Um Ano Com Você

By MariliaGB

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Uma nerd bonita. Um jogador popular. Uma casa. Mel e Brian são completamente opostos. Ela é introvertida, est... More

Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10

Capítulo 1

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By MariliaGB




Mel

Nada era melhor do que férias. Depois de mais um ano estudando muito, relaxar era essencial, ficar longe das pessoas que atormentavam minha vida trazia muita paz e sossego Era sábado, mas como sempre desde que as férias começaram, acordei no meio da manhã. 

Passei pela minha mãe na mesa da cozinha e fiz um pequeno sanduíche de desjejum pra mim. Com o canto dos olhos, vi que ela sorria ao falar no celular. Só uma pessoa a fazia tão feliz recentemente e pensar nisso deixava meu coração leve e pesado ao mesmo tempo.

Minha mãe sempre quis uma família grande, por isso, não fiquei muito surpresa quando me disse que queria se casar de novo. Judite começou a "fase do namoro" há três anos. Não foram tantos assim, pois, como dizia, não tinha muito tempo pra isso. Mas ela acabou explorando todas as ferramentas disponíveis, inclusive a internet.

No início foi difícil de lidar com os namorados dela, às vezes parecia que minha mãe se esforçava pra arranjar um pior do que o anterior. Mas por sorte, esses namorados não duravam mais de dois encontros.

De fato, o único que durou mais tempo foi o Elias, e era justamente com ele que Judite estava conversando agora. Nem precisei perguntar, mas olhando curiosa pra ela, a resposta veio com um sussurro. Não consegui ouvir quase nada, mas deu para entender que já estavam tramando para que pudéssemos conhecer o filho de Elias em breve.

Eles se conheceram, por incrível que pareça, na fila de uma panificadora, ela equilibrando um bolo em uma mão, e uma cesta de doces na outra, enquanto ele segurava uma sacola de papel pardo com pães.  Os dois chegaram ao mesmo tempo e só então notaram a presença do outro. Eles pararam, trocando olhares sem graça e discutiram quem deveria ir na frente.

Por fim, minha mãe cedeu, sorriu e entrou na frente dele na fila. E poderia ter acabado ali, mas isso não aconteceu. Os atendentes estavam demorando e, para passar o tempo, Elias se inclinou para frente e comentou como os olhos de minha mãe eram bonitos. Dá pra acreditar? Uma das cantadas mais velhas do mundo acabou dando certo.

Mesmo após pagarem pelas mercadorias, continuaram conversando por muito tempo, e antes de cada um seguir seu caminho, trocaram os números de telefone. Ao se virarem, Elias ligou para ela só para garantir que não fora enganado. O primeiro encontro não tardou a chegar depois disso.

Só vi Elias uma ou duas vezes e me pareceu ser bem gentil e amigável, e o mais incrível foi que, quase cinco meses depois de sair com a minha mãe, ele a pediu em casamento. Quando ela falou isso a primeira vez, achei até que estivesse brincando, demorou para entender que falavam a sério. Minha mãe mencionou algo sobre estar ficando mais velha e não querer mais perder tempo. Até aí, tudo bem, só me assustei quando ela disse que Elias vinha acompanhado de um brinde: um irmão postiço.

Se ele fosse como meu irmão, não saberia se sobreviveria por muito tempo. Mas não tinha como o filho dele ser tão ruim ou pior do que o Miguel, então, eu estava vacinada contra isso.

Segundo minha mãe, o filho dele parecia ser um bom garoto, mais ou menos da minha idade, estudando no mesmo colégio que eu. A única pessoa que se encaixa nessa faixa etária que eu realmente não suporto é o Brian, um colega de sala que vem me acompanhando do jardim de infância. Desde aquela época ele vem me perturbando absurdamente. Mas claro, quais seriam as chances de ser o Brian? Era engraçado só de pensar.

Não sendo ele, qualquer um já era aceitável.

Brian era um garoto imaturo, mimado e, muitas vezes, patético. Nada a ver com o Elias. Mas os dois tinham uma coisa em comum, o Brian e o misterioso filho do noivo da minha mãe. Ambos tinham nomes com iniciais B, só que, pelo o que Judite me falou, meu novo "irmão" se chama Bruno. Sei que tem um Bruno na escola, talvez um ou dois anos mais novo do que eu. Nunca sequer troquei mais de três palavras com ele, nada além de "bom dia", entretanto, ele parecia ser um garoto legal, só esperava não estar enganada pela aparência de menino comportado dele.

Enquanto minha mente divagava, eu quase terminei de comer meu sanduiche, voltei para a realidade quando minha mãe desligou o telefone e voltou sua atenção para mim.

— Está tudo resolvido! — O sorriso dela ia de orelha a orelha. — Vamos ter um jantar em família no Ano Novo!

— Com todo mundo? Onde? — tive que segurar o espanto.

— No apartamento dele. E sim, dessa vez o Breno vai estar lá. — Espera ai, não era Bruno? Agora virou "Breno"? Assenti, tentando não franzir as sobrancelhas, ela estava animada demais.

— Ele tinha passado o Natal com a mãe dele fora da cidade, certo? — perguntei.

— Isso! Mas ele volta no dia 31 e então, podemos reunir todos para as comemorações! Eu já vou pensar no que levar! — eu podia ver a lista se formando em sua mente — Preciso fazer as compras antes! O mercado vai estar lotado. Vamos depois do almoço?

— Claro, mãe. — Forcei meu melhor sorriso. Estava feliz por ela, mas não era nada excitante conhecer o novo namorado dela, muito menos o filho. — Eu vou com você.

Meu novo irmão seria pior do que o Brian e o Miguel juntos? Ou seria um garoto extremamente legal? Ao menos todas as minhas dúvidas seriam sanadas em alguns dias

Janeiro ainda nem começara, mas mesmo de férias, deu para ver que seria um mês longo e agitado. Não estava ansiosa para isso.

***

Brian

Meu pai nunca mencionou que gostaria de passar por outro casamento na vida dele. Até onde eu sabia, estava tudo perfeitamente bem, os dois solteirões dividindo um apartamento. Fiquei espantado quando a situação com a recente namorada ficou séria a ponto dele mencionar a "palavra com C". Na verdade, quando Elias falou isso, fiquei tão surpreso que deixei o telefone cair no chão. Por sorte, tudo o que aconteceu foi a bateria se separar do aparelho, de novo.

Sentado em uma poltrona de avião, à caminho de casa, pensei em toda aquela situação. Ele me contou essa notícia na primeira semana que vim para a casa da minha mãe no Rio de Janeiro. Durante quase toda a minha estadia ali tentei absorver a novidade.

Nem sequer sei como meus "novos irmão e irmã" são, meu pai me disse que viu fotos deles no celular da namorada e até já os viu algumas vezes. Conhecendo o jeito dele, ela sequer teve o privilégio de ver uma foto minha, visto que meu velho é tão bom com a tecnologia que nem sequer sabia que o último celular dele tinha câmera até o dia que mostrei a lente no verso do aparelho. Como ele nunca notou isso é um mistério pra mim.

Pelo o que me lembro dele ter contado nas vezes em que ligou para comentar, Elias falou pouco sobre os filhos dela, tudo que sei é que estão na mesma escola que eu, o nome do garoto é Miguel e o nome da garota é Mel.

Claro, esse não deve ser o nome dela de verdade, deve ser apelido de, por exemplo, Melissa, que não é um nome muito diferente, nem muito comum como Maria ou Lucas. Mas de qualquer forma, não conheço nenhuma Melissa, o mais próximo que conheço seria Melanie, só que, até onde eu sabia, ela não tem irmão.

Melanie estudava na mesma sala que a minha, ela era uma garota bonita que, incrivelmente, não estava louca atrás de mim, como a maioria das garotas da escola. Certo, admito que exagerei um pouco, mas já vi várias dando mole pra mim descaradamente. Melanie é comportada, estudiosa e ótima para cair nas minhas pegadinhas. Irritá-la é meu "esporte" favorito, e é, na verdade, algo bem fácil de fazer. Meu pai havia me avisado que a noite de Réveillon seria especial, pois a família da namorada dele iria jantar no nosso apartamento. Ainda bem que Elias se certificou de comprar comida mais cedo em um restaurante e só esquentaria à noite. Por alguns instantes, fiquei preocupado se ele cozinharia, pois se o fizesse, iríamos jantar arroz queimado, bife malpassado e batata frita crua. Era o melhor que ele conseguia fazer. Ou ainda, temia que me fizesse cozinhar, eu até consigo me virar bem, pois tive de aprender ou morreria de fome, mas realmente não queria ter de fazer isso. Precisava descansar. Viagens, mesmo que breves, cansavam.

Por insistência do meu pai, durante a tarde, ao invés de dormir como gostaria, tive de desfazer a mala, pois ele queria que o meu quarto estivesse o mais arrumado possível. Fiz o que pude para deixar tudo em ordem até o final da tarde, depois vesti jeans e a tradicional camisa polo branca. Em seguida, deitei no sofá enquanto navegava pelos canais da TV, deixando os pés, no momento descalços, sobre a mesa de centro. Notei que toda a sala parecia mais arrumada do que o normal, provavelmente Elias se encarregou de dar uma ótima impressão para a família da futura esposa e, ao menos fingir, que é um homem organizado.

Os três chegaram pouco depois das 20h, que foi o horário combinado. Meia hora antes, fui obrigado a colocar tênis para cobrir meus pés, já que não poderia ficar descalço na minha própria casa. Quem fica com sapatos na própria casa?

Encolhi os ombros e deixei pra lá antes que enlouquecesse. Estava no meu quarto, usando o laptop quando a campainha tocou. Meu pai foi atender e resolvi esperar alguns minutos para criar coragem e ir até lá. Rezei para todos os santos conhecidos e me dirigi a batalha da noite.

— Aí está você, filho! — meu pai exclamou quando entrei na sala — A Jude você já conhece. Esse é o caçula dela, o Miguel.

Ele falou colocando a mão no ombro do garoto de, aparentemente, 12 ou 13 anos. O menino estava usando bermuda jeans e uma camisa branca com "Réveillon" prateado escrito no meio, do tipo que se encontra nos mercados em dezembro. Os olhos caramelo de Miguel pareciam até brilhar de admiração, provavelmente estava ansioso por conhecer seu "novo irmão mais velho". Jude –apelido de Judite – sorria animadamente com a estima do filho comigo. Como todo mundo no ano novo, ela usava branco, que original. Sorri da melhor maneira que pude, sem vontade, e olhei para os dois algumas vezes antes de perceber que faltava algo. Ou melhor, alguém.

— Pensei que a senhora tivesse uma filha também. — deixei escapar.

— Senhora? — Jude levantou as sobrancelhas — Elias, não pensei que seu filho fosse tão educado. Isso é admirável, mas por favor, me chame de Jude.

— Claro. Como quiser. — Aceitei. Eu sabia do uso do apelido, mas como quase não a conhecia, nunca me dirigi a ela desse jeito.

— E ela tem sim, filho, — quem respondeu foi meu pai, e não Judite — falei sobre a Mel, ela deve ter a sua idade. Mas foi à cozinha pegar algo para beber, estava com sede. Porque não vai até lá e tenta ajudá-la?

Rolei os olhos suspirando por dentro, mas não deixei transparecer a má vontade de fazer isso. Apenas concordei e dei meia volta para a cozinha.

Não sabia o que esperar, nem como ela seria. Honestamente, tinha até um pouco de medo que fosse bonita demais e que acabasse me sentindo um "irmão" responsável que teria de tomar conta para que caras como eu não chegassem perto demais dela. Ou pior, que eu acabasse gostando dela. Acabei rindo com esse ridículo pensamento.

Mas não estava nem um pouco pronto para a surpresa que tive.

No meio da minha cozinha, havia uma linda garota olhando para o interior da geladeira aberta, apoiando uma mão na porta e a outra segurando um copo de vidro que meu pai havia deixado separado para usar no jantar. Dava para ver que ela não estava exatamente a vontade, mas certamente meu pai havia lhe dito para se sentir em casa.

Por ela estar meio de costas, não dava para ver seu rosto, entretanto, seu corpo era muito bonito e tinha todas as curvas nos lugares certos, que era acentuado pelo vestido branco com detalhes em vinho. As sandálias de salto a deixavam quase do meu tamanho. O cabelo escuro, quase preto estava preso numa trança num lado só, meio desarrumado e quase sexy.

Ela encontrou algo que a satisfizesse e abriu a caixa de suco, jogando o líquido laranja no recipiente. Ao terminar, colocou de volta a caixa na geladeira e fechou a porta, levando o copo aos lábios vermelhos. Ela se virou lentamente e só então percebeu a minha presença no recinto. Não sei o que houve comigo, mas fiquei aquele tempo todo só olhando feito um idiota ao invés de perguntar se a garota queria ajuda. Seus olhos azuis da cor do céu pareciam assustados, talvez até horrorizados ao me ver. Será que ela me reconheceu? Ou eu tinha alguma coisa na minha cara?

Demorou alguns segundos para que eu a reconhecesse e entendesse o porquê de sua reação.

— Melanie? — Perguntei só para ter certeza, mas nem precisava.

— Brian. — respondeu ela, uma das sobrancelhas negras estava levantada em total incredulidade. Não podia culpá-la, eu mesmo não acreditava no que estava acontecendo.

Isso não era só pelo fato de meu pai ter conseguido arranjar como namorada justamente a mãe de uma das garotas mais nerds e ao mesmo tempo uma das mais bonitas da escola, como também pelo fato de que eu não a reconheci de primeira. Apesar de não ser feia, Melanie não era o tipo de garota que se esforçava para aparecer ou chamar atenção, usando geralmente calça jeans confortáveis com o uniforme da escola, que acabavam por esconder todas aquelas curvas

Vê-la com uma roupa tão diferente era chocante. E, devo admitir, era a primeira vez que a vi tão linda. Claro, não podia perder a oportunidade de provocá-la, era uma das coisas mais divertidas durante o massacrante ano escolar e agora eu ia poder fazer isso até fora da escola também.

— Então, você é a filha da Judite. — Sorri com malicia — Só falavam o seu apelido, mas nunca pensei que seria mesmo você. Não sabia que tinha um irmão.

— Tenho, e, infelizmente, parece que esse número vai dobrar quando nossos pais se casarem. — ela tentou disfarçar o descontentamento.

— Nem me fale. — Brinquei, rindo ironicamente, depois olhei para o copo em suas mãos. — Sabe, esses copos não estavam prontos para serem usados, estavam guardados, juntando poeira desde o Natal passado.

Melanie quase engasgou ao ouvir isso e olhou para o copo novamente horrorizada.

— Mas o Elias falou que era pra usar os que estavam na mesa. — ela começou, mas logo parou ao ver o sorriso zombeteiro que eu tinha no rosto. Ela me deu um tapa no braço, irritada, foi mais forte do que eu imaginei, mas não a ponto de me machucar. — Seu ridículo!

— É suco de que? — Perguntei tomando o copo de sua mão e levando a minha boca. — Laranja? Não gosto muito desse sabor.

Claro que eu já tinha noção de qual era pela cor, mas queria ter certeza, assim como sabia qual seria sua reação. Ela exasperou meu nome extremamente irritada e contrariada. Ao tentar devolver o copo para ela, Mel levantou as mãos olhando de forma quase enojada para o objeto.

— De jeito nenhum eu bebo nisso de novo. — Suas palavras foram acompanhadas de uma careta.

— Por que não? Não cuspi nem nada.

— Mas foi infectado pela sua saliva. — disse aquilo só para deixar claro — Pode ficar com esse, eu vou pegar outro pra mim.

Eu ri enquanto bebia outro gole, observando-a partir,

***

Mel

De todas as pessoas do mundo, ou melhor, de todos os homens solteiros ou divorciados da cidade, minha mãe tinha de escolher justamente o pai do Brian para namorar? Sério? Eu só poderia estar num terrível pesadelo. Ou numa daquelas pegadinhas da televisão com câmeras muito bem escondidas. Só que não estava, e o jantar foi totalmente esquisito.

— Então vocês são da mesma turma, Melie. — minha mãe perguntou sorridente, usando o apelido de quando eu era criança. — Por que não disse antes?

— Porque você disse que o nome dele era Bruno, não Brian. — quase cuspi as palavras — Eu pensei que deveria ter algum Bruno em outra turma ou série.

— É verdade, desculpe, Brian, eu tinha esquecido seu nome. — De fato, minha mãe sempre teve problema pra lembrar de algumas coisas, especialmente nomes de pessoas.

— Sem problemas, a surpresa foi até divertida. – ele respondeu com o usual sorriso sarcástico dele.

— E como a Jude praticamente só falava seu apelido, eu também não lembrava. Foi uma surpresa para os dois e uma grande coincidência. — Elias comentou e tive a sensação de que o mundo parecia ficar cada vez menor, tudo o que eu queria era fugir dessa situação tão embaraçosa.

— Vocês devem ter muita coisa em comum, Melie. — minha mãe sorriu ao pronunciar tais palavras, ela estava muito contente com aquilo.

— Não mesmo. — Respondi automaticamente e Jude me fitou com um olhar confuso — A única coisa que temos em comum é a idade e a turma. Somos totalmente opostos como cães e gatos, dia e noite, branco e preto...

Resolvi parar antes que acabasse me descontrolando. Na minha frente, vi Brian tentar conter uma risada.

— Não precisa se exaltar. — disse minha mãe — E, de qualquer forma, não é como se você e o Miguel tivessem muito em comum também.

Ela falou como se isso fosse resolver tudo, esquecendo que havia uma diferença muito grande entre Brian e Miguel, como, por exemplo, o fato do meu irmãozinho ter nascido na família. E, mesmo assim, Miguel era um pestinha parcialmente controlável. O Brian estava num nível muito mais elevado de idiotice.

— Por que viemos pra cá pra assistir os fogos? — questionou Miguel, graças aos céus mudando o assunto — Dá pra fazer isso daqui?

Pra falar a verdade, eu queria saber a resposta para essas perguntas, só não tinha coragem de fazê-las. Foi bem mais sutil vindo de um garoto de 12 anos.

— Não foi por causa da TV que você viu na sala — Elias brincou — Dá pra ver sim, temos uma vista incrível, ano passado eu e Brian assistimos daqui a queima de fogos. Queríamos que vocês vissem como a vista é bonita do décimo segundo andar. E também, porque vai ser a última vez que vamos poder fazer isso aqui.

Eu quase engasguei. O que isso significava?

— Como assim, pai? — Brian parecia igualmente surpreso.

— Já te falei, Brian, que o contrato de aluguel do apartamento expira em janeiro, os donos pediram que saíssemos já faz alguns meses, você sabe disso. — ele concordou, depois de parecer ter se lembrado da ocasião. — Por isso, eu já havia pedido para um amigo corretor procurar um novo imóvel para a gente. Que desse para duas pessoas e outro para cinco também. Na época, eu já tinha ideia de pedir a mão da Jude em casamento, e, para a minha sorte, ela aceitou.

— E depois que o Elias me pediu — minha mãe parecia radiante ao explicar — e contou a situação do aluguel, que estava procurando uma casa para acomodar pelo menos cinco pessoas, acabamos escolhendo dois lugares ótimos que vocês vão conhecer semana que vem.

— E são lugares bons mesmo, com boas vizinhanças. Um deles é perto da escola e dos nossos trabalhos. Vocês vão adorar.

Senti-me atordoada, esquisita e talvez até um pouco burra. Só agora a "ficha" caiu. Esqueci totalmente de que, se ele fosse casar com a minha mãe, o mais natural seria que morassem juntos! E, se Elias mora com o filho, mais natural ainda é que se mude com o filho dele. E na nossa casa não tinha espaço para acomodar Brian. Considerando que aquele apartamento era menor ainda, com apenas dois quartos ao todo, a única opção viável era de nos mudarmos. E afinal, porque Brian não mora com a mãe? Nos divórcios, os filhos costumam ficar com a mãe.

— Queremos que todos vocês tenham um quarto próprio, por isso, andamos pesquisando casas ou apartamentos com pelo menos quatro quartos. — Elias disse.

— Vocês merecem e precisam de privacidade para que possam se acostumar com toda a situação. — Jude foi rápida em completar — E, apesar da nossa rápida iniciativa de procurar uma nova moradia, não vamos tomar decisões sem vocês.

Ao menos uma boa notícia depois de tanto desespero. Eles continuaram falando dos lugares que visitaríamos na semana seguinte, contudo, não absorvi grande parte da conversa, sentindo-me triste e entediada com o que estava sendo imposto a mim. Fui comendo lentamente e balançando a cabeça quando era necessário.

Depois do jantar, minha mãe insistiu a Elias que o ajudasse a levar as louças para a cozinha e ainda o ajudou a lavar. Ficaram lá por um bom tempo, provavelmente fazendo mais do que só limpar os pratos. Enquanto isso, Miguel e Brian sentaram no sofá e o meu irmãozinho ficou mostrando os recordes nos jogos dele. Eu liguei a TV e fiquei assistindo a retrospectiva do ano sentada numa poltrona perto do sofá onde eles estavam.

Quando já era quase meia noite, Elias nos chamou para ir até a varanda. Não era muito espaçosa, mas não chegava a deixar nós cinco muito apertados. Ele trouxe taças de vinho para ele e minha mãe, e, dizendo que éramos muito novos para isso, nos deu Coca-Cola em taças.

Vi que em algumas varandas, desse prédio e em outros a volta, famílias se aproximavam para observar a queima de fogos que aconteceria em breve. A maioria arrebatadora das pessoas usavam branco, como de costume, mas essa tradição estava aos poucos ficando menos intensa, geralmente misturando outras cores.

Miguel finalmente guardou seu vídeo game irritante no bolso lateral da bermuda jeans e segurou na barra de proteção da varanda para ter uma melhor visão do céu noturno e estrelado, quase não tinha nuvens, perfeito para a virada do ano. Brian veio atrás de mim com sua taça de Coca-Cola e um sorriso maroto nos lábios. Encarei-o com um olhar entediado, esperando apenas que ele não derrubasse o refrigerante em mim "acidentalmente".

— Animada para o próximo ano? — perguntou ele.

— Não muito. Acho que vai ter mudanças demais. — Ironizei. 

— Você acha? Eu tenho certeza. A começar pela casa. E as pessoas com quem eu vou morar.

Dava para perceber o sutil tom de ironia em sua voz. Dei mais um gole na minha bebida. Ao longe, algumas pessoas já começavam suas contagens regressivas, gritando os números animadamente. Contendo uma risada, Brian se inclinou mais perto de mim e murmurou.

— Será que eu troquei nossos copos antes de te dar?

Ele só falou isso porque caí da primeira vez. Entretanto, não era boba a ponto de cair na mesma brincadeira duas vezes seguidas. Especialmente na mesma noite.

— Você é ridículo. — Comentei revirando os olhos.

Brian riu, mas pude perceber uma pequena pontada de desânimo por não ter conseguido me provocar. A essa altura, as pessoas que exclamavam antes, agora já estavam desejando feliz ano novo e se abraçando, pouco antes dos fogos começarem a estourar bem alto no céu, com várias cores e jeitos diferentes. Elias estava certo ao dizer que tínhamos uma visão privilegiada, dava para ver mais de uma queima, alguns mais distantes e outros mais perto. Era lindo.

— Feliz ano novo, Melie. — Minha mãe cumprimentou feliz e me deu um beijo no meu cabelo, depois de ter feito o mesmo com Miguel. Em seguida, ela abraçou Brian e depois beijou seu namorado, ou melhor, noivo.

Miguel virou-se para mim rapidamente e também desejou um bom ano novo, e depois de ver mais alguns fogos estourando no céu, virou para as outras pessoas na varanda. Até o Elias veio me desejar felicidades no próximo ano, me abraçando como se me conhecesse há anos. Admito que ele realmente se esforçava para ser agradável. Só que não importava quão incrível ele fosse, nada que fizesse seria o suficiente para esquecer o estorvo do filho dele, que se aproximou de mim sorrindo e esticou o braço levemente para que a taça dele tocasse na minha, tilintando.

— Feliz ano novo.  — Cantarolou Brian.

Apesar de duvidar de suas palavras, não fui má educada e respondi o mais sinceramente que pude.

— Bom ano novo pra você também. — Murmurei, esperando que esse ano com ele não fosse um desastre total como eu temia.

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