Eu e o seu fantasma

By chan_sango

12K 1.5K 3.6K

O passado de Catra não foi nada normal. Por isso, em sua vida adulta, orgulhava-se de andar nos eixos da roti... More

PRÓLOGO - A vida normal de alguém nada normal
1. Quem invocou a loira do banheiro?
2. Bom dia, mundo, tenho um Pokémon fantasma!
3. Se você morrer, eu te mato!
4. O estranho caso das pedras que se mexiam
5. Apresentei a fantasma pra família. Não recomendo
6. Me chama no tabuleiro Ouija, bebê
7. Tenho nem roupa pra sentir tudo isso
8. Masterclass de poltegeist com loira falecida
9. Adora amara Mara, Mara adora Adora
10. Vida e morte de uma Gasparzinha confusa e boiola
11. Descobrindo a infância sem dente de Adora (e outras coisas)
12. Antes não sabia nada, mas, hoje em dia... Sei muito menos
13. Mantenha distância. Substância altamente (gay) apaixonada
14. O ataque cardíaco do coração morto-vivo
15. Aqui não é Teletubbies para ter hora de dar tchau
17. DEU TUDO ERRADO
18. A fantasma que invadia sonhos
19. Sonho dentro do meu sonho que sempre quis sonhar
20. Duas mentes em sincronia, um ponto de partida
21. A consequência de um despacto
22. O tempo não é infinito
23. Histórias de fantasma têm finais felizes?

16. O início de um sonho

380 58 131
By chan_sango


Autora falando:

E aí, pessoas? Tudo bem? Se cuidando?
Eis um POVzinho de Catra bem fofuxo hoje para alegrar o coração catradorer de vocês

Boa leitura <3


****

Catra olhava assustada para os lados, abraçada às próprias perninhas de criança encolhidas num sofá. Parecia estar num porão escuro, sujo e frio. A única frecha de luz vinha de uma janela alta, com largura bem estreita. Talvez conseguisse passar por ali, talvez não. O medo a paralisava. Resolveu fechar os olhos apertados para não ter que ver mais esse cenário assustador. Estava tremendo sem parar por causa da temperatura, e na medida que tentava esfregar as mãos pequenas pelas extremidades dos braços, sentia seu corpo todo dolorido. A bochecha direita ardia com um corte profundo. O gosto salgado das lágrimas vinha misturado com o amargo do sangue. O que estava acontecendo?

Um barulho a atentou. Seus olhos azul e âmbar arregalaram e foram diretamente para o local do som. Na janela pequena, uma outra criança se esforçava para passar o corpo por ali e entrar. Depois de muito tentar, praticamente foi cuspida para dentro, caindo com os braços agilmente posicionados na frente do rosto. A presença fez seu coração pular. Dessa vez, enxergava a menina por completo. Cabelos loiros presos num rabo de cavalo um tanto quanto bagunçado, olhos azuis quase brilhantes naquela escuridão e um sorriso faltando o dente de cima.

Adora!

A menina estava aflita, correndo até sentar-se do seu lado. Foi quando viu que ela também chorava e tinha acabado de ralar um dos antebraços na queda. Não era esse o motivo do choro, porém. Tinha algo naqueles olhos de criança que iam além da dor física. Era quase como se ela sentisse o mesmo que Catra naquele momento. Um pesadelo sem fim.

Devagar, ela pôs a mãos na área do rosto que sangrava sem parar e sua fisionomia de tristeza aumentou ainda mais.

– O machucado tá feio dessa vez... – A voz doce e desafinada da Adora criança ecoou. – Eu trouxe um bandaid hoje.

Ela imediatamente mexeu no bolso de trás da calça e puxou o curativo.

– Mas tem que limpar primeiro e eu não sei fazer isso... – Dessa vez, a menina cochichou.

Catra estava muito assustada para sequer responder. Só conseguia olhar para ela e lutar para manter a respiração estável, porque a qualquer momento sentia que podia desmaiar.

Mas estava ficando tão difícil essa tarefa, ou até mesmo manter os olhos abertos...

A visão foi ficando embaçada e a voz da outra menina gritando seu nome repetidas vezes de longe e de longe. Apesar de todo o peso das pálpebras, não foi bem um desmaio, já que sua audição foi voltando aos poucos enquanto os olhos ficavam impossibilitados de abrir.

Sentia os toques cuidadosos da outra menina também, sentia como se o tato estivesse duas vezes mais aguçado. Ela estava explicando algo sobre como iriam fugir dali em breve, em como contaria tudo para que seus pais ajudassem também. Esse momento foi meio confuso.

Tudo ficou mais nítido, por fim, quando reabriu os olhos.

Adora a tinha nos braços, envolvendo-a num abraço apertado. O quentinho do corpo dela ajudava muito a passar o frio e a tremedeira do seu próprio. Era bom tê-la ali.

– Adora... – Foi tudo o que conseguiu balbuciar em meio ao medo e à fraqueza.

O que queria dizer era simples. Iria apenas pedir para que ficasse.

Não foi preciso, parece que ela adivinhou:

– Eu não posso dormir aqui com você, tá? Minha mãe ia ficar achando que eu desapareci e a sua ia me machucar, que nem ela faz com você. – Adora cochichava chorosa bem perto de seu ouvido. Depois, ela deu um beijinho estalado em sua bochecha, logo acima da ferida. – Mas olha... Podemos fazer uma promessa, uma de verdade, que nunca vamos quebrar.

– Qual? – A morena afastou o corpo apenas o suficiente para encará-la, sem perder o calor que recebia.

– Se a gente se perder, eu vou achar você ou você vai me achar. – Num gesto de carícia, ela fez uma pausa para encostar a bochecha molhada de lágrima na sua ferida levemente, sem nem lembrar do sangue exposto, e fechou os olhos apertados.

Adora começou a brilhar de forma gradativa. Começou com pouca luz que se destacava na escuridão, depois virou algo tão brilhoso que podia cegar. Catra também precisou fechar os olhos apertando-os.

– Não importa como, e nem se eu já estiver grande, bem grande, ou até ter morrido e virado um fantasma. – A fala pura e inocente de Adora continuou conforme o brilho emanava. – Eu prometo que a gente não vai se separar.

– Eu também prometo, porque eu quero muito que a gente fique juntas pra sempre de verdade! – A voz da pequena Catra tinha muito mais vigor. A cada segundo que passava absorvendo aquela luz diretamente, mais vitalizada sentia-se.

O brilho se intensificou ainda mais, tornando o cenário todo branco por longos segundos.

Quando toda a luz finalmente foi embora, Catra já não estava mais sonhando. Reabriu os olhos e estava deitada na sua cama de sempre, da vida adulta, com a fantasma de sempre esperando do lado.

A fantasma de sempre.

O sempre nunca fez tanto sentido quanto agora.

Sentou-se na cama em um só movimento, fitando a loira com os olhos já cheios de lágrimas. Trouxe, do sonho, toda a emoção.

– Catra? T-tá tudo bem? – Adora abaixou para ficar no mesmo nível, já tensa. – Tá sentindo alguma coisa? Quer que... Que eu chame alguém, sei lá, quer alguma coisa?

Agora entendia perfeitamente de onde já conhecia esse senso cuidadoso, essa urgência de Adora em querer ajudá-la e vice versa.

Um sorriso frouxo surgiu em seu rosto cheio de sardas.

– O que tá acontecendo? – A loira arqueava uma das sobrancelhas.

– Nós duas, Adora... – Nem enquanto falava o sorriso saía. – Mesmo depois de nos perdermos, nós... Nós nos reencontramos!

Catra nem sabia que era possível um fantasma enrubescer até ver o rosto de Adora no momento em que falou.

– C-Como...?

– Acho que sonhei com uma memória nossa – apoiou ambas as mãos nas próprias pernas para conter a ansiedade boa. – Quer dizer... Não qualquer memória. Acho que foi a do pacto!

– Sério? – A mais alta compartilhou do mesmo entusiasmo e voltou a ficar de pé normalmente. – E foi como? Foi bom? O que exatamente estávamos fazendo?

– Na verdade foi horroroso. Digo, a situação era péssima, eu estava mal e não foi naquele parque, como pensamos.

– E por que tá toda feliz se foi horroroso?

– Quando eu te contar, você vai entender

– Então conta senão eu morro de novo, só que de ansiedade!

Catra fez questão de contar, com todos os detalhes, para a amiga fantasma. A mesma que agora descobrira ser de longa data. A mesma por quem não tinha mais dúvida que sentia amor desde sempre, mesmo não tendo muita noção, ainda, desse dito início. Da memória, toda a dor, todas as sensações macabras, todo o medo... Nada disso foi maior do que a presença dela.

Claramente esse foi o assunto principal na mesa de café da manhã que raramente reunia Micah e Glimmer ao mesmo tempo. Esse dia foi exceção, e ainda bem. Assim, os dois poderiam usufruir de sua real empolgação da morena ao contar pela primeira vez.

Segunda, tecnicamente, já que Adora soube antes. O que não anula a animação em nada.

Seu bom dia foi tão alto e sorridente que o raio de Sol parecia até mais vivo a partir do momento que entrou na cozinha. Pegou sua caneca e sentou de frente para a família.

A loira também os cumprimentou e depois ficou apenas rodeando a mesa e observando com muita atenção tudo o que era servido ali, como se fosse capaz de devorar com os olhos só para matar a vontade de comer que sua morte lhe tirara.

Enquanto isso, Catra tinha vontade de rir dos olhares surpresos de seu pai e irmã diante de tanta alegria matinal, algo que aconteceu, no máximo, umas duas vezes na vida dela. Antes que perguntassem qualquer coisa, já foi logo contando.

É, a ansiedade também estava grande. Era tudo meio exótico à real personalidade da mulher de olhos coloridos. E, ainda assim, sentia que por todos esses anos não tinha sido tão ela mesma quanto nesse momento. Eventualmente a mais alta acrescentava detalhes que ela deixava escapar pela euforia. Juntas, conseguiram passar o sonho inteiro para os outros presentes.

– Ou seja, foi um pacto de sangue e baba – Glimmer cruzou os braços e fez uma careta enojada. – Eca...

– Do que você tá falando, meio metro? – Catra apontava a espátula de manteiga na direção da irmã, como se fosse uma ameaça de brincadeira.

– O que ela quer dizer é que, já que a mágica da Adora nunca se manifestou, provavelmente isso só é possível quando é algum fluido que sai de dentro dela. – Micah entrou na discussão com suas explicações teóricas. – Antes, eu pensava no sangue, mas, pode ter sido a saliva do beijo na bochecha quando encostou no machucado do seu rosto, na sua corrente sanguínea.

– E eu pensando que a chave do pacto fosse o beijo, não a baba dessa... – A morena olhava a fantasma de cima a baixo fingindo desdém.

Adora começou a rir assim que ouviu a teoria, o que desencadeou algumas pequenas risadas dos outros. Ainda assim, era ela quem mais parecia se divertir com a situação.

– Você tava tão feliz com toda a história, dando tanta ênfase a esse beijo – a loira tentava explicar o motivo da graça ainda rindo. – Quero ver como vai contar agora que a minha saliva te curou e nos uniu!

– Ah, tá me zoando agora, é? – Cruzou os braços e levantou uma das sobrancelhas de forma desafiadora. – Vou comer todas as suas comidas favoritas bem na sua frente pra me vingar.

– Não, aí você tá pegando pesado. – Ela parou de rir na hora e a fisionomia mudou para uma de pânico total.

Todo mundo riu na mesma intensidade que antes só Adora ria.

– Sabe... – O homem mais velho interrompeu a graça. – Pode ter sido a lágrima também. Ela não estava chorando, Catra? E vocês encostaram o rosto um na outra. Acho, inclusive, que é muito mais provável ter sido a lágrima porque para ser a saliva teria que ser um beijo muito-

– Chega de falar do cuspe da Adora! – Glimmer aumentou o tom para interromper a fala do pai. – Eu quero tomar meu café da manhã em paz.

Antes que morressem totalmente, as risadas voltaram.

– Que exagero, Glimmer! Eu não cuspi em ninguém. – Adora, dessa vez, se fez de ofendida, mesmo que ainda estivesse sorrindo em meio à expressão sentida. – Eu concordo com o Micah que foram as lágrimas e essa é a verdade em que quero acreditar. Ponto.

– A verdade é que não importa, o ponto aqui é que sabemos como foi o pacto e nem precisamos recuperar as memórias horrendas do resto do nosso passado. – Catra vangloriou-se.

– Tá, mas se quiserem desfazer, ainda assim precisariam recuperar as memórias porque vocês precisam da origem de tudo, não só um recorte. – Micah foi cuidadoso ao esclarecer, provavelmente com medo de despertar a mesma instabilidade de quando tocou no assunto pela primeira vez.

– Não queremos desfazer, já decidimos. – A morena falou firme. Zero insegurança. – Aliás, é bom que tenha tocado no assunto. O que queremos tentar fazer é trazer a Adora de volta.

Glimmer olhou em completa dúvida tanto para a irmã quanto para a fantasma.

– Bom... Foi ideia dela, eu concordei porque... – Com as mãos para o alto em gesto de defesa, Adora tentava encontrar o que falar. – Porque podemos tentar mesmo, não é? Vai que existe um jeito...

– Isso é bem complexo, quase impossível, eu diria. – Micah, mais uma vez, disse em alerta.

Quase impossível já vale. – Catra indagou. – Vocês podem tentar ajudar então?

– Acho que... – Glimmer olhou para o pai buscando ajuda com o que ia falar. – Podemos ver quais possibilidades existem dentro da magia, quais recursos... Tem que ver também que Adora está há um tempo morta, não é tão fácil...

– Isso, Glimmer tem razão, filha. – Depois de acenar aprovando o que foi dito pela de cabelos lilás, o homem virou-se para a outra jovem. – Não vamos deixar de procurar uma alternativa, mas já fica ciente de que não é simples e você pode não ter a resposta que deseja.

Por Catra, já estava mais que decidido que pelo menos tentar já era alguma coisa. Queria muito isso, e iria defender sua vontade até o fim. Mas, quando olhou para Adora e a viu com um olhar meio receoso, lembrou-se que não dependia só dela.

– Tá tudo bem para você se tentarmos esse caminho, Adora? – Perguntou ternamente, já ficando de pé na frente dela para buscar suplicantemente seus olhos cianos.

– Aham. – Ela levantou o olhar cabisbaixo para fixar ao seu e um sorriso mais confiante substituiu a expressão preocupada quase que naturalmente. – Minha resposta ainda é sim, não mudou. Não precisa me olhar com essa cara de pidona.

Parece que tudo a sua volta tinha sumido e só tinha ela e aquele olhar hipnotizante, aquele sorriso que era a sua maior fraqueza. Ainda bem que Adora via sua reação inevitável de parecer uma boba apaixonada apenas como 'cara de pidona'.

– Ótimo – a palavra saiu entre um sorriso sincero.

O continho de fadas que só existia na sua cabeça foi logo cortado pela rotina, como sempre.

A parte boa era que Adora estaria em um ou em outro inevitavelmente. Então, qualquer alternativa, conto de fadas ou realidade, é favorável.

Alguns dias se passaram sem nenhuma novidade, o que não era lá uma grande surpresa. Catra e Adora não estavam esperando uma resposta imediata, sabiam da complexidade que Micah fez questão de reforçar em outras conversas.

Enquanto isso, foram tocando a vida normalmente, pelo menos Catra foi. Adora só a seguia, o que era crucial para suas pequenas alegrias da vida adulta. E nem era assim um sacrifício, pois ela também contribuía para o não tédio da vida de fantasma da amiga.

Inclusive, tinha até arrumado um bom programa para a sexta à noite.

Não exatamente arrumou. Foi mais uma intimação de Glimmer, que iria sair com o crush e queria apresenta-lo à Catra.

Mesmo se sentindo na obrigação depois de uma ameaça indireta, a mulher achou que poderia ser divertido. Seria legal também para ter novos ares. Além do mais, nesse mesmo dia completaria 5 meses que Adora tinha aparecido. Um belo momento para um friendate (que desejava que de friend não tivesse nada, mas não tinha o que fazer).

Decidiram também não introduzir Adora ao coitado por enquanto. Não parecia conveniente falar de uma fantasma no primeiro encontro com o suposto futuro cunhado.

Foi do trabalho para casa só para deixar a moto e depois voltar para a rua. Sim, de madrugada mesmo. Ela e Glimmer sempre foram bem noturnas na adolescência e esse horário era perfeitamente normal em seus cronogramas. Isso quando Catra tinha paciência para sair, algo raro nos dias atuais.

Hoje era exceção. Hoje não tinha cansaço que a impedisse de se divertir. Até se arrumou um pouco mais.

Eles escolheram ir em um lugar na cidade que juntava o melhor dos dois mundos: fliperamas e bebidas alcóolicas. Tudo lá remetia aos anos 90, essa era a temática. O balcão ficava na direção de um corredor cheio de máquinas com diferentes jogos. Essa estratégia era boa, deixar os recém alcoolizados perto da tentação que era as luzinhas coloridas e a músicas eletrônicas. Era assim que iam tirar o dinheiro de muita gente naquela noite, incluindo o dela, de sua irmã e do boy que não conhecia ainda.

Assim que chegou na porta, virou para a Adora para olhá-la de cima a baixo e abrir um sorriso debochado.

– Essa mesma roupa de sempre para o nosso encontro, Adora? – Logo começou a rir. – Pensei que fosse mudar um pouco pra hoje... Botar um vestido estilo Samara do Chamado, ou umas roupas ensanguentadas de espírito assassino.

– Nossa, Catra, sério... – A fantasma revirou os olhos e escondeu o sorriso o máximo que pôde. – Vamo entrar logo pra eu distrair minha atenção porque hoje já vi que a piada sem graça tá solta...

Catra imitou todos os movimentos da mais alta, inclusive a fala, exagerando no tom desafinado. Não podia fazer nada se era muito bom provocar essa doida.

Entrou no bar e logo avistou Glimmer sentada ao lado de um homem de cabelo curto castanho todo sorridente.

– Mana! Até que enfim! – A de cabelos lilás estava eufórica. – Olha, esse é Bow. Bow, essa é minha irmã, Catra.

– Prazer, Catra. – O homem de porte atlético e olhos pretos sorriu simpático depois que apertou sua mão.

– E aí, Bow! – A de cabelos castanhos respondeu com um aceno de cabeça acompanhado de um sorriso.

Catra já tinha se preparado psicologicamente para segurar vela a madrugada inteira.

Graças aos Deuses, não foi o que rolou. Na verdade, os três passaram boa parte do tempo jogando e apostando rodadas de bebidas, o que foi bem divertido. Os quatro, na verdade. Tentava incluir Adora secretamente em tudo, afinal, ela também podia se divertir mexendo alguns botões com a força da mente de fantasma dela.

Sem contar que via nela uma grande aliada para vencer todas as apostas. Ela só olhava para a loira e tudo ficava entendido. As duas sorriam maleficamente, Adora sabotava a máquina e fazia Catra ganhar muito mais fichas que o comum.

Glimmer ficava refém no meio disso tudo, já que jamais poderia indagar Adora no meio do seu date, ou ele acharia que ela era louca por falar com o nada. Catra só via vantagens na invisibilidade de sua amada para outras pessoas nessa ocasião em específico.

Houve um momento em que o casal enjoou dos jogos e foi sentar no balcão para conversar um pouco entre si. Enquanto isso, Catra continuava na saga de sabotar todos os recordes dos fliperamas que a loira ainda não tinha feito para ela. Pareciam duas crianças faceiras no paraíso. Talvez estivesse vivendo, ali, tudo o que lhes foi tirado durante suas longas fases de recuperação dos traumas.

Ela precisava fazer isso mais vezes mesmo, de preferência, quando Adora voltar a viver. Definitivamente elas teriam que revisitar esse lugar. A mais baixa estava esperançosa para isso.

– Ei, Gasparzinha! – Cochichava discreta, porém, visivelmente animada. – Essa aqui não zeramos ainda!

E lá ia a jovem assombração toda orgulhosa participar de suas trapaças.

Mais um Top 1 para Catra, mais um monte de ficha para trocar por mais bebidas.

– Eu tô amando conhecer esse seu lado infrator... – A morena alternava o olhar entre a outra e a máquina despejando infinitas fichas na sua direção.

– Sem vida, sem regras – Adora enchia a boca para falar orgulhosamente enquanto apoiava ambas as mãos na cintura numa pose heroica.

O melhor de tudo foi quando voltaram para o balcão e com o tanto de ficha conseguiram pagar mais umas 4 ou 5 rodadas para os 3 vivos. Bow tentou de todas as formas entender como isso tinha acontecido ao invés de acreditar na grande mentira que Catra dizia na cara de pau:

– É que eu sou muito boa nisso!

– É boa sim... – Glimmer resmungou. – Deve tá tendo ajuda de... Influências espirituais...

– Como assim? – O homem arregalou os olhos super expressivo.

As duas irmãs começaram a rir da reação, assim como a loira que só elas enxergavam naquele ambiente. Foi uma noite de risos frouxos, com toda a certeza.

Estavam precisando disso, principalmente a sua fantasminha camarada.

No final da madrugada, início da manhã, as mulheres vivas resolveram voltar andando para casa admirando o nascer do Sol no caminho.

Provavelmente não teriam topado essa loucura se não estivessem bêbadas. Ignoraram com prazer o conselho de Adora de pegar um táxi. O desejo relâmpago de Catra era caminhar abraçada com sua irmã postiça pegando ar fresco e recebendo os primeiros raios de Sol bem na cara.

Como sempre, Adora apenas acompanhou. Porém, parecia estar usufruindo bastante da caminhada também. Várias conversas pequenas, às vezes inúteis, às vezes engraçadas, surgiam, e isso fazia com que a alegria da noite não findasse.

Contudo, foi quando um silêncio confortável pairou no ar que uma vontade repentina de contar que dia era hoje para Adora se tornou o novo maior desejo de Catra.

– 'Dora... – Chamou com a voz um pouco arrastada. Seus olhos estavam pesados, mas se esforçava para mantê-los abertos só para admirar a beleza do espírito ao seu lado. – E aí? Gostou da noite?

– Aham! – Ela lançou aquele maldito olhar brilhante e lindo. – Queria estar bêbada assim, que nem vocês, mas tudo bem... Melhor sexta-feira até agora!

Estava tão concentrada em encará-la que foi praticamente puxada quando sua irmã, ainda abraçada, tropeçou e cambaleou para o lado.

– Gente, vocês vão cair antes de chegar em casa, eu aposto! – Agora Adora gargalhava do ziguezague que as outras duas faziam na calçada ao andar. – É melhor você se soltarem do abraço-

– Não! – A resposta de Glimmer e Catra foi uníssona.

Opa! Catra já estava se distraindo de novo e não tinha chegado ao ponto que queria desde o início.

– Sabia que hoje faz 5 meses que você apareceu pra mim, Adora? – A confissão acabou saindo do nada, mas, pelo menos, foi de coração.

– Sério? – A outra foi pega desprevenida e seu rosto ficou naquele tom rosado de novo, aquele que fantasmas não deveriam ter. – Você tá contando?

– Pra mim, todo e qualquer detalhe da gente é importante...

Annnnnnnw, mana! Que fofa! – Glimmer entra na conversa com um tom alto, afinado e desengonçado demais. Tudo culpa da bebida. – Você tá contando como se fosse um namorinho. Tá apaixonada, é?

– Pense o que quiser – Catra resmungou, deu de ombros e voltou a fitar Adora que parecia um tomate ambulante agora.

Podia começar a provocá-la dizendo que sabia que ela estava envergonhada. Podia brincar e dizer que desconfiava que existia uma reciprocidade estampada na cara de Adora. Porém, só olhar, por enquanto, fazia jus ao que sentia. Pensar que ela podia ser a causa dessa reação toda já era saboroso demais.

Continue Reading

You'll Also Like

171K 29.8K 47
Pipa escreve histórias sáficas. Ela não é uma escritora famosa, tão pouco profissional e é segredo de estado. Não que precise fazer muito além de fic...
827K 90.3K 51
Com ela eu caso, construo família, dispenso todas e morro casadão.
8.3K 667 4
[Conto lésbico] Dafina Corserey é uma jovem negra, lésbica e com impressionante talento para a matemática. Graças à sua genialidade, ela ganha uma bo...
2.7K 393 11
O leve chute a fez abrir os olhos, um sorriso cansado adornou seu rosto enquanto sua mão deslizava pela barriga em um gesto de carinho. - Nós vamos s...