Louis
Acordei bem cansado, meu corpo doía devido a aula passada de educação física, levantei preguiçosamente e tomei um banho quente, me arrumei para a escola e desci as escadas, os meninos ainda não haviam acordado. Me servi de um pouco de cereal e fiquei sentado no tapete da sala comendo, passaram-se vinte minutos e logo ouço os passos descendo as escadas.
Continuo assistindo desenho, logo Caio e Will aparecem na sala, ficam sentados no sofá atrás de mim, tenho certeza que estão me encarando.
— Bom dia Louis — Will fala bocejando.
— Bom — Digo ainda prestando atenção na TV.
— Dormiu bem? — Caio pergunta e eu concordo sem me virar.
— Sim — O silêncio se fez presente novamente, terminei meu cereal e deixei a tigela na pia, logo seguimos para o carro. Fui no banco de trás, Caio e Will na frente, vez ou outra olhavam para mim, fiquei apenas observando as imagens passarem rapidamente por fora do vidro do carro.
A verdade é que eu não sabia como me sentir com tudo aquilo, era estranho, deprimente ao mesmo tempo, me sentia revoltado e pelo incrível que pareça me sentia traído.
Chegamos no estacionamento da escola, desci do carro e segui para a entrada da escola, logo vejo as duas garotas do dia anterior apresso o passo mas a voz do Will me faz parar.
— Louis vem cá — Olhei para trás pensando se deveria ir ou não, mas entrei direto na escola, fui para minha sala e me sentei logo colocando os fones de ouvido.
Os minutos passaram, e logo mais um dia tedioso e cansativo começaria, as aulas passaram como um flash, em minutos eu já estava me dirigindo para o refeitório. Entrei na fila e olhei para a mesa central, lá estavam eles. Desviei o olhar e foquei para pegar meu lanche, peguei minha bandeja que tinha um sanduíche, um suco, iogurte e uva, fui para a mesa em baixo das árvores e comecei lanchar ouvindo música. Logo Ícaro aparece e senta do meu lado.
— Olá Lou — Ele diz se sentando é bagunçando meu cabelo.
— Oi — Digo retribuindo o gesto e ele ri.
— Tá bem? — Assenti, e comecei lanchar.
— Sim e você? — Indago querendo mudar o foco.
— Tem certeza? Tá com uma carinha tão triste — Rio fraco e desvio o olhar.
— Impressão sua — Ele assentiu, mas dá um risinho como se não tivesse acreditado.
— Tudo bem, qualquer coisa pode contar comigo — Balanço a cabeça concordando e mentalmente agradecendo.
— E aí vai fazer algo esse final de semana? — Nego, realmente nem se eu quisesse eu teria algo.
— Não, vou estudar semana que vem tenho a prova para fazer — Ele assentiu comendo uma das minhas uvas.
— Entendo, posso ir na sua casa te fazer companhia? — Pensei sobre aquilo mas logo concordei, não tinha mal nenhum, ele era legal comigo e eu estava tendo mais uma vez a chance de fazer algum amigo.
— Hum, pode sim — A conversa foi interrompida por Caio e Will chegando com as garotas na mesa, fiquei sem reação. Eles se sentaram na minha frente e do Ícaro, Will me olhava com a carranca mais feia do mundo, e o Caio? Esse ai nem me olhava.
— Estamos atrapalhando algo? — Caio fala encarando Ícaro.
— Não — Ícaro responde desconcertado e sinto um pingo de dó dele.
— Na verdade sim, estávamos conversando sobre um assunto importante, e vocês chegaram em uma hora inoportuna — Uma das garotas me olhou com cara feia e arrebitou o nariz, olhando com desprezo apenas ignorei.
— Então, já que você não apareceu no refeitório decidimos te procurar e te achamos aqui, queríamos te apresentar as meninas — Preferia que isso não acontecesse, sei que elas não têm culpa de eu estar fervendo por dentro, mas era uma situação que eu preferia evitar.
— Essa é Camila, minha namorada — Confesso que ouvir essa última parte fez parecer que tinha uma tempestade tropical dentro de mim e no meio do oceano destrutivo que meus sentimentos estavam se tornando, o Caio estava numa jangada e eu torcendo pra que uma onda matasse ele afogado.
A garota estendeu a mão para mim e sorriu falsamente, apertei e devolvi o sorriso da mesma forma.
— Essa é a Bruna, estamos tendo um rolo — Diferente da outra, essa me pareceu mais sincera, Bruna sorriu tímida e me cumprimentou de forma bem mais educada.
Eles ficaram lá conversando entre si, eu olhava para Ícaro e ele parecia estar se sentindo deslocado como eu, levantei e pedi que ele me acompanhasse.
— Nossa o que rolou ali? — Ele indagou e eu também não fazia ideia.
— Não sei, mas também não quero descobrir — Digo sentindo um peso no peito.
Fomos andando até chegar na biblioteca, onde sentamos e ficamos conversando bem baixinho pois não podia fazer barulho, mas ficava difícil a cada piada que Ícaro contava. O lanche acabou, e me dirigi para minha sala novamente, um detalhe interessante é que benjamim e os outros garotos não falaram mais comigo, mas ok, isso não tem problema.
Eu olhava as contas de matemática no quadro, estava com sono, já tinha terminado meu exercício, porém o professor não deixou eu sair da sala e ir pra casa. Continuei sentado, observando os ponteiros do relógio que tinha em cima do quadro, cada minuto parecia se arrastar. Quando finalmente o alarme ecoou, me levantei e me dirigi para o estacionamento, Will e Caio estavam com as garotas, cumprimentei e entrei no carro pondo o fone de ouvido. Após alguns minutos ele também entram, e pra minha surpresa as duas garotas abrem a porta e vão me empurrando para dar espaço, olho com cara de indagação para os dois.
— As meninas vão lá pra casa, passar a tarde com a gente — Will diz ligando o carro.
— Entendo — Digo pondo o fone de volta.
O caminho foi entediante, antes eu podia ter o silêncio como companhia, agora tinha que ouvir bobagens e fofocas sobre pessoas que eu não conheço, William e Caio riam como se ficar criticando as pessoas pelas costas fosse a coisa mais divertida da terra, estava chateado, decidi que passaria a tarde e a noite no meu quarto, iria ao mercado e compraria algumas coisas para evitar minha saída mais ainda.
Paramos e Will deixou o carro na garagem, logo adentramos em casa, as duas garotas elogiavam mas não fiquei para saber o rumo da conversa, fui para meu quarto e tranquei a porta, troquei de roupa e logo tomei um banho. Me vesti e me atirei na cama, ouvia risadas do andar de baixo.
Meu estômago roncou, levantei e decidir ir na cozinha comer algo, quando entro na mesma Will estava beijando a menina e com a mão em todo canto, meu rosto pegou fogo, decidi sair mais Will viu e me chamou.
— Tem comida na geladeira, é só esquentar. Vem vamos terminar isso no quarto — Falou para a garota que seguiu ele, ainda de forma tímida.
Ambos subiram as escadas, me servi de lasanha e esquentei no micro-ondas, estava tão aéreo, lembrei de Ícaro e logo peguei o meu celular ligando para ele.
" — Alô, Lou?" — A voz dele soou animada me contagiando também.
" — Oi baixinho, como tá? "
" — Bem, você tá ocupado? Se não estiver, você pode vir aqui em casa me buscar pra ir no mercado?"
" — Posso sim, mas onde estão os meninos? "
" — Acho que estão ocupados"
" — Me espera aí que já chego, beijo"
" Okay"
Desliguei a chamada, e subi as escadas, troquei de camisa colocando uma lilás de mangas compridas, calcei meu tênis e já estava descendo quando encontro Caio no caminho.
— Vai onde? — Ele pergunta me analisando.
— Em um lugar com um amigo — Digo passando e ele acompanha.
— Que amigo? — Pergunta com a voz meio alterada.
— Dá escola, irmão da Andreia — Ele assente mas fica pensativo em seguida.
—O Ícaro, já avisou o Will? — Balanço a cabeça negando.
— Não preciso avisar, tenho quase a mesma idade de vocês dois, não sou criança e sei me cuidar, até mais Caio — Saí de casa e me sentei na varanda, passaram alguns minutos e Ícaro parou o carro, me levantei e caminhei até ele, entrei e coloquei o cinto de segurança.
Ícaro começou dirigir indo para o mercado, ligou o rádio e ficava batendo os dedos no volante no ritmo da música, achei engraçado, após alguns minutos chegamos finalmente no mercado. Adentramos os corredores indo em direção aos doces, eu queria alguns doces, comprei uns chocolates e biscoitos, o próximo passo foi o corredor de barras de cereal, ele empurrava o carrinho como uma criança, eu ria a cada piadinha que ele fazia.
Por fim o meu corredor preferido, a parte dos sorvetes, frutas e tudo que precisa de temperatura fria. Peguei dois potes de sorvete de chocolate, um de chocolate com menta, alguns pratinhos com uvas, morangos, laranjas (apesar de ter em casa), após de checar tudo, nos dirigimos para o caixa, paguei tudo e Ícaro se ofereceu para carregar as compras e achei fofo da parte dele. Novamente estávamos no carro.
— Lou, se importa de eu te levar em um lugar? — Neguei e ele sorriu.
— Não — Disse dando de ombros.
— Você já almoçou? — Assenti.
— Já, por que? — Ele murcha o semblante e fico com vontade de rir.
— Ia te levar para lanchar numa confeitaria que eu gosto — Sorrio, ele é legal, não parece ser ameaçador como aparentou aquele dia.
— Sempre tem espaço para a sobremesa — Digo dando uma risada e ele se anima novamente.
— Assim que se fala — Ele riu também.
O caminho era calmo, Ícaro colocou um cd no carro e não percebi qual, só me dei conta quando a melodia de talk me down invadiu meus ouvidos, sorri e fiquei observando ele cantar baixinho, sempre concentrado no caminho. Uma parte da música que me deixou triste meio que instantaneamente foi "I wanna sleep next to you", fez eu lembrar dos meninos e de que as coisas estão sempre em mudanças.
Paramos em frente a confeitaria, ela era mais simples, tinha uma decoração bem convidativa e aconchegante, adentramos e logo o sininho da porta fez barulho anunciando a chegada de clientes, ícaro me levou até uma mesa próxima a janela, nos sentamos e logo uma moça veio nos atender.
— Bom dia o que gostariam de pedir?
— Eu quero uma fatia de torta de morango e chocolate quente — Ela anotou o pedido dele e voltou sua atenção pra mim.
— Cheesecake de chocolate com chá de hortelã — Ela assentiu.
— Em alguns minutos os pedidos serão entregues — Concordei distraído com o local.
Ficamos nos encarando, comecei ficar vermelho e desviei o olhar para o enfeite da mesa, que era um bolo com umas flores, achei bonito.
— Essa camisa lilás ficou bonita em você loirinho — Sorri, mas não estava seguro, as últimas duas pessoas que começaram ser legais comigo, agora estão me magoando sem perceber, talvez uma saiba que está.
— Obrigado — Senti um calor nas bochechas novamente.
— O que acha da gente ir no cinema? Tipo um encontro — Ícaro perguntou me fitando com expectativa.
— Um encontro? — Ele assentiu sorrindo e eu fiquei perdido, porque realmente eu estava sendo convidado para um encontro.
— Posso pensar? Nunca passei por isso, mas já fica com meu pré sim registrado — Digo e ele sorri de novo.
— Tudo bem, só não esqueça tá? Gostaria de poder ter um momento assim contigo — Balancei a cabeça concordando e me sentindo envergonhado, nervoso.
Nosso pedido chegou, após terminarmos de comer, fomos em direção ao carro, e logo estávamos voltando para casa, estava quieto, com sono, engraçado acho que na vida passada eu era um urso polar, só assim para explicar tanto sono.
Após chegarmos peguei as compras e me despedi do Ícaro, que me deu um abraço bem forte, e um beijo no topo da cabeça. Adentrei a casa e parecia estar vazia devido o silêncio, passei pela sala e Will jogava vídeo game, ele me olhou e em seguida voltou a atenção para o jogo, fui subindo as escadas com as sacolas, assim que entro no corredor, começo escutar barulhos vindos do quarto do Caio, me aproximo da porta e os barulhos só aumentam. Decido ignorar assim que escuto um palavrão e a voz de uma garota, entro em meu quarto, guardo as coisas no frigobar que agora serve de algo.
Após organizar tudo, resolvo jogar com Will e vou para o andar de baixo, me sento no sofá ao lado de Will, e pego o controle.
— Nossa como você conseguiu?? — Will pergunta rindo.
— O que? — Digo franzindo a testa.
— Tive que descer, já que os gemidos daquela menina que o Caio tá comendo são horríveis, parece uma cadela — Meu corpo trava, então era isso, meu sangue esquenta como se fosse uma fonte termal, largo o controle em cima do sofá e vou em direção a porta, saio e logo ouço a voz do Will me chamar, continuo andando às pressas pela rua, paro um táxi e entro nele, informo o local que eu queria ir e logo estou indo em direção ao hospital que minha tia trabalha.
O caminho foi calmo, eu estava com uma sensação horrível dentro de mim, queria chorar estava sentindo um misto de coisas. Pago a corrida e entro no prédio grande, informo meus dados e logo estou no andar das crianças com câncer, avisto Ester e vou em sua direção.
— Louis meu anjo que bom ver você — Ester diz sorridente.
— Oi Ester vim passar um tempo com as crianças, tem problema? — Ela nega e me acompanha.
— Claro que não anjo — Segui ela, fiz uma esterilização e logo estava no quarto, as crianças estavam eufóricas brincando, algumas estavam dormindo, avistei o Bryan e me aproximei dele.
— Oi campeão — Ele levantou o olhar e sorriu.
— Oi Louis, você voltou — E foi com aquele sorriso que a mágoa que estava dentro de mim sumiu.
— Sim, me diz como você tá? — Ele se arrumou novamente contra os travesseiros.
— Bem, só um pouco cansado, tive quimioterapia hoje mais cedo — Assenti, senti um aperto no peito porque ele parecia péssimo.
— Entendo, o que fez depois que voltou?
— Eu assisti TV, a eu fiz um desenho pra você — Sorri surpreso, essa eu não esperava.
Ele se sentou e tirou debaixo do travesseiro um caderno de desenho, arrancou uma folha e me entregou. Observei o desenho de um garoto, com uma capa de super herói.
— Obrigado Bryan, eu gostei, vou pôr no mural do meu quarto — Ele sorriu grandemente e se arrumou de novo na cama, guardou e ficou me encarando enquanto eu analisava o desenho.
— É você de super herói Lou — Observei o desenho com cuidado prestando atenção em cada traço torto, ou nas cores borradas, era bonito e eu ficava feliz de ter ganho ele.
Passei o resto da tarde no hospital com as crianças, e o início da noite, após o jantar decidi ir embora, não vi minha tia, talvez estivesse de folga, me despedi de Ester e peguei outro táxi indo pra casa, no caminho meu estômago estava embrulhado, principalmente por ter que explicar o motivo de ter saído da sala como um louco.
Desci do carro após pagar e entrei em casa, após eu passar pela sala não vi ninguém, então fui para meu quarto, tomei banho e decidi dormir logo, precisava descansar. Ouço batidas na minha porta e me levanto para ver, assim que abro a porta é empurrada com força e eu acabo caindo, Caio e Will estão me encarando.
— Onde você tava? — Will pergunta de braços cruzados e irritado.
— Estava andando por ai — Digo dando de ombros.
— Sabe que horas são?? — Caio pergunta e eu nego,
— Não, eu acabei de chegar tô com sono — Digo tentando escapar daquele assunto.
— Foda-se, você é um irresponsável sai assim do nada, como se fosse um garoto mimado — Will fala alterando o tom de voz.
— Você deixou a gente preocupado, você tem que avisar — Olhei pra ele e sorri, o que fez ele franzir o cenho.
— Não devo satisfações da minha vida pra vocês dois, nunca devi satisfação e não é agora que vou dar, o fato de eu estar morando aqui, não torna vocês responsáveis legais por mim, e outra eu sou mais do que crescido para andar sozinho, tomar minhas decisões e isso não é da conta de nenhum de vocês — Digo sentindo meu coração querer explodir em seguida.
O que veio em seguida, foi um tapa certeiro do Will no meu rosto, no mesmo momento não penso no que estou fazendo e minha mão revida com a mesma força e o estalo que fez no rosto dele ecoa no quarto. Will me encara incrédulo com a mão no rosto onde a minha acertou ele, sinto minha respiração pesada.
— Você não fez isso — Ele diz vindo na minha direção e Caio tenta se meter na frente.
— Deixa ele vir — Digo e Will empurra o Caio que acaba caindo no chão, para na minha frente, sinto a respiração quente batendo no meu rosto.
— Você se acha o fodão, dependendo do que você fizer agora, minha decisão vai ser só uma, eu não fico aqui nem mais um minuto, você não é nada meu, nem meus pais me batiam, você não tem esse direito, você pode tratar que nem lixo aqueles imbecis da escola, mas eu você nunca mais vai tratar dessa forma achando que não vai ter retorno — Digo encarando ele, Will levanta a mão e soca a parede do lado da minha cabeça.
— SAIAM DO MEU QUARTO AGORA! — Digo alto fazendo eles ficarem com uma cara de confusão gigantesca, principalmente o Caio que me encarava como se fosse um cãozinho acuado.
E assim que eles fizeram, tranquei a porta e me joguei na cama, sentia meu rosto arder, olhei no espelho e pude ver o formato dos dedos do Will. Suspirei fundo, não sei onde eu estava com a cabeça de cogitar sentimentos assim, ainda mais por esses dois, vou estudar pra essa prova o máximo que eu puder e passar também. Estava com o corpo ardendo, tomei um banho gelado e me deitei novamente encarando o teto.
"— Ícaro está acordado? " — Mando a mensagem e não demora muito para que ele abra.
"— Sim, aconteceu algo? "
"— Não, queria dizer que aceito o encontro, só me avisa direitinho depois tudo bem? "
"— Sério? Claro Lou, será um prazer, obrigado por aceitar <3 "— Sorri com o final da mensagem, bloqueio o celular mais uma vez e me jogo na cama.