenta e oito — a voz de Peter finalmente se fez presente, de forma quase aflita. Não era para menos, eles finalmente estavam chegando a algum lugar. — Você me procurou na troca das aulas, já eram mais de dez horas. Bem, faz sentido. Blake, quando você acordou?

— O horário de sempre — respondeu. — Meu despertador tocou às sete e meia.

Exatamente como registrado ali, no visor da máquina. Nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. A resposta estava bem em frente a eles: as assinaturas monitoradas nada mais eram do que a chegada das garotas àquela realidade. Como? Não sabiam. Por que Tony tinha aquela máquina? Ótima pergunta. Ainda assim, o trio encontrou um norte pela primeira vez e decidiram, inconscientemente, se agarrar àquilo como podiam.

Era um esclarecimento em meio a um mar de incógnitas. Um colete salva-vidas para não afundarem ainda mais.

— Eu não sei o que Tony teve a ver com isso, mas a máquina conseguiu captar o pico de energia da chegada de vocês nesse universo — Parker retomou com o conjunto de palavras mais esquisito que Blake já o ouviu dizer. Ainda não parecia real. Engolindo em seco, o rapaz ergueu o olhar para a dupla ao seu lado. Elas já sabiam o que seria dito, de qualquer forma. — A terceira assinatura é como a de vocês, o que significa...

— Que mais alguém veio parar aqui. — Blake concluiu o que já estava claro.

Peter concordou, Blake se calou e Savannah levou uma das mãos até a têmpora, massageando a área. Uma terceira pessoa estava perdida em uma realidade diferente da original, assim como elas. Não poderia ser só uma coincidência. Decididamente tinha algo acontecendo.

— Onde? — Evans perguntou.

Peter aumentou o pico de energia e a localização foi finalmente exposta.

— Boston — informou. — Ela acordou às sete e três.

— Procura onde o endereço leva e qual é o tempo de viagem — Blake sugeriu, cruzando os braços para conter a inquietude que se alastrava por seu corpo. — Precisamos ir até lá ainda hoje.

Peter apanhou o celular no bolso, não levando mais que alguns segundos para pesquisar o local na internet. O resultado foi instantâneo. Franzindo o cenho, o herói levantou o aparelho para que a dupla pudesse vê-lo também.

— É um orfanato — disse. — São mais ou menos quatro horas de trajeto. Como iremos até lá?

— Esse nem é o nosso maior problema — Savannah falou, ponderando. — Quero dizer, como saberemos quem é a pessoa certa?

A dor de cabeça de Blake voltou, agora pelo acúmulo de informações dentro dela. Era como se seu cérebro fosse derreter se tivesse a audácia de pensar sobre qualquer outra coisa, por mais simples que fosse. Ela fechou os olhos para organizar os pensamentos dentro de um raciocínio que fizesse sentido. Ambas as questões eram válidas e, no momento, não tinham solução. No entanto, não era como se pudessem deixar aquilo de lado.

Era mais uma pessoa, na mesma situação que elas: estranhas numa realidade paralela. Tinham que ajudar para, assim, terem chance de voltar o mais rápido possível para casa.

— Precisamos arriscar — falou assim que abriu as pálpebras. — Como Savannah disse, a viagem não é o maior dos nossos problemas, mas, para descobrirmos quem estamos procurando, vamos ter que arriscar. Só... não podemos deixar isso passar.

Savannah foi a primeira a concordar.

— Tony tem diversos carros aqui. Ou pelo menos na minha dimensão ele tinha — se corrigiu. — Nós temos acesso à Sexta-Feira e também ao sistema de segurança, não vai ser difícil conseguirmos pegar um emprestado.

A feição de Blake se iluminou.

— Gênio — replicou. — Já temos nosso meio de transporte. O que você acha, Peter?

Ele olhava para as duas como se tivesse percebido somente agora o nível do problema em que se meteu. Mas elas já tinham decidido o que fariam a seguir, não era como se ele pudesse dizer não ou impedi-las de sair em busca da outra assinatura.

— Se eu disser que essa é uma péssima ideia vocês vão parar?

Em sincronia, elas negaram com a cabeça. Ele apenas suspirou, derrotado.

— Nada como roubar um carro caríssimo e ir a Boston escondido, não é? — Com certo nervosismo, perguntou retoricamente.

Blake deu batidinhas no ombro dele, abrindo um sorriso lateral. Por um precioso segundo, foi como se visualizasse o seu Peter ali... juntos para fazer alguma besteira que com certeza iria colocá-los em problemas.

— Relaxa, o Tony tem dinheiro para comprar outros dez do mesmo modelo — brincou. Então seu estômago roncou, causando nela uma careta. — Mas antes de sairmos em busca da tal assinatura, será que podemos comer alguma coisa? Estou faminta.

Savannah concordou com um resmungo aliviado.

— Achei que nunca perguntariam.

— Então, a Wanda surtou? — Foi Blake quem perguntou, após escutar cada detalhe que Parker relatou. O garoto concordou com um aceno de cabeça, mordendo o lanche. — Tenso.

O relógio da área de alimentação da Torre marcava pouco mais de 13h. Peter estava tentando deixá-las por dentro de alguns dos últimos acontecimentos da dimensão. O tópico Catástrofe Maximoff foi o primeiro, uma vez que a máquina na oficina de Stark tinha algum tipo de relação com a mulher e o questionamento estava fresco na mente das duas jovens. Tony parecia querer encontrar Wanda, talvez para conseguir ajudá-la de alguma maneira. Conviver com um imenso poder não era simples, Blake sabia, principalmente quando coisas ruins aconteciam por sua causa. Pensativa, Aura mordeu mais um pedaço do hambúrguer.

Pelo menos o McDonald's daquele universo era como se lembrava.

— Isso me lembrou de uma coisa meio fora de tópico — Savannah comentou de repente, um sorriso divertido começando a aparecer nos lábios, ao ver que Peter já tinha terminado de contar sobre Wanda. — Por que diabos o Google se chama Gaagle por aqui?

Blake engasgou com o pedaço do lanche ao escutar aquilo, ameaçando explodir em risadas conforme seu cérebro processava o nome esquisito. Gaagle? Que merda é essa? Ela pegou o copo cheio de refrigerante e tomou alguns goles na tentativa de se recompor, apenas para se render ao riso logo depois, totalmente descrente.

Peter franziu o cenho, olhando de Savannah para Blake e de Blake para Savannah.

— Olha, eu que pergunto! — Ele replicou, indignado. — Por que diabos o Gaagle se chama Google na sua realidade?

— Ei, na minha também é assim! — Blake saiu em defesa da garota, da sua dimensão e também do Google. — Gaagle é um nome terrível, soa como uma versão plagiada e ruim do Google.

Parker ficou ainda mais indignado.

— Que mentira! Google é muito mais estranho.

Entrar em um debate sobre nomes de empresas diferentes pelo multiverso não estava em seus planos, mas sem sombra de dúvida ajudou Blake a se distanciar dos pensamentos ruins que vinha tendo desde que acordara ali. Ela estava rindo pela primeira vez em horas. Savannah e Peter decididamente estavam fazendo bem para sua pouca sanidade — afinal, ficar sozinha era de longe seu maior medo no momento.

E isso a fez pensar que mais alguém, num lugar completamente diferente, estava passando pelo mesmo, e entregue só a um mundo desconhecido. Blake sentiu seu coração se apertar mais uma vez e, de repente, o hambúrguer e as fritas não pareciam mais tão apetitosos.

Aquela realidade era um saco.

Savannah e Peter seguiam no diálogo mais estranho sobre Gaagle vs. Google, mesmo sabendo que eles eram a mesma coisa e que não daria em nada. Mas eles estavam se divertindo e Blake imaginou que eles tinham a mesma sensação que ela: finalmente algo para se distrair e poder esboçar uma reação que não fosse confusão ou tristeza.

Ela deixou-se levar de novo por um sorriso bem humorado ao ver uma batatinha voar na direção de Peter, em um suposto ataque vindo de Savannah. Blake mordeu seu último pedaço enquanto escutava as reclamações de Parker e a risada da garota de cabelos castanhos.

— Dois contra um, Peter, você sabe que perdeu — Savannah deu o assunto como encerrado. — A Blake concorda comigo. Google é um nome melhor.

— Sem dúvida — a loira reiterou.

Evans também já tinha terminado e agora limpava as mãos com o guardanapo de papel. O fim do almoço significava que logo mais estariam partindo. Blake sentiu uma dose de expectativa encher seu peito ao repetir o gesto da garota, se livrando da gordura que sujava seus dedos.

— Então é isso — Blake anunciou, olhando para os outros dois. — Está na hora. Quem dirige? — Perguntou, animada, ao se levantar e limpar os farelos que caíram sobre suas roupas. Passando a manga da jaqueta pela boca, a menina continuou: — Teoricamente eu não tenho uma habilitação no meu universo, mas aqui, quem sabe? Considerando que essa Blake já tem 16 anos, se quiserem arriscar...

Blake viu Peter negar várias vezes com a cabeça, quase desesperado, terminando de engolir o último pedaço do seu lanche.

— Não, nem pensar. Eu quero chegar vivo em Boston — ele automaticamente disse, com a boca ainda cheia. — Savannah?

A menina coçou levemente a nuca.

— Pode ser você? — Ela devolveu a pergunta, meio sem jeito, deixando algo implícito pela forma como sua postura passou de tranquila para incomodada em poucos segundos.

Blake percebeu o desconforto da garota sobre o assunto e imediatamente se lembrou do que viu na ficha fornecida por Sexta-Feira mais cedo, mas soube que aquele momento não seria o melhor para perguntas sobre um tópico que, pelo jeito, teria respostas pessoais e traria à tona feridas profundas. Parker deve ter pensado o mesmo, a dizer pela sua postura, pois apenas assentiu e se levantou também.

— Tudo bem, sem problema — ele concordou. — Para Boston, então?

— Para Boston, então. — Blake repetiu.

oi, gente! renata aka mãe da blake aqui. tudo bem com vocês?

em primeiro lugar: feliz ano novo! eu espero que tenham tido uma ótima virada e que o ano de vocês seja maravilhoso, repleto de coisas boas! 😊 merecemos um pouco de paz depois de 2022.

e com o ano novo, veio aí a blake's version dos fatos!

é, gente, finalmente saiu. aliás, perdão pela demora, mas até que valeu a espera, né? como vocês puderam ver pelo tamanho do capítulo — 9k de palavras, vish —, eu me empolguei um tiquinho enquanto escrevia. mas e aí? o que vocês acharam?

o terceiro membro das meninas superpoderosas se aproxima! daqui pra frente é só dedo no cu e gritaria

alguma teoria até o momento? tony sumido, mas de certa forma envolvido nisso tudo... o que será que aconteceu com o pai dessa criançada? a gente vai adorar saber o que vocês estão pensando, hehe

enfim, por hoje é isso. nos vemos em breve!

fiquem bem e se cuidem bastante
💚💜💙

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