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Bởi AndrwKy

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| EM ANDAMENTO | SENDO REESCRITA Mudar para a capital nunca fez parte dos planos do jovem bruxo Jungkook, no... Xem Thêm

00 | Avisos
01 | Doce Mudança
02 | Doces Estranhos
03 | Baralho de Copas
04 | Princípios Adolescentes
06 | Memórias Rubras
07 | Poção do Amor
08 | Profecia
09 | Passado, Presente e Encantados

05 | Explosão Colorida

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Bởi AndrwKy

#CaçandoVagalumes

Banana, já chega de canela! Desse jeito vamos acabar produzindo um veneno ao invés de uma poção!

Aquela poderia ser a quadragésima vez que eu alertava o duende sobre as consequências do excesso do pó marrom, contudo, perdi a conta após o décimo primeiro aviso, sendo peremptoriamente ignorado por Nana.

Bom acasalar humanos isso, Jungkook!

ㅡ Queremos apenas os aproximar de forma romântica, não fazê-los aumentarem o índice populacional da Ásia sozinhos, Nana. ㅡ contrapus, encaixando os óculos quadrados no topo da cabeça, concentrado nos frascos de vidro repletos de ervas e pós. ㅡ Devemos seguir a receita a risca, caso contrário, podemos causar um desvio cósmico.

Ouvindo os resmungos de Banana, verifiquei o caldeirão que borbulhava numa coloração forte de vermelho e aspirei o aroma doce, cantarolando a música qual reverberava pelo recinto tomado por caixas de móveis, utensílios e objetos essenciais para as receitas e feitiços. Fazia pouco mais de duas semanas que Seokjin hyung concordou com o plano de granjear o coração de Alícia noona e, fazia dois dias que pesquisando nos livros de vovó, encontrei um encanto conveniente para a ocasião.

Entretanto, a necessidade de uma receita como aquela estar sendo produzida aflorava meus nervos, deixando-me ansioso por princípios pessoais e por temer falhar numa atividade comum entre pré-adolescentes bruxos. E, o atraso de Junghyun, deixava-me cada vez mais receoso.

Cruzei os braços e encostei-me em uma das prateleiras vazias, meu cérebro instantaneamente me levando para os dias agitados transcorridos após a chegada na capital. Muitos momentos aconteciam numa espécie de loop, como sentar todos os dias no decurso do intervalo na mesa nove, formando um quinteto notável entre adolescentes genéricos.

Os humanos deixavam-me confortável e eram muito curiosos, com maneiras distintas de personalidade que ㅡ embora improvável ㅡ, uniam-os como um grupo barulhento, risonho e determinado em encaixar-me entre seus preceitos.

Apesar de ser líder de torcida e possuir uma mesa especial para seu grupo, Alícia sempre nos acompanhava no recreio, usando-nos como confessionário para suas reclamações sobre o time das animadoras e, em especial, me usava como cobaia para penteados envolvendo flores roubadas dos jardins da escola; seus argumentos investiam no fato dos meus fios serem macios e hidratados. Conquanto, eu acreditasse no contrário.

No final, Namjoon hyung também acabava tendo as madeixas castanhas decoradas com folhas coloridas e caules verdes.

Tratando do Kim mais novo, eu poderia o considerar um mestre em exatas. Ele tinha facilidade em calcular a velocidade sobre delta e citava frases aleatórias de seus estudiosos favoritos em momentos incabíveis, assim como um dom extraordinário em derrubar seus materiais e escorregar em pisos antiderrapantes. Em contrapartida, adorava dialogar sobre suas plantas, Tinker Bell e também, discutir com Yoongi acerca de todos os assuntos existentes na galáxia.

No entanto, como o oposto do garoto, havia o Min. Ele era excelente em informática, principalmente se envolvesse códigos ou sites suspeitos, contudo, ao ter meu celular hackeado em um curto espaço de tempo, soube imediatamente as razões por seus interesses em tais tópicos. O hyung era silencioso, porém perdia sua postura ao falar sobre seus irmãos caçulas e ao mostrar fotografias de sua tartaruga russa Donatella; cuja tive o prazer de conhecer pessoalmente depois de quase esmagá-la com uma das caixas pesadas da reforma do meu ateliê.

Incluindo nas lembranças o responsável por minhas unhas roídas, mexi o conteúdo do caldeirão automaticamente, tendo em mente o quanto Seokjin Perkins era uma figura.

Mesmo sendo maior de idade e repetente do último ano, sua personalidade contagiava aqueles em seu entorno, como uma criança, resultando em situações constrangedoras. Semelhança a última sexta-feira, quando ao declarar uma revolução contra a poluição do meio ambiente, subiu na mesa do refeitório e gritou no meio da multidão de estudantes: "Carros são inúteis, digam sim as pernas!".

Como reflexo, soquei seu braço e apesar de ter pedido desculpas, Yoongi, Namjoon e Alícia ignoraram o jogador pelo resto do horário do lanche.

Entretanto, ainda existia um alguém que em momentos indevidos invadia nossa mesa e provocava-me com cantadas ruins ou com apelidos imaturos. Park Jimin jamais abandonava o tom de voz persuasivo, o olhar felino, o uniforme do time de futebol ou as roupas largas características de um skatista, o cabelo perfeitamente bagunçado e o sorriso de canto, proveniente de suas tentativas de deixar-me envergonhado.

Por Théa, meu vizinho era o garoto mais insuportável que tive o desprazer de conhecer.

Embora o avermelhado fosse irritante, era impossível não deixar um suspiro de júbilo escapar todos os dias, quando no mesmo horário no fim da tarde, as rodas estrépitas de seu skate sobressaiam o som dos meus fones e em poucos instantes, Abacate surgia na minha janela, balançando o guizo de sua coleira como um convite para devolvê-lo ao dono.

ㅡ Posso saber qual o motivo do sorrisinho? ㅡ parei de mover a colher de madeira no caldeirão e arregalei os lumes ao acordar do transe, discernindo a voz de meu pai entre as batidas da canção ressoantes no ambiente.

ㅡ Pai! ㅡ levei a destra para o peito e senti o sangue centrar-se em meu rosto. ㅡ Minha nossa! Poderia ter anunciado sua chegada!

ㅡ 'Tava pensando em quem, Jungkook? ㅡ semicerrou os olhos castanhos em minha direção e pisquei, confuso. ㅡ A última vez que vi você bobinho assim, foi no seu aniversário de dezesseis quando te enviei aquela maleta de tintas... Alguma garota?

ㅡ O que? Ahn... Não! Como... O que te faz pensar nisso? ㅡ tentei argumentar, porém Junghyun continuou me olhando com diversão. ㅡ Papai, por favor! ㅡ pedi, escondendo o rosto com as mãos.

ㅡ Certo, nenhuma garota! ㅡ levantou as mãos rendido e revirei os orbes, sabendo que ele não esqueceria o assunto tão cedo. ㅡ Vou ignorar seus olhinhos brilhantes e trazer suas coisas. ㅡ passou pela porta de vidro e gritou do quintal: ㅡ Espero que não se importe por eu ter extrapolado as compras da lista.

Banana sentou-se em meu ombro com visível curiosidade e franzi o cenho, estalando os dedos para que o fogo debaixo dos caldeirões se apagasse, ㅡ de relance notei o conteúdo vermelho diminuir sua quantidade pela ausência de calor.

Mamãe provavelmente chamaria-me de louco e marcaria uma consulta com um terapeuta caso descobrisse meu envolvimento com poções amorosas, a mera lembrança de seus olhos arregalados e posição defensiva a cada vez que eu apresentava uma das minhas obras, fez o nervosismo ceder uma trégua e um sorriso surgir em meus lábios.

Carregando duas caixas grandes e sacolas de material reciclável com a marca de alguma papelaria, Junghyun por pouco não tropeçou em um pequeno degrau que fazia uma divisão da entrada com o restante do cômodo. Indo de encontro com o Jeon, peguei os papelões pesados, colocando-os sobre a mesa de madeira escura, no centro da edícula.

Encarei meu genitor com ansiedade e Junghyun sorriu, indicando as compras com o queixo. Mordi o lábio, concentrando-me em tirar as fitas adesivas das caixas sem danificá-las e abrindo as abas, visualizei os exemplares embrulhados em plástico bolha e meus orbes inundaram, comovido com o cuidado na escolha dos livros retirados diretamente das editoras.

ㅡ Obrigado, pai...! ㅡ funguei, limpando as gotas salgadas dos olhos e mirei Banana quando sua presença se desfez, encontrando-o com as pernas cruzadas sobre a cabeleira negra do Jeon mais velho, o qual não deu importância para o duende.

Papai sabia sobre Banana desde o início, no entanto, recusava-se a acreditar que um boneco preso numa garrafa era na realidade, um ser vivo. Portanto, ao encontrar Nana procurando por biscoitos de chocolate no armário da cozinha, o doutor Jeon o aceitou como membro da casa e aos poucos estava se acostumando com a sua maneira peculiar de se comunicar, ainda clamando minha ajuda como tradutor nas vezes em que o amarelinho se empolgava e discursava sobre assuntos casuais.

ㅡ Você gostou? ㅡ mordiscando as peles soltas de seus dedos, o mais velho indagou, nitidamente inquieto. ㅡ Sequer abriu a outra, filhote.

ㅡ Ah, certo! ㅡ murmurei, empurrando a caixa aberta para o lado e focando no objeto lacrado. ㅡ Serei breve, papá, não quero que suas mãos fiquem sem pele. ㅡ soprei uma risada divertida, o vinco entre suas sobrancelhas induzindo os olhos castanhos a fitarem as próprias falanges.

A outra caixa era um pouco maior e, ao retirar o papel de proteção após abrí-la, perdi o fôlego com a diversidade de cristais armazenados em potes de vidro, com tampas correspondentes a coloração das pedras, aspirei o aroma de cada umas das essências e incensos e, contive um grito nada másculo, admirado com os novos recipientes para poções.

ㅡ Pela Deusa... Muito, muito obrigado! ㅡ curvei-me agradecido, sorrindo abertamente. ㅡ Mamãe, com certeza, vai infartar ao ver a quantidade de cristais, ela os adora.

ㅡ Tudo 'pra ver seu sorriso, querido! ㅡ funguei novamente, piscando diversas vezes, evitando as lágrimas. ㅡ Nas sacolas têm tinta, pincéis e sementes, quero que se divirta decorando todo esse lugar com a sua personalidade.

Arregalei as pálpebras, remexendo os pacotes.

Todas as coisas deixadas no meu antigo quarto jamais poderiam equiparar-se aos novos presentes.

Animado como um filhote de cervo, virei para o Jeon e passei os braços por seu pescoço, o abraçando apertado. Uma gota fujona manchou sua camiseta branca com desenhos de abacaxis e o homem retribuiu o gesto acariciando meus cabelos. Inspirei o perfume com notas de cerejas, familiarizado com o cheiro paternal.

Apertei mais o abraço, sentindo falta do contato afetuoso com meu progenitor. Imitando-me, Junghyun deixou um beijo sobre o topo da minha cabeça, afinal, ele era alguns centímetros mais alto, possibilitando a ação. Me soltei do corpo quente e meu pai secou meu rosto com os polegares, tocando a ponta do meu nariz, da mesma maneira como fazia quando eu ainda não havia completado uma década sequer.

Recompondo-me, olhei o entorno, imaginando possibilidades de decoração para o casulo e, apoiando as mãos na cintura, suspirei orgulhoso do trabalho feito na última semana.

As paredes foram pintadas de azul-arroxeado, concedendo um ambiente místico propositalmente, alguns vidros foram trocados e a grama aparada. No entanto, ainda haviam muitas coisas a serem feitas, como organizar os móveis e preencher o recinto de desenhos quais arremetessem minha personalidade.

Por hora, não tinha formulado nenhum rabisco condizente ao meu desejo. Portanto, os novos pincéis e tintas iriam para uma das cestas compradas por meu pai, pelo tempo necessário para o desenvolvimento de uma ideia inovadora e emocionante.

Junghyun apoiou a decisão e ajudou-me com a organização dos novos itens.

Todavia, enquanto separávamos as sementes em frascos de vidro, papai recebeu uma ligação e pediu licença, levando Banana consigo até o lado de fora, atendendo o celular. Convergido nos grãos e no cuidado para não errar os recipientes, mantive-me cantarolando a música da rádio e guardando as bolinhas coloridas, reservando as sementes de melancia para usar na poção.

ㅡ Filhote. ㅡ curvei as costas para trás, com o objetivo de fitar o Jeon, o qual se mostrava nervoso, movimentando os dedos sem intervenções. Murmurei para que ele prosseguisse. ㅡ Hmmm, eu sei que você não gosta de receber visitas ou conhecer novas pessoas, mas... ㅡ inspirou profundamente e franzi o cenho, colando uma etiqueta no frasco com sementes de girassol. ㅡ Seus tios vieram para te conhecer.

Pisquei os olhos, alinhando a botelha junto às outras. Nunca conheci os membros da família de Junghyun, tinha visto fotos e poderia reconhecê-los caso precisasse, porém, em ambos os lados, jamais demonstramos interesse em nos relacionar como uma família. Exceto por Jihye, a filha mais velha do senhor e senhora Jeon.

Papai me contou da afobação da mulher quando descobriu ter um sobrinho, riu ao mencionar a agressão que sofreu, pela irmã tê-lo imaginado abandonando o filho e sorriu, relembrando as fotos cujas mostrou para a mais velha. Contudo, eu não era a única criança Jeon a ter animado a mulher, pois seu filho havia acabado de completar dois anos na época.

ㅡ Tudo bem, vou somente arrumar essa bagunça e irei vê-los. ㅡ crispei os lábios e sorri daquela forma, limpando as mãos na camiseta.

ㅡ Caso se sinta desconfortável, podemos marcar para outro dia, querido. ㅡ suspirei com a preocupação de Junghyun e neguei, despejando as sementes de melancia na palma esquerda.

ㅡ Está tudo bem, pai! ㅡ assegurei, jogando os grãos em formato de gota no caldeirão fumegante da poção e os cabelos curtos da minha nuca arrepiaram-se com a reação gerada pela ação. ㅡ Hmmm, preciso esperar algumas horas para que o álcool evapore. Minha nossa, Mãe Théa ilumine minhas mãos.

ㅡ 'Tô confiando em você, Juju. ㅡ mordi o lábio devido o apelido e desviei o olhar para a felina de pelagem preta quando ela esfregou o rabo felpudo nas minhas pernas. ㅡ Vou falar com eles e os chamar 'pra entrar, mas se não estiver pronto, eu jamais irei te repreender.

Assenti suavemente, duvidoso sobre o motivo da sua confiança ㅡ se era pela poção ou pelos meus tios ㅡ e, ao ver o homem deixando-me sozinho com Amora, soltei o ar, nervoso. Integrar-se a determinado grupo de adolescentes que tenham, majoritariamente, a sua idade, com pensamentos e atitudes congêneres, naquele momento, se revelou uma façanha condescendente mesmo para mim.

Franzi o nariz, pegando a gata preta no colo e a filhote lambeu meu colar, miando em seguida como um incentivo para que eu fosse logo para dentro de casa conhecer meus parentes. Enquanto calçava meus chinelos e trancava a porta de vidro, Banana surgiu sobre as costas de Amora.

Humanos socializar por motivo tendem qual, mesmo? Pelos meus cogumelos, deploráveis são vocês!

ㅡ Não seja tão duro, Nana. ㅡ o adverti, o duende ficava mais incompreensível com sua essência feminina, principalmente por ainda não ter peças de roupas novas para trocar; ele havia reclamado assim que acordou. ㅡ Os humanos precisam de convivência social para que possam produzir diversos hormônios, como a serotonina, portanto, estar entre um grupo pode ser benéfico para aqueles cujos não se sentem bem na própria companhia.

No primeiro passo no gramado aparado, senti os raios solares tocarem minha derme e fechei os olhos por um instante, pois estava com saudades de ter o sol queimando minhas bochechas. Como o final do inverno aproximava-se, os dias ensolarados estavam tornando-se comuns, mas não ao ponto de aquecer completamente. Dessa forma, eu usava uma calça de moletom preta com uma corrente prateada e uma camiseta de mesma cor, com mangas compridas e a estampa das meninas super-poderosas.

Encaixei os óculos de grau na face e bati os pés no tapete da entrada para a porta dos fundos. Soltei Amora no chão, rindo quando a filhote passou por baixo das minhas pernas, voltando para o lado exterior, tentando capturar algumas borboletas quais sobrevoavam as flores plantadas dias antes. Banana revirou os lumes teletransportando-se para o topo da minha cabeça, cogitei perguntar o que estava lhe perturbando para que estivesse tão enfurecido, todavia, a voz de Junghyun chegou aos meus ouvidos, junto de outras duas desconhecidas.

Respirei fundo.

Meus pés levaram-me para a sala e mordi o lábio inferior ao encontrar uma mulher morena, com traços idênticos ao do meu progenitor e com um sorriso grande, os incisivos maiores que o considerado normal; dentes de coelho, como os meus. Sentado ao seu lado, estava um homem loiro com olhos pequenos e boca expressiva, seu semblante tranquilo recordava-me alguém.

ㅡ Oh! Jihye, esse é meu filho... Jungkook. ㅡ desviei os olhos para meu pai e minhas bochechas esquentaram ao notar os dois pares de orbes focados em mim. ㅡ Peguem leve com ele! ㅡ o ouvi sussurrar, piscando incomodado com os genes bruxos que possibilitavam a audição aguçada.

Meus chakras estavam desregulados, deveria ser esse o motivo para o descontrole nos meus sentidos; considerei.

ㅡ Por Deus, é um prazer finalmente te conhecer! ㅡ sorriu abertamente e me curvei, ouvindo um resfolego da mulher. ㅡ Quem me dera Hoseok ser educado como você, mas aquele menino só me dá dor de cabeça. ㅡ reclamou com um tom divertido e arrumei a postura, o nome ditado inconfundível na minha mente. Porém, permaneci imparcial, deveriam existir milhares de Hoseok's na Coreia. ㅡ Poxa, Jun, porque nunca nos mostrou uma foto dele depois de crescido? De todas as formas como você o descreveu, jamais cheguei nessa imagem, deve ter puxado a mãe para ser tão bonito.

ㅡ Nós dois temos a mesma cara, Ji. ㅡ o Jeon rolou os olhos.

ㅡ Mamãe se gabaria por toda Busan caso a ouvisse falar dessa forma. ㅡ murmurei, arregalando os olhos por não ter dito baixo o suficiente. ㅡ É u-uma h-honra os co-conhecer.

Pigarreei, a mão quente de Junghyun tocou minhas costas ao perceber o estado dos meus nervos.

ㅡ Não precisa ser formal com a gente, JK. ㅡ o loiro se levantou do sofá e esticou a destra, em um cumprimento. Prontamente segurei a mão alheia e anui, soltando o ar pelas vias respiratórias. ㅡ Sou Jung Doyun, marido da Jihye e cunhado desse gatão. ㅡ ao falar, agarrou o pescoço do meu pai e bagunçou seus cabelos castanhos, papai ameaçando socar-lhe na barriga. ㅡ Seu cabelo é muito bonito, preciso dessa hidratação aí, 'tô quase tendo um corte químico de tanto produto que eu uso.

Rindo ao puxar meu pai para um abraço, o loiro tentou beijar a bochecha do moreno, no entanto, Junghyun o empurrou, beliscando seu braço como punição, consequentemente, fazendo Doyun o soltar, reclamando.

ㅡ Mãe, eu não achei as luvas. Tem certeza que viu elas no carro? ㅡ um novo timbre ressoou na sala e virei rapidamente para a porta, arregalando os orbes ao ver Hoseok na minha frente. Aquele Hoseok; o Hoseok platinado, amigo de Jimin. ㅡ Porra, entrei na casa errada?

Hoseok! Sem palavrões, moleque! ㅡ a mulher o corrigiu. ㅡ Jungkook, esse é meu filho, Jung Hoseok.

ㅡ Já nos conhecemos, mãe. ㅡ franzi o cenho ao notar um sorriso ladinho crescente nos lábios finos do garoto. ㅡ Eu não sabia que o tal "Jujuba" era meu primo, honestamente, vocês deveriam ter me contado ㅡ arqueei a sobrancelha esquerda com o apelido mencionado e de soslaio, vi Junghyun cruzar os braços, interessado no assunto. ㅡ Jimin me deixou com dor de cabeça de tanto falar sobre você, da briga com o Min Ho e da guerra de comida, sem contar com o resto da semana.

Minha respiração falhou, a saliva arranhou minha garganta e meus olhos se arregalaram diante da detratação do garoto. Junghyun não tinha conhecimento de nenhum desses infortúnios envolvendo meu primeiro dia escolar.

ㅡ Briga? Você me escondeu algo, por acaso, Jeon-Lee Jungkook?! ㅡ respirei profundamente, encarando meus pés, evitando o olhar paterno.

Os plantões do Jeon eram, comumente, nas segundas, quartas e sextas, no entanto, ele poderia escolher outros dias para fechar a carga semanal de atendimentos. Dessa forma, ocultar o hematoma em meu queixo ou sequer mencionar o assunto não fôra ímprobo, tanto para papai, quanto para minha mãe.

Até o momento.

ㅡ Não foi nada demais, pai. ㅡ resmunguei, sentindo Banana remexeu-se em meu ombro, sorrindo discretamente. ㅡ Meu instinto juíz fez-me intervir na confusão e embora tenha ganhado um soco na mandíbula, não passou de um machucado leve, a marca sumiu horas depois. ㅡ sustentei o olhar do meu genitor, sabendo claramente o que aqueles orbes semicerrados significavam.

ㅡ Foi por isso que você ficou de capuz o dia todo? - encarei o delator ao ouvir um riso vindo da sua direção e apertei os punhos ao notar uma faísca púrpura queimando a derme.

ㅡ Eu sei como você se preocupa, mas confie em mim quando digo que foi superficial, papá. ㅡ mordendo o lábio inferior, o mais velho colocou as mãos na cintura, suspirando ao assentir. ㅡ Se fosse algo sério, eu iria ter lhe contado.

ㅡ Eu acredito em você, filhote. ㅡ sorriu sem emoção, porém garantiu que seus olhos transparecessem seus verdadeiros sentimentos e maneei a cabeça, num gesto de perdão, próprio de minha tribo. ㅡ Então, pretendem ficar para o jantar?

ㅡ Ah, não queremos inco-

ㅡ Iremos sim! ㅡ Doyun interrompeu a esposa, igualando-se a um pirralho encrenqueiro depois de sorrir ao ser fuzilado pelas íris castanhas da Jeon.

Hmmm, querido...?! ㅡ fitei Junghyun, prevendo suas intenções baseando-me na expressão temerosa e carregada de expectativas. ㅡ Gostaria de cozinhar hoje? ㅡ engoli em seco. ㅡ Tenho certeza que eles vão adorar sua comida.

Considerei o alvitre, mordiscando a pele fina do meu lábio. Não havia cozinhado para pessoas divergentes dos meus pais e avó, nem ao menos Rafael tinha experimentado alguma comida feita por mim, entretanto, aquela poderia ser a chance de obter certeza sobre minha vocação, pois meu futuro estava conectado as minhas habilidades na gastronomia ou, minimamente, com panelas e condimentos.

ㅡ Vou adorar, pai. ㅡ crispei a boca, sorrindo. ㅡ Contudo, creio que teremos de ir ao mercado, preparei um cardápio para o jantar de hoje, mas a quantidade terá que ser dobrada. ㅡ observei papai soprar um riso rouco e coçar a nuca, assentindo.

ㅡ Vou te deixar encarregado de comprar tudo que precisar, filhote. ㅡ com um movimento preciso, Junghyun pegou a carteira no bolso do moletom e estendeu um cartão de crédito. ㅡ Sabe a senha, 'né? ㅡ anui, apanhando o objeto verde, o guardando na capinha do celular. ㅡ Hoseok vai com você.

Mirei o platinado qual sorria de canto, lançando-me um piscar de olho; suas artimanhas evocavam as aderidas por meu vizinho e seu amigo. Incrédulo com o argumento utilizado pelo meu genitor acerca de nos tornar próximos, subi para meu quarto, precisando montar uma lista para não esquecer nenhum ingrediente.

Fechei a porta contra minhas costas e franzi o cenho avistando as cortinas esvoaçando pela vidraça aberta, o som dos rolamentos conhecidos atroando no asfalto. Diligente, arrastei meus pés para o exterior da varanda e apoiei o quadril no guarda-corpo, cruzando os braços enquanto assistia Jimin Park sobre a chapa de madeira, usando o controle dos membros inferiores para pular e girar o skate no ar, como um profissional.

Os cabelos vermelhos voavam na brisa gelada e as roupas folgadas combinavam com as manobras executadas pelo mais velho. Suspirei inconscientemente, minhas bochechas esquentando ao perceber a camiseta preta levantando entre cada flip dado por Ariel e meu estômago revirou ao visualizar o sorriso confiante, o aparelho brilhando sob os raios solares.

Esquisito é, mas deixa não de ser bonitinho. ㅡ engasguei-me com a aparição repentina de Banana e esbugalhei os orbes ao ter a atenção do Park voltada para minha direção. ㅡ Santo cogumelo, desculpa, bruxinho.

ㅡ Me observando, gatinho? ㅡ o grito do humano causou um revirar de olhos da minha parte e um sorriso sapeca do duende sentado ao meu lado.

ㅡ Não, estou apenas respirando ar puro, Ariel. ㅡ retruquei, admirado com a facilidade com a qual ele pegou o transporte com a mão, após pisar em uma das pontas.

ㅡ Vai me dizer que suas bochechas vermelhas são reflexo do sol, então, Jujuba? sorriu de canto, semicerrando os olhos para enxergar-me.

ㅡ Pense no que lhe for mais proveitoso, Park.

ㅡ Péssima escolha, Jeon.

Voltei para dentro do quarto depois de rolar os olhos novamente, escutando sua gargalhada alta do outro lado da rua e reprimi um sorriso, buscando por meias na gaveta da cômoda. O tilintar de uma notificação invadiu o espaço e desbloqueei o smartphone, depois de sacá-lo do meu bolso. Surpreendi-me com a quantidade exorbitante de mensagens no grupo cujo fui adicionado logo no primeiro dia de aula.

Lica e sua gangue de LGBT'S 🏳️‍🌈 [267 mensagens não lidas]

Namjoon Hyung

| eu tô falando
| se calcular a velocidade de uma tartaruga e comparar com uma lebre, é impossível que o réptil ganhe, pq a porra do coelho não vai parar pra dormir!

Yoongi Hyung

| Teu cu
| A Donatella dá um pau em qualquer coelho q aparecer
| [Vídeo] Se liga nos movimentos da mãe 😎

Namjoon Hyung

| com todo o respeito que tenho pela Dona
| hyung, a coitada não aguenta dois passos sem parar pra comer uma dúzia de melancia ou florzinha
| e ela ficou linda com essa capa da mulher maravilha 🥺

Yoongi Hyung

| Minha filha é fitness Namjoon
| Cala a boca pra falar da alimentação dela
| E sim, puxou o papito pra ser essa belezinha 😔❤️

Seokjin Hyung

| Vocês viram que os EUA abateram um OVNI?

Namjoon Hyung

| hyung, isso é fake news da impressa pra esconder que a maior potência do mundo tá numa porra de uma crise econômica e a China tá ascendendo igual uma filha da puta

Yoongi Hyung

| E assim se vai quase um século da soberania de merda do Estados Unidos, aleluia igreja

Seokjin Hyung

| Isso significa que vão acabar com o McDonald?
| Poxa, eu gosto do mclanche feliz 😭

Alícia Noona

| Oh meu bem, eu te faço um hambúrguer e te dou um chaveirinho da Espanha se isso acontecer

Seokjin Hyung

| Lica, eu já tenho uns trinta chaveiros da sua terra natal...
| Mas não custa nada ter trinta e um ❤️

Alícia Noona

| Idiota

Você

Seokjin hyung, prometo lhe fazer um hambúrguer com carne de soja e te presentear com algo singelo, mas prometa não comer mais alimentos carregados de gorduras totais e saturadas. |

Yoongi Hyung

| Chegou a margarida

Namjoon Hyung

| oi uvinha

Seokjin Hyung

| Jungkookinho, se eu não comer comida carregada de gordura, não tenho nada para perder nos treinos e vou acabar virando um palito, não posso prometer tal infelicidade 😔

Você

Pensei que gostaria de experimentar uma das minhas sobremesas sem excesso de açúcar e muita cobertura de chocolate, hyung. |

Alícia Noona

| Puta jogo sujo, Jun
| Ensinei certinho, que emoção 🙈

Seokjin Hyung

| Salafrário sem vergonha

Ocultei uma risada ao forçar os lábios em uma linha e vesti as meias com pressa nos pés, o chamado de meu pai repercutindo pelo quarto. Peguei o celular, uma jaqueta jeans e meus fones, arrumando o cabelo no caminho para as escadas, digitando apressadamente no celular ao passo que descia os degraus, quase caindo no último por não ter me atentado a velocidade do caminhar.

Recuperei o equilíbrio a tempo, escrevendo o último ingrediente para o jantar e finalizando com um ponto. Foquei os orbes nos humanos quais conversavam animadamente na sala e franzi o cenho ao não encontrar Hoseok junto de seus pais, entretanto, o som de algo quebrando atraiu minha atenção. Indo para a cozinha, pisquei os olhos, incerto ao ver meu vizinho com uma expressão aflita encarando um copo no chão.

ㅡ Eu te odeio, mano. ㅡ esbravejou com Hoseok.

ㅡ Você quem 'tava igual um imbecil rindo da minha cara, esperava o quê? ㅡ o platinado retrucou. ㅡ Temos que limpar isso antes que o dono da casa veja, não quero ouvir outro sermão.

Encontrando a oportunidade perfeita, pigarreei, recebendo os pares de olhos assustados sobre meu rosto.

Jujuba! ㅡ estranhei a voz esganiçada do avermelhado e estalei a língua na boca, indo até a despensa para pegar uma vassoura e a pá. ㅡ Foi um acidente, o Hobi 'tava me provocando, daí eu perdi a paciência e ele me empurrou, acabei derrubando o copo, mas eu limpo, pode deixar. ㅡ destoou a falar. ㅡ Não conta 'pro teu pai!

ㅡ Provavelmente ele ouviu o som. ㅡ murmurei, entregando-lhe os utensílios de limpeza. ㅡ Limpe antes deles verem ou Amora machucar-se nos cacos, Ariel.

Anuindo, o Park voltou para o cômodo. O segui e cruzei os braços, vendo-o juntar os pedaços do copo quebrado e empurrar os resquícios para o objeto de plástico, jogando na lixeira perto da pia.

ㅡ Ele se auto convidou 'pra ir com a gente no centro. ㅡ meu primo o denunciou e acompanhei os olhos felinos de Jimin fitando-o com raiva. ㅡ Depende de você, JK.

Fingi pensar, curvando o tronco no balcão, deslizando os lumes de um ao outro.

ㅡ Prometem se comportar e não quebrarem mais nada? ㅡ inquiri, ignorando as facetas desacreditadas.

ㅡ Não somos mais crianças, Jujuba.

ㅡ Há um caco ao lado do seu pé, Park. ㅡ indiquei o vidro e seu cenho franziu. ㅡ Respondam apenas com sim ou não.

ㅡ Prometo. ㅡ o Jung revirou os olhos castanhos, movendo a destra num ato displicente.

ㅡ Tanto faz. ㅡ resmungou Jimin, arregaçando as mangas da camisa de flanela.

ㅡ Levarei sua resposta como uma concordância. ㅡ franzi o nariz, contrariado. ㅡ Iremos quando terminar.

ㅡ Por que o Hoseok não 'tá ajudando?

ㅡ Porque eu sou visita e você, intrometido. ㅡ sorriu venenoso.

Encaixando os fones nas orelhas, revisei a lista de compras e verifiquei o cartão na capinha do telefone. Poucos minutos passaram e me despedi dos adultos, confirmando todos os questionamentos de Junghyun acerca da minha segurança e calcei meus all stars, esperando pelos outros adolescentes na calçada. Disfarcei o aceno para o duende sentado na sacada e suspirei com o barulho causado pelos humanos, rolando os orbes, observando-os empurrarem-se como animais selvagens.

ㅡ Vamos de metrô?

Antes que eu pudesse afirmar a pergunta do meu hyung, Jimin tirou um molho de chaves do bolso da calça cargo preta e destravou o fusca azul escuro estacionado na garagem da sua casa, sorrindo sugestivo.

ㅡ Não, vamos com o Mirtilo.

Quando formulei uma fala para negar a proposta do rapaz de fios vermelhos, vi Hoseok correndo para dentro do veículo com, aproximadamente, sessenta anos de idade, jogando-se contra o estofado do banco traseiro. Derrotado, suspirei e apertei a jaqueta amarrada na minha cintura, arrastando os pés para o transporte azul de nome peculiar, acomodando-me no assento do passageiro.

Jimin tomou seu lugar como motorista e com o ronco alto do motor, tirei os fones e apoiei a mão no rosto, sustentando o cotovelo na janela. Saímos da rua entrando numa avenida e logo paramos em um sinaleiro, em frente a uma igreja de estrutura medieval, com uma cruz cravada sobre uma torre com sino.

Semicerrei os olhos, distinguindo uma silhueta em uma das vidraças transparentes e inferi tratar-se de uma estátua, no entanto, assustei-me com um estouro do ㅡ quase ㅡ centenário carro do Park e meu coração palpitou quando não havia mais nada na janela, exceto uma escrita borrada. Cedendo crédito aos meus óculos, discerni a ordem das letras:

Olá, Jungkook.

O centro de Seul é enorme.

Não era minha primeira vez andando pelas ruas movimentadas, pois meu pai fez questão de levar-me para um dos principais shoppings da capital no seu dia de folga ㅡ domingo. Entretanto, estar acompanhado de dois adolescentes que além de discutirem a cada segundo, faziam questão de me arrastar para todas as barraquinhas de comidas quais encontrassem, fazia os cenários do outro dia, modificarem-se.

Seguindo-os com notável desinteresse, me compelia a processar a poluição sonora que Jimin nos obrigou a ouvir por toda a viagem, deduzindo sua ignorância acerca da minha fluência em língua portuguesa e nos movimentos nada sutis de Hoseok no banco traseiro, chegando a murmurar alguns palavrões e palavras com conotação sexual.

Miseravelmente, algumas palavras repercutiam na minha cabeça e forcei o controle das cordas vocais para não soltar algumas sílabas com baixo calão.

ㅡ Você é meio calado, 'né? ㅡ parado em frente de uma banca de doces, Hoseok perguntou, atento as mãos ágeis da mulher que misturava as cores de açúcar, fazendo um algodão-doce arco-íris.

ㅡ Depende do momento.

ㅡ Em momento, você quer dizer com calar a boca do Jimin. ㅡ o citado revirou os olhos castanhos e resmungou, colocando as mãos no bolso da calça. ㅡ Ainda 'tô chocado que você é meu primo e não notei a semelhança com o tio Junghyun.

ㅡ Os detalhes disfarçam. ㅡ franzi o cenho, fitando o Park ao ouvir sua fala.

ㅡ E você reparou bem, hein?! ㅡ o platinado provocou, empurrando o outro com os ombros e senti minhas bochechas esquentarem, sob os olhares indiscretos.

ㅡ Vai a merda!

Pegando o algodão-doce oferecido para o Jung, Jimin parou ao meu lado, ofertando o alimento e mostrou o dedo médio para o amigo quando ele reclamou. Receoso, belisquei o açúcar, surpreendendo-me com o sabor ao entrar em contato com minhas papilas gustativas.

Definitivamente, uma nuvem explosiva.

Oh céus, isso é maravilhoso! ㅡ gemi em deleite e um sorriso desabrochou nos lábios do meu vizinho.

ㅡ Nunca comeu algodão-doce?

Neguei, pegando outro pedaço, dessa vez um generoso e suspirei ao colocar na boca, coibindo pulinhos eufóricos, tal como fazia na infância. O Park manteve o olhar sobre mim e também comeu um pouco do açúcar quente, cerrando as pálpebras e murmurando um palavrão.

ㅡ Duas crianças, por Deus.

ㅡ "Independentemente da nossa idade, devemos manter a chama da infância acesa em nossos interiores e dessa forma, provaremos ao mundo nossa felicidade e empatia." - recitei o conselho de Sunmi. ㅡ Ser criança não deve nunca ser tratado de maneira pejorativa, Hoseok. ㅡ concluí, mordendo mais um pedaço da explosão colorida.

ㅡ Pode me chamar de Seok, Hobi ou Hope, Jungkook. Minha mãe só me chama pelo nome quando 'tá puta da cara ou impondo respeito. ㅡ fingiu estremecer, um sorriso de canto surgindo na face. ㅡ Você deveria ser advogado, uma palavra tua e minhas pernas estremecem igual gelatina. A sensação é contagiante!

Crispei os lábios, desviando o olhar, pudico. Não era um costume responder aos mais velhos ou sequer deixá-los sem respostas, entretanto, tratando-se daqueles garotos, minha língua desenrolava frases confiantes antes que meu cérebro processasse as consequências, deixando-me em maus lençóis.

De relance, notei um grupo de garotas nos encarando entre risos e cochichos. Franzi o cenho e fitei o meu vizinho, vendo-o arrumar o boné preto sobre os cabelos, acessório esse retirado do porta-luvas do seu carro e constantemente ajustado para cobrir metade dos olhos. Segui o olhar para uma das meninas e discretamente, a vi apontar para um lugar aleatório, mostrando para uma das humanas, qual parecia alheia a situação.

Mordi o lábio inferior e caminhei para perto, erguendo o olhar para um dos prédios cujos circulavam as ruas comerciais e meus orbes saltaram ao captar que o tal ponto indicado não era arbitrário, pelo contrário, esclarecia os olhares e as reações do Park.

Trajando um conjunto de peças casuais brancas e uma jaqueta amarela, divergente ao seu estilo e com os cabelos na coloração qual supus ser a natural, Ariel exibia uma das marcas mais famosas da Coreia. Com o semblante sério, cumpria seu dever como modelo da Samsung, o novo aparelho criado pela empresa posicionado propositalmente para aparentar estar filmando sua presença e, um relógio no pulso esquerdo completava a propaganda.

Dado alguns segundos, a imagem mudou para o sorriso profissional de Jimin. Deitado ㅡ no que julguei ser um carpete ㅡ, sustentava a cabeça com a canhota e a destra mantinha o celular acima da sua visão, os olhos castanhos centrados no aparelho telefônico, dando-o uma aura juvenil, mas categórica.

Meu coração acelerou com a informação e respirei fundo, o oxigênio falhando nos meus pulmões. Levei a destra para o peito e tentei fisgar minha consciência para compreender as razões para sentir-me assim, diante de algo simples.

ㅡ Se analisar bem, não pensando em mim como um moleque de dezoito anos e sim como um modelo adulto experiente, dá até 'pra dizer que essas fotos ficaram boas, 'né?

Engoli a seco, arrumando os óculos em meu rosto. O tom rouco incomodou meus tímpanos e rolei os olhos pelo espaço em que estava, fungando devido a mudança de tempo e comecei a transpirar sob a camiseta de manga comprida, o céu sobre nossas cabeças tornando-se cinzento.

Comemorei o tempo aberto da capital prematuramente.

ㅡ Você 'tá é horrível! ㅡ a voz carregada de Hoseok, devolveu. ㅡ Mano, como alguém te acha bonito com essa cara de bolacha? Ainda mais com essa roupa de filhinho de papai, 'tá parecendo aqueles americanos que se pagam de aesthetic.

Teu cu. ㅡ pisquei com a resposta do Park e cerceei um riso. ㅡ O pai 'tava 'mó gatinho, confesse.

ㅡ Pai?! Que pai o que? 'Tá maluco? ㅡ exasperou-se o platinado e soltei o ar preso em meu pulmão, analisando cada centímetro daquele outdoor. ㅡ De onde que você tirou essas porra de gíria de hétero?

ㅡ Do teu ra-

ㅡ Não havia notado o quão familiar você é. ㅡ balbuciei.

A frase destoando dos meus lábios sem precedentes, sequer encontrei acepção na sua origem, ela simplesmente escapou como um pássaro preso, rumo a liberdade.

Na antiguidade, era crível que reconhecer o rosto de alguém poderia ter relação com outras encarnações, dessa forma, o denominado djavú, seriam apenas lembranças de uma outra época, outro século. Entretanto, sempre soube o que eram essas recordações nas manhãs com cheiro de mar e panquecas recheadas ou nos fins de tarde deitado no colo de Sunmi, observando as estrelas.

Naquela ocasião, o sentimento atingiu-me em dobro.

Eu não era médium para poder garantir minhas ilações, contudo, julgava que pessoas qual tenhamos laços, são resultado de outras passagens mundanas; sejam por bons ou maus desígnios. Jimin, consequentemente, fazia parte da parcela de humanos quais introduziram-se em meu meio sem pedidos ou licenças nos poucos dias habitando Seul. No entanto, aquilo que senti ao analisar seu semblante com estima, não adequava-se com um karma, pois eu reconhecia seu rosto como Jimin Park, o meu vizinho, colega de classe e razão para minhas bochechas esquentarem como brasas do inferno; era ele.

Todavia, quanto mais eu forçava meu cérebro a vasculhar suas informações para compreender o que estava acontecendo ao meu redor, com toda a aura suspicaz, mais as memórias que eu conservava tornavam-se densas.

ㅡ Jungkook? ㅡ minhas pálpebras seguiram o curso biológico da sua função e piscaram, evocando-me da inevitabilidade de lubrificar os orbes. ㅡ Você 'tá bem, cara?

Meus lumes foram de encontro com os vendedores ambulantes, como se encontrassem neles uma salvação para as interpelações. Evitando a preocupação do meu primo, abandonei a dupla e sorri gentil para uma moça de cabelos rosas chiclete, com um chapéu de crochê adornando o topo da sua cabeça, um morango gigante acrescentando o acessório. Meus dedos inquietos moviam-se de um lado para o outro, averiguando todos os produtos exibidos pela humana, após minha solicitação para observar uma das peças artesanais.

Ponderei a possibilidade de lançar um feitiço para produzir fogos de artifício ao encontrar o artefato ideal.

Porém, ser um bruxo em Seul, era difícil e eu jamais saberia explicar um encanto sendo realizado à luz do dia e em público.

Homem de ferro? ㅡ mordi a bochecha interior e anui sutilmente, imaginando que o avermelhado sequer notaria o gesto, porém, o riso frouxo que despontou de seus lábios, próximo da minha orelha esquerda, provou o contrário.

ㅡ É peça única, a linha é antibacteriana e ideal 'pra bebês recém-nascidos. ㅡ o sotaque comum da mulher fisgou minha atenção e embora não fosse presentear nenhuma criança, fiquei contente pelo amigurumi não ser uma ameaça para minha rinite. ㅡ Olá, você 'tá com ele? ㅡ dirigiu-se para Ariel, recebendo a confirmação com um sorriso aberto.

ㅡ Aquelas pulseiras também são feitas com a mesma espécie de linha?

ㅡ Ah, não! ㅡ a rosada girou o tronco, pegando a caixa com os adornos coloridos. ㅡ É fio encerado, próprio 'pra pulseiras e colares. ㅡ explicou, brevemente.

ㅡ Teria algum desconto, caso eu levasse o boneco e a pulseira?

Uhn, se você levar algo 'pro teu namorado, posso pensar na proposta... ㅡ franzi o cenho, observando o sorriso de canto iluminar o rosto pálido, a sobrancelha esquerda arqueada e o corpo inclinado no balcão da barraca. ㅡ Caso contrário, são Doze mil, novecentos e um wons¹. ㅡ sorrindo cínica, fechei o semblante e considerei dar as costas para a garota, contudo, meu orgulho fôra ferido.

E pela Deusa, soava desesperador como uma noite no purgatório.

ㅡ Gostou de alguma? ㅡ perguntei sem atrever-me a desviar as írises da humana, qual mudou da água para o vinho. ㅡ Escolhe algo para você, Ariel. ㅡ ordenei e senti seu olhar sobre mim, assim como Hoseok que, pela visão periférica, vi enlaçar o pescoço do mais velho e encarar-me, enquanto mordiscava uma maçã caramelizada.

O Park não moveu-se.

Devido a isso, o encarei e minha expressão vacilou ao ver, pela primeira vez, suas bochechas vermelhas como tomates maduros, dois tons abaixo de suas madeixas e, quando conectei meus olhos com os seus, percebi o movimento da sua garganta, a saliva descendo pela faringe. Em segundos, notando a tensão imposta na troca de olhares, voltei a mirar a garota, meu rosto esquentando.

ㅡ Essa aqui. ㅡ as palavras pareciam rasgar a fauce de Jimin e no instante em que resolvi pegar o bracelete, o rapaz fez o mesmo, ocasionando o atrito de nossas mãos e uma nova troca de olhares carregada de um significado ignoto.

ㅡ Quinze por cento de desconto, 'tá bom 'pra ti?

Demorei para atentar-me a pergunta feita e piscando inúmeras vezes, enverguei o cenho.

ㅡ Vinte.

ㅡ Dezesseis.

ㅡ Dezenove. - devolvi.

ㅡ Dezoito ou nada! - contrapôs.

ㅡ Acordo fechado! ㅡ estendi a mão para um cumprimento, sorrindo pequeno. ㅡ Fôra muito agradável fazer negócios contigo, senhorita.

O semblante pretensioso da humana suavizou automaticamente, o mesmo sorriso de outrora acendeu seu rosto. Guardando o boneco de crochê numa sacola de papel, trouxe consigo uma máquina de cartão, vendo-me tirar o objeto da capinha do celular e aproximar do visor, logo recebendo o comprovante do pagamento.

ㅡ Agradeço pela preferência, voltem sempre! ㅡ piscou o olho esquerdo.

Sustentando a sacola no braço, tentei colocar a pulseira usufruindo apenas da canhota e ao obter um fracasso, bufei, frustrado. Mas, não premeditando o susto que tomaria ao ter a linha com miçangas roxas e um pingente de saturno arrancada do meu membro, arregalei os lumes, acompanhando meu vizinho na ação de puxar minha destra, virá-la e amarrar o adorno com um nó distinto.

O bracelete em seu pulso esquerdo, de coloração vermelha e um pingente de borboleta, de um jeito incomum, fazendo-nos combinar.

Como uma onda eletromagnética, guiando a interação entre átomos e moléculas, meus olhos fixaram nas pupilas escuras e minha respiração pesou. O órgão cardíaco açodando com força sob as costelas, minhas mãos geladas como cubos de gelo sob o toque fervente do avermelhado.

Mano, vou te trazer comigo sempre que for comprar algo. Por que não me contou essa habilidade de pechinchar? ㅡ afastando-se, Jimin ajeitou o boné em seus cabelos e escondeu as mãos nos bolsos da calça, passando a fitar a movimentação na rua. ㅡ Com quem aprendeu a fazer isso? Caralho, meu pai vai surtar, ele sempre assiste aqueles muquiranas no Discovery.

ㅡ Em Busan, minha família costumava ir à feira todas as manhãs e, assim que pude seguir a tradição sozinho, vovó ensinou-me a economizar nosso dinheiro, afinal, se soubermos lidar com ele, apesar do sistema capitalista ser precário, designamos uma relação de mútua ajuda. ㅡ omiti a parte onde declararia a "mútua ajuda" como "feitiços de atração" com folhas de louro e sementes de romã.

ㅡ Você falou igual meu gatinho agora. ㅡ expôs num rompante e tombei o pescoço para o lado, constatando o brilho ameno nas írises escuras, assim como o tom claro de rosa nas bochechas. ㅡ Tipo, os dois são do caralho.

Soprei um riso com o modo de comunicação do platinado e antes que pudesse questionar sobre o sujeito mencionado, o troar forte de um trovão provocou o sobressalto do meu corpo. Olhei para as nuvens carregadas, checando o horário no celular.

ㅡ Melhor voltarmos 'pro carro, não 'tô afim de pegar chuva hoje. ㅡ Jimin indicou com o queixo a direção pela qual viemos, umedecendo os lábios ressecados. ㅡ Tem algum mercado de preferência, Jujuba?

ㅡ Não conheço os mercados da cidade e faço minhas compras em feiras, usualmente. ㅡ respondi, dando de ombros, tirando a jaqueta da cintura e vestindo-a, o ar gélido arrepiando minhas costas. ㅡ Vim aqui dias atrás, porém, meu pai me levou para um hipermercado próximo, mas não recordo da localização.

ㅡ Deve ser aquele perto do shopping, mas as frutas e verduras são caras 'pra caralho. ㅡ arqueou a sobrancelha, impondo-me tomar uma decisão conquanto nosso próximo destino. ㅡ Mas tem um perto do bairro de Mapo-gu. Apesar de ser grande, os alimentos naturais são distribuídos pelos moradores da região. ㅡ umedeceu os lábios. ㅡ Te levo lá, se quiser.

ㅡ Por Théa! Eu adoraria, Ariel. ㅡ capturei o momento em que os olhos alheios desviaram para o sorriso em meu rosto e crispei os lábios, o suspiro audível do Park instigando minha curiosidade. ㅡ Seria muita gentileza, Jimin. ㅡ murmurei.

Os pingos grossos de chuva começaram a cair sobre nossas cabeças a duas quadras de distância do local onde o fusca azul fôra estacionado, ocasionando na nossa corrida até o veículo e numa nova discussão acalorada entre meu vizinho e meu primo, acerca dos malefícios da água no couro do banco, apesar de nenhum de nós termos nos molhado o suficiente para ensopar o estofado.

Enquanto o motor roncava alto pelas ruas de Seul, sobressaindo a música dos alto-falantes, acompanhei as gotas d'água escorrendo pelo vidro, torcendo para uma delas ganhar a corrida imaginária criada em meu subconsciente. Contudo, minha linha de raciocínio envolvendo a disputa acirrada entre as corredoras ferozes, perdia-se a cada vez que Jimin trocava de marcha, puxando-a com destreza, evidenciando um anel prateado em seu anelar e, deixando à mostra as veias saltadas de seu braço, próximo da minha coxa esquerda.

Respirei profundamente, ignorando a conversa entre os dois adolescentes humanos sobre jogos de futebol e seus ídolos das seleções nacionais, focado em observar a paisagem cinzenta pela janela molhada.

Devido ao trânsito no horário de pico, levamos cerca de vinte minutos para chegarmos na construção ampla, em tons de amarelo e azul. Embora eu tenha imaginado passar horas procurando pelos produtos cobiçados, ao distribuir as atividades e deixar cada um dos adolescentes responsáveis por uma praça, meu trabalho para encontrar as verduras e os legumes mais suculentos e saudáveis, fôra deveras simples.

Empurrando o carrinho cheio de ingredientes, aproveitei para pegar alguns condimentos e itens essenciais para a cozinha, não tardando em estacionar a vagoneta no ponto de encontro escolhido antecipadamente por mim. Todavia, aguardando por quatro músicas seguidas nos fones de ouvido, iniciei uma série de movimentos repetitivos em consequência da ansiedade por esperar tanto tempo. Nublei os pensamentos propositalmente para evitar roer as unhas das mãos.

Senhora Kang, comparecer ao setor infantil com urgência. ㅡ a voz mecanizada soou por todo o estabelecimento e pausando as músicas no meu telefone, mordi o lábio inferior ao mirar a bola de fogo azul pairando no piso cinza.

Desabei os ombros, respirando profundamente antes de empurrar o carrinho de metal e acompanhei o espírito pelos corredores em passos rápidos, temendo alguma ocorrência grave. No entanto, encontrando a seção indicada pelo espectro, esbugalhei os orbes, encarando uma das cenas mais cômicas e preocupantes desde meus quinze anos: Jimin caído no chão com uma gosma rosa sobre o boné e Hoseok segurando a caixa de uma arma de brinquedo, prendendo o riso. Analisando o cenário, ergui as sobrancelhas por ver Yoongi cobrindo a boca com a destra, encarando o fato com igual espanto.

Hyung?!

Ravena?!! ㅡ as íris verdes estavam a ponto de caírem da face pálida e ganhando a atenção de todos os envolvidos na confusão, também de alguns clientes no entorno, cruzei os braços. ㅡ Jun-ah, eu posso explicar... F-Foi o Ho-Hoseok quem começou e-e-

Hyung, não precisa me dizer o que aconteceu. ㅡ assegurei, juntando o pote de amoeba do chão, entregando para o rapaz caído no chão, qual ralhava ao observar o boné sujo. ㅡ Vamos ter que pagar por isso, pff. ㅡ revirei os olhos.

ㅡ Posso saber o que aconteceu aqui? Pelo amor de Deus! ㅡ a alguns metros, uma mulher de cabelos amarrados num coque e terno preto aproximou-se, as mãos na cintura e uma expressão perplexa enquanto contabilizava a bagunça causada pelos adolescentes. ㅡ Eu exijo uma explicação!

Puta que pariu! O que vocês fizeram? ㅡ o quinto timbre familiar me fez virar para trás e arrumar os óculos no rosto. Namjoon hyung estava com a face neutra e um sorriso de canto nos lábios largos. ㅡ Oi, uvinha! ㅡ acenei, suavemente.

Nós dois nos tornando o foco dos demais por segundos.

ㅡ O negócio é o seguinte ㅡ iniciou o Jung e imediatamente, capturei um feitiço na memória que o fizesse calar a boca. ㅡ Eu e Jimin 'tavamos andando e resolvemos ver os brinquedos, então, meu gatinho apareceu e obviamente, eu precisava falar com ele. Só isso, tia.

ㅡ Seu hipócrita do caralho, eu vou te matar! ㅡ esbravejou o Min, sendo segurado pelo único moreno presente. ㅡ Você veio me encher a paciência porque não tem nada melhor 'pra fazer e ainda me provocou! ㅡ vermelho como uma maçã madura, Yoon hyung ameaçou avançar mais uma vez, contudo, coloquei-me entre o azulado e o platinado. ㅡ Espero que você se foda!

ㅡ 'Pô, meu bem, assim você parte meu coração. ㅡ com um beicinho exagerado no rosto, o Jung fez um coração com as mãos e o partiu, indicando o seu próprio em seguida.

Min Yoongi levantou as duas mãos, mostrando os dedos do meio.

ㅡ Não quero saber das picuinhas adolescentes de vocês, saibam que terão que arcar com as consequências e pagar pelo estrago. ㅡ a adulta aumentou o tom de voz. ㅡ Não me obriguem a chamar os responsáveis de vocês!

Ih tia, eu sou maior de idade, pode colocar meu nome no Serasa se quiser, não me importo. ㅡ erguendo os ombros, Hoseok replicou e fechei os olhos com força, a palma da canhota formigando.

ㅡ Não será necessário. ㅡ intervi, analisando a cena e constatei um pequeno detalhe, o sorriso em meu rosto causando um vinco entre as sobrancelhas de Jimin. ㅡ Conquanto, para que o chão se encontre dessa maneira, a embalagem deveria estar danificada, caso contrário, teria apenas sido derrubada. ㅡ tentando livrar meu primo de um processo por não saber controlar a língua, usufrui das circunstâncias ao meu bel favor. ㅡ Por ser uma área para crianças, o fato de um produto como este estar avariado, não pode gerar acidentes ou mesmo uma intoxicação caso seja ingerido?

ㅡ Oh... Eu não havia notado esse erro. ㅡ a mulher murmurou, passando os dedos pelo broche de gerente. ㅡ Me perdoem por isso, como foi uma negligência do mercado, por favor, prossigam com suas atividades. ㅡ sorri orgulhoso, curvando-me num agradecimento. ㅡ Vou pedir 'pra alguém limpar essa bagunça, me perdoem novamente.

ㅡ Mandou bem, Ravena! ㅡ sussurrou o azulado quando ajeitei a postura. ㅡ Conversamos mais tarde, tchau!

Franzi o cenho, porém, ao notar Hoseok encarando-o, compreendi a atitude do Min, contentando-me em despedir-me dele e de Namjoon com acenos, recebendo um beijinho voador do Kim, cujo correu atrás do mais velho, após tropeçar nos próprios pés.

Verifiquei o horário no ecrã do celular e suspirei, percebendo que o dia estava chegando ao seu fim e logo Seul seria tomada pela escuridão da noite. Portanto, transferindo as mercadorias do carrinho dos meus acompanhantes para apenas um e averiguando se tínhamos pegado tudo o que era necessário, caminhei em direção aos caixas, sendo seguido pelos adolescentes ㅡ ambos compartilhando um silêncio sepulcral.

Paguei pelas compras e como filhotes caninos depois de um sermão, o Jung e o Park obedeciam a cada comando sem resmungos ou palavras de baixo calão. Decidi que sob essa circunstância, os castigaria ao fazê-los carregarem as sacolas pesadas por todo o trajeto de retorno para o veículo jurássico. No entanto, frustrei-me em ver que eles as carregavam com uma facilidade admirável.

Malditos jogadores de futebol.

As sacolas fizeram companhia para o platinado no banco traseiro e o boné coberto de geleca rosa, foi jogado no porta luvas com irritação; uma mecha de cabelo vermelho denunciando a confusão por apresentar vestígios da meleca. O Park deu partida no carro e logo estávamos numa das avenidas principais, ouvindo By My Side, do JUNNY em um volume confortável, a sonoridade perfeita adjunta com a chuva fraca contra o vidro.

Instigado com a viagem, não entrevi quanto tempo levou para passarmos pela igreja de mais cedo. As portas abertas e um homem com as típicas vestimentas litúrgicas, cumprimentando os fiéis com apertos de mãos ensaiados e sorrisos falsos. O arrepio que percorreu minha derme perpetuou até Jimin estacionar na frente da minha casa, desligando o veículo e descendo para ajudar a levar as compras para dentro da residência.

Sendo recebidos por meu pai e meus tios jogando uno, terminamos o serviço de guardar cada produto em seu devido armário rapidamente. Ariel estava voltando para sua própria morada, quando Junghyun fez meu músculo cardíaco entrar em combustão e as palmas das mãos suarem, proferindo um simples convite.

Pirralho, não quer jantar conosco? Jungkook vai cozinhar.

Parado entre o batente da porta e o degrau que dividia a entrada com a grama, o citado encarou meu progenitor, cujo estava concentrado no jogo de cartas com seu cunhado e, lentamente, desviou os lumes castanhos ao encontro dos meus, sorrindo de soslaio, guardou as chaves do seu transporte no bolso novamente.

Uma frase curta significou minha ruína, tal como um livro de romance com milhares de sentenças jamais poderia ter feito. Assim, exprimindo do fundo da sua garganta, com a voz rouca e os olhos presos em mim, Jimin Park concluiu:

Eu seria louco se negasse.

Embora eu tenha cogitado expulsar Park Jimin e Jung Hoseok da minha casa, o jantar foi bom.

Depois de inúmeros pedidos falhos para que os adolescentes deixassem-me cozinhar em silêncio, me restou apenas respirar fundo e ouvi-los discutirem por estarem fazendo tudo errado, comemorarem por terem terminado a decoração da pizza de calabresa de uma "forma profissional" e conter um sorriso sempre que eles puxavam-me para dançar algumas das músicas dos anos oitenta que tocavam no celular do Jung.

Durante a refeição, a conversa fluiu com uma natureza admirável e os elogios recorrentes fizeram minhas bochechas permanecerem quentes por um longo período. Contudo, em comparação aos demais, mantive-me calado, contentando-me em escutar suas histórias da adolescência e segredos sutis da vida adulta, após muitas taças de vinho.

Senti minha barriga arder quando Jihye contou sobre a vez em que meu pai tentou paquerar uma garota, mas acabou ficando tão nervoso que desmaiou na frente da menina. Como prêmio de consolo, descobriu um namoro de longos anos entre a dita cuja e seu ex-melhor amigo.

Aproveitando-me de alguns intervalos entre os risos e constantes xingamentos direcionados a irmã e o cunhado, rolei os orbes por cada um dos presentes e meu interior aqueceu-se ao contemplar as aparências satisfeitas; principalmente do adolescente cujo ocupava a cadeira na minha frente, com as bochechas estufadas e os dedos ágeis roubando mais de seis pedaços generosos de pizza.

Sem mencionar a tigela de mousse de chocolate, qual o avermelhado fez questão de buscar na cozinha para comer mais que o restante.

Quando os adultos deram-se por vencidos da bebedeira, agradeceram pelo alimento, ㅡ mais uma vez deixando-me constrangido ㅡ e voltaram para a sala de estar, sobrando aos mais novos, a tarefa da limpeza. Hoseok recolheu a prataria utilizada, enquanto eu juntava os restos das pizzas de brócolis e calabresa, também a vasilha vazia de mousse. Já Jimin, tirou as migalhas do mármore e organizou o necessário, logo indo me ajudar com a louça.

ㅡ Muito obrigado pelo convite, Jujuba. ㅡ disse de vereda, secando um copo que eu acabara de passar na água corrente.

ㅡ Mas não foi o tio quem te convidou? ㅡ pelo canto do olho, vi o platinado com os braços cruzados e um sorriso de canto delineando seus lábios, as sobrancelhas escuras arqueadas. ㅡ Você deveria ser grato ao seu anfitrião, Jimin.

ㅡ Quem cozinhou foi o Jungkook-ah, Junghyun só me chamou 'pra ter uma ótima experiência provando da comida do filho. ㅡ sorri pequeno, sabendo que eles não tardariam em iniciar uma nova discussão. ㅡ Nem minha avó cozinha tão bem e olha que eu considero a comida dela uma das melhores do mundo todinho. ㅡ jogou a cabeça para trás, encarando o Jung com um sorriso metálico. ㅡ Espero que mantenha a boca fechada, se Jayoon descobrir isso, ela me mata ou pior... Me obriga a voltar para Gangnam. ㅡ piscou o orbe esquerdo, voltando à posição inicial.

Franzi o nariz com as palavras do Park, afinal, por que retornar para Gangnam-gu seria considerado pior que a morte?

O assunto encerrou e o tão desejoso silêncio perdurou pelos próximos minutos, cedendo um espaço amplo para pensamentos inconvenientes, os quais eu almejava enterrar nas profundezas da Terra caso fosse possível. Enquanto esfregava a gordura dos pratos de porcelana preta, mirando os poucos vagalumes que voavam no quintal molhado, lembrei de Busan; dos dias ensolarados sem expectativas de chuva, do pôr do sol sobre um píer com aroma de musgo e sal, e da minha casa, sempre aquecida pelas risadas dos meus tios, pães recém assados e bolos de chocolate com cobertura de leite condensado com granulado.

Lavar louça me transportava para momentos cujos deveriam ocorrer em câmera lenta, para que nunca acabassem. No entanto, para cada uma dessas lembranças uma tela era eternizada e, naquela noite, a memória fotográfica que guardava recordações, engavetou as cenas escolhidas.

Pisquei aéreo, sendo puxado para a realidade por um indicador molhado tocando minha bochecha diversas vezes, como um filhote buscando atenção.

Hmmm, uh? ㅡ murmurei, taciturno. O rosto pálido do meu vizinho perigosamente perto, os lábios entreabertos exibindo os ferros ortodônticos e os lumes castanhos fixos em algum ponto específico do meu rosto.

ㅡ Você 'tá bem? Te chamei algumas vezes, mas você não respondeu, é a terceira vez que 'tá enxaguando o mesmo garfo, meu mel. ㅡ prendi a respiração, o sussurro do rapaz causando um circuito elétrico em todo meu corpo, levando vibrações para a base do estômago e acordando mariposas quais imaginei ter matado à anos atrás. ㅡ Você fica muito bonito com as bochechas coradas, suas sardas ficam mais aparentes, príncipe.

O oxigênio entrou em meus pulmões de um jeito trêmulo, sendo despejado para fora com uma lufada quente. Minhas orelhas, costas e pescoço pegavam fogo, o rosto não era muito divergente. As mariposas acordadas recuperavam o tempo perdido e meus dedos suavam sob a água da torneira.

Apesar de todas as sensações que insistiam em colapsar meu organismo, eu não conseguia mover um músculo para longe do responsável por elas, pelo contrário, sentia uma espécie de magnetismo forçar-nos a findar o espaço que restara.

Todavia, os polos opostos se atraem e os semelhantes causam repulsão, ocasionando a entrada nenhum pouco discreta de Hoseok na bolha criada em torno de dois corpos sintônicos, mas desiguais. Tossindo como um velho fumante de noventa anos, o platinado encarava-nos com as sobrancelhas franzidas e o mesmo sorriso de antes no semblante; seus olhos possuíam uma aura perversa.

ㅡ Teu pai é sócio da K-Water² por acaso, JK? Esse talher pode ser usado numa cirurgia de tão limpo que 'tá. ㅡ tentei formular alguma frase que rebatesse seus argumentos, entretanto, a saliva passou pelo canal errado quando puxei o ar, fazendo-me afogar vergonhosamente, seguido de uma crise de tosse.

Toquei meu peito, ensopando o tecido da camiseta e o barulho da água corrente se encerrou com um movimento hábil de Jimin, este que em segundos ergueu meus braços para cima, tornando a situação ainda mais constrangedora por permanecer com o rosto muito perto.

O ruído rouco qual escapava da minha garganta fez com que os adultos parcialmente embriagados viessem sanar a curiosidade e dessem de cara com uma cena patética como aquela. Junghyun arregalou os olhos e empurrou o Park para o lado, recebendo um resmungo como resposta e, antes que eu pudesse assegurar meu bem-estar e acabar com toda a balbúrdia, senti os braços do meu genitor apertando a região do meu diafragma. Engoli um palavrão ao finalmente conseguir sentir o oxigênio adentrando minhas vias respiratórias.

Encarando cada um dos humanos que me olhavam com preocupação, soltei um suspiro aliviado quando a risada escandalosa do Jung mais novo cortou o silêncio desconfortável. Meu ombro esquerdo pesou e o riso baixinho de um duende causou cócegas no meu pescoço, fazendo-me crispar os lábios.

Eu me sentia num filme de comédia protagonizado pelo Adam Sandler, onde como um mero coadjuvante, eu era responsável apenas por dar razão ao cenário.

ㅡ O que vocês fizeram? ㅡ a voz ébria do meu pai me fez perceber as bochechas coradas e os olhos sonolentos.

ㅡ Acabei me afogando com a saliva. ㅡ raspei os dedos na nuca, nervoso.

ㅡ Ah. ㅡ fôra a única onomatopeia que escapou de sua boca, seguida de um repuxar de lábios molenga, cujo fez-me franzir o cenho e morder o lábio inferior. ㅡ Levei um susto, filhote. Seja mais cuidadoso, por favor.

Anui, duvidando que o Jeon compreendesse qualquer palavra que fosse dita naquele estado.

Demos por encerrada a noite quando Hoseok impediu sua mãe de abrir a quinta garrafa de vinho e convenceu seu pai do quão ruim seria fazer strepteese na residência do cunhado ㅡ e sobretudo, na frente do filho. Como único sóbrio, o platinado ficou responsável por levar os genitores em segurança para casa e com um aceno cansado, despediu-se.

Jimin também voltou para sua residência após agradecer pelo convite e hospitalidade. Acompanhei seus passos até ele passar para o outro lado da rua e acenei quando nossos olhos se encontraram ao que ele trancava o portão.

Fechei a porta atrás de mim, sorrindo grandemente ao encostar minha coluna na madeira e meu âmago se acender com um sentimento favorável. Cobri o homem adormecido no sofá com a manta deixada na sala para casos semelhantes e subi para meu quarto. Tomei um banho quente, vesti meu pijama de estrelinhas e evitando fazer muito barulho, encaminhei-me para o casulo; Banana e Amora no meu encalço.

A grama molhada pela chuva era iluminada pela luz flamejante de dois lampiões pendurados no teto e os vagalumes que sobrevoavam alguns brotos, chamaram a atenção da felina de pelagem negra, qual saltitou para perto deles, logo estando rodeada de pontos brilhantes devido ao seu sangue mágico. Os cantos dos meus lábios ergueram-se automaticamente e fisgando meu celular do bolso da calça, tirei algumas fotografias, notando as notificações somente ao entrar no meu refúgio.

Eram mensagens no grupo dos meus colegas, de Yoongi Hyung e uma em específico que fez meu coração acelerar. Cliquei sobre a foto conhecida e suspirei, lembrando do dia em que a imagem foi capturada, sequer li os textos enviados, optando por ligar e poder ouvir a voz de Sunmi após dias de distância.

Juju?! Meu querido, quanta saudade sinto do meu bebê! ㅡ soprei uma risada, acostumado com seu hábito de falar comigo como se eu fosse um recém nascido.

ㅡ Olá, mamãe! ㅡ pigarreei, o peso no meu timbre formando um nó na garganta. ㅡ Eu estava com saudades de ouvi-la tratar-me como um animalzinho filhote.

É porque você é meu filhotinho... Meu pequeno Bambi!

A saliva rasgou minha garganta tal qual uma adaga amolada e, uma lágrima salgada desceu pelo lado direito da minha face. Banana sorriu condescendente e sentou sobre uma pilha de livros estrategicamente colocados sobre a mesa maciça, ouvindo a conversa, mantendo um silêncio amistoso.

Eu e Sunmi não nos falamos por telefone desde minha chegada na capital. Apenas mantinhamos conversas remotas pelo Kakaotalk. Contudo, prometemos deixar as novidades importantes para serem contadas nas ligações, por uma obsessão da Lee em absorver por meio do tom utilizado, as emoções companheiras dos acontecimentos. Havia muita coisa a ser dita e eu sequer sabia por onde iniciar.

Como é o colégio novo? Está conseguindo se habituar? ㅡ a notável preocupação que rondava-a com as questões, acometeu uma série de lembranças desgostosas.

Todavia, estas foram dissipadas pelas novas e respirei fundo, pronto para aliviar o músculo cardíaco da mais velha.

ㅡ Ele é dez vezes maior que o último, tem uma biblioteca incrível e encontrei um mural com fotos do papai, do tempo que ele estudava lá. ㅡ contei, ligando o fogo do caldeirão. ㅡ E, eu fiz amigos. ㅡ proferi com uma velocidade recorde.

Junghyun era muito bonitinho na adolescência, parecia contigo, querido. ㅡ minhas bochechas esquentaram como todas as vezes que eu ouvia sobre meus pais antes do meu nascimento. ㅡ Tenho certeza que você já desbravou a biblio- Espera, amigos? Jeon-Lee Jungkook, se estiver mentindo para mim, prometo que aprendo a voar com uma vassoura e vou até Seul apenas para lhe dar alguns petelecos. ㅡ gargalhei, tendo a reação esperada da minha progenitora. ㅡ Não ria, seu pestinha.

ㅡ Mãe! É verdade! ㅡ continuei rindo, impossibilitado de recuperar-me diante de tanto ceticismo. ㅡ Eles são quatro, por enquanto: Kim Perkins Seokjin, Alícia García, Min Yoongi e Kim Namjoon. Também tem o Hoseok hyung, meu primo, o conheci hoje. ㅡ enumerei, forçando meus neurônios a recordarem de alguém esquecido, porém, nada surgia na minha mente. Exceto a figura do planeta saturno com uma coloração vermelha intensa.

Seu pai me falou sobre o vizinho de vocês, ele também é seu amigo? Ou é um babaca? Sabe que mesmo sendo contra violência, pode dar um mata-leão nele, não é? ㅡ parei de misturar os componentes no caldeirão, arregalando os orbes por mamãe saber sobre Jimin Park; o planeta qual insistia em orbitar próximo ao meu. ㅡ Querido? Ele é um idiota?

ㅡ Não. ㅡ respondi após um suspiro, mentir para Sunmi jamais seria uma opção, visto que mesmo negando seus genes, ela sempre seria uma bruxa. ㅡ Ele é... Ele é simpático, um pouco egocêntrico, costuma se aproveitar por ser mais velho chamando-me por epítetos infantis, ele é bonito de uma maneira singular e mesmo o ignorando, Jimin comporta-se como uma pedra no meu sapato. ㅡ desabafei, provando uma gota do líquido fervido; ainda faltavam sementes de melancia. ㅡ A propósito, ele não pode se considerar um amigo.

Não? Você não costuma falar muito, Juju. Aqueles que considera como amigos apresentou apenas os nomes e esse menino, seu não-amigo, ganhou uma lista completa da personalidade, além de ser, para meu completo choque, descrito com uma beleza singular. ㅡ arqueei as sobrancelhas, esbugalhando os olhos por ter deixado escapar esses fatos. Por Théa, eu era ridículo. ㅡ Você o vê como, hmmm-

ㅡ COLEGA! ㅡ minhas orelhas aqueceram quando o grito assustou tanto a mulher do outro lado da linha, quanto o duende atento à conversa. ㅡ Perdão, mama. O Park é meu vizinho e colega em algumas matérias, somente isso. ㅡ abaixei o volume da voz, engolindo em seco.

Você é muito novo ainda, querido, o coração não engana e o brilho de uma alma solitária ao encontrar sua outra metade, pode iluminar toda uma galáxia. ㅡ mói as sementes rosas e pisquei, incomodado com o ritmo daquela conversa. ㅡ Com o tempo, você vai concordar com sua mãe, Juju. Não deixe o medo paralisar seus desejos.

Sunmi era como veneno. Uma aparência angelical, com olhos redondos azuis e um sorriso acolhedor, lábia de uma sereia e sabedoria de uma anciã. No entanto, suas palavras se alastravam pelo interior dos ouvintes, queimando suas entranhas e condenando o músculo cardíaco a acolher a peçonha como parte de si, caso desejasse manter-se vivo.

E eu, como um masoquista emocional, adorava a sensação de liberdade qual surgia com suas palavras, mesmo que custasse lágrimas salgadas ou uma tela abstrata, com cores frias e riscos distópicos.

Está tarde na Coreia, precisa ir para cama, meu amor. ㅡ acordei de meus devaneios escutando o tom aveludado da minha progenitora. ㅡ Eu te amo como o sol amou a lua e não a deixou apagar seu brilho, independentemente se isso significaria nunca estarem juntos. Amo-lhe com todas as batidas do meu coração, Juju.

ㅡ E eu com todos os respirares da minha existência, mama. ㅡ sorri amargo, o sentimento de vazio por mais uma despedida dilacerando meu âmago. ㅡ Cuide-se, mamãe. Antio sas³!

Antio sas, meu príncipe.

O toque padrão ao encerrar uma ligação soou quando afastei o aparelho telefônico da orelha. Banana teletransportou-se para o lado esquerdo do meu pescoço e seus dedos gélidos deslizaram pela minha bochecha, secando as lágrimas que escorriam como uma cascata. O duende sorriu, deixando um beijo molhado na derme avermelhada.

Guardei o celular, fungando diversas vezes e peguei o pilão de pedra, terminando de moer as sementes necessárias para terminar o experimento.

Juntando o pó vermelho ao caldeirão, misturei o líquido borbulhante com uma colher de madeira e procurei pelo livro de sortilégios em meio a bagunça de utensílios e ingredientes. Abri-o sobre o pedestal rústico de madeira entalhada e com a palma da destra para cima, concentrei-me nas palavras, tomando fôlego para murmurar o feitiço.

O desmós tis agápis eínai ametávlitos, to pio dynató synaísthima eínai áthrafsto, mia stagóna, asímanti ptósi, blékei ta peproména, aftó pou enónei i agápi, to na eísai kápoios chorízei ⁴.

No segundo em que a última sílaba abandonou meus lábios, o conteúdo da panela de ferro modificou-se conforme a fumaça roxa enevoava as paredes; como se o enorme tapete da morada de Théa houvesse sido sacudido e as nuvens de poeira criassem desenhos fluorescentes, significativos sob meus olhos.

Mirei Banana quando ele espiou o interior da panela e fez careta, afastando-se alguns passos. Repentinamente, o chão abaixo dos meus pés tremeu, derrubando alguns livros e frascos vazios das prateleiras. Agarrei-me à mesa, meu coração acelerado com a possibilidade de algum desastre natural acontecer devido minha audácia de lidar com o destino de duas pessoas.

Todavia, como se a Terra tivesse congelado e o tempo estagnado, admirei o líquido se solidificar e em seguida se metamorfosear, ligando todas seus componentes, formando camadas de um pequeno bolo. A massa escura aparentava ser macia, o recheio de frutas vermelhas escondeu-se com a cobertura de geleia de cereja com chocolate. Completando a decoração, morangos suculentos idealizaram-se acima do doce, polvilhado com uma camada fina de açúcar.

Com as falanges trêmulas, peguei o cupcake e o analisei, fitando Banana mais uma vez antes de dar uma mordida generosa, cerrando os olhos com a explosão de sabores que inundou minhas papilas gustativas. Saltitei, como uma criança experimentando a melhor comida da sua vida ㅡ o que era uma completa realidade.

Entretanto, minha atenção foi tomada pelo crepitar das chamas abaixo do caldeirão, as quais acenderam-se numa tonalidade púrpura. Senti os dedos tremerem e os levei para os lábios, cobrindo-os com o espanto que assolou meu corpo conforme, sob meu olhar, os frascos com sementes e pós eram levitados até chegarem à boca da panela, despejando o conteúdo no interior escuro sem ordens ou comandos.

Antes que eu pudesse reagir à cena, os elementos tornaram-se um líquido vermelho como sangue, o cheiro de morangos preencheu todo o recinto e as chamas aumentaram, obrigando-me a cobrir os olhos para evitar o brilho forte.

Quando separei as pálpebras, espalmei a mesa após sentir minhas pernas fraquejarem e a visão escurecer, a luz que emergia das minhas mãos causando náuseas. Encarei o caldeirão e cambaleei para trás, batendo as costas contra uma prateleira ao ver o reflexo dos meus orbes totalmente índigos.

O coração parecia desejar destruir a caixa torácica com tamanha velocidade e força.

J-Jungkook bru-bruxinho...! ㅡ abri os lumes imediatamente, a voz assustada do meu duende companheiro ecoando nos tímpanos.

Vasculhei o espaço e respirei aliviado ao encontrar o gato cinza com coleira vermelha, encarando Nana com curiosidade. Sequei as lágrimas das bochechas e me arrastei pelo assoalho, Abacate prontamente aninhou-se nos meus braços quando cheguei próximo de si, lambendo meu amuleto, como um cumprimento.

ㅡ O irresponsável do seu dono esqueceu a janela aberta novamente? ㅡ imitei a voz que mamãe e papai usavam para falar comigo na infância e acariciei os pelos cinzas. ㅡ Aqui não é lugar para ti, garotão.

Levei-o até o lado de fora e reconhecendo Amora, o felino correu na direção da gata, pulando sobre ela. Sorri com a cena deles saltando entre os insetos fluorescentes e com os focinhos úmidos pela chuva de antes.

No casulo, separei um pedaço do bolo para Banana, reservando a sobra para poder analisá-la antes de oficializar algum veredicto, anotando as reações inesperadas que aquela receita causou. Despejei o líquido do caldeirão em um frasco e etiquetei, certificando-me de guardar longe das demais poções. Afinal, usar um feitiço com tamanho poder poderia provocar reações indesejadas no destino.

Um coração partido, mesmo que tarde, se cura, entretanto, um coração partido sob efeito de substâncias mágicas, padece.

Feitiços usados da maneira incorreta, facilmente tornavam-se maldições e eu não desejava as consequências de tal malevolência sequer para um pequeno inseto.

Bocejei ao enfileirar o último livro e com Banana no ombro, vesti meus chinelos, estalando os dedos para apagar as luzes do refúgio, sentindo o vento gelado bagunçar meu cabelo quando saí do interior quente. O duende, porém, desapareceu ao deparar-nos com Abacate e Amora ressonando baixinho debaixo de um dos lampiões. Ri da ação do ser mitológico e com cuidado aconcheguei os gatos no colo, não dando-me conta do horário.

Com passos calculados, cheguei a fachada de casa e, pisquei confuso, visualizando um humano deitado entre a calçada e a relva aparada, os braços cruzados tremiam levemente devido às rajadas frias.

ㅡ Deveria estar dormindo a esse horário. ㅡ falei em um quase sussurro, as íris castanhas desviando para meu rosto.

ㅡ Acho que a calçada é mais confortável que minha cama em noites como essa. ㅡ crispou os lábios, forçando um sorriso e ao me aproximar, notei os braços e pescoço arrepiados.

ㅡ Volto em um segundo. ㅡ murmurei, deixando o bichano cinza sobre seu colo e entrei em casa somente com Amora.

Procurei por algum moletom que pudesse servir no Park e estalei a língua na boca, encontrando um com tecido vermelho grosso e com estampa do homem de ferro junto com alguns escudos do Capitão América. Agradeci pelo material quente do meu pijama e voltei para o lado externo.

Estendi a blusa para Jimin e encarei o céu. Pelo canto do olho, vi Junghyun nos encarando com os cabelos castanhos arrepiados e a face amassada.

ㅡ Obrigado, Jujuba. ㅡ cochichou rouco.

Inspirei o oxigênio congelante, a movimentação ao meu lado denunciando a pressa em se aquecer; por poucos centímetros, o moletom serviu perfeitamente.

ㅡ Essa estampa é de Guerra Civil? ㅡ o encarei, sentando ao seu lado, com Amora usando minhas coxas como cama.

ㅡ Sim. Meu pai comprou quando vim para Seul, você é o primeiro a usá-lo, Ariel. ㅡ ouvi sua risada abafada e mordi a bochecha para não sorrir.

ㅡ Felizmente, seu perfume 'tá impregnado nela, senão, eu choraria muito quando voltasse para casa. ㅡ franzi o cenho com o murmúrio, mas não dei importância, abraçando minhas costelas para ficar mais confortável em enxergar as estrelas.

ㅡ Sua gata é como você.

ㅡ Como?

ㅡ Os dois têm olhos diferentes... É lindo. ㅡ entreabri os lábios, provavelmente corando com tais palavras.

ㅡ T-Talvez seja uma forma de ver o mundo de duas maneiras diferentes. Decerto, assim é possível suportar tanta coisa sem cogitar dar entrada em um manicômio. ㅡ raspei os dedos nas orelhas felpudas da minha filhote, ouvindo-a ronronar. ㅡ Você tem insônia?

ㅡ Sooyoung 'tá em casa com meus pais e vovó saiu com umas amigas e, por mais que ela seja uma idosa capaz de se cuidar, eu fico preocupado. Quanto a Soso, mesmo eles sendo nossos pais, eles são péssimos e nos tratam como produtos ao invés de filhos, quando ela vem 'pra cá, as ações dela já não agem de acordo com a criança que ela é. ㅡ suspirou, cutucando as cutículas da destra. ㅡ O outdoor que você viu mais cedo é uma prova disso.

Jimin tinha muito guardado dentro de si. Expor a situação ao invés de ser direto com a resposta explicava esse fato. E a mim, cabia escutá-lo e oferecer um ombro amigo caso ele precisasse.

ㅡ Sinto muito. ㅡ murmurei, afetado com o curto desabafo. ㅡ Quantos anos sua irmã tem?

ㅡ 10.

Hmmm.

Fôra o único som que pude produzir naquele momento, desviando o olhar para o céu escuro, onde as estrelas brilhavam. Elas eram facilmente confundidas com aviões e ofuscadas pela fumaça constante da cidade grande. Em Busan, elas costumam ser mais brilhantes, principalmente perto do mar.

ㅡ O céu parece mais aberto hoje, elas não costumam ser tão visíveis. ㅡ mudando de assunto, os pensamentos do Park pareciam estar no mesmo lugar que os meus. ㅡ Como é em Busan?

ㅡ Mágico. ㅡ sorri, o encarando. ㅡ O sol reina em quase todo o ano, o mar é sereno e a brisa marítima elide todos os sentimentos ruins. É apaziguador. ㅡ contei, a nostalgia de lembrar dos detalhes preenchendo meu peito. ㅡ Na minha tribo, como temos descendência grega, existe uma praça com a arquitetura ateniense e com vários quadros das constelações, cinco deles foram pintados por mim. Você iria adorar conhecer, mas precisa se acostumar com o falatório extravagante e com as famílias numerosas. Apenas o líder possui uma família pequena, no entanto, ela pode ser ainda mais intimidadora que as demais.

Jimin Park deitou novamente, ouvindo-me narrar acerca da arquitetura, tradições, feriados, leis e lugares com notório interesse, um sorriso gigante rasgando seu rosto. Raciocinei se valeria a pena sujar minhas vestes e ainda falando sobre as maravilhas da minha terra natal, deitei ao lado do mais velho, gesticulando para dar ênfase nas palavras.

Não sei quanto tempo se passou para meus olhos pesarem e um bocejo atrapalhar meu discurso. Subitamente, os dedos do Park adentraram meu couro cabeludo, enrolando as mechas púrpuras no indicador e aconcheguei-me em seu braço quando minhas pálpebras fecharam inconscientemente.

ㅡ Você é incrível, príncipe. Obrigado por ter ficado aqui comigo, espero que um dia você também sinta o mesmo que esse pobre plebeu sente por sua alteza.

E antes de me entregar ao sono, deitado no meio fio ao lado do meu vizinho de cabelos vermelhos como a pequena Sereia, usando seu braço como travesseiro e sentindo seus dedos afagarem as madeixas do meu cabelo, o perfume suave impregnando minhas narinas, eu sussurrei com a voz pesada, do fundo da minha alma:

ㅡ As emoções não expressas nunca morrem, elas são enterradas vivas e saem das piores formas mais tarde⁵, Jimin. ㅡ liberei o ar dos pulmões, virando o rosto em sua direção e sorri antes de cerrar os olhos pela última vez naquela noite, consolidando: ㅡ Você é semelhante a uma explosão colorida e eu, definitivamente, amo explosões coloridas, hyung.

[...]

¹ Doze mil, novecentos e um wons: Equivale a R$50 (cinquenta reais) no Brasil, mas com o desconto de 18%, o preço final ficou R$41 (quarenta e um reais).

² K-Water: Empresa pública de água da Coreia do Sul, controlada pelo Governo, que atua há 55 anos nos segmentos de gerenciamento de recursos hídricos, fornecimento de água e tratamento de esgotos e de infraestrutura de energia renovável com destaque na gestão de eventos extremos, inovação e tecnologia.

³ Antio sas: Adeus; do grego.

O desmós tis agápis eínai ametávlitos, to pio dynató synaísthima eínai áthrafsto, mia stagóna, asímanti ptósi, blékei ta peproména, aftó pou enónei i agápi, to na eísai kápoios chorízei: O laço do amor é irredutível, o sentimento mais poderoso é inquebrável, uma gota, insignificante gota, entrelaça os destinos, o que o amor une, ser algum separa; do grego.

⁵ Frase de Sigmund Freud.

→ Pulseira do Jungkook:

→ Pulseira do Jimin:

→ Amigurumi do Homem de Ferro:

OIIIII

1 • Qual é o melhor momento do capítulo?

2 • Quais sentimentos te acompanharam durante a leitura?

3 • O que você faria no lugar da personagem diante da situação apresentada?

Respondam aqui ou pela tag: #CaçandoVagalumes

O que vocês acharam? Alguma teoria?

Não tenho muito a falar nesse capítulo. Esse é um dos meus favoritos e, embora haja sempre uma insegurança em cada atualização, nessa em específico, eu fico muito bobinha e feliz com o resultado.

Perdoem qualquer erro. Caso vejam alguma falha, podem me contatar ou comentar.

O próximo capítulo pode demorar um pouco, mas pretendo atualizar até meu aniversário, no final de agosto. Também teremos novidades no perfil, o que pode atrasar um pouco a atualização.

Aos novos leitores, bem-vindes! Desejo uma boa experiência acompanhando o bruxinho de Busan e seu vizinho, o garoto de Seul.

Vejo vocês em breve, ♡.

P.S.: Se desejarem ver spoilers, posts interativos ou interagir, meu Instagram dedicado as fics e meu lado criativo é o andrwky_thata.

P.S.².: A playlist de DP está fixada no meu perfil.

P.S.³.: Stream em Seven!!!

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