Akai Ito - Tobiizu

Da LarryQuebrandoOTabu

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Uma história narrada pelo Destino. Não façam plágios, por favor! Iniciada em: 18/09/2021 Altro

O grande livro dourado
Deusa menor
Parte de mim
Na companhia de uma deusa primordial
Sala do piano
Maninho
Rainha
Dia de folga
Julgamentos
Parabéns, Hera

O dia mais esperado

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Da LarryQuebrandoOTabu

Hey babys 🤪

Como vocês estão hoje? Contem pra mim 🙃

Muuuuito obrigada pelo apoio com o primeiro capítulo!!! É muuito importante pra mim, juro! Vocês são uns anjinhos na minha vida, poxa 🥹

Voltei com a temida e exagerada compulsão por emojis, tô nem aí 😝

Bom, deem uma olhadinha na capa do capítulo. Olha só se Izuna não é uma grande gostosa. Nossa sério, essa foto é perfeita pra definir como eu vejo ela nessa fic aaaaaaaaaaaaa

Não vou ficar alugando vocês hoje, já vou liberá-los para irem ler, prometo

Espero que gostem, boa leitura!




  Recuei para trás com força, minhas costas batendo contra o estofado macio da minha poltrona e a luz das iluminarias voltando a se fazer mais presente. 

Minha cabeça doía um pouco e meu estômago estava revirado, o que era inusitado. O lado bom de ser um deus é não sentir esses problemas mundanos dos demais seres vivos. O fato de eu estar querendo colocar meu café-da-manhã para fora queria dizer mais do que eu mesmo poderia explicar.

Olhei para o livro em minhas mãos. Eu tinha avançado bastante páginas somente naquela mergulhada, como sempre acontecia, já que os livros realmente só me mostravam o que era extremamente interessante e necessário para que eu compreendesse a história da pessoa.

Eu gostava disso, sabe? Espionar a vida de todo mundo. Eu não saía da minha casa. Eu não via o lado de fora. Nunca vi, para falar a verdade. Não era algo que eu poderia fazer. Até mesmo os deuses tem uma restrição. 

Eu era poderoso. Muito poderoso. Mas tão misterioso quanto. Tanto que nem os demais deuses tinham 100% de certeza se eu existia mesmo ou se o destino era apenas uma força da natureza. Bom, eu existia e não era só o deus do destino como o da sorte, das criaturas do tártaro e o da morte também.

Não, não era como Hades ou Tobirama (por que o nome japonês dele tinha que ser tão parecido com o meu? Sou bem mais Hashirama, pra falar a verdade). Eu não gostava muito desse deus, para ser sincero. 

Tobirama não sofria quando perdia alguém e isso tirava completamente a graça do meu trabalho. Eu gostava de boas histórias, com muito drama envolvido. Lutas, perdas, sofrimento. Ele tinha sofrimento até demais, mas estava conformado com ele. E isso me desanimava.

Eu estava mais para... O deus que controlava tudo. Zeus, não era nada perto de mim. Eu não falava necessariamente o momento que uma alma iria nascer, encontrar o amor da sua vida ou morrer. Apesar de ter o poder de fazer isso e muito mais. Eu apenas as conduzia, levando para o caminho que era bom para mim e consequentemente para o universo.

Se não fosse muito presunçoso da minha parte – e que isso muito provavelmente me traria muitos problemas – eu diria que controlava o próprio universo.

Mas aí já era pegar pesado demais.

Então, o fato de estar com dor de cabeça e com vontade de vomitar por ver fragmentos da vida de uma garotinha entre seus oito e nove anos, me fez questionar se ela era mesmo somente uma semideusa grega filha de Afrodite. Nem mesmo um filho de um dos três grandes me traria aqueles problemas. 

Era curioso. Muito curioso.

Essa menina estava claramente destinada a coisas grandiosas.

Voltei a olhar para o livro, me questionando se eu devia continuar a ler. Talvez não fosse bom para mim. Se a menina tão jovem foi capaz de me deixar dessa forma, o que me aconteceria quando lesse o momento de sua morte? Porque sim, se aquele livro estava em minhas mãos, Izuna Uchiha já estava morta.

Sacudi a cabeça, fechando o livro antes de me levantar. Eu não iria lê-lo mais. Não iria ler mais nada naquele dia, estava muito atordoado. As almas falecidas daquele dia poderiam esperar mais um, para então poderem receber minha assinatura em suas obras e enfim irem para a fila do julgamento, para serem testadas se iriam para uma eternidade boa, mediana ou péssima, ou ainda, se poderiam reencarnar.

Caminhei devagar entre os diversos e longos corredores da casa solitária e vazia. Às vezes pensava que viver ali era tanto uma dádiva quanto um castigo. Eu odiava as outras pessoas, gostava mil vezes mais de ficar apenas em minha companhia, mas ficar sozinho por tanto tempo começa a te fazer odiar até mesmo a sua companhia. Era enjoativo ficar só com você mesmo.

Apareci na enorme sala de jantar e percebi que a mesa já estava repleta de coisas que eu adorava comer na hora do meu almoço. A magia do lugar me ajudava muito também, ao manter tudo limpo e organizado, fazendo minhas refeições e cuidando da minha saúde.

Porque sim, deuses podem ficar doentes. Doentes da cabeça, eu quero dizer. É o lado ruim de você ter o mundo nas mãos e às vezes não saber o que fazer com isso. É como se nada te satisfizesse e isso acaba te deixando maluco.

Como eu sou Hashirama – ah sim, vou passar a usar meu nome japonês também, mas não tem nada a ver com a escolha do Tobirama –, filho de Nix, deusa da noite, uma das deusas primordiais, minha fonte de poder é muito mais potente do que de Tobirama – aquele que eu não gosto, só para lembrar – e a dele é muito mais potente do que a de Ares, por exemplo. E esse, é ainda maior do que de um deus menor.

Isso quer dizer que eu não necessariamente preciso comer três vezes por dia como os humanos. Deuses menores não precisam, eles podem sobreviver muito bem e firmemente com uma refeição a cada uma semana. Eu poderia viver sem comer nada por um ano inteiro, mas amo o gosto que comidas tem. Amo saborear, desfrutar do gosto, então como sempre que posso.

O que é sempre.

Assim que me sentei na cadeira da ponta, todas as comidas desapareceram e aquele maldito livro voltou a aparecer, fechado do jeito que deixei na biblioteca, apoiado na mesa bem na minha frente. Grunhi, irritado com a casa.

— Estou com fome! – Tentei protestar, mas como resposta, o livro se abriu e as páginas começaram a ser passadas depressa até pararem novamente, uma boa porcentagem mais para frente de onde eu tinha parado antes. — Você não pode me obrigar a ler!

Um maravilhoso prato de cheesecake de morango apareceu do outro lado da mesa, como se a pessoa que fosse se sentar de frente para mim, na outra ponta, estivesse para comê-lo. Minha boca salivou, era a sobremesa que eu mais gostava.

— Ah, como eu odeio você. – Resmunguei, nada satisfeito com aquela chantagem. — Tudo bem, tudo bem. Você venceu. Eu vou ler essa porcaria.

Respirei fundo, apoiando os braços ao lado do livro na mesa. Li a data primeiro, notando que havia passado nove anos de onde eu tinha parado. Olhei para o cheesecake mais uma vez, meu estômago roncando como incentivo.

Era só fazer aquilo de uma vez e eu não desperdicei mais tempo.


💀📖 💓


Quando a concha soou, deu início ao dia mais esperado da vida dela.

Izuna abriu os olhos no mesmo segundo, sorrindo largo ao que todos os seus irmãos começaram a soltar gritinhos animados. Ela riu quando seu colchão afundou com o peso deles e tentou não ficar surda com toda a falação que logo se iniciou.

— Levanta! Levanta! Levanta! – A caçula pulava animada, segurando uma de suas mãos e tentava a puxar para fora da cama. — Precisamos te arrumar!

— Mas preciso fazer algumas coisas hoje. – Ela se sentou no beliche, jogando os cabelos extremamente lisos para o lado esquerdo do pescoço. — Tenho que preparar o altar da mamãe antes da oito.

— Eu faço isso. – Shoto deu um sorriso de lado, balançando a mão como se não fosse nada demais.

— Obrigado, maninho, mas eu ainda tenho que-

— Izuna! – Eles gritaram juntos e ela parou de falar enquanto soltava uma risada pelas caretas que eles faziam. — Hoje é o dia mais importante da sua vida! Deixa as obrigações para nós, ok?

— Ok. – Ela abriu um sorriso largo, branco e lindo. — E então, quando começamos a me arrumar?

Os mais novos pularam animados mais uma vez, ansiosos e eufóricos. Eles a puxaram com força e Izuna se levantou, se vendo empurrada até o banheiro para escovar os dentes e tomar um banho, para logo depois ser rodeada por todos os irmãos que começaram a correr com roupas e acessórios pelo quarto, a arrumando enquanto discutiam entre eles mesmo para a deixar impecável, digna de uma filha de Afrodite.

Alguma coisa explodiu do lado de fora da casa deles e eles nem se importaram em ver o que foi aquilo, já que conseguiam escutar os berros do pessoal de Ares ao mesmo tempo que as gargalhadas dos de Hefesto preenchiam suas audições. Era só mais um dia normal para aqueles que não eram os conselheiros chefes de suas casas e isso era igual a algumas pegadinhas e muitos gritos.

— A pele dela está bem bronzeada esses últimos dias. – Momo dizia a Hinata enquanto passava blush nas bochechas de Izuna. — Não vamos exagerar na maquiagem.

— Não vamos calçar saltos nela, vai que eles vão fazer alguma atividade lá? – Shoto lembrou, tirando os saltos das mãos da caçula. — Pega uma sapatilha.

— Então nada de vestidos? – A pequena quis saber.

— Mas eu gosto de vestidos. – Izuna reclamou, bem paradinha e quase sem mover a boca para não ser machucada por aqueles que cuidavam deu sua aparência. — Separei um vestido que ganhei do Kagami para usar.

— O filho de Hermes te deu um presente? – Sasuke ergueu as sobrancelhas num claro gesto malicioso, que fez as bochechas de Izuna esquentarem e o resto dos irmãos gargalharem dela. — Por que não nos contou?

— Você ainda pergunta? – Ela murmurou 100% sem graça pelos olhares que recebia e eles riram mais uma pouco. — Foi só um presente de boas-vindas. Eu meio que salvei a irmã dele na última missão, então...

— Então porque nenhum outro filho de Hermes te deu um presentinho, hum? – Ino escovava os cabelos da mais velha com delicadeza para logo depois começar a fazer cachos suaves nas pontas dos fios, que quase batiam para baixo da cintura dela.

— Porque.... Aí, parem! – Ela bateu naqueles que estavam em seu campo de visão e eles riram mais uma vez. — Vamos voltar para o foco da conversa, sim? Ele me deu um vestido amarelo muito lindo. Quero usar.

— Tudo bem. Onde está? – Shoto se virou para onde as coisas da conselheira chefe ficavam.

— No manequim. – Ela respondeu. — Não queria que ficasse amassado.

— Uau. – O segundo filho mais velho precisou abrir a boca, impressionado com a obra linda em forma de roupa a sua frente.

Ele tinha mangas curtas e levemente sanfonadinhas. O tronco era suavemente colado e ia ficam mais largo com o decorrer do tecido. Num tom de amarelo, que deixaria sua pele amorenada ainda mais linda, e com uma fileira de botões na frente que seriam todos bem abotoados.

— Não é que o garoto tem mesmo um bom gosto?

— Eu já sei uma sapatilha que vai ficar linda com essa roupa! – Ino foi saltitando até o seu baú, o abrindo e pegando um par branco com pequenas pedrinhas na borda. — Olha! – Ela as balançou na frente dos olhos de Izuna, que sorriu, assentindo com a cabeça.

— Vamos deixar seu cabelo solto então, apenas com cachos. – Momo voltou a falar, mais com a Hinata do que com a mais velha. — Podemos fazer os olhos esfumaçados e um batom bem clarinho na boca.

— E os acessórios? – A caçula abriu a maleta com todos os brincos, colares, pulseiras e anéis que eles tinham ali, fazendo todos os nãos ocupados avançarem em cima dela para ajudar na escolha.

— Ainda bem que tenho vocês. – Izuna sorriu de olhos fechados enquanto sentia o pincel passar levemente em suas pálpebras. — Apesar de ter sido eu que ensinei a vocês tudo isso.

— Você fala isso porque não viu a tragédia que foi isso aqui quando você ficou fora por seis meses. – Hinata riu, começando a passar o batom na boca da irmã. — Shoto ficou encarregado de nós e nós quase morremos.

— Que exagero. – O menino resmungou, revirando os olhos. — Só porque perdermos todos os jogos e ficamos obrigados a fazer a limpeza? Sobrevivemos, não sobrevivemos?

— Só porque a Izu voltou a tempo. – A caçula brincou, fazendo todos rirem. — Nunca mais nos deixe, Izu. – Ela pediu, colocando vários anéis delicados nos dedos magrinhos e bonitos da mais velha.

— Bom, é provável que eu não vá sair mais em missão por um bom tempo. – Ela abriu os olhos quando viu que podia, percebendo que todos a encaravam curiosos. — Eu passei. – Os deu um sorriso largo e orgulhoso. — Entrei na faculdade que queria.

— O quê!? – Eles saltaram animados e surpresos. — Mas como!? Você nem teve tempo para estudar! – Ela riu, dando de ombros. — Deuses! Temos um gênio na família! E o Naruto insiste em falar que você não poderia ser filha de Atena! – Ela riu outra vez.

— Parabéns, Izu! – Shoto a abraçou apertado. — Fica cada vez mais difícil seguir os seus passos, grrr. – Ela riu, o empurrando para longe.

— Eu vou continuar por aqui, mas provavelmente só nos fins de semana ou quando for extremamente necessário. Shoto, você vai ter que dar um jeito de manter isso em pé. – Ela olhou brincalhona para o bicolor, que suspirou já muito cansado.

— Estamos ferrados. – Momo choramingou e eles riram quando a morena foi acertada por um travesseiro.

— Aqui... – Hinata disse, quando terminaram com o rosto de Izuna. — Agora é só colocar a roupa e os calçados.

Eles tiraram o vestido do manequim e trouxeram as sapatilhas para perto da menina metade produzida. Baterem na porta dois segundos depois e Ino foi saltitando até ela, a abrindo e se apoiando na madeira.

— Precisamos da Izuna. – A voz era de Katsuki, um dos filhos de Ares. — Ela ficou responsável de-

— Shhhh. – A loira o interrompeu, enfiando seu dedo na boca dele e fazendo ele ficar irritado. — Eu faço. Vamos. – Ela o girou e o empurrou, saindo do chalé e fechando a porta, não sem antes mostrar o polegar para a mais velha, que sorriu e agradeceu.

— Certo, vamos nos separar. – Shoto disse, encarando seus irmãos mais novos. — Temos que terminar os deveres da Izuna antes de dar a hora de eles saírem. – Todos assentiram, correndo para guardar a bagunça que fizeram para ajeitar a mais velha e logo depois saíram do chalé também, cada um seguindo uma ordem. — E você. – Ele apontou para a garota com o vestido e o calçado ainda em mãos. — Termina de se arruma e se distrai um pouco, sei que está nervosa.

— Obrigada, Shoto. – Ela sorriu para ele, lhe deixando um beijo leve e carinhoso na bochecha, fazendo o mesmo sorrir antes de se afastar e sair do chalé também.

Izuna suspirou quando se viu sozinha naquele imenso chalé. Antigamente ele era mais cheio, mas nos últimos anos... Bem, parecia que havia uma maldição naquele lugar. Todo semideus filho de Afrodite que saia em missão, sempre acabava morto. 

Ninguém queria deixar Izuna ir na última, mesmo quando a profecia tinha sido clara sobre precisarem dela. Muitos eram porque não queriam perdê-la, outros eram porque não acreditavam que ela iria ajudar.

Mas no fim, ela acabou rompendo essa bobagem toda.

Ela se livrou do pijama e colocou o vestido, cuidando com o cabelo e a maquiagem para não estragar nada. O tecido caiu perfeitamente em seu corpo, apertando o busto e rodeando suas coxas. Kagami tinha acertado mesmo, era um presente perfeito.

Calçou as sapatilhas, agradecendo por, mesmo que fosse a mais velha, ser bem pequena, pois então calçava o mesmo número que uma das mais novas das suas irmãs. Ajeitou o colar delicado no pescoço e se olhou no espelho, sorrindo para o resultado.

— Bom... – Ela falou sozinha. — Estou pronta, agora o que faço para me distrair?

Ela saiu do chalé, piscando algumas vezes para seus olhos se acostumarem com a claridade do céu bem azulado e limpo. Todos já estavam a pleno vapor, correndo para lá e para cá. Ela sorriu para isso, sentiu muita falta quando esteve em missão, tentando recuperar os objetos perdidos de Ártemis.

Acenou para algumas pessoas enquanto caminhava em direção a floresta. Ela amava passear por aqueles vastos e encantadores campos abertos, principalmente por terem enterrado seu pai por lá e ela sentir a áurea boa e tranquilizadora dele sempre a rodear. Era como se pudesse ficar perto dele, mesmo que não fisicamente.

Logo, ela foi rodeada pelas ninfas que moravam por ali, que a elogiaram pela aparência e comemoraram com ela sobre o grande dia. Seu bom humor as alegrava, fazendo com elas ficassem saltitando em sua volta, apreciando a sua companhia. O sol fazia sua pele amorenada brilhar ainda mais e o vento balançava graciosamente seus cabelos longos e cacheados, espalhando seu cheiro ainda melhor do que o das flores.

— Ela vai adorar você, Izu. – Uma das ninfas assegurava enquanto flutuava nas costas dela e fincava pequenas flores no meio de seus cachos. — Todos amam você.

— Mas... – Ela suspirou, por um momento apreensiva. — Estamos falando dela. E se eu, por algum motivo, a irritar? Porque, poxa, quero tanto conhecer minha mãe, não quero que ela me odeie.

— Lady Afrodite é a deusa mais amorosa e simpática que conhecemos. Vocês são extremamente parecidas. Vão se dar super bem. – Uma outra reforçou, segurando suas mãos delicadas para fazer a mesma girar, ganhando um riso doce como recompensa.

— Eu acho que nunca fiquei tão feliz de ser conselheira chefe do meu chalé. – Ela foi sincera, olhando mais para o horizonte, aonde grandes casas estavam distribuídas perto umas das outras. — Essa chance de cada um conhecer o seu pai ou a sua mãe, provavelmente, nunca mais vai acontecer.

— É mesmo. – Elas soltaram risadinhas, saltitando para longe apenas para buscar mais flores e as prender em Izuna. — Lord Zeus devia estar de bom humor para ter sugerido isso, mas acredito que seria ainda melhor se todos os semideuses pudessem conhecer os seus pais, não só vocês dez.

— Sim... – Ela suspirou, parando de andar pois já estava quase na hora do grande show. — Ino queria muito conhecer a mamãe também, ela chorou bastante quando soube.

— Quem sabe algum dia. – Elas a consolaram e Izuna abriu um sorriso lindo para as mesmas, respirando fundo como quem quer criar coragem.

— Preciso ir. – Ela se balançou nervosamente e as ninfas riram de sua doçura. — Me desejem boa sorte.

— Boa sorte, querida. – Elas falaram juntas e ficaram acenando enquanto Izuna voltava aos pulos alegres para aonde a maioria dos conselheiros dos chalés já estavam, aparentemente todos nervosos e ansiosos como ela.

Com todos eles juntos, era mais fácil perceber o quão diferente eles eram um do outro. Uns eram altos, outros extremamente baixinhos; alguns possuíam cachos enrolados dourados como o sol, enquanto outros possuíam apenas fios lisos e negros como piche; deixando ainda mais claro quem era a sua parte divina. Mas uma coisa todos eles tinham em comum: temiam decepcionar o deus que o gerou.

— Ah, aí está você! – Sakura agarrou sua mão, a diferença entre elas ficando mais evidente quando ficaram mais próximas.

Enquanto Izuna era toda pequena e magrinha, delicada e extremamente vaidosa, a filha de Hefesto era alta e corpulenta, vestida num macacão sujo de graxa e tinha extrema força, tal qual machucou a amiga, que segurou um murmúrio de dor.

— Estava com as ninfas. – Se justificou, tentando soltar o aperto.

Deuses, como aquela garota era forte!

— Você sempre está com elas. – Ela grunhiu nervosa, levando a outra mão até a boca e começando a roer suas unhas já na carne. — Preciso que você cante ou eu vou explodir.

— Eu também preciso. – Minato se agilizou para ficar do outro lado da menor. Sendo filho de Apolo, música sempre o acalmava e Izuna tinha uma facilidade tremenda em usar sua bela voz para fazer as pessoas sentirem o que ela desejava.

Izuna apenas sorriu, assentindo sem se importar em fazer aquilo pelos amigos. Pediu que Minato usasse suas habilidades para uma música de fundo e logo passou a cantar calmamente, entoando uma das músicas mais lindas que já existiu. No mesmo segundo, todos os nervos dos demais relaxaram e eles até julgaram estarem preparados para aquilo.

O que era um erro, ninguém estaria preparado para conhecer os Deuses Olimpianos.

— Lindo, Izuna. – A voz grave, porém carinhosa, do imortal que cuidava de todos eles interrompeu quando a música já estava quase no fim, fazendo todos se virarem e notarem ele ali de pé, sorrindo para eles. — Prontos para irmos? – Perguntou, com as duas sobrancelhas erguidas, e o pavor pareceu voltar em metade do grupo. — Calma, queridos. Vai ficar tudo bem. – Ele assegurou em meio a uma risadinha, esticando o braço e fazendo uma porta enorme aparecer no meio do nada.

O símbolo do Olímpio estava talhado no metal, que parecia ser extremamente pesado, mas Janus empurrou com tanta facilidade que parecia ser feita de papelão. Ele entrou, sem medo algum, e os semideuses foram hesitantes atrás dele, olhando todos os cantos em volta com extremo fascínio e empolgação.

Colunas enormes e brancas se erguiam do chão até o teto, este que era aparentemente enfeitiçado para parecer um céu sempre noturno cheio de estrelas. De metros em metros, uma estátua de um dos deuses mais importantes estava elegantemente posicionada como se estivesse avaliando quem andava pelos corredores do Monte Olimpo. Quadros de feitos históricos por eles estavam emoldurados nas paredes, que eram todas talhadas com as joias mais preciosas que poderiam existir. O piso era tão brilhante e polido, que dava para ver o seu próprio reflexo perfeitamente nele e, de algum canto, o som de uma arpa estava ecoando por todo o lugar.

— Ah, meus deuses! Olhem toda essa arquitetura!

— É com isso que você está impressionado!? Olhem todo esse ouro! Daria para comprar três estados com ele!

— Nem pense em roubar!

— Isso é preconceito, sabia? Só porque meu pai tecnicamente é o deus dos ladrões, não quer dizer que eu tenha que roubar tudo que vejo!

— Mas você rouba tudo que vê!

— Garotos. – Janus interrompeu a discussão quando eles já estavam diante as outras portas e todos prenderam o fôlego, sabendo exatamente o que viria a seguir. Não tinha símbolo algum nelas, mas de alguma forma, eles sentiam o poder que estava emanado lá de dentro. — Por Caos, se comportem. – Pediu, respirando fundo antes de empurrá-las de uma vez, saindo da frente para que o grupo pudesse absorver toda a grandeza que existia naquele salão.

— Uou. – Izuna soltou pela primeira vez, admirada.

Diante deles, existiam treze tronos enormes, enfileirados iguaizinhos as casas aonde moravam, formando uma grande U. Os deuses estavam sentados neles, com seus impressionantes trinta metros de altura cada um. Suas posturas eram de reis e rainhas, e eles pararam de conversar para os encararem de volta.

Izuna procurou depressa pela sua mãe, a encontrando já a encarando. Seu coração disparou e seus olhos marejaram levemente enquanto um sorriso imenso quase rasgava seus lábios, e ela quase desmaiou quando a mais velha retribuiu o gesto suavemente.

Afrodite era tão linda e encantadora quanto todas as histórias contavam sobre ela. Como a filha, a deusa tinhas os cabelos escuros e compridos, que eram suavemente enrolados invés de lisos como os de Izuna. Os olhos poderosos das duas variavam, a da semideusa eram escuros como uma noite sem estrelas, enquanto a da deusa era de um tom de azul tão lindo quanto o céu no seu dia mais limpo e radiante. Ainda assim, eram extremamente parecidas.

As mulheres mais lindas do mundo, sem dúvida.

A deusa de trinta metros de altura ergueu seu braço fino, cheio de pulseiras de ouro, de maneira discreta e acenou alegre para ela, fazendo um riso baixinho escapar da filha e ela acenar de volta, tão feliz quanto.

Aquilo só podia ser um sonho! Era tão bom finalmente ver sua mãe! Era o que ela sempre quis!

De repente, ela sentiu seu dedinho apertar tanto que até machucou. Ela grunhiu, abaixando o olhar para a mão esquerda, sem entender nada. Seu dedo continuava normal, nem ao menos parecia vermelho ou algo do gênero, mas ela ainda o sentia latejando, ficando cada vez mais esmagado.

Ela franziu o cenho, erguendo os olhos. Tentou achar Janus, queria falar com ele. Se fosse uma dorzinha boba, ela nem daria bola, mas cada segundo que passava, mais doía, ao ponto de começar a fazer seus olhos começarem a marejar mais e seu estômago revirar, agitado.

Os olhos dela continuaram buscando Janus. Seus amigos estavam muito focados admirando toda a espetacularidade dos próprios pais para perceberem que ela estava incomodada. Ela sentiu uma vertigem e precisou piscar diversas vezes para não acabar caindo, pois seus joelhos pareciam feitos de gelatina e mais nada. Seu mentor não parecia estar em lugar algum e ela começou a respirar com mais dificuldade.

Droga. Não desmaia, não desmaia, não desmaia. – Ela pediu mentalmente, tentando se manter de pé.

Ela, muito atordoada, ergueu os olhos de novo, certa que se continuasse olhando para a sua mão poderia até mesmo acabar vomitando. Respirou fundo e jogou os cabelos para trás, se abanando discretamente já que sentia suor acumulando em todo o corpo. Quando ela, enfim, pareceu se estabilizar, seu olhar se encontrou com um castanho avermelhado e a intensidade dele fez sua estrutura ser comparada a massinha de modelar.

O deus do mundo inferior parecia ser o mais rígido de todos, a expressão fechada enquanto os demais possuíam sorrisos leves e expressões suaves. Uma de suas mãos estava esmagando o braço do trono enquanto a outra estava fecha em forma de soco, apertando bem seus dedos.

Oh, aquilo não era bom.

Ela engoliu em seco, olhando para o lado numa tentativa falha de fugir de seus olhos penetrantes. Falha, porque assim que virou a cabeça, seu olhar entrou em contato com o de outro deus e, dessa vez, a sensação foi mil vezes pior. O deus dos deuses a encarava tão fixamente por tanto tempo que ela se remexeu desconfortável, olhando para a sua mão de novo, preferindo passar mal do que encarar eles.

— Semideuses! – A voz de Zeus era assustadoramente poderosa, fazendo o chão e as paredes tremerem e os corações mortais vibrarem. — Sejam bem vindos!

— Ih, ala. Vai começar de novo com isso. – Poseidon resmungou pelo senso de superioridade que seu irmão tinha. Era tão irritante. — Quem morreu e deixou ele no trono?

— O pai dele. – Dionísio respondeu, dando de ombros. — Você o ajudou a picotar ele, se esqueceu?

Sim, Izuna já havia aprendido sobre aquilo. Foi na idade dourada, como Cronos gostava de chamar. Ele era um dos mais jovens dos Titãs. Ele era o pai de alguns dos deuses a sua frente, mas era mal e impetuoso. Comia os filhos para não os dar uma chance de matá-lo, como ele fez com Urano, o seu pai. Porém Reia, irmã dele que acabou se tornando sua mulher mais tarde, escondeu Zeus de Cronos, os dando uma oportunidade de revidar. E junto dele, Poseidon e Tobirama fatiaram o Titã, jogando seus pedaços em uma prisão no Tártaro.

Essa história sempre deu calafrios nela.

— Ah, é. Verdade. – Os dois começaram a rir, levando alguns outros deuses juntos, o que fez Zeus olhar zangado para eles.

Os deuses do Olimpo pareciam apenas crianças brincando de serem reis do universo todo, que desespero.

— Como dizia. – Zeus retomou, sua voz mais severa ainda como que em um alerta para que ambos parassem com as risadinhas. — Não é todo dia que cedemos uma exclusividade dessas, mas após conversarmos um pouco, decidimos passarmos esse dia com vocês, para que nos conheçam melhor.

— E isso não tem nada a ver com os rumores de que estamos sucumbindo a pressão e precisamos que vocês espalhem histórias de como estamos super bem como sempre. – Apolo completou divertido e alguns deles riram de novo, o que fez Zeus se encostar no seu trono e enfiar a mão divina na cara.

Os semideuses soltaram risinhos baixos, com medo de serem reduzidos a pó se irritassem o deus dos deuses. Janus reapareceu apenas para os informar que voltaria para buscá-los no final do dia e sumiu quando atravessou a porta, deixando apenas pais e filhos no grande salão dos tronos.

O clima pareceu pesar ainda mais nos ombros dos menores quando eles pararam de rir e voltaram a se encarar.

— Certo, eu vou lá para fora. – Ártemis avisou, se pondo de pé. — Se algum de vocês quiserem ir falar comigo, podem ir para lá. – Ela sorriu e, em um estralo de dedos, se resumiu a apenas um grande ponto brilhante, que flutuou até uma janela e desapareceu.

— Com licença, meus amores. Sei que não vivem sem a minha presença, mas hoje eu estarei imensamente ocupada! Eu estou louca para conhecer a minha filha! – Afrodite se pôs de pé também e Izuna sorriu ainda mais largo, apertando as mãos uma na outra em extrema expectativa. — Vamos, amor? – Pediu, caminhando em sua direção.

A cada passo que a deusa dava, uma boa porcentagem de rosas ficava para trás, diminuindo seu tamanho gradativamente. Quando parou em frente à filha, estavam da mesma altura. Izuna sentiu os olhos marejarem de novo e com a mão trêmula, enrolou o braço da mais velha, andando com a mesma para o lado de fora.

— E então. – A mãe cantarolou com a sua voz tão melodiosa, olhando divertida para a mais nova. — Tem namorado?

Izuna quase engasgou com o ar, fazendo a outra rir. Era previsível que a deusa do amor e da sexualidade fosse perguntar isso a sua prole, mas seria mentira se a garota dissesse que não havia rezado para não ser logo de cara. E é claro que Afrodite sabia daquilo, afinal, Izuna havia rezado para ela.

Com as bochechas bem rosadas, Izuna colocou uma mecha encaracolada atrás da orelha, olhando para tudo que não fosse a expressão curiosa e faceira de sua mãe. O jardim do palácio era ainda mais bonito do que o lado de dentro. A grama era bem verde e aparada, as flores bem vivas e coloridas e isso era o mínimo, já que a deusa da agricultura estava bem ali. 

Ao contrário do lado de dentro, o céu brilhava em um azul claro com poucas nuvens brancas. Vários espíritos da natureza transitavam por ali e sorriam e acenavam para as duas ao passar pelas mesmas. O som da arpa ainda era escutado.

— Eu, ahn... – Izuna tossiu para achar voz. — Acabei de voltar de uma missão.

— Sim! – A deusa sorriu ainda mais. — Você foi incrível, querida. Ártemis te elogiou bastante para mim. Fiquei muito orgulhosa.

Ela ficou orgulhosa de mim! – Izuna queria chorar de novo, ainda mais por ela estar a tratando nos pronomes femininos.

Com um sorriso enorme ela voltou a dizer:

— Não tive tempo para namorados nos últimos meses.

— Ah. – A deusa suspirou, revirando os olhos. — Bobagem, minha filha. Eu lutei grande guerras e ao mesmo tempo conquistei muitos corações! Vai me dizer que nenhum amigo seu nunca quis te dar um beijinho? – A olhou desconfiada e Izuna sentia suas bochechas fumegando.

— Sim. Quer dizer, não. Não, não é isso... – Ela automaticamente segurou o vestido, algo que não passou despercebido pela mais velha.

— Ahá! – A deusa passou a rir, fazendo Izuna rir também, totalmente sem graça. — Você é minha filha, querida. E uma das mais linda que já tive, tenho que admitir. Não escapará disso. Mas agora, me conte como foi a sua vida até então. Estou super curiosa.

Os olhos da mais nova brilharam diante o pedido. Seu sonho era chegar em casa e contar todos os detalhes cotidianos para os seus pais. Infelizmente, sua mãe nunca pode estar por perto e seu pai havia falecido quando ela mal tinha oito anos, que foi quando ela conheceu todo esse mundo. Hoje, com dezoito anos, ela mal podia acreditar que estava rindo com a deusa no Monte Olímpio.

Era hora de aproveitar.

— Você dança? – A deusa tinha as duas mãos contra o peito, parecendo fascinada. Ela amava danças.

Elas estavam sentadas em uma das mesas do grande jardim que existia ali. Ninfas colhiam flores para trocar aquelas que já estavam nos cabelos de Izuna e Afrodite parecia adorar como a filha era tão paciente e carinhosa até mesmo com seres da natureza. A semideusa parecia irradiar uma áurea tão boa, angelical e contagiante, que ela mal via as horas passarem enquanto conversavam.

— Ela é maravilhosa dançando, Lady Afrodite. – Naruto interrompeu a amiga mais velha, se sentando do outro lado da deusa, que sorriu seu sorriso mais bonito para o filho de Poseidon. — É uma tradição vê-la dançando todos os dias no jantar.

Izuna corou quando Naruto a olhou com toda aquela beleza herdada do pai. Ele tinha três cicatrizes que, a cada vez que abria um sorriso galanteador, fazia seu rosto ficar ainda mais bonito. A filha de Afrodite já tinha tido uma quedinha por ele alguns anos atrás, antes de ele pedir seu irmão Sasuke em namoro.

— Que incrível! – A deusa olhava para a filha com um tiquinho de divertimento. — Então, além de ser praticamente uma modelo, é cantora e dançarina também?

— Oh, ela acabou de ser a primeira semideusa a entrar em Juliards também. – Naruto continuou contando e Izuna arregalou os olhos para ele.

— Como você está sabendo disso!? – Ela parecia mortificada de vergonha.

— Seus irmãos. – Ele riu. — Sasuke me contou. Ino contou a Sakura. Enfim, todos já estão sabendo.

— Oh, não. – Ela abaixou a cabeça nos braços em cima da mesa, fazendo os outros dois rirem dela, até mesmo as ninfas riram.

— Você devia é ficar orgulhosa de ser assim, Izu. – O garoto esticou a mão para brincar com os cachos da mais velha num carinho que fez ela tombar o rosto para o lado e sorrir para ele. — Quem dera eu ser assim... Tô correndo risco de reprovar de novo. – Fez uma careta que fez ela rir soprado.

— Vocês se conhecem há muito tempo? – A deusa não pode deixar de sentir a intimidade de ambos, que aparentemente haviam se esquecido aonde e com quem estavam.

Foi algo automático, ambos se ajeitaram depressa na cadeira, os rostos ficando vermelhos na mesma medida. A deusa soltou um riso glamoroso, fazendo com que eles ficassem ainda mais constrangidos.

— Sim. – Izuna respondeu, bem baixinho. — Faz tempo.

— Deixa-me adivinhar. – A deusa se encostou para trás, tamborilando as unhas bem feitas na mesa. — Foram a primeira paixão um do outro?

Eles se engasgaram.

— Mãe! – Izuna estava com os olhos extremamente arregalados enquanto a olhava apavorada e a deusa apenas sorriu ainda mais.

— Julgando pela reação, também foram o primeiro beijo um do outro.

— Eu vou dar uma volta. – Ela se levantou, aproveitando que os demais semideuses também estavam trocando de deuses para poder fugir.

Afrodite rapidamente foi cercada por quase todos os meninos do grupo de semideuses e Izuna olhou em volta, encontrando com a deusa Ártemis, que ensinava o filho de Apolo a como a atirar em um animal em movimento a uma distância tão longa, que o enorme e lindo Puma na verdade mais parecia uma mosquinha pequena.

— Izuna! – Minato sorriu grande para ela, a chamando com a mão. — Venha ver! A Lady Ártemis é incrível!

A deusa riu da felicidade de seu sobrinho, voltando a atirar e deixando os dois tentarem logo depois, os auxiliando. Minato foi mil vezes melhor do que Izuna, obviamente, e ela suspirou meio cabisbaixa, deixando os dois se divertindo com o assunto que ela claramente não conseguia fazer parte, para dar continuidade a sua tour.

Ela voltou a andar, todos os deuses estavam ocupados respondendo perguntas e contando histórias como se fossem verdadeiros astros de rock. Dionísio dava vinho escondido para os adolescentes mais rebeldes e Ares instigava queda de braços entre outros. Trocou palavras com a maioria deles e tentou guardar a maioria das informações para poder contar aos seus irmãos quando voltasse. Eles iriam amar como Atena era extremamente elegante e como Deméter era tão cheirosa quanto a própria mãe deles.

Seus olhos se encontraram com os de Zeus algumas vezes e seu estômago voltou a revirar. Mesmo ele tendo os filhos de Atena, Deméter e Hermes sentados ao seu lado, seus olhos azuis faiscantes e severos estavam cravados nela todos os segundos, a fazendo engolir em seco.

Ela não sentiu nenhuma simpatia com aquele deus.

Olhou em volta novamente para fugir de seu olhar como vinha fazendo desde o começo, encontrando um deus mais ao longe, excluído de tudo e todos. Ele estava de braços cruzados e olhava para o horizonte com claro desânimo e cansaço, provavelmente nem queria estar ali.

Meio óbvio quem era esse deus, não precisava olhar seu rosto.

Hesitante, Izuna deu um passo em sua direção. Tobirama não se mexeu, continuando com a mesma expressão e postura, então ela deu outro passo. Foi se aproximando devagarinho, sentindo como se uma corda estivesse a puxando mais e mais, até parar ao lado dele, olhando o horizonte como o deus também fazia.

Minutos se passaram e ninguém falou nada. Estava bem constrangedor. Tobirama nem sequer parecia estar respirando ou seu coração batendo. Ele parecia... Uma alma morta esperando pelo seu descanso que nunca viria.

— Ahn... Olá, Lord Tobirama. – Ela disse timidamente, se virando levemente para o deus, que suspirou pesadamente como se estivesse aborrecido.

— Oi. – Devolveu.

Seu tom era arrastado e rouco, mas muito bom de escutar. Izuna reparou que ele vestia uma armadura de ferro preto e ainda assim dava para perceber como seu corpo era bem trabalhado – não como Ares, mas sim de uma forma natural e elegante –. Ele usava seu elmo também e seus olhos avermelhados mal davam para serem vistos, mas ainda assim ela conseguia sentir tristeza ao tentar olhar para eles. Sua postura era ereta e firme, como de um imperador. Ele era... Surpreendentemente bonito.

— Ninguém veio falar com o senhor? – Perguntou confusa, se virando para notar que seus amigos ainda pareciam muito entretidos com os demais Olimpianos.

— Vê alguém do meu lado além de você? – Ele retrucou ríspido e ela se encolheu, comprimindo os lábios.

— Não vejo, me desculpe. – Ela sussurrou, olhando para as flores perto de seus pés.

Seria muita grosseria se virar e caminhar depressa para longe dali? Por que mesmo ela resolveu ir falar logo com ele? Só por que ele estava sozinho? Apolo, mesmo tendo sido paparicado todos os segundos antes, também estava sozinho quando ela decidiu ir até ali. Podia ter voltado e conversado mais uma vez com o deus da medicina.

Na verdade, ela só tomava decisões erradas. Era bem ciente disso.

Ela se agachou, se ajoelhando na grama fofa. O vestido amarelo, que terminava em seus joelhos, rodeou suas pernas e as escondeu embaixo da barra. Ela passou a mão pelas pétalas, sentindo a maciez das flores, sorrindo tristemente enquanto tentava pensar no que fazer.

Que grande furada foi se meter.

— É a filha da Deméter? – Tobirama perguntou, como se ele já não soubesse a resposta, e ela ficou surpresa por ele ter puxado assunto, se erguendo depressa.

— Não, senhor. Sou filha da Lady Afrodite. – Ela sorriu, procurando pela mãe ainda toda rodeada por seus amigos. A deusa ria abertamente, adorando todo o mimo que recebia.

— Óbvio que é. – Ele retrucou, revirando os olhos.

Izuna franziu o cenho, colocando as mechas do cabelo atrás das orelhas enquanto o vento o bagunçava levemente. Tobirama inspirou profundamente, saboreando o cheiro bom que vinha dela, mas não alterou sua expressão e tão pouco sua postura.

— Me desculpe, mas o que o senhor quis dizer com isso? – Seu tom tinha um leve tom de irritação.

Como ele podia? Não interessava se era o deus dos mortos! Ela odiava quando a rotulavam por ser filha de Afrodite! Quase a tiraram da sua última missão achando que ela não daria conta do recado e, no fim, foi graças a ela que tudo foi muito bem sucedido! Ela era muito mais do que eficiente e odiava rótulos que impuseram nela, nos seus irmãos e em sua mãe.

Todos que faziam isso eram tão... GRRR!

Tobirama se virou. Seus olhos vermelhos, como o mais puro fogo ardente, encararam ela profundamente. Diferente de quando ela foi encarada com severidade pelos olhos azuis cristalinos de Zeus, com Tobirama ela não se sentiu desconfortável, mas ainda assim ela se sentiu acuada diante tanta beleza.

Sua pele era branca, mas não num tom doentio como a maioria das pessoas costumavam a falar. O contorno de seu rosto era muito bem definido e seus lábios eram extremamente bem desenhados. O cabelo que escapava para fora do capacete, era bem acinzentado. O Lord das trevas era o deus mais lindo que ela já tinha visto, mesmo com todo aquele ar sombrio e com o elmo tampando parcialmente seu rosto. Ela já tinha visto Apolo e já tinha visto Poseidon, mas nenhum dos dois chegavam aos pés daquele em sua frente.

Ele era... Deslumbrante. Magnifico. Glorioso.

— Nenhum outro semideus teria coragem de vir até a mim. – Ele respondeu, ainda firme e autoritário. — Vocês, proles do amor, acham que todos devem ser amados da mesma maneira. É irritante.

— Não se acha digno do amor? – A pergunta escapou pela sua boca antes que ela percebesse e, nervosa, acrescentou depressa: — Lord Tobirama.

Tobirama ergueu as sobrancelhas, descrente. Izuna quis se fundir na grama e ficar lá para sempre. Grande boca aberta, sempre falando mais do que deveria nas horas mais importunas! Realmente, garota, você só faz escolhas erradas!

— Acha que eu, o rei do Inferno, tenho como ter amor? – Sua pergunta era recheada de deboche e ironia, e isso fazia Izuna querer se encolher ainda mais. — Meus irmãos me expulsaram do Olímpio. Os vivos me temem, os mortos nem se fala. Sou o bicho papão que os humanos usam para assustarem os mais novos. Sinceramente, está tentando me irritar?

— Não! – Ela se apressou em dizer, dando um passo para frente e negando com as mãos trêmulas. — Eu só não... Eu só não compreendo!

— Não compreende o quê, garota tola!? – Seu tom ficou um pouco mais severo e ela mordeu o lábio inferior com força, seus olhos escuros ficando mais brilhantes a medida que uma fina camada de lágrimas surgia neles, fazendo o deus recuar um passo para trás.

— O porquê de o senhor ser tão temido. – Ela sussurrou um pouco insegura e ele semicerrou os olhos. — Não sinto maldade vindo de você, Lord Tobirama. Só sinto um coração... Vazio.

Tobirama a encarou com ainda mais intensidade e Izuna chegou a pensar que fosse ser queimada viva ali mesmo, mas ele apenas se virou e voltou a encarar o horizonte como se ela nem estivesse mais ali. Ela soltou o ar que nem ao menos tinha percebido que havia prendido e relaxou os ombros, o encarando em dúvida.

— Vai ficar aí? – Ele perguntou grosseiro e ela olhou em volta mais uma vez.

Mova-se para longe dai de uma vez, garota boba! – Ela gritou consigo mesma.

— Gosto da vista daqui. – Foi o que respondeu, voltando a olhar para longe como o mais velho também fazia. — E a sua companhia não é ruim, como acha que é. Então sim, vou ficar aqui, se o senhor me permitir.

Tobirama olhou de cantos dos olhos para a garota, notando que mesmo que sua voz transparecesse calma, suas mãos ainda tremiam. Era óbvio que tremeriam, afinal, ela estava rodeada dos seres mais poderosos e temperamentais que poderia existir, e Tobirama não havia sido nada cavaleiro com a mesma. Mas, ainda assim, a achou corajosa, afinal, permaneceu ao seu lado.

E a companhia dela também não era lá muito ruim, dava para suportar.

É, com certeza dava. 


"Não existe amor sem compaixão."

— Um Amor para Recordar.




.: NINFAS: na mitologia grega, são espíritos femininos ligados a natureza :.

.: REIA: na mitologia grega, era um titã, filha de Urano e Gaia :.

.: URANO: na mitologia grega, é um dos deuses primordiais :.

.: TÁRTARO: na mitologia grega, é a personificação de um deus primordial. É para onde vão as almas de todos os monstros, sendo eles humanos ou não :.


E foi isso por esse capítulo... Ai Tobirama, seja mais gentil com a Izuna, poxa KKKKKKKKK

As coisas já vão começar a esquentar no próximo capítulo. Eu sou assim, sem enrolação porra KKKKKKKKKKKKK tá bão

Espero que tenham gostado, babys ♡

Amanhã tento atualizar a fanfic do exército irraaaaaa

Até a próxima, beijos beijos

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