Capítulo 4

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Mel

Para mim a primeira noite sempre foi a mais difícil num lugar novo, e, à medida que o tempo passava e eu ia me acostumando com o lugar, ia ficando mais fácil. Mas talvez por estar muito cansada, caí no sono antes mesmo de jantar. Depois que Brian e eu voltamos do mercado com as sacolas plásticas cheias de coisas, minha mãe nos disse para subirmos e trocar de roupa ou tomar banho enquanto ela esquentava a comida.

Quando entramos, conclui que meu irmão havia sido o primeiro a usar o chuveiro, pois seu cabelo ainda estava molhado e estava usando seu pijama favorito. Não tive chance de ser a segunda pessoa, pois Brian pulou na minha frente e fechou a porta antes que eu pudesse ter a chance de pegar minha roupa. Aposto que ele só fez isso para me irritar.

Muito cansada para fazer qualquer outra coisa, deitei na minha cama e, quando percebi, já estava dormindo. Acordei surpresa ao notar que as janelas do meu quarto estavam quase fechadas, deixando que apenas uma brisa suave entrasse por uma fresta e percebi que a ponta da coberta estava sobre mim para me proteger do frio. Isso aconteceu de madrugada, quando o barulho do meu estômago roncando foi alto o suficiente para me arrancar da terra dos sonhos.

Desci rezando para que tivesse sobrado alguma coisa e quase explodi de felicidade ao ver um prato em cima da mesa com o resto da lasanha do jantar. Peguei o prato, coloquei alguns minutos no micro-ondas e tirei logo após o toque alto. Com o garfo em mãos, sentei na ilha no meio da cozinha e fui comendo aos poucos.

Quando eu já tinha engolido cerca de metade do conteúdo, percebi alguém entrando na cozinha. Levei um susto até reconhecer Elias.

— Desculpe se te assustei. — Ele falou tranquilamente com aquela voz mansa dele. — É que eu tenho um sono leve.

Elias se sentou ao meu lado e eu voltei a levar o garfo cheio à boca. Ainda havia caixas espalhadas por toda a casa, e todos os utensílios de cozinha, tirando alguns que usamos hoje, ainda estavam empacotados. Após algum tempo em silêncio, ele se levantou e pegou uma laranja, uma faca e um prato que encontrou num armário. Elias se sentou novamente ao meu lado e começou a cortar a fruta em duas partes iguais que logo foram cortadas ao meio também.

— Então, o que está achando da nova casa? — ele puxou assunto.

Elias merecia muitos pontos só por tentar tão arduamente se aproximar da gente. Nenhum outro namorado da minha mãe fez isso, eles geralmente tratavam o Miguel e eu com descuido, sem nos dar a menor importância. Mas aquele homem era diferente. Ele claramente se importava conosco e como estávamos lidando com toda a situação. Começava a achar que minha mãe acertara na escolha. 

— Acho que está melhor do que eu esperava. — Admiti com um pequeno sorriso nos lábios.

Indiretamente, ele estava sondando como eu estava, e com a minha resposta, vi que Elias me pareceu soltar um breve suspiro de alívio, mas foi quase imperceptível.

— Fico feliz em ouvir isso. — Elias comentou e olhou pela janela enquanto comia um quarto da laranja. — Temos um quintal bem grande.

— É. Acho que é quase o dobro do tamanho do que eu imaginei. — sem contar piscina e churrasqueira, que conquistaram meu coração.

— Podemos fazer muitas coisas com todo esse espaço. — seu olhar indicava que ele já estava criando a imagem em sua cabeça — O que acha de plantarmos algumas flores? Ou talvez até uma pequena horta. Eu sempre gostei de trabalhar com a terra. Fazia muito isso com meu pai quando era mais novo.

Dava para ver que ele estava muito animado com as possibilidades que teria.

A essa altura, eu já estava terminando de comer a lasanha no meu prato e ele estava terminando de comer outro quarto da laranja e me ofereceu os pedaços remanescentes. Eu aceitei apenas um e terminamos de comer quase ao mesmo tempo. Elias foi até gentil o suficiente para se oferecer a lavar os pratos e talheres. Eu fiquei tão comovida que recusei. Ele era realmente gentil e minha mãe tinha muita sorte de tê-lo encontrado, talvez um dia eu pudesse vê-lo como da família. Mas ao mesmo tempo, ele jamais seria um pai pra mim. Ele não poderia substituir o meu, mas ao menos, poderia preencher um pouco do vazio que eu sentia com a falta dele.

Um Ano Com VocêWhere stories live. Discover now