Capítulo 18 - A guarda particular do príncipe

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Sou acordada de supetão pela criada do príncipe, que deposita uma bandeja de café da manhã ao lado da cama.

— Bom dia capitão! — ela cumprimenta alegremente enquanto me atrapalho em meio aos lençóis tentando me esconder. Não tenho barba por fazer de manhã, minha camisa é transparente demais e simplesmente não consigo parecer um homem despertando. Eu me escondo em meio às cobertas, rolo de costas para ela como se estivesse incomodado com a luz e coloco o travesseiro sobre o rosto.

— Pelos céus, mulher, por que está me acordando tão cedo? — praguejo, aproveitando a voz grossa de sono.

A criada dá uma risadinha. Consigo imaginá-la torcendo os dedos e corando. Ah não, tudo que eu não preciso é de uma fã...

— O príncipe acordou cedo hoje, senhor e Dan Dan pediu para que viesse chama-lo. Trouxe o desjejum. O príncipe o aguarda quando estiver pronto.

Agradeço querendo dispensá-la, mas a ouço se aproximando ainda mais da cama. Quando volta a falar sua voz está realmente e perigosamente perto de mim. Por um instante aterrorizante imagino se ela teria a coragem de deitar-se junto comigo, se tentaria passar a mão em mim... E no que aconteceria quando descobrisse que o capitão não tem as partes que ela está almejando encontrar.

— Precisa de ajuda para se vestir, capitão? — ela pergunta parecendo ansiosa.

— Não, não. Obrigado. Tenho certeza que Dan Dan precisa de você. Eu gosto de me trocar sozinho, você sabe, fazer minhas coisas, inspecionar... as armas. — Ótima construção de frase, Qingshan, nada maliciosa. A criada dá outra risadinha.

— Sabe, as coisas melhoraram muito desde que você chegou — ela murmura, adotando agora um tom neutro. — Dan Dan está feliz. O príncipe fez progressos. Ele sorri mais e não passa mais tanto tempo sozinho ou doente. Antes ele ficava doente com facilidade ou triste e aí se isolava e não deixava ninguém entrar no quarto.

Ergo a cabeça, ainda mantendo o travesseiro na frente do rosto, mas viro-me parcialmente na direção dela, curiosa.

— Deixavam o príncipe sem nenhum tipo de assistência?

— Nunca aconteceu nada com ele. — ela responde na defensiva, encolhendo os ombros, e sou pega por uma onda de fúria ao imaginar o perigo a que estava se expondo. O Dragão já devia estar aqui esse tempo todo, provavelmente só não atacou antes porque estava mais interessado em roubar para ajudar a Montanha ou talvez tivesse outro plano, talvez estivesse tentando mudar o Conselho...

Minha cabeça já está fazendo planos e cálculos. Talvez matar Jun não fosse o primeiro plano do Dragão e ele só estivesse partindo para isso por puro desespero. Talvez nem ele quisesse eliminar o doce príncipe e o vá fazer por honra ou dever. Se isso for verdade há uma chance de convencê-lo do contrário, por mais que ele insista que não.

Já não estou mais prestando atenção na criada quando ela sai do quarto e eu das cobertas. Tomo o desjejum enquanto repasso mentalmente os membros do conselho de guerra. O Dragão tem que ser alguém que os conhece e que de alguma forma tem informação privilegiada, mas ele não deve ser membro do conselho, pois passa muito tempo se dividindo entre a Muralha e a Montanha, de forma que alguém daria por sua falta.

Ele poderia ser um membro dado como morto? De repente um oficial do antigo imperador que sobreviveu ao ataque na Montanha? Mas não sei se outras pessoas morreram naquele dia. Engulo meu café da manhã já planejando as informações que preciso que Ren descubra para mim. De qualquer forma manterei um olho aberto em todas as possibilidades, afinal o Dragão conhece o palácio, sabe como as coisas funcionam, provavelmente deve ter contato com alguém aqui dentro. Nada é seguro. Jun só deve ter escapo antes, quando adoecia ou se isolava, porque se fizesse de outra forma o Dragão provavelmente perderia o disfarce. O movimento ousado de Jun na verdade foi o que o salvou, pois se ele não queria a presença de ninguém em seus aposentos, seria muito estranho um membro da guarda adentrar seu quarto. E, provavelmente estou subestimando as forças do palácio, a guarda não podendo entrar em seu pavilhão deve ter redobrado a vigia ao redor.

Qingshan e o imperadorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora