Eu permaneci ali, imóvel por bastante tempo, a única coisa que me livrou dos braços de Cole foi o fato dele escorrer para o lado após cair no sono.
Camila, Charles e até mesmo Mads não me atendiam por nada e eu já estava perdendo minha paciência, tendo que permanecer naquele banheiro com homens entrando o tempo todo, o que me deixa super desconfortável e com uma única vontade em mente:
Matar Cole por ter dormindo.
Meia hora, eu fiquei por meia hora presa a Cole. Todo esse tempo tentando acorda-lo, mas era em vão.
Me ergui até a pia, usando a mãe de recipiente para enche-la de água e poder jogar no rosto de Cole.
Ele só acordou quando fiz isso pela terceira vez.
- Porra, que merda é esse? - Ele diz desorientado. Eu me afasto.
- Finalmente.
- Finalme... merda. - Ele passa a mão no rosto. - Bebi demais, né?
- Sim, a ponto de brigar com um desconhecido, quase quebrar o nariz e me fazer ficar nesse banheiro imundo feito sua babá.
- Não pedi que ficasse.
- Na verdade, você pediu sim. - Ele me olha. - Que seja, eu vou embora.
- Espera...
Já de costas para ele, eu paro.
Ele fala antes que eu possa me virar, ou antes de sair dali.
- Ficou comigo aqui por quanto tempo?
- Isso importa? - O encaro.
- Se você ficou, talvez importe sim.
- Camila te jogou em cima de mim, ok? Não iria te deixar lá fora todo ensanguentado e bêbado. - Ele fica de pé. - Não fiz isso por pena.
- E eu não preciso de sua pena. Não pedi que Camila me jogasse sobre você, não pretendia brigar com aquele filho da puta lá fora para acabar em seus braços.
Antes que eu possa falar alguma coisa, Camila surge junto a seu namorado e minha amiga. Cole se afasta virando de costas e eu saio do banheiro.
Camila e Charles falam alguma coisa com Cole, e Mads vem até mim.
- Tá tudo bem aí?
- Sim, claro. - minto.
- Não é o que parece.
- Sinceramente? Não está nada bem, eu não queria sair de casa, mas você e Camila insistiram nessa merda. - Mads avalia o corredor. - Eu não queria está aqui, porque de alguma forma eu sabia que daria de cara com ele. - Viro de costas. - Eu só queria ficar em casa e poder ter a minha dor de cotovelo pela porra do meu ex em paz, mas você não...
Quando me viro novamente, os outros três estão ao lado de Mads me olhando. Bufo me afastando, os deixando e indo para fora da boate.
Quando eles surgem na saída, eu me viro ficando de costas e encarando a rua a minha frente.
Me assusto quando braços envolvem o meu corpo. É Camila.
- Sinto muito, não queria que acabasse assim. - Permaneço calada. - O que rolou lá dentro?
- Absolutamente nada. Eu só... eu só não quero ficar perto dele, não consigo fazer isso sem pensar em tudo que ele me disse naquela noite.
- Desculpa por ser tão insistente.
- Tudo bem, eu te perdoo. - Rio fraco e ela me abraça.
Camila se despede e junto a Charles e Cole vão em direção a um carro, e Mads está no canto chamando um táxi para nós duas.
Não ouso olhar para Cole, apenas aceno com a mão para as duas pessoas ao seu lado, fazendo o máximo para não olhar para ele, mas não tenho sucesso, nossos olhares se encontram e ele sibila um obrigado, eu desvio o olhar. E então eles entram no automóvel que logo da partida.
*
- Então você acabou a noite cuidando do seu ex namorada bêbado? - Minha mãe diz com um meio sorriso.
- E não se esqueça da parte que ela ficou puta e veio o caminho todo falando nele. - Acrescenta Mads. - ontem foi uma noite e tanto.
- Não consigo lidar com vocês duas juntas, não mesmo. - Saio da mesa indo até a pia da cozinha onde deixo meus pratos. - Vou dar uma volta, correr, sumir, fugir de vocês...
- Vai assim? De pijama? - Minha mãe pergunta.
- Não, óbvio que não.
Subo até meu quarto e levo pouco minutos para descer já com uma roupa apropriada para uma caminhada. Passo por minha mãe e Mads que agora estão sentadas no sofá conversando sobre Vanessa, elas apenas me acompanham com o olhar quando eu passo por elas, mas não dizem nada.
Após sair, fecho a porta e sigo para o único lugar onde posso ter paz.
Eu levei tempo para conseguir dormir na noite passada, quando eu e Mads finalmente chegamos em casa, eu tomei um banho e fui para seu quarto e fiquei lá, por bastante tempo falando para ela o que eu queria falar para outra pessoa. Ela me deu o famoso tapa de sinceridade e só então voltei para o meu quarto. Mas ainda assim, não dormi de imediato.
Caminhei até chegar na rodovia, e então, após me certificar que não tinha ninguém me seguindo, ou alguém passando pela pista para me ver entrar no canteiro por uma estreita passagem, sumi por entre pouca vegetação que havia ali.
Quando cheguei perto do meu lugar ouvi um ruído vindo de algum lugar, observei em volta e não vi nada, então continuei a caminhada até chegar a pedra enorme que me serve de banco. Sentei na mesma e respirei fundo avaliando a vista a minha frente. Novamente ouvi o ruído.
- Quem está aí? - Pergunto ao nada.
Mais uma vez o ruído, agora mais próximo.
- Isso não tem graça... - Digo. - ...se realmente tiver alguém. - Falo, dessa vez em um sussurro.
- Desculpa... - A voz conhecida me faz pular de susto. - ...não quis assustar você.
- Que merda você faz aqui, Cole?
- Eu... eu estava caminhando e acabei aqui. - Ele enfia as mãos nos bolsos quando eu cruzo os braços. - Na verdade, eu achei que te encontraria aqui.
- Achou? Q-quer dizer, porque achou isso?
- Lili, até quando vamos continuar com isso? - Ele da uma passo a frente.
- Com isso?
- Por favor...
- Olha só, Cole. Não sei o que está pensando, não pense que isso aqui é só uma birrazinha pós briga, porque não é. - Dou um passo a frente por impulso. - Acha que eu iria aceitar que me dissesse aquelas merdas e depois iria correr para você como se nada tivesse acontecido?
- Não. - Ele diz baixo.
- Ótimo, porque eu realmente não iria. Eu nunca me senti tão humilhada como me senti naquele dia. - Nossos olhares se encontram. - Odeio você por aquilo.
- Eu sei. Mas você devia se colocar no meu lugar, eu vi você com o cara que daria tudo para ficar com você...
- Ah, por favor...
- ...e que inclusive vocês já transaram. Ele gosta de você, porra.
- Isso não é verdade.
- É claro que é Lili.
- Mas isso não importa, Cole. - aumento o tom. - Não importa porque não é ele quem eu amo, não me importa se ele tem esperanças em uma coisa que aconteceu e que ele sabe muito bem que não irá se repetir. - Passo as mãos no rosto frustrada. - Ele nunca será nada além de um amigo.
- Me desculpa...
- Desculpas é o bastante? - Me aproximo dele por vontade própria dessas vez. - Sabe o que mais me doeu? Além do que você falou? - Ele apenas me encara. - O fato de saber que você não confia em mim, Cole. Não da forma como confio em você. Eu já tive oportunidades de não confiar, mas confiei. - Ele baixa o olhar. - lembra daquele dia que DO e Emma tentaram nos colocar um contra o outro? - Ele assente - O que eu fiz?
Cole hesita em falar.
- Você me mandou mensagem. Podia ter ido até lá em cima, mas me mandou mensagem.
- E aquele dia na barzinho quando aquela mulher estava dançando em cima de você, o que eu fiz?
- Saiu de lá, foi para fora do bar, para um lugar onde ficarianos a sós.
- É, em nenhuma dessas vezes eu gritei ou humilhei você na frente de ninguém.
- Eu sinto muito se o cara que se apaixonou por você é um idiota, explosivo e... - Ele segura meu rosto tão rápido que não consigo me afastar antes de sentir seu toque. - ...só me perdoa, por favor.
- Não posso ficar com alguém que não confia em mim.
- Eu confio em você, eu juro como confio. Eu não confio em mim, Lili. Porque acho que sempre irão me dar as costas, que sempre irão me trair e me deixar sozinho. - os olhos dele se enchem d'água. - Eu não quero ficar sozinho. Não quero ficar sem você.
- Cole...
- Lili, eu amo você.
- Não é o bastante.
- Porra... - Ele solta meu rosto se afastando.
Ele soca uma árvore com tanta força que podia jurar que ela cairia ao nosso lado. Eu dou um passo para trás e ele bufa em frustração.
- Mas que porra é essa, Cole? Desde quando faz coisas assim? Está maluco?
- Muita pergunta, Lili. Muita pergunta.
- Vai embora.
- O que?
- Eu estou mandando você ir embora daqui, Cole. Vai. - Ele me encara. - Eu quero ficar sozinha, por favor, vai embora e se... e se não for pedir muito, não me procure mais.
- Lili...
- Vai, Cole.
Cole continua a me olhar, com as mãos na cintura e com o maxilar travado.
- Eu não que queria isso acabasse assim. - Ele diz. - Você não se põe no meu lugar, mas se fizesse, saberia como é ter medo de ser traído. - Uma lágrima teimosa escorre em minha bochecha. - Pessoas que eu amava me traíram, e eu só fiquei puto em pensar na possibilidade de você também fazer isso.
- Eu já disse que nunca faria isso.
- Nic me ligou hoje bem cedo. - Ele fala de repente, o que me faz encará-lo. - ...ele disse que lembrou de coisas. Lembrou de está com Emma e DO na festa, que eles lhe ofereceram bebida e que tinha certeza que eles o drogaram, porque segundo ele, ele não bebe ao ponto de ficar como ficou naquele dia, e só isso explicaria aquela atitude.
Eu não consegui dizer nada.
- Eu não estou aqui só porque ele me ligou para dizer isso e...
- Não? Você precisou que ele te ligasse para realmente acreditar em mim, Cole. - Deixo que as lágrimas escorram. - Se ele não tivesse ligado, estaria aqui agora?
Ele não responde.
- Viu só? - Solto. - Por favor, vai embora.
- Eu perdi você, não é, Lili?
Eu não o respondo.
- Só não esquece que eu te amo, tá bem?
- Eu também amo você, Cole. - Ele me olha cheio de esperança no olhar. - Mas só o amor não é suficiente aqui.
E então ele me dá as costas e vai embora, me deixando ali como eu sempre estive nesse lugar.
Sozinha.
Eu estou maltratando vocês, né?
Mas calma, logo vamos dar um jeito nesses dois, eu juro 😎
Vamos ter paciência com a tia aqui
🤭
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