VINCENT HACKER, point of view
Seattle, Washington DC – USA
Não moro mais em Seattle há quase um ano. Me mudei assim que completei dezoito anos, e passei a morar com uns amigos em Los Angeles; mas, desde então, visito minha família uma vez por mês, às vezes duas.
Sempre que volto, meus pais e minha irmã já renovaram seu estoque de piadinhas sobre eu ser, entre muitas aspas, famoso. Tenho alguns – ok, muitos – seguidores no Tik Tok, faço algumas lives na Twich, mas é isso. Não sou cantor, ou ator ou qualquer coisa do gênero, eu sou só... Um cara gostoso na internet.
Mas, entre nós, ser gostoso me deu muito dinheiro.
─ Nenhum paparazzi te pegou no aeroporto? ─ minha incrível mãe, Maria Hacker, se encosta no balcão da cozinha.
─ Ou uma fã te parou pra pedir uma foto no meio do caminho? ─ Rose entra na brincadeira.
─ Eu odeio vocês. ─ resmungo, mas elas apenas dão risada. ─ É assim que vocês me recebem? Não ganho nem um abraço?
Cinco segundos depois, minha mãe está me apertando em um abraço de urso que só ela sabe dar. Deixo um beijinho em sua têmpora quando ela se afasta, e então encaro Rose.
─ Você não vai me processar por te tocar? Eu vi que a Lady Gaga fez isso uma vez. ─ ela cruza os braços.
─ Cala a boca, Rose. ─ ela ri e vem me abraçar. ─ Cadê o Reggie? E o pai?
─ Seu pai foi no mercado pra mim, daqui a pouco chega. ─ minha mãe responde.
─ E o Reggie tá jogando no quarto. ─ Rose revira os olhos. ─ Aproveitando o momento... Nega.
Franzi o cenho.
─ Negar o que?
─ O papai vai te pedir uma coisa. Nega. ─ ela mexe os ombros. Olho para minha mãe, confuso, mas tudo o que ela faz é rir.
─ Isso vai ser interessante. ─ ela murmura antes de sumir na cozinha.
Minha família é estranha.
Puxo Rose até a sala e a forço a assistir comigo. Todas as vezes em que venho, nós maratonamos Criminal Minds, nunca assistimos sem o outro, e agora não seria diferente. Ou, pelo menos, eu não achei que seria.
Mas Rose se levanta do sofá depois de vinte minutos, com o celular na orelha e um sorrisão no rosto. Bufei e pausei a série.
─ É sério, Rose? ─ cruzo os braços, mas minha irmã revira os olhos e, para meu completo terror, sai da sala. ─ Mãe! ─ a chamo, mas estou indo até ela. ─ O que a Rose tem? Ela nunca abandona Criminal Minds!
─ Você não sabe mesmo? ─ balanço a cabeça. ─ Hoje a noite é o baile de primavera. Sua irmã só fala disso nos últimos dois meses!
Esfrego a testa e bufo.
─ Claro, o baile. Como pude esquecer? ─ me sento no banco do balcão. ─ Com quem ela vai?
─ Com um tal de Kio. ─ ela mexe os ombros. ─ Sua irmã tá apaixonada.
─ O caralho que ela tá! ─ minha mãe me olha feio. ─ Desculpa. ─ sorrio fraco. ─ Ela namora esse garoto?
─ Não exatamente, mas já faz mais de um mês que os dois estão saindo.
─ E você deixa? ─ questiono, indignado. ─ E se um dia ela aparecer grávida, hein?
─ Se isso acontecer, vai acontecer independentemente se eu deixar ou não. Não seja tão ciumento. Já basta o seu pai. ─ ela resmunga.
Falando nele, ouço a porta principal bater e logo meu pai aparece na cozinha. Ele me agarra em um abraço apertado e não me solta tão cedo.
─ Pai... Você tá... Me sufocando! ─ bato em suas costas até que ele me solte, rindo.
─ Tenho o direito de te sufocar.
─ Se alguém ouvir isso, é capaz de chamar a polícia. ─ ele ri.
Meu pai deixa as sacolas no balcão, dá um selinho em minha mãe e se senta ao meu lado.
─ Pai, que história é essa de a Rose namorando?
─ Era exatamente o que eu queria conversar com você! ─ ele sorri. ─ Seu irmão não vai a esse baile nem que o paguem, então você é minha única esperança.
Faço uma careta.
─ Você quer que eu vá ao baile com ela? ─ esclareço.
─ Você quer deixar ela ir sozinha com o namorado? ─ ele devolve a pergunta.
─ Touché. ─ bato as mãos no balcão e me levanto.
─ Onde você vai?
─ Encontrar um terno. Não posso ir de jeans e camiseta pra um baile de gala. ─ sorrio para eles antes de sair.
Ligo para a minha consultora de moda. Que também é minha empresária e agente comercial. Ah, ela também é minha melhor amiga – e seria namorada se dependesse de nossas mães. Também conhecida como Nailea Devora.
─ Fala, cara de merda. ─ ela diz quando atende.
─ Seu carinho por mim é algo admirável, Nai. ─ ironizo. ─ Preciso de ajuda pra achar um terno bonito.
─ Pra que você quer um terno? Vai casar?
─ Nah. Vou nesse baile da sua escola, com a Rose..
─ Tadinha dela. ─ sorrio. ─ Beleza, tô indo.
─ Ok. Te espero naquela praça perto de casa.
Espero Nailea enquanto mexo no celular; não demora muito para que ela chegue, já que sua casa é literalmente na rua de trás. Ela já sabia que eu chegaria em Seattle hoje, por isso não ficou surpresa com a ligação.
Nos abraçamos brevemente e logo ela chama um Uber até o shopping.
─ Vem cá, você conhece esse tal de Kio? ─ pergunto, despretensiosamente.
─ Conheço. O garoto é legal, Vinnie. Respeitoso, educado. Relaxa. ─ fico um pouco mais aliviado, mas nem tanto.
Passo as próximas duas horas dando voltas no shopping com Nailea. Aparentemente, ela não iria ao baile, mas decidiu ir para não me deixar sozinho lá; então a segui de loja em loja, opinando em vestido seguido de vestido.
Estávamos no décimo vestido quando ela se decidiu. Era um vestido azul, que combinava com o terno que eu comprei dez minutos depois que chegamos aqui.
Por sorte, ela disse que tinha o sapato perfeito para aquele vestido, então pudemos ir embora.
─ É melhor você alugar uma limusine. Quero chegar no estilo. ─ ela diz e manda um beijinho antes do Uber seguir seu caminho.
Quando entro em casa, já posso ouvir a correria no andar de cima. Meu pai está jogado na poltrona, com uma garrafa de cerveja na mão e um jogo de hóquei passando na TV.
─ Comprou o terno?
─ Comprei. ─ mostro a capa. ─ Que horas ela vai?
─ Oito. ─ ele olha o relógio. ─ Você tem meia hora.
Tempo mais que suficiente. Tomo um banho quente e longo, me visto assim que saio. Coloco os acessórios de sempre – corrente, relógio e essas merdas. Pego o vidro de Polo Blue na mala, borrifo um pouco no pescoço e na roupa, e pronto.
Quando desço novamente, Rose já está na sala, usando um vestido rosa, longo e lindo. E tem um garoto na porta.
Pela cara de Rose, ela já deve saber que vai ter mais um acompanhante.
─ Eu te odeio. ─ ela murmura, assim que para ao meu lado para uma foto.
─ Anotado. ─ beijo sua têmpora.
Aperto a mão de Kio apenas para não ser mal educado, e sorrio para a minha irmã.
─ Vamos? Temos um baile para curtir, afinal.
O2 | vinnie empata foda