Pov Percy
-Frank controlou toda a legião. Vocês precisavam ver. Ah, por falar nisso... - Jason olhou para mim - Eu renunciei ao meu cargo e promovi Frank a pretor. A menos que você queira contestar esta decisão.
Esbocei um sorriso.
-Por mim, tudo bem.
-Pretor? - Hazel olhou para Frank.
-Bem... é. - Frank deu de ombros,desconfortável - Eu sei que parece estranho.
Hazel tentou abraçá-lo, então fez uma careta de dor. Se contentou em beija-lo.
-Parece perfeito.
Leo deu um tapinha no ombro de Frank.
-Muito bem, Zhang. Agora você pode mandar Octavian se atirar contra a própria espada.
-Tentador - concordou Frank. Ele olhou para mim, apreensivo - Mas você... O Tártaro deve ser a grande história. O que aconteceu lá embaixo? Como você...?
Olhei para minhas mãos, entrelaçadas nas de Annabeth. É essa pergunta que eu esperava não ser feita.
Em segundos, tudo o que aconteceu passou por minha mente: Kelli, novos poderes, arai, Akhlys Nix, Bob... não é culpa deles quererem saber sobre, mas eu não quero falar ainda. Vou cumprir a promessa feita a Bob, mas não agora.
-Vou contar a história - olhei para Annabeth, que me lançava um olhar acolhedor - Mas não agora. Porém, acho legal dizer que fiz um acordo com Nix.
Todos me fitaram. Annabeth apertou minha mão, incrédula.
-Nix, a Noite?
-Calma, calma. Uma celestial, então? - Frank disse, saindo de sua expressão de choque e passando pra curiosidade e medo. - Percy...
-Não, está tudo bem. - não ta nada bem - Eu apenas a fiz me dar sua benção.
Jason se engasgou com o nada. Annabeth me olhou dentro de minha alma. Nico finalmente mostrou atenção na conversa.
-Isso explica você ter ficado mais assustador e maior, e o brilho preto, eu suponho...? - Leo perguntou. Algo em seu olhar não estava certo.
Brilho? Eu brilhei mesmo desacordado? É claro, sou mesmo brilhante, mas como isso foi possível? Álias, o que significa aquele olhar de Leo?
-Assustador?
Ficamos todos em um silêncio pesado por alguns segundos. Eu fiz o clima ficar pesado, ótimo. Eu sei que assustava bandidos com um olhar, graças (de forma indireta) a Hera. Mas alguém que me conhece me achar assustador? Eu não quero que eles pensem em mim como alguém ruim. O olhar de Leo era medo? Eu o faço sentir medo? Alguém aqui tem medo de mim? Como assim maior?
Não quero ser visto como um monstro.
-Hã, acho que nossa carona está chegando. - Hazel quebrou o silêncio. Antes de se virar, me olhou significamente.
O Argo II ruma em direção ao porto, os remos aéreos em movimento e as velas enfunadas. A cabeça de Festus brilhava sob o sol.
-Esse é o meu garoto! - gritou Leo.
De pé na proa, Hedge grita.
-Já não era sem tempo! - Exibe sua melhor carranca, mas seus olhos brilham como se talvez, apenas talvez, esteja feliz em nos ver - Por que demoraram tanto, docinhos? Vocês deixaram a visita esperando!
-Visita? - murmurou Hazel.
Na amurada junto ao treinador Hedge, surgiu uma menina de cabelos escuros usando um manto roxo, o rosto tão coberto de fuligem e arranhões ensanguenta quase não a reconheci.
Reyna.
Por que Reyna está aqui?
-Já te explico. - Annabeth sussurrou, lendo minha expressão confusa. Acho que também aprendi a ler expressões, porque a dela gritava "preocupação!!!!"
*
Atena Partenos. Um dos principais motivos para eu ter caído no Tártaro.
Odeio esta estátua.
O novo sistema de içamento mecânico de Leo tinha baixado a estátua pela encosta com facilidade surpreendente. Agora, a deusa de mais de dez metros olha serenamente para o Rio Aqueronte. À luz do sol, seu vestido parece feito de ouro líquido. Essa cena não traz boas lembranças.
-Incrível - reconheceu Reyna.
Ela ainda está com os olhos pouco avermelhados. Logo depois de aterrissar no Argo II, seu pégaso Cipião desabou, sucumbindo ao veneno das garras de um grifo que os atacara na noite anterior. Reyna sacrificou o cavalo para acabar com seu sofrimento. Com sua faca de ouro, transformou o Pégaso em uma poeira que se espalhou pelo ar perfumado da Grécia. Talvez não fosse um final tão ruim para um pégaso, mas Reyna tinha perdido um amigo leal.
Desconfiada, a pretora andou em torno da Atena Partenos.
-Parece nova.
-É - disse Leo - Nós tiramos as teias de aranha e usamos um bom pro duto de limpeza. Não foi difícil.
O Argo II paira logo acima. Com Festus de vigia, atento a ameaças no radar, toda a tripulação resolveu almoçar na colina enquanto planejamos o que faremos agora. Depois dos últimas dias, o que mais preciso é de uma bela refeição. Na verdade, qualquer coisa que não seja fogo líquido ou sopa de drakon já está bom.
-Ei, Reyna - chamou Annabeth - Tem comida aqui. Venha sentar com a gente.
A pretora os olhou com a testa franzida, como se não conseguisse processar direito a frase "venha sentar com a gente".
Nunca tinha visto Reyna sem sua armadura antes. Ela tinha ficado a bordo do navio, sendo reparada por Buford, a Mesa Maravilha. Reyna veste jeans e uma camiseta roxa do Acampamento Júpiter, e parece quase uma adolescente normal, a não ser pela faca no cinto e a expressão cautelosa, como se estivesse esperando um ataque vindo de qualquer direção.
-Está bem - disse por fim.
Abrimos espaço para ela na roda. Reyna sentou de pernas cruzadas ao lado de Annabeth, pegou um sanduíche de queijo e começou a comê-lo devagar.
-E então... - disse Reyna - Frank Zhang... pretor.
Frank se mexeu, desconfortável, e limpou farelos do queixo.
-Pois é. Fui promovido durante a batalha.
-Para comandar outra legião - observou Reyna - Uma legião de fantasmas.
Hazel deu o braço a Frank em um gesto protetor. Depois de uma hora na enfermaria do barco, os dois pareciam muito melhor; mas da pra perceber que não sabem lidar muito bem com a antiga chefe do Acampamento Júpiter aparecendo para o almoço.
-Reyna - disse Jason - Você tinha que ver o Frank na batalha.
-Ele foi incrível - concordou Piper.
-Frank é um líder - insistiu Hazel - Ele é um grande pretor.
Reyna continuou observando Frank, como se estivesse tentando adivinhar seu peso
-Acredito em vocês - disse por fim - Eu aprovo.
-É mesmo? - perguntou Frank, surpreso.
Reyna deu um sorriso seco.
-Um filho de Marte, o herói que ajudou a recuperar a águia da legião... Posso trabalhar com um semideus assim. Só não descobri ainda como convencer a Décima Segunda Fulminata.
Frank pareceu preocupado.
-É, eu tenho me perguntado a mesma coisa.
Ainda é inacreditável como Frank está diferente. Um "crescimento rápido" é muito pouco para descrever a mudança. Estava pelo menos dez centímetros mais alto, mais forte. Continua o mesmo, mas cresceu alguns musculos, acho. Ainda assim, parece o mesmo Frank.
-A legião vai escutá-la, Reyna - disse o novo pretor - Você atravessou as terras antigas sozinha e chegou até aqui.
Reyna mastigava o sanduíche como se fosse um pedaço de papelão.
-Ao fazer isso, quebrei as leis da legião.
-César não seguiu as leis quando atravessou o Rubicão - argumentou Frank - Grandes líderes às vezes precisam ir além do que se espera.
-Ela balançou a cabeça.
-Não sou César. Depois de encontrar o bilhete de Jason no palácio de Diocleciano, seguir seu rastro foi fácil. Só fiz o que achei necessário.
-Reyna, você é modesta demais. - falei pela primeira vez desde que sentamos pra comer - Voar sozinha metade do mundo para atender à súplica de Annabeth porque você sabia que era a melhor chance de garantir a paz? Isso é muito heróico.
Reyna deu de ombros.
-Falou o semideus que caiu no Tártaro e conseguiu voltar.
-Não fui o único e nem o primeiro. - olhei para Nico, sentado do outro lado da roda, comendo uma romã, o fruto do Mundo Inferior.
Nico olhou para mim por um breve segundo antes de desviar o olhar.
Olhei para cada um aqui presente, parando em Annabeth. Sorri de lado. Como é bom estar ao seu lado de novo, respirando ar sem veneno e sentindo a luz do Sol...
Sol. Bob entrou em minha mente novamente. "Diga oi ao Sol e as estrelas por mim". Não é justo que eu esteja sorrindo junto aos meus amigos, quando Bob e Damásen sacrificaram suas vidas.
Meu sorriso sumiu.
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Revisado.