NEPTUNE • jjk x pjm

By vantepeach

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Quando criança, Jimin fez uma promessa para Jungkook dizendo que algum dia, independente do quanto demorasse... More

Prólogo
one! his fluffy cheeks
two! my heart recognizes you
three! take my hand and take me somewhere
four! in room 505 it all started
five! brocolis pizza
six! lost in the crowd
seven! when i heard your name
eight! it hurts me when it hurts you
nine! losing my religion
ten! losing me not to lose you
eleven! in your sea i drown
twelve! pitch black, pale blue
thirteen! give me your sweet tragic words
fourteen! drizzle that hurts
fifteen! cherry lips
sixteen! your taste is bittersweet
seventeen! reactive signals
eighteen! blue vodka, cucumbers and your smell
nineteen! tell me the truth as the world collapses
twenty! daisies, doja cat and wet kisses
aviso!!!
twenty one! take me to church
twenty two! take me to your best friend's house
twenty three! sunflower theory
twenty four! curse me, lose me, fuck me
twenty five! you should see me begging
twenty seven! take me home where i belong
twenty eight! everything is blue
twenty nine! stuck in us forever
thirty! the dog days are over
thirty one! invincible
thirty two! look for neptune with me
thirty three! when the party's over
thirty four! please you stay alive
thirty five! what diamonds can't show
thirty six! doing something unholy
thirty seven! i wanna love you
thirty eight! it has always been you
thirty nine! we keep this love in a photograph

twenty six! see the horizon from the top

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By vantepeach

De manhã, antes mesmo do despertador tocar, Jimin se levantou com cuidado, caminhando com as pontas dos pés. Não queria acordar Jungkook de forma alguma tendo em vista o sono gostoso que ele dormia enquanto permanecia todo embolado naquele edredom macio.

As bochechas amassadas no travesseiro faziam com que a brutalidade que ele usou para agarra-lo na noite anterior parecesse coisa de outro mundo.

Mas que Jungkook possuía uma dualidade inacreditável todos já sabiam.

O garoto de cabelos azulados caminhou até a mesa da cozinha, parando para pensar como faria um café da manhã especial se sua geladeira só tinha besteiras e seus armários uma porção gigantesca de industrializados. Xingou mentalmente, encontrando no armário uma frigideira limpa.

Jimin resolveu que tentaria fazer ovos mexidos, mas acabou socando a frigideira na pia sem querer, estrondando um barulho extremamente agudo. A careta que se formou em seu rosto só não foi pior que sua sessão de xingamentos:

— Puta que pariu do caralho! Inferno! — E só depois de praguejar alto, se tocou que não podia fazer barulho.

Por sorte Jeon ainda estava no milésimo sono, e dormia pesado, finalmente tranquilo.

Sem saber o que fazer naquele momento, Jimin pensou em ligar para Taehyung, mas o garoto provavelmente não teria muito para acrescentar sobre cozinha e receitas. Foi aí que Park resolveu apelar. Por sorte, alguns dias antes, havia trocado números com San, afinal se preocupava com o bem estar de Jungkook e o garoto estava sempre por perto naquele trabalho horrendo.

Não pensou duas vezes antes de retornar por todo o caminho tortuoso de atravessar o apartamento na ponta dos pés para não acordar o mais novo, alcançando a maçaneta para se refugiar no corredor longo.

Só que, enquanto buscava pelo contato de San em seu celular, Jimin percebeu uma segunda presença ali. Foi erguendo a cabeça lentamente, curioso, se deparando com o vizinho de apartamento andando tão devagar quanto ele, encarando-o todo incrédulo. Talvez ele realmente tivesse ouvido a gritaria da noite anterior. Park quis rir. Rir não, gargalhar.

E ele ia fazer o que? Era um escandaloso na cama mesmo, e Jungkook, para variar, gemia gostoso.

Pediu desculpas mentalmente, vermelho por segurar o riso enquanto se encaravam daquela forma ridícula. E atrevido como sempre foi, arriscou:

— Bom dia, tudo bem?

E o homem, mesmo com aquela cara mau humorada, passava um ar engraçado e nada grosseiro, mesmo quando respondeu:

— Bom dia pra quem?

— Pra mim, com certeza.

— A noite foi boa, né? — O homem se atreveu a dizer, movendo a cabeça de um lado para o outro em desaprovação, mas ao mesmo tempo também parecia querer rir. — Descanse, pelo amor de deus.

Quando saiu por completo, Jimin tapou a boca com a mão livre e riu num misto de vergonha e incredulidade que precisou até mesmo se agachar no chão frio. Estava se sentindo tão vivo, tão fora de sua realidade e tudo parecia tão leve e tranquilo que seus lábios estavam se curvando para os ares. Só sabia sorrir. Era esse o efeito Jungkook.

Por isso ligou de uma só vez para San, queria que seu garoto acordasse com uma surpresa daquelas.

Porém, ao realizar tal ação, jogou para o quinto dos infernos o fato de que o relógio ainda marcava sete da manhã. San, ao atender, foi direto:

Mas que porra? — Sua voz parecia extremamente rouca, ainda estava dormindo. — O que foi? Quem é? Eu já paguei a merda da conta de luz.

E como nada abalaria Park naquele dia, ele respondeu animado:

— Eu e Jungkook transamos!

Santa mãe de deus misericordioso.

— Virou crente?

Não, só estou chocado. E como foi? — San até tentou perguntar, mas então se tocou de que aquela informação era totalmente desnecessária, principalmente às sete da manhã, então complementou: — Espera, por que diabos está me contando isso, Jimin? Olha a hora!

— Porque... Ah, porque...

Você está vendo como minha voz está parecendo a de um fumante? — Ele soltou, do nada. — Parece que fumei cinco maços de Marlboro mas na verdade só acabei de acordar. Ou melhor, fui acordado. Agora me diz, Jimin! Por que está me ligando pra isso?

— Realmente, sua voz parece a de um fumante.

Mantenha o foco por favor?

— Tá. Eu te liguei para saber se pode me ajudar com alguma receita, afinal meus amigos são meio terríveis na cozinha. Só que aí fiquei tão eufórico que precisei te contar sobre nossa transa, porque porra! Jungkook fode muito gostoso, você não está ent...

Não quero saber! — Gritou brincando, finalmente se sentando na cama, entendendo o rumo daquela conversa. — Você quer fazer um café da manhã para ele, é isso?

— Sim! Surpresa. Um café da manhã surpresa.

Jungkook é uma formiguinha, ele adora doces. Tem algo gostoso aí?

— Hum, acho que não... Mas eu posso descer na padaria e comprar uns donuts!

Certo, certo. Tem ovos?

— Tenho dois — num humor inabalável, Jimin respondeu caçoando malicioso.

Sete da manhã, Park.

— Ok. — Ele riu baixo, encostando a cabeça na parede, completamente alheio à tudo. — Tenho.

Faça mexido, ele gosta e é algo fácil de fazer.

— Certo! E o que mais?

Mais ainda? A gente come pão amanhecido de dois dias atrás...

Com isso sim Jimin se sentiu mal, percebendo a diferença escancarada entre as classes sociais. Por isso, entretanto, resolveu ir ainda mais além. Fazer ainda mais pelo garoto dos olhos brilhantes que o esperava todo embolado em sua cama.

E nesses segundos de silêncio, San resolveu finalmente perguntar, afinal aquilo estava subindo feito um bolo de preocupação por sua garganta:

Jimin... Você foi cuidadoso com ele?

— Cuidadoso?

Sim. Gentil, respeitoso. Você o tratou bem, não é? Ele passa por situações degradantes todos os dias, tanto desrespeito, tanta humilhação...— O clima pareceu mudar um pouco, mas era um assunto necessário perante às circunstâncias. — Eu só quero saber se ele gostou. Pela primeira vez.

— Foi incrível, Sannie. — Jimin respondeu baixo, compreendendo o peso de tudo.

Então fico feliz. Pelos dois, Jimin. Por ele e por você.

— Obrigado. Muito obrigado.

O garoto se sentia cada vez mais cercado por pessoas incríveis ao seu redor, pessoas que realmente se preocupavam e demonstravam apoio.

Naquele momento ele simplesmente soltou todo o peso do mundo em uma respirada funda, sorrindo com o coração leve.

Compre ou faça suco de laranja, Jimin. Soque vitamina nesse menino, ele precisa. — Os dois sorriram baixo, e Park assentiu.

Após agradecer e dizer mais algumas besteiras irrelevantes, ele finalmente voltou ao apartamento, checou se Jungkook ainda dormia e procurou pela carteira esquecida no banheiro.

Só se preocupou em vestir uma camiseta mais decente e calçar o primeiro par de chinelos que encontrou, a bermuda vergonhosa de pijama pouco importou.

Foi então que ele correu, sorridente, e voou e voou pelos corredores como se estivesse em uma missão. Deu bom dia para todos ao redor, cumprimentou o porteiro e reencontrou o vizinho do apartamento ao lado, acenando com a mão direita como se fossem grandes amigos. O homem apenas revirou os olhos e fingiu ignorar, mas acabou soltando um riso pequeno ao entrar no carro.

É que Park Jimin era inacreditável. Um safado inacreditável, isso sim.

Quando entrou na cafeteria próxima ao prédio, não hesitou em comprar pães, donuts mistos com morango e chocolate, dois copos com chocolate quente e barrinhas de cereal. Ia dar um jeito de enfia-las nas coisas de Jungkook para que ele comesse no trabalho, afinal eram pequenas, fáceis e nutritivas. Pagou tudo, saindo e voltando com tanta rapidez que em sua cabeça fantasiava o próprio Barry Allen correndo pelas ruas de Seul.

E Jeon... Ah, continuava naquele sono gostoso.

Jimin rapidamente montou a mesa com o que tinha comprado, se preparando para a batalha que seria preparar os ovos mexidos.

Quando a frigideira já estava espirrando para todos os lados, entretanto, dramatizou porque os ovos estavam virando uma bagunça, mas ainda restava uma esperança. Xingou, riu de si mesmo e precisou se contentar com o resultado final.

Não estava ruim, só estava feio, mas que se dane, ele ia comer com a boca e não com os olhos.

Depois de tudo pronto, Park caminhou com cuidado até a cama, engatinhando até o garoto com o tronco despido, admirando a forma como suas costas estavam bonitas com todos aqueles músculos marcando enquanto o edredom era deixado de lado.

Deslizou o dedo indicador por toda a base da coluna, subindo enquanto o corpo se contraía devagar. Ele sorriu, Jungkook era todo sensível, principalmente quando o toque vinha morno e calmo.

Sonolento, Jeon abriu os olhos, mas ainda estava de costas para o mais velho, então aproveitou para processar tudo que havia acontecido na noite passada. Espreguiçou-se, e imediatamente sorriu.

— Vira para mim, vira. — Jimin pediu baixinho em seu ouvido, com o corpo colado no seu. Jungkook sentiu todo o nervosismo típico de adolescente tomando conta do seu corpo, principalmente quando ouviu a voz doce dizer: — Bom dia, amor.

Finalmente acordou em paz. Em um lugar bom, sem dores — com exceção daquela dorzinha gostosa que o fazia lembrar tudo que havia feito — e com o emocional estabilizado. Acordou em uma cama comum, e não num beco desleixado depois de ter cheirado pó e se entupido de álcool.

Acordou com carinho, sentindo a palma quente de Jimin se firmando em sua cintura, ajudando-o a se virar de frente.

E quando os olhares se encontraram...

Tudo exatamente como tinha que ser. Era pura armação do universo unindo tudo no tempo certo porque se continuassem daquela forma anterior provavelmente não aguentariam. Entretanto, naquele exato momento, bem ali, sabiam que nada mais seria como antes.

Que todos os perrengues antigos continuariam, mas que não estavam mais sozinhos. Jungkook sorriu tão tranquilo quando viu Jimin de pertinho que sua destra automaticamente rumou em direção à sua nuca, e seus dedos se enroscaram nos fios soltos.

Sorriu por dentro sentindo vergonha de beija-lo porque nem tinha escovado os dentes ainda, mas Park pouco se importou quando beijou sua boca com um selinho gostoso.

Oras, e por que se importaria? Passou anos da sua infância sentindo bafinho matinal daquele moleque.

— Hyung! Não...— O mais novo até tentou relutar, rindo enquanto recebia uma série de beijos por todo o rosto, entrelaçando a mão livre pela cintura de Jimin, abraçando-o.

— Ficou louco, é? Vai negar meu carinho, seu tratante? Fiz até café da manhã pra você...

Observando aquele bico lindo se formando nos lábios grossos, Jungkook respondeu:

— Fez, é?

— Fiz sim. Quase explodi a cozinha tentando fazer ovos mexidos e você nem se mexeu. Dormiu feito pedra.

— Sua cama é uma delícia. — Justificou-se. — Olha, eu nunca ganhei café da manhã assim.

— Então acho que vai gostar. — Park sorriu, beijou novamente sua boca e concluiu por fim: — Vá escovar os dentes, Jeon.

— Jimin-ssi! — Feito uma criança birrenta, ele se debateu agitado, tentando segurar o riso. — Não mandei você vir aqui me beijar logo cedo!

— E eu por acaso resisto? Você é a coisinha mais linda desse mundo. — Os dois sorriram em uníssono, e antes de seguir para a cozinha novamente, Jimin apertou as bochechas do maior até formar um bico, beijando-o novamente.

Quase gargalhou com a reação de Jungkook, o garoto estava tentando entender por qual motivo Park continuava lhe beijando mesmo depois de pedir que escovasse os dentes. E poxa, era tão simples. Jimin queria que ele entendesse de uma vez por todas que, independente de qualquer coisinha da sua vida, por maior que fosse — como os programas que fazia — ou um simples hálito nada fresco de manhã, jamais sentiria nojo de quem ele era.

Sentia muito orgulho, isso sim. Seu garoto passou por tanto em todos aqueles anos e o mínimo que podia fazer era grudar seu corpo no dele de uma vez por todas impedindo que alguém os separasse novamente.

E apreensivo como era, questionou:

— Jungkook? Está tudo bem? Você... Hum, é...

— Diz, hyung.

— Você... gostou de ontem?

Jeon, sereno, sorriu todo leve deitado naquela cama enquanto seu cabelo se perdia pelo travesseiro. Gostou de receber aquele tipo de preocupação, por isso assentiu, dizendo baixinho:

— Foi incrível.

E nem deu tempo de Jimin deixar aquele sorriso bonito escapar e se unir ao dele, afinal o garoto grunhiu de dor ao tentar se sentar na cama e ele acabou arregalando os olhos em preocupação, depois riu, e riu tanto que gargalhou.

— Cacete, Jungkook!

— Bota cacete nisso! — Dramatizou fingindo uma raiva inexistente. — Eu não vou conseguir andar hoje, filho da puta!

— Quem diria, não é? — O mais velho provocou, se aproximando novamente. — Park Jimin, o gostoso que soca homens e dança escondido por aí deixando um cara na cadeira de rodas depois de uma foda.

— Vai ficar brincando?

— Vou sim. Sabia que já me disseram que meu pau é pequeno só porque não sou tão alto? — Jungkook quis rir do tom ameaçador do mais velho, ele ficava incrivelmente adorável quando se irritava daquela forma, mas esse meio sorriso deu outra impressão e Jimin acabou dizendo: — Está rindo do que? Olhe bem o que vai falar, Jungkook...

— Mas eu nem disse nada! — Todas as tentativas de segurar o riso falharam, então ele simplesmente grudou em Jimin e espalhou beijos por todo o seu rosto.

Ficaram nesse clima gostoso por longos minutos, em seguida tomaram café e os ovos nem estavam tão terríveis assim. Jeon fantasiou em sua cabeça tudo aquilo se tornando rotina, e o quão bom seria.

Imaginou-se acordando todos os dias ao lado de Jimin, caçoando dos seus dotes culinários, beijando-o na cozinha e também nos corredores do prédio. Ele o acompanharia até a faculdade, e o esperaria entrar para finalmente acenar de longe e sorrir apaixonado em frente à todos do campus. Sairia caminhando como se a vida fosse fácil, e na volta passaria na padaria para comprar o doce favorito de Jimin.

Essas cenas perambularam por sua cabeça enquanto o menor tagarelava, mas não se sentiu mal por não estar prestando atenção. Sentiu-se feliz. Feliz por ter a chance de reencontra-lo, de assistir de perto a forma como seu sorriso se abria e seus olhos sumiam enquanto contava sobre as coisas mais aleatórias possíveis. Amava tanto Park Jimin.

E em meio à tantos pensamentos, ouviu:

— E a segunda parte da fofoca é que Taehyung está caidinho pelo Hobi hyung, mas ao mesmo tempo virou um sonso que trava na frente dele. — Park contou todo sério enquanto mordia um donut rapidamente, quase socando o doce inteiro na boca de Jungkook depois de dizer: — Toma, prova.

— Que romântico. — Foi o que ele respondeu, engasgado.

— Ele fica me mandando mensagens perguntando o que fazer ou dizer para o Hoseok, parece até adolescente virgem!

— Eu já respondo, calma aí — avisou de boca cheia, segurando o riso — você enfiou cinco quilos de comida na minha boca.

E sorrindo finalmente se acalmando, Park respirou fundo, encarando-o, questionando à seguir:

— Desculpa, eu me exaltei. Está gostoso?

— Muito, Ximin-ssi. — O mais velho riu da pronúncia engraçada por causa da comida, levando o polegar até a bochecha de Jungkook, deixando um carinho gostoso ali.

— Comprei umas barrinhas de cereal pra você levar também.

— É simples, Jimin-ah. Taehyung está com medo de se relacionar novamente porque perdeu seu grande amor tragicamente. Hoseok será compreensivo, tenho certeza. Deixe ele surtar, se apaixonar de novo, agir inconsequentemente, ele merece. Agora me passa a água, estou entalado.

— Aqui. — Jimin sorriu, entregando a jarra cheia e um copo limpo. — Você tem razão. Queria ser mais compreensivo às vezes, sabe? Assim como você. É que normalmente eu fico afobado, ansioso, e aí acabo sem entender o real significado das coisas.

— E eu aprendi a gostar de ti exatamente assim.

Após a confissão do mais novo, Jimin perdeu seus olhos naquela constelação tão imensa, piscando lentamente enquanto admirava o quão bonito Jeon era logo cedo, todo natural.

E aí, percebendo que não havia mais saída e que faria de tudo por ele, sentiu as mãos se tornando gélidas embaixo da mesa quando finalmente se preparou para dizer:

— Jungkook... Será que você...— Pausou, sentindo a insegurança crescendo. — Bem, será que você...

— Eu...?

— Você quer sair comigo? — E então soltou de uma vez, agitado, sentindo o fervor dentro do corpo.

Nem poderia caçoar de Taehyung e Hoseok. Com Jungkook, sentia-se um garoto inexperiente.

— Sair, hyung?

— Sim, sair. Um encontro. Fazer coisas de gente apaixonada, sabe? Aquelas besteiras e tal. Você quer? Quer ir a um encontro comigo, Jungkook?

Sem conseguir encontrar uma resposta coerente, Jeon deixou que seus lábios exibissem aquele sorriso tão sincero, assentindo meio desajeitado, tímido.

Como podia ser daquele jeito? Fazer tantas coisas sujas em uma noite e simplesmente travar com algumas atitudes no outro dia? Seu corpo todo estava em êxtase, a felicidade não cabia no peito.

Saiu com Jimin quando ainda era chamado de Junghyun, comeram e se divertiram. Tiveram encontros casuais no apartamento recentemente também, mas ali, naquele momento, era diferente.

Era finalmente Jungkook, o Jungkook que o fez suspirar na noite anterior, e que estava cada vez mais envolvido em tudo aquilo. Já era tão tarde para fugir e precisava aceitar: um encontro decente com Park Jimin era o que faltava para cair de uma vez.

— Quando você tem um tempinho, hm?

— Bem...— O garoto parou para pensar, confuso com os acontecimentos dos últimos dias. — Eu preciso ir à boate, hyung... Jongin deve estar furioso.

— Aquele dinheiro que eu te dei...

Jungkook não quis deixá-lo terminar a frase, acabaria se sentindo constrangido, então rapidamente cortou sua fala ao dizer:

— Ajudou muito. Está tudo bem.

— Você sabe que pode me dizer quando estiver precisando de algo, não sabe?

— Podemos pular essa conversa? — Não era seu intuito causar algum atrito, mas gostaria de se sentir um homem comum, aproveitando um dia completamente normal ao lado de alguém que amava. Ele só queria esquecer toda aquela sujeira por pelo menos algumas horas. — Não quero pensar nisso e...

— Jungkook, eu me preocupo com você.

— Eu sei.

— Sou louco por ti, sabe disso, e é por isso que fico ansioso assim. — Jimin confessou, não queria ser mal interpretado. — Fico preocupado pensando que talvez você possa ter consequências sérias na boate por causa dos nossos encontros...

— Jongin só liga para dinheiro, Jimin. Enquanto eu encher o rabo dele de grana, nenhum problema. Quando não vou, se pagar minha parte no outro dia, ele no máximo faz uma ceninha repugnante.

Park assentiu, prestando toda a atenção possível porque aquele era um problema que rondava sua cabeça inúmeras vezes ao dia.

E diante de tudo aquilo que os cercava, imediatamente se lembrou da sua maior insegurança do momento. Ela tinha nome, sobrenome e muitos zeros na conta bancária.

— Jungkook, e...— Pausou, receoso. — E aquele cara?

— Peter? — Ele disse fácil, queria que o mais velho percebesse que aquele assunto já estava encerrado.

— Sim...

— Eu não vou aceitar a proposta, já disse. Se ele quiser continuar me vendo, tudo bem, é meu trabalho. — Park pigarreou, assentindo, queria demonstrar apoio por mais que aquilo mastigasse e cuspisse seu coração por dentro. — Enquanto ele demonstrar interesse, Jongin ficará pianinho.

Como resposta, Jimin se levantou e se aninhou no colo do maior, deitando o rosto em seu peito porque queria que aquilo tudo se resolvesse de uma vez. Aspirou o cheirinho que somente Jungkook tinha, respirando fundo enquanto sentia a palma grande se firmando na base da sua coluna.

— Nós vamos ficar juntos, não é? Independente de tudo, Jungkook-ah. Promete?

Apertando o corpo pequenino contra o seu, Jeon fechou os olhos, respondendo baixinho:

— Independente de tudo. Eu e você, como sempre foi.

— Então promete ser sincero comigo? Eu consigo aguentar. Você sabe que consigo.

E de fato, Park Jimin realmente conseguia aguentar cargas pesadíssimas. Tudo que passou desde quando era apenas um garoto sozinho após perder os pais biológicos, a adaptação ao orfanato, o novo lar, as novas cobranças... Seu peito se enchia de orgulho ao pensar em tudo que aquele garoto podia aguentar por pura resistência, coragem e amor.

No fim das contas, era tudo por amor.

— Eu prometo, anjo. — Finalizou, tranquilo.

Passaram alguns minutos naquele silêncio nada constrangedor, um aproveitando a companhia do outro, os perfumes se misturando e a troca de calor gostosa se tornando ainda mais intensa.

A resposta à pergunta de Jimin veio minutos depois, quando Jungkook o afastou delicadamente para segurar seu rosto com ambas as mãos, dizendo:

— Que tal amanhã? Eu vou para a boate hoje, resolvo tudo que preciso resolver e amanhã você sai comigo a hora que quiser. Podemos passar o dia juntos, o que acha?

— Se eu for à empresa hoje e correr com tudo que está atrasado, posso inventar uma desculpa para o meu pai amanhã. — Sorriu fraco. — Pode ser?

— Pode, Jiminie.

Park selou sua boca lentamente, se deliciando com o gostinho doce. Ao se afastar, ainda naquele ritmo devagar porque a conversa havia sido tensa, olhou no fundo dos olhos de Jungkook, ainda em seu colo, e se lembrou de um fato curioso.

No orfanato, quando ainda eram dois pedacinhos de gente perambulando pelos corredores, sempre perceberam uma diferença grande em seus corpos. Jungkook era mais magro, possuía corpo de quem ia crescer e esticar de uma vez, enquanto Jimin deixava claro com sua estrutura corpórea que não chegaria em alturas muito elevadas.

O pior é que as dobrinhas em sua barriga faziam parecer que, além de tudo, se ele se sentasse no colo de Jungkook ou de algum dos meninos, acabaria machucando um deles. Nessa época sem grandes problemas, todos eles brincavam assim, não havia receio algum e a inocência era a maior preciosidade contida em cada um deles.

Jimin sempre foi muito ligado ao seu próprio peso, tinha medo, receio, sabia que era um pouco diferente dos demais. E Jungkook sempre pediu que ele se juntasse à eles, acolheu o garoto em seu primeiro dia ali, puxou-o para o seu colo em diversas brincadeiras porque no fim das contas seu corpo era o mais gostoso de abraçar.

E continuava sendo.

Park Jimin, tantos anos depois, havia crescido e possuía pernas longas e bonitas, mas era claramente alguns poucos centímetros menor que Jeon. Seu peso oscilava e algumas vezes ficava com as costelas aparentes, em outras ganhava peso e as bochechas inflavam novamente.

Era lindo de todas as formas, mas Jungkook queria que ele se estabilizasse em um peso saudável.

Quando sentiu o garoto se aconchegando em seu colo daquele jeitinho gostoso e sem preocupações, ficou feliz e o apertou contra o seu corpo, afinal era aquilo que queria. Se dependesse da sua vontade, mostraria à Jimin todos os dias o quão bonito ele era, e que peso algum interferiria nisso.

— Eu queria muito ficar aqui, mas preciso resolver algumas coisas, Jun. Eu mal fico em casa, minha mãe deve estar preocupada e tenho medo do que Dongsun pode fazer.

— Eu entendo, de verdade. Já vou também, ok? Preciso ver se San está dando conta do nosso filho.

— Filh... Ah, o gato. — Jimin se deu conta que era da bola de pelos que Jungkook estava falando, sorrindo logo em seguida. — Vocês precisam de um nome.

— Vamos decidir hoje, e você precisa conhecê-lo.

— Prometo. — Ele beijou a boca alheia, rindo logo em seguida porque tinha gostinho de chocolate, sentindo as mãos de Jungkook contornando sua cintura com um pouco mais de força. — Que foi?

— Não quero ir...

— Prometo te levar para o melhor lugar que conseguir pensar, tudo bem? — Sorriu. — Vai ser o melhor encontro de todos, eu juro.

— Seu bobo, eu nunca tive outro encontro para comparar. — Jungkook se atreveu a dizer, rindo baixo.

— Pois bem. Amanhã você verá o que é ter um encontro com Park Jimin.

Após o mais velho se gabar e distribuir inúmeros beijos pelo rosto amassado da noite gostosa de sono, foi ao banheiro e se arrumou para o dia cheio que teria. Jungkook tirou a mesa, e guardou com carinho todas as barrinhas de cereais que ganhou.

Como já estava virando costume, Park saiu primeiro, Jeon esperou um pouco porque gostava do ar aconchegante que aquele apartamento possuía.

Já em casa, Jimin tomou café da manhã com sua mãe — nem tocou na comida, mas gostou de vê-la se esbaldando com o bolo de laranja — e contou algumas coisas da faculdade. Yoohyeon estava claramente mais interessada na vida do filho, principalmente em seus amigos.

Não gostava tanto de Taehyung, achava o garoto um grande atrevido, mas não podia negar que era um amigo e tanto para Jimin. Yeeun era sua princesinha, conhecia bem os pais da garota. Mas Hoseok... Ah, algo nele intrigava.

Ele não possuía muitos bens materiais, isso era claro, mas a forma como seus olhos transmitiam sinceridade e carinho era completamente diferente.

Jimin estava em boas mãos.

A única questão preocupante era o fato do filho continuar vendo Jungkook, porque bem, ele continuava sendo garoto de programas. Pior era saber o quão doce ele poderia ser, deixando aquela realidade ainda mais injusta.

Enquanto isso, no apartamento de San, Jeon quebrou uma das regras e arreganhou a porta do quarto do amigo, deparando-se com o mesmo enroscado em Wooyoung. Os dois dormiam serenamente, mas despertaram assim que perceberam que havia uma terceira presença ali.

— Rápido, acordem! — Jungkook gritou, afobado, correndo e se jogando no meio dos dois naquela cama bagunçada de travesseiros e edredom.

— Mas o que é isso? — Foi San quem rebateu num grito assustado, puxando o edredom para cobrir o próprio corpo ainda grogue de sono, só então se dando conta de que não precisava daquilo, não estava pelado. — Ah ta, estou de roupa.

Wooyoung sorriu, perguntando: — Aconteceu alguma coisa, Jungkook?

— Primeiramente, vocês não fizeram nada nessa cama não, né?

— Infelizmente hoje não. Vai, desembucha.

— Tá, tudo bem. Eu dormi no apartamento do Jimin, certo?

— Certo.

— E nós ficamos sozinhos, certo?

— Certo...— Os dois responderam, entediados.

— E vocês sabem o que pessoas fazem nessa situação, cert...

— Se você disser "certo" mais uma vez eu enfio minha mão na sua goela. — San avisou.

— Certo. Quer dizer, tudo bem! — Ele se corrigiu, sorrindo feito uma criança após ganhar presente de aniversário, todo feliz esparramado naquela cama.

— Todo esse escarcéu só pra dizer que vocês transaram?

— Sim, e...— Quando se deu conta, Jungkook arregalou os olhos, rebatendo: — Como você sabe?

— Seu namorado me acordou sete da manhã numa ligação. Que tipo de homofobia é essa? Gay não pode ter mais uma noite de sono decente?

Depois do choque inicial, Jeon se sentou no meio dos dois, curioso, cruzando as pernas para depositar toda a sua atenção no amigo.

— Ele ligou, é? E o que ele te disse, San?

— Ele queria fazer algo surpresa, sei lá. Deu certo?

— Sim! Ele me entupiu de doces e fez uma atrocidade com ovos e chamou de ovos mexidos.

— Ele é ruim assim na cozinha?

— Terrível, Sannie. Mas ei! Agora é a melhor parte! — O garoto falou tão alto que Wooyoung, que já estava caindo no sono novamente, quase deu um pulo se assustando e acordando pela terceira vez.

— Vai, diz.

— Nós teremos um encontro amanhã. Eu e ele, um encontro! Tipo coisa de casal, sabe?

Wooyoung, ao ouvir aquilo, vibrou junto com o garoto, dizendo: — Não acredito!

San, quieto, observou aquela animação toda e sentiu seu coração um pouco mais aliviado. Era bom saber que Jimin estava cuidando de Jungkook, mesmo possuindo certo medo de onde aquilo tudo chegaria. Não tinha moral para reclamar, poderia facilmente se usar de exemplo porque seu caso com Wooyoung era tão arriscado quanto o deles.

— Não sei para onde ele vai me levar, mas o que devo vestir?

— Vamos pensar em algo, tudo bem? Quer me mostrar suas roupas? — Conforme Wooyoung se mostrava ainda mais interessado e San se calava, mais Jungkook estranhava aquele comportamento do amigo. Choi San nunca ficava quieto.

— Ah, bem... Eu não tenho muitas, entende? Não fique esperando algo muito bom porque minhas roupas são velhas. — Explicou. — Mas vamos lá!

— Me espera escovar os dentes? — Após o garoto assentir sorridente, o menor saiu e Jeon se encontrou meio perdido sentado próximo à San.

— Ei, o que foi? Vocês discutiram ou algo do tipo? O Woo parece tão feliz...

— Só estou pensativo, fique tranquilo. — San respondeu tentando forçar um sorriso nada convincente, mas percebeu que o olhar do amigo continuou presente e desconfiado. — Que foi?

— Você sabe que pode me dizer qualquer coisa, não é?

— Sei.

— E por que está escondendo?

— Não estou...

— Está.

— É só preocupação, Jungkook. É medo, só isso.

— Do que, San? O que está acontecendo?

— Pela primeira vez tudo está bom demais para ser verdade, entende? Eu tenho medo que tudo isso acabe de um dia para o outro.

Compreendendo onde aquele assunto daria, Jeon certificou-se de questionar apenas como confirmação: — Você está falando sobre a Horizon?

— Sobre Jimin. Sobre Wooyoung. Sobre a Horizon, sobre nossos novos amigos, sobre tudo que estamos escondendo de Jongin...— Suspirou, cansado. — Isso tudo terá um preço, Jungkook. Uma hora ou outra as coisas serão reveladas.

E segurando todos aqueles sentimentos doloridos, Jungkook disse com a mandíbula enrijecida, demonstrando nervosismo.

— Eu não vou desistir de Jimin.

— Eu sei que não, e nem eu de Wooyoung. Mas se prepare, Jungkook. Nós somos da rua, somos de qualquer um, você sabe disso.

Exausto do assunto que mal havia começado, Jeon se tornou agitado, triste, não queria que seu dia fosse estragado daquela forma. Por isso ousou dizer:

— Por que está me dizendo essas coisas logo hoje, San? Por que, hm? Eu transei com Jimin a noite toda imaginando que talvez possa ter um futuro diferente e você vem jogar todas essas coisas na minha cara?

San, atordoado, não queria que o amigo tivesse se exaltado daquela forma. Só queria ser realista, ficar de olho aberto porque à qualquer momento poderiam receber castigo em dobro de Jongin ou quem sabe até de Dongsun, mas entendia Jungkook. Compreendia aquele comportamento inusitado, o garoto estava exausto.

— Não foi por mal, Kook! Eu só estou preocupado e...

— Você estragou meu dia, San.

— Para de histeria, cara! Eu só quero te trazer para a realidade, talvez se pensarmos em alguma coisa para...

— Eu não quero pensar em nada! Eu não aguento mais pensar sobre aquele lugar! Eu odeio aquela boate, San! Eu odeio, odeio! — Batendo a porta, Jungkook saiu e correu para o seu quarto, se trancando ali desistindo até mesmo da ajuda de Wooyoung.

Não teria graça escolher roupas para um encontro que, segundo sua cabeça, Choi San havia acabado de estragar.

Não queria culpar o amigo, mas não conseguia entender aquele pessimismo que surgiu do nada. Só estava cansado, cansado de tudo. Queria fingir ter uma vida normal, uma noite de amor e um encontro digno como qualquer outro ser humano teria.

Mas estava estressado demais para isso.

No outro cômodo, assustado, Wooyoung retornou metralhando o outro com perguntas:

— San? O que foi isso? Por que Jungkook saiu batendo a porta?

— Nós discutimos...

— Por que? Ele estava tão feliz...

— E eu estraguei isso. — O garoto se lamentou, jogando o corpo novamente pela cama bagunçada, tapando o rosto com as mãos. — Nós nunca brigamos antes. O que eu devo fazer? Pegar o gato pra fazer chantagem? Ele não vai resistir...

Sorrindo pequeno, Wooyoung se juntou ao seu corpo na cama, fazendo cafuné em seu cabelo, dizendo por último:

— Dê um tempo, ok? Muita coisa deve estar passando pela cabeça dele.

— Vai ficar tudo bem?

— Claro que vai. Sempre fica, não é?

— Sempre fica.

☔️

Taehyung não estava bem.

Precisou faltar nas aulas e em sua cama utilizava o último resquício de sanidade para acariciar a destra de Jimin, deitado ao seu lado.

— Não é melhor irmos ao médico? Você está com febre desde ontem, Tae.

— Não precisa...

— Não pode ficar assim, neném. O que mais você está sentindo?

— É só febre. Não sinto dor na garganta, ou vontade de espirrar, ou qualquer outra coisa. É só febre.

Preocupado, Park fez compressa com água fria e ergueu parte da camisa alheia, colocando com cuidado enquanto o garoto se contorcia devido à temperatura. Lembrou-se certinho de como seus pais biológicos faziam, então cuidou de Taehyung da melhor forma que pode, mesmo sabendo tão pouco.

Ele era seu melhor amigo no mundo todo, brincavam sobre o lance de almas gêmeas na maior parte do tempo mas talvez realmente fossem.

— Que gelado, puta que pariu.

— Não xinga não, é para o seu bem. — Sorriu fraco.

— Você não tem outros compromissos? Pode ir, sério, logo ficarei bem.

— Não vou te deixar aqui sozinho de forma alguma.

Tomando coragem, Taehyung respirou fundo, moveu-se desconfortavelmente e suspirou, dizendo por fim: — É emocional, Jimin.

— Como é? — Park questionou sem compreender o que o amigo queria dizer, pausando seu trabalho para dedicar toda a sua atenção.

— Eu estou bem, isso tudo é emocional.

— Como assim, Tae? O que está querendo dizer?

— Eu passei por muito estresse nos últimos dias, entende? A faculdade, os trabalhos, eu praticamente me apaixonei de novo pela primeira vez e...— Ele pausou, amuado. — Está chegando uma das datas importantes para mim e para Yoongi...

— Tae...

— Nunca é fácil. Mas eu estou bem, juro. Você já viu vaso ruim quebrar? Fique tranquilo.

— Então eu vou ficar aqui com você, tá? Vamos assistir reality de gente rica e comer sopa como se não houvesse amanhã. — Ambos sorriram, mas Jimin completou: — No caso vou pedir a sopa de um restaurante que eu gosto. Se eu tentar cozinhar, é capaz de você pegar intoxicação.

— Não se atreva a pisar na minha cozinha.

Naquele clima ameno, Park riu baixinho e continuou cuidado do amigo, dizendo bobeiras que pudessem distrai-lo, por mais que por dentro estivesse com aquele peso ruim. Yoongi partiu tão cedo e nada jamais reverteria essa situação, mas não conseguia imaginar como Taehyung estava por dentro.

Tentou se imaginar sem Jungkook, mas era impossível. Imaginar um mundo sem olhos tão repletos daquele brilho intenso e o sorriso que procurou em inúmeros corpos mas nunca encontrou era, acima de tudo, a maior tortura que seu corpo poderia sentir. Era como declarar guerra à sua sanidade mental, porque se não fosse pela alegria que o garoto lhe causava com tanta facilidade, nem sabia como estaria diante daqueles acontecimentos.

Mas Jungkook poderia esperar um pouquinho, aquela tarde seria toda de Taehyung, seu melhor amigo que claramente necessitava de cuidados e companhia. Num mundo onde as pessoas acreditavam fielmente que almas gêmeas eram unicamente românticas, Park Jimin estava ali para provar que não, não era bem assim.

Podia ter quantos caras quisesse, no fim, sua alma gêmea era aquele que pegava em seu pé em momentos decisivos e lhe beijava a boca com um selo rápido para demonstrar que estaria ao seu lado independente de qualquer incidente.

Sua alma gêmea era Kim Taehyung, e ninguém jamais mudaria isso.

☔️

Trabalhar naquele dia estava sendo unicamente um tormento.

Jungkook não queria se doar para outro, queria manter o toque de Jimin em sua pele, seu cheiro, seus beijos espalhados por cada centímetro do corpo. O que ganhava, entretanto, era uma porção de toques de desconhecidos manchando aquelas lembranças gostosas que criaram juntos.

Era um luxo muito grande desejar que apenas um lhe tocasse.

Pior ainda era olhar para o outro lado da rua e encontrar San disfarçando olhares nada discretos, os dois ainda estavam naquele clima chato e saíram de casa sem trocar uma palavra.

Estavam arrependidos, claro, mas não havia tempo para se desculpar. Naquela noite em específico Choi San não parou um minuto na maldita calçada.

Foram tantos clientes que Jeon começou a se sentir mal pelo amigo, sabia que quando chegasse em casa estaria cheio de dores e cansaço. Tentou se comunicar mesmo que de longe, falhando severamente porque um carro parou à sua frente e toda a sua atenção precisou ser jogada ali.

O primeiro cara da noite não foi tão ruim, mas o segundo tirou sua paciência. Grosseria, palavras de baixo calão e puxões no cabelo que com certeza deixariam marcas. Sentiu falta da maciez do toque de Jimin, da forma como era doce e bruto ao mesmo tempo, mas sempre sem machucá-lo.

A terceira foi uma mulher, cerca de quarenta anos e um hálito maldito de cigarro. Fingiu gostar daquilo porque pelo menos não havia brusquidão, mas nada amenizava o tormento em sua cabeça. Queria estar longe dali, com seus amigos, beijando Jimin porque era o que mais gostava de fazer.

Gostava de se enroscar em seu loirinho, porque por mais que seus cabelos estivessem azuis da cor que tanto amava, ele sempre seria o garotinho de cabelos dourados que corria pelo orfanato e se sujava de terra todos os dias.

Queria tanto dar um fim àquilo que fez com que mulher atingisse seu ápice em tempo recorde, ganhando uma penca de elogios de como fodia bem.

Já era tarde da madrugada quando voltou para a Horizon, exausto, e procurou por San. Decidiu que era ridículo ficar naquele clima, principalmente porque o garoto era seu melhor amigo e companheiro de apartamento, não tinha como fugir.

Não o encontrou no ponto em que costumava ficar, por isso percorreu toda a parte interna da boate e até mesmo os banheiros já sujos da noitada.

Buscou perto da sala de Jongin, aproveitando e deixando sua parte da noite ali porque não queria levar esporro e acabar sendo chutado embora.

Procurou por todos os lugares possíveis, menos aquele que lhe causava tanta angústia.

Os fundos da boate.

Normalmente ali ficavam aqueles que já haviam desistido; costumavam se drogar, foder escancaradamente, muitos ficavam tão bêbados ou chapados que caíam ali mesmo, era tudo desse nível para o pior que alguém pudesse imaginar.

Entretanto, no segundo em que correu para a zona de perigo, desejou que San estivesse mesmo se drogando. Era triste, mas muito melhor do que ver seu rosto machucado, e dois caras enormes chutando suas costelas.

Jungkook, assustado, arregalou os olhos, tremendo dos pés à cabeça em puro desespero porque não sabia como ajudar. Ninguém ao redor parecia ligar muito, então a ajuda teria que vir de fora.

Correu até a entrada da boate, gritou para todos os seguranças, mas pouco se importaram. Os únicos que ganhavam algum tipo de assistência eram os de dentro, porque as putas de fora eram justamente isso: descartáveis. Coisas degradantes aconteciam todos os dias naquele mesmo lugar, mas ninguém se importava. Eram invisíveis.

Mas Jeon aprendeu desde criança à nunca abandonar um amigo, por isso correu. Correu até seus pés latejarem e seu coração faltar escapar pela boca, finalmente chegando em direção ao garoto.

— San! — Gritou assustado, mas sem medo de enfrentar aqueles homens.

O olhar de Choi subiu com muita dificuldade, e pedindo desesperadamente em silêncio, negou com os olhos arregalados porque não queria que Jungkook se aproximasse. Moveu a cabeça de um jeito aflito em negação, mas já era tarde, o garoto estava próximo o bastante para socar um dos homens.

Jeon não era de brigar, mas socou aquele homem com tanta força que observou as pernas alheias cambalearem para trás. Empurrou o próximo, mais nervoso do que nunca, e quando percebeu que seria atacado novamente, tirou do bolso da jaqueta de couro o canivete que levava escondido, fazendo com que o cara se afastasse no mesmo instante.

Com sangue nos olhos e um ódio completamente perceptível, Jungkook apontou para os dois, pedindo que se afastassem ou alguma loucura seria cometida ali. E diante das emoções alheias, entendeu tudo.

Não eram de gangue, muito menos frequentadores da boate. Aqueles dois homens foram pagos para dar um susto em San, isso ficou claro porque apareceram sem arma alguma, e assustados daquela forma pareceram meros seguranças engravatados e o garoto sabia muito bem onde encontra-los.

Ao lado de Dongsun.

Aquilo com certeza era obra do maldito, porque ninguém ali havia recebido ordens para ferir San de alguma forma irrevogável. Era apenas susto, medo, exatamente como o garoto se encontrava ali.

Sentiu tanta raiva percorrer seu corpo que apontou o canivete mais uma vez, ouvindo sussurros dos dois que levantaram as mãos em rendição e saíram o mais rápido possível dali, correndo feito covardes em fuga.

Finalmente sozinhos, os amigos se olharam com os olhos cheios de lágrimas, e não demorou nem um segundo para Jungkook se ajoelhar correndo e acariciar a destra alheia, sentindo-se culpado pela discussão boba naquela manhã.

— Eu sinto muito...— Foi tudo que conseguiu dizer, mas aos olhos do amigo aquela havia sido uma bela demonstração de afeto e de perdão.

— Não deixe o Wooyoung saber, tá? Ele ficará apavorado...

— Prometo. San, eu não sei como chegamos aqui...

Sorrindo fraco, Choi pediu ajuda para se sentar ao seu lado, tentando tranquiliza-lo ao dizer:

— Jungkook, eu preciso te pedir desculpas. Você merece toda a felicidade do mundo, sinto muito por ter estragado um momento tão bom.

— Mas você estava certo...

— Não, vem cá — puxou-o com cuidado — eu te amo. Você é meu melhor amigo, e eu nunca acreditei que conseguiria um amigo nesse meio em que a gente vive. Você é minha esperança disso tudo acabar.

Com os olhos transbordando, Jeon apertou forte o garoto em seus braços. Queria tanto dizer tudo que pensava e sentia, mas as palavras simplesmente não saíam. Ainda estava chocado pela cena anterior, com a cabeça cheia, atormentado.

Por isso, sensível e carinhoso, demonstrou sua mais pura forma de amor:

— Vamos para casa, vou fazer chocolate quente pra você e podemos assistir seu filme preferido.

E San agradeceu silenciosamente, porque amigos como Jungkook eram difíceis de encontrar.

☔️

— Eu já planejei tudo, Yeeun. — Jimin sussurrou nervoso, todo tenso enquanto fechava o botão da calça. — Jungkook vai amar.

— Você sabe que não é legal se trocar na minha frente, né? — Foi o que a garota respondeu, jogada na cama macia enquanto depositava toda a atenção no amigo.

— Por que?

— Porque isso me faz querer abrir as pernas pra você.

— Vou ignorar esse comentário — ele gargalhou, encarando o próprio reflexo no espelho. — O que acha? Não quero ir muito arrumado porque vamos fazer piquenique, mas também não quero ir desleixado.

— Cala essa boca, você nunca está desleixado.

O dia já havia se passado, era o momento do encontro tão esperado e Park sentia as pernas tremerem feito gelatina porque era sempre assim com Jungkook.

Como se fosse a primeira vez.

Terminou de se arrumar e já estava mais do que atrasado, por isso aproveitou para deixar Yeeun na casa de Taehyung, ela cuidaria do garoto que já estava razoavelmente melhor.

Em seguida, preocupado, estacionou na frente do prédio de Jungkook. Mas não estava sozinho.

Se ele imaginou que teria que descer ou ligar para o mais novo, estava muito enganado. Naquela calçada tão movimentada, Jeon esperava ansioso enquanto o buquê de margaridas quase escorregava das suas mãos suadas devido ao nervosismo.

Jimin não precisava saber que havia custado quase metade do seu pagamento da noite anterior, era de coração e por isso era lindo.

Quando Jungkook entrou no carro meio sem jeito e encarou a imensidão nos olhos de Park Jimin, percebeu que o abismo em que caía lentamente estava longe de terminar.

Tão lindo com os cabelos azuis da cor do céu, o rosto limpo e a pele reluzente. Com a felicidade transbordando por cada poro, Jimin deixava que todos percebessem o quão apaixonado estava.

E mordendo o lábio inferior, Jungkook disse baixinho ao estender o buquê:

— Eu te trouxe margaridas, hyung.

Com o peito subindo e descendo de uma forma descompassada, Park respondeu:

— Droga, vida. Eu comprei girassóis para você.

Os sorrisos foram se abrindo gradativamente, e La Vie en Rose tocava baixinho no pen drive conectado no rádio. Jimin puxou a destra alheia com cuidado, aproximou-a de seus lábios grossos e deixou na pele quente um beijo demorado. Cuidadosamente, deslizou-a pela pele da sua bochecha, olhando Jungkook nos olhos porque aquilo significava amor.

E eles estavam aprendendo a amar.

— E eu amo girassóis, Jimin-ssi. — O mais novo sussurrou, perdido demais naquele brilho intenso dos olhos castanhos.

Sem possuir conhecimento sobre o destino escolhido por Jimin, apenas respirou fundo e confiou no menor, sabia que ele jamais o decepcionaria.

Seguiram silenciosamente, trocando olhares, mas era tudo muito discreto porque no fundo a timidez aquecia os corações. Era até meio ridículo sentir vergonha depois de tudo que fizeram no apartamento de Jimin, mas era também inexplicável. Simplesmente sentiam, mesmo que Jimin tivesse experiência, mesmo que Jungkook fosse garoto de programas.

O lugar escolhido, por incrível que pudesse parecer, era o parque tão temido pelo mais velho.

A última vez em que aproveitou para brincar naquele lugar, seus pais ainda eram vivos, e isso lhe pesava o coração. Entretanto, enquanto pensava em um destino para agradar Jungkook, lembrou-se que foi naquele mesmo local que fizeram a tão aguardada reconciliação, e que já era hora de enfrentar esse bloqueio que durou anos.

Seus pais biológicos eram sua maior felicidade, e Jungkook também, então lidar com isso seria muito mais fácil ao seu lado.

Quando Park estacionou, o mais novo reconheceu, e preocupado perguntou:

— Jimin...— Pausou, confuso. — É o seu lugarzinho. Seu e dos seus pais.

E para o mais velho, saber que Jungkook lembrou sua fala naquele dia tenso foi ainda mais acolhedor. Ele sabia o quão importante seria para Jimin pisar ali novamente, por isso agarrou a oportunidade de ajuda-lo naquele momento.

— Eu fiz uma cesta de piquenique. Você quer ir comigo, Jungkook? — Só que a voz do garoto estava trêmula, o acúmulo de emoções por estar ali depois de tantos anos era gigantesco. — Estou com medo.

Paciente, Jeon soltou o cinto de segurança e se aproximou de Jimin, tocando o rosto delicado para deixar ali um beijo quente e gostoso. Segurou sua mão, pegando o buquê tão bonito, cheirando as flores enquanto sorria. Em seguida admirou o contraste do cabelo azulado com o verde imenso daquele lugar, e sorriu ainda mais, e então tudo fez sentido. Entregou as flores, e elas combinaram tanto com Park Jimin.

— Droga, eu pensei que as flores seriam bonitas o suficiente — brincou, baixinho — mas nada consegue ser mais bonito do que você.

— Jungkook...

— Não precisa ter medo, anjo. Eu estou com você, tudo bem? Vamos juntos.

Jimin assentiu num misto de confusão, excitação e medo. Queria tanto visitar aquele parque mas as lembranças ainda eram tão frescas e isso o assustava. Só que pela primeira vez não estava sozinho, e onde quer que seus pais estivessem, provavelmente amariam conhecer seu garoto.

Agarrou o buquê e aspirou o cheiro fresco das flores, sorrindo, assentindo. Confiava em Jungkook.

Não sabia ser muito romântico, mas tentou quando avisou: — Não saia do carro!

— O que? — O mais novo riu sem entender o que estava acontecendo.

— É que eu vou ser romântico. — Abriu a porta com dificuldade, as flores atrapalharam um pouco. Só que ao sair, bem na hora de fechar a porta, enroscou o tecido da própria camisa ali, ficando preso, gritando sem paciência: — Ô, caralho!

O maior gargalhou dentro do carro, se esticando até conseguir abrir a porta, soltando o garoto.

Jimin fez uma grande cena ao desfilar até o outro lado do carro, tentando piscar de um jeito sensual para Jungkook, espionando-o pelo painel do carro. Os dois riram logo em seguida, mas foi quando a porta foi aberta que o garoto sentiu seu coração bater mais rápido. Park era bruto às vezes, atrapalhado, nem sempre sabia ser carinhoso, mas estava abrindo a maldita porta para ele como se fosse alguém muito importante.

Isso nunca havia acontecido. Normalmente as pessoas chutavam Jungkook para fora do carro quando os programas chegavam ao fim, mas ali estava Jimin, tão cuidadoso e respeitoso.

Ele saiu com cuidado, encarando o mais velho de pertinho. O coração poderia saltar do peito.

Jimin retirou do banco de trás a cesta de piquenique, entregando-a para Jungkook. Em seguida, apontando para o vasinho pequeno no banco luxuoso, avisou:

— Eu não te trouxe um buquê, trouxe uma muda num vasinho para que possa cuidar e ver crescer. Você ama girassóis, então quero que cuide muito bem dele, Jungkook-ah. — Explicou, sorridente. — Cuide como se fosse nosso filho.

— Eu não acredito, hyung — sorriu — você é inacreditável. Agora tenho um filho com o San e um com você.

— Aquele gato bobo? Garanto que nosso girassol será muito mais bonito...— Park falou por pura provocação, encarando outro ponto fixo para irrita-lo.

Jungkook, rindo alto, respondeu: — Você é um ciumento!

— Não sou nada.

— É sim!

— Tanto faz, vem logo dentuço.

Jimin simplesmente fechou a porta, trancou o carro e saiu andando pela rua cheia de pedrinhas, deixando um Jungkook sorridente e cheio de nostalgia, porque aquele apelido era sua maior saudade.

Ao perceber que o menor acabou cessando os passos exatamente no momento em que chegou na calçada do parque, Jeon correu para enroscar sua mão livre na dele, então os dois se olharam, e o mundo voltou a ser aquele lugar mágico que tanto imaginavam quando eram apenas garotos.

Sorriram, principalmente Jungkook, porque aquilo era importante para Jimin e ele queria demonstrar apoio. Segurou firme sua mão pequenina, lembrando-se de fazer a mesma anotação mental de todos os dias: Park Jimin continuava com a maldita mão gordinha de sempre, e tão macia, e tão dele.

— Vamos? — Perguntou por fim, ansioso.

— Vamos, Jungkook-ah.

O primeiro passo naquela grama fresca foi uma lembrança dolorosa e gostosa de momentos felizes, de sorrisos e brincadeiras que jamais voltariam, mas que ainda se mostravam tão frescas na memória de Park. Se fechasse bem os olhos e deixasse a imaginação correr solta, facilmente visualizaria sua mãe deitada no colo de seu pai, os dois tão inertes naquele amor avassalador enquanto corria pela grama e caía, sempre rindo, sempre tão feliz.

Seu pedacinho de infância com os pais biológicos foi maravilhoso, e o restante, ao lado de Jungkook e o pessoal do orfanato, foi ainda melhor.

— Eu estou aqui. — Avisou, enérgico. — Eu estou realmente aqui, Jungkook.

— Você está.

Jimin, após receber aquela carga de memórias e sensações, simplesmente respirou fundo, sorriu e saiu correndo. Jungkook não entendeu de início, mas não demorou muito para que abrisse o sorrisão e se deliciasse com a imagem de Park Jimin tão alegre naquele campo esverdeado.

O garoto correu, rodopiou, abriu os braços e encarou o céu com um sorriso enorme rasgando os lábios, em seguida fechando os olhos enquanto a brisa balançava seus fios e o mundo parecia pelo menos um pouco mais justo.

A cena ficava ainda mais bonita e engraçada considerando que o pequeno tinha em mãos um buquê, e que era todo atrapalhado, e que pouco se importava. O que Jungkook fez foi correr até ele todo desengonçado com a cesta de piquenique, sorrindo grande até que se encontrassem novamente.

Ali, emocionado, deixou o objeto com cuidado no chão, puxando Jimin para um abraço forte para rodopia-lo em seu colo logo depois. Giraram gargalhando, os corações batendo rápido demais, as poucas pessoas que passavam por ali encarando aquela cena porque era digna de filmes.

Jeon Jungkook estava tão apaixonado por Park Jimin que esqueceu de tudo e de todos ao redor, principalmente do que fazia da vida. Sentiu-se liberto e digno daquele amor, porque emprego nenhum o privaria daquilo, ou ditaria se deveria ou não se apaixonar por alguém.

Já estava apaixonado. Imensamente apaixonado.

— Jungkook-ah! — O mais velho gritou ao gargalhar, ainda preso nos braços do garoto. — Eu estou com tontura! Pare de me girar!

Riram tão alto que Jungkook desabou, mas não antes de tentar colocar Jimin no chão. Caíram rindo, os dois tontos, mas o momento que acabou com cada estrutura do mais novo foi quando os cabelos azulados se espalharam por sua coxa, e os olhos de Park esbanjando uma inocência involuntária procuraram pelos seus. Deitado no colo do garoto, ele o admirou sem dizer palavra alguma.

Jungkook acariciou o cabelo macio, enroscando os dedos compridos pelos fios azuis, fazendo um cafuné gostoso enquanto se olhavam e se admiravam.

Toda a carga energética abaixou, os dois passaram a respirar fundo devido à falta de fôlego que aos poucos foi se ajeitando. E nessa calmaria, todo tranquilo, Jimin sussurrou:

— Eu te amo, Jungkook. — Porque era verdadeiro, e porque diria isso todos os dias para que o garoto soubesse o quão amado era.

Jeon, sorrindo pequeno, sussurrou: — É totalmente recíproco.

Porque era, e ambos sabiam disso.

Na verdade, no nível em que estavam, o mundo inteiro já sabia dessa informação. Qualquer um que perdesse os olhos por alguns segundos naqueles dois garotos sorrindo pelo gramado saberia.

— Podemos ficar aqui?

— Sim, vida. — Ele respondeu, tão feliz por dentro que poderia simplesmente explodir, retirando da cesta a toalha que escolhera para aquele momento.

Arrumaram tudo, mas Park não se importou tanto em comer de imediato porque queria se aconchegar de novo no calor do colo do mais novo. Deitou ali enquanto Jungkook capturava um dos sanduíches, deliciando-se. Com a boca cheia, encarou Jimin tão doce em suas coxas e perguntou:

— Você quer, Jimin hyung? — Riu sozinho, tapando a boca porque havia deixado no lanche uma bela mordida. — Desculpa.

— Pode comer, neném. Vem cá, me diz uma coisa.

— Sim?

— Como as coisas andam na boate?

Murmurando algo meio desconfortável, Jeon tentou ajeitar a própria postura, não gostava daquele assunto. Mesmo assim era necessário, afinal Park se importava com cada detalhe.

— Tudo bem.

— Mesmo?

— Mesmo, mesmo. É mais fácil de lidar sabendo que tenho você por perto. — Confessou, o coração apertando ao se lembrar do que aconteceu com San, e que provavelmente era tudo armação de Dongsun.

Mas, bem no fundo, sentia sim certo alívio. Ter Jimin por perto fazia com que o peso de todos os acontecimentos antigos e recentes se dissipasse aos poucos, porque pela primeira vez não estava completamente sozinho enfrentando tudo aquilo.

Sabia que o aconchego do abraço do mais velho era suficiente para expulsar todos aqueles sentimentos ruins, por mais exaustivo que seu dia pudesse ser.

— Você sabe que pode me chamar à qualquer momento, não é? — Park deixou claro, levantando um pouco a cabeça repousada nas coxas macias, ficando bem pertinho do garoto. — Tipo quando o Jerry chamava as Três Espiãs Demais, sabe?

Naquele momento Jungkook gargalhou, jogando a cabeça levemente para trás de um jeitinho involuntário e só seu, deixando os dentes à mostra feito um coelho, arrancando suspiros de Jimin.

E ainda rindo daquele jeito sem fim, totalmente desacreditado, ele questionou:

— Mas que porra você está falando, Jimin?

— Estou falando sério, seu dentuço. — Resmungou fingindo certa irritação, o que era apenas uma atuação bem feita. — Essa é minha forma de dizer que estarei aqui por ti à qualquer momento. Tipo as Três Espiãs Demais. Entendeu? É só me chamar que eu corro.

— Você é um bobão. — Sorriu, enroscando a destra quente sob o tecido da camisa de Jimin, sentindo a textura macia da sua pele morna. — E eu amava esse desenho. Lembra como todos diziam que era para meninas, mas a gente insistia em passar horas assistindo clandestinamente na salinha da tv?

— É por isso que somos tão gays hoje. — Deu de ombros, fazendo Jeon soltar outro daqueles risos gostosos.

— Você era a Clover, o que esperar disso?

— Calado! — Jimin se defendeu, rindo alto, roubando uma mordida involuntária do sanduíche pela metade nas mãos do maior. Foi tão natural e pela primeira vez não se preocupou com peso, de tão seguro e acolhido que se sentia ali.

Jungkook às vezes acabava sendo péssimo em disfarçar emoções, por isso arregalou um pouco os olhos e sorriu orgulhoso, tão orgulhoso do seu menino que o abraçou forte.

O motivo daquele abraço era implícito, mas Park Jimin sabia exatamente o que queria dizer. E não se sentiu desconfortável, pelo contrário. Jungkook sabia de uma de suas fraquezas, talvez sua maior insegurança, mas não fez pouco caso disso. Pelo contrário, se sentiu verdadeiramente feliz ao vê-lo comendo pelo menos um pouquinho sem toda aquela culpa.

— Jungkook? — Jimin chamou pelo mais novo assim que os ânimos abaixaram, tranquilo. Ouviu o outro murmurando um "hum?" e lhe acariciou a bochecha rosada. — Como as coisas ficaram depois que...

— Ji...

— Depois que eu parti?

Jeon sabia que a pergunta era direcionada à época do orfanato, por isso suspirou. Mas, para falar a verdade, se sentia feliz por Jimin finalmente questionar sobre aquilo.

— Bem... eu fiquei meio afastado de todos por um tempo. Não estava sabendo lidar, entende? Veja bem, meus pais me deixaram ali mas eu nem me lembrava do rosto deles, só que você... Ah, Jimin, foi uma partida diferente, porque eu me lembrava de cada segundo contigo.

— Eu sinto muito.

— Não sinta — respondeu sincero. — Nosso maior sonho era conseguir um lar, lembra? Você conseguiu. Em nenhum momento isso foi algo a se culpar, Jimin.

— Dongsun pensou em te adotar. — O mais velho confessou de uma só vez, encarando a grama verdinha ali perto, brincando com os próprios dedos porque o assunto era delicado. — Mas minha mãe me escolheu. Talvez, nesse exato momento, eu pudesse estar no seu lugar, e você no meu...

Pensativo sobre aquilo, Jungkook buscou pela destra do garoto, segurando-a até levá-la para seu próprio rosto como gostava de fazer, esfregando de leve a bochecha na pele quente. Tão carente, sensível e doce. Jimin não aguentou ver aquilo, sentia tanto amor por aquele menino que poderia largar tudo naquele exato momento por ele.

— Você fica lindo com essa carinha manhosa.

— Ai, hyung...— Jungkook sorriu contra sua mão, beijando-a. — Para com isso.

— Te deixei envergonhado?!

— Não.

— Deixei sim! — Park se sentiu leve, alegre, depositou toda a sua atenção na pele clarinha e nos olhos redondos que o encaravam com admiração e ternura. — Você é lindo mesmo, neném.

Após a confissão inesperada e totalmente proposital, Jeon se sentiu ainda mais sem chão, completamente desestabilizado ouvindo aquele elogio verdadeiro e gostoso. Abaixou o próprio rosto sem ter certeza de como deveria se portar diante daquilo, porque por dentro fervilhava em felicidade.

— Olha pra mim, coisa linda. — O menor pediu, paciente, queimando feito um adolescente diante da sua primeira paixão. Jungkook, em resposta, levantou os olhos devagarinho, deixando os cantos da boca curvando um pouquinho, afinal queria sorrir, mesmo que disfarçadamente.

Mas era transparente feito água, seus sentimentos eram expostos sem que ele nem ao menos se desse conta, seus olhos brilhantes explicitavam tudo sem que palavra alguma precisasse ser dita.

— Você está se divertindo fazendo isso, não é? Poxa vida, Jimin-ssi...— Ele resmungou baixinho, finalmente procurando pelo olhar divertido de Park, continuando: — Para com isso...

Diante daquela cintilância bonita, Jimin percebeu algo, e então resolveu perguntar:

— Não costuma ouvir elogios, Jungkook?

O menino encolheu os ombros, um pouco sem graça, negando com a cabeça enquanto encarava o resto do sanduíche em mãos. É que Park Jimin sempre foi o garoto que lhe dava forças quando era criança; ajudava nas tarefas, ensinava o pouco que sabia, enchia o garoto de elogios e deixava sempre um beijo na bochecha antes de dormir porque eram muito carentes naquele lugar.

Jimin ensinou tantas coisas, e a mais valiosa foi o amor. Graças a ele sabia que ali, naquele exato momento enquanto seu peito descia e subia extasiado, era o mais puro amor, não precisava ter medo. Aquele frio na barriga incansável era sinal de nervosismo porque finalmente tinham um encontro de verdade, e estava tudo tão lindo.

Desde a toalha esparramada pela grama até as frutas e sanduíches preparados com tanto carinho. E então, bem à sua frente, havia Jimin, ainda apaixonado pelas flores e pela delicadeza de quem as escolheu.

— Consegue ver, hyung? — Jungkook apontou para o próprio peito. — Está batendo rápido. É amor, né? Porque se for infarto, não é assim que quero encerrar nosso encontro.

Gargalhando, Park tratou de responder rapidamente: — Não invente de ir parar num hospital novamente, já basta o escarcéu que o San e o Hoseok fizeram daquela vez.

— Não me lembre daquele dia, ou eu caio duro aqui mesmo.

Os dois sorriram, e Jungkook se sentiu muito mais aliviado por perceber que, mesmo tocando no assunto do dia em que revelou sua identidade, Jimin continuou sereno e sorridente, não havia mágoa.

Após tantas risadas escandalosas lembrando de inúmeros acontecimentos do orfanato, os dois comeram e comeram até parecer que iam explodir, depois riram mais um pouco enquanto Jeon contava algumas histórias de apartamento com San, e Jimin rolava pelo chão gargalhando ao contar algumas histórias da sua fase-hétero, como ele gostava de chamar.

As barrigas já doíam quando deitaram na toalha, um ao lado do outro, e encararam o céu azul.

— Será que meus pais estão em algum lugar por ali? — Foi o que Jimin perguntou, movendo os dedos das mãos na toalha procurando pelos de Jungkook. Queria abrigo naquele momento, um carinho que somente seu amor poderia oferecer.

— Eu acho que sim, anjo. É estranho, não é? Temos toda essa crença de que iremos para o céu ou para o inferno, que teremos vida eterna e seremos felizes, mas... Isso realmente existe?

— É tudo que eu queria saber. — Confessou. — É um conforto acreditar nisso, Jungkook. É melhor acreditar que teremos algo à mais do que avaliar a hipótese de simplesmente deixarmos de existir.

Pensativo, o maior assentiu, ainda encarando às nuvens se formando na imensidão azul. Respirou tão fundo que até mesmo Jimin percebeu, respondendo:

— Eu não quero passar o resto da vida acreditando que terei sossego e felicidade só depois que morrer, Jimin. — Levantou um pouquinho o tronco, apoiando-se em Park, repousando a cabeça nas mãos apoiadas no abdômen alheio. — Quero isso tudo ainda aqui, com você.

Foi um momento tão bonito que o mais velho simplesmente dedicou toda a sua atenção à Jungkook. O garoto tinha essa de conseguir competir atenção até mesmo com aquele céu bonito e gigantesco, porque Jimin com certeza trocaria a imensidão para admirar as constelações presentes nos olhos castanhos e arredondados.

Saber que Jeon estava finalmente conseguindo externar suas vontades lhe aquecia o peito de um jeito absurdo, por isso utilizou o braço esquerdo para apoiar a própria cabeça como um travesseiro, e o direito adentrou a camisa de Jungkook, sentindo a quentura e maciez da sua pele de um jeitinho gostoso enquanto os pelos iam se arrepiando gradativamente diante daquele toque.

Em resposta, o próprio garoto sorriu, estava envergonhado.

— Eu também quero, Jungkook. Quero muitas outras festas do pijama pra dançar Tongue Tied agarradinho em você, amigos pulando no sofá, noites de bebedeira e muitas outras tatuagens contigo. — Sorriram. — É só o começo.

— Você promete, hyung?

— Prometo. — O dia de amanhã era difícil de adivinhar, e todos ao redor pareciam complicar o sossego dos dois, mas Jimin foi sincero ao selar aquela promessa, afinal faria de tudo por ele.

Após longos minutos de silêncio, Jungkook fechou os olhos, ainda apoiado no abdômen do mais velho, sentindo o vento gostoso e a destra quente percorrendo toda a extensão das suas costas.

E aquele era o melhor lugar em que poderiam estar.

Não precisavam de grandes eventos, aquele gramado bonito já era suficiente, assim como a brisa gostosa e as fragrâncias se misturando aos poucos.

E não poderia ser diferente, foram criados no Raio de Sol, e madre Lee sempre ensinou cada pequeno daquele lugar a ser feliz verdadeiramente com tão pouco. E era lindo.

— Você tem vontade de voltar ao orfanato? — Jeon simplesmente soltou, um pouco ansioso com a resposta.

Curioso com aquele assunto do nada, Jimin respondeu: — Bem... Acho que sim. Tenho saudades das madres, do balanço e do nosso quarto.

— Você ainda se lembra, Jimin-ssi?

— De cada detalhe.

— Lembra do dia em que Hoseok achou um vestido da madre Lee e tentou vestir? — Foi questão de um ou dois segundos, mas os dois explodiram em risadas.

— Por deus, Jungkook! Aquele menino era um filho da mãe que só faltava botar fogo naquele lugar.

— Ela ficou tão brava! — Ele gargalhou, se sentando novamente, e Jimin aproveitou para fazer o mesmo.

Entrelaçaram as mãos involuntariamente, um olhando para o outro e rindo alto porque aquelas lembranças eram gostosas e nostálgicas.

O polegar de Jungkook acariciou a pele alheia num carinho contínuo e involuntário ao mesmo tempo em que Jimin guiou sua mão esquerda até a coxa grossa, acariciando a parte interna sem malícia ou grandes intenções.

Só queria estar próximo à ele, sentir esse calor gostoso e o cuidado tão íntimo.

E Jeon, ao avaliar aquela ideia absurda e maluca que tinha em mente, simplesmente retesou um pouco no mesmo lugar, olhando de um jeitinho desconcertante para o menor, dizendo por fim:

— Você teria coragem de voltar lá comigo?

Porque, depois de tantos anos, aquele lugar ainda era um gatilho. Não de um jeito ruim, pelo contrário, de um jeito completamente nostálgico, e talvez por isso doesse. Aqueles anos jamais voltariam, muito menos aquelas pessoas, mas o que sentiriam se pisassem ali por uma última vez?

Calado e pensativo, Park resolveu retornar aquela pergunta, pois estava, além de tudo, confuso.

— Você tem vontade de voltar lá, Jungkook?

— Eu...— Envergonhado por algum motivo desconhecido, o garoto assentiu cabisbaixo enquanto coçava a nuca, talvez um pouco frustrado. — Eu tenho, hyung. Me desculpa.

— Por que está se desculpando? — Aproximou-se sorrateiramente, enroscando os dedos no emaranhado de cabelos negros num carinho leve.

— Você teve outras memórias da infância, quando se mudou. A maioria deles também. Mas eu, hyung... Ah, eu só fiquei por lá mesmo, ninguém me adotou. Só saí depois de grande, entende? Minhas únicas lembranças da infância e adolescência estão lá.

Jimin concordou silenciosamente, afetado pela sensibilidade do mais novo. Jungkook era tão vulnerável e arisco que seu maior desejo era cuidar do garoto pela vida toda, e assim faria.

— Você acha que consegue fazer isso? — Park perguntou verdadeiramente interessado.

— Você consegue?

— Por você, sim.

— Eu consigo, Jiminie.

Bastou uma troca demorada de olhares e já sabiam qual era o plano. Jimin nunca planejou voltar ao orfanato, por mais que sua jornada naquele lugarzinho fosse tão marcante de um jeito positivo.

Mas, ao avaliar bem a situação, percebeu que aquilo era tudo que Jungkook tinha. Todos os seus dias foram lá, e isso era tão importante que não precisou pensar nem mesmo duas vezes.

— Eu nunca vi o mundo, Jimin. — Ele confessou, sorrindo fraco, brincando com a mão pequenina do seu amor. — Sempre fiquei por aqui, na sombra dos outros. Pelo menos no orfanato eu ainda tinha esperanças de voar um dia...

Ouvindo aquilo, completamente tomado pelo desejo de fazer Jungkook o homem mais feliz de toda a cidade, Jimin sorriu, levantando-se com cuidado, estendendo a própria mão para que o garoto segurasse. E quando fez isso, Jungkook quase o derrubou, mas finalmente estavam em pé e prontos para mais uma surpresa, porque o garoto de cabelos azuis já tinha tudo em mente.

— Pegue tudo, vamos!

— Para onde, hyung?

— Quero que conheça um lugar.

Sem grandes enrolações, correram afobados até o carro, um mais carregado de coisas nas mãos do que o outro. Jungkook tropeçou na toalha envolta nos braços, e Jimin parecia o cara mais livre do mundo correndo pela grama esverdeada segurando a maldita cesta de piquenique, quase caindo pelo menos umas três vezes por causa do seu velho problema com a gravidade.

À cada passo se lembrava ainda mais dos seus pais biológicos, de como sua mãe era amorosa e gentil enquanto seu pai parecia o homem mais inteligente do mundo. Era a família perfeita.

Entretanto, não se sentiu tão triste assim. O destino havia sido cruel ao deixa-lo sozinho no mundo, mas se não fosse por isso, jamais teria conhecido Jeon Jungkook e isso já era um pedido de perdão grande demais vindo do universo. O que, em outras palavras, significava que Jimin estava em paz.

Finalmente.

Tudo que aconteceu jamais se reverteria, era o ciclo da vida e para tapar esse sofrimento gigantesco que sofrera desde pequenino, um garoto de cabelos rebeldes e dentuço apareceu em sua vida como um presente do destino, e era tão lindo.

Ele tentou não pensar pelo lado negativo, pelo contrário. Olhou para a imensidão do gramado e sorriu, fechando os olhos e aspirando aquele cheiro de liberdade prometendo a si mesmo que levaria Yoohyeon um dia para seu lugarzinho também.

Se antes não confiava na mãe adotiva e possuía certo medo e receio em relação à ela, sabia que naquele momento ela ainda era sua figura materna, e estava tão orgulhoso de como estavam conseguindo se comunicar melhor nos últimos dias.

— Vem, Jungkook-ah! — Continuou correndo, gritando, feliz.

— Vai cair, cacete! — Jeon alertou, pausando seus passos para botar a mão livre na barriga e rir porque a alegria tomava todo o seu peito e também porque o mais velho havia tropeçado novamente.

Quando chegaram no carro, exaustos, deixaram tudo no banco de trás e respiraram fundo, encostados nos bancos.

Menos de um minuto depois, se agarraram ali mesmo.

Jungkook parecia tão sedento que adentrou com rapidez os fios da nuca de Jimin, puxando-os de leve enquanto botava a língua para fora devagarinho, sorrindo pequeno ao senti-la ser chupada de um jeito gostoso pelo menor. Era um misto de felicidade, saudade, excitação.

Sem recuar, Park suspirou abafado contra a boca alheia ao sentir a palma grande e firme adentrando o interior de suas coxas, apertando uma delas com facilidade. Encaixava certinho na palma da mão de Jeon, outra coincidência do destino.

— Ai, hyung...— Jungkook sussurrou, perdido entre beijos estalados, chupões pelo queixo e mandíbula e mãos deslizando sorrateiramente por todo o seu corpo.

— Já vou parar, juro, só me deixa matar a saudade de você.

Ele sorriu atrevido, movimentando a cabeça em afirmação, fechando os olhos quando Jimin alcançou a pele sensível do seu pescoço e mordiscou. Em consequência disso, sua mão acabou apertando um pouco a coxa alheia, deixando Jimin desconcertado antes de dizer:

— Eu amo quando você fica todo molinho assim nas minhas mãos.

E Park, ouvindo aquilo e sabendo que não poderia negar de forma alguma, devolveu:

— Você é um safado, isso sim.

— É você quem estava até agora chupando meu pescoço e eu que sou o safado? — Ele rebateu, pressionando ainda mais os dígitos na perna de Jimin, puxando-o para mais perto. — Poxa Jiminie, você nem sabe disfarçar.

— Maldito. — Foi a resposta final antes de rirem um contra a boca do outro, unindo as bocas sedentas mas com um carinho especial.

Gostavam do beijo lento, mas um tanto agressivo, e Park era especialista nisso. Agarrou Jungkook pela nuca e firmou a mão livre na gola da sua camisa, segurando-o como se precisasse impedi-lo de escapar. Deslizou a língua morna para dentro e sentiu a de Jeon se enroscar de um jeito gostoso, prendendo-se ainda mais ao seu corpo.

Era uma urgência engraçada, porque minutos antes estavam conversando sobre a infância e se olhando de um jeitinho bonito, mas ali, naquela bagunça de vozes resfolegantes e toques nada discretos, sentiam o calor cada vez mais forte e o espaço se tornando pequeno.

A maldita dualidade de ambos, sempre tão escancarada.

— Por deus, Jungkook, me deixe respirar...— Jimin pediu ofegante, se afastando minimamente enquanto o maior continuava encarando cada traço seu com admiração e um sorriso curto se abrindo.

— Cansou? Será que é a idade?

Após sua brincadeira, com um tapa fraco e inocente no braço, Jimin se defendeu ao dizer: — Palhaço!

O som da gargalhada de Jungkook era o mais bonito de todos, por isso Park fazia questão de fazê-lo sorrir à cada cinco segundos. E assim partiram até o próximo destino escolhido.

Ao estacionar na rua do prédio antigo, Jimin fez novamente aquele lance de abrir a porta para o maior, e ele, com toda a certeza do mundo, sentiu-se especial e querido, o que era o grande intuito.

— Para onde vamos, Jimin-ssi? — Perguntou curioso.

— Vem comigo. — Colaram as mãos num aperto gostoso, correndo até o edifício banhado pelo cinza crômio envelhecido, paredes levemente craqueladas devido ao tempo e plantas crescendo ao lado de pequenas rachaduras perceptíveis.

Mesmo que fosse antigo, ainda era lindo.

Jimin segurou a mão maior que a sua com cuidado enquanto puxava o garoto encantado numa corrida meio desesperada. É que queria chegar logo em seu destino, e mostrar o topo do mundo para Jungkook.

— Calma, hyung! — Ele gritou, sentindo o peito queimar e uma dificuldade para respirar corretamente se iniciando conforme subiam as escadas.

— Não tem elevador. Vamos, anda!

Durante o percurso cansativo, dividiram-se em correr, gargalhar, parar um pouco para respirar e se entreolharem com a adrenalina percorrendo ambos os corpos. Os degraus pareciam não ter fim, mesmo considerando que aquele não era um prédio enorme.

— Vai na frente, Jimin.

— Por que? Quer olhar para a minha bunda?

— Todos os dias da minha vida. — Sorriu bancando o safado.

— Inacreditável, Jeon Jungkook — pausou, tomando a frente e caminhando ainda mais rápido — você é inacreditável. E...

— E...?

— Chegamos!

O primeiro instinto de Jungkook foi observar tudo ao redor; o grande céu azulado, os pássaros que voavam em conjunto, as plantas espalhadas — dentre elas, algumas já secas — e o grande espaço livre naquele terraço. Estavam no topo do prédio.

Respirando fundo, Jeon fechou os olhos por alguns poucos segundos, mas a visão que recebeu quando abriu lentamente foi compensadora.

Jimin, sorridente, correndo e rodopiando enquanto o vento fazia sua camisa voar e seu cabelo azul competir com o céu aberto. O garoto parecia tão livre e feliz e o nome dessa alegria possuía nome e sobrenome. Jeon Jungkook.

Jungkook, Jungkook...

Sua mente perambulava por esse nome tão significativo, e enquanto girava até se sentir um pouco tonto, era a visão dos olhos redondos do seu pequeno que ficava se repetindo continuamente. Bem, pequeno ele não era mais, precisava admitir...

Mas ah, que se dane! Aquele continuava sendo seu menino, seu dentuço, seu Jungkook...

Seu. Finalmente.

Ainda que os dias parecessem cheios e complexos demais, assim como a situação na empresa e na boate, estariam ali, um junto ao outro, um torcendo pelo outro, mesmo sabendo que seria um trabalho árduo e sem garantia.

Por isso Park Jimin se curvou minimamente, fazendo uma reverência como se estivesse lhe chamando para uma dança. Jungkook riu todo bobo, negando com a cabeça, sabia que não era o melhor dançarino do mundo. Entretanto, o mais velho era teimoso e mimado, e só sairia feliz dali se ele aceitasse o convite.

Caminhou devagar até Park, deixando sua mão esquerda se encaixar na dele, e então juntaram os corpos de um jeito absurdo de gostoso. Jungkook respirou fundo, cada vez mais próximo, beijando a ponta do nariz do menor enquanto engatavam em passos lentos e um pouco sem jeito.

Era como uma valsa, só que sem música, e eles pouco se importavam com os passos.

Desajeitado, Jeon aproveitou o pouco espaço para enroscar a destra na cintura fina, pressionando levemente conforme sentia o corpo alheio roçando de leve no seu. Sorriu grande, verdadeiramente feliz, mas o sorriso foi fechando gradativamente assim que ouviu:

— Meu deus como você dança mal.

Quis rebater, mas sinceramente o riso que arrancou de Park Jimin com sua falta de talentos artísticos foi muito melhor. Numa concordância silenciosa, fechou os olhos envergonhado e respondeu:

— Estou escondendo meus dotes, Park Jimin.

— Está, é?

— Uhum. — Jungkook rebateu todo convencido, forçando todos os músculos possíveis do rosto para não sorrir observando a careta de ironia que se formou no menor, e aí, percebendo como seu rosto reluzia a mais pura felicidade, resolveu ser sincero mais uma vez. — Jimin... Podemos conversar sobre algo?

Óbvio que aquela não era uma mentira tão apavorante como quando escondeu sua verdadeira identidade, mas ainda assim era uma mentira e não queria mais isso entre eles.

Park assentiu, completamente tomado pelo temor de algo ruim acontecer novamente. Estava acostumado, no fim das contas.

E de todas as coisas que poderia ter questionado, usou a mais idiota possível:

— Seu nome também não é Jungkook?

Primeiro Jungkook riu nasalado, negando com a cabeça enquanto o puxava até a beirada da cobertura, avistando o horizonte bonito enquanto a cidade não parava nem por um minuto.

Carros circulavam pequeninos lá embaixo, assim como pessoas em busca de seus afazeres e sonhos, e vez ou outra ouviam sirenes de ambulâncias ou carros de bombeiros. Tudo era caótico, mas ali, naquela realidade paralela que criaram, a tranquilidade era perceptível e tentadora.

— Meu nome ainda é Jungkook, relaxa. — Sorriu.

— O que foi então, vida?

— Bem...— Durante a pequena pausa, Jungkook segurou aquela mão pequenininha e a levou até seus lábios, beijando-a num ato involuntário, abaixando-a logo em seguida. — Eu fiz algo e não sei se ganharei sua aprovação...

— Você sabe que eu sou maluco, né? E que posso desmaiar de nervoso agora mesmo, né?

Era impossível levar a sério aquele pedacinho de gente tão falante e lindo. Por isso o garoto se sentiu um pouco mais aliviado e encorajado a ser sincero.

— Bem, aquele dia em que você saiu e me deixou sozinho no seu apartamento...

— Droga, você achou meu vibrador?

— O que? — Jungkook respondeu incrédulo porque não, não se tratava daquilo, e então sentiu ainda mais vontade de rir.

— É normal, sabe? Hoje em dia todo mundo tem um...

— Não é isso, hyung! — Gargalhou alto observando as bochechas de Jimin ganhando uma coloração avermelhada, precisando soltar sua mão para segurar a própria barriga, estava doendo de tanto rir.

— É o que então, cacete? Vai, desembucha!

— Naquele dia eu não encontrava a chave de casa em lugar nenhum, então pensei que talvez você pudesse ter guardado ou sei lá...— Explicou tomando fôlego novamente, um pouco nervoso. — Procurei em uma das gavetas da mesinha ao lado da cama, e acabei encontrando um folheto de um evento de dança...

— Ah, é uma mostra em um teatro importante. — Ele explicou, inocente. — Por alguns minutos eu considerei a ideia maluca de participar.

— Então...

— Que foi? Você está com cara de quem aprontou.

— Eu meio que inscrevi você. — O medo falou mais alto nesse momento, por isso Jeon se encolheu e suspirou ao perceber certo teor de espanto no semblante do outro. — Desculpa, hyung...

— Bem... É...— Na ausência de palavras, Jimin se afastou um pouco, parecendo pensativo. — E por que você fez isso, Jun?

— Não foi por maldade, eu juro! É que eu fiquei te imaginando num lugar como aquele e percebi que não poderia deixar essa chance escapar...

Que tal atitude não era por maldade Park Jimin tinha certeza, Jungkook jamais faria algo ruim. Mas que era um pouco invasivo, era, por isso ele se escorou no muro de proteção e perdeu os olhos em todos os arranha-céus da cidade, pensando como assimilar aquela informação sem parecer rude.

— Você está bravo, não é? Eu sinto muito, hyung! Eu não deveria ter me intrometido e...

— Você só me viu dançar uma vez. — Ele respondeu, ainda perdido no horizonte inalcançável. — Acha mesmo que eu conseguiria participar de algo grandioso assim?

— É que foi a coisa mais linda que eu já vi na vida, Jimin-ssi...— Os olhares finalmente se cruzaram de novo, e o mais novo explicou: — Acho que eu queria que outras pessoas sentissem tudo aquilo que senti quando te vi no palco.

Antes que Jimin pudesse responder ou pensar em alguma resposta, ele acrescentou de uma vez:

— E eu também achei uns vídeos no seu notebook. Foi sem querer!

— Jungkook!

— Eu juro que foi acidental! — A atmosfera não pesou em momento algum, mesmo com aquelas revelações, o que mostrava o quão empenhados estavam em manter a sinceridade acima de tudo e também a calma para que pudessem se resolver.

— Anjo...

— Prometo que não acontecerá novamente, tá?

— Jun, eu não estou bravo. — Park alcançou a bochecha macia e esfregou carinhosamente o polegar ali, paciente. — Mas isso foi invasivo, entende? Eu não gosto que mexam nas minhas coisas...

Compreendendo o peso de sua ação, Jungkook assentiu com os olhos arregalados, sempre assustado e tão pronto para ser mandado embora.

Mas dos braços de Jimin ele não escaparia de forma alguma.

— Quanto à mostra de dança... Obrigado.

— Pelo que, hyung?

— Eu não teria coragem de me inscrever sozinho.

— Então você vai?! — Jeon vibrou alto, pulando no menor sem nem precisar esperar por sua resposta. Abraçou o corpo pequeno com tanta facilidade que quase o esmagou, dizendo: — Eu posso te ver ensaiar? Posso ir junto com você? Quero estar na primeira fila quando você se apresentar, hyung!

— Ei, ei, ei! — Gargalhando, Park tentou afrouxar um pouco o abraço. — Eu provavelmente não vou passar da seletiva, mas sim, eu te levo junto.

— Você vai sim, nem que eu tenha que sabotar esse negócio. Não duvida não, viu? Vou fazer meu hyung apresentar de qualquer jeito.

Jimin nem tinha mais palavras para demonstrar tanto amor por aquele garoto. Sorriu feito bobo ouvindo os planos mirabolantes de Jungkook, apreciando a cor da sua pele enquanto o Sol a iluminava de um jeito cruelmente bonito.

Caiu ainda mais, e em queda brusca, mas não era como se conseguisse controlar. E nem queria.

Nesse período de transe, mal conseguiu escutar o que Jeon dizia, continuou apenas observando seus traços e sua forma genuína de encarar a vida, pedindo aos céus que ele fosse feliz. Feliz, o mais feliz que pudesse. Nada menos do que isso.

Jeon Jungkook merecia ser feliz.

— E por fim, eu, San e Hobi hyung podemos entrar sem ninguém ver e mexer nas fichas e...

— Me diz em qual planeta vocês três entrariam em algum lugar sem ninguém ver — Jimin riu alto — é mais fácil gritar com um megafone lá no meio e distrair as pessoas.

— Qual é? Eu sou quietinho, tá?

— É? Você não se lembra do escândalo que aqueles dois fizeram no hospital?

— Eu prefiro esquecer. — Num suspiro, sorriram juntos, ainda encostados no parapeito.

Só que Jimin gostava de provocar, e principalmente deixá-lo envergonhado, por isso soltou com toda a malícia possível:

— Devo te lembrar então o quão escandaloso você foi na minha cama?

— Park Jimin.

— Que foi? Agora está tímido?

— Isso não é justo.

— Você fica uma graça assim todo sem graça, vida.

Resolvendo apelar para não sair por baixo, Jeon ergueu uma das sobrancelhas, rebatendo:

— E que tal se falarmos sobre seu vibrador?

— Ah não, Jungkook...— O mais velho escondeu o rosto entre as mãos, segurando o riso.

— Aha! Está vendo?

— Por deus, Jungkook, eu vou colapsar em vergonha se a gente não mudar de assunto.

E assim terminaram a tarde, com as gargalhadas ecoando daquele prédio antigo, os corações entrando em estado irreversível e Park Jimin voando por todo o terraço numa dança inventada, flutuando com passos improvisados enquanto Jungkook admirava e filmava para guardar de recordação.

Nos momentos em que o menor chegava perto, encarava a câmera e abria o maior sorriso de todos, voltando a rodar e mover seu corpo sem roteiro algum, apenas sentindo seu coração lhe guiar.

O por do sol fez com que tons alaranjados rasgassem o céu aberto, tornando a figura de Jimin totalmente dourada, como se fosse um anjo exibindo sua arte sem vergonha alguma para todos que quisessem ver.

Ali perto, num prédio um pouco mais luxuoso, uma menininha na sacada observava encantada cada passo do garoto, sorrindo e acenando porque era lindo de se ver, e não era todos os dias que um garoto dançava espontaneamente no topo de um prédio abandonado.

Jimin acenou de volta, sorrindo, e então seus olhos encontraram os de Jungkook novamente, e nunca amou tanto em toda a sua vida.

Era tão óbvio, e tão lindo. Se algum dia buscou o sentido de sua vida, pode encontrá-lo bem ali à sua frente. Era Jungkook.

No final, tudo voltava à Jungkook. Ao orfanato. Ao passado que jamais esqueceriam.

Por isso, quando parou para respirar e beber um pouco de suco, Jimin se preparou antes de tomá-lo num beijo sedento e apaixonado. Já tinha sua decisão, e não poderia ser melhor.

— Eu vou participar das seletivas — selou novamente os lábios macios — e nós vamos visitar o orfanato.

— Você tem certeza, hyung? — Ele estava preso num misto de orgulho, nervosismo e felicidade.

E Jimin sorriu convicto ao dizer:

— Nunca tive tanta certeza de algo, Jungkook.

| | |

OI VIDINHASSSS

saudades 🥺

vamos usar #azulfeitonetuno no twitter porque eu to com saudade ):

espero que estejam gostando, eu demorei bastante nesse capítulo mas trouxe ele bem grande como alguns sempre pedem hehe

pra quem quiser continuar acompanhando meu trabalho enquanto não atualizo aqui novamente, tenho duas fanfics novinhas esperando vocês no meu perfil! HELLISH e COLIDIREIS.

espero também que estejam se cuidando nesse momento difícil que estamos passando, energia positiva pra todos vocês e suas famílias/amigos 💙

prometo tentar voltar o mais breve possível, beijos e se cuidem! nos vemos em breve ✨

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