Terra Proibida - Essência

By EvaSans86

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Em um entrelaçar de passado e presente, mergulhe em uma trama que desafia os limites da razão e da sanidade... More

Nota da Autora
[Agora] A queda
[45 anos atrás] A proposta
Cap. 1 - Sentimentos Ocultos
Cap. 2 - Tormenta
Cap. 3 - Ecos do Passado
Cap. 5 - Revelação
Cap.6 - O nada
Cap. 7 - Oráculo
Cap. 8 - Isadora Moraes
Cap. 9 - Elizabeth Detzel
Cap. 10 - Segredos ao pôr do sol
Cap. 11 - Sangue quente
[45 anos atrás] A Alma à venda
[45 anos atrás] A casca
[Agora] O Salto
Cap. 12 - Despertar
Cap. 13 - O Animal que me tornei
Cap. 14 - Presente de grego
Cap. 15 - Feito de lágrimas e cinzas
[45 anos atrás] Ninguém se lembrou
[45 anos atrás] Inferno
[45 anos atrás] Quando todos os homens falharam
[45 anos atrás] Mais que morrer
[45 anos atrás] Seus pensamentos
[45 anos atrás] Miserável
[45 anos atrás] Esse tipo de amor...
Cap. 16 - Versões de uma mulher
Cap. 17 - A casa
Cap. 18 - Terceira morte
Cap. 19 - Primeira vida
Cap. 20 - Alguém tem que morrer
Cap. 21 - Sete Palmos
Cap. 22 - O Centro do Universo
Cap. 23 - Essência

Cap.4 - A medalha

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By EvaSans86

[2ª edição]

Benício Speltri

Olívia! Por favor, não jogue no lago! – implorava Benício, completamente atordoado com os olhos arregalados e marejados enquanto caia de joelhos. – Por favor! Não!

Olívia, em uma expressão desafiadora, lançava a medalhinha feita em ouro branco de Benício, e presenteada por tia Elizabeth quando fez sete anos, dentro do lago próximo à mansão da Detzel. No mundo onírico, o lago se transformava em um cenário distópico de águas turvas cor de sangue em um alaranjado céu de fim de tarde.

Apesar de ter consciência de que daquelas águas poderia não retornar, ele não hesitou e foi em busca de seu pequeno tesouro. Calculou mentalmente que poderia ainda estar na parte rasa.

Eu não vou perder meu amuleto!

Quando finalmente viu o brilho da medalha, antes de alcançá-la, sentiu algo o puxando para o fundo, impedindo que alcançasse o amuleto e pudesse emergir para a luz.

A sensação de afogamento, a agonia de sentir-se abraçado por algo viscoso, o pavor de perceber as luzes sumindo conforme afundava. O sangue.

Um nítido som de prantos invadia sua mente e por mais que se debatesse contra as forças que o puxava para o fundo, sabia que não adiantava lutar.

Eu não vou me entregar... Eu vou pegar essa porra de medalha e sair daqui.

Luz.

Tudo estava perturbadoramente branco.

Acorda cara, acorda! Isso é só mais um maldito pesadelo! E em um forte estampido capaz de quebrar qualquer vidro, Benício voltava ao seu quarto na casa do pai.

Abriu os olhos assustado, levantando-se cambaleante. Transpirava e sentia um aroma do qual não gostava pairando no ar. O filho da puta do Henri fumou dentro dessa casa, vou quebrar a cara dele! Olhou para a janela e viu a mesma luz perturbadora de segundos atrás, porém o interior do quarto jazia em verdadeira treva. Sem conseguir enxergar muito, vislumbrou uma silhueta masculina sentada a uma poltrona que ficava alojada em um dos cantos do quarto. Estava de volta ao onirismo.

— Quem é você? – perguntou Benício ao estranho, sabendo bem que aquela não era a silhueta do irmão.

— Pergunta errada, meu caro e ilustre Benício Speltri. – disse o outro, saindo de um emaranhado de sombras, a fumaça do charuto que trazia consigo exalava forte. – eu sou o que sou e quem eu sou, agora – enfatizava cada palavra – você tem ideia de quem você é?

Estavam um de frente ao outro se medindo. A semelhança física era assombrosa, entretanto paravam por aí. Benício mal o conhecia, mas já odiava o jeito sarcástico, a entonação da voz e a forma de olhar de seu semelhante.

— Não somos iguais! – respondeu imprimindo desdém a sua voz.

— É óbvio que não somos iguais! – respondeu o estranho sorrindo – eu sou o seu... – Segurou firme o ombro de Benício com uma das mãos e cravando logo em seguida a outra em seu peito, acertando-lhe o coração. – pior pesadelo.

A dor era descomunal. Benício sabia que aquilo era um pesadelo continuado, mas a dor era bastante real.

— Eu... – sua voz se atrapalhava em meio o sangue que lhes subia pela garganta – vou... sobreviver a isso!

— Tenho certeza que vai. – com um leve sorriso de canto e um olhar dissimulado, o estranho arrancou-lhe o coração, empurrando despreocupadamente seu corpo na cama. – Já vivemos coisas muito piores.

De olhos bem abertos, Benício via o estranho olhar para seu coração contra a luz, enquanto o vazio em seu peito o trazia de volta a realidade em uma súbita espiral.

Eram sete horas da manhã.

O relógio analógico na mesa de cabeceira despertava escandaloso, ligado em uma rádio local que dava notícias do trânsito em meio a músicas. Era o escape. Benício mal abriu os olhos e eles já foram à procura de Olívia por força do hábito. Para sua agonia estava sozinho – merda! . Sentia-se exausto, pegou o celular e, como de costume, estava sem bateria. – Posso gravar e arquivar esse pesadelo depois, esse não foi do tipo que vou esquecer fácil.

Preguiçosamente dirigiu-se ao banheiro, se apoiou no tampo de granito que sustentava a pia e analisou metodicamente a própria face no espelho – quem é você? –. A medalhinha que ganhou de tia Liz permanecia intacta em seu pescoço.

Isso nunca deve sair do seu pescoço. – disse ela, como se contasse um segredo em seu aniversário de sete anos. – Essa medalhinha é mágica e te protegerá sempre.

Proteção... Sei... Já não bastasse o Henri, até o Thiago tem uma igual.

Encheu as mãos com a gélida água e lavou o rosto como uma espécie de purificação para seus pesadelos. A partir daquele momento seu dia começaria – os pesadelos podem esperar até mais tarde, levou a toalha ao rosto a fim de secá-lo, quando um calafrio percorreu seu corpo e vislumbrou algo que parecia um vulto de criança. Entrou em estado de alerta, cada sentido procurava por algo anormal. As batidas de seu coração eram audíveis de tão fortes. Pesadelo maldito. Tinha a sensação de que estava sendo observado a cada movimento que fazia.

Foi até a cozinha a fim de preparar um café forte e se distraiu com o bilhete deixado pelo pai, pendurado na geladeira, avisando que tinha voltado para a pescaria. – Êta velho que gosta de piranha!

Sentou na poltrona de escritório da casa. Um ambiente quase todo trabalhado em mogno, paredes em tons de verde-escuro, ostentando quadros de pintores renomados e, também, os de sua famosa mãe. Adorava aquele lugar, sentia-se próximo a ela. Respondeu alguns e-mails, leu as principais manchetes. – Preciso organizar minhas prioridades para hoje... Abriu o bloco de notas bloco de papel e começou a lista.

Buscar os brinquedos que encomendei;

Visitar o Lar Das Crianças da Vó Fátima;

Passar na feirinha de adoção de bichos e adotar um gato;

Descobrir que fotos são essas que Olívia tanto fala;

Procurar o significado da medalha.

A atenção das crianças o alcançou assim que parou o carro no estacionamento do abrigo. Deixou a distribuição dos brinquedos aos cuidados de uma das funcionárias da casa e se dedicou a brincar com as crianças mais velhas. Jogou bola, penteou bonecas, montou quebra-cabeças, ajudou no almoço dos menores, ninou os pequenos que ainda estavam no berço e por mais que fosse cansativo, sentia-se renovado.

— Doutor, antes que o senhor vá embora, precisamos de sua ajuda com uma criança mais velha. — Disse uma das cuidadoras.

— Claro! Quem tá dando trabalho pra tia Lourdes? — Perguntou, jurando que era realmente uma das crianças.

— Não, doutor, não é nenhuma delas. Sabe a vó Tidinha? — Ele assentiu. A conhecia desde pequeno, mas faziam bons anos que não conversava com velhinha, na verdade, ela já era bem velha quando ele era criança. — Ela tem Alzheimer, e hoje particularmente ela insiste em te ver. Seria pedir muito, fingir que se chama Diego, para ela se acalmar? Ela toda vez que te vê fica agoniada te chamando por este nome, mas hoje ela tá impossível.

— Diego? — Esse nome outra vez? A mulher implorava com o olhar. — Então, vamos lá.

Chegando aos aposentos da senhorinha, foi surpreendido por uma almofadada.

— Vó Tidinha, até tu anda revoltada comigo? — Disse, brejeiro. Constatando que de repente todas as mulheres o odiavam e que as almofadas eram suas principais armas.

— Maldito, Diego Ferri! Achei que nunca mais veria a sua fuça enquanto vivesse! — Benício sorriu. — Sabe quantos anos eu te espero? Tenho algo pra você, ela renasceu tem alguns dias.

A velhinha, serelepe, foi no canto do quarto onde havia um roupeiro e tirou da gaveta um filhote de gato cinza e entregou em suas mãos.

— Vó Tidinha, como assim? A senhora tirou um gato do guarda-roupa? — Disse rindo, perplexo com a situação.

— É a Morgana. — a velha entregou em suas mãos a bichana. — A Elizabeth sabe. — ela deu de ombros. — Você também sabe, veio no dia certo.

A tia Liz sabe? Esfregou o nariz carinhosamente na pança da pequena gata.

Astrid, sua velha herege. Me conta. O que perdi enquanto estive fora? — Disse.


Santiago Ferri.

Na UTI do renomado hospital em São Paulo, Santiago se mantinha incansável ao lado da paciente. — impressionante o quanto ela é a visão da própria Elizabeth mais nova.

O frágil corpo da jovem lutava para sobreviver, entretanto, sua alma, aparentemente, não estava lá. Antes de constatar o fato, Santiago tentou usar a telepatia a fim de se comunicar com a garota, e nada. Tentou projetar-se nos sonhos dela. Nada. Nem um espectro sequer. Perguntou aos espíritos que moravam no hospital sobre a garota e eles nada sabiam. Estranho... tudo funciona perfeitamente, a casca parece vazia, mas não, algo está errado.

Estava diante de um desafio. Seu dom de cura, até ali, nunca tinha falhado. Seu único limite era a morte.

— Mestre, aqui está o dossiê com todos os dados sobre Eva Detzel. – Disse Akemi ao interromper seus pensamentos, entrando no quarto da UTI. – não foi necessário silenciar ninguém.

— Ótimo. O que temos?

— Ela nasceu em Santa Catarina, tem vinte e um anos, é filha de Wladmir Detzel e Marina Espada. Wladmir é o irmão mais velho da senhora Elizabeth Detzel, a diferença de idade entre os dois é de dez anos.

— Praticamente um pai avô... Eu não sabia da existência dele. Interessante essa novidade.

— E nem poderia, ele deixou Diamantina alguns anos antes da sua chegada.

— Como ele escapou da morte? A avó da Liz matou toda a família dela.

— De acordo com a história que o coagi a contar, ele sabia dos rituais estranhos que a família praticava e sentia tanta repulsa, que pagou um preço altíssimo a uma bruxa de outra linhagem para quebrar a ligação que tinha com a velha Detzel e o restante dos parentes.

— Então ele conseguiu fugir da Aimée... — falou consigo mesmo. — Deve ser uma figura interessante de se conhecer.

— Você não imagina o quanto. Para ele é melhor que a filha morra, já que, em suas palavras, ela nem deveria ter nascido.

Interrompendo a conversa, um enfermeiro adentrou o quarto para administrar medicamentos para a garota. Thiago prestava atenção a todos os movimentos do rapaz.

— Doutor Thiago, não está na hora do almoço?

— Sim, doutora.

As cortinas do quarto se fecharam com o estalar dos dedos de Thiago. Um sorriso de veneração surgiu no rosto de Akemi enquanto observava seu mentor se aproximar do pobre e indefeso enfermeiro. Dominado por sua essência mortal e predatória, o vampiro tornava a atmosfera do local densa e com um aroma anestésico.

O enfermeiro estava paralisado. Ele era a presa.


Henri Speltri

Tinha alguma coisa estranha no ar e Henri adoraria saber o que era. Após ler a mensagem de Benício que o convidava para jantar naquele restaurante caro, sentiu-se inquietado. — Ele sabe como me adular... o que será que ele quer?

O restaurante era reconhecido pela excelência na culinária japonesa, e se tinha algo que ele realmente adorava era comida japonesa. — Deve ser algo muito importante. Pra ele tirar o escorpião do bolso... sovina daquele tanto...

Henri degustava um saquê quando Benício chegou. O espanto tomou seu rosto em assalto assim que o viu.

— O quê que aconteceu de ontem pra hoje que te deixou acabado assim? — Observou que o irmão estava com a barba por fazer e os cabelos sem o maldito fixador, vendo assim parece até um ser humano normal.

— Já te conto. Fez o pedido? — Disse ele ao sentar na mesa, se servindo uma dose do saquê.

— Só uma entradadinha, de leve. – ele passava o menu a Benício. – vamos lá macho! Não me mate de curiosidade. Desembucha.

— Vamos comer primeiro. Não quero estragar seu apetite.

O irmão mal olhou para o cardápio e logo fez o pedido ao garçom, o que para Henri era muito estranho. Geralmente Benício demorava mais de uma hora para escolher um prato, pois sempre queria comer o item mais saboroso do menu e conversava bastante com os garçons. Henri percebia algo sombrio em seu jeito de olhar. — Lá vem chumbo grosso.

— Preciso que você descubra algo para mim. – disse Benício, cruzando os braços, o encarando atentamente.

— O que seria esse algo, pode especificar mais?

— Preciso que encontre umas fotos.

— Isso é moleza! De quem são?

— Segundo a Olívia são minhas com uma tal puta loira.

— Caramba! - fez uma pausa para tentar conter a animação - Você traiu a Olívia? Estou chocado!

— Claro que não, Henri! Nunca pus chifre nela e é justamente isso que está me incomodando. Odeio receber culpa por algo que não fiz.

— Ela te deu pista de onde ela conseguiu ou viu essas fotos?

— Não, e é aí onde você entra. – sua descrença ao ouvir a frase foi selada com um barulhento pigarro. – Preciso que fale com a Júlia.

Benício, seu otário!

Se levantou irritado, com rosto queimando e os olhos fumegando de ódio. Atirou o guardanapo que tinha nas mãos violentamente sobre a mesa, invadido por um turbilhão de pensamentos.

— Não fala mais comigo. – disse definitivo.

Benício se levantou rapidamente e antes que ele conseguisse sair de perto da mesa, o desgramado o segurou pelo ombro. Sua reação foi instantânea. Com um jab de direita acertou Benício diretamente no olho esquerdo e em seguida outro jab o alvejou no nariz. As pessoas no restaurante olhavam estarrecidas com a briga. Foram expulsos do restaurante.

Na calçada do estabelecimento, embora a dupla se encarasse como inimigos mortais, Benício não fazia menção de contra-atacar.

— Você tem noção do quanto me dói falar na Júlia? — Berrou, Henri.

— Com certeza dói menos que meu olho. — Benício limpava o sangue que escorria do nariz no dorso da mão.

— Depois de tudo o que passei, de exoneração até mudança de país... – disparava as palavras babando de raiva – Depois de toda a merda que fiz e todo o tanto que eu poderia ter feito... Agora, depois de todo esse tempo, você quer que eu fale com a Júlia? Sério?

— Calma, Henri! Pensei que você já tinha superado isso, não foi você mesmo que disse que adorava suas ex?

— Sim, gosto delas, mas a Júlia é um caso à parte. Você sabe que é.

— Hipócrita. Então até hoje você guarda mágoa?

— Não foi você que foi trocado por uma mulher!

— Ela foi honesta com você. Que sua masculinidade frágil essa sua!

— Eu gostava dela de verdade! Eu queria casar com ela, você tem ideia do quanto foi traumático planejar todo um casamento, fazer tudo parecer perfeito e na "hora H" ela dizer não? E despejar toda aquela avalanche sobre mim?

— Claro que sei! Eu estava lá esqueceu?

— Eu tinha esquecido até você ter o disparate de me lembrar! – respirou fundo – sabe qual é a minha vontade? Socar a tua cara até a morte!

— Prometo que deixo você fazer isso, mas antes, você vai descobrir que fotos são essas.

— Eu me recuso.

— Nem se eu te disser, que o conteúdo, além de comprometedor, é erótico?

— Não.

— Por favor! Eu nunca te pedi nada!

— Vai se fuder!

Henri se retirou da presença do irmão possesso ao ouvir a sirene da polícia se aproximando. Júlia havia sido o grande amor de sua vida e só a ideia de entrar em contato com qualquer coisa que a envolvia, ainda o machucava bastante.

Na época em que foi deixado no altar, desencadeou uma preocupante obsessão em perseguir e monitorar cada passo que a ex noiva dava e a todos com quem ela falava. Foi necessária uma grande intervenção familiar, psiquiátrica e psicoterápica. Recomeçou do zero. Mudou de país e começou a trabalhar no escritório de patentes que atendia as empresas de Elizabeth.

Entrou no carro e deitou-se sobre o volante. Seguro de que ninguém o via, se permitiu chorar.

Jú... por que logo comigo? Eu ainda te amo tanto.

Segurou forte a medalhinha que ganhou da tia Liz, quando completou sete anos, assim como o irmão. Era hábito segurá-la quando se sentia inseguro, infeliz ou desesperado.


Elizabeth Detzel

Em postura de meditação, Elizabeth conectava todos os seus sentidos ao pequeno objeto que estava na palma de sua mão direita. O objeto, a medalha cujo diamante incrustado, fazia uma projeção 3D de toda a cena ocorrida entre os irmãos Speltri, mostrando todos os detalhes e nuances do ocorrido.

A bruxa assistia à cena fazendo o tempo voltar e avançar repetidas vezes como em um filme. O fato de Benício estar usando a antiga obsessão de Henri por Júlia a preocupava. Ela adoraria interromper a brincadeira naquele instante, entretanto, as fotos também despertavam sua curiosidade e tinha uma vaga ideia de quais fotos seriam.

— Agora eu sei como e porque você sempre sabe de tudo. – Disse Thiago, parado ao lado de Elizabeth, assombrado com o que via – como você é engenhosa!

O olhar de Elizabeth para Thiago era puro desprezo. Ela comprimiu os lábios em uma irritação profunda, enquanto ele se esforçava para amainar a tensão que cobria a sala como um véu.

— Calma, Liz. Compartilhamos a missão de proteger os dois!

— E agora você aparece na minha casa a hora que quer?

— Mil desculpas, mas eu preciso cuidar de você também.

— Me poupa, Santinho.

— Ah... Eu devia me lembrar que você está desacostumada a "aparições". – disparou ele, tentando amenizar o que não tinha jeito. – Tá certo que não uso os mesmos artifícios dramáticos que meu irmão usava, como aquela fumaça preta e tal, talvez eu deva incluir... aspectos... cenográficos...

— Santiago, não começa! Hoje você está mais tagarela que o Henri! Da próxima vez em que ousar aparecer sem avisar, vou revogar o seu acesso a essa casa. Entendeu?

— Sim. – disse ele murcho. – Mas, Lisinha, tenho uma bomba pra te contar. – disse sem jeito. Ao perceber a aprovação de Elizabeth com um aceno, continuou – Ela está na cidade.

— Ela te procurou?

— Não, não! — disse ele, aflito — Eu passei por ela alguns dias atrás. Mas ela não me percebeu.

— Era só o que me faltava. Além do Benício, estar manipulando o Henri pelas fotos, essa maldita da Isadora tinha que aparecer logo agora. Me dê a sua medalha aqui. Preciso potencializá-la. Se essa infeliz está por perto, preciso canalizar mais energia para torná-los invisíveis a ela. – Elizabeth encarava Santiago de maneira desafiadora. - e acabo de realizar como. Venha.

Thiago a acompanhou entrando no interior do quarto, enquanto ela tirava de dentro do reflexo do espelho uma caixa de madeira que estava sobre a penteadeira.

Na caixa, havia vários tipos de pedras preciosas. Pegou a medalha.

O artefato conectava os irmãos a ela, e utilizava de sua essência para proteger, ocultar e imunizar ataques, tornando-os invisíveis para as criaturas intra, extra e também algumas espécies terrenas. Agora, utilizando o campo energético das pedras, inverteria o polo da medalha de Santiago, para que ele, também, fosse um canalizador de energia para os outros dois, permitindo, além de proteção, comunicação e localização, caso necessário.

Elizabeth lançou as pedras no ar fazendo-as flutuar alinhadas como o cruzeiro do sul. Posicionou a medalha no centro da constelação formada pelas rochas e projetou seu mana para ativar o funcionamento e criar uma liga bastante poderosa. Santiago repetiu os gestos que ela fazia e, também, projetou sua energia.

— Essa medalha conectará os três e toda vez que essa vadia se aproximar de algum deles, você saberá. Você poderá canalizar a sua força até eles e expulsá-la. Mas alerto que se ela o ver, ou sentir o cheiro dele, pelo menos uma única vez, por uma fração de segundo, todo o nosso esforço será lançado por terra.

— Liz, eu não vou falhar.

— Assim eu espero. Porque ultimamente...

Elizabeth sentia-se exausta. Depois da segunda morte de Benício, sua resistência física tinha diminuído consideravelmente. Desabou na cama e um fio de lágrima escorria solitário em seu rosto quase translúcido.

Thiago cuidadosamente se aproximou, tirando-lhes as chinelas, a ajudando para que ficasse mais confortável, cobrindo-a com um suave lençol.

— Obrigada.

— Não há de quê. – respondeu ele, logo se aconchegando ao lado dela, a envolvendo em seus braços.

— Você não deveria estar em São Paulo?

— Sim, e pra todos os efeitos, estou. Ao que tudo indica, estou descansando no meu quarto de hotel após uma cirurgia delicada, com o telefone desligado.

— Você deveria voltar.

— Eu não vou a lugar algum. Esta noite eu fico.

Liz permitiu que a serenidade dele a envolvesse. 

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