—E depois eu disse: não! Eu não consigo ver diferença nenhuma entre esses cintos! — Reclamei no quarto enquanto Niall preparava um sanduíche na cozinha — Cara, sério, você tinha que ter visto o olhar que ele fez para mim!
—Ele deve ter ficado furioso!
—Furioso? Eu achei que a pele do meu rosto fosse derreter com o olhar que ele me deu! — Entrei na cozinha, terminando de vestir meu moletom cinza ali mesmo. Niall deu uma risada, me fazendo franzir o cenho — Para! Não tem graça!
—Claro que tem!
—Oras, ele não fica feliz a menos que todos entrem pânico, ou se suicidem! O que mais me irrita, é que todos veneram ele como se fosse um rei, ou algo do tipo!
—Isso é muito engraçado, desculpa! — Ele riu novamente, pondo vinho em uma taça e bebendo enquanto cozinhava — Ver o jeito como você fica por causa dele, é tão cômico!
—Cômico? Aquela gente age como se estivessem sendo curadas do câncer! Isso sim é cômico! — Bufei.
—Toma, você precisa mais do que eu! — Pegou a garrafa de vinho e me deu. Sentei-me na mesa redonda e branca em nossa cozinha e enchi um copo qualquer com o líquido escuro.
—E, sabe, o tempo e energia que eles gastam com coisas insignificantes.... Pra que isso? Pra amanhã eles poderem gastar trezentos mil dólares refazendo alguma coisa que, provavelmente, estava boa desde o começo, para vender para as pessoas coisas que elas não precisam! — Respirei fundo, bebendo quase todo o vinho de uma vez.
—Se acalme, Louis! Fiz esse sanduíche no capricho! — Pegou um misto quente com algo a mais dentro e colocou em um pratinho pequeno, dando-o em minhas mãos.
—Eu perdi a fome!
—O que? — Se virou, indignado.
—É por isso que todas aquelas pessoas ali são magras.... — Devolvi o prato, negando com a cabeça. Niall revirou os olhos, jogando um pano de pratos por cima do ombro.
—São quase oito dólares de queijo gastos aqui! Fala sério!
—Sabe o que estou pensando? — Perguntei. Niall mordeu o sanduíche, enquanto eu bebia mais um pouco de vinho — Só tenho que aguentar isso por um ano! Um ano! E depois posso fazer o que sempre sonhei aqui em NY.
—Louis, está bem, você tem que aguentar isso tudo, mas não deixe que Harry fique te humilhando.
—Não vou deixar! Ele mal perde por esperar, Niall!
—Ui, vai com calma, tigrinho!
Rimos. É, melhor rir do que chorar, nessa situação. E eu estava falando sério: Harry mal perde por esperar.
— X —
E, como sempre, a semana seguia a mesma. Todas as manhãs Harry passava pelas portas de vidro e jogava sua pasta, seu casaco, óculos de sol, e tudo que podia em cima de minha mesa.
Eu sempre lhe dava bom dia, mas ele apenas erguia uma sobrancelha para mim e seguia para sua sala, ordenando que eu fizesse mais um milhão de coisas para ele. Como por exemplo:
Buscar café, levar seu cachorro, que mais parecia um dinossauro, para passear, arrumar revistas em sua mesa quando ele estivesse fora, comprar seu almoço, entrar em contato com toda sua agenda, buscar fotos em agências, levar seu carro para arrumar o freio e, até mesmo, comprar sapatos para suas filhas.
Sim, ele tinha filhas. Gêmeas. Fruto de sua relação com sua ex-mulher. De acordo com minha fonte de notícias (Eleanor), eles se separaram porque Harry é, na verdade, bissexual, e a estava traindo com o atual "namorado", Nick.
Parece que a mídia não ficou sabendo dos detalhes de sua sexualidade, e muito menos de seu relacionamento com Nick, visto que, para todos de fora, eles eram apenas amigos de trabalho. Nem mesmo Eleanor sabe se essa é a verdadeira história, mas foi a que eu aceitei. Prefiro não ficar investigando muito.
Em uma noite fria de sexta-feira, eu já havia terminado meu trabalho. Harry havia pedido apenas que eu fizesse mais uma ligação, e eu logo desliguei o computador em minha mesa.
—Ainda bem que hoje é sexta, né? — Falei animado para Eleanor, que organizava uns documentos em pastas, me ignorando —Pelo menos Harry vai para Miami hoje, não vai ficar nos ligando de final de semana!
—Uhum.... — Respondeu, erguendo ambas as sobrancelhas.
—Sabe, minha mãe está vindo de Londres.... Nós vamos sair para jantar, talvez vamos assistir a um musical chamado "Chicago". — Eu contava, não conseguindo segurar meu entusiasmo — Você vai fazer algo legal esse final de semana?
—Vou!
Foi o que ela disse, antes de se retirar do escritório com os documentos em mãos.
Revirei os olhos e me levantei para pegar meu casaco no armário.
—Onde está meu casaco? — Ouvi a voz grossa de Harry e me virei. Ele usava um óculo preto quadrado no rosto, mas logo o tirou, olhando ao redor a procura do casaco.
—Ahm.... Está aqui! — Peguei seu casaco vermelho e comprido no armário, juntamente com sua pasta.
—Por que você é tão lento? — Perguntou, logo quando lhe entreguei suas posses.
—Bem, eu....
—Tenho um avião para pegar, com licença! — Vestiu o casaco, pegou sua pasta e saiu da sala.
Como eu odeio você!
— X —
—É, bem que Niall disse que esse restaurante é bom! — Comentei, enquanto minha mãe sorria para mim — Na verdade, ele começou trabalhando aqui, mas eles estavam procurando alguém com mais experiência.
—Pegue.... — Minha mãe estendeu o braço, segurando um cheque em mãos.
Bem, Jay, vulgo minha figura materna, sempre foi um amor comigo e com meus irmãos. Ela sempre se preocupou muito com o bem-estar de todos nós. Chegava até a ser um pouco estressante quando eu era mais novo, lá pelos meus dezoito anos, ela ainda me tratava como um bebê. Mas, é a vida, mães são assim.
—Mãe, eu.... Eu não posso aceitar! Falei que iria viver somente dos meus custos agora!
—Lou, não quero ver você dependendo de ninguém e, pelo que me falou, esse seu trabalho parece ser um inferno! Vamos, aceite.
—Bem, eu.... — Seus olhos grandes e azuis, assim como os meus, brilhavam para mim. Oras, não tem como negar algo dessa maneira — Está bem... obrigado!
—É tão bom ver você, filho! Me orgulho tanto! — Ela dizia, pegando em minha mão. Eu sorri, ficando até um pouco corado.
—Senti saudades....
—Você faz tanta falta lá em casa.... Mas sei que vai se dar muito bem aqui, e vai ser o que sempre sonhou! Meu Louis nunca desiste de seus sonhos!
—Vai começar a me fazer ficar sentimental agora, ou acha melhor esperar até depois do jantar? — Falei, fazendo-a rir.
—Eu acho melhor você aproveitar esses petiscos de queijo primeiro.... — Pegou um palito, ficando o mesmo em um pedaço de queijo.
—Não, tudo bem. Pode começar....
—Eu e seu pai só estamos preocupados, querido. Você entra em contato conosco por e-mail apenas depois da uma da manhã, seu salário não parece ser bom, e você não está.... Bem, escrevendo nada. Esse era seu plano, né?
—Ei, isso não é justo.... Eu escrevo e-mails! — Brinquei, mas minha mãe continuou séria.
—Louis, eu só estou tentando entender porque alguém que foi aceito na faculdade de Reading se submete a isso para ser jornalista, e agora nem ao menos está fazendo isso.
—Mãe, você tem que confiar em mim! — Pedi, enquanto ela me analisava — Me tornar assistente do Harry me abrirá muitas portas! Veja bem, Eleanor vai para Paris com Harry em alguns meses, e ela irá conhecer editores e escritores de todas as revistas importantes! E.... Em um ano, poderei ser eu!
Minha mãe continuava me analisando, séria. Deu um gole na água que estava próxima ao vaso de flores no centro da pequena mesa no restaurante, e fez sinal de aceitação com a cabeça.
—Bem, se esse é seu objetivo....
—Eu juro, esse é meu objetivo! Essa é minha.... Minha chance, e... — Eu dizia, quando o "meu" celular começou a tocar. Era Harry — Er.... Desculpe, eu tenho que atender!
—Sem problemas...
—Alô, Harry?
—Meu voo foi cancelado! — Ele reclamou do outro lado — Parece que deu algum problema absurdo com o tempo aqui em Miami! Eu PRECISO estar em casa essa noite!
—Harry, eu....
—Minhas filhas tem um recital amanhã de manhã na escola, e eu me esqueci completamente! Eu quero que você consiga um voo para mim, urgentemente!
—Já ligou para Eleanor?
—Não.
—Por que não?
—Pare de perder tempo com suas perguntas ridículas e faça o que mandei!
E, assim, ele desligou.
—Ah, que ótimo! — Exclamei, batendo na mesa.
—O que houve?
—Preciso arranjar um vôo para meu chefe! — Peguei meu outro celular, buscando por todos os contatos de aeroportos possíveis no Google. Quando encontrei, liguei como se estivesse pedindo uma ambulância — Oi! Eu sei que está em cima da hora, mas eu gostaria de saber se vocês conseguem um vôo para meu chefe...
—Louis, isso é loucura! — Minha mãe disse, enquanto eu suava com o celular em mãos. Pedi para que ela esperasse eu terminar a ligação.
—É, qualquer tipo de jatinho! O que? Não é possível? E se eu te disser que meu chefe é Harry Styles? — A atendente desligou, me deixando cada vez mais puto — Droga! Mãe, temos que ir embora, meu emprego depende disso!
—Mas filho, e....
—Vem! — A puxei pelo braço. Como não havíamos comido nada além dos petiscos (que eram de graça), saímos do restaurante às pressas.
O tempo estava realmente horrível. Uma tempestade estava caindo, mas eu e minha mãe ficamos embaixo do toldo até que um táxi resolvesse parar ao meu sinal.
Entramos no carro amarelo, e eu tremia com o celular em mãos.
—Qual o destino?
—O aeroporto central! — Pedi, e o motorista pareceu perceber meu desespero, saindo em disparada
Minha mãe me olhava apreensiva.
—Alô? Oi, será que existe algum voo disponível de Miami para NY hoje? Não? Nenhum jatinho qualquer? Ok, obrigado!
—Louis, se acalme! — Minha mãe dizia.
—Não consigo! Meu Deus, ele vai arrancar minha cabeça fora! — Disquei outro número — Alô? Estou tentando conseguir um voo de Miami para NY esta noite... sim, eu sei que está tendo um.... Um furacão? Eu achei que era só uma chuva! Como assim ninguém está voando hoje? É para Harry Styles, e eu sei que ele é cliente de vocês! Tá bom, obrigado!
Eu tateava a tela do celular em busca de qualquer coisa. Cheguei até ao ponto de ligar para uma pizzaria sem querer. Porém, não havia conseguido nada.
O táxi nos deixou em frente ao aeroporto central, mas ele estava fechado.
—Puta merda! — Xinguei. Minha mãe me deu uma cotovelada, e eu estava prestes a chorar.
Foi quando "meu" celular começou a tocar novamente.
—Harry? Oi... eu estou tentando conseguir um voo, mas ninguém quer decolar por causa do mau tempo aí!
—Ah, por favor.... São apenas.... Chuviscos! — Ele disse, e eu ouvi o som de um trovão do outro lado da linha, me fazendo arregalar os olhos — Ligue para Donatella, pegue o jatinho dela!
—M-Mas, Harry, eu não...
—Ligue pra todo mundo! Isso é responsabilidade sua, é seu trabalho! — Aumentou o tom de voz no telefone. Eu já conseguia ver a morte chegar — Apenas me leve para casa!
—Ai meu Deus! Ele vai me matar! — Desliguei o celular, quase chorando nos braços da minha mãe, mas me segurei.
—O que ele quer que você faça? Que ligue para a Guarda Nacional e peça para decolarem o jato deles?
—Oras, claro que não! — Respondi secamente — Espera, dá para fazer isso?
—Deixei isso! Vamos ver o musical de Chicago! Estamos bem perto! — Ela disse, puxando meu braço.
—Droga! Por que ele não ligou para Eleanor? Ela conhece mais gente do que eu! — Bufei, andando cabisbaixo ao lado de Jay.
—Porque ele quis que VOCÊ fizesse isso.... Trabalhos funcionam assim, bem-vindo ao mundo profissional!
Eu concordei e cedi. Fui ver o musical com minha mãe, porém, com a certeza de que iria levar uma surra verbal na manhã seguinte.
— X —
—Sabe, William, o recital das minhas filhas foi absolutamente maravilhoso ontem! — Ele dizia na minha frente, de braços cruzados, quase sentado em sua mesa de vidro — Todos amaram.... Menos eu! Sabe por que? Porque eu não estava lá!
Ele travou o maxilar enquanto praticamente queimava minha alma com seu olhar. Eu mantinha a cabeça abaixada, com medo de encará-lo por muito tempo.
—Harry, eu.... Me desculpe.
—Calado. Você sabe por que te contratei?
Neguei com a cabeça, e ele descruzou os braços, colocando as mãos no bolso da calça jeans preta que vestia.
—Eu sempre contrato o mesmo tipo de pessoa.... Elegante, magra, que gostam da revisa.... Mas com o tempo, elas se tornaram decepcionantes e estúpidas. — Ergueu uma sobrancelha, indo em direção à sua cadeira e se sentando na mesma, anda me olhando — E, então, você aparece com aquele currículo impressionante e com um discurso meio ridículo, porém, convincente.
—Obrigado, eu...
—Ainda não terminei. — Me cortou, relaxando na cadeira preta — William, eu achei que você seria diferente. Eu disse a mim mesmo: vá em frente! Corra o risco! Contrate o garoto inteligente e brega! Sabe.... Eu tinha esperanças. Você me decepcionou muito, mais do que todos os babacas que já passaram por aqui!
Eu ergui a cabeça, com vontade de chorar. Certamente as lágrimas já jaziam em meus olhos, mas eu as engoli, ainda sem coragem para olhar em seu rosto.
—E-Eu fiz tudo que pude...
—Isso é tudo, já pode sair.
Com suas últimas palavras, eu saí de sua sala. Completamente derrotado, com lágrimas escorrendo pela face. Eu preferiria ser demitido do que ter sido machucado dessa maneira.
Se tem uma coisa que eu odeio, é decepcionar pessoas. Ainda mais alguém importante como ele.
Corri desesperado para a sala de trabalho de Liam. Sim, que ato infantil, eu estava indo chorar com um dos meus amigos. A que ponto cheguei.
Passei por sua sala de vidro e logo entrei. Ele estava desenhando algo para a capa, e me olhou por cima da lente que usava em um olho só, para poder enxergar os detalhes de seu trabalho.
—Ele me odeia, Liam!
—E isso é meu problema porque.... Ah, não é meu problema! — Sorriu e voltou a atenção para seu trabalho. Liam é sincero, e isso não está sendo muito bom no momento.
—Eu não sei mais o que fazer! Se faço algo bom, ele ignora! Mas, se eu fizer algo de errado.... Ele é cruel!
—Então se demita.
—O que? Me demitir?
—Consigo outra pessoa para ficar em seu lugar em cinco minutos.... — Levantou a cabeça, parecendo me dar atenção agora.
—Não! Eu não quero me demitir, isso não é justo! Eu só gostaria de, sei lá, ter um pouco mais de reconhecimento pelo que estou fazendo! Liam, eu estou me matando aqui!
—Ah, por favor! Você não está tentando! — Ele disse, com tom de deboche — Você está chorando! O que você esperava que eu fosse te dizer, hein? "Tadinho! Harry está sendo cruel, pobre Louis! " Acorda, ele só está fazendo o trabalho dele.
Bem, o que Liam dizia doía, e muito, porém, era a verdade. Eu não estava me esforçando, estava chorando, me deprimindo, e deixando que me colocassem no fundo do poço.
—Louis.... Você não se deu conta de que está trabalhando no lugar que se publicam alguns dos melhores artistas do século? Você acha que isso é apenas uma revista? — Pegou uma Runway que estava em cima de seu balcão e jogou-a para mim — Isso aqui é uma luz de esperança para, bem, não sei...talvez um garoto que ia pra aula de futebol quando, na verdade, ia para a aula de costura.
—É.... Nunca havia pensado nisso... — Comentei, pondo a revista de volta no lugar.
—Viu só? Tantas lendas passaram por esses corredores, e você nem se importa! Porque nesse lugar, no qual muitas pessoas morreriam para trabalhar, você está chorando ao invés de viver o sonho delas!
Sim, Liam estava cada vez mais certo. Eu não dou a mínima para esse trabalho e, só agora, a ficha caiu de que eu tenho o trabalho dos sonhos de muita gente, e não dou valor a isso.
—E você espera que ele dê uma estrelinha dourada por seu trabalho feito, no fim do dia.... Louis, acorda! — Bateu com o lápis em minha testa, me fazendo franzir o cenho.
—Ok, então.... Eu estou estragando tudo.
—Certamente. — Dizia, voltando a se concentrar em seu trabalho.
—Eu não quero estragar tudo.... Eu apenas gostaria de saber o que eu poderia fazer para....
Foi quando uma ideia iluminou minha mente, e eu sorrio. Liam me analisou com dúvida.
—Liam, Liam.... — O chamei com voz manhosa. Ele revirou os olhos, bufando.
—Ah, não. De jeito nenhum!
—Por favor! Eu preciso me libertar desses trapos que eu visto! Assim, quem sabe, as pessoas vão parar de me olhar estranho nesse lugar!
—Louis.... Ah, que merda! — Respirou fundo, se levantando da mesa — Vem comigo, vou ver o que posso fazer para te salvar!