Onde se Escondem as Causas Pe...

By nayops

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Em Verena todos estão ansiosos para o baile de apresentação do herdeiro ou pelo menos, quase todos. Isla Nico... More

Dedicatória, trecos e falaleiras da faladeira
Epígrafe, Cast, Playlist e alertas escarlates
Mapas
A poeira das nuvens e o pardalzinho
01 - A arte de incomodar os mortos
02- A senhorita perfeitamente aceitável
03 - A vitamina e o banana
04 - Caos e Consequências
05 - A Rainha do desastre
06 - Nos braços de Morfeu
07 - O eterno retorno do mesmo
08 - Porque eu estou saindo em um avião...
09 - A megera
10 - Beisebol e rebatidas
11 - Van Gogh cortou a orelha
12 - Crianças peculiares
13 - Sobre padres e controlar monstros
15 - A torre do sino
16 - Um corvo não arranca o olho de outro corvo
17 - Mau presságio
18 - Intransigente
19 - Boas meninas más
20 - Aquilo que transcende
21 - Piratas e outras lendas
22 - In memoriam
23 - Retrógrada
24 - Montechio e Capuleto
25 - Beijos da morte
26 - Quebradiço
27 - Sobre criar monstros
28 - Entre sonhos e pesadelos
29 - Cair e quebrar
30 - Soberba e apática
31 - A décima segunda badalada
32 - Quando o feitiço quebrar
33 - Vislumbres e tons de fogo
Epílogo: Calcanhar de Aquiles
Agradecimentos e sobre livro dois
100k de OSEACP & Bibelôs

14 - Os membros da corte

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By nayops

Os cristais do lustre pendurado no meio do teto da sala de jantar, balançam suavemente pela brisa que entra da janela. Acho que poderia ouvi-los tilintar se não fosse pela cacofonia do bater dos talheres nas porcelanas e na prataria; se não fosse por uma conversa que está longe de chegar ao fim.

Outro jantar com os membros da corte. Um martírio.

Procuro me sentir confortável, mexo e remexo o meu corpo algumas vezes na cadeira dourada em que estou sentada, mas é tudo em vão. Essas pessoas falando e falando, deteriorando a minha mente como traças devoradoras.

A corte de Verena é formada por ministros, conselheiros do rei e por pessoas de títulos. Ela funciona de um jeito bem simples, para falar a verdade, a baboseira de sempre:
Quanto maior o seu título, mais alta a sua posição e mais perto você está de ter sangue real. Duques e duquesas, condes e condessas, barões e baronesas. Títulos que são passados de geração para geração.

Quanto aos ministros e conselheiros, bom, são cargos que podem mudar de acordo com o reinado. O novo rei pode decidir se quer manter ou não, até porque, pessoas envelhecem e uma hora se aposentam.

É engraçado pensar que embora eu tenha um título pequeno comparado aos demais, provavelmente tenho mais privilégios e dinheiro do que os outros.

Meu pai vinha de uma família rica, dona de boa parte das minas de ouro em algumas regiões. E, com o passar dos anos nossos parentes ajudaram a monarquia a levantar comércios, prédios, uma cidade inteira; Ele também era filho de um dos ministros da mãe do tio Albert, a rainha Margaret, e muito tempo depois se tornou o conselheiro mor.

Já a minha mãe era filha do Conde e da Condessa de Parvel, por isso eu praticamente cresci enfornada nesse meio, mesmo carregando apenas o título de Lady.

Para alguns, sei que sou apenas uma garota cheia de privilégios, mimada e soberba; para outros, acho que sou uma ameaça. Afinal, não preciso de muito para fazer os membros da corte me detestarem. Basta eu abrir a minha boca.

— Eu estou empolgada com a ideia do baile ser um baile de máscaras. Adoro tradições! — Lady Ortence mexe no cabelo preto com corte Chanel, sentada a minha frente. Uma chata de galocha.

Quem montou a ordem dos assentos nessa merda de jantar gosta de me provocar, porque isso é uma tremenda tortura.

Quero arrancar meus olhos. Meus ouvidos. Estou pensando seriamente em levar uma dessas facas que uso para comer até o meu pescoço e me auto degolar. Imagina a cena? Adeus Isla Grant. Sague esguichando na cara da Ortence, de todos os convidados.

O jantar na casa do Lorde Chester está caminhando a passos largos para o fiasco que irá ser. E, eu não estou me referindo ao Lorde Ludovic e as seis taças de vinho que ele bebeu. Embora eu fantasie com o quanto pode ser divertido. No último natal, no castelo, ele chamou a sogra dele de lambisgoia no meio da ceia.

Ortence está sentada entre o pai e a irmã caçula, um ou dois anos de diferença, eu não sei. O pai, Conde de Monic, parece um pouco com o Zé ramalho, exceto pelo cabelo até os ombros, que vive preso e lambido.

Lady Ornela, a irmã, deveria falar mais vezes, gosto dela. Elas são diferentes, não só aparentemente. Ela é tão pálida quanto a Ortence, mas o cabelo é de um castanho acobreado, quase ruivo e seus olhos são azuis escuros e não castanhos. É bem tímida, quieta, e curiosamente amigável.

Ornela perdeu uma das pernas por causa de uma má formação no nascimento, algo assim, e usa uma prótese. Fico tão frustrada quanto ela quando a tratam por "pobrezinha". Eu diria isso sobre a Ortence.

— Lady Isla? — Alguém dá dois toques numa taça para chamar a minha atenção e eu olho na direção do sósia do Zé ramalho.

— Sim? — Coço a garganta.

— O baile, está animada? — Mas é claro que não.

Normalmente, eu não ultrapassaria muito os meus limites para a Rosana não me infernizar, no entanto, sei que se eu quiser me manter longe do noivado, um dos métodos mais eficazes é ser o mais inconveniente possível.

— Por que eu não estaria? — Dou um sorriso largo. — Irão distribuir champanhe e vinhos caros de graça.

Ninguém diz nada.

Ouço a prataria caindo sobre as porcelanas e observo as cabeças inclinarem na minha direção.

Bigodes. Colares de pérolas. Bigodes grisalhos. Brincos de rubis.

Ornela abaixa e aperta os lábios para não rir.

— Ah, querida. — Rosana ri, uma risada convincente, mas nervosa. — Essa garota adora uma piada!

E, eles fingem rir também. Mentiras sociais são uma droga. Diz a lenda que a estrada para o inferno é pavimentada com um monte delas.

— Lamentável o que houve com a senhorita. — A condessa Morgana conversa. — Deplorável.

— A senhora acha mesmo? — Indago e dou um gole rápido no champanhe da minha taça. — A maioria das pessoas acham que foi merecido.

— Ninguém merece passar por algo assim, milady. — Lady Ortence se intromete direcionando os olhos grandes e escuros a mim. — Mesmo que tenha provocado e se sujeitado a essa situação.

Eu não gosto dela.

Mordo o meu lábio com força. Com tanta força que abro o ferimento que já tinha nele.

E se eu jogar o champanhe no rosto dela? Será merecido ou ela provocou tal situação.

Bebo outro gole, vários goles do champanhe e bato a taça na mesa ao devolve-la.

Os olhos da garota estão esbugalhados, uma mistura de surpresa com nojo, eu sei lá. Apenas sorrio e não digo mais nada sobre esse assunto.

— Será que vocês poderiam me dar licença? — Digo me levantando. — Voltarei em breve.

Deixo a sala de jantar o mais depressa possível. Passo pelas portas de madeira maciça e maçanetas de bronze, por corredores cheios de quadros, muitos quadros.

Se você não se comportar como eles querem, pagará o preço que eles decidirem. O certo, o errado. Tudo isso me confunde por aqui.

Continuo andando entre paredes luxuosas, repletas de fotos da família, até chegar na ampla sala de estar, cujo o único barulho que eu ouço é o da lenha queimando na lareira.

Só que não por muito tempo.

O som do salto da Rosana a denúncia muito antes dela chegar perto de mim.

— O que você pensa que está fazendo? — Ela segura o meu braço e me puxa para encará-la.

Solto ar preso nos pulmões e reviro os meus olhos.

— Indo ao banheiro.— Respondo rápido, sem fazer esforço.

— Que inferno, Isla! — Ralha baixo. — Será que poderia se comportar ou será que vou precisar mandá-la para um convento?

— Não deveria usar inferno e convento um seguido do outro, Rosana. — Meus lábios formam um sorriso que de certo ela encarará como uma afronta. E, é.

— Você é impossível, Isla Grant! — Solta meu braço. — Vá ao banheiro e volte para a mesa imediatamente! — Ordena entredentes. — Aproveite e encontre a Megan.

Nem ferrando. Ser babá da maconheira da Megan não está marcado como tarefa na minha agenda. Eu não ligo, não vou fazer o que ela quer.

— Como quiser. — Minto muito bem e ergo as mãos em redenção, tomando o meu caminho em direção ao banheiro.

Megan sumiu no meio do jantar com o Dylan, com a desculpa de ver a reforma da casa. Eu não sei quem dos convidados comprou essa história, eu mesma tenho alguns palpites sobre o que os dois podem estar fazendo juntos agora.

Se bem que, sempre achei que quem tinha uma queda pelo loirinho era a Maya, e que o interesse da Megan não era exatamente nele — ou em garotos no geral.

Eu nunca fiquei com ninguém, e sobre "ficar" me refiro dos beijos ao sexo. Não tenho experiência nenhuma nesse âmbito da minha vida, mas se a Megan e Dylan estão fazendo, é muito provável que estão se divertindo muito mais do que qualquer outro ser humano naquela mesa.

Passo reto por um dos banheiros e prossigo caminhando pela mansão. Vim aqui algumas vezes então conheço bem cada cômodo. Tem outro banheiro no fim do corredor e deve ser um dos maiores, não sei o porquê não costumam usam ele. Nem posso reclamar, me parece ótimo para procrastinar.

Para a minha surpresa, assim que eu abro a porta eu encontro Dylan e Megan, não exatamente da maneira que eu imaginava.

Eles estão sentados na pia grande de mármore, um do lado do outro, ambos com um cigarro nas mãos, jogando a fumaça pela abertura da janela.

— O que estão fazendo aqui? — Inquiro fechando a porta atrás de mim.

— Não é obvio? — Megan questiona.

— Que hora interessante para decidir ficarem chapados. — Cruzo os braços. — Até você Dylan? Seu pai pode ficar encrencado com o Lorde Chester!

Dylan passa a mão pelos fios loiros, depois pelo rosto.

— Meu pai estava me tirando do sério, e é um cigarro normal. — Ele evidencia. — Relaxa, eu não sou idiota.

— Só um pouco. — Megan contraria, rindo do próprio comentário.

— E, você, Megan, qual é a sua desculpa?

— Eu detesto caviar. — Ela diz como se realmente fosse um bom motivo. — Pega um. — Ela joga o maço de cigarros mentolados para mim. — Soube que andou se aventurando nas tumbas.

— Era uma cripta.

— Tanto faz, tem gente morta lá. — Depois joga o isqueiro.

Olho para o meu reflexo no espelho que ocupa uma parede inteira ao meu lado.

Eu não vou voltar para aquela mesa. Nem morta.

Tiro um cigarro da caixinha, o levo até a boca e acendo. É mais fácil dessa vez, não tem vento aqui, consigo de primeira.

Na aula de química eu aprendi que a nicotina leva aproximadamente dezenove segundos para chegar no cérebro, depois que a fumaça é inalada. Eu não sei se isso é tão perceptível quanto o formigar na garganta e o esquentar da faringe.

— Deveria tomar cuidado. — Dylan avisa num tom de ironia. — As pessoas já estão criticando cada passo que você dá. Precisa se comportar se quiser ser a princesa.

— E, se eu não quiser? — Questiono apoiando minhas mãos na bancada e impulsionando meu corpo para cima, me sentando na pia também.

— Por que não iria querer? — Megan junta as sobrancelhas, deixando as cinzas caírem no ralo.

— Sei lá, porque eu tenho vontade própria?

— Você nunca vai precisar trabalhar na sua vida e vai ter o que quiser a sua disposição o tempo todo.

— Já tenho isso e posso ter o que eu quiser sem precisar de um príncipe pomposo. — Solto a fumaça.

— Deixa de ser burra. — Megan continua rebatendo. — É uma coroa cheia de diamantes, rubis, esmeraldas, o que você bem entender enfiar nela. Não quer um casamento e o "felizes para sempre"?

— Tem uma razão para os contos de fadas terminarem depois do casamento, Megan. — Pontuo. — Depois disso é só ladeira abaixo!

Dylan ri baixo negando com a cabeça e a Megan apenas faz uma careta.

— Se acha tão legal assim por que não pede pra sua mãe convencer o rei e trocar você de lugar comigo? — Sugiro. — É até mais vantajoso pra ela, que é sua mãe biológica.

— Oh, princesa, você foi prometida ao príncipe pouco tempo antes de nascer, não é tão fácil assim. — Dylan recorda. — Tem todo um acordo...

— Deveria ser fácil. — O interrompo. — Não sou um produto. No mais, casamentos não são pra manter e unir a droga da realeza? O rei de Rovena tem uma filha, não tem? O tio Albert poderia tentar unir os reinos. Pensem bem, é mais território na ilha e iria acabar ficando em vantagem nos conflitos.

Posso fazer uma apresentação com slides e para propor isso ao tio Albert.
Parece que ele está com problemas com o rei de Analea, quem está ameaçando quebrar o tratado de paz.

— Faz sentido, mesmo se Analea quebrasse os tratados e resolvesse proibir a exportação de minérios, com o apoio de Rovena daríamos conta. — Dylan acaba concordando comigo. Ele deve saber mais do que isso do que eu, o pai dele deve passar horas enfornado na sala de reuniões do castelo. — Mas, se fosse simples assim não acha que já teriam feito isso? O tratado de paz existe por uma razão, e os reinos vivem em conflito.

É difícil saber ao certo quando tudo começou. Há quem dia que os três reinos da ilha estão se atacando há centenas de anos. As teorias conspiratórias dizem que a queda de avião que matou a rainha e o meu pai, foi orquestrada por Rovena ou por Analea, assim como mortes de membros das dinastias em ambos os reinos, onde acusam Verena.

Engraçado.

— Mas é boa ideia. — Torno a falar. — Se a vossa alteza desaparecida casasse com a princesa de Rovena, o tio Albert ganharia uma nora, uma aliança, um exército e mais território.

— Como você é estrategista. — Megan finge surpresa ao abrir a boca.

— Eu só estou dizendo que isso faria mais sentido, certo?

— Você precisa parar de procurar sentido, Islazinha. As pessoas não fazem sentido, simples assim. — Megan limpa o batom vermelho manchado.

Mais um! Hoje estou postando no horário certo. Eu não vou enrolar nas notas finais porque os próximos capítulos estão com fogo no parquinho e lá vai eu tagarelar.

Obrigada por estarem aqui. Beijos e salamadras!

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