O Conselheiro Mirov, de sua sala, observava a cidade de Perfectio pensando no dia em que se tornaria o governante de todo o planeta Vida. Um toque na porta interrompeu seu pensamento ambicioso.
— Mandou me chamar, mestre?
— Radof, está tudo pronto. Faça sua parte como combinamos. Entre na sala de cirurgia e troque a medula do garoto pela outra que te enviei. Se for preciso, leve mais alguém de nossa confiança com você.
— Sim, senhor. Merko é o responsável pela segurança do prédio onde está sendo feita a cirurgia. Como ele está subordinado ao senhor, creio que não haverá problemas.
Mal sabiam os dois que seu plano malévolo acabara de ser registrado pelo mini inseto robô que Drako colocara monitorando os aposentos de Mirov.
A hora chegou. Tíbor, acompanhado de mais dois guardas, foi até o quarto do garoto para escoltá-lo até o hospital, onde seria realizada a cirurgia. Os melhores médicos foram escolhidos para a operação.
— É bom ver você, Tíbor. Me sinto melhor com a sua companhia.
— Antes de qualquer coisa, quero agradecer a você por ser uma pessoa especial e querer ajudar uma menina que não conhecia. Sei que em seu peito bate um coração generoso e quero que você saiba que o admiro muito. Quero ter o privilégio de ser seu amigo para sempre.
— Obrigado, Tíbor. Mas estou fazendo isso porque é a única chance de sobrevivência da princesa e me sinto bem podendo ajudá-la.
Eles desceram pelo elevador, chegando ao grande salão de entrada do palácio. No portão principal um veículo os aguardava. Era uma espécie de carro que trafegava suspenso no ar. Nícolas olhou aquele automóvel admirado e Tíbor convidou-o a entrar, abrindo gentilmente a porta.
Após os dois guardas entrarem juntamente com Tíbor e o jovem, o veículo se elevou do chão e os levou ao hospital de Perfectio. O que surpreendeu o garoto era que o carro era autônomo e ninguém o dirigia.
Enquanto eles eram transportados, Tíbor conversava com os guardas sobre os procedimentos de segurança na unidade hospitalar e Nícolas observava pela sua janela a cidade construída com tecnologia altamente evoluída.
Chegaram ao hospital e ele foi levado à sala pré-cirúrgica. Enquanto isso, uma luz vermelha acendeu nos óculos de Merko. Ele os colocou e uma imagem holográfica foi projetada à sua frente.
— Capitão, vigie o garoto para que a cirurgia seja um sucesso. Siga minhas ordens que você será bem recompensado. Além disso, a vida da princesa Isadora é a coisa mais importante do mundo. Está em nossas mãos protegê-la.
Merko respondeu:
— Eu o farei, senhor. Darei a minha vida se preciso for para deixá-la em total segurança.
Drako interceptou a comunicação com seus insetos robôs escondidos no quarto do Conselheiro Mirov e, imediatamente, comunicou a Sivoc, que orientou Tíbor a proteger Nícolas.
— Tíbor, não desgrude os olhos do garoto. Não permita a entrada de ninguém e se Merko tentar alguma coisa, você tem ordens para desintegrá-lo. Durante o jantar de ontem, colocamos um nano-robô com uma super carga de explosivos na comida do comandante. A esta altura, ele deve estar aderido à mucosa do seu intestino, onde permanecerá por trinta e seis horas. Sincronizei um dispositivo no seu bracelete e basta apertar o botão azul que ele irá pelos ares.
Já no exterior da sala de cirurgia, Tíbor olhou para o seu pulso e se preparou para usar o detonador, caso fosse necessário. Merko se aproximou dele meio sem graça por tudo que ele havia feito para capturar Nícolas e tirá-lo da equipe de Sivoc. Tíbor ficou em estado de alerta e se preparou para reagir a qualquer provocação do capitão.
— Desculpe-me pelo que aconteceu — disse Merko ao se aproximar. — Você sabe que não posso deixar de cumprir minhas missões e, para isso, passo por cima do que for.
— Não sei quais são as suas reais intenções, capitão. Mas, proteger o garoto é minha prioridade. Meu dever é servir ao rei Zador e farei o que for preciso para ajudar a princesa Isadora. Não tenho nada contra você. E aceito suas desculpas, porém saiba que não deixarei ninguém tocar num fio de cabelo deste rapaz.
— Jamais faria mal ao garoto. Quero que você seja meu amigo e o admiro pela sua lealdade e dedicação. Vamos trabalhar juntos, pois também anseio por servir ao meu rei.
O capitão interrompeu a conversa quando ele recebeu uma mensagem telepática do Conselheiro Mirov. Curioso, Tíbor o observava.
"Merko, meu servo irá até a sala de cirurgia para ver o terráqueo sob minhas ordens. Quero ter certeza de que todo o processo correrá bem. Por favor, ofereça proteção e segurança a ele."
"Sim senhor, Conselheiro."
Neste momento, Tíbor também recebeu uma mensagem de Drako:
"Tíbor, outra comunicação foi feita. Mirov enviou seu servo Radof. Pediram ajuda a Merko. Não deixe ninguém entrar na sala de cirurgia. É ordem expressa da segurança."
Parecia que um novo embate entre eles era iminente. Enquanto esperava a chegada de Radof, Merko e Tíbor observavam os preparativos por uma parede de vidro e aparentemente tudo estava bem.
— Tíbor, tenho uma curiosidade sobre Nícolas. Foram vocês que deram aquele bracelete para ele?
— Não, Merko! Ele ganhou da mãe dele. Disse que pertencia a alguém que a mãe havia conhecido antes de ele nascer. Sem dúvida, era do nosso planeta.
— Isso explica os poderes telecinéticos do garoto.
Um arrepio subiu pela sua coluna e a sua suspeita com relação ao garoto estava se confirmando.
"Agora tenho certeza. Nícolas é meu filho!"
Lembrou-se de Lorena, da noite de amor que teve no lugar do major. A idade do rapaz coincidia com a época de sua estadia na terra.
"Deixei o garoto crescer sem um pai, abandonei sua mãe e mesmo assim ele se tornou um bom ser humano."
Tíbor percebeu que Merko estava muito agitado e resolveu falar com ele:
— O que está havendo?
Lágrimas saíram dos olhos de Merko quando ele disse gaguejando:
— O ga-garoto é me-meu filho!
— Como pode ser? Você só pode estar brincando. Ele é um ser humano do planeta Terra!
Mas Tíbor sabia que ele era um militar sério, de poucas palavras e não costumava fazer piadas.
O capitão estava surpreso apesar de já ter desconfiado disso e, ao mesmo tempo, ficou feliz em saber que era pai. Jamais imaginou que um dia pudesse ter esse privilégio. Ele continuou a explicar para Tíbor as razões de sua convicção.
— É uma longa história. Eu executei uma missão na Terra há vinte e três anos, antes do rapaz nascer. Relacionei-me com uma mulher na mesmo país onde Nícolas nasceu e perdi o bracelete durante uma fuga onde um amigo meu foi capturado. Na missão, tomei o lugar do marido dela, um major do exército americano, e acabei por ter um relacionamento com a mãe do garoto. Por favor, Tíbor, esse era o meu segredo, você sabe que não podemos nos relacionar com humanos do passado. Isso pode acabar com a minha carreira.
— Sem dúvida, ele é seu filho — disse surpreso. — Quanto a guardar segredos, isso é o que sei fazer de melhor. Sei muito bem o que você deve fazer agora. Vamos unir as nossas forças e proteger o rapaz, já que é nosso interesse em comum.
Tíbor estendeu a mão para Merko como havia aprendido a cumprimentar com Nícolas. O capitão olhou para ele não entendendo o que ele queria ao vê-lo com a mão estendida.
— É assim que os humanos do passado se cumprimentam. O próprio Nícolas me ensinou isso — Tíbor disse, estendendo novamente a mão.
Merko, meio relutante por não entender bem aquele cumprimento, estendeu a sua mão e deram um forte aperto de mão selando a união entre os dois naquele momento.
Eles sorriram um para o outro e Tíbor também se aproximou de Merko para abraçá-lo, como Nícolas havia feito com ele ao reencontrá-lo. O capitão estranhou e ficou com os dois braços encolhidos colados ao corpo, enquanto Tíbor lhe dava um abraço apertado.
— O que é isso, Tíbor? — Perguntou assustado.
— Também é um cumprimento do planeta Terra. Chama-se abraço.
Merko o abraçou meio sem jeito retribuindo o cumprimento. Ele pensou:
"Que cumprimentos esquisitos têm os humanos da Terra!"
Tíbor, como que entendendo o que ele pensava, sorriu.
— Acho que temos um problema aqui, Merko. Drako me informou que Mirov ordenou ao seu servo que entrasse na sala e trocasse a medula de Nícolas por uma comum que não salvará a princesa — disse Tíbor alarmado.
Como Merko havia confiado nele para contar um segredo de tão alto calibre, achou que poderia contar com a integridade do comandante para fazê-lo entender os propósitos escusos do Conselheiro.
— Vamos trabalhar juntos e protegê-lo. Peço sua ajuda, Merko, pois agora se trata da segurança do seu filho e da princesa Isadora. O motivo agora é mais relevante para todos nós e estamos do mesmo lado. Acredite: o Conselheiro Mirov é do mal. Ele quer matar a princesa, o garoto e tomar o trono.
— Sempre confiei no Conselheiro Mirov. Mas se ele quer fazer mal à princesa e ao meu filho, ele agora também é meu inimigo. Não posso deixar que o filho que acabei de ganhar corra riscos e muito menos a filha do meu rei. Sivoc havia me avisado numa mensagem enviada ao meu computador de bordo.
— Temos motivos para crer que o Conselheiro Mirov não quer que a princesa seja salva. Por isso, estamos monitorando as comunicações no palácio real com autorização do monarca. Não podemos permitir a entrada de ninguém. Fui enviado para proteger o rapaz — disse Tíbor enviando algumas mensagens ao novo amigo. — Ouça as mensagens que mostram a traição.
Merko apertou a mão de Tíbor novamente, o abraçou meio sem jeito repetindo o cumprimento e sorrindo disse:
— Estou do mesmo lado que você. Considere-me seu amigo. Manteremos meu filho a salvo e garantiremos que a princesa receba o que precisa para se curar.
— Fique aqui Tíbor e cuide da segurança.
Enquanto isso, o servo Radof buscava no laboratório uma medula falsa para dar cabo à vida da princesa.
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