Capítulo 4 - O povo da Montanha

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Perdi hora, é a certeza que tenho quando os raios de sol tocam meu rosto. Levanto tateando os arredores até cair da cama, tropeço na máscara que faz de mim o Dragão e escorrego de novo ao pisar na ponta de minha própria capa. Não estou tendo um bom dia e sequer acordei direito.

— Zhou? Está tudo bem... — o líder da Montanha e meu amigo Nianzu, abre a porta e, embora não consiga vê-lo, já que estou com a cara no chão ao mesmo tempo em que tento desenrolar meu pé da capa, posso imaginar a expressão dele me encarando cheio de divertimento. — com você? — ele termina a frase com uma risada abafada. Em seguida ouço seus passos em minha direção, logo depois meu pé está livre e posso me levantar.

Olho com o máximo de orgulho que consigo para meu enorme amigo — Nianzu é tranquilamente do tamanho de uma árvore, tanto na altura quanto na largura. Me admira que ele tenha conseguido sobreviver nas montanhas, a maioria das pessoas daqui é pequenina. — e coloco a máscara de Dragão de volta no rosto.

Nianzu é o único que me conhece sem a máscara. Deixo para os demais o privilégio de fantasiar minha aparência. Me divirto com as especulações, com as teorias bizarras e criativas sobre mim. Alguns dizem que eu na verdade não tenho rosto, outros dizem que sou tão pavoroso que se não usasse a máscara mataria todos de medo. Alguns alegam que sou um fantasma, o que não tem nada a ver com meu rosto, mas é uma teoria que aprecio bastante.

— E pensar que você se diz um guerreiro hábil... — ele ri.

— Preciso ir. — Anuncio enquanto me visto. Nianzu senta na beirada da cama e cruza os braços.

— Quais são suas ordens?

— Continue cuidando de tudo por aqui, como tem feito. O dinheiro e as provisões serão suficientes?

Nianzu balança a cabeça.

— Por algum tempo.

— Perfeito. Chame um médico para a família no sopé da montanha. Acho que a criança deles não terá chance se não for assistida por alguém que entenda mais do que eu sobre...

— O garoto está bem — Nianzu ergue uma mão, me interrompendo — eu enviei nosso curandeiro e ele retornou com as notícias de que o garoto já estava acordado hoje pela manhã. Ele está bem, Zhou, você cumpriu sua missão.

Um suspiro aliviado escapa de mim antes que possa contê-lo. É difícil me permitir expressar o que sinto, o Dragão vulnerável é uma presa fácil e estou cansado de ser uma presa fácil.

— Mas ainda não é suficiente.

— Zhou, existem outras formas...

Eu recuo quando ele faz menção de se levantar. Sei o que ele fará. Irá colocar as mãos em meus ombros e começar a ladainha sobre um homem sozinho não ser suficiente para dar conta do Império.

Ele para no meio do movimento, mas suspira e inclina a cabeça de forma condescendente.

— Um homem sozinho não pode derrubar a Muralha, Zhou.

— Mas pode passar por baixo dela. — Abro um sorriso que ele não vê devido à máscara. — Eu vou conseguir. Nós vamos. Desde que você esteja ao meu lado e continue ajudando a cuidar do povo da Montanha.

Nianzu esfrega a nuca, encarando o teto como se pedisse paciência.

— Não é como se tivesse opção, Zhou. O que posso fazer? Abandonar todos e deixar que morram de fome? Você sabe que não temos provisões sequer para atravessar o deserto em direção a Deli, muito menos o mar.

Qingshan e o imperadorМесто, где живут истории. Откройте их для себя