passagens

By ellecarmo

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citações dos livros que já li. destaques pessoais. More

a alegria de ensinar - rubem alves
a arte da guerra - steven pressfield
a arte de conhecer a si mesmo - arthur schopenhauer
a arte de escrever - arthur schopenhauer
a caixinha de música - luiza trigo
a escuta do infinito - marcelo gleis
a garota perfeita - mary hogan
a história do avivamento azusa - frank bartleman
a hora da estrela - clarice lispector
a lei de sullivan - nancy t. rosenberg
discurso da servidão voluntária - étienne de la boétie
o aliciador - donato carrisi
o vilarejo - raphael montes
sobre a pedagogia - immanuel kant
talvez você deva conversar com alguém - lori gottlieb

uma confissão - liev tolstoi

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By ellecarmo

01. a julgar por certas lembranças, nunca acreditei a sério, apenas confiava no que me ensinavam e no que os adultos professavam, à minha frente; mas essa fé era muito vacilante.

02. pela vida de um homem, por suas ocupações, hoje, como antigamente, é impossível saber se ele é crente ou não. se existe diferença entre os que professam abertamente a fé ortodoxa e os que a negam, tal diferença não favorece os primeiros. hoje, como antigamente, a aceitação e a confissão declaradas da fé ortodoxa se encontram, na maior parte, em pessoas estúpidas, cruéis, imorais, que se julgam muito importantes. já a inteligência, a honestidade, a retidão, a generosidade e a moral se encontram, na maior parte, em pessoas que se declaram sem fé.

03. assim, hoje, como em tempos passados, a doutrina religiosa, adotada por confiança e sustentada por pressão externa, aos poucos se derrete sob a influência do conhecimento e das experiências da vida, contrárias à doutrina religiosa, e é muito comum que um homem viva bastante tempo imaginando que traz plenamente dentro de si a doutrina religiosa da fé que lhe foi transmitida na infância, quando já faz muito tempo que dela não resta nenhum vestígio.

04. aqueles que fazem do próprio objeto da fé um meio para alcançar quaisquer objetivos efêmeros, essas pessoas são os descrentes mais radicais, pois se, para elas, a fé é um meio para alcançar quaisquer objetivos mundanos, seguramente isso já não é fé.

05. com toda a alma, eu desejava ser bom; mas era moço, tinha paixões e estava sozinho, absolutamente sozinho, quando procurava o bem. toda vez que tentava exprimir em que consistiam meus desejos mais sinceros, ou seja, ser moralmente bom, encontrava desprezo e zombaria; porém, assim que me rendia a paixões sórdidas, me elogiavam e incentivavam. a ambição, o desejo de poder, a cobiça, o orgulho, a ira, a vingança, tudo isso era respeitado.

06. não reneguei o título que aquelas pessoas me conferiram, o título de artista, poeta, professor. ingênuo, imaginava que eu era poeta, artista, e podia ensinar todo mundo, sem que eu mesmo soubesse o que ensinava.

07. todos nós, sem ouvir uns aos outros, não parávamos de falar, às vezes fazíamos a vontade uns dos outros e elogiávamos uns aos outros, para que depois também fizessem minha vontade e me elogiassem, mas outras vezes irritávamos uns aos outros e berrávamos uns com os outros, exatamente como num hospício.

08. hoje, está claro para mim que aquilo não era nada diferente de um hospício; mas, na época, eu apenas desconfiava e, como qualquer louco, apenas chamava todos os outros de loucos, menos a mim mesmo.

09. ficou claro para mim que era impossível ensinar sem saber o que ensinar, porque eu via que todos ensinavam coisas diferentes e, por meio das discussões que travavam, apenas escondiam de si mesmos sua ignorância.

10. minha vida parou. eu podia respirar, comer, beber, dormir, porque não podia ficar sem respirar, sem comer, sem beber, sem dormir; mas não existia vida, porque não existiam desejos cuja satisfação eu considerasse razoável.

11. eu mesmo não sabia o que queria: tinha medo da vida, desejava me livrar dela e, no entanto, ainda esperava dela alguma coisa.

12. ficou claro, para mim, que a arte é um ornamento da vida, é uma isca que nos atrai para ela.

13. a ausência de sentido na vida - é o único saber indubitável que o homem pode alcançar.

14. quanto menos eles se aplicavam às questões da vida, mais exatos e mais claros eram; quanto mais tentavam dar soluções às questões da vida, menos claros e menos atraentes se tornavam. se nos voltamos para o ramo dos saberes que tentam dar solução às questões da vida - a fisiologia, a psicologia, a biologia, a sociologia -, encontramos aí uma chocante pobreza de pensamento, uma suprema falta de clareza, uma pretensão em nada justificada para dar soluções a questões fora de sua competência, além de incessantes contradições entre um pensador e os outros, e até entre um pensador e si mesmo.

15. os saberes ignoram abertamente as questões da vida. eles dizem: "para as perguntas 'o que você é' e 'para que você vive', não temos respostas e não tratamos desse assunto; mas se você precisa conhecer as leis da luz, da composição química, as leis do desenvolvimento dos organismos, se precisa saber as leis dos corpos, suas formas e a relação dos números com as grandezas, se precisa saber as leis da sua razão, então para tudo isso temos respostas claras, precisas e inquestionáveis."

16. para responder à pergunta que se apresenta a todo ser humano ("o que eu sou?", ou "para que eu vivo?", ou "o que devo fazer?"), é preciso, antes, que o homem solucione a pergunta: "o que é a vida de toda a humanidade, que ele desconhece, e da qual ele conhece apenas uma parte minúscula, num minúsculo período de tempo?". a fim de entender o que ele é, o homem precisa, antes, entender o que é toda essa misteriosa humanidade, formada por pessoas iguais a ele e que, também como ele, não entendem a si mesmas.

17. o mundo é algo infinito e incompreensível. a vida humana é uma parte inconcebível desse "todo" inconcebível.

18. porque em muita sabedoria há muito sofrimento; e quem multiplica o conhecimento multiplica o desgosto.

19. um cão vivo vale mais do que um leão morto.

20. não havia engano. tudo é vaidade. feliz quem não nasceu, a morte é melhor que a vida; é preciso livrar-se da vida.

21. o acidente que hoje faz de mim um salomão amanhã pode fazer de mim um escravo de salomão.

22. afinal, a ignorância sempre diz isso mesmo. quando não sabe algo, diz que aquilo que ela desconhece é uma tolice.

23. o saber racional não fornece o sentido da vida, ele a exclui.

24. pressenti que, se quero viver e entender o sentido da vida, preciso buscar esse sentido não naqueles que o perderam e querem se matar, mas sim nos milhões de pessoas que viveram no passado e vivem hoje, que fazem a vida e carregam sobre si a sua e a nossa vida.

25. a fé é o sentido da vida humana, graças ao qual o homem não se destrói, e vive. a fé é a força da vida. se o homem vive, ele acredita em alguma coisa. se não acreditasse que é preciso viver para alguma coisa, ele não viveria.

26. sem fé, é impossível viver.

27. se não fosse tão horrível, seria ridículo, o orgulho e a presunção com que nós, como crianças, desmontamos o relógio, retiramos a mola, fazemos dela um brinquedo e depois ficamos admirados, ao ver que o relógio parou de funcionar.

28. comecei a entender que, nas respostas fornecidas pela fé, se abriga a profunda sabedoria da humanidade e que eu não tinha direito de negá-la com base na razão, e que, acima de tudo, só essas respostas atendem à questão da vida.

29. eu não consegui aceitar a fé dessas pessoas - vi que o que elas tomavam por fé não era uma explicação, mas um escurecimento do sentido da vida.

30. nenhum argumento conseguia me convencer da verdade de sua fé. se ao menos suas ações me tivessem mostrado que possuíam um sentido da vida em que a pobreza, a doença e a morte, que me apavoram, não lhes causam pavor, eu poderia me convencer.

31. crenças me causavam repulsa e me pareciam loucura, quando professadas por pessoas que viviam de maneira contrária a elas, e como essas mesmas crenças me atraíram e me pareceram razoáveis, quando vi as pessoas que viviam de acordo com elas.

32. a qual as pessoas adoram mais a sombra que a luz, porque suas ações são más. pois quem quer que faça coisas ruins detesta a luz e não marcha na direção da luz, para que suas ações não sejam denunciadas.

33. quando se trata de comer, comemos tudo que é do senhor, mas quando se trata de fazer o que o senhor quer de nós, não fazemos nada.

34. afinal, eu vivo e, só quando sinto e busco deus, vivo verdadeiramente. "portanto, para que continuo buscando deus?", exclamou uma voz dentro de mim. "olhe, lá está ele. ele é aquilo sem o que é impossível viver. conhecer deus e viver é a mesma coisa. deus é vida". "viva descobrindo deus e, então, não haverá vida sem deus."

35. voltei à fé em deus, no aprimoramento moral, na tradição que transmite o sentido da vida. só que havia uma diferença: na época, tudo isso era aceito por mim de forma inconsciente, e agora eu sabia que, sem isso, não poderei viver.

36. a essência de qualquer fé consiste em que ela dá à vida um sentido que a morte não destrói.

37. eu não via, também, que o amor não pode, de maneira nenhuma, tornar determinada expressão da verdade obrigatória para a união. eu não via os erros desse raciocínio e, por conta disso, tive a possibilidade de adotar e cumprir todos os rituais da igreja ortodoxa, sem compreender a maior parte deles.

38. na época, para mim, era tão necessário crer para viver que, sem ter consciência disso, escondia de mim mesmo as contradições e as obscuridades da crença.

39. por causa de meu interesse pela fé, eu me aproximei de crentes de diversas confissões. e, entre eles, eu encontrava muita gente moralmente superior e que eram crentes verdadeiros. queria me tornar irmão dessas pessoas. e o que aconteceu? a doutrina que me prometia unir todos com uma só fé e com amor, essa mesma doutrina, na pessoa de seus melhores representantes, me dizia que toda essa gente se encontra na mentira, que o que dá a eles a força de viver é uma tentação do diabo, e que só nós estamos de posse da única verdade possível. e vi que todos os que não professam a mesma fé que os ortodoxos são, por eles, considerados heréticos.

40. essa hostilidade aumenta à medida que melhor conhecemos a doutrina. e eu, que supunha que a verdade estava na unidade do amor, não pude deixar de ficar chocado ao ver que a própria doutrina destrói aquilo que ela deveria promover.

41. que na doutrina existe verdade, disso eu não tinha dúvida; mas também não tinha dúvida de que nela existe mentira, e eu tenho de encontrar a verdade e a mentira, para então separar uma da outra.

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