Agente Duplo | Larry Stylinso...

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A Guerra Fria consagrou as agências de inteligência de todo o planeta e a busca por informações sobre o que e... More

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6. O Agente
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Epílogo

1. A Missão

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By biggerthanfuture

Acordar com um adolescente cantarolando no banheiro não era bem o futuro que Louis desejou quando jovem, mas era a sua realidade. Resmungou, irritado, e se revirou na cama, usava apenas uma cueca samba canção de cetim sob o cobertor fofinho, o clima estava frio naquela manhã de outubro na capital americana e ele revirou os olhos ao se esticar para ver o horário em seu rádio-relógio na mesinha de cabeceira. Cinco e cinquenta e sete da manhã, seu despertador tocaria às seis e teria três minutos de sono desperdiçados por causa da bênção com quem dividia a casa.

Puta que pariu, pensou e se jogou nos travesseiros, olhando para o teto branco do quarto, as cortinas fluidas permitiam que a luz dos primeiros raios de sol entrassem ali discretamente, clareando mais a cada minuto. Coçou os olhos, era uma sexta-feira e ele estava morto de cansaço depois de uma semana de trabalho, qualquer minuto de sono era precioso e seu humor estava péssimo por ter sido acordado ao som de (I've Had) The Time of My Life em uma versão tristemente desafinada.

O rádio-relógio despertou e ele estendeu o braço para apertar o botão. Empurrou os cobertores para longe e se sentou na cama, passou as mãos pelos cabelos e grunhiu em irritação antes de se erguer e caminhar pelo quarto até alcançar o interruptor. Ligou a luz e viu a situação deplorável do cômodo: roupas jogadas no chão, papéis aqui e ali, umas cuecas – sujas – em um montinho no canto e ele ficou ainda mais aborrecido com aquilo. Louis não era organizado e seu quarto sempre virava um chiqueiro em algum momento do mês. Quando arrumava, tentava manter o lugar bonitinho e cheirosinho, mas estava sempre tão cansado que a preguiça o dominava.

Apanhou sua toalha no gancho atrás da porta e saiu do quarto, o pequeno corredor de sua casa estava escuro e a única fonte de luz era a pouca claridade que vinha do quarto do outro morador da casa, que era tão organizado quanto o de Louis. Ele bocejou e caminhou até a porta do banheiro, ouvia o barulho do chuveiro acompanhado da música que era uma febre desde o lançamento de Dirty Dancing - Ritmo Quente e espalmou a mão na porta, batendo com força e irritação.

— Se você não sair em cinco minutos, eu vou entrar! — esbravejou.

Now I've had the time of my life
No, I never felt like this before
Yes I swear, it's the truth
And I owe it all to you
'Cause I've had the time of my life
And I owe it all to you

Louis revirou os olhos, pensando o que tinha feito para merecer um adolescente com aquela voz em transição totalmente desafinada cantando em sua casa em uma manhã fria de sexta-feira. Esmurrou a porta novamente, mas o outro pareceu não ouvir, ou melhor, fingiu não ouvir, porque ele conhecia bem a peça.

— Andrew Tomlinson! — gritou. — Saia já do banho, não é você que paga a conta de luz! Eu tenho que trabalhar!

A cantoria cessou no banheiro e Louis respirou fundo, apoiando seu corpo na parede, arrepiando-se quando as costas nuas encostaram no material frio. Fechou os olhos, sua cabeça já doía em estresse e ainda teria milhões de coisas para fazer naquele dia, incluindo deixar a casa em um estado habitável.

A pequena moradia em Washington era aconchegante, composta por dois quartos razoáveis, um banheiro, uma sala confortável e uma pequena cozinha com ilha. Não era nada muito majestoso, o custo de vida na capital americana era alto e, além disso, Louis preferia certa discrição devido ao seu trabalho. Habitada por dois homens desorganizados – Andrew tinha quinze anos, então ele já o considerava um homem em alguns aspectos – a casa estava sempre de pernas para o ar, com roupas espalhadas, embalagens de pizza, salgadinho e coisas mais peculiares em lugares mais esquisitos ainda. Em resumidas palavras, era um caos.

Os dois eram sozinhos, apenas Louis e Andrew, desde muito cedo eram toda a família que tinham. E não, o adolescente não era filho de Louis, era o seu sobrinho, mas foi criado por ele.

A história de sua família era um tanto complicada, Louis nasceu quando sua mãe ainda era muito jovem, não tinha nem vinte anos quando deu à luz ao garotinho e o pai nunca chegou a assumi-lo. Sabia o nome do homem que o concebeu, mas nunca chegou a procurá-lo porque a mágoa que sua mãe carregava por ter sido abandonada por um namorado era grande e, honestamente, ele também ficava muitíssimo chateado quando pensava naquilo, quando lembrava que aquele homem nunca teve curiosidade em saber sobre o filho, em ter o mínimo contato com ele. Era um assunto que o machucava.

Louis havia nascido na década de cinquenta, os tempos eram outros e sua mãe foi vista com maus olhos por ter um bebê sem um marido, ainda mais tão nova. Ele sabia que havia sido o motivo pelo qual sua mãe abandonou seus sonhos, o desejo de estudar em uma boa faculdade, a vontade de se tornar uma profissional com diploma e renome. Quando passou a entender melhor, começou a se sentir culpado pela situação de sua amada mãezinha, mesmo que ela nunca tivesse reclamado e enfrentado todos os desafios com queixo erguido e muita garra. Com dois empregos, ela não tinha muito tempo para o filho e Louis passava bastante tempo com sua avó, mas se lembrava de sempre ganhar beijos e abraços de sua mãe quando ela estava em casa. Apesar de ser um contexto difícil, ele foi muito amado por ela.

Eram apenas os dois em seu próprio mundinho até que ela se envolveu com um homem e engravidou novamente. Na época com três anos, Louis via a barriga de sua mãe crescer sem entender o que estava acontecendo e meses depois chegou uma garotinha: Charlotte. Ele não gostou muito de ver a atenção mudar de foco com o bebê, mas a promoção para o posto de irmão mais velho não lhe dava muitas opções. Foram uma família feliz por alguns anos, até que o homem que começou a chamar de pai saiu de casa para comprar cigarros e nunca mais voltou.

Mesmo sendo criança, Louis se via responsável por sua mãe e irmã, era o único homem da família e na época não tão distante assim era esperado que os homens fossem os provedores e cuidassem das mulheres da casa, então passou a se pressionar para alcançar o nível de excelência em tudo que fazia. Ousava dizer que era o filho perfeito, não dava problemas, tirava boas notas, começou a trabalhar cedo para ajudar a pagar as despesas e tudo se ajeitou, embora houvesse o fantasma do abandono paterno em suas vidas – na dele duas vezes.

Até que Charlotte engravidou. Louis tinha dezoito anos na época e ela apenas quinze, havia se envolvido com um rapaz da escola dois anos mais velho que ela e uma noite de sexo desprotegido foi o suficiente para conceber Andrew. Era início dos anos 70, apesar de ter havido uma revolução sexual na década anterior com a invenção da pílula anticoncepcional e o sexo passou a ser visto como algo para se obter prazer e não algo apenas de caráter reprodutivo, a sociedade ainda era muito fechada para certos aspectos, principalmente para uma adolescente grávida e solteira. E ela fez o que muitas faziam: largou a escola, porque era insuportável ser alvo de olhares tortos e piadas péssimas, vista como a escória da sociedade.

Mais uma vez, Louis se viu como responsável por mais uma vida, já que Andrew, assim como ele, foi vítima do abandono do pai. E como tio, ele estava determinado a ser a figura paterna do garotinho, pois ele sabia como era doído crescer sabendo que o homem que o concebeu simplesmente lhe virou as costas quando ainda estava no ventre. O pequeno nasceu e não demorou para que a irmã de Louis se afundasse em um buraco cada vez mais fundo com a maternidade precoce.

O período não foi fácil, ela se recuperou com o apoio da família, mas depois de um tempo simplesmente fugiu de casa com um namorado gringo e foi para sabia Deus onde. Desde então, Louis não tinha mais notícias de sua irmã e Andrew não via sua mãe. O pequeno foi criado pelo tio e pela avó naquela casinha simples em Washington, comprada com muito esforço por parte dos dois adultos, que economizaram por anos para adquirir uma moradia melhor para dar uma vida mais estabilizada e confortável ao garotinho.

Depois, Louis foi contratado pela agência na qual já trabalhava há dez anos, e o padrão de vida melhorou, mas teve mais um baque quando sua mãe, seu pilar, foi levada pela pneumonia. Desde então, eram apenas eles dois e teve que amadurecer rápido demais para ser o exemplo para a criancinha com quem vivia, em uma noite era apenas um menino de vinte e tantos anos e na outra já era um homem responsável por um garotinho.

Aprenderam muito juntos, eram melhores amigos e Louis faria tudo pelo sobrinho, absolutamente tudo. Amava Andrew como seu próprio filho, era a única família que tinha e as semelhanças que compartilhavam, não apenas as físicas, mas os tapas que levaram da vida, as angústias e anseios só os deixaram mais próximos. Agora com trinta e três anos, Louis era o pilar de Andrew e o garoto era o seu. Poderia não ser o melhor exemplo em alguns momentos, nem a melhor figura paterna do mundo, tinha falhas e erros, mas dava seu sangue e suor por aquele menino. Faria tudo, tudo, para que seu sobrinho pudesse brilhar e ter um futuro belíssimo, cheio de prosperidade e felicidade.

Ele estava determinado a nunca, nunca, fazer Andrew sofrer novamente. Faria tudo que estivesse ao seu alcance para vê-lo sorrir e ter um futuro promissor em qualquer área que escolhesse.

Porém, naquele momento matinal, Louis estava puto com seu sobrinho porque Andrew sabia que ele acordava cedo para ir trabalhar e não suportava que o banheiro estivesse ocupado naquele horário. O adolescente não tinha pressa de se arrumar para ir à escola, mas Louis com certeza tinha pressa para ir ao seu ofício.

Now with passion in our eyes
There's no way we could disguise it secretly
So we take each other's hand
'Cause we seem to understand
The urgency

A cantoria voltou e ele passou as mãos pelo rosto, impaciente. Sua bexiga estava cheia, queria um banho quentinho antes do expediente e tudo que queria era entrar naquele banheiro para fazer suas necessidades, escovar os dentes e ganhar um gás para o dia de trabalho.

Just remember
You're the one thing
I can't get enough of
So I'll tell you something
This could be love because

— Filho da puta. — resmungou.

O barulho do chuveiro cessou e ele respirou aliviado quando seu sobrinho abriu a porta e uma névoa de vapor saiu de dentro do banheiro, Andrew sorriu para Louis, seus cabelos castanhos e lisos estavam escorridos e os olhos azuis demonstravam sua alegria. O rapaz tinha uma toalha azul enrolada na cintura e seu peito estava vermelho pela água quente do banho. Ele segurou o rosto do tio e deu um beijo estalado em sua testa antes de entrar em seu quarto para se arrumar.

Louis sorriu, mesmo com raiva pela demora, seu coração se derretia por aquele garoto. Amava muito seu sobrinho, admirava o homem que ele estava se tornando, sempre alegre e sorridente, apesar de só ter o tio ao seu lado e tantas perdas ao longo de sua história. Ficava orgulhoso de Andrew e, modéstia à parte, dele mesmo por tê-lo criado tão bem.

Entrou no banheiro, fechou a porta e ficou nu, ficou sob o chuveiro e se banhou rapidamente, lavou os cabelos e todo o seu corpo e não tardou a se enrolar em sua toalha e parar diante da pia, olhou-se no espelho e escovou os dentes, terminou sua higiene matinal e saiu dali. Em seu quarto, vestiu uma cueca – sem ser samba canção – e uma calça de alfaiataria preta, uma camisa branca de algodão que milagrosamente não parecia ter saído da garrafa, um cinto de couro e uma gravata preta. Calçou sapatos sociais e ajeitou seus cabelos curtos em um topete, passou perfume e apanhou um sobretudo preto para enfrentar o frio de Washington naquela manhã, muniu os bolsos com cigarros, isqueiro e carteira e saiu do quarto.

Deixou o sobretudo pendurado na mesa da cozinha e sorriu para Andrew, que usava uma calça jeans, um moletom preto e uma touca sobre os seus cabelos lisos, além da jaqueta da escola. O garoto preparava dois sanduíches de manteiga de amendoim com geleia para ambos e Louis se aproximou do sobrinho para dar um aperto em seus ombros.

— Como foi sua semana? — perguntou e pegou um dos sanduíches, sentou-se na ilha e comeu calmamente.

— Foi supimpa, coroa. — sorriu e mordeu seu pão, em pé do outro lado da ilha, de frente para Louis.

— Coroa é o cacete. — resmungou.

— Eu combinei de beijar alguém hoje. — comentou, incerto. Os dois sempre tiveram uma relação muito aberta, não tinham uma diferença de idade tão gritante, então a conversa entre ambos sempre fluiu tranquilamente. — É a primeira vez que vou beijar.

— Achei que já tinha dado uns beijinhos. — Louis lambeu os dedos sujos de manteiga de amendoim. — É uma garota?

— Um menino. Ele é do segundo ano.

— É bonito?

— Eu não sei dizer, acho que sim, mas pode ser que não.

Louis franziu o cenho com aquela resposta estranha e olhou para o sobrinho de sobrancelhas erguidas, Andrew olhava vagamente para o teto e coçava o queixo.

— Sabe, ele tem um corpo atraente e tal, mas acho que você não o acharia bonito. — o rapaz murmurou. — Ele tem bochechas grandes e eu o acho muito bonitinho.

— Eu não tenho que achar bonito, você quem vai beijar. — riu. — Aproveite o momento, leve balinhas de menta. E escolha um lugar discreto ou seus amigos vão te encher o saco.

— Você... você tem algum conselho? Eu... eu nunca fiz isso, coroa, eu tenho um pouco de medo. — suas mãos suavam e ele respirou fundo. — Mas você também não deve ser um grande beijoqueiro, nunca sai de casa.

— Para o seu governo, seu fedelho, eu beijo bastante. — falou, embora não fosse verdade. A última vez que trocou saliva com alguém foi em uma festa no Ano Novo, há dez meses. Felizmente também havia transado com a pessoa ou estaria há mais de um ano sem sexo. — Na sua idade, eu era o maior garanhão.

— E onde você coloca as mãos quando beija? Eu não sei o que fazer com elas, tio! — suas bochechas ficaram vermelhas.

— Hm, eu não sei suas preferências, Andy. — engoliu em seco, seu menininho estava crescendo e, por mais que tivesse passado bastante tempo pensando naquelas conversas em que aconselharia o sobrinho, não sabia ao certo o que dizer ou como reagir às suas perguntas. — Tudo vai depender da química entre vocês. Não pode simplesmente chegar pegando na bunda dele ou dando aquela puxada de cabelo, vá devagar.

— Ok. Ok, ok. — assentiu, nervoso. — Minha nossa, tio, eu estou doido para beijar, mas estou morto de medo!

— Calma, sim? — riu e terminou de comer seu sanduíche. — Não tenha grandes expectativas com o primeiro beijo, geralmente o nervosismo é tanto que nem é bom. — levantou-se da ilha e vestiu o sobretudo. Apanhou a carteira de cigarros feita de metal, colocou um entre os lábios e o acendeu. — Quer carona até a escola? Acho que ainda está cedo...

— Quero. — assentiu e terminou de comer seu pão. Pegou a mochila esfarrapada que estava no chão da cozinha e a colocou nas costas. Louis havia lhe dado uma bolsa nova no início do ano letivo, mas Andrew dizia que aquela era mais estilosa, apesar de velha, já que a que seu tio comprou era de couro e digna de um homem de cinquenta anos. — Tio, por que você não sai de casa? — indagou ao descer os degraus na frente da casa enquanto Louis trancava a porta.

— Estou saindo agora, Andrew.

— Você entendeu o que eu quis dizer! Poxa, você é um coroa charmosão, por que não vai a um bar beijar alguém ou fazer coisa que gente da sua idade faz? — perguntou, curioso, e entrou no Impala antigo de Louis, o carro tinha vinte anos e era uma relíquia de família. — Convenhamos, você é um solteirão.

Louis o olhou torto ao se acomodar no banco do motorista e soltou a fumaça do cigarro antes de prender o cinto. Ligou o carro e balançou a cabeça ao dar a ré para finalmente dirigir pelas ruas de Washington.

— Eu não sou um coroa. — falou. — Só tenho trinta e três, tenho que criar você e não tenho interesse algum em namorar alguém.

— Eu já sou um homem.

— Você vai ser um homem quando estiver pagando seus próprios boletos, até lá ainda é um garoto. — rebateu. — Eu não tenho tempo para amores.

— Mas tem tempo para ficar jogado no sofá vendo filme alugado e bebendo cerveja. — Andrew pontuou e Louis lhe mostrou o dedo do meio. — Você é ranzinza assim porque não faz amor.

— Você também não faz e eu não estou te julgando por isso, estou?

— Certeiro como uma bala. — o garoto fez uma careta e viu sua escola se aproximar. Ainda era cedo, poderia ter ficado em casa por mais tempo e ir caminhando depois, mas não desperdiçaria a carona e, além disso, tinha coisas para pesquisar nos livros da biblioteca. — Mas você não tem muito trabalho no banco. Tio, você é o gerente, manda em todo mundo. Por que não arranja alguém?

— Porque eu não quero! — reclamou, acuado com todas aquelas perguntas. Estacionou na frente da escola e olhou para o sobrinho. — Vá, fedelho. Boa aula.

— Bom trabalho, coroa! — ele saiu do carro saltitante, animado com o beijo que daria naquele dia, e acenou para Louis antes do homem dar partida e seguir para o estado vizinho de Virgínia, em Langley.

O trajeto até seu trabalho durou cerca de vinte minutos e ele deixou o Impala cor de caramelo e muito bem cuidado em uma das vagas do estacionamento. Saiu do veículo, ajeitou seu sobretudo, fechou alguns botões e jogou a bituca do cigarro em um lixo próximo. Bem, ele definitivamente não era funcionário de um banco, seu trabalho era um pouco mais complicado que taxas de juros e dívidas alheias.

Louis era um agente da CIA, uma das maiores inteligências do planeta cuja função era obter informações do que acontecia no exterior através de fontes humanas. Os planos que eram tramados em Langley afetavam todo o mundo, principalmente países menos desenvolvidos que de alguma forma deviam ou temiam os Estados Unidos. Obviamente, era uma profissão secreta, ninguém saía contando por aí que fazia parte da Agência Central de Inteligência, qualquer um que trabalhava dentro daquele complexo ou nas sedes fora dali que tinha alguma ligação com o serviço era uma fonte de informação  valiosíssima.

E, em plena Guerra Fria, era um vale-tudo para descobrir o que acontecia na União Soviética. Espionagem, sabotagem, missões em países comunistas para descobrir alguma coisa que tivesse serventia ao governo americano. Era burocrático, complexo, e a ação não fazia parte de sua rotina na maioria dos dias, Louis nunca foi para campo e trabalhava ali há dez anos, evitava pegar missões longas ou fora das redondezas por causa de Andrew, embora quisesse ser chamado para algo maior. Sua função em Langley era puramente burocrática, analisava documentos todos os dias e buscava conexões entre os relatórios que recebia.

Entrou em um dos prédios do complexo e sorriu para algumas pessoas dali, subiu pelo elevador e chegou ao andar em que ficava a sua sala. Em todos aqueles anos de trabalho, inicialmente tendo uma mesa simplória, finalmente conseguiu ser merecedor de uma sala privada, com paredes de madeira e janelas cobertas com persianas. Foi até o balcão onde ficava o café e alguns biscoitos e encontrou ali o rapaz mais bonito de toda a América. Harry.

Louis acompanhou a trajetória do outro bem de perto, Harry tinha sido recrutado pela CIA há pelo menos cinco anos e tinha que admitir – embora jamais em voz alta – que sentia algo pelo colega de trabalho. Os cachos longos e sedosos pareciam deliciosos de serem tocados, os olhos verdes curiosos e aquele sorriso tranquilo digno de covinhas o encantava profundamente e o corpo de Harry... Céus, Louis enlouquecia só de imaginar um dia tocar aquela bunda farta ou a cinturinha deliciosa do outro. Porém, havia um problema: Harry era casado.

E aquilo arruinava qualquer investida de Louis, já que a aliança dourada e larga no dedo do rapaz era bem visível, indicando que ele já tinha dado seu coração a alguém. Sabia também que Harry tinha uma criancinha de mais ou menos dois anos, lembrava-se de quando ele estava gravidinho e era paparicado por todos do setor, recebeu presentes e se ausentou depois do parto por alguns meses e, na visão de Louis, tudo ficou muito chato sem ele. A identidade de seu marido e bebê nunca havia sido revelada, não sabia nem mesmo se Harry era pai de um menininho ou de uma garotinha.

— Bom dia, Harry. — Louis sorriu galanteador para ele ao se servir com um pouco de café. Sabia que era errado flertar com um homem casado, mas era mais forte que ele e, honestamente, acreditava que o outro nunca lhe daria bola. — Como vai?

— Estou ótimo, obrigado. — respondeu baixinho, mexendo a colher de açúcar dentro de sua xícara. Ele usava uma calça preta de cintura alta e uma camisa branca fluida, seus pés estavam calçados com botas escuras e seus cachos lhe cobriam o rosto. Louis franziu o cenho, ele parecia amuado. — E você, como está?

— Estou bem. — murmurou e enfiou a mão dentro do pote para pegar rosquinhas de nata. — Pronto para analisar relatórios interceptados.

— Bom trabalho, então. — Harry sorriu discretamente e se afastou com seu café, indo para a sua mesa, que ficava perto de uma janela, do outro lado do andar.

Louis piscou, pensando se havia feito algo errado, se Styles tinha se sentido acuado ou assediado de alguma forma. Arregalou os olhos, jamais faria aquilo com alguém, por mais que quisesse Harry, nunca lhe faltou com o respeito. Olhou-o de longe, o sol da manhã entrava pela janela e iluminava toda a mesa do rapaz, seus cachos compridos pareciam mais claros com a luz solar e seu rosto magro estava abatido. Quis ir até lá, talvez chamá-lo para almoçarem juntos naquele dia e fazê-lo se sentir melhor, mas preferiu ficar quieto e não causar maiores problemas, afinal Harry era casado e Louis não queria arruinar sua família.

Suspirou e entrou em sua sala novamente, recebeu uma pasta de papel pardo e a abriu. Leu atentamente o que estava escrito naquelas folhas, era um relatório do Pentágono, o prédio do Departamento de Defesa dos Estados Unidos que era responsável pela segurança nacional e também por espionagem. No documento, um agente havia escrito sobre uma nova tecnologia bélica que estava sendo desenvolvida naquela corrida armamentista com a União Soviética, embora os dois países já estivessem tramitando alguns acordos para tirar mísseis nucleares de alguns lugares ou até mesmo encerrar a produção.

Era 1987, a Guerra Fria estava chegando ao fim – embora as pessoas da época não soubessem exatamente quando acabaria – e as duas nações já tentavam negociar entre si, especialmente porque a União Soviética tentava uma abertura política, conhecida como Glasnost, e uma reestruturação econômica, a Perestroika. Apesar disso, ainda havia conflitos armados indiretos entre os dois blocos, como a Guerra do Afeganistão que acontecia do outro lado do mundo, com a União Soviética apoiando um lado e os Estados Unidos e outros países ocidentais fornecendo dinheiro, armamentos e apoio logístico por baixo dos panos aos opositores. A guerra em questão já durava oito anos e custava muitíssimo para a URSS, sendo uma das causas para seu colapso nos anos seguintes.

Louis leu o relatório e se ergueu para ir até a fotocopiadora. Colocou as folhas ali e tirou uma cópia, guardou em um envelope branco e guardou as originais em sua gaveta de documentos. Enrolou as cópias e prendeu com um elástico, deixou no bolso interno do seu sobretudo e deu um gole em seu café como se nada tivesse acontecido. Continuou seu trabalho como de costume, ansiando pela hora do almoço.

Ao meio-dia, ele saiu de Langley em seu velho e precioso Impala e foi para Maryland. Era seu horário de almoço e poderia estar comendo como a maioria dos agentes, no refeitório muito bem equipado que havia no complexo, mas Louis tinha outras coisas para resolver. Seguiu seu trajeto para o estado vizinho, por ser uma região limítrofe entre Virgínia, o Distrito de Columbia e Maryland, era muito rápido transitar pelos três locais devido às rodovias.

Ele havia colocado óculos escuros, fumava um cigarro na tranquilidade e conforto do seu carro e não demorou a entrar no subsolo de um shopping. Saiu do veículo sem pressa, fechou um botão do sobretudo e andou com porte e autoridade para dentro, cruzou as portas automáticas e subiu pelas escadas rolantes. Apagou o cigarro, nos anos 80 não era comum proibir alguém de fumar em lugares fechados, era algo cotidiano, mas ele costumava deixá-los de lado quando estava com muita gente por perto.

Olhou ao redor em busca de alguém que estivesse o observando, Louis poderia não ir para campo e ser um espião em outros países, mas recebia treinamento frequentemente porque algum dia seu chefe o mandaria para algum lugar. Sorrateiro, foi ao banheiro masculino que estava estranhamente vazio para o horário, tirou os óculos escuros e lavou as mãos com paciência. O único box fechado se abriu e revelou um homem alto, loiro e de expressões carrancudas, de corpo musculoso e todo vestido de preto.

— Clark. — o outro cumprimentou Louis, que era conhecido por ele como Bryan Clark. Um agente da CIA não podia se dar ao luxo de usar seu nome verdadeiro em certas situações. — Trouxe o que quero?

— Sempre trago o que você quer, Dimitri. — tirou o envelope enrolado do bolso e entregou ao outro homem, que carregava uma maleta. — Agora me dê o dinheiro.

A maleta foi entregue e Louis a abriu em cima da bancada, viu muitos bolos de dinheiro que totalizavam trinta mil dólares e sorriu antes de fechá-la e olhar para o outro.

— E o comprovante do depósito na conta da Suíça? — indagou, a maleta continha apenas metade do que recebia por cada informação dada. Dimitri lhe deu um papel e Louis assentiu, tinha sessenta mil dólares de reserva e ninguém naquele país saberia daquele segredinho, nem mesmo a agência para qual trabalhava. — Ótimo. Faça bom uso da informação, Dimitri.

Ele simplesmente saiu do banheiro com a maleta, toda sexta-feira ele se encontrava com Dimitri naquele mesmo banheiro para lhe fornecer informações ultrassecretas dos Estados Unidos em troca de dinheiro. Seu salário era razoável, sem dúvidas, mas não era grande coisa e queria mais, queria uma conta milionária para ter o que deixar ao seu sobrinho, mesmo que não viesse de uma forma adequada, queria garantir a Andrew um futuro brilhante, era tudo que tinha e fazia de tudo para lhe dar o melhor.

Comprou um lanche em uma rede de fast food, comeu sem pressa e desceu para o estacionamento. Entrou no carro e levantou o assento do banco do passageiro, que tinha um fundo falso, e guardou a maleta ali. Passou as mãos pelos cabelos e respirou fundo antes de dar partida e voltar para a normalidade de Langley, onde ninguém desconfiava de sua duplicidade.

Chegou à Virgínia e estacionou seu carro na mesma vaga, foi para o refeitório e comprou uma Coca-Cola gelada e subiu para o andar onde trabalhava. Saiu do elevador e sorriu para Harry, que conversava com um outro agente no corredor e parecia mais animado que de manhã. Antes que pudesse entrar em sua sala, seu nome foi chamado da sala de seu superior e Louis engoliu em seco.

— Tomlinson. — ouviu e seu coração bombeou sangue mais rápido, suas veias pulsavam com a liberação de adrenalina devido ao medo de ter sido descoberto e manteve-se firme ao andar até o seu chefe. — E Styles. — o outro acrescentou e Louis relaxou, Harry não sabia de absolutamente nada e certamente não seria algo grave.

— Sim, senhor? — Louis entrou na sala alheia e fechou a porta após a passagem de Harry, que estava muito cheiroso por sinal, e se acomodou em uma das cadeiras ao lado do colega de trabalho.

— Tenho uma missão a vocês. — o superior entregou uma pasta a cada um, que abriram e viram a ficha de um homem, agente duplo da KGB. — Caso quiserem aceitar, irão para Berlim como um casal em lua de mel, George e Travor Davis, vão buscar um agente, Nikolai Smirnov, e obterão um documento sobre bombas nucleares russas. — disse com seriedade. — Se quiserem aceitar, partirão amanhã à noite. Se algum de vocês for capturado ou morto, negaremos qualquer envolvimento com a operação.

— Aceito. — Louis falou, era sua primeira operação internacional e não deixaria a chance passar.

— Aceito. — Harry confirmou, tinha entrado na CIA para servir ao seu país e ajudar a combater as ameaças externas, era a sua função e jamais negou uma missão. Assim como Louis, era sua primeira vez como agente em solo estrangeiro e estava ansioso pela oportunidade, mesmo que sua vida pessoal estivesse de pernas para o ar.

— Ótimo. — o homem apanhou dois passaportes americanos, com a foto dos dois e os nomes falsos. Harry assumiria o papel de George e Louis de Trevor. Os bilhetes para o vôo estavam dentro dos documentos e os dois se entreolharam. — Vocês terão duas semanas para encontrá-lo, caso contrário, voltarão imediatamente. Smirnov costuma ficar em Berlim Oriental, então tenham cuidado ao entrar na metade comunista da cidade, sabemos como as coisas lá funcionam.

Louis engoliu em seco, cruzar o muro de Berlim era praticamente impossível, poucos conseguiam atravessá-lo e a chance de serem mortos era enorme. O objetivo do muro, além de isolar a parte ocidental, que era capitalista, e o acesso a ela ser praticamente todo através de via aérea, era também impedir que pessoas do lado comunista fugissem para o lado oposto, já que havia uma discrepante realidade entre os dois lados e causava insatisfação da população. A passagem pelo muro era permitida em alguns casos, mas na maioria das vezes era proibida, especialmente para quem vivia no lado Oriental.

— Alguma dúvida?

— Nenhuma, senhor. — Louis sorriu, um tanto surpreso por ter sido chamado para a missão.

— Se precisarem se comunicar via rádio entre si ou com a CIA, usem os codinomes Netuno e Mercúrio. — ordenou. — Isso é tudo, embarcarão amanhã. — tirou uma caixinha da mesa e entregou-a a Louis. — Parte do seu disfarce.

Tomlinson a abriu e viu uma aliança de ouro. Assentiu e guardou-a no bolso do sobretudo, Harry não havia recebido uma porque já carregava a sua própria no dedo, igualzinha à que Louis usaria para se passar por Trevor Davis. Ele se ergueu da cadeira com a pasta com as informações de Nikolai Smirnov nas mãos e sorriu para seu superior antes de sair da sala com Harry em seu encalço.

— Eu te vejo amanhã no aeroporto. — sorriu para o seu crush, suas bochechas coradas porque iria para Berlim com o rapaz em quem estava de olho há tempos. Pelo menos em missão eu serei o marido dele, pensou, já que na vida real aquilo seria impossível.

— Claro, Louis. — Harry assentiu, animado. — Não se atrase.

Os dois trocaram sorrisos singelos e se afastaram, aproveitariam aquelas últimas horas para apanhar equipamentos que os ajudariam na missão, estudar mais sobre quem iriam procurar e, no caso de Louis, aprender a como se comportar como um marido devoto e dedicado ao seu cônjuge para não levantar suspeita alguma.


~•~


Após passar onze horas em um vôo de primeira classe, os dois chegaram a Berlim Ocidental na noite de domingo. Ambos estavam apreensivos, eram inexperientes em missões de campo estrangeiras e, apesar do treinamento frequente que recebiam e de todo o equipamento auxiliar que carregavam, ainda não estavam seguros com a missão, ainda por cima por terem partido de uma forma tão repentina e terem deixado em solo americano seus entes queridos que não faziam ideia do que estava acontecendo.

Louis havia deixado Andrew sozinho, explicou ao garoto que ficaria fora por duas semanas e que lhe daria um voto de confiança, fez o sobrinho prometer que não daria festas e que estaria em casa todos os dias antes do anoitecer, não levaria ninguém à sua casa e não sairia depois do horário que ele estipulou. Deixou o vizinho avisado, para que ajudasse Andrew caso ele precisasse e o outro estava autorizado a ligar para Tomlinson caso o menino descumprisse alguma de suas ordens.

Harry, por outro lado, estava apreensivo em níveis altíssimos porque deixou sua filhinha em casa. Estava passando por um período conturbado em sua vida pessoal, seu marido não era o melhor homem do mundo e estava enfrentando um processo de divórcio e o pior de tudo era que uma criancinha de dois anos estava entre os dois, sendo disputada por ambos. Temia que aquela missão pusesse em risco o futuro de sua filha e que o juíz o julgasse como um pai negligente por ter saído de casa por duas semanas e favorecesse a outra parte ou, pior ainda, que seu marido aproveitasse aquilo para fugir com sua bebê.

Quando conheceu o homem com quem se casou, ele já trabalhava para a agência, sabia dos riscos de ter um relacionamento e das tentativas falhas de outros colegas ao quererem ter uma vida normal e conciliá-la com o trabalho, mas Harry era teimoso e mesmo assim seguiu adiante. Casou-se, engravidou e deu à luz à sua pequena Hailey, uma menininha que agora já tinha dois aninhos e era muito sapequinha. Dona de cachinhos castanhos e olhos verdes, ela colocava a casa abaixo com sua bagunça e era o que alegrava o coração de Harry todos os dias quando chegava em casa depois do trabalho, era a única coisa boa que seu marido havia lhe dado.

Na fase do namoro, tudo era um mar de rosas, mas depois que os documentos de casamento foram assinados, aquela aura romântica e apaixonada desapareceu e Harry se viu preso em um relacionamento desgastante. Seu marido era autoritário, o que rendia brigas horríveis dos dois, principalmente quando o assunto era dinheiro, já que seu cônjuge queria que Harry ficasse em casa cuidando de Hailey e não trabalhasse, o que para ele era um absurdo, porque sempre foi independente e dono de si. Além disso, seu esposo começou a dar indícios de agressividade que o assustavam, em algumas discussões houveram tapas, mas Harry era treinado pela CIA, então conseguiu colocá-lo em seu lugar facilmente.

Os tapas foram a gota d'água naquele casamento infeliz e Harry não pensou duas vezes antes de pedir o divórcio, não se permitiria ser destratado por aquele cara que não valia nada e certamente não era o ambiente em que gostaria de criar sua filhinha. Além disso, até aquela missão seu trabalho lhe deixava mais confortável porque era majoritariamente burocrático, ficava praticamente todo o tempo no escritório analisando dados e quase nunca ia para campo, assim como Louis. Sempre eram treinados, mas quase nunca eram escalados para a equipe que colocava a mão na massa e se arriscava em solo estrangeiro, e tinha que ser honesto consigo mesmo, estava com um pouco de medo.

Sabia que Louis era confiável, era um dos agentes mais respeitados do departamento, mas Harry mal o conhecia. Nunca chegaram a ter uma conversa propriamente dita, alguns minutos só batendo papo e seu contato se resumia a cumprimentos, saudações e sorrisos singelos que trocavam vez ou outra no escritório. Estava inseguro de estar sozinho com Tomlinson em uma cidade que era literalmente cercada por um muro, não sabia absolutamente nada dele, o que era meio óbvio a considerar que trabalhavam para a CIA e o mínimo de informação possível era o recomendado, mas não deixava de ser incômodo.

Tinha que confessar que reparava em Louis com mais frequência do que deveria. Via como o outro era bonito e charmoso, sempre muito elegante com seus ternos bem cortados e alinhados ao seu corpo, os cabelos em um topete e aquela barba rala faziam Harry suspirar discretamente de sua mesa porque sua beleza se destacava a quilômetros de distância. Não deveria reparar tanto nele, mas não se repreendia porque estava passando por um processo de divórcio, em breve estaria livre do traste que chamava de marido e poderia se dar ao luxo de retribuir o flerte de Louis – sim, Harry notou os sorrisos nada discretos, os olhares desejosos que desciam pelo seu corpo sempre que ficavam próximos ou as mordidas de lábio – e talvez terem um momento interessante juntos. Pelo menos não precisaria esconder dele o fato de que trabalhava para a inteligência americana.

Contudo, ainda era estranho ir para uma cidade ilhada no meio de um país comunista, já que Berlim ficava na Alemanha Oriental, com um homem que não conhecia, apesar de ser seu colega de trabalho, e que visivelmente o desejava. Temia que Louis tentasse alguma coisa, mesmo que Harry estivesse seguro de si mesmo porque sabia lutar, mas tinha que levar em consideração que o outro também sabia. Um lado seu achava que Louis aproveitaria a situação para tentar algo, a outra dizia que estava tudo bem e que ele era um homem respeitoso, mas de qualquer forma Harry preferia ficar de olhos bem abertos em relação a ele.

Desceram do avião comercial por volta das oito da noite, já incorporados em seu disfarce de George e Trevor Davis. Louis usava a aliança entregue pelo secretário para se passar por um marido atencioso e dedicado e passaram boa parte do vôo conversando baixinho sobre que gestos de um casal deixariam os dois confortáveis ou não. Beijos na bochecha, mão na cintura e dedos entrelaçados eram permitidos, mas mãos com segundas intenções que desciam para a bunda ou toques em áreas mais íntimas eram proibidos. O papel era interpretar um casal em lua de mel, sem dúvidas, porém tinham suas reservas e, honestamente, Louis tinha receio de passar dos limites caso a encenação fosse muito real. Até porque, da parte dele, havia uma coisinha que sentia pelo colega.

Apanharam suas bagagens na esteira e saíram da área de desembarque, Louis arrastava o carrinho com as duas malas e Harry carregava sua bolsa de mão e a maleta com certos equipamentos da agência que seriam úteis em sua estadia ali. Ambos estavam apreensivos e calados, então não trocaram muitas palavras quando pegaram um táxi para o hotel com suas reservas. Apresentaram seus documentos falsos na recepção e logo subiram para uma das suítes de lua de mel, com uma cama grande, TV, e tudo que um casal apaixonado poderia desejar naquele momento tão especial, apesar do espaço ser pequeno.

— Bem, aqui estamos. — Louis suspirou ao olhar ao redor, felizmente havia um sofá largo e comprido perto da cama e ele deu um sorriso aliviado. — Apesar de estarmos interpretando um casal, acho que não seria confortável para nenhum de nós dividirmos a cama, então vou ficar com o sofá. Você se opõe?

— Não, claro que não. — Não sou bobo de negar uma cama gostosa dessas, Harry pensou e deixou a maleta em cima de uma mesinha em um canto, colocou a bolsa de mão sobre a cama e passou as mãos pelos cabelos. — Vamos fazer da nossa estadia aqui algo confortável, apesar das circunstâncias.

— Sem dúvidas. — sorriu gentil. — Ainda não entendo porque o secretário nos designou para esta tarefa, somos agentes inexperientes em campo. — comentou. — Acha que tem algum motivo por trás? Digo, muitos agentes são treinados em Langley, muito mais ágeis que nós.

— Acho que ele tem seus motivos. — murmurou e tirou o casaco grosso que usava para deixá-lo sobre uma cadeira. Estava exausto da viagem, suas costas doíam e ele se esticou, o que fez alguns ossinhos estalarem e ele gemeu com o alívio da tensão. — O secretário não nos chamaria para uma missão sem confiar em nós. Além disso, podemos ter cobertura em algum momento, sabemos que Berlim Ocidental é um prato cheio para a CIA, não somos os únicos agentes aqui. Talvez queira ver como a gente se saia porque planeja algo maior para nós, algo mais perigoso.

— Mais perigoso que atravessar o Muro de Berlim?

— É mais fácil do ocidente para o oriente, o muro foi construído para evitar a fuga dos pobres coitados que vivem do outro lado. Smirnov não pode cruzar a barreira, mas nós podemos. — sentou-se na cama e respirou fundo. — Claro que com certas dificuldades, mas conseguiremos.

— Espero que sim. — assentiu, ainda um tanto surpreso e temeroso.

— Essa não é uma missão impossível, Louis. — sorriu e se jogou no colchão, ansioso para o dia seguinte. Mal via a hora de colocar tudo em prática e saber como realmente era ser um agente de campo.

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