once upon a plug {l.s}

By infactIarry

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Na qual Harry e Louis transam e não se lembram de nada depois, Louis acorda com um plug e Harry tira uma foto... More

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Trailer OUAP!
OUAP is back!
Um Milhão de Pequenas Coisas
trilogia Um Milhão de Pequenas Coisas
capítulo extra final

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By infactIarry

LOUEH

Meu deus

Faltam 6 capítulos para o fim de OUAP.

E trago esse cap com uma boa notícia!

Semana que vem serão não um, mas DOIS capítulos! Um na terça que é introdutório do da quarta, então não percam hihi

Esse cap que vos trago hoje é gigantesco e a transição do que vem a seguir, espero que gostem e aproveitem porque, bem... em breve as quartas-feiras não serão mais quartas de OUAP :(

Já estou chorando, não sei vocês

A reação do cap passado foi simplesmente absurda, nunca imaginei que seria tão bem recepcionado assim e com toda certeza vai ser um dos meus caps favoritos para reler os comentários quando tudo isso aqui acabar.

Não sei o que farei sem vocês, não estou pronta pro adeus.

Pelas minhas contas, em um mês, OUAP terá terminado.

UM MÊS.

Okay, vou parar de falar nisso se não vão chorar antes do capítulo começar (deve ser o meu recorde k)

Aproveitem, boa leitura, amo ocês desde aqui!

ps.: não me matem

cap tá...

- Eu não acredito que deixei você me convencer a fazer isso. - Louis resmungou pela terceira vez em menos de cinco segundos ao que Harry ajustava o notebook para que ambos conseguissem enxergar a tela com facilidade, mesmo de onde estavam no chão.

- Vão ser semanas agitadas, gatinho. Precisamos acalmar os nervos se quisermos sobreviver. - foi a resposta do cacheado, acompanhada de seus movimentos para retornar ao tapete de exercícios improvisado.

Estavam sentados na superfície pouco macia mas mais aconchegante que o chão do dormitório, o notebook à frente apresentando um vídeo de yoga que, de acordo com Harry, seria ótimo para relaxarem os músculos rígidos e silenciarem as inseguranças da mente, diante de tudo que vinha acontecendo e que poderia vir a acontecer nas semanas que se seguiriam com as preparações do musical e do campeonato.

Louis teve a certeza que se arrependeria de ter concordado com aquilo não muito em breve quando o namorado pressionou o play e o vídeo ressoou pelos quatro cantos do dormitório.

"Olá pessoal, bem-vindos ao Yoga com Adrienne, eu sou Adrienne e esse é Benji, e hoje temos uma incrível prática de alongamento..."

- Ugh. - Louis jogou a cabeça para trás em um gesto exagerado e dramático de tédio, nem mesmo nos primeiros cinco segundos do vídeo, e Harry o direcionou um olhar irritadiço mas ao mesmo tempo divertido. - É sério isso? Não podemos, sei lá, ver um desenho?

- Louis...

- O que? Simpsons me acalma. - deu de ombros, como se sua justificativa fosse plausível o bastante para livrá-lo daquele castigo em forma de namastê, mas algo nos olhos verdes cintilantes e pidões o fez bufar audivelmente em sincronia com a musiquinha de abertura do vídeo e então ajustar a péssima postura de suas costas para ao menos fingir que estava fazendo algo. - Tudo bem, tudo bem. Mas eu não vou abrir espacate, já vou avisando.

O sorriso de covinhas concordou com sua solicitação antes das palavras roucas.

- Ótimo, gatinho. Agora cala a boca. - chocado com a mudança de atitude de Harry em questão de milésimos de segundos, Louis abriu os lábios em surpresa no mesmo instante em que a moça, então chamada Adrienne, voltou a falar no vídeo tutorial.

- Mas que gros... - "Tudo bem, meus queridos amigos, vamos começar deitados sobre nossas costas." Se fossem ficar naquela posição a prática inteira, talvez não fosse tão ruim quanto o menor pensava. - Por que ela fala baixinho e suave assim?

Os olhos verdes reviraram nas orbes enquanto seguia os comandos e deitava no tapete. Louis podia sentir que estava irritando-o, e isso lhe deu mais combustível para continuar. Estava entediado, afinal de contas, e queria atenção.

- Para ajudar a relaxar, Lou.

- Pff, bobagem. - resmungou alto, levando mais do que alguns segundos para deitar, também e, ao invés de esticar as pernas e espreguiçar os músculos como Harry, deixou que seus membros repousassem desajeitadamente no tapete, nem um pouco adequado. - Relaxar? Eu relaxo com uma soneca, isso aqui é tortura.

- Shhh. - foi a forma educada que Harry encontrou de mandá-lo calar a boca, mais uma vez, todo seu corpo ignorando-o conforme Adrienne ressoava novamente. "Venha se deitar, e logo que chegar lá, vá em frente e respire fundo. Ao expirar, abrace os joelhos contra o peito." Seguindo os movimentos indicados, Harry deixou que os olhos fechassem e os membros se guiassem apenas pela voz suave da instrutora, até que um longo e exagerado suspiro ecoou, com certeza proveniente do menor, acompanhado de um gemido manhoso ao que erguia os joelhos para o peito. - Louis!

- O que? É difícil! Nem todo mundo tem a flexibilidade de um jogador de futebol americano, sr. capitão. - sua risada esganiçada desmentiu toda a seriedade de sua frase, e com os joelhos cobrindo a caixa toráxica, suas gargalhadas mais soavam como um choro do que proveitosas. Os olhos verdes reviraram mais uma vez, todo o complexo facial de Harry sofrendo para conter sorriso e risadas, sabendo que se desse ao namorado tal reação agora, jamais conseguiria finalizar aquela prática de yoga.

Era como conviver com uma criança, só que pior.

E legalmente permitido trocar beijos.

- Só... tente respirar mais suave, gatinho. Assim... - inspirou graciosamente pelo nariz e então expirou calmo pela boca, um som semelhante ao oceano quebrando ondas sendo ressoado pelo quarto. Um clima relaxante se espalhou, logo após isso, e então, um resmungo saiu da garganta de Louis, cortando qualquer mísero momento pacífico que pudesse ter sido cultivado.

- Metido.

- Louis! - não ria, não ria, não ria, droga, sua mente o crucificava, sua expressão com toda a certeza contorcida em uma careta, tudo em prol de disfarçar o sorriso bobo nos lábios.

- Não acredito que está mesmo tentando me ensinar a respirar, Harry. - um tapa ecoou, proveniente da colisão de suas mãos do menor com a própria testa. - Eu faço isso desde que eu nasci, sabia?

Escolhendo por não responder o namorado, que estava deitado ao seu lado no tapete, Harry apenas pressionou os olhos fechados e focou na voz de instrutora, já minutos adiante da prática. Em sua mente, contudo, gargalhava. O menor insistiu, claramente, o azul queimando em impaciência, mas percebendo que não teria a atenção solicitada tão cedo, bufou ao retornar a pose descontente para o teto.

"Tudo bem, segure seu joelho direito e envie sua perna esquerda totalmente para fora. Deixe-a pairar acima da terra. Aperte o joelho direito em direção ao peito, e então abra um pouco em direção ao ombro direito."

- Ugh. Hm, ah. - uma série de gemidos sôfregos deixaram a garganta de Louis, e ao contrário do que um Harry irritadiço esperou encontrar ao fitá-lo, o menor estava, realmente, tentando fazer a maldita pose, encontrando dificuldades em sustentar a perna erguida e colar a outra no peito, tudo com a força do abdômen. - Não sabia que precisava ter um tanquinho pra fazer isso.

Harry escondeu uma risadinha com um sorriso orgulhoso, satisfeito por ver o namorado se entregando ao que havia sugerido para fazerem, e tratou de esticar os braços para auxiliá-lo a endireitar a postura, como deveria ser.

- Não precisa de tanquinho nenhum, gatinho.

- Então por que parece que essa pose está espremendo minha gordura em busca de um?

- Você não tem gordura, Louis.

- Muito menos tanquinho. - o menor resmungou entre fôlegos, as bochechas já começando a enrubescer pelo esforço. - Isso é muito difícil. Pensei que fosse nos deixar relaxado. Eu pareço relaxado pra você? - pressionou os olhos na direção do namorado, as mãos tremendo ao redor do joelho contra o peito e a perna esticada chacoalhando no ar de forma nada graciosa, suor já recolhendo em sua testa. Harry mordeu o lábio, contendo uma risada. - Pareço relaxado, Harry? - "Pegue a mão direita e agarre o arco interno do pé direito..." - Tem mais? - voltou a resmungar, ainda na pose, e então, sua mente congelou em confusão. - O a-arco interno do pé dir..? Harry!

Sorrindo diante do gemido manhoso do namorado, o maior tratou de sair da própria pose, mais uma vez, para ajudá-lo a encontrar o arco interno do pé, que nada mais era do que a parte de dentro... do pé.

- Tenta segurar, Lou.

- Não consigo. - choramingou, a nuca queimando pelo esforço intenso ao que já havia desistido, o corpo todo jogado sobre o tapete como se não tivesse força para mais nada. - Meus dedos não alcançam o pé. - "Caso não consiga, apenas agarre o músculo interno da panturrilha..." - Oh, obrigado, Adrienne, muito obrigado mesmo. - ironizou para o vídeo do notebook, resmungando em seguida ao que Harry já tratava de ajudá-lo a fazer a pose, a tempo de voltar ao próprio tapete e repetir os movimentos facilmente. - Isso dói.

Harry sorriu para o teto.

- Tenta relaxar, gatinho.

- Como, se dói?

- Respira fundo e tenta esquecer que está na pose.

- Fica meio difícil quando tenho uma perna erguida no ar e estou com uma das bolas esmagada, né, sr. mestre da yoga? - disparou em um só fôlego ao que mal conseguia respirar no peito, a perna esticada realmente abrindo uma parte de seu quadril que não sabia ser possível, e o joelho quase no ombro conforme a outra perna permanecia esticada no chão. - Harryyy, está doendo muito.

- Engraçado. Quando eu te coloquei nessa mesma posição ontem à noite, não reclamou de dor. - fez questão de retrucar com um sorriso ladino provocador, a voz da instrutora ecoando no plano de fundo conforme suas respirações nublavam o quarto já abafado.

Louis gemeu manhoso, as pernas tremendo.

- Isso porque seu pau estava na minha bunda, idiota.

- Então imagine que ele está agora, também. Deve ajudar. - foi a resposta do cacheado para sua reclamação, e pelos próximos longos segundos de comandos ignorados da moça no vídeo, Harry se pegou surpreso pelo silêncio vindo do namorado, até que sua curiosidade foi maior que o desejo de relaxar com a yoga e sucumbiu a girar o olhar para o lado, onde Louis continuava na pose, as bochechas rubras e os olhos escondidos sob as pálpebras. - Lou?

- Shhh. Estou imaginando seu pau na minha bunda.

Com uma risada incontrolável, o maior voltou a fitar o teto, Adrienne falando com as paredes conforme um sorriso rasgava seu rosto e seu coração acelerava no peito - bem o oposto do que queria, não que estivesse reclamando.

É claro que Louis daria um jeito de fazer a maldita yoga e ainda assim desconcertá-lo totalmente, apenas para depois dizer mas foi você que não prestou atenção no vídeo e ficou rindo a toa.

"Inspire e expire, volte ao centro bem devagar. Sente-se. Cabeça sobre o coração, coração sobre a pélvis." Um risinho deixou os lábios de Louis, provavelmente com a menção inocente de pélvis, e Harry revirou os olhos divertido ao seu lado, ambos agora já sentados de pernas cruzadas no tapete, seguindo os comandos calmos da instrutora. "Faça seu caminho para ficar de quatro*, bem devagar." Uma gargalhada agora ecoou, e nem mesmo Harry conseguiu se conter diante da reação espontânea de Louis ao que Adrienne seguia suas próprias instruções no vídeo e ficava, enfim, de quatro, como a pose de yoga sugeria.

*N/A.: "on all fours" é um termo bem comum em yoga, que significa, literalmente, ficar de quatro. Nos EUA não há a sexualização do termo como aqui no Brasil, então é utilizado em diversos esportes e práticas sem tal conotação, então aproveitem o segundo sentido aqui nesta tradução livre do termo hehe.

- Esse tempo todo você tentando me convencer a fazer yoga para relaxar, quando na verdade só me queria de quatro, né, Styles? - não pôde evitar em ironizar, o sorriso malicioso nos lábios embolando suas palavras conforme se colocava na posição, sobre o tapete. Pelo menos essa ele sabia fazer, perfeitamente, com anos de prática para o ajudar.

O cacheado gargalhou em resposta, também, os olhos até lacrimejando com os reflexos ao que se colocava do mesmo jeito, ao lado de Louis. Quem entrasse pela porta do dormitório, veria uma cena e tanto. Só podiam esperar que Niall demorasse mais em sua aula extra.

- Oops. - o maior revelou suas verdadeiras intenções, sem sequer controlar as bochechas coradas e os olhos verdes cintilantes para a bunda empinada do namorado. Tinha que admitir, era uma vista impressionante. - Veja pelo lado bom, eu também estou de quatro.

- Estou vendo. - foi o que Louis respondeu, o azul fixo nas coxas fortes do jogador ao que vestiam apenas cuecas, ambos. Pareceu uma roupa apropriada para yoga no início, mas agora começavam a duvidar tal constatação. "Inspire, solte a barriga para baixo e abra o peito para cima junto com os quadris. Mova com a respiração, expire e arredonde a coluna para cima, barriga para dentro." A instrutora prosseguia com os comandos, exemplificando as poses na tela conforme os rapazes tentavam acompanhar, mesmo que seus olhares insistissem em desviar para os corpos suados e expostos em poses provocativas ao lado. Louis aproveitou da oportunidade para contrair a barriga e empinar a bunda, conforme a moça pedia, talvez um pouco mais stripper do que inicialmente, mas ainda assim, na pose de yoga adequada, e um sorriso satisfeito tomou seus lábios ao captar a atenção indivisível do namorado. - Ei, olhos na tela.

O verde sequer vacilou, hipnotizado por sua bunda delineada na cueca preta justa, demarcando cada curva e protuberância, principalmente seu membro levemente acordado na frente. Não que as posições eróticas e provocações verbais colaborassem com suas imaginações férteis.

- Estou tentando.

- Duvido muito. - satisfeito por ter, enfim, tirado a atenção de Harry da maldita yoga, Louis remexeu a bunda no ar, nada de acordo com o que a instrutora pedia. Mas quem se importava? - Vamos, está perdendo a prática.

- Mh-hmm. - murmurou, alheio e incapaz de focar em qualquer coisa que não Louis de quatro balançando a bunda para seu único e exclusivo show particular. Sem perceber, automático o bastante e preso em seus pensamentos impuros, Harry se moveu um pouco no próprio tapete até ter a visão total de trás do namorado, onde seu membro crescente repousava exatamente no meio das coxas fartas. Parecia clamar por seu toque.

Queria tanto ter sua câmera em mãos naquele momento para eternizar uma das imagens mais excitantes que já havia visto na vida. Mas pelo que percebia, teria que confiar em seus olhos para jamais deixá-la ir.

- Está babando no tapete, Harry. - Louis murmurou divertido ao continuar com os movimentos sedutores no quadril, quase gargalhando ao ver o cacheado deslizar a mão pelo queixo em busca de limpar quaisquer saliva que escorresse ali, logicamente não entendendo a piada. - Vamos, olhos na tela. "Ótimo, na posição de mesa* (*N/A.: é o termo técnico para "ficar de quatro" na yoga, porque a coluna esticada se assemelha a uma mesa, os joelhos e braços paralelos como os apoios do móvel), junte os dois dedões do pé, abra os joelhos até a largura do tapete e então envie os quadris para trás devagar, alcançando as pontas dos dedos em direção à frente." Seguindo os comandos e empinando a bunda para trás até se ver sentado sobre os tornozelos, exposto, Louis mordeu os lábios diante do gemido de aprovação de Harry, que já se encontrava de pernas cruzadas no tapete sem sequer prestar atenção na prática, somente observando o namorado com olhos sedentos. - Não vai fazer mais, Hazz? Pensei que quisesse relaxar.

- Vai por mim, estou muuuito relaxado agora. - respondeu quase que monotonamente, toda sua postura inclinada para ver a bunda empinada e a cueca consequentemente sofrendo para cobrir sua pele quente e farta, mesmo diante de todas as posições. - U-um pouco mais, gatinho.

- Hm?

- Empina um pouco mais. Quer dizer, - limpou a garganta, sua voz ainda mais rouca graças ao sangue que se concentrava em seu baixo ventre, adrenalina percorrendo as veias. - A-a instrutora parece estar um pouco mais empinada que você.

Louis mordeu o lábio com mais força, não sabendo se estava contendo um gemido ou uma risada.

- Como sabe, se nem está olhando?

- E-eu sei. - foi o que resmungou de volta, sequer se importando com a falta de argumento ao que engolia a saliva em excesso dentro da boca, quase babando como Louis havia sugerido antes. - Um pouco mais emp... isso, isso, assim mesmo.

- Assim? - murmurou sedutor, as bochechas rubras conforme jogava a bunda mais para trás sobre os tornozelos, seu próprio pau pulsando entre as coxas fartas pressionadas juntas. Sua respiração havia engrossado, e sequer ouvindo mais os comandos da instrutora, se viu dando à Harry o show que julgava merecer naquele momento. Se antes queria atenção, agora estava mais do que satisfeito. - Assim está bom, capitão?

Em segundos, Harry pareceu já não conseguir mais engolir o bolo na garganta, somente manejando de respirar e piscar atônito para o corpo seminu de Louis naquela posição exposta para si, seus dedos tremendo de desejo para tocá-lo e seu pau esquecido no colo gritando para que seja conectado ali.

Todo seu corpo gritava pelo contato imediato, mas sua mente só queria permanecer e apreciar.

- E-está perfeito, gatinho. - "Ande com os joelhos abaixo dos quadris e aqui vamos nós, cachorro invertido*, agradável e lentamente, então mãos apoiadas no tapete e dedos dos pés curvados da mesma maneira. Quando estiver pronto, levante o quadril para cima, pernas esticadas e bunda para trás." ("N/A.: nome da pose descrita acima, basicamente com a cabeça para baixo, entre os braços, e a bunda para cima, o corpo fazendo um triângulo no tapete, a única coisa erguida sendo o quadril). - O-o que está fazendo?

Louis riu da reação atônita do namorado, seguindo os comandos e fazendo a pose pedida pela instrutora, mudando assim a visão privilegiada que Harry tinha de sua bunda para uma ainda mais exposta, como se estivesse de quatro mas com os joelhos esticados.

- É o cachorro invertido, Harry. - repetiu as palavras da mulher, satisfeito por ter bagunçado com o eixo do maior, aparentemente. - Já deveria saber disso, afinal, não era você que praticava yoga regularmente para acalmar os nervos do campeonato?

- Campeonato, mh-hmm. - repetiu a última palavra na expectativa de enganar Louis o bastante para acreditar que estava prestando atenção em alguma coisa que não sua bunda empinada, os dedos famintos já esticando para tocar suas coxas grossas e deliciosas, apertando a carne com força. - Cachorro invertido.

- Essa é a pose, sim. - o menor riu, movendo as pernas daquele jeito e suspirando diante do contato intenso, a mão de Harry deslizando até chegar perto o bastante de sua cueca, e então voltando a cair para os joelhos, traçando uma linha quente no interior das coxas até chegar lá. Se continuasse assim, teria dificuldades de se manter estável muito em breve. - Tem certeza que não vai fazer, Harry? Está perdendo toda a diversão.

- Tenho certeza que não. - retrucou, os olhos verdes hipnotizados no movimento de sua bunda conforme seu cérebro tentava falar alguma coisa coerente, ao menos. - E você? está se divertindo?

Louis voltou a colocar os lábios entredentes, hiperventilando com a proximidade do rosto do namorado de sua bunda. Da onde estava, com a cabeça para baixo, conseguia ver Harry posicionado exatamente entre suas coxas, e isso era o suficiente para levar sua imaginação às alturas. Quando se deu conta de responder a pergunta que lhe foi feita, lábios começaram a percorrer a parte de trás de suas pernas, umedecendo a pele sensível, ora ou outra mordiscando e chupando até marcas enrusbecerem.

Um gemido escapou de seus lábios juntamente com mais comandos da instrutora, e da mesma forma que tinha certeza de que a pose já havia mudado para outra, mal podia se dar ao trabalho de sair da que estava, Harry segurando as laterais de suas pernas com as mãos firmes e a língua percorrendo agora o interior delas, dificultando seu trabalho de se manter erguido nos braços, o sangue já acumulando na cabeça.

Nas duas.

- H-harry...

- Shhh. - sussurrou contra sua pele, saboreando a região conforme subia os lábios para a barra de sua cueca, próximo demais da bunda farta e exposta. - Você quer relaxar? Eu posso te fazer relaxar. Hu? - Louis tentou responder mas nada saía de seus lábios senão murmúrios positivos e gemidos sôfregos, cada parte consciente de sua mente implorando para que sentasse na cara de Harry e acabasse com aquele sofrimento, mas antes de tomar uma decisão, sentiu o tecido da cueca sendo abaixado, e então, sua entrada ser exposta, o ar quente que batia contra ela indicando que o rosto de Harry estava mais próximo do que imaginava. - Hm, gatinho? Quer que eu te faça relaxar?

Um murmúrio afirmativo deixou seus lábios e em menos de um milésimo de segundo depois, a língua de Harry já rodeava sua entrada.

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- Eu 'tô falando... - Louis começou, impaciente ao extremo conforme fitava as garotas. - Eles sabem que eu sei sobre a festa de Mike.

Estavam reunidos nos corredores dos dormitórios, exatamente na divisão entre a ala feminina e a masculina, e embora qualquer um pudesse vê-los, falavam baixo em busca de certa descrição sobre aquele assunto. Não podiam correr o risco de serem ouvidos por alunos de passagem, ou pior, por algum dos rapazes.

Foi Bebe quem respondeu, a pele do indicador entredentes em um claro tique nervoso.

- Pelo menos eles não comentaram nada. Digo, na festa de ex-jogadores do final de semana.

- Não comentaram nada para nós. Não sabemos se eles comentaram entre eles. - Eleanor contrapôs, seu corpo tenso apenas pela menção do evento passado, na qual Ryan teve sua fatídica aparição.

Louis já havia atualizado-as sobre tudo que havia acontecido, e seria leviano dizer que elas estavam bem assustadas com a petulância e perigo que vinham acompanhados de Ryan, ainda mais do que imaginavam ser possível. Diferente dos rapazes que conheciam realmente o maldito ex-namorado, desde a época em que ele estudava na UAL, as garotas não o conheciam pessoalmente, apenas pelas histórias nada agradáveis de Louis, então foi uma surpresa extra chocante ao saber da madrugada de domingo em primeira mão.

- De qualquer forma, a aparição de Ryan deve tê-los distraído um pouco, não acham? - Barbara tentou, sempre utilizando de algo ruim para canalizar algo bom, e Louis sorriu agradecido em sua direção. - E outra, mesmo que saibam de fato de alguma coisa, o que poderiam saber sobre aquela festa?

- Se fosse algo substancial, já teriam falado com Louis. Eu acho pelo menos. - Eleanor voltou a complementar a namorada, a abraçando de lado. - Pensei que tivéssemos os despistado de vez naquele dia em que Louis fingiu retomar a busca pelo dono do plug, lembram?

Bebe suspirou, exausta. Sua mente estava no musical mas, ao mesmo tempo, não conseguia tirar a atenção do amigo.

- Também pensei. Fingimos tão bem que até eu acreditei que Louis realmente não sabia com quem havia transado.

O menor abraçou o próprio torso, pensativo. Aquele assunto era complicado, tinha tantas voltas e atalhos que às vezes se questionava se de fato sabia a verdade.

- Niall e Zayn ajudaram, inclusive. Quer dizer, eles também entraram na busca forjada e deram até mesmo palpites e informações que eu supostamente não lembraria daquela noite. - murmurou confuso, tentando juntar as peças de um quebra-cabeça que ele mesmo começou e agora não mais compreendia. - Eu tinha certeza de que havíamos enganado eles naquele dia. Quer dizer, estava na cara que eu não me lembrava com quem havia transado.

- Vai ver alguma coisa que você fez depois disso tenha os convencido do contrário. - Barbara tentou, cogitando todas as opções enquanto desviavam o olhar constantemente para garantir que ninguém estava ouvindo. - Tem certeza que ninguém viu alguma coisa que não devia ou..?

Louis pressionou os olhos juntos mas nada veio à mente, nem mesmo as ocasiões em que Harry e Niall observaram-o manuseando o plug e a polaroid, em momentos diferentes. Aparentemente, ele mesmo se esquecia de algumas verdades.

Por fim, dando de ombros, fitou as garotas em busca de apoio.

- O importante agora é focarmos em colocar o plano em prática na final do campeonato. - desviou as atenções para esse tópico e, vendo as garotas hesitarem, pela primeira vez desde sempre, franziu o cenho. - O que? O que foi?

Elas se entreolharam por alguns instantes antes de Eleanor tomar a frente e murmurar, tímida:

- Tem certeza de que quer prosseguir com isso, Lou? - se adiantou antes do amigo retrucar, os olhos arregalados em preocupação. - Ryan poderia ter te machucado feio no final de semana. Preferimos seu bem-estar ao invés de qualquer vingança em qualquer momento, e você sabe disso. Só... pensa bem, okay? De que adianta conseguir o que quer com Ryan e arriscar sua segurança no meio do caminho?

Esfregando a mão no rosto conforme suspirava, Louis negou para o ar, nem mesmo prestando atenção nas palavras da amiga, ou nos olhares carentes das outras duas. Só conseguia processar o desespero de sequer imaginar Ryan encontrando Harry e o causando mal, e isso estava guiando-o para prosseguir com o plano, desde o início e após a ameaça no banheiro feita pelo ex-namorado, ainda mais atiçada.

- Eu arrisco minha segurança todos os dias quando ando pelo campus sem saber onde ele está, ou quando pego um caminho que usualmente faço todos os dias, dando-o mais chances de me seguir, de me encurralar. Não compreendem? - seu tom era frágil, mas sua expressão era nada além de forte, destemida, e isso fez Eleanor recuar. - Eu nunca vou estar seguro com Ryan solto por aí. Então sim, vamos prosseguir com o plano, porque além de mim, a segurança de Harry também está em risco, e eu contei pra vocês o que Ryan me disse no sábado, certo? - as garotas assentiram, não que Louis tivesse aguardado uma resposta. - Então temos que manter a guarda, porque ele com certeza vai tentar alguma coisa com Harry. E eu não posso permitir isso. Não de novo.

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Louis controlou um gemido na base da garganta ao que os lábios de Harry se abriram contra os seus, de novo e de novo; as mãos grandes deslizando por suas costas mas uma delas permanecendo firme ao redor de seu pescoço, apertando apenas o bastante para limitar a quantidade de ar em sua mente, entorpecendo seus pensamentos e sentidos, sua nuca ficando cada vez mais leve conforme deixava o pescoço pender para trás e suas línguas se esfregarem livres ainda do lado de fora, acompanhadas de ofegos, gemidos e murmúrios.

Estavam no escritório que uma vez fora de Zachary, na qual agora, como novo chefe da fraternidade, Harry tinha total acesso e controle; Harry que estava entre as coxas fartas de Louis, sentado na mesa entre todos os papéis, cartas e notebook, sem se importar com nada além do corpo musculoso à sua frente, a cintura circundada por suas pernas grossas e peitoral definido espalmado, mesmo coberto pela jaqueta do time.

Não sabiam há quanto tempo estavam se beijando fervorosamente, mas o escritório parecia uma sauna, suor escorrendo por suas testas e seus peitorais colidindo um contra o outro a cada inspirar e expirar sôfrego, principalmente para Louis, que era enforcado de propósito, elevando aqueles gestos a um patamar mais erótico do que uma sala com apenas uma tranca na porta poderia os oferecer.

Sentia seu pau ardendo dentro dos jeans e por isso pressionava as coxas ainda mais contra o quadril de Harry, tentando aliviar um pouco da tensão, mas, chamando a atenção do maior apenas o suficiente, logo percebeu que a mão que não estava em seu pescoço agora repousava sobre sua protuberância nos jeans, massageando o local intensamente até levá-lo à revirar os olhos e gemer contra o beijo quente.

Queria um boquete.

E talvez tenha sido a conexão forte que compartilhava com Harry, ou vai ver havia falado em voz alta e sequer percebido, mas quando viu o namorado soltando seu corpo em todos os sentidos possíveis para então poder abaixar até a altura de sua cintura, Louis se permitiu apoiar os cotovelos na mesa e inclinar o torso para trás, estendendo sua visão a tempo de observá-lo desabotoando seus jeans.

Teria um boquete.

Ou ao menos era o que pensava antes de um barulho semelhante a um bip ecoar ali mesmo na mesa onde estava quase deitado, o corpo hiperventilando, suando e tremendo em luxúria sequer se preocupando em procurar a origem de tal barulho - parecia uma notificação de algo -, os dedos pequenos já se agarrando na jaqueta dos Wolves de Harry e o puxando para prosseguir com os preparativos de seu boquete.

Mas o maior tinha planos diferentes.

- Ei, o qu... - se interrompendo tanto pela falta de fôlego quanto pela rigidez do corpo de Harry entre suas coxas, Louis franziu o cenho, confuso. Os olhos verdes estavam fixos na tela do notebook atrás de si, parecendo ler alguma coisa que chamou sua atenção, e já sentindo um frio na barriga antes mesmo de virar por conta própria para ver do que se tratava, mordeu os lábios. - O que foi?

Seus olhos azuis ainda turvos pelo prazer vasculharam perdidamente a tela até encontrar a origem da notificação. Era um novo e-mail que havia chegado na caixa de entrada institucional de Harry, proveniente do escritório da coordenação da UAL, cujo assunto gritava em negrito Eventos de Conclusão de Curso - Grease: o Musical & Final Nacional do Campeonato Universitário de Futebol Americano da Inglaterra (CUFAI). Parecia inofensivo, mas a prévia de uma linha do e-mail logo abaixo do título - É com grande prazer que confirmamos a data oficial de dois dos maiores eventos do ano letivo de 2021 da UAL, para acontecer em... - fazia seus braços arrepiarem e todos os seus instintos curvarem em busca de conforto em direção ao corpo forte à sua frente, ousando até mesmo gemer por um abraço.

Carinho que Harry com toda a certeza teria retribuído se não estivesse ansioso e extasiado demais para prestar atenção em outra coisa que não a tela do notebook, sua mão já esticando até o teclado para clicar no maldito e-mail e assim poder ler o restante da frase que definiria um dia para um dos maiores - se não o maior - momento de todas as suas vidas acontecer.

"De: Coordenação e Reitoria da University of Arts London ()

Para: Harry Styles (); Louis Tomlinson ()

Assunto: Eventos de Conclusão de Curso - Grease: o Musical & Final Nacional do Campeonato Universitário de Futebol Americano da Inglaterra (CUFAI)

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É com grande prazer que confirmamos a data oficial de dois dos maiores eventos do ano letivo de 2021 da UAL, para acontecer em:

Final Nacional do Campeonato Universitário de Futebol Americano da Inglaterra (CUFAI)

Local: Emirates Stadium

Data: 10 de Julho de 2021

Horário: 16h

Grease: o Musical

Local: Lyceum Theatre

Data: 10 de Julho de 2021

Horário: 18h

Esperamos que todos os preparativos estejam prontos até tal data.

Quaisquer dúvidas, favor entrar em contato com o Escritório da Coordenação e Reitoria da University of Arts London,

Cordialmente,

CRUAL."

Por um momento, todo o escritório da fraternidade ficou silencioso, até mesmo estático, nenhuma respiração, batimento cardíaco ou murmúrio sendo passível de ser ouvido, e então, Louis limpou a garganta, sequer sentindo suas bochechas conforme lia e relia o e-mail várias e várias vezes para só então constatar a mesma coisa:

- Eles vão acontecer no mesmo dia. - sua surpresa foi, contudo, ao notar que tais palavras haviam ecoado pela voz de Harry e não de seus próprios pensamentos e, girando o olhar para o namorado, ainda entre suas coxas embora sequer pudesse pensar em beijos e carícias agora, Louis ofegou. Harry parecia tão à beira de um colapso quanto ele, e ponderou se seus olhos azuis estavam desesperados iguais os verdes aparentavam naquele momento. - Louis, o musical e o campeonato vão acontecer no mesmo dia, em horários próximos e em lugares diferentes.

E foi somente aí que Louis, ainda boquiaberto e sem conseguir processar as palavras daquele e-mail até então inocente, viu Harry se desvinculando de seu corpo para caminhar sem rumo pelo escritório, os cabelos desgrenhados e os lábios rubros pelos beijos que até minutos atrás compartilhavam, mesmo seu pau ainda mostrando leves sinais de rigidez nas calças, não que suas mentes agora compactuassem com tal ato.

O cacheado resmungava as mesmas palavras entredentes - mesmo dia, horários próximos, lugares diferentes - incapaz de compreender sua magnitude, as mãos coçando a nuca, puxando os cabelos, alisando o moletom, tudo, exceto aceitar o que aquela frase realmente significava.

Louis, contudo, continuou sentado na mesa, não confiando em suas pernas para erguê-lo naquele momento, e puxando o notebook para seu colo como uma última tentativa de ter lido errado, voltou a repousar os olhos na tela:

Final Nacional do Campeonato Universitário de Futebol Americano da Inglaterra (CUFAI)

Local: Emirates Stadium

Data: 10 de Julho de 2021

Horário: 16h

Grease: o Musical

Local: Lyceum Theatre

Data: 10 de Julho de 2021

Horário: 18h"

10 de Julho.

Não só eram no mesmo dia como eram em apenas duas semanas da onde estavam naquele exato momento, surtando dentro do escritório da fraternidade.

Tinham duas semanas antes da grande estreia do musical e da final tão esperada final do campeonato.

Duas semanas.

E mais - aproximadamente um mês para suas provas finais, e consequentemente, sua formatura.

Isso se passassem com notas decentes e performance adequada para os parâmetros da universidade.

Mas ainda assim, um mês para o adeus definitivo da UAL.

Um mês para fecharem aquele ciclo de suas vidas.

Um mês para serem considerados adultos, sem mais poder se esconder sob o título de estudante - coisa que vinham sendo desde que se lembravam - desde sempre.

Um mês.

Louis piscou os olhos azuis arregalados para Harry, que agora havia parado de caminhar sem rumo e já o aguardava de volta. Pareciam compartilhar do mesmo sentimento.

Confusão.

Medo.

Insegurança.

Por que o que aquela informação significava?

Tinham planos, afinal de contas.

Quer dizer que Harry não poderia assistir Louis da platéia? Dá-lo flores quando terminasse de atuar no papel de seus sonhos, que tanto lutou para conseguir? Não poderia filmá-lo e fotografá-lo para a uni? Não poderia aplaudí-lo e gritar seu nome vergonhosamente da primeira fileira? Não poderia ocupar os assentos que estariam reservados para a sua família para garantir que não se sinta mal por não ter algum parente sanguíneo o assistindo e apoiando? Não poderia chorar de emoção e orgulho por sua coragem e dedicação? Não poderia beijá-lo de boa sorte na coxia antes do sinal ecoar? Não poderia abraçá-lo quando tudo acabasse e os aplausos ainda ressoassem por seus ouvidos? Não poderia vê-lo caracterizado como Danny Zuko e desejá-lo sucesso e amor? Harry não poderia sequer estar lá?

E Louis? Não poderia vestir a camiseta dos Wolves e pintar suas bochechas nas cores do time para dar boa sorte ao seu namorado capitão? Não poderia chacoalhar pompons no ar e gritar palavras de apoio? Não poderia correr para o vestiário escondido do treinador e beijar suas preocupações para longe? Não poderia ecoar o grito de guerra dos Wolves quando a banda e as líderes de torcida o fizerem? Não poderia chorar pelos touchdowns perdidos e pular na arquibancada pelos ganhos? Não poderia observar o camisa 28 apontando em sua direção e dedicando os pontos para si? Não poderia roer as unhas e morder os dedos em ansiedade? Não poderia acalmar os nervos de Harry no ônibus em direção ao estádio? Não poderia correr para seus braços quando os portões do campo forem liberados e a vitória dos Wolves tenha sido anunciada? Não poderia garantir que Ryan não o machucasse? Louis não poderia sequer estar lá?

Antes de se dar conta, lágrimas acumulavam em seus olhos azuis límpidos, e Harry se viu traçando o caminho de volta para entre suas coxas, tomando-o em um abraço firme, palavras doces ecoando para acalmá-lo, mesmo que não vissem alternativa para fora daquela situação.

Era uma decisão que não os cabia.

Era interinamente em resguardo à Coordenação e Reitoria da uni.

Era algo que jamais haviam parado para cogitar - o musical e o campeonato acontecendo no mesmo dia.

Foi então que Louis, entre choros e choramingos, relembrou das últimas linhas do maldito e-mail.

"Quaisquer dúvidas, favor entrar em contato com o Escritório da Coordenação e Reitoria da University of Arts London,

Cordialmente,

CRUAL."

E simples assim, já soube o que podiam fazer para ao menos tentar mudar as datas.

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15 Dias Para a Final do Campeonato e a Grande Estreia do Musical

- Como assim não podem fazer nada a respeito? Vocês são literalmente os únicos da uni inteira que podem fazer alguma coisa! - Louis exclamou agitado, as mãos gesticulando no ar e os olhos arregalados revezando entre srta. McGregor, o treinador Travis e o reitor Jerry.

Estavam na sala da reitoria, e reunindo todos que diziam respeito àquele tópico, tanto do musical quanto do campeonato, não pôde evitar em ficar esperançoso quanto à mudança de datas, mas as expressões do outro lado da mesa o diziam o contrário. Se não fosse por Harry ao seu lado e seus dedos entrelaçados, estaria chorando vergonhosamente, com toda a certeza.

Foi srta. McGregor quem o respondeu, gentil e dócil, os olhos até mesmo misericordiosos em sua direção. Parecia chateada consigo mesma por ter deixado esse detalhe pequeno mas importante escapar de sua mente - o de que Louis namorava o capitão do time e que a data de ambos os eventos impactariam seus planos.

- Como o reitor já havia dito, Louis, querido. As datas foram aprovadas pelo Conselho meses atrás, quando fizemos as locações do estádio e do teatro. Já começamos a divulgar banners e flyers do musical por toda Londres, inclusive, todos com a data oficial. - eu sinto muito, querido, era o que os olhos de Tiana diziam, entretanto.

- E a data da final do campeonato é pré-aprovada com a equipe de organização do evento, desde a UAL e todas as outras universidades que participaram das etapas anteriores. Não depende somente de nós. - Travis complementou sua colega de profissão, os braços cruzados na frente do peito e o olhar recaído sobre a figura desolada de Harry, que buscava algum alívio insuficiente em si. Soava como um pai pedindo perdão ao filho por ter esquecido de comprar o sorvete que queria no mercado. - E os investidores, os olheiros, a imprensa... todos já foram avisados e consultados sobre a data original. Não... não tem como alterar, rapazes. Sentimos muito.

A pior parte era, talvez, a de que realmente soavam como se sentissem muito.

Sem conter uma breve e única lágrima escorrendo por sua bochecha rubra, Louis logo tratou de a limpar, aproveitando que estava de mãos dadas com Harry para utilizar o braço do jogador como lenço, esfregando o rosto e já o repousando ali, sem se importar com as presenças ilustres na sala.

Precisava daquele tipo de conforto agora, principalmente quando todos os planos que fizeram a respeito daquele dia tão especial haviam sido destruídos para sempre.

Fora tão inesperado que sequer tinham reação diante do problema.

Harry o aninhou em sua lateral, de prontidão, e sua respiração forte denunciava o quanto estava se esforçando para conter a instabilidade emocional, ao menos enquanto continuavam ali dentro.

O reitor então voltou a soar empático, embora formal, afinal, gerir dramas românticos universitários não compunha sua folha de pagamento mensal, mesmo que compartilhasse de certa afinidade com ambos.

- A data permanece, rapazes. Infelizmente não é uma decisão que nos cabe, apenas temos o trabalho de repassá-la. E sinto avisar que só ficaram sabendo de antemão porque ambos fazem parte de peças importantes do quebra-cabeça. - vendo que suas expressões se contorceram em pura confusão, Jerry suspirou, brando. - Louis, você é o chefe da organização de eventos do campus, e Harry recém se tornou o novo responsável pela fraternidade, e também capitão do time. Esse é o tipo de informação que recebem antes dos outros alunos que fazem parte do musical e dos Wolves. Portanto, confiamos em vocês para terem a maturidade necessária para tirar o melhor de uma situação desfavorável, sim?

Quando o homem de meia idade terminou sua fala, Louis soube que aquele era o fim daquela conversa, e que sairiam do escritório com a mesma certeza na qual entraram.

O musical e o campeonato seriam no mesmo dia, em horários próximos e em lugares diferentes.

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- Tecnicamente, são em horários ligeiramente diferentes. - Niall tentou animá-los, o olhar atento no e-mail que parecia ter permanecido no notebook de Harry durante todo aquele dia. - O campeonato é às 16h e o musical só estreia às 18h.

- Se o jogo não tiver acréscimos ou atrasos, talvez consigamos chegar no teatro antes do último ato. - Liam direcionou sua fala para Harry, que estava jogado na cama, o olhar fixo no teto e o peito subindo e descendo em respirações irregulares, a pura representação da frustração. Não obteve respostas, contudo.

Era noite, e reclusos no dormitório de Louis e Niall, debatiam como iriam lidar com aquele novo desafio.

Não que houvesse muito a debater.

Era isso e ponto final, ao que tudo indicava.

- É o jogo da final. - Zayn resmungou, mais chateado do que qualquer um ali, aparentemente. - É claro que vai ter acréscimos e atrasos. E digo mais, a torcida vai demorar mais para comemorar, a imprensa vai querer falar com os vencedores, que rezo todo dia para serem vocês, os intervalos vão ser mais rígidos, o outro time vai querer cobrar mais faltas, até mesmo a marcação dos pontos e dos juízes vai ser mais meticulosa. É claro que vai atrasar.

Niall bufou para o moreno, desaprovando sua negatividade naquele momento já pouco positivo.

- O jogo tem apenas uma hora de duração, Zee.

- Isso só em campo. Mas e todo o resto que eu acabei de falar? - retrucou, tão impaciente a ponto de captar a atenção de Harry, que sequer fitara ninguém desde que entrou pela porta. Louis, apoiado na parede e sem falar uma palavra ao que parecia anos, também piscou os olhos em direção ao amigo. Zayn, então, se viu encolhendo os ombros. - O que? Só estou falando os fatos.

- Está sendo pessimista. - Niall resmungou, virando o rosto para longe.

Zayn abriu a boca em choque, magoado pela acusação.

- Qual é! Harry e Louis mesmo disseram quando chegaram aqui que não tem como mudar, então ou aceitamos a realidade ou vamos continuar nos enganando até chegar o grande dia, e adivinha só? Não temos muito tempo até lá. - com a voz levemente esganiçada, o moreno ofegou, as bochechas rubras e o olhar de Liam queimando em confusão sobre si. - Precisamos de um plano para que consigamos ir nos dois eventos, tudo bem? É... - suspirando enfim encontrando a calma, ou o pico da angústia, Zayn esfregou o rosto. - É só o que eu estou tentando fazer... encontrar um jeito de... de ir nos dois eventos. E-eu... - seu olhar automaticamente desviou para as íris azuis de Louis, com pesar. - Eu não quero ter que escolher entre ver meu namorado em campo e assistir meu melhor amigo performar.

Simples assim, todo o dormitório encontrou o silêncio ensurdecedor, Harry voltando a fitar o teto em impotência e até mesmo raiva de estarem naquela situação, Liam cruzando os braços na frente do peito e Niall murmurando palavrões em irlandês conforme apertava a almofada no rosto, restando apenas Zayn e Louis, conectados pelo olhar ao que processavam a magnitude que aquela frase representava naquele momento.

Eu não quero ter que escolher entre ver meu namorado em campo e assistir meu melhor amigo performar.

- Ninguém vai ter que escolher nada aqui, entenderam? - a voz de Louis ecoou, portanto, melodiosa, chamando a atenção de todos conforme se colocava a andar em direção ao moreno, a tempo de tomá-lo em um abraço caloroso na cama. - Zee tem razão. Precisamos de um plano para que ele e Niall consigam ver os dois eventos. Sem ter que sair no meio de um para ir pro outro, inclusive. Não queremos isso.

Por um segundo ninguém se moveu, respirou ou reagiu, mas então, após alguns olhares trocados e suspiros de incentivo, Harry se levantou da cama e assentiu para o namorado, do outro lado do quarto.

- Tudo bem, precisamos de um plano.

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13 Dias Para a Final do Campeonato e a Grande Estreia do Musical

- Vamos! Vamos! Vamos! - a voz de Travis ecoava pelos quatro cantos do campo de futebol americano da UAL, e parte das pessoas reunidas nas arquibancadas podiam dizer que o cansaço dos jogadores era devido ao sol incomum para aquela época do ano que brilhava sobre suas cabeças cobertas pelos capacetes pesados, ou ainda que a fatiga se justificava pela terceira hora de treino seguida naquela tarde. De qualquer forma, não havia tempo para nada que não fossem arremessos, passes e corridas aceleradas de um lado para o outro. - Patrick, Payne, fechem na esquerda. A barreira está muito fraca!

A preparação havia começado, não apenas em campo mas também por toda a uni, na verdade.

O final do ano letivo era, sobretudo, uma das épocas mais caóticas da universidade, principalmente para os alunos que deixariam o campus em questão de poucas semanas - como era o caso dos rapazes e das garotas.

Geralmente, quaisquer outros assuntos ficavam em pausa nessa época do ano, para que o foco ficasse somente, e exclusivamente, nos projetos de conclusão de curso e nas provas finais. Por isso, alunos corriam pelos paralelepípedos em busca de seus orientadores, coordenadores, colegas de classe e parceiros de projeto, desde carregando esculturas gigantescas que levaram meses para serem feitas e que poderiam vir ao chão e destruir suas chances de ganhar um diploma em questão de segundos, até coros e harmonias de violões, violinos, guitarras e muitos outros instrumentos de corda repousados na grama, praticando para a noite da orquestra.

Tudo tinha que ser perfeito, e suas formaturas dependiam disso.

Fazia pouco mais de quarenta horas, menos de dois dias, que haviam descoberto sobre as datas - ou melhor, a data - do musical e do campeonato, e não tendo outra opção senão seguir com suas rotinas de treino e ensaios intensas até que tivessem que realmente lidar com o problema de agenda, Harry e Louis tentavam manter suas mentes no presente.

O que não era muito difícil considerando que os dias pareciam ter trinta horas de duração e ainda assim não ser o suficiente para tanto que tinham que fazer.

Harry ofegava contra as grades de proteção do capacete, atordoado pela correria no campo que parecia nunca ter fim, as mãos cobertas pelas luvas ardendo pelo atrito da bola arremessada firme e sua mente ora ou outra vagando para as pessoas que passavam do outro lado da grade, carregando cartazes gigantescos que sequer precisava olhar duas vezes para saber do que se tratava.

Afinal, ele quem fotografara aquele ensaio.

FLASHBACK ON

- Tudo bem, Bebe, mão sobre o ombro de Louis, e Louis, preciso que olhe diretamente para a câmera. - comandava suas poses conforme os observava com olhos atentos, as presenças marcantes de srta. McGregor e srta. Pierce, sua orientadora do projeto de fotografia, pressionando seu consciente a tornar aquele ensaio ainda mais perfeito do que humanamente possível.

Afinal, o cartaz que estaria colado por toda Londres em algumas semanas dependia daquela foto.

Da foto que mais representava Grease, semelhante ao cartaz original do filme, estrelado por John Travolta e Olivia Newton-John.

Horas de estudo culminaram naquele exato momento dentro do estúdio de fotografia, um pequeno período de tempo para uma produção tão importante como aquela - mas quarenta minutos era tudo que conseguiam durante a semana caótica de estudos, projetos e festas da UAL.

Harry faria ser o suficiente, não que fosse tarefa árdua considerando que Bebe e Louis estavam perfeitamente caracterizados e maquiados de acordo, somente aguardando seus comandos de poses e os clicks da Nikon ao redor de seu pescoço e entre seus dedos firmes.

Com um suspiro, Tiana sorriu.

- Talvez um pouco mais inclinado. O que acha? - a pergunta era para Harry mas o olhar estava em Louis, que assentiu para suas palavras e tratou de ajustar o torso conforme, Bebe contra seu peitoral em um abraço simples. - Assim. Perfeito.

Tiveram apenas alguns segundos para processar o comentário antes de flashes tomarem suas faces e clicks ecoarem pelo estúdio, assim como os suspiros satisfeitos de Tiana e os sorrisos orgulhosos de srta. Pierce preenchendo as paredes.

Mas tudo que Harry conseguia digerir eram os olhos azuis eletrizantes diretamente conectados com os seus verdes, mesmo através das lentes grossas. Seu dedo pressionava o botão da câmera, mas seu coração gritava sentimentos no peito, por pouco não comprometendo a estabilidade de seus dedos para com o instrumento.

No final das contas, ainda tinham alguns minutinhos para gastar dentro do estúdio, e pôde sorrir satisfeito quando suas professoras e Bebe deixaram a sala para que tivessem um pouco de tempo à sós, seus lábios demonstrando todo o agradecimento, o carinho e o amor que compartilhavam.

"É claro que, se eu estrelasse o musical, você seria o fotógrafo do cartaz oficial."

"O que quer dizer com isso, gatinho?" Harry se lembrava de ter perguntado contra a boca do outro, sua cintura presa em seus dedos e seus peitorais pressionados juntos em uma só respiração compacta.

O sorriso de Louis jamais sairia de sua mente.

"Quero dizer que o universo sempre dá um jeito de nos unir, capitão, desde o início quando eu te ajudava com o projeto de fotografia até você me ensinando a atuar. E agora, olha onde estamos."

E Harry olhou - olhou para Louis o olhando de volta, vendo nada além de paixão, como um espelho refletindo de volta para seu peito.

Foi ali que ele teve a certeza de que estavam exatamente onde deveriam estar, fazendo exatamente o que deveriam estar fazendo e sentindo exatamente o que deveriam estar sentindo.

Como se tudo tivesse um propósito, e só tivesse os levado alguns meses - quase um ano inteiro! - para perceber.

FLASHBACK OFF

Harry foi trago de volta à realidade quando colidiu contra o corpo forte de Liam no meio campo, acabando por rirem segundos após, simplesmente porque em uma semana de preparação para o jogo que, literalmente, definiria suas vidas.

Então era bom rir um pouco.

Dissipar a tensão.

Mesmo que do outro lado do campus, Louis não podia dizer o mesmo.

- Que bom que viram minha mensagem. - resmungou baixo, levemente ofegante conforme coçava a nuca e então esfregava o rosto. Aquele estava sendo um dia intenso para ele, com todas as aulas e ensaios árduos, e a tarde mal havia terminado ainda.

- Você disse que era urgente. - Eleanor justificou, como se suas expressões ansiosas não fossem o bastante. Ainda vestia o traje de líder de torcida, o que denunciava que estava a caminho do treino, e Barbara, ao seu lado, segurava seu tambor, também indicando que precisava se encontrar com a banda em breve. E Bebe, com os cabelos enrolados e penteados de acordo com Sandy, em Grease, não precisava sequer falar para Louis que estavam atrasados para o ensaio geral, porque era mais do que óbvio.

Mas como havia dito na mensagem...

- É urgente. - o menor reforçou, a voz entrecortada por respirações ansiosas, suas íris revezando nas garotas de forma a tornar seu ponto mais claro. - Ficaram sabendo das datas dos projetos, sim?

Eleanor revirou os olhos, já tirada do eixo diante daquele gancho.

- Não acredito que não vou poder ver vocês se apresentarem porque vou estar torcendo para os rapazes no Estádio.

Barbara bufou, abraçando a namorada de lado. Aquele parecia ter sido um tópico de debate entre elas previamente, julgando pela familiaridade na qual o traziam à tona.

- Nem me fala, eu também vou estar presa do outro lado da cidade.

Bebe e Louis trocaram um olhar cúmplice, nem sequer conseguindo esconder que estavam chateados por metade de seus amigos não poderem vê-los no musical, afinal de contas, Niall e Zayn namoravam jogadores do time, e isso constituía então Harry, Liam, Chad e Patrick, e agora Barbara e Eleanor também precisariam comparecer ao Estádio de futebol, já que eram da torcida e da banda.

Ficariam sozinhos no musical, praticamente.

O que era uma droga.

Foi Louis quem ecoou, suspirando suas frustrações para longe, por enquanto. Seu olhar, entretanto, não conseguiu negar a dor.

- O Estádio e o Teatro não são muito distantes um do outro.

- Tem uma pequena chance de conseguirmos unir os dois eventos. - Bebe o complementou, suas mãos entrelaçadas como um sinal de que fariam dar certo, ou de que ao menos tinham um ao outro para se apoiar, mesmo que dividindo o palco. - O importante é que estejamos prontos para fazer nosso trabalho, nós com o musical e vocês com a torcida dos Wolves. Todo o resto vamos resolver quando chegar a hora, sim?

Eleanor estava prestes a gritar não! quando Louis a interrompeu, ansioso demais para aguentar segundos adicionais para falar sobre o verdadeiro motivo daquela reunião de emergência. Por ora, havia tido o bastante daquele assunto triste.

Era o momento de falar sobre um assunto ainda pior.

- É o seguinte: o plano Ryan. - Barbara prendeu uma respiração no peito, recuando para trás em repulsa àquele nome, e Louis piscou os olhos azuis em sua direção. Sabia bem como era o sentimento. - Temos que descobrir um jeito de continuar com nosso plano agora que as datas dos eventos são as mesm...

Uma chave pareceu virar na cabeça das garotas, compreendendo seu ponto antes mesmo de poder finalizá-lo, e o desespero se tornou geral.

- Você não vai conseguir proteger Harry se estiver apresentando o musical! - Eleanor pulou para conclusões ao que seus olhos arregalavam e sua boca era coberta pela mão da namorada, Louis mordendo o lábio em concordância às suas palavras.

Em instantes, aquela conversa se tornou tensa. Como de praxe quando se tratava de Ryan.

Mas se tudo desse certo, em semanas, não precisariam se preocupar com aquilo de novo.

Nunca mais.

- Tudo que planejamos... - Bebe tentou raciocinar, se vendo sem saída. - Como vamos fazer se você não vai estar lá para distrair Ryan? C-como?

Louis cruzou os braços, soltando assim suas mãos entrelaçadas. Parecia aflito, como se aquele tópico o tivesse tirado o sono - de fato havia e, suspirando em busca de forças, piscou os olhos suplicantes para as amigas.

- A resposta é não. Eu não vou estar lá, eu não vou conseguir proteger Harry e eu não vou continuar com o plano Ryan. - não havia um único pingo de brincadeira em seu tom, banhado por frustração e desamparo, e isso levou às garotas a tomarem-no em um abraço coletivo firme, suspirando pelo mesmo ar e ofegando pelo mesmo motivo.

Impotência.

Se não conseguiam mudar as datas dos eventos, ao menos resolveriam aquele problema em especial.

- Vamos dar um jeito, Zuko. - Bebe sussurrou, irritada até pela falta de alternativas naquele momento. - A última coisa que precisamos é de uma mente cheia de preocupações sobre Harry durante a grande estreia do musical.

- E nós estaremos lá com ele, o tempo todo. - Bar complementou, esperançosa como sempre, os olhos azuis conectados aos de Louis. - Vamos protegê-lo por você, sim?

- Não se preocupe com o plano. - Eleanor encontrou suas mãos na bagunça que era o abraço e as tomou, beijando o dorso com afeto. - Vamos dar um jeito. Olivia pode nos ajudar, até mesmo Tiana, eu tenho certeza.

- Eu espero. - foi o que Louis sussurrou para as amigas, sucumbindo ao abraço amigável enquanto bufava antes do longo e intenso ensaio que o aguardava, assim como mais uma pilha de responsabilidades e preocupações. Por ora, se contentaria em respirar fundo e a sorrir. - Eu realmente espero.

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- Obrigada pelo dia de hoje, pessoal! Está ficando incrível. - srta. McGregor exclamou através das mãos em concha ao redor da boca, ecoando por todo o estúdio conforme encerrava o ensaio do musical após quatro horas de performance, do começo ao fim de Grease, duas vezes. Seria um eufemismo dizer que suor acumulava no chão, vapor das respirações ofegantes esfumavam as janelas e gemidos de dor acompanhavam os alunos conforme saíam porta afora em direção ao campus naquele começo de noite, seus músculos ardendo e gritando pelo esforço contínuo, assim como suas cordas vocais. Era um esporte quase, com toda a certeza. - Descansem para amanhã, por favor. Nada de álcool ou maconha nessa reta final! Condicionamento é tudo, lembrem-se.

- Só maconha? O resto está liberado? - Bebe exclamou de volta, risonha e levemente ofegante ainda pela última cena ensaiada, e srta. McGregor pressionou os olhos em sua direção, dispensando respostas à sua provocação.

Aluno após aluno fazia seu caminho para fora, os técnicos de som e iluminação já deixando seus postos e desligando os equipamentos enquanto enrolavam fios e ajustavam cenários para recomeçarem na manhã seguinte, entretanto, os olhos da professora estavam em um único aluno em especial.

Um que tinha os cabelos em um topete cheio de gel e os ombros cobertos por uma jaqueta de couro.

Um que estava sentado no canto mais isolado do estúdio, revisando o que parecia ser falas no script.

Um que se recusava a entregar-se para a exaustão.

Um sorriso rasgou o canto dos lábios de Tiana.

- Espero que não esteja ensaiando além do necessário, sr. Tomlinson. - murmurou, chamando sua atenção ao que se aproximava o bastante para vê-lo dobrando rapidamente as folhas e escondendo-as atrás do torso.

Os olhos azuis bateram inocentes, embora suas bochechas denunciassem sua mentira antes mesmo de decidir contá-la. Por fim, suspirou, rendido.

- Cada segundo conta. - notando que sua professora estava se preparando para lhe dar uma bronca, se apressou, o script já voltando à frente do corpo, amassado entre os dedos. - E além do mais, só temos algumas semanas antes da grande estreia, e quero ter a certeza de que aproveitei cada momento possível. Tudo tem que ser perfeito.

Tiana sentou no banco à sua frente, o olhar ameno sobre seu corpo tenso e rígido pelo ensaio recente. Tinha que se lembrar recorrentemente que era um aluno e não um filho, ousando morder as palavras na língua antes de a falarem em voz alta. Levar o corpo ao limite fazia parte do trabalho, e por mais que quisesse mandar Louis para o dormitório com uma sopa quente embalada junto com um gominho de chocolate, tinha que se impedir e manter a postura.

Era sua professora, afinal de contas.

Com um suspiro, contudo, o chamou para se sentar ao seu lado.

- Vai ser perfeito, Louis. E sabe que descansar faz parte do ensaio, não sabe? - os olhos azuis entorpeceram em confusão, contrastando com sua expressão calma. Tiana riu branda, embora soasse séria. - O corpo precisa de uma pausa antes de poder dar seu melhor, querido. Precisa relaxar um pouco. - era uma maneira de chamar sua atenção sem realmente deixar isso implícito, mas talvez tenha sido amena demais.

O menor negou para o ar, os cotovelos repousando sobre os joelhos e sua respiração descompassada lutando contra a estabilidade. Parecia rodopiando no centro do cenário, ainda, mesmo que estivesse sentado ao lado de sua professora. Vai ver era mais ansiedade do que cansaço, realmente.

Se Tiana era a mãe, mesmo que lutasse contra tal, Louis definitivamente agia como um filho birrento.

- Vou relaxar quando tudo terminar. - seu tom não era positivo, e isso arqueou uma das sobrancelhas de srta. McGregor. Com um suspiro pesado, tentou se justificar antes de parecer ingrato por aquela oportunidade única que era performar no musical. Era a última coisa que queria. - Em menos de um mês eu vou ter que me mudar do campus, Ti. A UAL é a minha casa há anos e... não consigo me ver longe daqui. E-eu... eu... só quero ter a certeza de que aproveitei tudo antes que...

- Precise ir. - sua professora o completou, simpática, e assentindo para sua expressão conturbada, deixou-o compreender suas emoções antes de prosseguir com as palavras. - A UAL sempre vai ser sua casa, Louis. Espero que saiba disso. - empurrou-o com o ombro lentamente, chamando a atenção de seus olhos. A verdade é que lhe doía também ao pensar que em algumas semanas, seu aluno favorito, o que havia desenvolvido certo carinho, deixaria o ninho. Mas precisava deixá-lo ir. Voar. Conhecer. Aventurar. - Não importa quanto tempo passe, onde esteja e por onde tenha estado, sabe que se precisar, estaremos aqui por você e para você, querido. Eu estarei aqui para você.

Por um momento, o estúdio repousou em silêncio, os dois sendo os únicos ainda ali conforme o vento chiava nas janelas altas e a porta rangia por não estar fechada por completo. E ao seu lado, Louis podia sentir a respiração estável de Tiana, paciente como sempre para que entrasse em conformidade com seu interior antes de ser forçado a falar. Sabia que ambos sofriam por aquele destino inquestionável.

Era o ciclo da vida.

E parte dele estava prestes a se encerrar.

Por fim, com um suspiro, permitiu que sua cabeça caísse para o lado até repousar no ombro de srta. McGregor. Não importava quantas vezes o fazia, sempre a pegava de surpresa.

- Obrigado, Tiana.

Pôde ouvir seu sorriso.

- Não precisa agradecer, Louis.

- Você quem não precisava fazer isso, me ajudar, mas mesmo assim o fez, então preciso agradecer sim. - retrucou, seu corpo já encontrando a calmaria que tanto buscara naquele dia longo e estressante. Podia sentir os músculos esfriando, e com isso, a dor aguda dos esforços intensos, sua mente adiantando sua memória de que quando chegasse ao dormitório, Harry dividiria o box do chuveiro consigo e então passaria creme para dor em suas pernas, como fazia toda noite antes de dormir. - Obrigado, de verdade, Tiana.

Soube que ouviria alguma coisa diferente vinda da professora quando suas costas se endireitaram sob seu corpo inclinado, mas continuou de olhos fechados e respiração consciente, evitando assim disruptar o que havia acabado de conseguir.

- Sinto muito que seus amigos não possam vê-lo na estreia, Louis.

- Tudo bem. - murmurou através do gosto amargo na língua, e Tiana esticou um braço sobre seus ombros, em um abraço lateral confortável. Não precisava conhecê-lo bem para saber que não estava bem.

- Travis e eu tentamos contato com o Conselho mas nem mesmo o reitor conseguiu respostas. Quebrou meu coração ver você e Harry naquele dia no escritório. - suas palavras eram honestas e sua voz amena, mas Louis ainda assim sentia-se frustrado, mesmo sabendo que não cabia à Tiana aquela responsabilidade. Por isso, suspirou para dissipar tais pensamentos e aconchegou a cabeça ainda mais no ombro da professora. Ao menos tinha certo conforto ali. - Eu sei bem como é apresentar uma coisa tão grandiosa como essa e não ter ninguém na primeira fileira para te assistir.

Louis mordeu o lábio inferior, segurando o que quer que fosse aquele sentimento agudo no peito para longe de suas palavras.

- Eu ainda vou ter um Teatro inteiro me assistindo.

- Mas não é a mesma coisa, não é? - Tiana retrucou, no mesmo tom, e com as sobrancelhas arqueadas em surpresa, Louis se viu soltando o ar dos pulmões, o sentimento finalmente o alcançando em ondas angustiantes.

Tristeza.

De que culpa tinha por desejar que seus amigos, sua família adotiva, praticamente, estivessem lá para vê-lo, enfim?

- Não importa. - sua voz embolada denunciou que de fato importava, mas seu olhar permaneceu duro, agora conectado ao de sua professora conforme erguia a cabeça de seu ombro e nivelava suas alturas no banco. Tiana não foi enganada por sua atuação por um segundo sequer, ainda. - Não é culpa deles por não poderem ir.

- E também não é culpa sua por ter que se apresentar sem apoio.

Um calafrio tomou a espinha de Louis, culminando em um gemido a contragosto em seus lábios. Sentia-se enjoado.

- Mas eu vou ter apoio. Vou ter o seu. - o movimento de seu rosto, apontando o nariz para frente, fez Tiana sorrir genuinamente, e então, puxou-o para outro abraço, dessa vez mais intenso. Parecia consolá-lo, e realmente sentia como tal. - Vai estar na coxia me observando, não vai?

- Sempre, querido.

- E esse é todo o apoio que eu preciso. - aquela talvez tenha sido uma das frases mais verdadeiras que havia dito durante todo o dia, desde aquela manhã quando murmurou um singelo e intenso eu te amo para Harry, instantes antes de terem que se separar para seguir com suas atividades para o dia. E algo lhe indicava que Tiana sabia bem disso.

Entretanto, suspirou contra seus cabelos, os dedos longos ali afagando e bagunçando, até.

- Mas você não apresenta para a coxia, Louis, apresenta para o público. - antes mesmo de terminar seu raciocínio, o menor já sabia onde estava indo, e Tiana prosseguiu tendo que sobrepôr seu resmungo desgostoso. - É muito importante ter rostos conhecidos na plateia, principalmente durante grandes performances como essa, querido.

- Eu não vou convidar minha família, se é isso que está sugerindo. - o pesar em seu tom ao murmurar família fez srta. McGregor torcer o nariz. Com a respiração instável, já afetado por aquele pensamento, prosseguiu. - Vai por mim, ter eles na plateia vai ser pior do que não ter ninguém.

Tiana precisou pensar um pouco antes de responder, não querendo pressioná-lo a fazer alguma coisa que não queria, mas também buscando oferecer um norteamento que sabia não ter há muito tempo.

Se não ela para o guiar sobre aquele assunto, e muitos outros, quem o faria?

Por fim, apertou-o no abraço ainda mais.

- Só estou pedindo que considere a possibilidade, Louis. Vai ser um dia extremamente importante, um dia que vai lembrar pelo resto da vida, eu tenho certeza. E talvez... só talvez, ter alguém da sua família lá possa fazer uma parte de você, mesmo que pequenininha, muito feliz.

O fôlego que recolheu deu à Tiana a certeza de que ouviria palavras brutas a seguir, mesmo ciente de que era apenas suas inseguranças falando.

- Não era você que meses atrás estava me dizendo para desvincular minha mãe do musical? E para fazer isso por mim mesmo? - parecia um ataque, mas quando olhava para a expressão frágil de Louis à frente, srta. McGregor só conseguia ver vulnerabilidade. Não estava jogando suas palavras contra si mesma naquele momento, estava pedindo ajuda. - Bem, foi o que eu fiz, e agora sei que tudo o que eu passei e superei durante todo o meu tempo na UAL foi para mim mesmo, para a minha satisfação pessoal. Não para provar para a minha mãe ou meus irmãos que eu conseguia fazer, mas sim porque eu quis fazer...

- E isso é maravilhoso, querido. - o interrompeu, segurando seu rosto entre as mãos para poder acalmar o que parecia está-lo afligindo. O alívio veio quase que instantaneamente. - Não estou dizendo que tem que convidá-los para mostrar o que conseguiu, eu tenho a certeza de que eles sabem de todo o seu potencial, afinal, conviveram com você por quase vinte anos. E eu sei que fez tudo o que fez pelo, com e para com o musical porque você quis fazer, e escolheu querer diariamente até hoje. A questão é: talvez você também os queira aqui no dia da estreia. Só talvez. - amenizou a voz em dois tons, notando como os olhos azuis estavam arregalados e as bochechas rubras. Tiana, então, deslizou os polegares em seu rosto, delicadamente. - Eu só... quero ter a certeza de que não vai perder uma oportunidade como essa por medo de um talvez, Louis. Só isso, sim?

Ele não respondeu, mas sua expressão havia ficado menos dura ao longo de suas palavras de incentivo, e srta. McGregor levou isso como um bom sinal, o dispensando de vez para seguir caminho até o dormitório para enfim descansar, não sem antes avisá-lo que enviaria os convites familiares em seu e-mail, apenas para garantir.

Com certeza Louis teria o que pensar naquela madrugada, como se precisasse de mais um motivo para não dormir.

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8 Dias Para a Final do Campeonato e a Grande Estreia do Musical

- Aí está você! - Louis exclamou, meramente por parâmetros de anunciar sua presença à figura distraída de Harry, que ao que parecia, treinava arremessos na grama, o braço forte flexionando para trás e então para frente ao deixar a bola de couro escapar pelos dedos e seguir sua trajetória com velocidade.

Suspirando, o menor deixou a mochila cair no chão, os ombros esticando e espreguiçando com alívio após se livrar do peso que vinha carregando desde que saíra do estúdio, quando ensaiava para o musical por praticamente a tarde inteira.

Não sabia o que estava mais desgastado: seus músculos ou suas cordas vocais.

De qualquer forma, sentia-se moído - a grosso mas verídico modo.

Haviam marcado de se encontrar sob a árvore de sempre, - a sua árvore -, a que ficava excepcionalmente cheia quando filmes eram projetados na lateral do prédio de Artesanato. A mesma que haviam tido seu primeiro encontro, e também a mesma de seu falso primeiro encontro, quando teve uma epifania com Olivia e decidiu recomeçar sua trajetória com Harry, sem as amarras de Ryan para os prender.

E naquela noite fria típica de Londres, Louis podia finalmente inspirar e expirar ar pelos pulmões sabendo que Ryan, de fato, não mais os prendia.

Tornava aquela ocasião mais especial do que realmente era, com toda a certeza.

Esmagou a grama com seus Vans conforme caminhava decididamente em direção ao namorado, que estava tão entretido em seu próprio mundo que sequer havia ouvido sua saudação, segundos antes. Bastou um movimento único, entretanto, para se colocar à frente do corpo musculoso coberto por jeans largos e a jaqueta do time, seu olhar azul subindo desde o All-Stars nada branco nos pés até o maxilar rígido, endossando a expressão tensa que Harry exibia ao se concentrar para arremessar mais uma bola, que àquela altura, já teria seu destino fadado ao chão, sem mais importância se comparada à presença ilustre de Louis.

O verde cintilou mais do que a lua naquele mesmo céu límpido, e o menor sequer precisou olhar para ter tal certeza.

- Eu disse... Aí está você. - repetiu, divertido, as mãos delicadas passeando pelos braços fortes do jogador até encontrar suas bochechas, os indicadores já repousando nas covinhas recém chegadas como se ali pertencessem. Harry suspirou, mal gastando mais do que alguns milésimos de segundos para firmar o aperto em sua cintura, sob o moletom, e pressionar seus peitorais com força. Quando Louis ecoou de novo, mais baixo e íntimo, o fez contra um quase beijo. - Por um momento, pensei ter te perdido para o futebol americano, capitão.

- Jamais. - o sorriso de Harry guiava sua voz, e então, seus lábios colidiram com um estalo, suas línguas fazendo um excelente trabalho em desvirtuar suas mentes daquele dia, e dos muitos outros que o antecederam, como mágica. Sem ensaios, sem treinos, sem problemas, sem planos, sem datas iguais, sem pressões absurdas. Apenas seus lábios um contra o outro em um carinho erótico e imprudente, escondido detrás de suspiros calorosos e carícias nada bobas de suas mãos. Quando o ar lhe fez falta, ou as palavras lhe explodiram o peito, Harry separou-os, embora ainda unidos pela linha central do rosto, ponta do nariz com ponta do nariz. - Espero que esteja preparado para mais uma noite agitada, gatinho.

- Quebre a cama, capitão. Eu imploro. - foi sua resposta nada banhada em teor de brincadeira, pelo contrário, embebedada em pura provocação, fazendo Harry revirar os olhos verdes e grunhir pela distância que agora preenchia seus corpos.

A verdade é que, desde que começaram os preparativos para o grande dia - que em seus casos, realmente era apenas um grande dia - toda a uni se viu presa nos confinamentos da abstinência ao álcool e às drogas, em certo nível, exigidos agora mais do que nunca pela coordenação da UAL.

Apesar de apenas os jogadores dos Wolves serem submetidos ao teste de drogas antes da grande final, os professores e orientadores estavam sob vigia alta em relação aos seus alunos. Qualquer deslize poderia lhes custar o diploma.

E não queriam isso.

Portanto, as sextas-feiras, em especial, haviam se tornado uma espécie de dia sagrado no campus.

Sem as tradicionais festas e comemorações por motivos indiferentes o bastante apenas para justificar as quantidades absurdas de entorpecentes, os universitários se viam buscando outras formas de entretenimento e de passar o tempo, realmente.

Então lá estavam Harry e Louis, ambos sob sua árvore, em uma sexta-feira gélida.

E enquanto esperavam por seus amigos, não tinham outra escolha senão...

Exatamente.

Ensaiar e treinar mais, como se não fizessem isso o bastante durante as outras vinte e três horas do dia.

- Hm, Sandy, e-eu... hm, venho querendo falar com você há muito tempo e... - Louis ecoava da grama, claramente atuando como Danny Zuko conforme tentava não olhar para o script como forma de apoio, mesmo que não precisasse dele há semanas.

Na verdade, não precisava de script algum há anos, desde que se entendia por gente. Conhecia cada fala do filme de cor e salteado, de trás pra frente e até mesmo em espanhol, se duvidar.

Mas como cada adaptação e releitura tinha suas especificidades, srta. McGregor havia mudado alguns diálogos do filme original para melhor encaixar na produção do musical. O que ainda assim não deveria resultar em tanta dificuldade para memorizar as falas - mas ali estava ele, deixando sua insegurança nublar seu conhecimento sobre um dos tópicos de maior familiaridade de toda sua vida.

Grease.

Estava encostado em sua árvore, os joelhos para cima e as costas repousadas nas raízes conforme divagava com o olhar e movia os lábios em falas correspondentes, até que uma voz rouca ecoou em conformidade, surpreendendo-o.

- Hm, e é sobre o quê? - era Harry, pausando brevemente sua sessão de arremessos para atuar como Sandy naquele diálogo que muito bem conhecia. Era a cena clássica do casal reunido próximo à Jukebox, em uma das lanchonetes típicas do cenário antigo de Grease. O cacheado inclusive ainda tinha a bola em posição entre os dedos quando olhou por detrás do ombro e sorriu orgulhoso para o namorado, o que só aumentou o brilho de seus olhos. - Vamos, ensaie comigo. Ou só consegue atuar com Bebe agora que faz parte do elenco principal?

Louis precisou de alguns segundos de ponderação para engolir o sorriso que ousava sair em seus lábios e então ecoar a próxima fala, mal contendo o olhar apaixonado para a figura de Harry, que mesmo ofegante pelos arremessos bruscos e a pequena corrida que precisava fazer para recolher a bola de onde quer que tenha caído, ainda assim manejava de murmurar a fala correspondente, as vezes, muitas delas, errando e fazendo assim Louis gargalhar.

O que era apenas perfeito para dissipar parte da pressão que sentiam ao fazer atividades tão rotineiras para seus cursos. Como se não estivessem ensaiando falas e treinando arremessos desde o primeiro dia na UAL.

- Como foi a sessão com Olivia hoje de tarde? - o menor ousou perguntar.

Eram vários minutos depois e, desistindo de correr atrás de bolas e proclamar falsas promessas de amor de décadas passadas, se aconchegavam um no outro sobre a grama, Harry deitado de costas e Louis repousado em seu peito, as pernas entrelaçadas conforme se distraíam até os rapazes e as garotas enfim chegarem.

O cacheado precisou fixar nas palavras de Louis ao invés de sua expressão angélica, concentrada na pequena folha que havia arrancado do chão e agora desfiava sobre seu peitoral, provavelmente sujando a camiseta branca que vestia sob a jaqueta do time, não que tivesse a coragem de pedi-lo para parar, seu bico fazendo tudo valer a pena.

- Foi... tranquila. Se é que uma consulta com a psicóloga pode ser definida desse jeito. - soube que o menor estava o ouvindo quando o bico em seus lábios rubros se tornou maior enquanto assentia para o ar, logo desistindo da folha destroçada para repousar o queixo em seu torso, assim piscando o azul límpido diretamente para seu rosto erguido pelos braços atrás da nuca. - Falei sobre a breve mas desagradável visita de Ryan no final de semana passado.

Louis prendeu um suspiro na garganta, sua expressão torcendo em desgosto, o que arrancou um sorriso de Harry. Seu garoto.

- Também falei sobre isso quando fui lá ontem.

- Sério?

- Sério. - com o tom baixo, Louis confidenciou, aquela sendo a primeira vez que tocavam no assunto desde que... bem, aconteceu. - Falei sobre como eu deveria ter corrido, gritado, qualquer coisa, realmente. Mas ao invés disso, eu só... fiquei lá, parado. Tentando conversar com o diabo.

Pôde ouvir Harry engolindo o próprio bolo na garganta, claramente desconfortável. Quando o respondeu, portanto, a rouquidão havia alcançado um nível além do normal, beirando a frustração.

- Fez o seu melhor, gatinho. O importante é que está seguro agora.

- O espelho poderia ter sido a minha cara, Hazz. O soco... poderia ter acertado a minha cara. - o azul estava distante, e Harry não precisava ser adivinho para saber que estava de volta ao banheiro, se vendo entre o punho de Ryan e a pia. Não iria julgá-lo, entretanto, afinal, mal sabia o que passaria em sua própria mente se estivesse no lugar do namorado.

Com um suspiro, pacientemente aguardou que as íris azuis estivessem de volta à realidade, conectadas às suas verdes.

De volta à casa.

- Você está aqui, Lou, e está bem. Não vamos nos prender no que poderia ter acontecido, tudo bem? - parecia uma promessa distante, mas algo na expressão esperançosa do maior fazia Louis crer em cada uma daquelas palavras, e com um suspiro, assentiu. Não que precisasse de muito para fazê-lo desvincular os pensamentos de Ryan.

- Tudo bem.

- Bom saber que estamos alinhados. - embora divertido, o tom de Harry deixou claro que aquele assunto havia acabado, e Louis satisfatoriamente repousou sua bochecha no peitoral forte, sorrindo para o ritmo desenfreado do coração que batia logo abaixo de sua orelha. - E como foram os ensaios hoje? Desculpe não ter te esperado acordado ontem, Travis nos matou no treino, ainda mais já que Liam estava ausente.

A respiração de Louis foi interrompida por um breve momento de surpresa, seu olhar subindo para encontrar o de Harry.

- Liam não foi pro treino? - o cacheado negou, segurando um sorriso nos lábios, como se aguardasse sua conclusão por conta própria. Então, Louis se colocou a pensar. - Ah! Ele fez outra consulta com Olivia?

Harry piscou satisfeito para o namorado.

- Melhor. Foi para uma consulta com uma especialista em vícios, principalmente drogas. - os olhos azuis estavam cintilando em orgulho do amigo, e Harry não podia estar diferente. Era no mínimo refrescante saber daquela informação, com toda certeza. - Olivia indicou uma colega e Zayn o acompanhou até lá. Devem dar mais detalhes quando chegarem aqui.

Assentindo feliz, Louis voltou a deitar a bochecha no peitoral do namorado, o peito mais leve agora que sabia daquilo.

- Vou cobrar. Quero saber de tudo.

- Claro que quer. - caçoando, Harry murmurou, já retomando ao assunto anterior, jamais perdendo a oportunidade de ouvir Louis falar sobre seu dia. Era uma das coisas que mais gostava de fazer, afinal. O ouvir falar sobre o que ama. - Você estava falando sobre os ensaios...

- Ah, sim. A correria de Travis só que o mesmo com Tiana. - murmurou, relaxado demais para ligar para a clareza de suas palavras ao que Harry deslizava os dedos por seu couro cabeludo. Jurou até mesmo ter ronronado em algum momento. - Não se preocupe, Hazz. Eu cheguei tarde mesmo, tive que repassar algumas cenas particulares com Bebe.

- Ainda estão tendo problemas com o Shake Shack?

- É uma estrutura muito instável! - o menor justificou, erguendo a cabeça apenas por um intervalo de segundos enquanto ria da expressão divertida de Harry. - E além do mais, cenas em dupla são bem mais difíceis do que as cenas individuais.

- Se você diz. - se protegendo de um tapa que chegou eventualmente, o maior então embalou o corpo pequeno de Louis em seu peito, aumentando o calor que compartilhavam naquela noite gélida. - Posso te contar um segredo?

Como um gatinho, propriamente, Louis quase ergueu as orelhas em atenção, Harry alargando o sorriso com o gesto do namorado, que agora se apoiava nos cotovelos para poder conectar seus olhares.

- É claro que pode. Eu adoro uma fofoca.

Os olhos verdes reviraram em diversão, mesmo suas palavras sendo sérias.

- Tem que me prometer que não vai contar pra mais ninguém.

- Eu sei como segredos funcionam, Harry. - se defendeu, embora sua expressão gritasse em curiosidade.

Se preparando para, enfim, contá-lo o tal segredo, o cacheado suspirou, abaixando a voz em confidencialidade.

- Eu estou com medo da grande final, muito medo.

Louis levou alguns milésimos de segundos para processar aquela frase e, com bochechas rubras e olhos arregalados, se pôs a sussurrar de volta:

- Eu também estou com medo da grande estreia.

- Muito medo? - Harry questionou, sorrindo largo ao que já puxava o namorado para mais próximo.

- Muito. - quando Louis respondeu, a voz entrecortada por luxúria e intensidade e seus lábios a centímetros de distância, quase conectados em um beijo que com certeza seria quente, um barulho de notificação os interrompeu. Não ousou se afastar muito, uma vez que Harry decidira ignorar o som, mas então, ecoou mais uma vez, e outra, e outra. - Deve ser os rapazes.

O maior negou para o ar antes mesmo de agarrar o celular no bolso.

- É Gemma.

Com a testa franzida, Louis ofegou, já se ajeitando no peitoral do namorado, ciente de que o beijo havia ficado para outra hora.

- Estão de mal?

- Não. - Harry falou sobre um sorriso apaixonado, o tom de voz de Louis causando-o arrepios mesmo enquanto digitava uma resposta para a mensagem de sua irmã. - Ela só quer ter certeza de que estou bem, sabe... nessas últimas semanas decisivas.

Louis se pegou ponderando, então, sobre tal fala de Harry.

Quer dizer, ele e Gemma mal haviam se reconectado direito e ela já estava mostrando grandes sinais de preocupação, e a julgar pelo sorriso feliz no rosto do maior, era bem apreciado.

Louis não conseguia entender como todos os anos de mágoa haviam simplesmente... desaparecido.

Perdoados.

Em troca de algumas mensagens de texto genéricas.

Mas suponha que aquilo era da responsabilidade de Harry para julgar e decidir, então tudo que lhe restava era suspirar e relaxar contra seu corpo quente, aguardando-o terminar de usar o celular para lhe dar atenção novamente.

Contudo, uma parte - pequena - dentro de si insistia em questionar...

- Vai convidar Gemma para a final do campeonato? - quando as palavras saíram de sua boca, soube que Tiana estava certa.

Vai ver queria, de fato, que sua família esteja o assistindo da primeira fileira.

Vai ver queria, de fato, receber algum apoio durante um dos dias de maior importância de toda sua vida.

Vai ver queria, de fato, sanar sua curiosidade a respeito do que iriam fazer caso enviasse o convite.

Responderiam sua mensagem?

Mandariam-no se fuder?

Ignorariam o pedido?

Compareceriam ao Teatro?

Jogariam alguma coisa na sua cara?

Estragariam sua confiança nada estável justo em um momento crítico como aquele?

Trariam mais pressão para a estreia?

Sua família escolheria vê-lo, pela primeira vez em anos?

Perguntas que só podiam ser respondidas com o enviar de um convite, Louis temia.

- Já convidei. - a voz de Harry o tirou de seus próprios pensamentos, e com a expressão surpresa mas não abalada, piscou os olhos azuis amenos em sua direção, como se aprovasse tal ato. Mas o namorado não era idiota, e o conhecia melhor do que ninguém. - E você, gatinho? Vai convidar seus irmãos?

Louis abriu a boca e, como um sinal do universo, a gritaria típica dos rapazes anunciou sua chegada, atrapalhando quaisquer desculpas que se preparava para dar à Harry. O maior o fitou chateado, mas não fazia mais diferença, não quando Niall se jogava sobre seus corpos e Liam carregava Zayn nas costas, abrindo espaço na grama para que todos se aconcheguem a tempo de ver o filme projetado no telão.

E em questão de minutos, lá estavam, aninhados juntos em uma única nuvem de amor e risadas, Como se Fosse a Primeira Vez fazendo-os chorar de emoção e buscar mais conforto nos braços um do outro, Barbara, Bebe e Eleanor fofocando durante o filme inteiro, Niall gargalhando de comentários provavelmente eróticos de Chad e Patrick e Zayn dormindo contra o colo de Liam.

Aquela estava sendo uma semana e tanto, e algo os dizia para aproveitar a calmaria caótica antes que tudo piore, e foi o que Louis fez, se rendendo aos beijos quentes de Harry em seu pescoço e às lágrimas emotivas por causa do romance.

Uma boa sexta-feira, com toda a certeza.

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5 Dias Para a Final do Campeonato e a Grande Estreia do Musical

- Zayn, esquerda!

- Eu 'tô na esquerda.

- Não, isso é direita. Direita, direita, direita!

- Direita ou esquerda?

- Esquerda! - Niall gritou, agitado enquanto pressionava vários botões no controle do videogame, os olhos azuis fixos na televisão. Por fim, bufou, jogando o aparelho para o lado contra o sofá, e estapeando assim a nuca do moreno em frustração. - Eu disse esquerda, idiota.

- Mas eu...

- Perdeu de novo, sim. - Liam completou a fala do namorado, comemorando sua vitória com Harry ao que levantava do sofá e rebolava desengonçadamente contra o rosto de Niall.

Louis conseguia ver o bico do loiro da cozinha.

- Tinha me esquecido do quão barulhentos eles eram. - Stan murmurou divertido, o sorriso nos lábios denunciando o quanto gostava de tal bagunça caótica. Louis logo o empurrou pelo quadril enquanto carregava a panela de macarrão para o escorredor, dentro da pia. - Cuidado com as mãos.

- Pode deixar, mamãe. - caçoou, suas bochechas altas e rubras pelas risadas causadas pelos gritos que ainda ecoavam no plano de fundo e também pela conversa que antes mantinha com o amigo.

Mas Stan não era do tipo de pessoa que deixava algo passar.

- Então, pelo que eu entendi, - começou, Louis sequer contendo o revirar de olhos ao que pensara ter se safado dos sermões. Stan, portanto, tomou seu lugar na beira do fogão para fazer o molho de seu famoso macarrão, e o menor sabia que teria que confessar seus sentimentos mais profundos porque... era assim que acontecia, sempre. - Você ainda não contou para Harry seu plano.

- Shhh. - repreendeu, o dedo contra os lábios ao que fitava detrás do ombro para garantir que o namorado ainda estava entretido no videogame com os rapazes. - Será que dá pra falar mais baixo?

Stan revirou os olhos em sua direção, aumentando a chama do fogão para assim intensificar o chiado do molho de tomate na panela quente.

- Assim está melhor? - era irônico e retórico, é claro, mas Louis assentiu afirmativamente, apenas para provocar de volta, e Stan bufou enquanto voltava a mexer a colher de pau na panela. - Você precisa falar pra ele, Louis. Fora que qualquer plano ligado à Ryan é mera estupidez.

O menor mordeu o lábio, impaciente. Estava encostado na pia, ao lado do fogão, e ouvia as palavras nem um pouco motivadoras de Stan enquanto fitava seus amigos no sofá, gritando e gargalhando para a tela que exibia um videogame do Toy Story. Era um dia tranquilo e, de folga das loucuras do campus, não pensaram em coisa melhor do que se amontoar no apartamento de Stan para importuná-lo com seus estômagos famintos e vozes alteradas.

Não que estivesse se divertindo ali, durante aquela bronca disfarçada de palavras amenas.

Se Stan fosse seu parente sanguíneo, com certeza já estaria de castigo.

- Eu te expliquei o plano por mensagem, várias veze...

- Está falando da última versão do plano? - Stan interrompeu sua desculpa esfarrapada e já apelando para o tom de voz manhoso, como se soubesse que não venceria pelo argumento, o olhar ainda concentrado no molho ao que ponderava se devia colocar algum tempero adicional ou não. Louis bufou, irritado pela capacidade do amigo de criticar suas escolhas e ainda cozinhar um jantar decente. - A versão que decidiram depois de descobrir que a data do musical e a do campeonato são as mesmas? Ou está falando do plano que fez com os rapazes para que consigam se dividir nos eventos? Qual plano, Louis? Por que eu, sinceramente, estou perdido.

Louis revirou os olhos, ciente de que seu amigo tinha um ponto. Talvez vários.

Ele não cansava de estar certo o tempo todo? Porque Louis com certeza cansara de estar errado.

- Eu sei que é confuso, mas confia em mim. - apelou mais uma vez para o sentimental, fazendo Stan o fitar com uma expressão séria de vai mesmo por esse caminho?. Enfim jogando algumas ervas nas quais Louis jamais reconheceria sem uma etiqueta de identificação no molho quase pronto, Stan suspirou.

- Eu confio em você, mais do que deveria, na verdade. - adiantou sua fala para evitar mais reações surpreendidas, ousando rir de sua expressão. - Mas também precisa confiar em Harry.

- Eu confio em Harry! - agora Louis estava ofendido, todo seu corpo retraindo com aquela acusação inadmissível, e Stan soube tê-lo atingido no lugar certo.

Desligando a panela e erguendo a colher suja de molho no ar, repousou os olhos amenos sobre o menor, que parecia prestes a chorar de birra apenas pela possibilidade de não confiar no namorado.

Stan quis apertá-lo em um abraço, mas sabia que precisava ser duro naquele momento.

- Então deveria saber que ele sabe se cuidar em relação a Ryan, Louis. Do mesmo jeito que você se cuidou quando estava sozinho com ele. - sua expressão se contorceu em descrença, mas os olhos azuis já estavam cedendo, e isso fez Stan sorrir orgulhoso.

Louis podia ser muito teimoso às vezes, mas seu pensamento sempre estava em garantir o melhor para quem ama. Só precisava ser relembrado, muito recorrentemente, que algumas coisas não lhe pertenciam para cuidar. Apenas para apreciar.

- É diferente e você sabe o porquê. Ryan o machucou de outras formas, formas bem piores. - sua voz craquelou, e Stan soube que não precisavam prosseguir naquela direção do tópico.

- Não classifique as dores, Louis, isso não ajuda ninguém, muito menos resolve problemas. Pior ou não, aconteceu, com vocês dois. - o menor cruzou os braços na frente do peito, não em birra, mas sim em um reflexo de proteção, como se aquele assunto o deixasse vulnerável, e Stan suspirou para si. - Não pense que transava com Ryan quando estavam namorando, Lou. Pelo pouco que me disse, é mais do que óbvio que foi forçado, e isso é praticamente a mesma coisa que aconteceu com Harry. Só estou dizendo... - esticou uma mão para afagar seu ombro de forma carinhosa, e sorriu diante da recepção calorosa do menor. - Que Harry sabe seus próprios limites, e que mostrar confiança em suas decisões talvez seja a melhor maneira que tenha de o ajudar.

A expressão de Louis se tornou conturbada, e Stan pôde vê-lo lutando contra seus instintos, os gritos provenientes do jogo de videogame os dando a privacidade necessária para debater aquilo sem muitos problemas. Por fim, encontrando a voz dentro de si, ofegou.

- Eu estou tentando ajudar. - era uma súplica, mas seus olhos estavam firmes, como sempre. - Ou acha que eu quero me preocupar com isso justo no dia da grande estreia? Que quero estar no palco mordendo a bochecha só em pensar na mísera hipótese de Ryan estar na arquibancada o vendo jogar? Acha que quero isso?

Stan sabia que Louis o buscava para apoio e clareza, coisas que muitas das vezes tinha dificuldade de encontrar na correria universitária. Isso era mais do que claro nas diversas mensagens ao longo do dia, todos os dias, que variavam desde oi, eu te amo, tchau a preciso de uma ajuda, posso ligar?, e sabia, acima de tudo, que quando ia para seu apartamento e tocava em assuntos delicados, era porque queria chegar naquele nível de conversa.

Onde estava sendo despido de argumentos e contestado fortemente apenas para, no fim, ouvir o que seu coração já vinha lhe dizendo a muito tempo, só que na voz de seu melhor amigo.

O equilíbrio perfeito de uma amizade longínqua.

- Óbvio que não quer, Louis. E tenho certeza que Harry também não quer que o faça, então se coloque no lugar dele. - pareceu um ataque, mesmo não sendo, e os olhos azuis arregalaram diante da ameaça imaginária. - Acha que ele quer que você esteja com a mente cheia enquanto apresenta o musical? Acha que ele quer isso pra você?

- N-não, é claro que não. - suas defesas foram derrubadas, e Stan já podia falar mais branco e fitá-lo mais empático, ciente de que a recepção agora seria mais proveitosa.

- Então garanta que ele saiba... mostre pra ele o quanto confia em suas próprias decisões. - pela primeira vez naquela conversa toda, falava com o coração de Louis, e não sua mente. - Ao invés de se preocupar com Ryan estando lá para atrapalhar a final do campeonato, aprecie Harry por encontrar a força de entrar em campo apesar de seu abusador estar o observando. - Louis engoliu a seco visivelmente, desconfortável pelo uso da palavra abusador, mas era a verdade, e ele sabia disso. - Mostre o quão orgulhoso está, porque é isso que Harry precisa agora. Não de um plano miraculoso que sequer sabe da existência.

Aí estava, o tapa na cara figurativo que eventualmente sempre chegava.

Louis suspirou, chacoalhando a cabeça e os pensamentos enquanto abraçava o próprio corpo e se ajeitava na pia, absorvendo o sermão de forma interina.

Odiava quando o amigo tinha razão e, para seu azar, era quase sempre.

- O importante é que tudo vai dar certo no final, quando Ryan for desmascarado e os rapazes conseguirem chegar a tempo na estreia do musical. - foi sua justificativa elaborada, a mesma que sua mente usava para enganar seu coração no peito. Mas, pelo visto, não era tão efetiva do lado de fora de sua imaginação.

Stan apenas o encarou sobre o ombro antes de suspirar e então pegar o macarrão no escorredor. Parecia quase decepcionado.

- Sabe que tudo isso poderia ser resolvido com uma conversa franca, não sabe? - mais um tapa na cara figurativo, praticamente seguido do outro, e mais intenso, com toda certeza.

Stan estava inabalável naquele dia, ao que tudo indicava.

- É claro que eu sei. - Louis encolheu os ombros, contudo, levemente ofendido por aquela pergunta retórica cujo único propósito era fazê-lo se sentir idiota.

Funcionou.

Stan dramaticamente suspirou, então.

- Ufa, pensei que só eu tivesse cérebro aqui nesse apartamento.

- Vai se fuder. - foi o que resmungou, na defensiva, ousando empurrar o amigo pelo ombro e quase causando um acidente trágico com o macarrão que estava quase pronto na panela. Stan ameaçou bater em sua cabeça com a colher de pau e, recuando enquanto ria, Louis mostrou-lhe o dedo do meio. O clima na cozinha estava, por fim, restaurado. - Por que ao invés de ficar se preocupando com os meus planos geniais, não se preocupa em encontrar um terno para usar na minha grande estreia?

E então, Stan parou repentinamente de mexer a massa na panela para fitá-lo, por longos segundos, antes de esticar os braços e puxa-lo para um abraço forte. Os olhos castanhos cintilavam em honra e suas bochechas até mesmo coravam diante da provocação que tinha mais entrelinhas do que podia imaginar.

Aí estava.

- Pensei que não fosse me convidar nunca.

Louis achou graça daquela constatação, como se fosse ao menos cômico a mera hipótese de não convidar seu melhor amigo, praticamente irmão, para um dia tão importante como aquele, mas sucumbindo ao carinho agradável, repousou a cabeça em seu ombro enquanto gargalhava.

Eles se estapeavam mas ainda se amavam, e isso que importava no final do dia.

- É claro que eu iria te convidar. Se não você, quem mais estaria na primeira fileira me aplaudindo? - foi uma frase inocente, mas o ouvido de Stan não a captou dessa forma, e separando seus torsos apenas um pouco, conectou seus olhares seriamente. Louis então franziu o cenho, já temendo o que viria a seguir. - O que? O que foi?

Stan suspirou, como se odiasse estragar aquele momento bom com uma pergunta que com toda certeza tiraria o amigo do eixo.

- Vai convidar seus irmãos?

Simples assim, Louis soltou seus corpos, de uma só vez, o olhar denunciando o quão incerto estava sobre a resposta daquela pergunta e o quão desconfortável ela o deixava. Por que todo mundo trazia isso à tona? Por que não ficavam simplesmente felizes em vê-lo performar, e ponto? Ele não era o suficiente? Precisava da validação de sua família para tudo? Por fim, emburrado e exausto, realmente, deu de ombros e virou para os rapazes distraídos no sofá, anunciando que o jantar estava pronto.

Por ora, se contentaria com comer o macarrão.

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- Não acredito que ele fez isso. - Stan gargalhava com Harry ao que ambos estavam na cozinha, o cacheado o ajudando com as louças do jantar enquanto Liam, Zayn e Niall travavam uma revanche no videogame, ainda com Toy Story. - E o que você fez?

- Eu obedeci, é claro. O que mais poderia ter feito? - o cacheado respondeu, satisfeito pela reação exagerada já que adorava uma boa risada. Olhou, ainda, brevemente sobre o ombro, onde Louis os encarava com atenção da bancada, o queixo sustentado pelo punho, e mandou-lhe uma piscadinha ousada. Os olhos azuis brilhavam em carinho por ver seu melhor amigo e namorado se divertindo, mesmo em uma tarefa banal como lavar a louça. - Louis sempre faz isso.

- Por que não estou surpreso? - foi a resposta de Stan à história de Harry sobre Louis o acordar de madrugada pedindo boquetes.

Por algum motivo, o cacheado sempre compartilhava aquela história com quem não deveria. Primeiro Gemma e agora Stan.

Quem seria a próxima vítima?

Srta. McGregor?

Louis se contentou a revirar os olhos, as bochechas rubras e o sorriso largo nos lábios. Ia fazer um comentário engraçado, talvez se defendendo, mas foi interrompido pelo celular tocando no bolso, e inocentemente o agarrou, apenas para morder o lábio em apreensão.

Era Fizzy.

Pela segunda vez apenas naquele dia.

Ou seria a terceira?

Não atendeu, pelo contrário, deixou tocar até o final enquanto desencostava da bancada e ia em direção ao quarto em que costumava dormir quando ainda estava no apartamento, e foi sentado na cama que ouviu com pesar a mensagem de voz deixada por sua irmã.

"B-boo, hm, oi. Você não atendeu, de novo. E-eu sei que não tenho exatamente o direito de cobrar uma resposta ou... qualquer outra coisa, de verdade, mas, hm, queria saber se está tudo bem e... hm, eu sei que deve estar finalizando tudo aí na UAL, que a formatura está chegando e... eu só queria que soubesse que, er, bem... caso queira minha, hm, nossa, presença, er... (suspiro) enfim, deixa pra lá. Só... me liga de volta quando puder, tudo bem? E-eu... eu estou com saudades, Boo. Todos nós estamos... e, hm, sentimos muito, okay? Por tudo. Não é muito e definitivamente não muda nada do passado mas... é o que podemos oferecer. E eu sei que a mamãe iria querer que estivéssemos juntos agora, então... estamos aqui para você. Talvez seja tarde demais mas... nós te amamos, Boo, e-eu te am..."

A mensagem foi cortada, e quando Louis se deu conta, lágrimas escorriam por sua bochecha, tão silenciosas quanto o sangramento de seu coração ardente no peito. Ao fundo da voz de Felicité, ainda podia ouvir as gargalhadas das gêmeas, e também Doris chorando, o que instintivamente levava sua imaginação a tentar descobrir como ela estaria depois de todos esses anos separados. Onde estava Lottie? E Ernest? Phoebe havia crescido um pouco mais ou continuava do tamanho de Daisy? Seu dedo tomou suas próprias decisões e, reprisando a mensagem seguidas vezes, deixou que sua mente divagasse sobre todas as lembranças boas - não eram muitas, mas talvez apenas o suficiente - e sempre se viu estagnado em um único lugar, ou melhor, uma única pessoa.

Sua mãe.

Se havia alguma coisa verídica no que Felicité falara, era que sua mãe iria os querer juntos, principalmente em sua formatura.

Mas Louis se pegava questionando a si mesmo se ele queria isso.

Se seus irmãos eram dignos de compartilhar um momento tão especial mesmo sem merecer.

Trocou inúmeras fraldas, comprou inúmeros absorventes, costurou e remendou roupas, ajudou em festas nas quais nunca foi convidado, comeu sobras de cafés da manhã por anos, ficou trancado no quarto em feriados, passou aniversários sem parabéns a não ser os de sua mãe, aguentou risadas e sussurros a seu respeito, foi negligenciado ao colo de seus próprios irmãos mais novos, tudo isso durante anos - e agora Felicité achava que podia ligar e pedir-lhe perdão, simplesmente?

Que isso iria apagar as cicatrizes em seu coração?

Que isso iria secar as lágrimas em suas bochechas?

Que isso iria desmerecer o fato de que sequer ligaram para avisar que sua mãe faleceu?

Um perdão corrigia tudo isso?

Será que um perdão sequer corrige alguma coisa?

Será que aquela situação não já estava comprometida?

Será que não havia mais solução para a família Tomlinson?

Mas mesmo se todas as respostas fossem sim, Louis ainda ousava se questionar o que Felicité teria que fazer para ganhar seu perdão?

Se um simples eu sinto muito não resolvia, o que poderia sequer resolver?

Não conseguiu pensar em nada, e talvez de fato não houvesse.

Talvez aquele seja o fim.

E continuava se vendo de volta ao pensamento de sua mãe.

Não precisava se esforçar para ter a certeza de que ela estava chateada, observando seus filhos separados dessa maneira. Apesar de tudo que ela fez para consertar Louis da doença que pensou a homossexualidade ser, apesar de tê-lo aturado por anos apenas para dispensá-lo quando foi para a UAL, apesar de tudo isso, ela ainda era sua mãe, presa nas amarras de um relacionamento abusivo com seu padrasto.

E Louis conseguiu perdoá-la, justificando que não estava em seu melhor para poder dá-lo uma infância saudável.

Mas será que conseguia prover o mesmo veredito para seus irmãos?

Eles eram crianças, afinal, quando tudo aconteceu.

E se ele sofreu os impactos do relacionamento abusivo de sua mãe com seu padrasto, imagina seus irmãos, que eram novinhos demais para discernir o que era real e o que era fantasioso? Que realmente eram frutos do relacionamento abusivo?

Será que estava cometendo um erro?

Será que estava privando eles de um julgamento justo apenas por... ciúmes?

Será que Louis estava se agarrando demais na ideia de ser o único Tomlinson com problemas e isso estava fazendo-o desmerecer o fato de que seus irmãos cresceram para só agora aprender como sua infância não foi a das melhores?

Afinal de contas, ele precisou sair de casa para enxergar. Mas seus irmãos continuaram ali, nutrindo-se de toxicidade.

Será que podia realmente os culpar?

A porta do quarto foi aberta, e um Stan feliz anunciando que a sobremesa estava pronta logo se deu conta de que o amigo chorava baixinho na outra extremidade do quarto. Não precisou de dois segundos inteiros para tomá-lo em seu peito e, sem sequer dizer uma palavra, já sabia do que se tratava.

Famílias eram complicadas, principalmente pelo fato de que o sangue que corre em suas veias é o mesmo que corre na de seus adjacentes, e isso nubla o julgamento que deveria ser límpido.

Por isso, deixou que Louis se acalmasse em seu peito, mesmo que os soluços fossem altos o bastante para chamar a atenção dos outros, agradecendo aos céus pelo videogame para que pudessem se recompor antes de causar um alarde.

Não queria pressioná-lo, ainda, então reuniu seus esforços em uma única frase, e rezou para que fosse o suficiente para acalmar as vozes na mente de Louis.

- Você trabalhou duro demais por isso para se sentir mal em querer que sua família esteja aqui para ver todo esse esforço, Louis.

E então, depositou um beijo singelo em sua testa, sussurrando mais uma vez que a sobremesa o aguardava e deixando a porta aberta em seu caminho para fora. Sabia que precisava de privacidade, e acima de tudo, liberdade para pensar, e que era forte o bastante para secar suas próprias lágrimas.

Então Louis continuou sentado na cama por mais alguns instantes, ponderando sobre sua situação, e ao invés de procurar motivos para não convidar sua família, se apegou aos motivos que já sabia de cor para de fato os convidar. E foi caminhando para fora do quarto, seguindo os passos de Stan, que se viu clicando em encaminhar no e-mail de srta. McGregor, com os convites do musical, para o número de telefone de Fizzy.

Agora a decisão estava nas mãos de seus irmãos, e não havia mais nada que pudesse fazer a não ser aguardar.

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3 Dias Para a Final do Campeonato e a Grande Estreia do Musical

- Tudo bem, o Estádio Emirates fica na Hornsey Road... - Niall ecoava pelo dormitório conforme andava de um lado para o outro sobre o carpete, o lábio entredentes sendo a cereja no topo do bolo ao que tentava ser estratégico. - E o Lyceum Theatre fica na rua Wellington...

- São menos de quatro milhas entre um e outro. - Liam contrapôs, deitado de barriga para cima na cama enquanto jogava a bola de futebol americano e a agarrava com precisão antes de cair em sua cara. Já havia tido alguns erros e escorregões, o nariz avermelhado sendo a prova da cena que fez todos gargalharem mesmo através da tensão.

- De carro deve levar no máximo vinte minutos. - Zayn digitava no celular de forma ansiosa, provavelmente verificando as informações antes de as pronunciar em voz alta.

Estavam reunidos no dormitório para refinar seu plano estratégico para o grande dia, de forma que pudessem sair do Estádio e chegar ao Teatro a tempo do último ato, dando-lhes entre dez e vinte minutos para assistir Louis antes das cortinas caírem definitivamente.

Isso considerando que fizessem tudo cronometricamente perfeito.

Por isso, não havia espaço para erros naquela matemática - o que era péssimo uma vez que não sabiam muito de... números.

E logo descobriram que adições e multiplicações não eram seus únicos problemas.

- Não temos carro. - Eleanor pontuou, o rosto contorcido em frustração ao ser a responsável por acabar com suas esperanças. Bar consolou a namorada com um beijo, logo após. Se adiantando, contudo, em refutar seu próprio argumento, bateu palmas, entusiasmada. - Mas temos os ônibus do time!

Chad estalou o dedo no ar, se levantando da cama com a animação engatilhada pela sugestão da amiga.

- Els tem razão!

- Eu sempre tenho razão.

- Ela sempre tem razão. - Bar concordou com a namorada e, Louis, sentado de pernas cruzadas no chão, assentiu. Afinal, Eleanor de fato sempre tinha razão.

- Acha que conseguimos convencer o motorista a nos levar para o Teatro? - Zayn ergueu o olhar do celular por um segundo enquanto questionava os amigos, e as íris azuis de Niall conectaram com as suas. Pareciam pensar em conjunto, neurônios unidos. - Até onde eu sei, ele só pode nos levar da UAL até o Estádio e então de volta.

- Ele não vai querer mudar a rota só porque um bando de universitários pediram. - Bebe esfregou o rosto, sua voz saindo abafada pelo movimento, e Louis bufou no chão, frustrado com as oportunidades destruídas antes mesmo de conseguir ficar esperançoso.

- E se Travis pedir? - era Harry, até então quieto, sentado na escrivaninha enquanto tentava desenhar rotas de fuga em uma folha de papel, ligando a caixa denominada como Estádio à outra categorizada com Teatro, sem muito sucesso até aquele breve momento. Seu olhar alcançou além do ombro, diretamente para o chão, ou melhor, para o namorado. E bastou uma conversa mental rápida para Louis se levantar em cambaleios e se aproximar para ver o que começara a desenhar. - Pensem comigo: se convencermos Travis a falar com os motoristas dos ônibus para nos levar do Estádio até o Teatro... - ligou as duas caixas, pontilhando com ênfase a do Teatro, ousando até mesmo desenhar alguns corações ao redor de Lou. - Podemos chegar lá a tempo.

Houve um segundo de pausa, os rapazes e as garotas se entreolhando com expectativa até que Louis decidiu sentar no colo de Harry na cadeira da escrivaninha, e assim colocar alguns números no canto do papel - horários, na verdade.

- O jogo começa às 16h e tem duração mínima de uma hora. Mesmo que atrasem, com toda a torcida, a imprensa e as comemorações, porque vamos ser honestos, os Wolves vão vencer... - Harry, Liam, Chad e Patrick trocaram um sorriso satisfeito pelo tom decidido do menor, seguido por gritos animados de Niall e palmas motivadoras de Zayn. - O musical só começa às 18h, e não deve se estender mais do que uma hora e vinte, no máximo uma hora e meia. Então contanto que saiam do Estádio antes das 19h, devem chegar a tempo do último ato, sem problemas.

Largando o lápis sobre o papel agora repleto de caixas, letras, números e setas, Louis reclinou as costas contra o peitoral de Harry, que o segurava pela cintura na posição que estavam, e seus olhares divagaram pelo restante do dormitório, onde Niall segurava os cabelos para cima, Zayn mordia a ponta do celular, Liam continuava jogando a bola para cima, Bebe Bar e Els se amontoavam na outra cama de solteiro, e Chad e Patrick contavam os dedos como se para ter certeza de que a matemática batia.

Por fim, todos assentiram.

- Acho que temos um plano.

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2 Dias Para a Final do Campeonato e a Grande Estreia do Musical

- Ensaio geral, pessoal! Vamos, sem moleza. - Tiana gritava, literalmente gritava pelo Lyceum Theatre, sua voz ricocheteando os quatro cantos da coxia enquanto alunos corriam de um lado para o outro em seus vestidos de época e jaquetas de couro, tons pastéis contrastando com o preto graxa, topetes para cima e echarpes a postos. - Esse é o último ensaio para o musical. Na próxima vez que pisarem nesse palco, será a noite da estreia, então deem o seu melhor e, ei... - apontou para Louis, diretamente, seus olhares conectados e seu sorriso ladino aumentando diante da expressão assustada do menor. - Sorria, o trabalho de uma vida inteira está prestes a se concretizar. Sintam-se orgulhosos e, bem, divirtam-se! Já trabalharam o bastante nos últimos meses para se darem alguns minutinhos ou vários de proveito, sim?

Com essa deixa, todos enfim reunidos em uma roda gigantesca, Tiana no centro, puderam juntar as mãos e então erguê-las em palavras positivas e de motivação. Exatamente o mesmo que estava acontecendo no Estádio Emirates, do outro lado de Londres, com os jogadores vestindo o uniforme completo dos Wolves enquanto ouviam um sermão estratégico do treinador Travis, guiando-os pelo último treino antes da grande final, e o primeiro no campo oficial na qual o evento aconteceria, enfim.

- Foram etapas difíceis até aqui, que exigiram controle, resistência e, acima de tudo, união. - parecia até mesmo emocionado, e Harry sorriu em sua direção, Liam abraçando seu ombro conforme fazia o mesmo para com o treinador. - Como todos vocês, essa é a primeira vez que eu chego tão longe assim, e não podia ter desejado um time mais preparado do que vocês para compartilhar um momento tão grandioso como o que vai acontecer amanhã nesse campo. - como esperado, uma lágrima singela escorreu por sua bochecha, e Travis rapidamente a limpou, embora não livre dos gritos animados dos jogadores que ousaram tomá-lo em um abraço coletivo firme. Ofegante, ainda manejou de exclamar: - Parem de enrolar e vão para o campo, anda. Temos um último treino. - os jogadores obedientes logo o soltaram para seguir suas posições na linha de meio campo, mas segurou o apito no peito, ainda não dando a largada da bola. - Ei, rapazes. - Travis chamou suas atenções, mais uma vez. - Joguem com o coração, sim? A taça da vitória é só uma taça empoeirada, mas as pessoas que estão ao seu lado, essas são pra sempre. - Harry, exatamente no centro, girou o olhar para Liam, que tinha a bola em mãos, e sorriu. - Agora parem de enrolar e mão na massa. Taça empoeirada ou não, vamos trazê-la para casa.

O apito soou, e com ele, a bola foi liberada, a velocidade alcançada por seus pés sendo nada comparado com os batimentos acelerados de seus corações no peito.

Tanto para Louis, parado no limite do palco do Lyceum Theatre, fitando as centenas, até mesmo milhares de cadeiras vazias que em alguns dias, não muitos deles, estariam lotadas, quanto para Harry, observando esperançoso a bola arremessada por suas mãos passando por dentro da trave e marcando assim o touchdown, seu primeiro e com certeza não o último no Estádio Emirates, o sentimento era o mesmo.

Pertencimento.

Gratidão.

E nervosismo, o bastante para fazê-los querer vomitar.

Mas ainda assim, uma calmaria contraditória no peito frenético, como se seu corpo soubesse que era ali que fazia sua moradia.

1 Dia Para a Final do Campeonato e a Grande Estreia do Musical

- As doze princesas!

- Lago dos Cisnes!

- Vida de Sereia!

- Três Mosqueteiras!

- Escola de Princesas! - Louis completou a série de sugestões que seguiram a inocente pergunta de qual filme da Barbie vamos assistir? feita por Barbara, e agora, os cinco piscavam animados para a loira, que deu de ombros e simplesmente escolheu o filme que Eleanor sugeriu, afinal, sua namorada tinha a opinião mais importante. Ao menos em seus critérios.

- Eu não gosto de Castelo de Diamante. - Niall foi o primeiro a resmungar, cruzando os braços emburrado enquanto Chad tratava de puxá-lo para seu peitoral para Patrick poder então se enfiar entre as coxas do loiro, deixando-o preso em um sanduíche.

Estavam reunidos no dormitório, para variar, e enquanto Barbie ecoava da televisão, tratavam de se aconchegar pelas duas camas de solteiro e pelo chão coberto por edredons e travesseiros conforme caixas de pizza eram distribuídas e também engradados de cerveja - sem álcool, é claro.

Seria uma ótima maneira de finalizarem aquele dia, o último antes do caos tomar palco, enfim.

Por isso, Bebe ergueu-se nos joelhos para chacoalhar a latinha ainda fechada no ar.

- Um brinde! - anunciou, e todos seguiram seu gesto, levantando as latinhas de cerveja da mesma forma. - Um brinde ao melhor dia de nossas vidas!

- Um brinde ao melhor dia de nossas vidas! - ecoaram em seguida, tilintando suas latinhas juntas e então as abrindo em um tsss conjunto, seus primeiros goles sendo prova da promessa que deixavam ali registrada.

Que o dia seguinte seja o melhor de suas vidas.

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Menos de 18 Horas Para a Final do Campeonato e a Grande Estreia do Musical

Louis não sabia há quanto tempo estava se revirando na cama em busca do sono que nunca vinha, mas eventualmente desistiu de tentar. E ficou ainda mais surpreso quando esticou a mão para a outra extremidade do colchão e percebeu estar vazio.

Harry?, sua mente ecoou, no mesmo instante em que seus olhos abriram estatelados.

Evitando que seus pensamentos pulem para conclusões precipitadas, se arrastou para fora da cama e calçou os tênis, já abrindo a porta do dormitório e caminhando conscientemente pelo campus naquela madrugada fria e silenciosa. Ninguém ousaria fazer uma festa ou sair do quarto quando em algumas horas, grandes eventos aconteceriam.

Ninguém exceto o capitão do time que jogaria na final do campeonato e o ator principal do musical que estrearia em um dos mais renomados teatros de Londres.

Por isso, antes de ir para onde sabia que Harry estaria, Louis se permitiu seguir caminho pelos paralelepípedos até o estúdio, não se contendo a um sorriso orgulhoso quando, exatamente na porta, havia um cartaz gigantesco de sua cara e de Bebe, estampando Danny Zuko e Sandy em completa caracterização de Grease. Deslizou os dedos por ali, gentilmente, antes de empurrar a porta de aço e se ver dentro do ambiente que foi sua casa por meses.

Não havia muita coisa em display, todos os cenários oficiais já tendo feito seu caminho para o teatro, mas ainda haviam algumas araras com figurinos protótipos e equipamentos teste, instrumentos que utilizaram durante semanas e mais semanas de ensaios árduos que pediram tudo o que tinham, desde força muscular até controle emocional, arranjo vocal e coordenação motora para dançar.

Ali, mesmo rodeado de descartes, primeiras versões e ainda variantes substituíveis do cenário, figurino e trama, Louis sentia-se bem.

Podia inspirar e expirar calmo sabendo que em algumas horas estaria apresentando uma parte de si para o público, realmente. A sensação de que viveu para aquele momento em especial, como se todas as suas memórias remetessem à Grease, e no palco, quando o sol nascesse e então estivesse começando a se pôr de novo, teria a chance de mostrar ao público sua próprias memórias Grease.

Para que, eventualmente, anos depois, quando vissem o filme ou ouvissem alguma música, lembrassem dele.

Lembrassem de sua história.

Passava os dedos delicados pelas araras de figurinos e pela mesa de som quase vazia e desplugada, e só conseguia reprisar o último ensaio geral no Teatro em sua mente. A sensação que o tomou quando todos foram embora e só lhe restou ali no palco de madeira, a forma com que se ajoelhou e agradeceu pela força que seu ser havia recolhido durante anos, que o levaram até aquele momento. Ou ainda, quando Tiana se aproximou com lágrimas nos olhos e o fez companhia no chão, agradecendo-o por todo o esforço e compaixão, mesmo nos momentos em que não era Danny Zuko e continuava ajudando-os com a produção.

Ali, no estúdio onde tudo começou, ciente de que era a última vez que pisaria naquele chão antes de sua vida inteira mudar, seja para o bem ou para o mal, Louis sorriu.

Sorriu para as lembranças de quando era criança e sua mãe atuava como a Sandy de seu Danny Zuko, escondidos de seu padrasto.

Sorriu para as lembranças de quando se trancava no banheiro para ensaiar falas para as audições anteriores, longe dos tapas e palavras ríspidas de Ryan.

Sorriu para as lembranças de quando Harry o ajudou com os scripts mesmo o caçoando por isso.

Sorriu para as lembranças de quando teve um colapso nervoso na audição e Tiana teve que levá-lo para a enfermaria.

Sorriu para as lembranças de quando ousou sair da UAL para encontrar a si mesmo.

Sorriu para as lembranças de quando lutou por uma segunda chance com o musical e o reitor, seus colegas, Tiana, e todo o resto do campus o ajudaram a conseguir.

Sorriu para aquele momento no presente, em que estava a poucas horas da grande estreia do musical da sua vida e podia se sentir grato por sua trajetória, por mais difícil que ela tenha sido.

Quando bateu a porta do estúdio atrás de si, os pés já seguindo caminho para onde sabia que Harry estaria, pôde suspirar com o vento gélido colidindo contra seu rosto inchado pelo sono, e também talvez por algumas lágrimas sorrateiras. Mas foi de sua maior surpresa quando chegou ao campo de futebol e não viu o namorado ali.

Precisou ainda de alguns instantes para pensar antes de dar meia volta e se dirigir a outro lugar.

Por sua sorte, havia acertado dessa vez.

- Faz tempo que não te encontro aqui em cima. - murmurou, chamando a atenção de Harry, os olhos verdes conectando aos seus azuis por detrás do ombro. Era intenso, desesperador, gratificante. Isso que suas íris transmitiam naquele momento.

Um sorriso de covinhas floresceu, diante da imensidão da madrugada.

- Lembra da última vez que estávamos aqui? - foi sua resposta, a tempo de Louis encostar ao seu lado na beirada.

Estavam no terraço do prédio de Artesanato, a estufa de flores logo atrás de seus corpos e a noite gélida fazendo-os companhia. A calmaria assustadora antes do caos, com toda a certeza. Mas de alguma forma, a visão panorâmica do campus inteiro que lhes agraciava dali de cima fazia seus peitos caírem em suspiros profundos. Como se estivessem no controle, mesmo que uma falsa noção dele.

O menor então ousou ficar dentro do abraço de Harry, entre seu peitoral forte e a parede da beirada, aconchegado.

- Como poderia esquecer da noite em que tudo mudou?

FLASHBACK ON

(Trecho do capítulo 45%, vulgo um dos meus favoritos da fanfiction inteira, caso queiram reler, porque eu sempre releio k)

Tudo passou em câmera lenta, embora Louis tenha plena consciência de que foram apenas minutos - ele não iria deixar Harry esperando por muito tempo na entrada da uni, afinal, estava ventando e a chuva de mais cedo dava indícios de que iria retornar. Enquanto caminhava apressadamente - o máximo que suas pernas pequenas mas proporcionais permitiam - ele desejou que aquele momento decisivo (esperançosamente bom) acontecesse em um dia ensolarado de verão enquanto pássaros cantavam e nuvem alguma atrapalhasse o calor proveniente do céu.

Teria sido mais... como os contos de fada. Se ele tivesse imaginado aquele dia várias e várias vezes - ele nunca admitiria que havia, de fato, imaginado - seria em um dia bonito, não em plena noite fria e muito provavelmente chuvosa.

Mas ali estava ele, encolhido nos casacos grossos que havia colocado enquanto Stan tagarelava sobre aquela ser a melhor noite do ano e que estava orgulhoso do amigo e que não faziam um trabalho digno ao esquentá-lo. Seus Vans batiam contra o asfalto na mesma intensidade que o vento batia contra seu corpo, apenas aumentando a tremedeira que sentia - ele convencia a si mesmo que era apenas devido ao frio.

Pela primeira vez desde o começo - começo mesmo, desde Harry e Louis se odiando, se provocando, apanhando juntos no corredor, prometendo ajudar um ao outro em seus projetos e fingindo fazer aquilo apenas para esfregar na cara um do outro, Louis torcendo por Harry nos jogos, ambos jogando o jogo da Disney, as visitas diárias ao carrinho de cachorro-quente de James até Ryan aparecendo, estragando tudo, Louis estragando tudo, Harry ficando arrasado, brigas em festas de fraternidade, socos e chutes, machucados e Louis indo embora - desde o momento inicial, aquela era a primeira vez em que Louis Tomlinson estava caminhando até alguém que quer, que realmente quer, alguém que ele quer tanto que justamente por querer tanto, proíbe a si mesmo de ter, porque tudo que tem, destrói.

Mas ali estava ele.

Louis Tomlinson estava indo ao encontro de Harry Styles para dizer que, embora as circunstâncias, ele o queria - e que iria se permitir querê-lo.

Se ele ainda o quisesse, claro.

Confuso, não?

O frio em sua barriga, o lacrimejar constante de olhos, o tremor nos lábios e joelhos e mãos, a falta de ar e o suor acumulado em sua nuca independentemente do frio apenas colaboravam com a confusão em sua mente.

E então, perdido e sobrecarregado, Louis percebeu estar na rua da uni - e o viu.

Alto e ainda mais forte e esbelto, os ombros cobertos pela jaqueta da uni e a camisa dos Wolves por baixo, os cachos longos e brilhosos atados em um coque, pernas musculosas cobertas por um jeans claro e All-Star nos pés. Louis podia encará-lo o quanto quisesse, de cima a baixo, mas uma vez encarado os olhos verdes brilhantes, era impossível deixá-los. A linha rígida em seus lábios dizia a Louis o quanto estava nervoso com a potencial conversa e ao chegar perto o suficiente, o observou caminhar até seu encontro e suspirar.

- Por favor, me diz que está tudo bem. - sua voz estava urgente e Louis encontrou seu olhar ao assentir. Harry estava tenso, desde maxilar até mãos, e isso só contribuía para o desespero de Louis.

- Está sim. Só... quero, hm, falar com você.

Harry o analisou por alguns segundos, nem um mísero centímetro menos tenso e então, assentiu.

- Vamos para um lugar mais reservado. - murmurando ao fitar algumas pessoas entrando e saindo da uni com cervejas nas mãos e risadas altas sendo trocadas, Harry abriu espaço para Louis passar ao lado de seu corpo, não deixando de notar sua tremedeira e nervosismo.

Em silêncio, começaram a andar lado a lado, Harry os guiando. Haviam muitas pessoas no campus, luzes alaranjadas por todos os lados, música alta contrastando com violões, pessoas se pegando enquanto outras dançavam, barris de cervejas e carrinhos de pipoca, algodão-doce e todo tipo de comida gordurosa e carregada de açúcar possível, grupos cantando alto, outros fumando, haviam também outros mais isolados que conversavam, liam livros iluminados por lanternas enquanto enrolados em cobertores - Louis observou deslumbrado, tudo aquilo o fez ponderar sobre o quanto sentia falta da universidade, o quanto desejou, durante anos, estudar na UAL e quase terminando sua estadia ali, mal havia aproveitado o que ela oferecia de melhor.

Ele não havia aproveitado o que sua vida oferecia de melhor nos últimos tempos - e se isso não causou um sentimento estranho na boca de seu estômago e no centro de seu peito, não havia mais nada nesse mundo capaz de causar.

Nada - exceto talvez Harry Styles e seus grandes olhos verdes brilhantes, atentos a qualquer mudança repentina no corpo pequeno ao seu lado.

E, sem perceber, como se as palavras apenas fluíssem de sua boca, ele disse:

- Sabe como a maioria das pessoas sonham em ir para a Disney? - sua voz estava pensativa, não trêmula ou receosa ou baixa, apenas pensativa, uma evidência do quanto aquilo estava rodeando sua mente ultimamente. Louis não olhou para ver se Harry prestava atenção. - A UAL era tipo assim pra mim.

Continuaram caminhando pelo que parecia o caminho menos cheio da uni, embora ainda houvesse alunos - algumas líderes de torcida dançando no canto, acompanhadas de rapazes e outras garotas da banda, entretanto, nenhum deles prestou atenção em ambos passando.

- E como está sendo? - a voz de Harry soou tão inesperadamente que Louis saltou para o lado, o encarando surpreso. Harry o fitou e Louis pôde jurar que pararam de andar naquele momento, incapazes de fazer qualquer coisa além de navegar nas águas turbulentas dos olhos um do outro. - A UAL. Como está sendo pra você?

Louis engoliu o gosto amargo que surgiu em sua garganta e focou em andar sem tropeçar nos próprios pés, tão nervoso quanto antes. Eles avançavam e um brilho amarelo alaranjado cobria o caminho à frente.

Ele demorou bons minutos para responder.

- Poderia ter sido melhor. - Louis puxou mais oxigênio do que realmente precisava para dentro dos pulmões e engasgando de leve, continuou. - Quer dizer, a UAL é incrível como sempre sonhei, quem estragou tudo foi eu. Passei meus primeiros semestres com a pessoa mais engraçada que conheci na vida, e o deixei perto do final.

Harry sabia que Louis estava falando de Niall.

- Você precisava de um tempo longe de todos.

- Não das pessoas que amo. - Louis disse e naquele momento, Harry o encarou. O olhar foi sustentado por tanto tempo que alguém que estava passando por aquele caminho esbarrou no ombro de Louis e os obrigou a desviar. Continuando a andar, ainda mais sem graça que antes, Louis engatou a voz. - O que estou tentando dizer é que... a vida me deu uma chance e eu estraguei tudo. Estou quase saindo da UAL e não fiz quase nada que sonhei, por simples e unicamente culpa minha.

A resposta de Harry nunca veio. Ao invés disso, continuaram andando, a luz alaranjada se aproximando cada vez mais ao que o vento tentava forçar seus corpos para a outra direção. Quanto mais passos davam, mais pessoas apareciam.

Louis só percebeu que estavam se dirigindo para um prédio (o de Artesanato) quando Harry abriu a porta da escada de emergência para ele - e vários e vários lances de escadas apareceram em seu campo de visão. Sem reclamar, se pôs a subir, não evitando em alimentar a dúvida crescente dentro de si sobre o que Harry estava pensando que aquilo se htratava.

Mais uma porta foi aberta e estavam no terraço do prédio - a princípio, escuro, mas conforme sua visão foi se acostumando com a pouca luminosidade, Louis pôde localizar a estufa e vasos e mais vasos de flores e os mais variados tipos de plantas. Perdido por um momento, ali, rodeado de vida e colorações diferentes de verde, Louis fixou o olhar em Harry - o rapaz que, ironicamente, o fazia se sentir tão vivo que era quase como se tivesse acabado de nascer (ao mesmo tempo que o dava vontade de morrer), e tinha os olhos em um verde a qual planta nenhuma no mundo conseguiria copiar.

O vento cortava seus corpos com ainda mais intensidade pela altura em que se encontravam, mas isso ainda não o impedia de suar em nervosismo. Harry estava parado, os olhos em si ao que dirigia as mãos até o bolso da jaqueta nas cores vinho, branco e preto.

Era agora.

Louis se aproximou, não o bastante para causar-lhe um enfarte mas o suficiente para alarmar seu sistema inteiro. Demorou minutos em silêncio apenas absorvendo cada detalhe do homem à sua frente, desde as rugas em sua testa aonde havia linhas tensas até mesmo as covinhas aparentes (então elas apareciam mesmo sem sorrisos?), suas bochechas coradas se opondo ao frio, o maxilar travado e o peito subindo e descendo combinando com fumaça branca que escapava de seu nariz ao expirar - Louis tentou fixar Harry Styles em sua mente como se fosse a coisa mais importante em sua vida, a mais bonita e mais rara, e de fato era, mas havia uma pitada de medo de nunca mais vê-lo daquele jeito de novo.

E se o que estava prestes a dizer mudasse demais sua relação com Harry?

Somente quando não aguentava mais ser atordoado por pensamentos é que Louis abriu a boca, puxando uma grande lufada de ar e se preparando para falar - travando a batalha que consistia em organizar palavras, sentimentos, lembranças, receios, emoções e desejos. Harry pacientemente esperando sua fala.

Era agora.

- Harry. - Louis podia ver chamas ardentes nos olhos de Harry, queimando a floresta intensa que preenchia suas íris ao chama-lo, a excitação transbordando de seus corpos e acumulando entre eles, como uma áurea verde e azul. - E-eu... - xingamentos, sussurros, socos, beijos, lágrimas, chutes, abraços, arranhões, gritos, touchdowns, sorrisos, sangue, distância, sentimentos, saudade... - Er... eu, eu... - amizades, família, amores, conhecidos, professores, vizinhos... - E-eu queria, hm, e-eu... - nomes, rostos, toques, minutos, horas, dias, semanas, meses... - H-harry... - Louis engasgou com as palavras e fechou os olhos com força, o suficiente para ver manchas no breu que agora tomava seu campo de visão. - Desculpe, e-eu... eu vou conseguir, eu preciso, eu... eu quero dizer, só me dá alguns segundos e...

Um singelo toque cortou Louis, como um raio cortando o céu, clareando tudo e causando um estrondo tão alto que tudo fica silencioso por um instante - Harry o abraçou, tão forte e tão intenso que foi capaz de cessar seus pensamentos, isolá-los em um mundo particular aonde a música alta não era mais ouvida, o vento não mais os incomodava e as luzes simplesmente não os iluminavam o suficiente, sendo sobreposta pela áurea que emanava de seus corpos juntos, o verde e o azul nunca se misturando, mas se complementando em um brilho único.

O abraço durou muito mas não o suficiente, porém, quando Harry os separou, sua mão permaneceu nas costas de Louis e os guiou até a extremidade do terraço, aonde tinham uma visão periférica do campus. Havia uma fogueira gigante no centro, a fonte da luz alaranjada, e todos os estudantes pareciam atraídos para ela como vagalumes. Grupos de pessoas, casais, solitários - independentemente da situação, podia-se sentir a felicidade emanando do lugar, como se cada um ali estivesse em um estado de espírito tão bom que era impossível quebrá-lo.

Lado a lado, Louis, contudo, não conseguia enxergar Harry, mas sentia sua presença, tão marcante e calorosa como se estivesse ao lado da fogueira, a mesma sensação do calor esquentando os pelos de seus braços e abraçando-o de forma aconchegante - mas se chegasse muito perto, podia se queimar.

Louis queria se queimar?

Bem - qual o ponto de brincar com fogo se não está disposto a se queimar pelo menos um pouco?

- O único sonho que realizei na minha vida. - a voz de Louis saiu baixa, mas ele sabia que Harry havia ouvido. Seus braços flexionaram enquanto apoiados no batente, mas sem virar para encará-lo, Harry permaneceu quieto. - A UAL. Sempre imaginei que... - Louis respirou fundo, desejando mais que tudo que o vento frio o desse a sensação de frescor. - Que seria a melhor época da minha vida. Tinha essa visão das pessoas incríveis, das festas mais legais e das experiências mais marcantes da minha vida. Mas... faltando pouco para deixar tudo isso para trás, só consigo pensar em como estraguei amizades, perdi as festas mais legais e... bem, não posso negar que tive experiências bem marcantes, principalmente nesse último ano. Mas o que quero dizer é... - Louis apertou os dedos juntos ao que ouvia a respiração de Harry acelerar. - Sinto que não vivi o máximo que poderia, entende?

O vento cortante entre seus corpos não foi capaz de quebrar o clima tenso que pairava, muito menos resfria-los - porém, após muitos minutos, Harry se pronunciou, pela primeira vez lá em cima.

- Ainda tem tempo.

A resposta veio tão rápida que Louis pensou ter assustado Harry.

- Não acha que é tarde demais? - a voz de Louis saiu rouca e virando de lado, ele fitou o perfil de Harry, a garganta fechando e o peito falhando. - Não acha que é tarde demais, Harry?

Harry virou de frente para Louis, seus olhos se conectando automaticamente - a áurea surgiu mais uma vez, puxando seus corpos para perto e fazendo um tipo de pressão ganhar força em seus peitos. Havia tanto sendo dito apenas na troca de olhares que Louis sentiu que não havia mais nada a dizer, contudo, Harry não compartilhava do pensamento.

- Nunca é tarde demais, Louis. Nunca. Sempre há tempo. Se acha-se sente que ainda há algo a ser feito, algo que quer fazer, faça. Use seus últimos segundos e faça.

A voz de Harry nunca soou tão... carregada - de sentimentos, seja saudade, angustia, expectativa, amor.

Esperança.

- E se eu perder meus últimos segundos? - quase em um sussurro, Louis tentou recuperar o fôlego.

- Então eu te darei a eternidade. - e Louis jurou ter visto a eternidade pintada nos olhos verdes de Harry.

Toda pessoa tem um conjunto de palavras capaz de destruí-la, e as de Louis já haviam sido utilizadas contra ele - mas naquele momento, sentiu ter encontrado as palavras capazes de empoderá-lo.

Foi algo instintivo, incontrolável, simplesmente saiu, como se a barragem tivesse sido rompida e ao invés de todas as coisas ruins que já aconteceram inundarem o sistema de Louis, as lembranças, as sensações e as carícias que havia repreendido durante todo esse tempo foram libertadas - e eram tão intensas que inundaram seu interior e transbordaram em forma de palavras, tão íntimas e poderosas que quase o drenaram por completo.

- Harry, eu tentei. Só os céus sabem o quanto eu tentei poupá-lo do sofrimento, do quanto me custou para afastá-lo de mim, para mantê-lo longe da bomba que sou eu, tentando evitar, a qualquer custo, machucá-lo quando ela explodisse, quando na verdade, você era o único capaz de desarmá-la. Mas era uma sensação desesperadora porque enquanto todos me observavam afundar e gritavam aprenda a nadar, você chamava meu nome e pulava junto no mar agitado, disposto a se afogar comigo. E-e você nunca percebe o quão apegado a alguém você é até passar um tempo sem vê-la, tocá-la ou até mesmo falar com ela. Você sempre soube, eu acho, sem distância alguma sendo necessária, que sentia algo por mim, e eu peço desculpas por tê-lo forçado a repensar esse sentimento apenas porque eu não tinha tido a capacidade de reconhece-lo ainda. Eu passava madrugadas pensando em você e cada lágrima que derramava, era pelo simples pensamento de você. E fazia sentido, a distância, porque eu não queria machucá-lo, nunca quis, porém, a dor da distância era ainda mais suave do que a da presença. Eu não sei amar e não me parecia justo com você... não me parecia justo amá-lo da forma errada porque eu sei como é isso e dói pra caralho. Não iria suportar causa-lo o mesmo sofrimento que causaram em mim. Mas... mas de qualquer jeito você parecia sair machucado, não importa o que eu fazia você continuava triste - e então começamos a nos encontrar e mesmo depois de meses você continuou a minha espera. Você nunca desistiu de mim e... Harry, eu estava morto. Eu ainda não havia fechado meus olhos embora eu quisesse desesperadamente fechá-los e cair em um abismo indolor, tudo para escapar deste mundo cruel. E então, eu vi seu rosto, com um oceano de lágrimas escorrendo por suas bochechas, você... você parecia tão quebrado. E eu temi que... se eu morresse, talvez te matasse também... e eu simplesmente não podia deixa-lo sentindo uma dor pior do que a que inundava meu peito. E, finalmente, eu decido respirar. E, céus, a princípio eu não conseguia parar de engasgar, meus pulmões não estavam acostumados com ar fresco e subitamente você os preencheu de forma tão tranquilizadora que nunca mais senti falta de ar.

Louis estava hipnotizado, tudo era um borrão - menos os olhos verdes. A música, as luzes, o frio, tudo ficou em segundo plano, congelado. Ele mal sentia seu coração, nem ao menos sabia se estava respirando ou não, ou se estava fazendo sentido, mas continuou, continuou até esgotar todo seu coração em palavras.

- As pessoas sempre dizem que dói durante à noite e aparentemente gritar contra o travesseiro às três da manhã é o equivalente de estar de coração partido na maneira mais romantizada possível. Mas as vezes, é às nove da manhã em uma terça-feira enquanto está parado na cozinha esperando seu chá esquentar. E o cheiro de canela e morangos o faz sentir tanta saudade que mal sabe o que fazer com suas mãos. Saudade não dele, do monstro que causou tudo aquilo, mas da pessoa que você, eu, costumava ser antes de mudar para abrigar alguém que nunca pretendeu ficar. E você me mostrou, durante cada segundo de cada momento que passamos juntos nos últimos dias, que tudo bem, que precisamos quebrar para melhorar. E-e eu passei tanto tempo sendo privado de fazer as coisas que queria, de sair com as pessoas as quais me importava, de... de ser eu mesmo, que quando você me deu a oportunidade de fazer todas essas coisas e mais, eu simplesmente fiquei perdido. Eu acabei me isolando. E tudo que rodeava minha mente era Quem é Louis Tomlinson? Quem sou eu? E você não me mostrou quem eu era, não. Você segurou um espelho na frente dos meus olhos e esperou eu descobrir sozinho. E... e eu quero viajar de carro algum dia, quero fugir, explorar, dormir no carro, parar a cada placa pra apreciar a vista, ir a museus e tentar entender cada arte presente, quero provar cafés de vários lugares com nomes chiques, quero ouvir minhas músicas favoritas enquanto dirijo e erro as notas, quero correr atrás da neblina, atrás do sol, quero fazer coroas de flores e sentir o vento nos meus cabelos, quero gastar tempo para fazer memórias, boas. E-eu quero me sentir vivo.

Praticamente no modo automático, Louis somente sentia sua boca mexendo e as palavras fluindo pela sua língua. Ele observava o verde mudar de tom conforme avançava - não sabia o quanto ainda havia preso em seu peito, mas já havia começado, e não iria parar agora.

- É engraçado como funciona. O corpo humano é constituído por bilhões de células, e mesmo assim, é necessário apenas uma pessoa - uma voz, um olhar, uma mensagem ou um sorriso pra desvendar completamente nossos segredos. Nós pensamos que somos essas incrivelmente inteligentes e complexas criaturas, mas no final do dia, todos nós só queremos alguma conexão. Nós só queremos ter a certeza de que não iremos ficar sozinhos. Às vezes, nós só queremos saber que não somos loucos pra caralho por sentir o que sentimos, mesmo depois de passar por todas as merdas que passamos. E por causa disso, agimos da forma que agimos. Nosso cérebro não tem coração e nosso coração não tem cérebro. Por isso, toda vez que falamos o que está na nossa mente, parecemos insensíveis. E toda vez que agimos de acordo com o coração, parecemos irracionais. E eu tinha tanto medo... medo de deixar de ter medo - porque o ele controlava minha mente, e eu já sabia que tinha você no meu coração. Deixar que o medo dominasse minha mente fazia com que você não conseguisse entrar lá também, mas depois desses últimos meses, pude perceber que eu só pensava em você. Nós flertamos o tempo todo, inconscientemente, e sorrimos e rimos, mas como eu devo saber que tudo isso é real? Eu não posso controlar meus sentimentos, não mais. É muito difícil estar ao seu lado e não dizer todas a coisas que quero que ouça. Eu estava tentando o meu melhor para agir de forma neutra mas tudo que conseguia fazer era ficar hipnotizado por seus olhos. E a parte mais bonita é que eu não estava nem mesmo procurando quando te encontrei - nem no começo quando nos odiávamos, nem em todas as vezes em que você apareceu em minha frente após meses sem nos vermos.

E então, Louis pareceu ter sido despertado. Duas mãos, trêmulas e geladas, agarraram as laterais de suas bochechas, e tudo ficou em foco novamente - ele pôde enxergar o céu escuro repleto de nuvens, pôde sentir o vento gelado cortando seu corpo, pôde ouvir a música invadindo seus ouvidos, pôde sentir o odor suave das diversas flores que presenciavam aquela cena, e acima de tudo, pôde sentir o toque quente ao mesmo tempo frio de Harry em sua pele, irradiando por todo seu sistema e só se intensificando quando conectou seus olhos.

Nunca em toda sua vida, Louis havia visto um olhar tão intenso como aquele, tão verde, tão cheio de emoções e tão... satisfeito. Foi então que Louis percebeu a umidade em suas bochechas - ele havia chorado e mal havia notado. Seu peito estava mais leve, embora repleto de sensações boas. Ele havia dito o que estava rodeando sua mente e coração durante os últimos meses e agora, não sentia um pingo de arrependimento em seu peito.

A presença de Harry era tão marcante que era como sentisse dois corações batendo juntos, cada vez mais rápido e mais forte. E então, sentiu polegares acariciando sua bochecha, acompanhados da voz rouca de Harry:

- Lou, eu sabia que estava encrencado desde a primeira vez que ouvi sua risada - Harry juntou suas testas. - E meu coração dançou junto com o som. E-eu poderia falar por horas sobre um único momento que passei com você. E se me permite ser cafona e talvez até mesmo clichê gostaria de dizer algumas coisas - porque, pra ser sincero, imaginei essa cena tantas vezes na minha cabeça que tenho palavras feitas apenas para você relacionadas à qualquer coisa. E bem, foi amor, desde o começo da implicância até o adeus que não queria ser dito. E... e eu nunca fui muito bom em matemática, mas há aproximadamente uma em sete bilhões de chances de conhecer alguém tão incrível quanto você, o que significa que eu teria mais chance de ganhar na loteria ou ser atingido por um raio do que ser sortudo o suficiente para me apaixonar por você. Eu acho que... pela primeira vez em toda minha vida, as chances estavam a meu favor. E você me deixou porque pensava não ser o melhor para mim, e eu te dei espaço e tempo pra perceber o quão maravilhoso é, e o quão bom para si mesmo você é. Eu caminhei conscientemente até me apaixonar por você, com meus olhos bem abertos, escolhendo subir cada degrau ao longo do caminho. Eu acredito sim em destino, mas eu também acredito que nós só estamos destinados a fazer as coisas que escolhemos fazer. E eu escolheria você, em milhares de vidas, milhares de mundos, e em qualquer versão da realidade. Eu te encontraria e escolheria você. Você, que fez o quebrado parecer força e a força parecer invencibilidade. E hoje, quando estava te esperando na entrada da uni, pude te ver caminhando com o universo nas costas e faze-lo parecer como um par de asas.

As lágrimas desciam pelas bochechas de Louis e encharcavam os dedos de Harry, que continuavam firmes, contudo. Suas testas coladas permitiam que suas respirações se misturassem e já com os peitorais colados, podiam sentir seus corações juntos - não em sincronia, não. Cada um gritava o nome do outro, como em uma batalha a qual o objetivo era o mesmo.

Se declarar, deixar os sentimentos reprimidos por tanto tempo serem libertos e tomarem conta.

Harry roçou seus narizes de forma singela, não conseguindo fechar os olhos, a imagem de Louis completamente vulnerável à sua frente o fazia se sentir seguro - pois o que ele mais havia feito nos últimos tempos era se fazer de forte, e naquele momento, poder compartilhar seus medos e desejos com o rapaz que ama, era demais para suportar de olhos fechados. E Louis o encarava tão intensamente quanto, transbordando os sentimentos que não pôde traduzir em palavras por meio da íris azul cristalina.

- Eu não sei amar - Louis sussurrou, baixo e trêmulo, as mãos de Harry se movendo com o movimento. - Mas prometo aprender e te amar da maneira que merece. E... - Louis puxou uma lufada de ar para dentro dos pulmões, piscando as lágrimas para fora. - Obrigado por me amar mesmo quando eu ainda tinha gosto de coração partido e dor.

- Eu prometo - Harry sussurrou de volta, seus olhos fixos nos de Louis ao que seus dedos subiam para limpar as lágrimas insistentes. - Plantar beijos como sementes embaixo de seus olhos para que todas as vezes que chorar, flores nasçam. As suas preferidas.

E foi o que ele fez. Segurando a cabeça de Louis firme com as mãos, Harry desgrudou suas testas e repousou seus lábios gelados embaixo de seu olho direito, beijando delicadamente a região úmida, e repetiu no outro olho, para então, voltar a encostar seus narizes.

- Eu me sinto tão... - Louis murmurou, seus olhos alertas como nunca, incapazes de descansar, as batidas em seu coração já sendo bem recebidas no peito. - Esperançoso.

- Esperança foi o momento em que você pensou em acabar com a sua vida e mesmo assim escolheu viver. - Harry respondeu, o carinho que fazia no nariz de Louis causando arrepios em ambos. - Existem tantas frutas que não provamos ainda, tantas músicas lindas que não descobrimos, tantos temperos que nunca ao menos ouvimos falar e tantas conversas intrigantes que nunca tivemos. Há oceanos que não sentimos e plantas que nunca observamos, livros não lidos e almas que não sentiram o toque de corações. Eu prometo fazer tudo isso acontecer, com você, eu prometo te dar o sol.

- Você é o sol. - Louis sorriu. E o olhar de Harry foi atraído para aquele movimento porque, porra, quanto tempo Louis não havia sorrido daquele jeito. E, naturalmente, as covinhas apareceram.

- A felicidade fica linda em você. - sussurrando dentro o sorriso, Harry suspirou. - E olha, estou usando o sorriso que me deu.

Enquanto Louis sentia sua bochecha dormente, assim como suas mãos agarradas nas extremidades da jaqueta de Harry e seus joelhos devido ao frio intenso, pôde perceber algo - ele queria se sentir daquele jeito, para sempre. Se sentir bem, sem culpa, sem pêsames e sem arrependimentos. E sem poder controlar, ele estava rindo.

Rindo.

Não havia nada engraçado na situação, não. Louis estava rindo porque seu corpo simplesmente não conseguia conter a felicidade, e o rapaz que tanto se preocupou em não espalhar a dor acabou espalhando sua felicidade ao que Harry o acompanhava na risada. Seus corpos se embolando em um quase abraço e os sons de suas risadas combinadas ecoando pela estufa no mesmo instante em que grossos pingos de chuva começaram a cair, forte e rápido, tão gelado quanto o vento que acompanhava.

- Vem, vamos sair daqui. - murmurando entre risadas e sorrisos, Harry manteve Louis perto de seu peito, buscando suprir a saudade que mal sabia que estava sentindo no momento e também esquentá-lo. Mas os olhos azuis brilharam ao olhar do verde intenso para o céu turbulento e ruidoso, quase fechando ao que os pingos atingiam sua face.

- Não, eu gosto de tempestades. Elas me lembram que as vezes até o céu chora e grita. Além do mais - Louis voltou o olhar para Harry, ambos sorrindo enquanto as roupas pesavam pela umidade e os cabelos grudavam na testa. - Só conhece o valor da âncora quem passa pela tempestade.

Eles voltaram a juntar seus narizes e misturar suas respirações, os olhos, dessa vez, fechados, aproveitando majoritariamente o calor que seus corpos juntos emanavam em oposição à chuva fria e vento forte - independente, eles estavam aquecidos. E Louis não pôde evitar em pensar que você nunca sabe o quão congelado está até que alguém começa a derreter o seu gelo.

A música lá em baixo estava sendo abafada pelo barulho da chuva batendo contra o teto de vidro da estufa - além das risadas de ambos, cada vez mais altas. E tendo braços fortes ao redor de seu corpo e um sorriso estonteante direcionado ao seu, Louis não se conteve.

Essa seria seu objetivo a partir daquele dia.

Nunca se conter, se reprimir ou se prender.

(Coloquem Runaway - Galantis pra tocar agora se quiserem um efeito completo da cena. A música vai mais rápido que aqui, claro, então recomendo colocar pra repetir e ouvir como música de fundo até o final, rs. Vale muito a pena, sério.)

Think I can fly (acho que posso voar)

Ele se afastou gradualmente do corpo caloroso destacado em meio ao frio intenso, a chuva embaçando sua visão, não o suficiente para evitar que ele veja a felicidade emanando do garoto de cabelos embaraçados no coque e risada engraçada. O coração em êxtase no peito e a mente tão calma que o deixava louco - no melhor sentido possível.

Think I can fly when I'm with you (acho que posso voar quando estou com você)

Suas mãos foram as últimas a se separarem, não se despedindo, mas se libertando.

My arms are wide

Sentindo as gotas caírem com força em seu corpo, Louis abriu os braços e ergueu o queixo para o céu, permitindo que suas roupas encharcadas o pressionem para baixo - ele sabia que não havia nada no mundo capaz de arrancar sua felicidade no momento. Catching fire as the wind blows. Nem mesmo o frio balançando seu corpo tiraria o calor que ardia em seu peito; os estrondos no céu nunca chegariam aos pés dos que seu coração fazia, gritando em liberdade pela primeira vez em muito tempo.

I know that I'm rich enough for pride (sei que sou rico o suficiente para o orgulho)

Rodando algumas vezes com os braços abertos, seus ombros doendo pelo esforço em mantê-los firmes mesmo com o peso das roupas, Louis parou de frente para Harry, suas risadas tão espontâneas que pareciam estar de acordo com a sinfonia da chuva - por meio da parede de água agitada e gélida, Louis encontrou o verde mais quente e intenso possível.

I see a billion dollars in your eyes (eu vejo um bilhão de dólares em seus olhos)

E com mais uma onda de risadas o atingindo, Louis instintivamente fechou os olhos um pouco. Even if we're strangers til we die. Quando os abriu, sua risada ainda ecoava, e junto com ela, estrondos vindos do céu - todos pareciam estar festejando.

E conforme a música ecoava em sua mente, Louis teve a estranha sensação de que ela estava em sincronia na mente de Harry também, pois o garoto soltou o cabelo do coque e deixou que os cachos caíssem pesados e escuros sobre os ombros, as risadas se intensificando.

Demorou segundos.

I wanna run away

Segundos para que ambos estivessem dançando no terraço ao som de uma música imaginária, a chuva ricocheteando em seus pés agitados e espirrando para todos os lados - as flores pareciam brilhar na luz do luar, felizes pela chuva e o frescor que a acompanhava. E Louis também. Ele havia libertado seus sentimentos, havia deixado o peso que carregava nos ombros se esvair e completamente aliviado, depois de tanto tempo, se permitiu voar.

I wanna run away

Não havia arrependimentos ali - a palavra-chave agora era aproveitamento.

O ano estava acabando - Louis iria aproveitar.

Harry estava ali - Louis iria aproveitar.

Estava chovendo - Louis iria aproveitar.

Ele precisava compensar o tempo perdido, as experiências negligenciadas e a distância demasiada.

Seu coração estava, pela primeira vez em muito tempo, em sincronia com sua mente. Anywhere out this place. As palavras ecoavam em sua mente e seu coração dançava junto à sinfonia. A chuva agindo como se fosse confete e as estrelas como as luzes em um palco, apontadas para eles.

E como bônus, havia um par de olhos incríveis virados para si, mesmo que os seus estejam focados no céu; havia um par de braços preparados para segurá-lo, mesmo que os seus estejam abertos e dispostos para mergulhar em queda livre na imensidão do mundo que se erguia à sua frente; havia um sorriso tão largo quanto o seu, ambos pelo mesmo motivo; e apenas o som de suas risadas o causava arrepios.

I wanna run away

Rodando e rodando até ficar tonto, chutando água e mais água e gargalhando a plenos pulmões para o céu escuro, Louis se permitiu dançar com o vento, o cheiro doce das flores inundando seu olfato e a presença de Harry aconchegando seu coração. Just U and I. Suas bochechas estavam dormentes mas após tanto tempo, ele iria se permitir - afinal, não há felicidade demais.

Just U and I.

Como câmera lenta - ele e Harry dançando, rindo e sorrindo, água por todo lado e uma música silenciosa soando para ambos, apenas. Eles sabiam que tudo daria certo a partir dali, com o céu os abençoando e os deuses lá em cima os oferecendo as estrelas ao invés de eternidade. E quando lágrimas de felicidade começaram a escapar de seus olhos, Louis lembrou dos beijos de Harry, e desejou que tulipas crescessem ali.

A música estava em looping e parando por um momento, o ar lhe faltando, Louis fitou Harry, ensopado, as bochechas vermelhas e olhos brilhando pela luz da lua - ele respirou novamente. U and I. A chuva estava menos intensa e o vento mal os incomodava àquela altura, contudo, Louis sentiu seus pelos do braço arrepiarem ao que chutava as poças de água no chão, Harry se tornando mais nítido a cada passo.

Em meio à uma tempestade, Louis estava encarando o sol.

E prometeu a si mesmo que nunca mais ficaria tanto tempo sem ver o nascer do sol.

As risadas ainda ecoavam quando seus joelhos se encostaram, a chuva caindo entre eles. Harry o encarou e o viu - o Louis, o Louis que o próprio Louis queria se tornar, este que acabara de nascer naquele terraço, em meio à chuva forte. E ele o amou instantaneamente, simplesmente pelo fato de Louis tê-lo amado também.

Água respingava em suas cabeças e escorria por seus cílios, narizes e bocas, contudo, Louis agarrou a área do zíper da jaqueta ensopada de Harry e o puxou para si. A última coisa que ouviu antes de ficar completamente perdido em sensações foi o estrondo de um trovão cortando o céu.

E seus lábios colidiram com os de Harry.

Não havia explicação. Nada havia sido como aquilo e só deixava espaço para Louis desejar sentir de novo e de novo e de novo. Foi molhado antes mesmo de sentirem suas línguas juntas, tão quentes que gritavam em oposição aos pelos arrepiados de ambos os corpos. A música ainda ecoava em suas mentes e segredos eram trocados por seus corações conforme os cachos molhados de Harry cutucavam as bochechas de Louis, que não hesitou em esconder seus dedos ali.

A chuva caía ao redor deles, uma vez que não havia espaço algum entre seus corpos. Coxas entrelaçadas assim como os lábios. Harry ofegava constantemente, o pulmão quase paralisado em meio a tantas emoções.

Fazia tanto tempo.

Porra, como fazia.

E sentir o corpo de Louis entre seus braços, tão aconchegado e tão... vivo, o preenchia com tanta esperança que poderia gritar aos céus em agradecimento. Ele estava chorando. Lágrimas escorrendo por suas bochechas e se misturando com as gotas da chuva conforme beijava o garoto que ama. Chorava porque a felicidade que sentia era tanta que sem conseguir sair por meio das risadas, achava um caminho por seus olhos.

Finalmente, ele e Louis estavam recebendo de volta o que a vida havia tirado sem ao menos pedir permissão. E muito mais.

Enquanto ofegavam e beijavam e apertavam seus corpos juntos, não havia passado - decepções, tristeza, machucados, distância - havia apenas um futuro tão potencialmente maravilhoso que os deixavam ansiosos.

Foram muitos minutos de beijos quentes, tantos que quando abriram os olhos, a chuva já havia passado e apenas uma fina garoa caía do céu. Mas não importava pois Harry tinha seu próprio céu particular preso nos olhos de Louis; e Louis tinha seu próprio sol particular preso nos de Harry.

FLASHBACK OFF

- Eu não acredito que sua grande estreia já é em algumas horas. - Harry trouxe Louis de volta à realidade, abraçados tão próximos contra a beirada que o menor sentia a parede contra suas costas, o coração acelerado em sincronia com o do namorado, ao menos.

- E eu não acredito que a final do campeonato já é em algumas horas. - contrapôs, brincando com o caos que seria os eventos no mesmo momento, praticamente. Àquela altura, era o que lhes restava. Brincar. As palavras causando um formigamento engraçado em sua língua. - Está nervoso? Pff, sei que é uma pergunta idiota a se fazer mas...

Harry demorou alguns instantes para responder, tomando seu tempo ao que deslizava os lábios pela lateral do pescoço do namorado, ouvindo-o suspirar e grunhir com o calor que se alastrava em contraste com o frio intenso da madrugada, ainda mais no terraço de um prédio.

Sentiam-se livres.

- Por mais insano que possa soar, não estou nervoso. Pelo menos não tanto quanto eu imaginava que estaria. - confessou, rindo apaixonado quando Louis se aconchegou ainda mais em seu peito, esfregando a bochecha no tecido de seu moletom. - E você? Nervoso?

- Nah. - seu tom denunciava brincadeira, e as íris azuis cintilavam em insegurança. Harry sabia bem como era. - Eu nasci para ser o Danny Zuko.

Como era bom ouvir aquilo da boca de Louis, confiantemente, após tudo que passou para chegar ali.

- Disso eu não tenho dúvidas, e a essa hora amanhã, todo mundo do teatro vai saber, também. - inclinou o pescoço para unir seus narizes e, respirando o mesmo ar, subiu uma das mãos para o maxilar de Louis, acariciando ali lentamente enquanto fitavam um ao outro.

Quase ousaram pedir que chuva caísse sobre suas cabeças, de novo. Para poderem dançar no terraço e desejarem fugir - mas não queriam isso, realmente. Queria permanecer, queriam enfrentar o que viria à seu caminho, queriam fazer isso juntos.

E assim seria.

Como se fosse um segredo, o menor então confidenciou, presos em sua própria bolha de amor, respirações ofegantes e calafrios estranhamente quentes:

- Tiana disse que todos os ingressos foram vendidos. A casa vai estar cheia, Hazz. Cheia! - soava animado e aterrorizado ao mesmo tempo, e isso fez Harry sorrir genuíno, como se a única coisa que precisasse se preocupar naquele momento fosse Louis e suas bochechas macias demais para conter apertos.

Era possível seu coração explodir de amor?

- Uma casa cheia para ver você, gatinho. - roçou seus narizes juntos, se alimentando dos suspiros apaixonados do menor conforme apertava seus torsos cada vez mais. Nunca era o suficiente, e agradecia diariamente por isso.

- Bebe também é a principal, então...

- Não conta pra ela que eu disse isso, mas você é a atração principal do musical. Eu sei que é. Todo mundo sabe que é. - brincou, embora suas palavras sejam nada além de verdadeiras e, completamente corado pelo elogio disfarçado de comentário, Louis mordeu o lábio inferior, o que não passou despercebido pelo olhar faminto de Harry.

- Olha quem fala... capitão. - provocou de volta, sob os efeitos dos dedos ágeis do namorado ao redor de seu maxilar, atiçando seus sentidos e tomando-lhe gemidos baixinhos de aprovação. A chuva seria de bom grado agora, realmente. - Vai liderar um time inteiro na final do campeonato. Isso com certeza deve agitar seus níveis de testosterona.

Harry ousou erguê-lo pelas coxas, colocando-as ao redor de sua cintura enquanto as costas voltavam a ser pressionadas na beirada.

- Você agita mais.

- Hm, jura? - Louis retrucou, os olhos revirando nas orbes tanto pelo aperto gostoso no interior de suas pernas quanto pelos beijos quentes depositados em seu pescoço exposto. - Ei, hm, e-eu queria te falar uma coisa, antes de... bem, - já tendo a atenção total dos olhos verdes, ofegou, subitamente tímido. Seus dedos foram para as bochechas de Harry, cutucando onde sabia terem covinhas, como se as chamasse. E em um único fôlego, prosseguiu. - E-eu tinha um plano, para pegar Ryan e, hm, gravá-lo fazendo... o que ele faz de melhor, sempre. Machucar pessoas. Machucar a mim e, bem, à você. - Harry parecia confuso e estático, mas isso não fez Louis parar, podia sentir seus corações pressionados juntos, e os batimentos eram tudo menos estáveis. - Eu não consegui colocar ele em prática na festa de ex-jogadores e eu e as garotas, que também estão envolvidas nisso, assim como Tiana e Olivia, hm, tínhamos pensado em adiar o plano para a final do campeonato, porque Ryan com certeza estaria presente. E agora... - firmou os dedos em suas bochechas, angustiado em busca das covinhas. - Agora eu vou estar em outro lugar durante o jogo e... e...

- Lou...

- Não. - o interrompeu de volta, decidido. Azul no verde e corações agora batendo sincronizados. Cadê as covinhas?, a mente de Louis ecoou, desesperada em busca de conforto na expressão neutra à frente. - Eu só quero que saiba que, onde eu estiver, vou estar pensando em você. Eu sei que consegue lidar com Ryan sozinho, e por mais que eu odeie admitir, você já vem lidando com ele sozinho por anos, então... o que eu quero dizer é... - suspirou, só então percebendo que chorava. Droga. - Não deixe ele atrapalhar o seu grande dia. Você é mais forte do que pensa e mesmo que ele tente te fazer duvidar disso, lembre-se que já sobreviveu coisa muito pior, Harry. Lembre-se disso, tudo bem? E lembre-se também que eu te amo. Porra, - explodiu estridentemente em um soluço, colando suas testas em um reflexo apaixonado e desesperador. - Eu te amo, Harry. Eu te amo muito.

- Eu te amo, gatinho. - Harry sussurrou de volta, ousando juntar seus lábios em um beijo agitado e úmido, tanto pelas lágrimas que agora ambos compartilhavam quanto pela chuva que enfim caía do céu. E não é que o universo estava os ouvindo desde o início? Louis, pôde, enfim, suspirar aliviado contra o namorado, seus dedos tremendo em sua nuca, ao redor dos fios de seu cabelo e firmes em seu ombro, até mesmo. Desesperadas por contato, por segurança, por amor. O maior voltou a ecoar rouco, contra seus lábios, não que se importassem com qualquer outra coisa naquele momento. - Eu prometo que vou chegar antes do último ato, Lou, ver você se apresentar. E vou levar a taça da vitória comigo.

Compartilharam uma risada conjunta, gostosa de se ouvir ecoando pelo terraço ao que a chuva engrossava e se permitiam erguer o rosto para o céu e sentir as gotas gélidas lhes escorrendo pela testa. Em instantes, estavam dançando, exatamente como haviam desejado anteriormente, os corpos entrelaçados em um fio dourado e invisível de amor.

Por fim.

- Desde que ela venha acompanhada de um beijo, eu aceito. - foi o que o menor confidenciou ao namorado, se entregando ao ritmo que ecoava apenas em suas mentes naquela madrugada silenciosa que antecedia um momento épico de suas vidas.

Eram gratos em ter a oportunidade de passar por isso juntos.

ai ai ai ai ai

vai me dizer que nunca passou pela cabeça de vocês que os maiores eventos da uni aconteceriam no mesmo dia? logo eu, que adoro um caos, acharam mesmo que não ia fazer isso? hihi

bem, cap que vem como eu disse antes é apenas uma transição, mas logo na quarta já terão o cap sobre o grande dia.

eita

O flashback do capítulo do terraço me pega toda vez :( é um dos meus favoritos, meu conforto quando quero matar a saudade de OUAP sabe aaaa

Mas algo me diz que os próximos vão ser meus favoritos...

Ryan fará sua aparição novamente e se tudo der certo, será sua última rs

Acham que a família Tomlinson irá para o musical?

Acham que os rapazes vão conseguir chegar no teatro a tempo do último ato?

Acham que Ryan vai tentar alguma coisa com Harry na final do campeonato?

Acham que os Wolves vão ganhar?

Acham que vão se arrepiar com o hino da vitória uma última vez? Ou já leram a última vez e não sabiam que era a última vez..?

Descubram no próximo capítulo de OUAP, quarta-feira que vem, às 21h.

vejo vocês lá!

amo ocês

tt always no ohnanathalie

insta as always no nathaliemach_

MEU DEUS TO ANIMADA E NERVOSA AO MESMO TEMPO E OLHA QUE EU JÁ SEI O QUE VAI ACONTECER IOSHLKFJC

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