Burning Red - Fanfic Percabeth

Bởi JuArchasely

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Convidada para a maior competição gastronômica internacional do mundo, a Chef Chase tem que enfrentar outros... Xem Thêm

Prólogo
Supercut of Us
(Never) Let Me Go
Breaking Down And Coming Undone
Hard Feelings Of Love
Secrets I Have Held In My Heart
What's That Like?
I Wanna Make You Smile
Sacred New Beginnings
I'll Love You Either Way
But You're Quicksand
Beautiful Mistakes
Loving Him Was Red
The One Who Burned Us Down
Maybe I Asked For Too Much
Put My Name At The Top Of Your List
The Memories Bring Back You
Christmases When You Were Mine
Don't Read The Last Page
Epílogo

The Feel Of A Perfect Wave

950 105 170
Bởi JuArchasely

Percy poderia - na verdade, estava mais para deveria - seguir em frente sem dizer uma palavra. Annabeth não falava direito com ele há quase duas semanas, não tinha lhe dirigido uma palavra no dia das entrevistas, na semana anterior, e ele não julgava. Se ela queria manter uma distância adequada e não se envolver com ele mais do que o necessário para aquela competição, ele respeitaria.

Mas não conseguia vê-la daquele jeito e ficar parado.

Annabeth parecia perdida. Atordoada, na verdade. Olhava para o chão e andava de um lado para o outro como se tivesse procurando algo, e pelo movimento de seus lábios, o Jackson sabia que ela estava conversando consigo mesma, como sempre fazia quando tinha algum problema que não conseguia resolver. Ele não podia ficar apenas olhando.

- Annabeth? - ele queria ter avisado antes de se aproximar, dar um sinal, ou algo assim, porque a primeira reação da Chase a alguém tocando-a de surpresa, era acertar um tapão com as costas das mãos, o que acabou pegando na lateral do rosto dele, com um estalar - Au! Poxa, Chase, sua mão ainda é pesada, hein?

Os olhos acinzentados se arregalaram na direção dele, perturbados, e então mudaram para reconhecimento, se desculpando imediatamente, e então reclamando por ele chegar tão de repente. Aquela era sua Annabeth, e a familiaridade da bronca, enquanto dizia que "você sabe que eu odeio sustos, Percy, não devia ter se aproximado desse jeito!", o fez quase sorrir, os cantos dos lábios se erguendo enquanto colocava as duas mãos nos ombros dela, acalmando aquela hiperatividade que ela tinha quando estava meio obcecada por algo que não sabia consertar.

- O que houve, Chef Chase? - a nostalgia daquela frase, que dizia mais vezes do que conseguia lembrar durante o período em que trabalharam juntos o pegou pelo peito - O que aconteceu?

- Eu... eu acho que perdi ela, Percy - ele a encarou, confuso - A pulseira. A bendita pulseirinha da sorte. Eu nunca a tiro, e ela simplesmente sumiu! Não encontro em lugar nenhum- ah, agora começava a fazer sentido. Estava meio aliviado por não ser algo pior, pela forma como ela estava.

- Você perdeu a pulseira - revirou os olhos para a expressão irritada dela por ele estar apenas repetindo o que disse. E pelo tom um pouco... sarcástico? Ela ainda sabia dizer quando ele não a estava levando a sério.

- É, Percy, eu perdi a minha pulseira da sorte. Eu sei que é uma besteira, mas... - suspirou, o olhar ficou triste, novamente. Por algum motivo, o mesmo sentimento que se enlaçou ao coração dele quando a viu mexendo no pingente em seu pulso, durante a prova, mesmo depois de tanto tempo, simplesmente apareceu de novo, sem pedir qualquer permissão. Sem perguntar se ele queria sentir aquilo, se queria sentir a brisa ao redor daquele órgão que tinha mandado adormecer. Principalmente perto dela.

- Você sabe que não precisa dela, não sabe? Era uma cozinheira foda quando eu te conheci, antes dela. Você não precisa disso - Annabeth encolheu um ombro, mordendo o lábio inferior. Ficava adorável fazendo aquilo. Uma vulnerabilidade na armadura que vestia, assim como carregar um pequeno amuleto da sorte pra cima e pra baixo mesmo que fosse completamente desnecessário.

- Eu sei disso, é só... é minha pulseira - e assim como sua avó tinha o avental preferido da sorte, sua mãe tinha uma caneta, e Malcom uma régua que usava para todos os trabalhos dele desde novinho. Era algo de família, e ele sabia, sabia que ela tinha uma touca da sorte antes de ter a pulseira, e que não participava de competições ou entrevistas importantes sem ela - Eu não queria perdê-la. E entrar na prova sem ela... - soltou outro suspiro, e um canto dos lábios do Jackson se inclinou enquanto alcançava o próprio pulso.

- Toma, usa a minha durante a prova. A gente acha a sua, depois - tirou a pulseira, que era igual à dela -a mesma trança de couro, com um pingentinho circular no meio, só que com a letra S encravada - e a estendeu na direção da Chase, que recuou um passo, confusa - Vamos, pega.

- Mas é a sua pulseira, você... - ela empurrou a mão dele de volta.

- Eu não a uso para dar sorte - empurrou de volta, e então ela tentou recusar de novo, fazendo ele segurar a mão dela - Vamos, Chase, pega ela logo - antes que a loira pudesse prever, passou a mão dela pelo círculo formado pela pulseira, e puxou as pontas, apertando-a - As duas foram feitas do mesmo jeito, Vai te dar sorte, também. Não que você precise, eu sinto que preciso repetir, já que insiste nesse absurdo.

Um infinito em um pequeno espaço de tempo preso naquele maldito olhar. A confiança que ele tinha nela, os elogios que vinham facilmente. Annabeth precisou soltar a própria mão da dele, sentindo a pele queimar, sentindo o coração acelerar de um jeito que não poderia, não deveria... Era só o Chef Jackson. Que também tinha sido o amor da sua vida.

- Acho que eles querem que a gente entre - foi a voz dele que a tirou do transe, ouvindo as vozes da equipe convocando para a gravação. Assentiu, colocando mais três passos de distância. Aqueles não pareciam o suficiente.

- Obrigada... Eu... te devolvo depois - tentou parecer tranquila e inabalada com o sorriso dele, mas seu coração ainda palpitava quando se pôs a fazer os pratos daquele episódio.


***


O barulho de crianças brincando e gritando era tão presente quanto o barulho do mar naquela tarde. Um dos vários festivais de uma das cidades costeiras da Califórnia, um pouco mais distante do restaurante em que trabalhavam, e bem mais perto da casa da família Chase, que era uma das patrocinadoras do festival.

Annabeth tinha passado a tarde assistindo Percy ensinar crianças a fazerem pizzas, satisfeita com o papel de assistente dele, porque não era tão boa com crianças, e porque vê-lo sendo tão incrível com aqueles pequenos seres humanos mexia com ela em um nível muito profundo que mal se permitia admitir. Achava que talvez fosse cedo demais para dizer ao namorado que o imaginava sorrindo daquele jeito para o futuro filho deles, então ficava caladinha.

Depois que o horário dele na barraquinha de pizzas passou, acabaram se separando para ver as outras coisas, e a loira voltou com um sorvete azul envolto de uma nuvem de algodão doce. Culpava o namorado por aquele estranho gosto por comidas azuis. Era uma mania meio maluca, mas que ela tinha começado a se apegar, depois de alguns meses juntos.

Inclusive, naquele dia eles estavam completando seis meses de namoro. Ela não imaginava que ele fosse se lembrar, no entanto. Percy era péssimo com datas, e ela não via muitos motivos para cobrar que ele lembrasse de algo tão específico quando sempre se esforçava para que tivessem algo especial no primeiro fim de semana de cada mês, ou pelo menos no dia que tivessem folga juntos. Afinal, não era como se eles tivessem um dia com um pedido de namoro ou algo do tipo. Simplesmente tinham percebido, três meses depois do primeiro encontro, que já estavam muito mais sérios do que imaginavam: não tinham olhos para mais ninguém, trocavam mil declarações, passavam os momentos de folga juntos e reunindo os dois grupos de amigos... quando Nonna perguntou sobre ele, foi natural para a Chase apresentá-lo como seu namorado.

Mas sabia, pelo menos pelos seus próprios cálculos, que faziam exatamente seis meses naquele sábado ensolarado. É, ainda era cedo demais para falarem de filhos. Mas não conseguia evitar, porque era tudo tão intenso entre eles. Afinal, tinha aceitado três pedidos de casamento no primeiro encontro, e ainda brincavam daquilo, nunca de uma forma grandiosa ou pomposa, mas em pequenos momentos, como quando acordavam juntos e pensavam que não queriam nada mais além daquilo durante a vida, ou quando Percy fazia um daqueles pratos extremamente deliciosos, ou quando Annabeth saía do banho com aquele cheiro que ele adorava. Pequenos momentos que eram muito maiores do que grandes momentos. Momentos que diziam o quanto eles queriam ficar juntos o resto da vida.

- Fazendo pulseiras? - sorriu ao sentar em uma cadeira ao lado do namorado, que juntava miçangas junto com alguns dos priminhos dela. Percy roubou um pedaço da nuvem de algodão doce, antes de dar um beijo nos lábios dela.

- Sim. São bonitinhas, não? - terminou de amarrar uma pulseirinha para colocar no braço da pequena Alice, que sorria com os dentes da frente banguelas - Que horas vão divulgar os resultados da competição?

- Daqui a meia hora - levou uma colherada de sorvete de uma vez só, antes de oferecer uma porção para ele.

- E você está nervosa - a loira encolheu os ombros.

- Mais ou menos... é uma competição, eu sempre fico ansiosa quando entro em competições - mesmo que não fosse sua primeira vez naquele festival; já tinha concorrido com vários sabores de tortas e doces naquele festival desde que era criança, mas nunca se sentia mais segura de sua vitória; era o que a fazia vencer, segundo Nonna, a sua humildade e ausência de arrogância de achar que a vitória estava garantida - Ah, não... - percebeu o bolso vazio quando colocou a mão nele, e passou os próximos segundos vasculhando os outros bolsos.

- O que foi, amor?

- Minha touca da sorte... Ah, não acredito que a esqueci na casa dos meus pais... Poxa! - os olhos verdes a encararam com confusão.

- Touca da sorte, Annabeth? - não sabia que ela tinha algo como aquilo, e observou a namorada colocar as mãos na cintura com um olhar que o chamava de desatento sem palavras.

- É, eu tenho uma touca da sorte. Aquela bonitinha, que eu uso sempre que tem um evento importante? - as sobrancelhas negras se ergueram em compreensão - Eu não vou vencer essa competição sem minha touca da sorte, eu nunca venço. Por isso é da sorte.

- Não acredito que você acredita nesse tipo de coisa, Chase.

- Sou italiana, Percy. Não americana que nem você, sempre tão céticos... - ele sorriu para o sotaque que ficou ainda mais forte nela.

- Mas você não precisa de sorte. Você é a melhor confeiteira que eles já conheceram. Você acha que não vi a expressão dos jurados ao receberem sua torta de limão? E eu sei que ela é deliciosa, a mais gostosa que eu já comi. Você não precisa de sorte - sabia, pela expressão da namorada, que não estava convencendo-a. Ainda achava que todo aquele tempo no Sun's estava estragando a confiança dela, e tudo o que mais queria era que deixasse de trabalhar naquele lugar horrível. Insistia por isso há meses - Certo, tá bom.

Se virou, deixando a loira confusa, e pegou algumas daquelas tiras de couro, trançando como a instrutora tinha mostrado momentos antes, ensinando as crianças como fazer as pulseirinhas.

- O que está fazendo? - ele pegou uma daquelas miçangas... uma apenas seria o bastante.

- Uma pulseira pra você.

- Uma pulseira da sorte? - ergueu uma sobrancelha loira com diversão.

- Uma pulseira pra você lembrar que não precisa dessa besteira de sorte porque você é incrível, maravilhosa, talentosa, e não precisa depender de coisas tão bobinhas quanto sorte, Annabeth Chase - apesar dela ainda não ceder... gostava quando ele a elogiava daquele jeito, acreditando nela de uma forma que ninguém além de sua família tinha acreditado.

- P de Percy? - riu para a miçanga que colocou antes de recomeçar a trançar.

- Não... P de pimentinha - Annabeth franziu o nariz quando ele o apertou com o indicador, e então se virou para a mesa, também, apoiando o copinho de sorvete para pegar tiras de couro - Vai fazer uma?

- Se eu tenho que usar algo com esse apelido ridículo, você também precisa - mostrou uma miçanga com a letra S, piscando um olho acinzentado. Foi muito mais rápida do que ele para trançar, as mãos mais ágeis por trabalhar com coisas delicadas em seus pratos artísticos, e logo terminou de fechar a pulseira de um jeito que não precisavam desamarrar, apenas folgar e apertar para passar pelas mãos - Agora... nós dois temos pulseiras da sorte.

- Não são pulseiras da sorte - os olhos verdes semicerraram, irritados, e ela roubou um beijo dele, passando o círculo até encaixar no pulso, esperando que ele fizesse o mesmo.

- São sim - respondeu, para o aborrecimento dele, sorrindo brilhantemente para irritá-lo - E é meu novo amuleto da sorte. Gosto assim, de ter algo que me lembre você pertinho de mim - a expressão do cozinheiro suavizou, e encaixou uma mão no rosto dela, beijando a covinha que tinha aparecido com seu sorriso animado.

- Contanto que te ajude a lembrar que nunca vai precisar disso... - a beijou uma, duas vezes - Tudo bem.... eu sempre vou estar aqui pra nunca te deixar esquecer.

"I know that one day I'll be that one thing that makes you happy. I know I'll keep you laughin', your Sun on a clouded day."


***


Ele ficou quando todos foram embora. Mesmo quando os corredores do complexo estavam vazios, e a equipe de produção fazia um barulho baixinho enquanto preparava as coisas para o outro dia, os excedentes tendo deixado as coisas mais silenciosas ao irem, também. Precisava achar aquela pulseira.

Não era por ele. Não era porque ele a tinha feito, porque tinha sido um presente, ou porque algo dentro dele se aquecia ao lembrar que ela ainda a usava. Não.. era pela expressão da Chase ao ir embora do prédio, depois de ter procurado até desistir. Ela tinha desistido, e estava tão triste... então Percy dispensou o táxi que Jason tinha chamado para ele e ficou. Teria que voltar para o flat andando, mas.. se achasse a pulseira, já teria valido a pena.

Sabia que a Chase não a usava, quatro anos depois, pelo mesmo motivo que ele, mas sabia que ela dava a mesma quantidade de valor, ou aquilo já teria encontrado a primeira lata de lixo no caminho. Annabeth não era de guardar coisas sem sentido ou significado, era a pessoa menos apegada e acumuladora que Percy conhecia: fazia limpezas de armário anualmente, doava roupas, livros velhos, não guardava embalagens de presentes, ou nada que achasse que não fosse importante, porque tinha sido um presente de alguém. Mas tinha guardado a pulseira. Por quatro anos. E ele iria achá-la.

Depois de mais vinte e cinco minutos, no entanto, ele estava muito inclinado a desistir, também. Tinha andado por todos os corredores permitidos aos competidores, invadido o camarim feminino e sido expulso por uma tal de Silena, que o tinha ameaçado com uma prancha - ele já tinha visto Estelle usar um troço daquele e sabia que era perigoso o bastante para sair correndo do olhar assassino da mulher - e tentado entrar nos banheiros femininos - sem muito sucesso. A pulseira não estava em lugar nenhum.

Ela provavelmente tinha derrubado na rua, ou no carro, mesmo que tenha pedido a Piper para checar. Estava perdida, mesmo, provavelmente para sempre. Era triste pensar nisso. Droga.

Realmente já tinha quase desistido quando passou por um corredor, viu algo, e voltou de costas mesmo, sem querer acreditar. Podia ser. Mas não podia. Mas podia. Sim, podia ser a pulseira, pendurada entre o indicador e o polegar de um homem enorme que ele havia apelidado carinhosamente de Hagrid dentro da própria cabeça, mas sabia se chamar Bob. Era o zelador do local, e o Jackson poderia beijá-lo.

- Bob, o que você tem aí? - perguntou, porque queria ver melhor, mas bastou se aproximar para reconhecer as tranças e o pingente. Nem conseguia acreditar que tinha achado. Socorro. Estava gritando por dentro.

- Acho que uma pulseira de alguma hóspede? - o homem olhava para o objeto com curiosidade, como se tentasse descobrir a dona só com o olhar - Mas o hotel está fechado por causa da competição. Provavelmente é algo que caiu há muito tempo. Estava debaixo de um dos vasos de planta, provavelmente alguém chutou sem querer quando caiu, e eu quase não os movo do lugar, são muito pesados.

Cara. Se Percy fosse inclinado a acreditar em destino... mas não faria muito caso por ter achado a pulseira. Tinha sido só sorte, ou algo assim. Não tinha um significado maior que unisse ele e a dona do objeto novamente. Era só uma puta tacada de sorte. Talvez a Chase estivesse certa sobre a pulseira, afinal.

- Não, Bob, eu sei de quem é isso. Não é de nenhuma hóspede, é de uma das competidoras - o homem simpático ergueu as sobrancelhas e o cozinheiro se perguntou como uma pessoa tão grande e de aparência intimidadora poderia ter o sorriso morno que o zelador o ofereceu ao completar - Posso entregar a ela, não é nenhum problema.

- Você faria isso? Eu posso guardar e esperar uns dois dias, quando vierem para as entrevistas - mas ele queria garantir que a pulseira retornaria aonde pertencia.

- Não, deixa, eu entrego. Tem um valor sentimental pra ela, acho que é legal ela ter de volta, logo - pegou a pulseira das mãos gigantes e apertou contra a palma. Ainda não acreditava que a loira guardou aquilo por todo aquele tempo. Ok, ele também guardou a dele, mas... motivos diferentes. Ele não acreditava que dava sorte nem nada, eram apenas... motivos.

- Ok, obrigado por isso, Chef Jackson - era impossível não sorrir para a simpatia do homem, ao ir embora.

- Não, Bob, eu é que agradeço - sorriu, ao colocar a pulseira no bolso, completando consigo mesmo - Você não faz ideia do quanto.


***


Não sabia como Jason tinha conseguido o endereço da Chase tão rápido. Supôs que tinha pedido para a McLean, mas ainda assim... Enfim, era até melhor que tivesse conseguido, porque ficava a caminho do flat dele, a partir do estúdio. Era mais prático ir naquela noite do que no dia seguinte.

Não era um prédio muito alto. Na verdade, era como a maior parte dos edifícios ali: menor do que cinco andares, com aparência meio clássica, herdando as referências gregas, italianas e francesas dali de perto. Claro, ele sabia de tudo aquilo graças à loira que atendeu a porta quando ele tocou a campainha.

Não estava pronto para vê-la de roupão. Não um de banho, mas um daqueles de seda ou cetim - ele nunca sabia o nome -, que se agarrava a cada curva do corpo da mulher. Um daqueles que ele amava desamarrar o laço da cintura e descobrir o que ela usava por baixo, ficando ainda mais feliz quando ela não usava mais nada. Pelo menos não era azul. Percy teria perdido toda a sanidade se ela estivesse usando azul. O dourado também era tentador, mas não o fazia sentir como se fosse ter um ataque cardíaco.

- Percy? - percebeu que estava em silêncio, encarando-a, mais tempo do que deveria. Era culpa daquele maldito roupão. Ele não tinha nenhum problema em olhá-la apenas com respeito quando se encontravam, mesmo que a achasse linda em todas as ocasiões - até sexy em algumas, como quando parecia querer matar alguém com a faca de carne. Mas aquele roupão era sacanagem.

- Ah, oi, Annabeth - as sobrancelhas dela se ergueram como quem dizia "você veio aqui, por que parece tão confuso? - Jason me deu seu endereço, eu.. só queria entregar isso.

A expressão da italiana se iluminou como a de uma criança que tinha visto o Papai Noel pela janela ao receber a pequena pulseira nas mãos, aninhando-a como se fosse seu bem mais precioso.

- Ai, meu Deus, você achou! Percy, muito, muito obrigada! - ele mal conseguiu reagir quando sentiu os lábios dela em uma parte inocente do seu rosto. Demonstrações abruptas de afeto vindas dela... ele tinha sido o centro daquilo uma vez, mas ainda se lembrava de como eram raras. Sentiu o rosto esquentar, e coçou a nuca, tentando não aparentar o nervoso que sentia.

- Na verdade, você deveria agradecer a Bob, o zelador. Ele quem achou a pulseira. Tinha caído debaixo de um dos vasos, nenhum de nós ia conseguir achar.

- Vou lembrar de agradecer quando o vir - ela ainda sorria, e colocou o acessório no pulso, tirando o dele, que só tinha lembrado estar com ela quando entrou no chuveiro para tomar banho, uns trinta minutos antes - Toma. Muito obrigada, de novo, por me emprestar a sua. Foi... - importante, significativo? Ela não sabia muito bem o que dizer por ele ainda usar a pulseira que ela tinha feito, e por emprestar quando ela precisou - Só... obrigada.

- Não foi nada. Ainda acho que é uma besteira você se prender a essa pulseira da sorte. Você não precisa disso - só ele a fazia corar tão fácil. Sempre brigando com ela por causa da sua mania de acreditar na sorte, mas enchendo-a de elogios.

- Você sempre teve mais confiança em mim do que eu mesma, Percy - cruzou os braços, lembrando que estava apenas de roupão no corredor de um prédio desconhecido. Na frente do ex. Que reviravolta sua vida tinha dado. Uau.

- Isso é verdade - a risada dele... ainda fazia coisas com o estômago dela, droga - E você foi ótima hoje, aliás.

- Você também, né, Sr. Mezanino - havia uma mistura de orgulho e rivalidade em seu tom, a mesma que havia sentido ao vê-lo vencer a primeira prova em um prato individual. Isso não tinha acontecido com ele ainda, e sabia que ele estava tentando não sorrir de orgulho próprio desde então. Era bem transparente pra ela, no entanto, mesmo depois de tudo.

- Eu venci a primeira, e você a segunda. O que te coloca no segundo lugar, acredito. Tudo bem, um dia você chega a esse nível aqui - foi a vez dela gargalhar como não lembrava de fazer a algum tempo. E aquele som era o preferido dele, antes mesmo do barulho das ondas quebrando e o chiar de suas receitas na frigideira.

- Quatro anos não fizeram nada para diminuir o seu ego, não é? - sorria, balançando a cabeça em negação. Era estranho falar aquilo. Quatro anos. Pareciam ter passado tão rápido quanto a combustão de um pudim flamejante, e ainda assim, parecia ter sido uma vida atrás.

- Não, não fizeram. Muito pelo contrário - o sorriso dele apenas alargava, e encostou o ombro no batente da porta, mais à vontade; ela se apoiava na própria porta, tentando esconder quão curto era aquele roupão - E não me olhe como se não pudesse dizer isso sobre si mesma, Chase - mais uma risada que saía naturalmente demais. Era estranho, muito estranho, estar conversando com ele livremente daquele jeito.

Annabeth tinha evitado até olhar para ele - pensar nele - na última semana e meia, depois de ter lido aquela matéria idiota. Teve medo do que poderia acontecer, de que tudo pudesse dar errado, de que aquela escolha que fizera quatro anos antes fosse em vão apenas por ela adorar aqueles olhos penetrantes e ter arrepios com aquela risada grave do cozinheiro. Ela não poderia colocar tudo a perder. Devia isso a eles dois. Então tinha mantido o máximo de distância possível.

Mas ali estava ele. Na sua porta. Depois de ter ficado para procurar a pulseira dela. De fazer questão de entregar pessoalmente, provavelmente porque sabia que a loira passaria a noite revisitando todos os lugares em que esteve durante o dia para descobrir algo indecifrável. Ele era insuportável por ser tão adorável. Tudo seria mais fácil se ele fosse um canalha que a odiasse por colocar a carreira e os sonhos acima do relacionamento. Mas desde que contara a história às outras meninas... ela só conseguia lembrar o quanto ele tinha sido malditamente perfeito com tudo. O que só fez a despedida dilacerar ainda mais suas entranhas.

- Eu... até te convidaria para entrar, mas... - tentou não deixar muito óbvio que era por estar nem um pouco adequadamente vestida, mas apenas conseguiu lembrar a Percy de como aquele roupão ficava nela. Quatro anos não tinham feito nada além de deixá-la ainda mais bonita, e a forma como o tecido desenhava a curva dos seios...

Olhos aqui em cima, Jackson. Esqueça o maldito roupão. Olhos. Em. Cima.

- Não se preocupe - sorriu tranquilizador, forçando o olhar para o rosto dela enquanto sua mente estava "roupão, olhos, roupão, aquele decote bonito, não olha!" em uma batalha interna. Era uma droga lembrar como ela era - ou costumava ser - debaixo daquelas roupas, porque acabava completamente com qualquer linha de raciocínio coerente - Eu tenho que ir, mesmo. Jason já deve estar chegando pra gente ver as perguntas e o vídeo de hoje.

- É, Piper já deve estar vindo, também - a despedida foi algo rápido, com apenas um até logo, mas Annabeth não conseguiu deixá-lo alcançar as escadas, sentindo que precisava dizer mais algo, a culpa incomodando-a - Ei, Jackson - ele se virou pela metade, esperando - Sinto muito. Por... sumir. Essas últimas semanas. Não sei se você viu..

- Eu vi - uma resposta simples, complementada pela expressão sofrida e cansada dele - E sinto muito, Annabeth. Queria poder fazer algo pra evitar, pra impedir o que as pessoas têm feito, mas o Jason disse que não dá - a loira assentiu, porque tinha ouvido a mesma explicação da Piper - Eu entendo, ok? Não precisa se sentir culpada. Não devemos muito mais um ao outro, não é?

Por algum motivo, aquilo doeu como uma facada no coração. Mais do que a ideia de perder tudo por se aproximar dele de novo. Ela não gostava da ideia de ser tão... irrelevante, assim. Não sabia se era a palavra certa, ou o sentimento certo. Mas doeu. Doeu porque era verdade.

Ele desceu as escadas, e ela fechou a porta, torcendo a pulseira entre os dedos. Pensava muito intensamente, agora, se não esteve fazendo uma besteira bem grande afastando-o. Talvez abrir mão de algumas coisas valesse a pena para os dois lados.

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