Qingshan e o imperador

Capítulo 27 - O dote de uma imperatriz

Quando o sol nasce eu sei o que quero para mim.

Quero Qingshan ao meu lado.

Para sempre.

Pensei no que ela gostaria; se queria ser um soldado, se gostaria de continuar sendo uma capitã ou preferiria se tornar um general. Pensei em oferecer o cargo de conselheira — algo que eu verdadeiramente adoraria — mas no final das contas nada disso é suficiente, pois percebo que a quero ao meu lado a todo momento. Quero seus conselhos, quero treinar com ela, viajar, adormecer e acordar ao seu lado.

Quero que seja minha imperatriz.

Antes de abrir os olhos fico treinando, deitado na cama, repassando as palavras na minha cabeça. Por um momento tenho medo de começar a falar e descobrir que tudo foi um sonho, que minha voz na verdade nunca foi ouvida e continuo sendo o príncipe Arjun. Mas quando me atrevo a abrir uma fresta dos olhos, vejo minha roupa caída no chão e sei que é a mesma que usei no dia anterior, a roupa com que enfrentei meus maiores pesadelos.

Um sorriso me curva os lábios, meu coração dispara e eu me viro para dizer a Qingshan que a amo. Vou pedi-la em casamento e...

Qingshan não está na cama comigo.

Não há mais ninguém no quarto. Não há vestígios de suas roupas no chão. No travesseiro ao meu lado está a joia de jade que o Dragão deu a ela um dia e eu sei, imediatamente, que é um adeus, uma despedida, mesmo que meus pensamentos relutem em admitir a princípio e me forcem a correr até seu quarto — que eu já sabia que encontraria vazio.

Ainda assim, com a joia firme entre os dedos, visto um roupão e saio em disparada pelos corredores mal ouvindo as reverências e felicitações que me acompanham por todo pavilhão até o salão principal onde Dan Dan está mandando pendurar faixas cor de creme nas colunas, substituindo as carmesins em homenagem ao novo império.

— Ah vossa alteza! — ela sorri com displicência. — Seja bem vindo e que seu dia seja maravilhoso! — ela então observa meu rosto e seu sorriso diminui — aconteceu alguma coisa, JunJun? — pergunta baixinho.

— Onde está ela, Dan Dan? — demoro um pouco para perguntar, descobrindo que ainda que eu consiga falar, as vezes a tensão dificulta o processo. — A moça que esteve comigo...

— Você deve estar se referindo ao capitão Shang, imagino. — corrige Dan Dan com as sobrancelhas arqueadas. — ela deixou o palácio antes do alvorecer. Levou seu cavalo, provisões para a viagem e o pagamento pelo tempo de serviço como soldado. Nada mais.

Ela me deixou. Meu chão parece que vai desabar em um abismo, mas respiro fundo para encarar Dan Dan, apertando com tanta força a joia de jade que não sei como ela não se parte em minhas mãos.

— Ela deixou o exército então.

— Sim, alteza — Dan Dan entorta a cabeça. — Imaginei que tivesse sido por ordem sua. Devo mandar alguém atrás dela? Certamente os soldados podem...

— Não. — eu a interrompo antes que Dan Dan dê ideias tentadoras que não vou conseguir resistir. — Ela fez a escolha dela e eu tenho muito o que resolver no império.

Tenho o povo da Montanha por visitar o mais rápido possível, uma Muralha para abrir, um povo para comandar. Eu disse a Qingshan que ela poderia ser o que ela quisesse, estive com ela a noite inteira... E ela decidiu partir. É uma escolha válida que devo respeitar. Talvez ela amasse alguém antes em seu vilarejo, alguém com quem ela agora pode vir a ter um futuro. Eu sabia que ela precisava apenas ajudar a mãe, precisava de dinheiro para a família e por isso fez tudo o que fez. Ela conquistou seu dinheiro, merecido e o levou para casa. Sua jornada acabou.

Encontrar o príncipe ou o Dragão foi apenas um encanto passageiro, um desvio de planos. Eu entendo, embora meu coração esteja em pedaços.

Ganhei o império, mas perdi o amor de minha vida. As coisas sempre vem com um preço, eu já deveria saber. O preço da minha imperatriz foi um saco de moedas no valor do tempo de trabalho de um soldado e meu coração despedaçado.

Mas o imperador está no trono, o povo do Outro Lado da Muralha está salvo e a família de Qingshan ficará bem.

Nosso trabalho está feito. Nossa missão está cumprida.

Nossa história chegou ao fim.