Burning Red - Fanfic Percabeth

By JuArchasely

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Convidada para a maior competição gastronômica internacional do mundo, a Chef Chase tem que enfrentar outros... More

Prólogo
Supercut of Us
(Never) Let Me Go
Breaking Down And Coming Undone
Hard Feelings Of Love
Secrets I Have Held In My Heart
What's That Like?
The Feel Of A Perfect Wave
Sacred New Beginnings
I'll Love You Either Way
But You're Quicksand
Beautiful Mistakes
Loving Him Was Red
The One Who Burned Us Down
Maybe I Asked For Too Much
Put My Name At The Top Of Your List
The Memories Bring Back You
Christmases When You Were Mine
Don't Read The Last Page
Epílogo

I Wanna Make You Smile

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By JuArchasely

Annabeth estava chateada - na verdade provavelmente estava mais pra 'fula' da vida, a julgar pelo nível do silêncio em que mergulhou a caminho do quarto da pousada que ela e Percy estavam ficando na cidade de Capri, na Itália. Ele a conhecia o bastante para saber que seu silêncio nunca era algo bom: sua namorada estava sempre tagarelando, cantarolando, brincando e rindo e dizendo mil curiosidades sobre o lugar que eles estavam, principalmente se era um lugar na Itália. Mas ela não tinha dito uma palavra sequer desde que saíram do último apartamento que visitaram naquele dia, e sua expressão estava fechada ao se trancar no banheiro para um banho.

Então, como um bom namorado, Percy fez uma empanada rápida de frango com legumes, a favorita dela, e colocou no forno antes de ligar a TV em um documentário sobre vida marinha que ela adorava e esperar com seu sabor preferido de suco para o jantar. Sempre fazia aquilo quando ela estava chateada, com outras coisas ou até mesmo com ele, já que a acalmava o bastante para conversarem sem gritarem um com o outro. Era o acordo que tinham: sempre abaixar a guarda de quem estava mais bravo antes de começar uma discussão. Annabeth tinha um potinho de corante azul coringa na geladeira caso tivesse que amansá-lo e Percy tinha a receita de empanada.

Em troca, o outro tinha que se permitir ser acalmado antes, então os olhos tempestuosos deram apenas uma encarada longa no cozinheiro antes da Chase sentar na ilha da cozinha, de roupão e toalha no cabelo, para comer, garfada por garfada, dois pedaços bem generosos da empanada.

- O que aconteceu? - uma sobrancelha loira se levantou com a pergunta - Você está brava, e eu não sei porquê. Me conta o que foi, amore - os cílios longos e loiros cobriram a tempestade antes dela suspirar e encará-lo com uma expressão desarmada e mais triste do que brava.

- Seja sincero, Percy... Você não quer se mudar pra cá comigo? Não quer se mudar para a Itália? - confusão se espalhou pelo rosto dele enquanto sentava com cuidado no banquinho ao lado e de frente pra ela.

- Por que está perguntando isso, amor? - mais um suspiro, e ela desviou o olhar dele para o prato, cutucando algumas migalhas com as pontas do garfo.

- A gente está aqui pra olhar apartamentos Percy. Passamos a semana inteira visitando, vimos uns vinte, e você nunca fala nada. Não dá uma opinião, não faz uma crítica, um elogio. Não diz se gostou, se não gostou. Caramba. Parece que você não quer vir morar aqui. É essa a impressão que fica - ele piscou algumas vezes antes de expirar o ar para fora dos pulmões, apertando a mão dela entre as suas - Se você não quer vir, tudo bem... só me diz, sabe.

- Ah, cuore mio... - ela preferia que ele não começasse com os apelidos em italiano, porque Percy sabia que a derretia, mas ela não queria abaixar as guardas pra se machucar quando ele dissesse que mudou de ideia - Me perdoa. Eu não sabia que estava te fazendo pensar isso, eu... - suspirou - Eu te pedi em casamento para virmos pra cá, pra você não vir sozinha... é claro que eu não mudei de ideia.

- Então o que é? Por que você nunca diz nada? - foi a vez dele suspirar, abrindo um meio sorriso.

- Porque pra mim, se tiver uma cozinha incrível, e você comigo, o resto não importa - esperava que ela sorrisse com aquilo, mas a loira torceu os lábios.

- Tem que importar, Percy. É pra ser nossa casa, nosso lar, onde vamos passar a vida depois de nos casarmos. Tem que importar - então se arrependeu do tom ríspido, e o californiano a viu murchar, olhando para ele - Eu só quero escolher um lugar, logo. É tão exaustivo fazer isso sozinha... - ele assentiu, apertando a mão dela - Eu sei que você não gosta, que não liga muito. Mas eu ligo. E... quanto mais rápido acharmos um, mais rápido podemos vir pra cá. Estamos esperando só isso pra marcar a data do casamento. Só to pedindo pra me ajudar, um pouquinho, só agora. Eu cuido do resto, mas não vou fazer essa escolha sozinha.

- Tudo bem - Percy assentiu, colocando a mão na nuca dela, e puxando a cabeça loira para seus ombros, beijando seus cabelos - Quantos mais temos pra ver? Prometo que vou falar da vista do nosso quarto, do tamanho da varanda e se o estilo de decoração é jônico demais. Eu não gosto muito desse tal de jônico - ela finalmente riu, e passou o braço pela cintura dele.

- Só falta mais um. Amanhã. Ele parece ser legal - inclinou os lábios, mais manhosa que triste, agora - Se a gente decidir por ele, da próxima vez que viermos pra cá, vai ser pra nossa casa nova. Sem mais visitas.

- Só uma? Mas a gente não vai ficar até o fim de semana? - o sorriso dela se alargou enquanto se afastava, com aquela expressão conspiratória.

- Então... lembra da nossa viagem de um ano de namoro? Pra Mônaco? - ele assentiu - Então... eu contratei um helicóptero pra levar a gente lá. Vamos passar esses próximos dias, e no domingo voltamos. A tempo de passar o Natal com nossa família - as sobrancelhas negras se ergueram em surpresa.

- Sério? - Annabeth assentiu, sorrindo ainda mais quando viu a animação dele.

- Podemos ir naquele restaurante que você gosta perto da praia, assistir a alguma peça de teatro... Só temos que ver um último apartamento, e acabou. Eu sei que não é sua programação favorita, queria... te animar um pouco, no final - isso o fez se sentir meio culpado, mas a beijou com intensidade, sem acreditar que aquela mulher era mesmo sua noiva. Que passaria a vida ao lado dela.

- Você é incrível, meu amor. Me desculpe por te desanimar, mas amanhã vamos ver esse apartamento, e eu prometo não te deixar sozinha nessa - ela sabia que ele falava sério, e o abraçou antes de servir outro pedaço de empanada para os dois, feliz com a promessa não apenas dos dias seguintes, mas de toda uma existência compartilhada com o homem que ela amava profundamente.

"Oh, I could be the man growing old with you"

***

Annabeth detestava ficar sozinha em um dia como aquele. Sol e vento fresco, e toda a rua à sua disposição para passear e fazer compras e se divertir, mas não gostava muito de se divertir sozinha, gostava de companhia. Mas Piper tinha pedido o dia de folga para fazer Deus sabia lá o quê, e ela estava nas ruas de Mônaco sozinha com os próprios pensamentos e um monte de memórias conflitantes que se batiam juntas desde que Percy tinha ido ao seu apartamento.

Não queria pensar nele, não queria pensar na forma como tudo nele ainda fazia coisas com ela. Aquela risada, o olhar suave, o inclinar dos lábios, o tom de voz que ela simplesmente amou por anos. Cada detalhezinho tão impresso em sua memória que tinha demorado muito tempo para se livrar. E ainda assim, não conseguia olhar para o mar sem vê-lo, sem sentir falta.

Estava fazendo uma burrice. Provavelmente a maior burrice da sua vida, mas... Não era porque tinham terminado que ela não poderia conversar ou até passear com ele. Não precisava manter um raio de vinte metros, ou evitar olhar para aquele rosto bonito que estava envelhecendo como vinho e provavelmente ficaria infernalmente ainda mais bonito dali a dez anos. Não... ela não precisava.

Foi por isso que se viu digitando aquele número, o número que tinha deletado da agenda, mas não tinha adiantado, porque ela sabia de cor, e digitou e apagou tantas e tantas vezes que ficou gravada em sua mente como se tivesse sido fundida a ferro. Pelo menos esperava que fosse o mesmo número.

- Alô? - o coração dela disparou enquanto encarava as ondas quebrando na costa com um longo suspiro.

- Oi, Percy.

***

O Jackson não entendeu direito o que aconteceu. Estava bem, de perna pra cima no flat, comendo petiscos, assistindo um filme aleatório na TV, e então o telefone tocou com a última voz que ele esperaria do outro lado. Não sabia porque Annabeth o tinha convidado e, pior, não sabia porque tinha aceitado. O fato é que agora estava ali, no mesmo mercado em que a tinha visto semanas antes. Só que agora, ele queria encontrá-la.

E a viu na vitrine de uma loja de pequenas bugigangas, provavelmente olhando algo para levar para casa: um utensílio de cozinha novo para Nonna, ou algo interessante e curioso para Frederico, talvez. O tanto que amava encher suas geladeiras de comida gostosa, adorava mimá-los com presentes, coisas pequenas e grandiosas, principalmente fora de datas especiais. Era como ela era. E era bom ver que alguma coisa tinha permanecido a mesma quando podia ver tantas mudanças nela.

E foi essa lembrança que o impediu de se aproximar rapidamente. A lembrança de ficar encarando Annabeth com um roupão, ou ficar olhando de longe, sem muito tempo para absorver e se surpreendendo quando ela fazia algo novo. Se ele quisesse estar no mesmo lugar que ela, não poderia paralisar, ou ficar olhando pro rosto dela, ou ficar preso na forma como o corpo dela ficava naquele vestido leve de verão, que por acaso estava muito lindo nela e... droga. Estava fazendo de novo. Era esse tipo de coisa que não podia fazer na frente dela.

Então se deu um tempo para absorver o que mudou, observando de longe, o bastante para ver sem ser visto. Começou pelo rosto, mais maduro, menos de menina, mais corado pelo sol, também, como se ela fosse mais à praia em Capri do que na Califórnia. Talvez fosse. Os horários da Itália eram muito menos loucos que os americanos. Ela tinha umas pequenas sardas de perto, ele sabia, que saltavam ao sol. Tentou colocá-las na imagem mental, junto com a maneira como ele gostava que o cabelo mais curto suavizava sua expressão. Parecia mais gentil, menos com a armadura que ela vestia.

E o corpo dela... Percy se deu um tempo pra admirar como ela estava linda antes de trancar aqueles pensamentos para fora. Na verdade, a palavra que costumava sussurrar contra a pele dela era gostosa, que fazia muito jus ao que era, mesmo que a moda vigente não a considerasse exatamente um padrão. Na verdade, se tinha uma coisa que ele amava na Chase - e elas eram várias - era que ela realmente parecia amar o que via no espelho.

O Jackson tinha visto algumas amigas lutarem com o peso e a autoaceitação do próprio corpo, e não fazia ideia de como era difícil, só podia imaginar. Mas isso o permitia saber que ela era forte por conseguir entender que era linda de qualquer jeito, sabendo que às vezes perderia ou ganharia peso a depender da rotina e de todo o estresse. Não se privava de amar a comida e do prazer de comer em momento algum por isso. E ele também a amava de qualquer maneira, nunca tinha conseguido pensar em algum contexto em que não a desejasse, mesmo agora, quando era tão inconveniente.

De fato, ele até estava satisfeito em vê-la no que ele sabia serem vários quilos a mais do que a última vez que a viu, porque tinha assistido a Annabeth definhar naqueles últimos meses. O estresse, a tristeza... tinham tirado o melhor dela. Ela pulava refeições por ansiedade, e não conseguia ver graça nem nos seus pratos favoritos. Assava bolos que não chegava a experimentar. Todas as vezes que algum parente a elogiava por ter emagrecido, a loira revirava os olhos como sempre fez, mas algo dentro dele queimava por saber o motivo daquilo.

Agora... ela continuava linda e, o que era melhor, parecia saudável, feliz, e ela mesma de novo. Tinha levado a ele algum tempo para absorver, depois que ela foi embora, o tanto que aquele período a derrubou. Os meses em que tudo desmoronou. Foi quando aceitou que ela estava melhor sem ele. E imaginava que ainda valia para aquele momento. Annabeth parecia muito melhor sem ele.

- Com saudade da minha ilustre companhia, Chase? - finalmente se aproximou, com um sorriso tranquilo, as mãos dentro dos bolsos da calça jeans. A chuva tinha deixado um frio suave, e ainda assim, ela parecia muito confortável com o vestido de alcinhas e estampa de girassóis ao desviar o olhar da vitrine para ele, analisando-o por um momento.

- Tá mais pra não ter companhia nenhuma além de você, Jackson - devolveu o sorriso espertinho - E você aceitou. Está tão sem companhia quanto eu - ele estava. E a ideia de vê-la novamente... não era isso a única coisa que ele tinha desejado por anos? Últimos momentos com ela? - Tava pensando na gente descer pra costa, comer no restaurante de lá, ver o sol se pôr... tanta coisa pra fazer nessa cidade, mas eu acabo presa às mesmas manias.

A mesma rotina que tinha com ele quando estiveram ali. A ideia era agridoce, mas...

- Só se você me disser que aquela loja de suco ainda existe no caminho. Eu estou doido por um daqueles, hoje - o rosto dela se iluminou enquanto inclinava a cabeça.

- Vamos. Se eu não me engano, eles ainda vendem o seu sabor favorito.

***

Andar com Percy era ter a certeza de nunca andar em linha reta. Depois de passarem na loja de suco, Annabeth teria ido diretamente para a costa, mas ele se distraiu com uma apresentação de rua, e então parou na feira, onde não apenas conversou com todos ali, como saiu comprando e ganhando pequenos quitutes ou provas de frutas que ia comendo no caminho com aquele sorriso galanteador que ela tinha que tomar muito, muito cuidado para não atingi-la. Poderia ter sido uma péssima ideia, chamá-lo, quando seu coração balançava daquele jeito.

Mas tinha ficado um passo atrás dele, observando-o ser aquela pessoa encantadora, sorrindo enquanto fazia malabarismo com frutas para um grupo de crianças. Tentou demais não sentir aquele quentinho no peito ao ver aquilo, a nostalgia de estar ali como sua namorada, como sua noiva... não queria mergulhar naquilo de novo, mas não conseguia evitar. Era fascinante demais pra não se envolver, para permanecer indiferente. Tinha que existir uma possibilidade de vida em que ele não tivesse que estar tão longe... talvez aquele fosse o começo disso. De terminar de curar as cicatrizes e aceitá-lo como o amigo incrível que ele poderia ser. Isso se ele a aceitasse, também.

Desistiram do restaurante ao pisar na areia da praia, segurando os sapatos nas mãos, com um picolé de coco nas mãos, que Percy tinha insistido em comprar para os dois. Um jantar seria demais, esse foi o acordo tácito e silencioso. Seriam lembranças demais... não faria bem. Mas o entardecer na praia, enquanto molhavam os pés na água rasa... é, conseguiam gostar daquilo.

- Não consigo acreditar que Grover, o seu Grover, está administrando três restaurantes ao mesmo tempo. Ele sempre disse que queria fugir da cidade e ter uma horta no interior! - não tinham muitas conchas naquela praia, mas Annabeth catava pedrinhas bonitinhas, coloridas e lisas. Tinha uma coleção em casa, todas datadas, e tinha a impressão de que iria querer uma lembrança daquela tarde.

- Ele tem a própria horta. Cultivamos o máximo que conseguimos, e quase todos os ingredientes que usamos nos restaurantes. Mas ele se encontrou fazendo os restaurantes funcionarem, coordenando os funcionários. Todos sabem que eu prefiro estar dentro da cozinha do que rodando os meus restaurantes e cuidando que tudo esteja bem. Com o meu primeiro tinha sido mais fácil, mas quando Jason conseguiu expandir tudo... Ele foi incrível, e logo eu estava com dois outros Atlantis na Costa da Califórnia, mas... Começou a ficar pesado e eu não fazia o que eu queria, então deixei Grover administrar, e ele tem feito tudo muito bem. Mas ainda é o Jason que faz tudo crescer.

- Ele parece muito com Piper - ela sorriu, guardando o palito de picolé na bolsa, assim como umas duas pedrinhas mais bonitinhas - Ela cuida da minha imagem. Abriu uma empresa, há uns dois anos, e vive viajando, fazendo eventos, com a equipe dela, de divulgação tanto de restaurantes, quanto de cozinheiros, em específico. Acho que, se não fosse por ela, não estaria no Kitchen Gods, hoje.

- Digo o mesmo sobre o Grace - assentiu, pensando que não tinha nenhum tino além do carisma, e que o loiro tinha se aproveitado disso; e tinha visto as redes da Chase, também. A McLean sabia ver o equilíbrio entre a suavidade e a personalidade intimidadora da amiga, e trabalhava aquilo muito bem, principalmente agora, durante a competição - Engraçado, porque eles são formados em coisas tão diferentes, e hoje fazem os mesmos trabalhos. Ele também viaja muito, vários restaurantes contatam ele para divulgar seus maiores eventos.

- É, acho que eles se dariam bem, juntos... - encolheu um ombro, e então fez aquela expressão de quem estava pensando, que o Jackson conhecia muito bem - Onde você disse que Jason foi, hoje?

- Ah, sei lá, acho que foi em alguma peça de teatro, algo do tipo? Não sei, os hotéis em Monte Carlo têm um monte dessas coisas, não têm? Tirou o dia de folga, hoje - ela piscou algumas vezes, diminuindo o passo.

- Peça de... Dio mio! - só então o californiano percebeu que ela estava ficando para trás, e tinha os olhos arregalados, chocada com alguma coisa; a mente da loira estava a mil, processando desconfianças dos últimos dias, mensagens e ligações misteriosas, a falta de negações da amiga quando sugeriu que ela estava saindo com alguém... - Eles estão juntos! Como eu não percebi isso antes? Eles sempre furam com a gente no mesmo momento... Caramba, Piper e Jason estão saindo juntos!

- Quê? - a encarou, confuso - Como assim eles estão juntos? Tipo... agora? - ela revirou os olhos, colocando as mãos na cintura daquele jeito que o fez criar o apelido de sabidinha, porque era sua pose de "eu sei do que estou falando, seu bocó".

- É, agora, também. Mas estou falando... romanticamente. Ela e Jason estão tendo um caso - suspirou quando o cozinheiro pareceu ainda mais confuso - Olha, tem semanas que eu tô achando que a Piper tá saindo com alguém, ok? E nós dissemos: eles se parecem muito, têm profissões parecidas. Podem, sei lá, terem se encontrado em alguma das várias viagens, e aí rolou. E é muita coincidência eles pedirem folga no mesmo dia para verem teatro. E naquele dia, na lanchonete, eles dois marcaram com a gente no mesmo lugar, e não foram.

Ela gesticulava, empolgada, e ao mesmo tempo, frustrada, por ele não estar acompanhando.

- Você está sugerindo que Piper, sua melhor amiga, está saindo com Jason? - Annabeth assentiu de forma enfática - Cara, isso é tão... Eles não dariam certo. O Jason ia encher o saco dela até ela matar ele afogado. Ele é insuportável!

- Eu não matei você afogado - ergueu uma sobrancelha loira, com as palavras implícitas sobre a personalidade dele flutuando entre os dois - Na verdade, eu acho que eles combinam muito. Ela precisa de alguém que a peite, de vez em quando.

- Você tá viajando. Eles não estão juntos - agora era questão de honra, e de manter os olhos no lugar certo nas órbitas, pois parecia que poderiam ficar presos olhando para o cérebro, se os revirasse mais alguma vez.

- Eu não estou louca. Piper tem trocado mensagens com uma pessoa, e ela está saindo com alguém, Percy. Eles estão juntos, com certeza - o moreno cruzou os braços, incrédulo.

- Isso pode não significar nada. Não quer dizer que é o Jason. Pode ser qualquer pessoa - como poderia ser tão cego? A loira suspirou, exasperada. Não acreditava tanto quanto ele que coincidências eram apenas coincidências. Nada era tão ao acaso, assim.

- Pois eu aposto cinquenta pratas que eles estão juntos - os olhos verdes semicerraram enquanto um sorriso meio divertido se abriu no rosto do californiano.

- Isso é vício, sabia? - foi a vez dela de cruzar os braços.

- Isso quer dizer que você não vai entrar? - tinha que segurar os lábios bem firmes para não se inclinarem, porque ela o conhecia. Nada tirava a competitividade de Perseus Jackson, ou a impetuosidade diante de um desafio tão claro. Ele demorou um pouco para responder, reticente, e então suspirou.

- Aposto cem que eles não estão juntos. Você tá doidinha - não gostou da forma como o sorriso dela se alargou em uma vitória que já tomava como garantida quando deram as mãos, selando o acordo. E quando ela deu as costas, chutou a lâmina fina de água, fazendo as gotas voarem nela.

- Ei! - havia uma expressão indignada em seu rosto ao se virar, e um desejo de vingança ao se abaixar, e usar as mãos para mandar uma quantidade muito maior de água na direção dele, molhando sua camisa sem um único sorriso.

- Ah, você não fez isso... - agora havia um sorriso ali, ao perceber que ele vinha se aproximando em sua direção - Vou fazer você se arrepender, Chase.

- Não se eu for mais rápida, Jackson - ela correu para a areia, longe da água, e Percy foi atrás. Mas não fez questão de pegá-la e molhar o vestido de verdade, ou até de carregá-la para o mar, como faria no passado. Imaginava que aquela linha estava muito longe pra ser ultrapassada, mas... Estava feliz com as outras que eles haviam vencido naquele dia.

***

O pôr do Sol era simplesmente lindo em Mônaco, um tom de vermelho bonito, que iluminava o caminho de volta para o apartamento onde Jason e Piper estavam ficando, onde iriam, também, passar o resto da noite curtindo o final de folga que tinham negociado com os clientes e amigos.

Havia algo gostoso em andar de mãos dadas com ele pela rua, coisa que não tinham muita oportunidade por viverem sempre tão distantes, mas se tudo corresse bem... poderiam passar a fazer muito mais. Jason podia fazer o trabalho de vários lugares, assim como ela, e os planos, na verdade, eram do loiro se mudar ou para alguma cidade no interior da França ou da Itália no ano seguinte. Estava cansado da Califórnia, e mais cansado ainda de estar tão longe dela. Um oceano de distância era demais para suportar o relacionamento dos dois quando ele não queria distância alguma.

- Sabe.. preciso te contar uma coisa. Não fica brava comigo - os olhos coloridos desviaram para o namorado enquanto o estômago dela revirava. Esse era o problema de viver como uma espiã internacional. Parecia que todos os anúncios a faziam suar frio, com medo de algo dar errado.

- O que foi, Jay? - não gostou da hesitação dele, ou como passou o braço por seus ombros, evitando olhar para o rosto dela.

- Eu contei da gente pros meus pais - não estava surpreso com o choque dela, mas Piper... a coitada tropeçou e quase caiu no chão. Como assim ele tinha contado dos dois para a família? Ela ainda não tinha contado para ninguém!

- Jay, a gente tinha combinado...

- Que não íamos mais guardar segredo daquela forma de novo - sim, sim, mas...

- A gente nem contou para nossos amigos! - o loiro parou, forçando a de leve a parar, também. Os olhos dele eram de seu tom de azul favorito, e o rosto era o que dominava seus sonhos mais perfeitos, dormindo e acordada. Apesar de tudo, de todos os problemas, ela sempre sabia que Jason era a resposta a todas as suas perguntas.

- Eles são nossos amigos, não família - se arrependeu daquilo ao ver a expressão da garota, que considerava os Chase mais família que a própria - Não, me desculpa. Não é isso... É que Annabeth e Percy... Eles ainda precisam lidar com as questões entre eles. E eu não gosto que minha família não saiba. Eu contei a eles, só por cima, e depois nós explicamos a história completa, ok? Mas precisamos dar esses passos - não disse o verdadeiro motivo de ter realmente contado, mas não mentiu em nada daquilo - Eu queria que soubessem quem é a mulher que eu amo. Não acha justo?

- Não é que não seja justo - ela balançou a cabeça, suspirando, sentindo aquela coisa ruim no peito que pressionava sempre que lembrava o tanto que estava escondendo, o quanto ela tinha escondido, e o medo do que aquilo poderia fazer com o relacionamento deles; a distância tinha sido algo físico, mas o segredo tinha aberto um abismo emocional intransponível entre os dois - É que eu não consigo pensar em contar sobre nós para meus pais antes de contar para Frederico e Atena. E não posso contar aos dois sem contar para Annabeth, primeiro. Me sinto meio presa.

Não percebeu que poderia chorar até a voz sair sufocada na garganta estreita, e a próxima coisa que sentiu foi o peito do namorado contra o rosto, seus braços ao redor dela em um abraço apertado.

- Eu não quero que as coisas deem errado de novo. Eu sinto que estamos sempre a um passo em falso de magoar nossos amigos, ou de... - ela nem conseguia usar a palavra terminar. Fazia um tempo que não via a vida sem o Grace, embora tivesse tentado negar, fingir para si mesma tão, mas tão bem, que mal tinha sentido seis dos doze meses em que ficaram separados. Estava bem, se convenceu, acharia outra pessoa, e eles seguiriam em frente. Só não queria mais isso. Não queria seguir em frente e superar sua história com Jason.

- Nada vai dar errado, amore mio - sussurrou, e as lágrimas nunca chegaram a cair, acalentadas por aquele carinho - Olha, Percy e Annabeth estão se dando melhor, não estão? Não vamos demorar nadinha de contar a eles. Só precisam de um tempinho, para curar, para se acostumarem um ao outro de novo antes de receberem a notícia de que podem se esbarrar por aí nos encontros de família por nossa causa. Vai ser impossível deixar todo mundo separado do jeito que está agora.

Ele estava certo. É... só mais um tempinho. Piper poderia sobreviver, embora parecesse ficar perto de explodir sempre que queria desabafar com a melhor amiga - quase uma irmã - mas não podia. Não era falta de confiança, sempre foi medo de machucá-la mais do que já esteve, medo de que voltasse a um lugar ruim, e para o loiro foi o mesmo. Se convenceram de que não era tão sério o que tinham, e então não precisavam preocupar os amigos. Agora... não tinham mais a desculpa.

- Certo. Desculpa por... isso - sabia que ele não tinha levado para o pessoal por seu sorriso, e pela forma como ofereceu a mão para continuarem andando de volta ao apartamento; então desistiu daquilo e a puxou para perto pela cintura, ao que ela retribuiu, abraçando-o - Será que dá pra gente lidar pra sua mãe, depois? Eu ia adorar falar com ela.

Ela ofereceu já esperando aquela expressão brilhante e satisfeita ao concordar, e sorriu de volta. Estavam construindo o começo do resto da vida deles... deveriam fazer do jeito certo, dessa vez.

***

Mesmo que Annabeth insistisse que não precisava, Percy a acompanhou até o prédio - melhor, subiu com ela pelas escadas até o apartamento, deixando-a completamente sem graça ao abrir a porta, sem saber se deveria convidá-lo para entrar, ou não. A tarde tinha sido legal. Tinham se divertido, e conversado sobre vários assuntos, trocado um monte de histórias do tempo em que estavam separados, mas ainda tinham algumas coisas que pareciam fora de alcance.

Assim como conversar sobre o antigo relacionamento deles - de qualquer forma mais profunda do que menções rápidas e distraídas que levavam a minutos de constrangimento silencioso - parecia fora de cogitação, convidá-lo para entrar também não parecia uma escolha acertada.

Então abriu a porta com o maior sorriso que pôde ensaiar e se virou para se despedir, perdendo o fôlego e as palavras com o olhar tão intenso dele em sua direção. Será que ele sempre tinha que encará-la assim? Não podia fingir que não estava tentando ler toda a sua alma com um olhar? Piscou algumas vezes, tentando reunir as palavras que tinham se embaralhado em seu cérebro em sílabas desconexas, mas foi ele quem quebrou o silêncio.

- Obrigado por ter me chamado, Chase. Foi... foi divertido - ele pareceu querer encerrar ali, mas mudou de ideia bem quando ela abriu os lábios para respondê-lo - Eu... provavelmente não deveria dizer isso, mas.. Senti sua falta, sabe? - o tom dele se tornou mais rouco ao dizer aquilo - Hoje foi incrível, e eu realmente não sabia o quanto eu sentia sua falta.

Agora ele podia muito bem ter jogado todas as palavras e sentimentos dela em um liquidificador e girado o botão para o máximo. Annabeth não estava esperando por aquilo. Não que ela não achasse que ele não sentiria saudades, quando foi embora, era apenas... não esperava tanta sinceridade. Não naquele exato momento. E na falta das frases prontas que tinha ensaiado, seus desejos e pensamentos mais profundos acabaram ocupando o espaço abandonado.

- Sabe... eu fico me perguntando... - não conseguiu terminar a frase, e Percy percebeu o quanto ela parecia perturbada; se perguntou se não deveria ter dito nada, se a teria forçado, agora, a fingir corresponder aquela saudade quando provavelmente tinha chegado à mesma conclusão que o californiano: que ela ficava melhor sem ele - Eu fico pensando se a gente não poderia... - se forçou a reformular, parecendo perdida - Quero dizer, não é porque a gente terminou... Será que não existe um jeito... - suspirou, desistindo, os olhos já arredondados e grandes pareciam crescer como os de um filhote triste - Eu também senti sua falta.

O Jackson não tinha controle do próprio corpo, porque tinha passado o dia evitando tocá-la, mas lá estava a mão no ombro da loira, o polegar teimoso acariciando o lugar. Era só um reflexo do quanto seu interior gritava para abraçá-la, porque mesmo depois de anos, aquela expressão triste da Chase ainda fazia seu coração gritar para protegê-la. Não queria aquele sentimento no rosto dela... e entendia bem o que cada palavra não dita significava.

- Eu acho que existe, Annabeth... pode existir - ela quase sorriu ao perceber que ele a ainda entendia sem que precisasse dizer tudo o que queria dizer - Talvez a gente possa, sei lá... - encolheu os ombros, porque também não sabia em que categoria se encaixava uma ex-namorada depois de anos tentando superá-la - Nós temos tempo para descobrir. Temos até o fim da competição, não é? Ou pelo menos até um de nós ser eliminado e ter que ir embora. Podemos tentar.

Silêncio enquanto ela pensava. Um silêncio que não era confortável ou incômodo. Era um silêncio de mudança. Era estranho pensar que tinha passado quatro anos tentando apagar tudo dele dentro dela para não sofrer, e agora estava, por vontade própria, sugerindo que tivessem algum tipo de amizade. Bem.. ele estava certo: não sabiam quanto tempo aquilo duraria. Eles poderiam resolver as questões entre eles, ficar bem melhores do que estavam antes, e... quando o tempo acabasse, seguiriam a vida como sempre. É... ela achava que ficaria bem tendo aquela última chance de passar o tempo com ele.

- Tudo bem. Podemos... tentar. Até você ser eliminado e precisar voltar pro seu país sem gosto culinário - sorrir foi praticamente automático com a provocação dela, e cruzou os braços, encostando o quadril no batente da porta.

- Tão certa de que vai vencer, loirinha... tsc, tsc - o canto dos lábios dela se inclinou em resposta, o lado sem a covinha, o que acabou decepcionando-o um pouco. Gostava de vê-la sorrindo o bastante para que aquele pequeno sinal aparecesse. Um silêncio pairou entre os dois por alguns instantes de novo. Estranho. Muito estranho. Percy suspirou, e decidiu que estava na hora de ir embora, se empurrando da parede e afastando um passo - Então... Te vejo por aí, Chase.

- Até, Jackson - o coração dela martelava ao fechar a porta... mas parecia bater com mais espaço e leveza do que esteve por muito tempo, longe da jaula em que havia ficado trancado por quatro anos.

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