Qingshan e o imperador

By Malughiraldeli

1.6K 210 39

O imperador está morto, o Regente não se importa com o povo e o príncipe não é capaz de governar. Nesta relei... More

Prólogo - Sangue na Montanha
Capítulo 1 - A família sem homens
Capítulo 2 - O ladrão mascarado
Capítulo 3 - O valor de um soldado
Capítulo 4 - O povo da Montanha
Capítulo 5 - O Mercado Norte
Capítulo 6 - A joia de jade
Capítulo 7 - O cavalo de um guerreiro
Capítulo 8 - Infiltrado no conselho de guerra
Capítulo 9 - Novato
Capítulo 11 - O reencontro
Capítulo 12 - A morte do príncipe
Capítulo 13 - O aniversário do príncipe
Capítulo 14 - Jun
Capítulo 15 - Capitão Shang
Capítulo 16 - Um encontro ao luar
Capítulo 17 - A fé do capitão
Capítulo 18 - A guarda particular do príncipe
Capítulo 19 - As noivas do imperador
Capítulo 20 - Liling
Capítulo 21 - A máscara dourada
Capítulo 22 - O bezerro sacrificial
Capítulo 23 - Os olhos
Capítulo 24 - A grande cerimônia
Capítulo 25 - O discurso
Capítulo 26 - O imperador
Capítulo 27 - O dote de uma imperatriz
Capítulo 28 - Era uma vez uma guerreira
Epílogo - A casa de chá

Capítulo 10 - O vilarejo em chamas

39 7 0
By Malughiraldeli


Eles estão construindo as primeiras barricadas. O Regente enviou dois regimentos para construí-las. Carroças com pedras chegam a todo instante e lentamente os dias de água corrente fluindo em direção à Montanha vão chegando ao fim.

Estou com tanta raiva que poderia cuspir fogo e chamuscar todos eles, mas infelizmente não sou um dragão de verdade. Sou um homem preso em uma armadilha muito maior que ele. Um homem fadado a ver seu povo ser consumido pelo desamparo nas mãos de um líder negligente.

Um novo regimento chega para substituir os que estavam trabalhando até então. Esses vieram do Leste em direção à Muralha e pelo que soube são um grupo de novatos sem treinamento. Ora, afinal parece que terei algum divertimento hoje com esse grupo de crianças vestidas de soldados.

Os jovens olham assoberbados para a Muralha e sua imponência, então reparam nos portões abertos, dando livre passagem em direção a Montanha e recuam como se pudessem ser atacados por um bando de canibais. Um esgar dos lábios revela minha irritação, mas a máscara a tudo cobre. Distraio-me com a visão de um dos novatos, cujo cavalo é malhado. A visão me remete imediatamente a donzela que salvei do Mercado Norte, provando que sim, eu não consigo e esquecê-la e não, não há limites para onde posso lembrar-me dela.

Do alto do pinheiro sigo observando com o máximo de frieza o novo grupo ser encarregado de empilhar pedras na beira do rio. Os mais experientes ficam responsáveis pela parte da construção do lado de fora da Muralha enquanto o povo da Montanha, um punhado de gente munida de baldes, carroças e barris, tenta armazenar água enquanto pode.

Como podem os soldados não verem seu desespero? Como podem continuar empilhando pedra sobre pedra sabendo que estarão sentenciando essas pessoas ao desespero e à morte?

Avisto a silhueta alta e imponente de Nianzu comandando as pessoas. Nós dois trabalhamos muito nos últimos dias para tentar armazenar água. Elaboramos infindáveis planos, mas todos estão fadados a cair no mesmo destino: O Regente vai fazer secar o rio do lado deles e em algum momento a água vai acabar. Um dos córregos já foi até envenenado. As plantações irão morrer, as chuvas não serão o suficiente, o ar seco que vem do deserto de Deli irá predominar e eles perderão a pouca plantação que tem. Será impossível criar animais e logo estarão definhando presos entre as cordilheiras, sem chance sequer de se mudar. Não sem recursos para atravessar o deserto de Deli a direita e a incrível barreira de Montanhas até o mar. Nossa única chance é destruir essa barragem ou impedir que seja erguida e para isso precisamos de outro imperador.

Um que não seja o regente e um que tenha a voz e o comando que o príncipe não tem.

Quanto mais penso, mais tenho certeza que o príncipe não poderá chegar a ser coroado imperador. Vou mata-lo antes... Então eu serei o imperador e quando o for meu povo não passará mais necessidade. Nem os que estão deste lado da Muralha, nem os de lá. Aliás, eu irei destruir a Muralha, para que as crianças que eu vejo agora carregando baldes e barris com a água do rio possam se refestelar nas margens mais largas que correm entre as florestas, para que possam estar entre as florestas de meu domínio, como sempre deveria ter sido. Eu olho para o meu povo da Montanha e meu coração se aperta. Como estes soldados podem seguir o que estão fazendo de forma tão insensível?

Mais pessoas chegam para coletar água, trazendo mais duas carroças. Os soldados do lado de cá da Muralha estão ficando ressabiados com a quantidade de gente na beira do rio, mesmo que a distância entre eles seja enorme e que ninguém esteja fazendo nada ameaçador. Só estão pegando água, baldes e mais baldes.

Nianzu e eu tentamos construir um açude às pressas, mas em cinco dias não conseguimos avançar muito. O Regente tem o dobro de pessoas e recursos de modo que a barragem deles secará a nossa muito antes que tenhamos água suficiente. O ódio que tenho me faz ter vontade de cavalgar imediatamente para o palácio e enterrar minha espada na garganta dele, mas sei que isso só faria mergulhar o reino em caos e guerra.

Não sei o que vim fazer aqui hoje. Talvez só testemunhar o massacre de meu povo e lembrar o quão ineficiente sou, mas não consigo sair do lugar. Estou preso no alto do pinheiro como se um esquilo tivesse colado meus pés aqui.

De repente noto um movimento diferente entre os soldados. Nianzu se aproximou demais com um grupo de coletores e alvoroçou os novatos do exército imperial. Nianzu já foi um guerreiro famoso na época em que a imperatriz e o antigo imperador estavam vivos, mas não sei se suas histórias chegaram a sobreviver por todo esse tempo e se chegaram aos ouvidos dessa nova geração, de qualquer forma, independente de conhecerem os feitos de meu amigo ou não, em instantes a Muralha está cheia de soldados com arcos prontos para atirar.

Nianzu ergue os braços, indicando que está em paz. Não ouço o que ele diz, mas posso adivinhar. Ainda assim estou preocupado com a tensão que percorre os soldados, estão amedrontados demais para serem racionais e gostaria de Nianzu parasse de se mover. Infelizmente ele não consegue me ver aqui no alto para ouvir meu conselho e mesmo que eu gritasse, ele não me ouviria.

— Você, afaste-se! — grita um soldado, mas Nianzu ainda está tentando falar. Clamando pela razão, como é típico dele, mesmo em situação crítica.

— Ren! — chama um soldado mais velho, com patente de capitão a julgar por seu uniforme completo, todo decorado. — Ouvi dizer que você é nosso melhor atirador. Lance uma flecha em chamas na direção deles, como alerta. Se não recuarem atacaremos.

Estou tenso, quero saltar da árvore, mas meus olhos não se desprendem da cena. O recruta na Muralha, Ren, com mãos trêmulas pega uma flecha, a embebe em óleo e a incendeia. Nianzu fala mais alto, o soldado grita com ele, Nianzu responde e num instante Ren, o novato sem treinamento, lança sua flecha de alerta... Que passa rente ao ombro de meu amigo, por cima da cabeça de uma criança e se finca na traseira de uma carroça que imediatamente começa a arder em chamas.

O pandemônio está instalado.

Nianzu, ao ver o fogo, corre na direção dos soldados, sacando suas espadas gêmeas. Alguns homens se juntam a ele, as mulheres estão tentando salvar a carroça, mas o cavalo está desesperado e elas perdem o controle.

Não posso mais ficar esperando. Sei que vou pôr tudo a perder, mas preciso ajuda-los. O cavalo na carroça incendiada disparou e está indo em direção ao vilarejo no pé da Montanha. Quando ele chegar lá tudo vai virar uma grande fogueira. Eu assovio chamando meu cavalo e aproveito o fluxo de soldados que está atravessando a Muralha para passar a galope entre eles. Ouço gritos, imprecações, agora eles sabem que o Dragão também está aqui.

— Nianzu! — grito quando passo por ele — a vila!

Não espero para ver se ele entendeu, pois sei que há soldados em meu encalço e não me preocupo em leva-los até o vilarejo ou de ser pego, desde que consiga parar aquele cavalo com a carroça em chamas.

Quando estou na metade do caminho ouço o capitão assoviar, mandando os soldados recuarem. Temem uma emboscada entre as casas de madeira, mas eu temo pelas crianças que podem estar lá. As maiores estão no rio, mas muitas são pequenas demais e devem estar com os mis velhos nas casas. O cavalo chega primeiro do que eu, tropeçando e se enroscando nas cercas. O fogo se espalha, primeiro pegando as roupas nos varais, depois na palha dos telhados, logo todas as casas estão ardendo em chamas.

Ouço crianças chorado, bebês berrando, os mais velhos estão se aglomerando para deixar as residências. Há animais fugindo, outros se debatendo em seus cercados. Sozinho não vou conseguir salvar todos. Olho por sobre o ombro, mas Nianzu e os demais ainda estão rodeados por soldados, que agora devem estar se divertindo vendo o vilarejo se incendiar.

Se eu não fizer nada, o Regente hoje vai dormir como uma criança em seu aniversário: Vibrando de felicidade.

Mergulho na primeira casa, engolindo fumaça e sem enxergar direito, mas consigo guiar uma senhora até deixa-la em segurança com os demais. Na próxima casa há uma criança, que eu tiro depois de pular por uma janela. Não consigo sequer raciocinar direito. Estou tossindo, estou irado e possivelmente machucado, mas enquanto restar alguém no vilarejo eu continuarei. Agora há um grupo de senhoras com crianças aos prantos do lado de fora das casas, afastados do fogo. Um grupo de homens solta os animais e um deles conseguiu até libertar o cavalo da carroça incendiada... Mas não temos água para conter o incêndio.

— Está faltando alguém? — pergunto quando me junto a eles. Antes que respondam há uma explosão algures entre as casas. Um choro intenso se mistura ao rugido do fogo. Sou impelido a ir atrás dessa criança. Corro entre os escombros, agora realmente sem conseguir ver nada, mas a encontro em uma das casas mais afastadas. O lugar está todo consumido pelas chamas e quando estou a um passo de sair o teto desaba sobre nós. A criança chora no chão, caída embaixo de mim, mas não consigo me mover. Estamos respirando fumaça, minha máscara está absorvendo todo o calor, é impossível tocá-la e daqui a pouco machucará meu rosto, isso se o fogo não me machucar primeiro. Por um aterrador instante sinto que vamos morrer. Então uma mão enluvada surge entre a fumaça. Ela ergue o entulho de cima de nós, ajoelhando-se.

É um soldado do imperador.

Não tenho forças ou condição para lutar contra ele, mas o homem com a máscara negra do exército estende a mão para pegar a criança, que leva para longe do incêndio. Ainda estou tentando assimilar esse ato de bondade quando ele volta.

Desta vez para me resgatar.

Continue Reading

You'll Also Like

19.6K 1.5K 15
- Por tudo que eu fiz e é assim que vocês me retribuem? Depois de todo seu esforço árduo, Selena descobre que seu grupo de amigos à usou como um mei...
3.6K 225 56
plágio é crime!! hannah donford mandou o número de S/N com um objetivo, porém não sabemos o motivo até encontrá-la, S/N aparenta ser uma mulher norma...
2.4K 322 10
•ABO •Lemon •Mpreg Park Jimin detesta fofoca, principalmente as de trabalho, mas não pode negar que o assunto do momento na empresa onde é assistente...
261K 20.2K 51
Eles não se odiavam, mas também não eram amigos. Eles eram o completo oposto do outro, mas não imaginavam que ao mesmo tempo eram seu espelho. Eles...