Red Pills [EM ANDAMENTO]

By Padeira_Assassina

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[SEGUNDO LIVRO DA TRILOGIA RED] Reclusos pelos cumes montanhosos, os cidadãos da comuna de Odda vivem suas vi... More

Prólogo
Capítulo 1 - Em queda livre
Capítulo 3 - Um homem solitário
Capítulo 4 - Ponto de Partida
Capítulo 5 - White Rabbit
Capítulo 6 - Um Deus
Capítulo 7- Linha de frente
Capítulo 8 - Briga de Rua
Capítulo 9 - Sabotagem
Capítulo 10 - Torta pronta
Capítulo 11 - Controle
Capítulo 12 - Agenesia
Capítulo 13- You really got me
Capítulo 14 - Escudo humano
Capítulo 15 - All day and all of the night
Capítulo 16- Strip poker
Capítulo 17 - A maldição
Capítulo18- Carnificina

Capítulo 2 - O abominável homem das neves

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By Padeira_Assassina

— Tem alguém aí?– Uma voz tenebrosa soou, mais fria do que aquela noite, grossa como um rosnado.– Estão vivos?

— Você é humano?– Khalan perguntou, mesmo não enxergando um palmo à sua frente. E como sempre, levou uma bela cotovelada da piloto ao seu lado.

— Eu vi o sinalizador, vou ajudá-los a sair daí.– Mesmo sem enxergar muito, Vanessa pôde perceber a silhueta de uma mão se estendendo para ela.– A temperatura vai continuar caindo e esse avião não vai isolar vocês da tempestade.

— Por que está oferecendo ajuda a desconhecidos? – Vanessa questionou cerrando os punhos como mecanismo de defesa. Sua postura se tornou agressiva em uma fração de segundos.

Percebendo o rumo que aquele diálogo poderia tomar, os outros dois tripulantes tomaram a frente dividindo a pouca luz que iluminava a cabine. Quando se tratava de habilidades sociais a detetive se tornava a menos indicada para o trabalho.

— Obrigado por vir. – Khalan agradeceu cerrando levemente os olhos em uma tentativa inútil de encarar diretamente o dono da respiração pesada em sua frente. – Pode nos ajudar a chegar até a cidade?

Parecia um pedido simples, mas a sugestão não agradou nada o homem que os observava pela saída de emergência. Seu silêncio em meio a resposta foi o suficiente para causar um estranhamento súbito entre o grupo.

— Não é seguro atravessar a floresta durante o crepúsculo. – Havia um medo disfarçado presente na voz rouca e a detetive pareceu ser a única a entender aquele dialeto. – E vocês aterrisaram longe demais para conseguir chegar em uma caminhada...

— Tem algum lugar perto que possamos passar a noite? O avião não é muito seguro, e também não é quente o suficiente.– Com um tom preocupado, Willow tomou a frente. Após um longo tempo tendo que lidar com diferentes pessoas, ela já sabia como estadia era difícil o suficiente àquela hora da noite.

— Tem um chalé aqui perto, mas preciso tirar vocês daí antes.– O homem comentou, agora se apoiando na borda da porta para ter força o suficiente.

Sem cerimônia alguma, Khalan estendeu a mão, segurando na do homem misterioso, e com um pouco de esforço conseguiu sair pela porta. Willow foi a segunda, sendo puxada pelo tailandês que a segurou com força para que não caísse.

Por último, Vanessa ainda tinha um olhar desconfiado e uma postura nada amigável, mas sabendo que não teria outra escolha, ela optou por aceitar a ajuda. Mesmo que fosse escuro o suficiente para que ninguém visse seu rosto, todos presentes sentiram o estranhamento da detetive.

— Vamos nos apressar antes que outra tempestade acabe chegando.– Com a voz grave e marcante, o homem de antes estendeu a mão para o machado que estava cravado na lataria do avião, e somente naquele momento todos perceberam que ele havia aberto a porta com machadadas precisas.– Não vamos demorar a chegar, fica atrás da colina.

Trincando os dentes para engolir o orgulho, a detetive concordou em seguir o morador local. Suas chances de conseguir se livrar daquela situação sozinha eram insignificantes e seu instinto de sobrevivência a obrigou a tomar a decisão.

Havia uma imensidão de neve os aguardando do lado de fora, toda aquela paisagem desconhecida se tornava assustadora aos olhos dos três viajantes, superando a experiência em queda livre vivenciada anteriormente.

— Deve ter sido um susto e tanto. – O morador misterioso comentou tomando a frente, acoplando o grande machado em suas costas, uma ferramenta pesada que o mesmo carregava sem esforço. – Tiveram uma sorte calculada para conseguir pousar...

Enquanto o grupo se movia lentamente, Vanessa se distraiu observando a paisagem que os cercavam. As pegadas eram marcados no chão por conta da densa camada de neve, mas sumiam logo após alguns passos.

Um barulho de ferro retorcido soou pelas montanhas, fazendo um eco forte que chamou a atenção de todos ali presente.

— Essa floresta fica estranha durante a noite, e mais ainda quando tem tempestade. Mas quando amanhece ela não parece tão sombria assim.– O guia comentou, andando na frente como se evitasse que o vento forte carregasse todos para longe.

Vanessa olhou para trás, encarando a silhueta das árvores enormes que cobriam sua sua vista da floresta. "Não teríamos chance se tivéssemos caído alguns quilômetros à frente" ela pensou com seus botões.

Ao subirem no topo da colina, um grande desfiladeiro se encontrava, com um largo rio ao seu lado, e no meio das árvores era possível enxergar uma cabana com luzes acesas.

— Não vamos demorar muito, o vento parece que está piorando.– Khalan falou mais alto para ser ouvido em meio a ventania, e sem hesitar todos concordaram; aquele frio mataria qualquer um que ficasse do lado de fora.

Com movimentos brutos, o dono do chalé abriu a pesada porta de madeira permitindo com que o grupo se habituasse ao que deveria ser a estadia temporária daquela noite, o interior da construção de madeira era muito mais aconchegante do que a cabine do finado avião.

Uma pilha de madeira perfeitamente cortada ao lado da lareira esclareceu a finalidade da ferramenta que o brutamontes carregava com tanto cuidado. Logo depois da curta cerimônia de familiarização o lenhador alimentou a chama para que o calor fosse o suficiente para os manter aquecidos.

— Obrigado por nos ajudar, senhor norueguês! – Khalan agradeceu com um carismático sorriso que reforçava o seu bom humor. O senso crítico do tailandês não parecia considerar de todo mal a situação em que estavam vivenciando.

Depois de dar dois tapinhas no ombro do seu salvador, Khalan se aproximou da lareira e estendeu ambas as mãos para que pudesse se aquecer mais rápido. Todos os demais presentes assistiram a cena questionando a sanidade daquele homem.

— Senhor? – O lenhador perguntou em tom de confusão. Depois da confirmação, ele se deu conta de que ainda usava a máscara que cobria grande parte do seu rosto para se proteger da nevasca. – Meu nome é Aaron, não precisa ser formal! Devemos ter a mesma idade...

— É que fica um pouco difícil saber a sua idade sem ver o seu rosto.– Willow comentou enquanto batia o calcanhar contra o chão, tirando os torrões de gelo que haviam grudado em sua sola.– Mas admito achar que você era um abominável homem das neves ou algo do tipo.– Sem perceber os olhares de Aaron, a piloto continuou falando.

— Eu não sou abominável, mas me considero um homem das neves. Já que vivo numa cidade que neva oito meses ao ano.–Dando de ombros, o lenhador comentou rindo baixo ao pensar no apelido que havia ganho. Todos na sala pareciam tranquilos e relaxados a salvo da tempestade; menos Vanessa.

A detetive encarava cada canto como se verificasse uma cena do crime, sua meticulosidade ajudava a perceber até mesmo as marcas desgastadas da madeira.

— Como vocês vieram parar aqui, afinal?– Aaron perguntou, chamando a atenção da mulher de cabelos enrolados.

— Estamos a trabalho. – Vanessa respondeu no coletivo e em seguida recebeu olhares intrigados de seus amigos. Graças a correria das últimas semanas eles sequer tiveram tempo de discutir alguma coisa.

Por cima do ombro a detetive correu os olhos pela janela mais próxima, os vidros estavam cobertos pelos flocos de neve carregados pela tempestade impedindo qualquer tentativa de observar a paisagem a diante.

 Com um suspiro de frustração ela tentou se focar na conversa.

— Não pretendia passar mais do que alguns dias, mas agora não temos outra opção além de esperar. – A falta de expressão tornava os sentimentos da mulher de pele retinta uma incógnita mesmo para as pessoas mais próximas.

Vendo a situação tensa em eu todos estavam, Aaron se ajeitou, tossindo para limpar a garganta.

— Ao menos eu os encontrei, se tivessem caído depois da floresta jamais seriam encontrados!

Na tentativa falha de trazer um lado positivos para a conversa, o homem apenas deixou todos ainda mais preocupados. Para conseguir consertar sua frase, ele balançou as mãos no ar, em seguida retirando o gorro que ainda usava. Os cabelos loiros e compridos penderam sobre os ombros do lenhador.

— Eu quis dizer que tiveram grande sorte, podem passar a noite aqui. Só temos um quarto vago, então sugiro que alguém fique na sala. Vou pegar lenha para os quartos, mesmo sendo isolada termicamente, nenhuma casa aguenta a esse frio!

Mesmo com a hospedagem confortável e com as boas intenções vindas do morador local, Vanessa ainda parecia deslocada em meio aos móveis confeccionados em madeira e seu incômodo acabou chamando a atenção tanto do químico quanto da piloto. Suas atitudes eram semelhantes a de um gato arisco de rua.

— Podem ficar no quarto, eu tomo conta da segurança enquanto vocês descansam. – O tom de voz da brasileira soou de maneira autoritária convertendo suas boas intenções em ordens a serem seguidas. – Não confio nele, não vou conseguir dormir.   

O último comentário veio em resposta à insistência de Willow em manter contato visual, era uma das poucas maneiras de encurralar a detetive que procurava escapar daquela intimidação a todo custo. Estímulos sociais como contato visual e toques eram os principais pontos fracos na vida de Vanessa.

— Eu não quero dormir com o senhor galanteador aqui!– Sem nem disfarçar, a mulher de bochechas avermelhadas apontou para o químico. Khalan se sentiu profundamente ofendido, mas não pareceu ser absurdo para mais ninguém na sala.– Além disso, também precisa descansar, Vanessa. Sei que está preocupada, mas seu corpo ainda é humano.

Deixando as ofensas de lado, o homem concordou com Willow— todos ali sabiam que a detetive não dormia desde antes da viagem.

— Mas se você acha que não é totalmente seguro, concordo que a melhor pessoa pra ficar de guarda é a Vanessa. Eu posso pegar uma coberta e dormir no chão se isso te incomoda tanto, minha amada.– Khalan suspirou, fazendo um olhar triste em seguida. Mas ao contrário do que esperava, ele apenas recebeu uma confirmação da piloto.

— Sim, é melhor dormir no chão.– Logo após, a conversa do grupo foi interrompida com a volta do anfitrião, que trazia uma coberta de pelos grossa o suficiente para uma pessoa ficar confortável.

— Já decidiram quem vai ficar aonde?

O tailandês tentou sua sorte uma última vez antes de recuar por se sentir ameaçado pelo olhar mortal da piloto. No entanto, sua fantasia de viver sua história de amor durante a viagem de outono ainda não havia sido deixada de lado.

— Aaron, eu posso dormir com você? – Khalan perguntou em um tom bem menos animado. E de imediato sentiu a dor da cotovelada que recebeu da mulher de cabelos curtos parada ao seu lado.

No outro lado da sala o lenhador pareceu confuso com a pergunta, e ainda mais com a repreensão que o outro homem recebeu de suas amigas. Enquanto o tailandês tentava justificar suas intenções, todo o contexto pareceu ainda mais distorcido.

— Vou passar a noite na sala. – Vanessa pronunciou em um tom mais alto do que o usual, tentando desviar a atenção do assunto que havia sido formado anteriormente. – Khalan pode dormir perto da lareira...

Aaron soltou uma risada baixa com o comentário da detetive, mas no momento em que percebeu que não era uma piada arregalou os olhos. Era impossível tentar entender como um grupo formado por pessoas tão diferentes funcionava junto.

— Ah, bem, a sala não é o cômodo mais confortável, mas se preferir assim.– O loiro colocou a coberta pesada sobre o sofá, dando de ombros em seguida.– Na minha cama só cabe uma pessoa, então você fica com o tapete.

Após a sentença, Aaron deu dois tapinhas no ombro do tailandês, que parecia desolado com tamanha indiferença com sua pessoa. Willow não hesitou em se alojar no quarto que lhe foi mostrado, enquanto Khalan resmungava por ter que dormir no chão.
Ao contrário do resto do grupo, Vanessa parecia contente o suficiente com a coberta e o sofá, escutando a crepitação da lareira. Era um ambiente diferente, até mesmo o clima não se assemelhava a nada com o de seu país.

Quando todos pareciam já estar dormindo, a detetive escutou um farfalhar de pano, e graças a sua audição muito bem treinada, ela se levantou num pulo.

A sala continuava no completo breu, não tinha sinal de vida, além dos roncos vindos dos quartos ao final do corredor. Pensando ser apenas algo de sua mente, Vanessa voltou a se deitar, encostando sua cabeça contra as almofadas, sem estar ciente do que aquilo poderia significar.

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