once upon a plug {l.s}

By infactIarry

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Na qual Harry e Louis transam e não se lembram de nada depois, Louis acorda com um plug e Harry tira uma foto... More

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Trailer OUAP!
OUAP is back!
Um Milhão de Pequenas Coisas
trilogia Um Milhão de Pequenas Coisas
capítulo extra final

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By infactIarry

LOUEH

Eu demorei, eu sei, mas estou de volta! Recuperada da cirurgia e pronta para escrever muuuito mais agora que estou de férias da facul. Obrigada pelas mensagens de apoio, tanto do meu padrasto quanto da minha recuperação.

Não sei o que faria sem vocês!

Faltam 9 capítulos para o fim de OUAP.

Eu nem sei o que pensar sobre isso, e sinceramente prefiro ignorar até estarmos no capítulo 100%.

Até lá, espero que tenham se recuperado da suruba do cap anterior (eu ainda não me recuperei) e possam aproveitar esse cap gigantesco e cheio de revelações, como sempre!

Queria atualizar antes de um dia bem importante, isso mesmo, o aniversário do Louis (se você pensou no Natal, está errado)

Boa leitura e amo ocês desde aqui de cima!

Cap tá...

Eventualmente, a vergonha chega.

E com ela, o balde de água fria que era a realidade. Naquele caso, constituida por cinco rapazes desconfortavelmente em silêncio após horas de sexo coletivo.

O sentimento de desorientação e leveza decorrente das intensas atividades físicas realizadas a alguns minutos já começara a se esvair por seus corpos, a adrenalina que antes percorria suas veias agora sendo substituída por consciência e realização.

Louis piscou algumas vezes, beirando o sono mas também meio atordoado, e suspirou satisfeito ao sentir as mãos de Harry deslizando por suas costas nuas. Bateu os cílios mais uma vez, erguendo o olhar até notar que Liam já não estava mais contra o encosto do sofá, e ao fundo, Niall e Zayn faziam qualquer coisa menos fitar um no olho do outro.

Com um suspiro alto, deixou que sua cabeça pesasse contra o peitoral de Harry.

É, aconteceu.

Realmente fizeram aquilo.

Quem diria, hu?

Tentou ignorar a movimentação no escritório que no dia seguinte seria oficialmente de Harry, e também a parte de sua mente que acreditava no fato de que estavam todos nus naquele momento - mas não demorou muito para perceber que, na verdade, apenas ele e Styles continuavam imóveis.

- Quebramos alguma coisa? - ouviu a voz do cacheado ecoar rouca, muito rouca, e em algum lugar da sala, Niall murmurou um risonho oops, culpa minha.

Um sorriso cresceu inconsciente no canto dos lábios de Louis.

Aquilo soou divertido. É no mínimo interessante saber que a rouquidão na voz do seu namorado fora, na verdade, causada por um de seus amigos.

Ou de todos.

Oops.

- Acho que não. - Zayn quem respondeu, beirando um tom de cansaço e manha. Louis conhecia bem aquele estado, compartilhava do mesmo naquele exato momento, ainda jogado contra o peitoral nu do maior. - A festa ainda está acontecendo. Vamos voltar?

Sentiu Harry recolhendo fôlego para falar, mas quem ecoou foi Liam, racional como sempre, até mesmo receoso.

- Hm, Ni... E quanto à Chad e Patrick?

Por um momento, o escritório ficou estático, silencioso e desconfortável. Afinal, o único que não estava com seu par - ou pares - ali, era Niall, e por mais que fossem abertos a tal tipo de contato entre eles, por mais que Harry e Liam não se incomodem com seus namorados trocando carícias ou viceversa, não podiam decidir ou falar por Chad e Patrick.

E no calor do momento, sequer lembraram dos dois.

Por um segundo, no início, nem mesmo lembraram de Niall!

Mas então, a fina camada de gelo foi quebrada pela voz melodiosa e risonha do irlandês, que detinha todos os olhares, até mesmo o de Louis, erguido nos cotovelos para poder fitá-lo.

- Quem acham que me avisou que vocês estavam aqui? Eles sabiam que isso ia acontecer em algum momento. - deu de ombros, rindo dos olhares aliviados, surpresos e apologéticos dos amigos. Com bochechas coradas, talvez ainda pelo sexo ou apenas pela vergoha, Niall suspirou. - Na verdade, fizemos uma aposta.

Zayn abriu a boca no mesmo momento em que Louis levantou do sofá, expondo seu corpo nu para todos sem se importar - não que àquela altura fosse fazer alguma diferença.

- Vocês apostaram nisso!? - percebendo que o que antes era sobre a constatação de Niall agora parecia mais sobre si mesmo, Louis trocou a postura de incrédulo para uma confusa. Por que todo mundo está me olhando desse jeito? Abaixando os braços que havia levantado e encolhendo os ombros diante de tantos olhares minuciosos, suspirou. - O que foi? O que estão olhando?

Harry sentou no sofá de couro, também sem se importar por sua falta de roupa, e com os olhos verdes fixos no corpo à frente, o de Louis, esticou as mãos para a pele quente, dedilhando o que pareciam marcas de dedos, tapas, apertos, chupões e mordidas em suas coxas, cintura, torso, mamilo, pescoço e principalmente a bunda.

Quase como instinto, seguindo cada movimento do namorado com os olhos levemente arregalados, Louis ofegou, a tempo de desviar o foco para Niall perto da porta, vestindo apenas a mesma cueca de antes; Zayn perto da mesa, vestindo sua calça jeans e jaqueta; e Liam perto da estante de livros, vestindo apenas jeans, o peitoral nu a mostra. E por fim, sentado à sua frente no sofá, estava um Harry ainda descoberto.

O que tinham em comum?

Todos exibiam as mesmas marcas.

Pescoços avermelhados, peitorais arranhados, coxas marcadas e bundas espalmadas.

É, aconteceu.

Eles realmente fizeram aquilo.

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- Onde estavam?

- Procuramos vocês por toda parte! - Eleanor complementou a namorada assim que viu os cinco rapazes ressurgirem no meio da multidão, os corpos mal brilhando sob a luz negra já que a tinta neon de antes agora parecia ter sumido.

Ou suada para fora.

Liam limpou a garganta, suspeito. Tinha Zayn à frente do corpo, colado em seu peitoral.

- Estávamos arrumando o escritório, sabe... - arqueou as sobrancelhas para os olhares inquisitivos e nada convencidos das garotas. Era péssimo naquilo. - Para, hm...

- Garantir que Harry, er... - Zayn tentou ajudar o namorado, atraindo a atenção para si enquanto piscava confuso. Era tão péssimo quanto.

- Você sabe... - Niall riu nervoso, as bochechas ardendo de forma discreta na escuridão da pista de dança. Era um pouco melhor do que os amigos, mas ainda assim terrível. - Amanhã ele vai, hm... você sabe...

- Como novo chefe da casa... - Louis encolheu os ombros, recebendo agora os olhares de Els e Bar enquanto Harry deslizava as mãos por sua cintura esguia para pressionar seus corpos juntos. Se antes estava com dificuldade de encontrar palavras, agora sequer notava-as em sua mente. Em instantes, se mostrou o pior dos rapazes em disfarçar. - Hm, er..., eu, hm...

Por fim, Harry sucumbiu a um suspiro pesado.

- Eu. - anunciou, como se quisesse constatar que tudo aquilo culminava nele e nele apenas. Melhor do que disfarçar, era constatar um fato. Óbvio, mas seguro, ao menos. - Eu sou o novo chefe da casa.

Não era uma mentira.

Mas também não era toda a verdade.

Os olhos azuis de Barbara piscaram, Eleanor depositando sua desconfiança em um rapaz de cada vez enquanto cruzava os braços e sentia a namorada reclinar sobre seu ombro. Por fim, suspirou.

- Vocês são péssimos nisso.

- Bebe teria vergonha. - a loira complementou, apontando o nariz para Louis, que agora abria a boca, fingindo surpresa ao constatar que suas péssimas desculpas não teriam convencido nem mesmo a pessoa mais bêbada e chapada daquela festa inteira, quem dirá as garotas mais inteligentes que já havia conhecido. - Ela te ensinou a mentir melhor do que isso.

- Não estamos mentindo! - mesmo ciente da derrota gritante, Zayn tentou os defender, aéreo ao que Liam colocava a cabeça no vão de seu ombro.

Els riu.

- É claro que não mentiram, sequer falaram uma frase inteira!

- Isso não é verdade. - Niall voltou a murmurar, sentindo-se alheio já que todos estavam em pares, menos ele. - O que é, de fato, verdade, é que estávamos no andar de cima, ajeitando o escritório para Harry tomar posse amanhã cedo. Queríamos tirar as coisas de Zachary o quanto antes.

Uma sentença completa, preenchida com informações verídicas e relevantes que condiziam com o contexto.

No último segundo, Niall talvez os houvessem salvo da vergonha alheia.

Ou ao menos era o que pensavam.

Barbara e Els trocaram outro olhar suspeito e em seguida, fitaram os rapazes com sorrisos divertidos e nada castos.

- Será que contamos que sabemos da suruba ou deixamos eles se envergonharem mais um pouco? - a loira murmurou para a namorada, rindo quando Zayn abriu a boca e Harry bateu na própria testa em reflexo.

Foi Louis quem exclamou, tão chocado quanto corado.

- C-como sabem disso?

- Quer dizer, - Niall interrompeu, destemido e levemente desconfortável, incapaz de aceitar a derrota. - Supondo que isso seja verdade, como saberiam?

Eleanor revirou os olhos.

- Por que não pergunta para os seus namorados, Horan?

A boca de Niall abriu em surpresa, àquela altura, todos os rapazes exibindo a mesma expressão desolada e atônita.

- Chad e Patrick contaram isso pra vocês?

Barbara riu.

- Estamos na aposta também.

- Não!

- Por que estão apostando sobre nosso sexo coletivo?

- E por que não fomos comunicados?

- Ou convidados a participar? - Louis complementou Liam e Harry enquanto cruzava os braços. Podia sentir a respiração ofegante do maior contra suas costas e isso não ajudava sua falta de concentração naquela conversa inusitada.

Após o que pareceu uma avalanche de vozes alheias e estéricas, o silêncio reinou estridente, as respirações ofegantes e bochechas coradas contrastando com as posturas relaxadas das garotas. Por fim, Eleanor fitou Louis amigavelmente, as últimas palavras exclamadas pelo menor ecoando na roda.

Ou convidados a participar?

- Você já participou da suruba, Lou-Louly. Não foi o suficiente?

E simples assim, todos os olhares estavam sobre o menor, desde um Niall ainda chocado pela armação dos namorados até o próprio Harry, que usou das mãos em sua cintura fina para girar seu torso e unir seus olhares.

Louis sentiu as bochechas arderem em vergonha, mesmo que cada parte de seu sistema reagisse em êxtase ao receber tanta atenção assim. De novo, quase como se ainda estivesse no andar de cima. Era tão recente que não podia evitar em olhar para Zayn e lembrar de quando ele o fudeu contra a mesa do escritório, e então notava Liam e seu corpo imediatamente tremia com lembrança de suas investidas bruscas, alternadas com as do moreno. Ou ainda a imagem de Niall cavalgando sobre Harry, os gemidos estridentes no cômodo enquanto o calor os tomava em cheio, o suor gélido contrastando com cada célula em chamas.

Era tão recente que seu corpo se recusava a deixar tais sensações irem.

Limpou a garganta, ignorando pensamentos nada castos enquanto os amigos continuavam a fitá-lo por respostas.

- É c-claro que foi suficiente. - com um craquelar na voz digno de intensidade, Louis deu de ombros, buscando refúgio no abraço de Harry, que sorria contido ao observá-lo reagir ao que pareciam ser flashbacks, denunciado por seus mamilos eriçados e bochechas coradas. - Mas seria legal saber de vez em quando se meus próprios amigos estão apostando contra mim.

- Não contra você, mas sim a favor. - notando que os olhares agora estavam sobre si, Barbara suspirou. Até mesmo Niall parecia perdido a respeito de uma aposta que pensou fazer parte desde o início. - A aposta era para saber quem dos cinco foi o mais... vocês sabem... - deu de ombros, pensando que aquilo seria o suficiente para descobrirem o restante da frase, mas se enganou quando os rapazes ainda pareciam confusos. - Ah, parem de se fazer. Sabem bem do que eu estou falando.

Após piscar atônito por longos segundos, Zayn esfregou o rosto.

- Eu pareço como alguém que sabe de alguma coisa pra você? - apontou para o próprio rosto, levemente impaciente e desconfortável por aquela conversa.

Niall, no entanto, desviou o olhar de Bar para fitar o moreno, e franziu o cenho.

- Parece que não sabe de porra nenhuma pra mim. - em instantes, recebeu um tapa na nuca, xingando em voz alta enquanto Louis gargalhava. - Isso foi rude, até mesmo pra você, Zee.

- Cala a boca.

- Vem cal...

- Vejo que não gastaram toda a tensão sexual entre o grupo, hu. - uma outra voz se fez presente, surpreendendo a todos, especialmente Niall.

Chad sorriu ao receber os olhares, mas logo foi tomado por braços e pernas ao que o loiro escalava seu torso forte para ser aninhado em seu colo, sem mais delongas. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, foi acompanhado por Patrick, que sequer olhou para os demais enquanto tratava de acariciar os fios loiros e depositar beijos no ombro exposto já que Niall usava apenas uma cueca.

Estavam reunidos, enfim.

- Cuidaram bem de você, Ni? - ecoou, como se não estivessem rodeados de outras pessoas. Um barulho semelhante a um ronronar saiu da boca de Niall, esfregando a bochecha pelo peitoral de Chad até chegar na palma da mão de Patrick, que parecia aguardar pelo gesto.

- Recebeu bastante atenção? - Chad complementou o questionário, o queixo repousado gentilmente sobre a cabeleira loira enquanto as mãos seguravam-o firme pelas coxas. Niall resmungou de novo o que parecia ser positivo, e por fim, suspirou.

- Eu senti saudades.

- Eu também senti, Ni.

- Eu também.

- Eu também! - Louis ecoou logo após Chad e Patrick, surpreendendo a todos enquanto saía do aperto de Harry para ir até o trisal, se enfiando no meio do carinho entre suspiros. - Eu também senti saudades. Por favor, me incluam.

Chad abriu a boca mas foi interrompido por Zayn, que seguia os movimentos do menor enquanto empurrava Liam para o lado e se aproximava, agarrando o braço forte de Patrick e pressionando a bochecha ali.

- Não se esqueçam de mim.

- E-eu... o que? - Harry ecoou, confuso e até mesmo segurando uma risada. - O que estão fazendo?

- Acho que deveriam fazer uma segunda suruba só com o Patrick e o Chad. - Bar sugeriu risonha enquanto observava os amigos encolhidos contra os dois jogadores surpresos mas nada insatisfeitos.

- Eu posso participar também? - Els ergueu o braço no meio da multidão da pista de dança, chocando a namorada, mas especialmente Liam.

- Você nem gosta de pau!

- E você não gosta de ser passivo mas tomou no cu durante a suruba, e daí? - a morena retrucou sorrindo satisfeita enquanto saltitava em direção aos rapazes, esticando os braços ao máximo para tentar acolher todos os cinco de uma só vez. - Além do mais, tenho certeza que eles não vão reclamar, certo?

- Podemos dar um jeito. - Patrick respondeu risonho enquanto trocava um hi-5 com Barbara, que gargalhava da reação da namorada. Ao fundo, Harry ainda tinha sobrancelhas franzidas.

- Por que todo mundo baba em vocês dois?

- Sinto muito, Harry. - a loira anunciou, nada triste. - Acho que você e Liam perderam o posto de jogadores mais gostosos para Patrick e Chad.

- Ei! - Liam tentou, fingindo chateação enquanto sucumbia a algumas risadas, afinal, a cena era no mínimo cômica. Desde Niall parecendo um coala no torso de Chad até Louis entre os corpos de ambos os jogadores enquanto Zayn se pendurava no braço forte de Patrick, Eleanor sendo a cola que os grudava juntos, ainda que seus indicadores mal alcançassem as extremidades dos rapazes. - Quem votou nessa mudança?

- Eu!

- Zayn! - retrucou para o próprio namorado que aparentemente votara contra si, e por mais que tentasse, não conseguia sentir qualquer outra coisa além de leveza.

Se antes estavam desconfortáveis com o a conversa ou até mesmo a situação pós-sexo grupal, agora riam e brincavam sobre potencialmente fazer uma segunda vez com outros participantes. E isso denunciava o quão genuíno e acolhedor aquele grupo de amigos era, desde Barbara e Eleanor sendo ex-namoradas de Niall, que também cultivavam um relacionamento aberto desde o início, até Chad e Patrick sendo compreensivos e adeptos aos desejos de seu parceiro e amigos, o que definitivamente foi transmitido para Harry e Liam e seus respectivos namorados, porque independente das brincadeiras ou insinuações, quando a música os chamava para a pista de dança e mais camadas de tinta neon eram espalhadas por seus corpos, voltavam às suas configurações originais, ansiando por seu par ou pares ideais, seus portos seguros, suas casas.

Como tinha que ser.

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- Hambúrguer duplo e queijo extra?

- Els, seu pedido!

- Alguém pega pra mim, por favor?

- Malik! Você 'tá mais perto da ponta.

- Isso não quer dizer que eu tenha mais força de vontade. Niall?

- Passo.

- Nialler!

- Foi mal, Els. Estou ocupado.

- Fazendo o que?

- Fingindo estar ocupado.

- Seu fi...

- Pelo amor, me dá esse lanche aqui.

- Obrigada, Liam! Zayn, Niall, vão se foder.

- Também te amo.

Louis não pôde evitar erguer os olhos para a cena que se passava diante de si e rir.

Horas e tanto após a festa e ainda não podiam acreditar em como tudo havia mudado - para melhor, mesmo que só tivesse passado um dia desde a ocasião.

A mudança na liderança da fraternidade foi bem mais sutil do que esperavam, a recepção dos membros para com Harry sendo nada além de incrível, o que só se concretizava mais ao que vários deles os acompanhavam no Balls&Blues naquela exata noite de comemoração, dividindo o espaço da lanchonete com quase toda a equipe do musical, afinal, aquele também fora o primeiro dia na qual Louis estava, oficialmente, de volta como Danny Zuko - e de acordo com as palavras do próprio reitor, não sairia do papel até depois da estreia no musical, uma vez que aquele personagem nasceu para ser interpretado por ele.

E como se todas essas realizações não fossem motivos o bastante para celebrar com hambúrgueres e milk-shakes, rodeados de seus amigos mais íntimos em um ambiente acolhedor repleto de ecos de um jogo aleatório de futebol americano que reprisava na televisão de tela plana - a maior do campus - e também vozes familiares e estridentes, puderam ainda celebrar o exato momento em que Liam se ergueu o lugar para se declarar para Zayn, anunciando a todos que estavam namorando mais uma vez.

E Niall, sendo o invejoso que é, seguiu seus movimentos ao puxar Chad e Patrick para ficarem de pé, também. Por fim, iniciaram uma onda de pedidos de namoro pouco românticos e extra públicos na mesa gigantesca que compartilhavam com as garotas e os rapazes. Até mesmo Eleanor e Barbara refizeram seus votos como namoradas, o que garantiu muitos gritos emocionados de Louis, que empurrou a cabeça de Harry para baixo na esperança de evitar passar aquela vergonha.

Depois de tantas dificuldades, tantos obstáculos, era bom simplesmente olhar para cima e mal conseguir enxergar por causa da grandeza do sorriso nos lábios, ou ainda, apertar a barriga de tantas risadas escandalosas ao que Bebe insistia em se infiltrar no relacionamento de Barbara e Eleanor, formando um trisal igual Niall, Chad e Patrick, ou ainda, aplaudirem Zayn após conseguir convencer a dona da lanchonete a dar milk-shakes de graça para toda a mesa, ou ainda, gritar a plenos pulmões enquanto Louis e Liam travavam uma guerra de braços, o menor combinando com Niall para fazer cosquinhas no jogador de forma que possibilitaria sua vitória.

Tudo naquela noite fazia sentido.

Os motivos. As comemorações. As companhias. As risadas. As músicas. As conversas atravessadas de uma mesa e outra. Os incentivos para quem ousava dançar na pista, que quando se tratava da lanchonete que tinha o piso todo em xadrez, era qualquer lugar realmente.

Tudo.

O jeito UAL de ser.

- Tudo bem, tudo bem. - Barbara chamou a atenção de todos na mesa, de uma ponta a outra, percorrendo desde Chad e Patrick, Bebe e Els, a todos os rapazes. - Vou fazer a pergunta que todos querem fazer mas ninguém tem coragem.

Antes mesmo que pudesse concluir sua frase, Niall, do outro lado da mesa, esticou o braço para tocar Els.

- Meu deus, é o pedido de casamento! - quando a morena devolveu sua constatação com um par de olhos arregalados, deu de ombros, extremamente animado. - Lembra do que combinamos. Eu vou entrar com as flores!

- O que... Niall, não! - Bar repreendeu, embora sorrisse.

O loiro murchou na cadeira, quase que de imediato.

- Nem com as alianças?

Barbara revirou os olhos, seu coração amolecendo aos poucos no peito mas ainda não o suficiente.

- Niall!

- Mas eu...

- Fala mais um a e nem convidado vai ser. - a loira deu o último aviso, e tomando a mão do irlandês sobre a mesa, o consolou enquanto voltava a se referir ao restante dos amigos. - Não vou pedir a Els em casamento, pelo menos não agora.

Eleanor suspirou aliviada, fingindo limpar o suor acumulado na testa.

- Ufa. Livrou todos nós de uma situação bem constrangedora.

- Ouch.

- Podia dormir sem essa. - Louis complementou o comentário de Zayn, e bateram um hi-5 através dos bancos, praticamente atravessando o espaço de Liam, que estava sentado no meio.

- Calem a boca. - Barbara devolveu, piscando um dos olhos para a namorada em um sinal de que tudo estava bem. - O que eu quero saber é... - deixou que certa tensão fosse construída na mesa, a expectativa em seus olhares sobrepondo cada ímpeto de interromper ou retrucar. Por fim, deu de ombros. - Quem dos cinco é o melhor no sexo?

E simples assim, o clima na mesa inteira se tornou estático.

Patrick e Chad trocaram um olhar cúmplice, o que só confirmava a fala de Barbara sobre perguntar o que todos queriam saber, e a julgar pela postura envergonhada de Louis diante do olhar curioso de Harry, e também a coceira repentina na nuca de Zayn, aquilo seria ao menos divertido.

- Qual é. - Bebe interviu, sorrindo animada e ansiosa para a potencial reviravolta de eventos. - Vocês são amigos há anos e finalmente transaram. É óbvio que tinham expectativas um do outro. Vamos, esse é um lugar seguro.

- Não pode falar que isso é um lugar seguro logo depois de nos perguntar quem fode melhor. - Zayn constatou, os olhos cintilantes contrastando com suas bochechas coradas. Liam, ao seu lado, assentiu em conformidade às suas palavras.

E então, a voz de Niall ecoou, límpida e corajosa, interrompendo a onda de resistência antes mesmo de ela começar.

- Eu vou primeiro porque, bem... eu sou o único que não participou da suruba com meus namorados, então acho que é bem mais fácil eu falar alguma coisa do que o Tommo ou o Zee. - se justificando diante dos olhares arregalados dos amigos, encolheu os ombros. Não ajudava o fato de que estava sentado entre Chad e Patrick, além de estar literalmente de frente para Louis e Zayn, separados um do outro no lado oposto da mesa apenas por Liam. - Na minha opinião, quem mais superou as expectativas foi Harry. - os olhos verdes quase saltaram das orbes, contrastando com os gritos animados de Els e Bebe enquanto Chad chacoalhava a cabeça no ar como quem dizia eu sabia!. Propositalmente unindo seu olhar ao do cacheado, Niall sorriu. - De todos, eu escolheria Harry.

Antes mesmo de alguém conseguir dizer qualquer coisa, Liam se adiantou, canalizando as atenções para si ao invés de Styles, que sequer manejava de murmurar algo para fora da boca aberta.

- Eu seria injusto se dissesse que quem mais superou as minhas expectativas foi o meu próprio namorado?

Zayn arregalou os olhos enquanto virava o rosto para ir de encontro à Liam, logo ao seu lado. Toda a atenção da mesa claramente não ajudou a controlar sua vergonha, mas havia algo nas iris cintilantes à frente, rodeadas pelo castanho, que fez seu estômago gelar em excitação - tanto pela confissão de seu desempenho no sexo grupal quanto pela sonoridade da palavra namorado.

Era bom ouvir isso de novo.

- Eu amo vocês, que ódio. - a voz de Barbara ecoou no fundo, distante o bastante para que a atenção de Liam continuasse no moreno.

Seus sorrisos pareciam sincronizados, crescendo na mesma intensidade e talvez pelo mesmo motivo.

- Está mesmo falando sério, amor?

- Claro que estou. - Liam assegurou, esticando uma das mãos apenas o bastante para tomar o maxilar do namorado em um carinho casto mas igualmente firme. - Nunca vou esquecer de quando eu e você revezamos a bunda de Louis na mesa.

- Nem eu. - a voz do menor ecoou, logo no banco ao lado do de Liam, causando risadas escandalosas por parte de Niall, que sugava o milk-shake despreocupadamente e quase se viu engasgando pela repentinidade da confissão erótica.

Eleanor parecia prestes a convulsionar na ponta da mesa, as bochechas coradas e os olhos lacrimejando.

- Muita informação, pessoal. - Bebe alertou, embora sua expressão fosse de maneira alguma repreensiva.

- Exatamente. Continuem. - Barbara contrapôs, apoiando o queixo nas mãos e piscando animada para Zayn, que se recuperava das risadas diante do comentário inapropriado de Louis. - Malik, sua vez. Quem te surpreendeu mais?

O moreno então encolheu os ombros, ainda preso no aperto da mão de Liam, que esfregava o polegar em seu queixo, dando zero indícios de que iria parar.

- Acho que depois do Lee ter me escolhido, se eu escolher qualquer um que não seja ele, vou provar ser um péssimo namorado, não é mesmo?

- E eu? - a voz de Harry se fez presente pela primeira vez desde que aquele assunto começou, atraindo as atenções enquanto Louis se reclinava na cadeira para fitá-lo melhor, aproveitando a deixa para colocar a perna sobre suas coxas. - Liam acabou de falar que comeu quatro pessoas e ainda assim escolheria o namorado. Se eu não escolher o Lou, apanho mais tarde.

Niall apontou o dedo em sua direção.

- Pode apanhar no bom sentido.

- Se ele não me escolher, duvido que vai apanhar no bom sentido. - Louis acrescentou, o sorriso ladino provocando Harry apenas o bastante para colocar um teor de brincadeira em suas palavras. Agora que tinha os olhos verdes fixos em si, usou do braço que estava esticado no encosto da cadeira do maior para puxá-lo pelo ombro até terem os lábios unidos carinhosamente. Murmurou contra seu corpo, suas respirações se misturando ao som de batidas na mesa causadas por Patrick e Eleanor, claramente bem animados pelo gesto íntimo. - Pode escolher quem quiser, capitão, nada vai mudar o fato de que a sua bunda ainda é minha. Ah, - acrescentou, irônico, a mão que antes segurava-o pelo ombro descendo sorrateiramente por seu torso até chegar no quadril, por instantes o bastante para que pudesse apertar seu pau sobre os jeans, ainda que suas pernas estivessem na região. - Isso daqui também.

Em um piscar de olhos, Louis estava completamente afastado de Harry, braços, pernas, mãos e lábios. Ao invés disso, apoiou o queixo nas mãos e piscou inocente para os amigos, que gargalhavam da expressão atônita e animada do jogador. Liam, no banco ao lado do menor, aproveitou que o encosto estava livre para esticar o braço e dar tapinhas de incentivo no ombro do amigo.

- Depois dessa, nada que falar vai me convencer de que algum deles é melhor no sexo do que Louis. - Barbara anunciou com um sorriso largo no rosto, apontando para Niall, Zayn e Liam a tempo de trocar um hi-5 com o menor, que apresentava uma postura orgulhosa e convencida.

Harry riu, dando de ombros.

- Me pegaram. - fez um cumprimento com Patrick antes de dar de ombros e puxar Louis para seu peito, tão súbito que o menor não teve outra escolha a não ser relaxar contra seus braços fortes e aproveitar as respirações quentes em seu couro cabeludo. O coração de Harry estava acelerado contra suas costas. - Mas se serve de alguma coisa, o segundo melhor, na minha opinião, foi Liam.

Tanto Zayn quanto Louis abriram a boca em surpresa enquanto Eleanor soltava um gritinho animado. Até mesmo Chad parecia ter sido pego desprevenido com aquela constatação, mas nada superava a expressão lisonjeada de Liam, que ao mesmo tempo que corava, tentava conter um sorriso de aparecer, falhamente.

- Por essa nem mesmo eu esperava. - Niall gargalhou, batendo palmas como forma de exteriorizar seu choque.

Harry deu de ombros, envergonhado, usando de Louis em seu peito como escudo de todos os olhares atentos e agitados. Não estava arrependido, contudo.

- O que? É verdade. - tentou se justificar, inseguro sobre a expressão enigmática do amigo jogador que olhava diretamente em seus olhos. - Não sei se é porque eu nunca, nunca, cogitei a possibilidade de acontecer então realmente foi uma boa primeira impressão, ou se eu realmente não esperava, mas... para mim, tirando o Lou, quem mais surpreendeu foi Liam.

A mesa ficou em silêncio por alguns instantes, aguardando com expectativa a resposta de Liam, e então, sua risada envergonhada ecoou.

- Ah, cara. Assim você me deixa sem graça. - conforme uma nova onda de risadas e palmas ecoava, Liam aproveitou para esticar o torso e abraçar Harry sobre o banco de Louis, que acabou sendo esmagado entre os corpos musculosos dos jogadores.

- Sanduíche de Louis! - Bebe anunciou, risonha, e ao seu lado, Niall gargalhou.

- Eles fizeram isso comigo lá na festa. - revirou os olhos como quem indicava intensidade, e deu de ombros para toda a atenção que recebera, inclusive dos amigos jogadores. - 'Tá aí algo difícil de esquecer.

Chad e Patrick o empurraram de leve na cadeira, fingindo ciúmes, e isso só causou mais risadas e divertimento nos amigos, que agora pareciam mais confortáveis com um assunto comum entre eles.

- Zayn, você não falou o seu. - Els relembrou, aproveitando o silêncio para não deixar o moreno escapar da responsabilidade de entreter os amigos com suas histórias sexuais.

Com um longo suspiro, Malik franziu o nariz, quase igual a um coelho.

- Niall, definitivamente. - o próprio irlandês gritou em comemoração, erguendo os braços no ar em uma dancinha engraçada, e desconcertado o bastante para dissipar parte da vergonha, Zayn continuou. - Acho que nunca mais vou olhar pra uma estante de livros da mesma maneira.

Com outro grito animado, Niall se esticou sobre a mesa para trocar um hi-5 com o moreno, e isso fez com que Chad e Patrick participassem da onda de cumprimentos, orgulhosos de seu parceiro.

- Louis! - Barbara apontou para o menor, que tentava se esconder dentro dos braços fortes de Harry, sem sucesso. - Só falta você.

- Vamos, Lou-Louly. - Eleanor incentivou, batendo palmas e remexendo o corpo na cadeira de forma animada. De certa forma, todos estavam ansiosos para a resposta do menor em especial, e a atenção extra que recebeu naquele momento comprovou tal veracidade.

- Anda, Zuko. Sabemos que você tem uma opinião formada pra tudo, principalmente sexo, então sem enrolações. - complementando as garotas, Bebe debruçou na mesa, aumentando a intensidade de seu foco no amigo.

E então, Louis se viu cercado por olhares atentos e ansiosos, sem contar o aperto mais firme de Harry em seu corpo, como quem dissesse para ir logo. Por fim, suspirou.

- Sinto que não consegui realmente tomar uma decisão, sabe? Acho que vamos ter que fazer de novo pra eu ter certeza.

Em instantes, a mesa explodiu em risadas e em comemorações, Chad e Patrick não perdendo um segundo sequer para destacar que queriam participar da próxima, e Eleanor convencendo Barbara de que talvez não fosse tão ruim participarem de uma suruba com tantos homens assim, sem contar Bebe, que constatava a cada intervalo de milésimos que deveria ser incluída em quaisquer planos futuros enquanto Niall tentava não engasgar com o milk-shake e Zayn negava para o ar, completamente corado.

Por fim, a voz de Barbara prevaleceu, e foi somente naquele momento que agradeceram pela lanchonete estar completamente lotada e repleta de sons avulsos da televisão, dos universitários, da jukebox e dos pedidos sendo anunciados no balcão. Pelo menos ninguém os ouviria, principalmente quando a amiga gritou em alto e bom tom:

- E quem dos cinco tem o maior pau?

A única coisa que Louis entendeu depois da pausa de dois segundos foi seu nome sendo gritado para fora de sua própria garganta - afinal, ele tinha uma causa a defender.

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- Alguém pode me explicar mais uma vez por que estamos indo de novo para Manchester sendo que já vencemos o time deles antes? - a voz de Niall ecoou pelo ônibus, segundos depois de Liam tê-lo respondido aquela mesma pergunta.

Por isso, evitando mais enrolações e palavras desnecessárias, Zayn se limitou a bater na nuca do loiro e indiretamente mandá-lo ficar quieto.

A verdade é que, de fato, já haviam jogado contra o time da Universidade de Manchester antes, mas mesmo classificados para a final do campeonato, faltando assim apenas mais uma partida - a decisória -, parte do calendário dos times constituía de partidas amistosas entre aqueles que se classificaram e aqueles que saíram da disputa em alguma das fases.

Por isso estavam no ônibus a caminho de Manchester, e como era apenas uma viagem de quatro horas, sequer precisariam dormir no outro campus, afinal, tinham mais que tempo o suficiente para uma partida amistosa e então poderiam retornar para a UAL antes do anoitecer total. Isso significava que ainda era cedo, cedo o bastante para Louis lutar contra o sono ao lado de Harry no banco.

O cacheado parecia levemente desconcertado com aquela viagem de última hora para a Universidade de Manchester, e mesmo sonolento, Louis pôde notar sua postura tensa.

- Ei. - esticando os braços igual a um gato, fez questão de puxar o jogador pela nuca até que estivesse inclinado sobre seu torso, usando do espaço dos bancos para erguer as coxas e entrelaçar a cintura do maior em questão de segundos. - Está tudo bem?

Harry inalou profundamente seu cheio, esfregando a ponta do nariz em sua nuca enquanto se aconchegava naquela posição, praticamente deitado.

- Oi, gatinho. - com a voz extremamente rouca, tanto pelo horário quanto pela proximidade, deu a entender que não responderia a pergunta original de Louis, ao invés disso, focou seus esforços em deslizar os lábios pelo lóbulo de sua orelha e também maxilar.

- Hazz... - em uma mistura de gemido e resmungo, Louis relaxou em suas carícias, sentindo os arrepios tomarem seu corpo e também seu estômago, esfriando tão rapidamente quanto Londres no inverno. - Ei...

- Shhh. Eu quero tirar uma soneca. - deu o assunto por terminado, repousando o rosto na curvatura do pescoço de Louis e o deixando sem respostas enquanto sua respiração estabilizava e indicava um sono constante e profundo.

Tudo que restou para Louis, então, foram as horas seguintes de viagem, repletos de roncos baixinhos e piadas sem graças contadas por Niall, que recebiam xingamentos de Zayn e apoio de Patrick e Chad, o silêncio de Liam indicando apenas duas coisas: tédio ou sono. Ou talvez os dois.

Quando Louis menos se deu conta, estava dormindo também.

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O ponto positivo de um jogo amistoso é que os Wolves não necessariamente precisavam dar o seu melhor em campo, mas sim realmente apreciar e curtir o fluxo no gramado.

Fazia tempo que Louis não assistia a um jogo de futebol americano naquela tranquilidade, sem a expectativa e ansiedade de tomarem um touchdown ou pisarem em falso e perderem a taça ou ainda um jogador. Era, no mínimo, reconfortante ver os sorrisos nos rostos dos rapazes enquanto corriam jardas após jardas para fazer um touchdown sem pressões externas.

Sem contar o alívio de ver os jogadores que antes estavam machucados performar sutilmente em campo mais uma vez - Harry incluso. Suas costas pareciam estar bem melhores após todas as massagens de Niall e também os beijinhos mágicos de Louis.

Bem a tempo da preparação para a fase final do campeonato.

O placar não estava favorável aos Wolves, mas ninguém realmente ligava para isso - não quando apenas vinte pessoas da UAL estavam nas arquibancadas, representando a torcida.

Esticando os braços no ar, Louis se espreguiçou antes de se dirigir a Niall e Zayn.

- Vou ao banheiro. Alguém quer alguma coisa?

Niall arqueou as sobrancelhas, mesmo que seu foco ainda permanecesse em campo, a posse de bola naquele momento com Liam.

- Do banheiro? Ew.

Louis se limitou a revirar os olhos enquanto usava da sola dos Vans para puxar a calça para baixo, cobrindo mais dos tornozelos.

- Não, idiota. Vou passar pelas lanchonetes no caminho. - notando que Niall havia puxado fôlego para responder, se adiantou. - Mas depois da sua estupidez, não vou mais. Morra de fome enquanto eu mijo.

E com essa deixa, pediu licença até se ver fora das fileiras da arquibancada, e então nos longos corredores que levavam à lanchonete e, mais ao fundo, aos banheiros. Quando tomou todo o litro de refrigerante sem sequer deixar Niall ou Zayn tomarem um gole, realmente não pensou nas consequências que isso traria à sua bexiga, mas após alguns minutos, podia finalmente respirar aliviado conforme caminhava para fora do banheiro masculino.

Estava tão preocupado em garantir que seu zíper fora mesmo fechado que somente percebeu que caminhava na direção de alguém quando colidiu contra ela, peitoral com peitoral.

- Ouch. - resmungou em reflexo, as mãos imediatamente indo para o torso, protegendo a região segundos mais tarde do que o ideal. Quando retomou o eixo do corpo que quase foi ao chão com o impacto, ergueu os olhos para se desculpar.

- Sorte sua que não tenho muito peito. Se isso aqui fosse silicone, minhas próteses já teriam estourado. - a garota ecoou, igualmente irônica e divertida, o que levava Louis a pensar que não estava irritada com sua inocente tentativa de assassinato.

E então, ela também ergueu o queixo, o bastante para conectar seus olhares e expor seu rosto delicado. Louis precisou de dois segundos inteiros para a reconhecer, mas ela precisou de mais do que isso para conectar as informações.

FLASHBACK ON

(Trecho retirado do capítulo 63%, caso queiram mais detalhes, só reler lá!)

A madrugada se aproximava e Louis já não via um palmo à sua frente. Não sabia do que estavam brincando, mas sabia que era algo para maiores de dezoito anos. Niall se encontrava sem camisa, Zayn já não possuía a sua desde o anoitecer, Liam e Harry quase sentavam um no colo do outro conforme conversavam avidamente sobre algo – o palpite de Niall era que falavam sobre as bundas de Louis e Zayn. Louis tentava não pensar na situação de Niall. Eleanor e Barbara não eram vistas há horas e algo no sexto sentido de Louis dizia que estavam transando em algum lugar. Chad e Patrick bolavam baseados atrás de baseados com Kyle e Anne, apenas os distribuindo pela roda. Wayne e Tracy se beijavam avidamente no canto nem tão afastado.

Talvez nem estivessem brincando de nada – mas na sua cabeça parecia divertido ainda assim.

Louis amava sua família.

Completamente avulso à situação e realmente se perguntando se Harry estava falando de sua bunda com Liam (amigos falam dessas coisas, sim?), Louis, bêbado e chapado, gesticulou para Zayn, avisando que iria tomar um ar mais fresco – mesmo sendo mentira, afinal, iria fumar e nisso não tem nada de ar fresco, e simplesmente virou nos calcanhares, imediatamente dando de cara com uma garota de cabelos escuros e olhos verdes.

Tão verdes que a familiaridade o assustou.

- Oops. Desculpa. – exclamou, recuperando o equilíbrio e esticando os dedos a tempo para evitar que a garota caia no chão.

Ela o encarou e sorriu, covinhas e tudo.

- Oi, meu deus, desculpa eu. Acho melhor segurar a onda na verdinha. – rindo consigo mesma, pareceu se recompor e agradecer a ajuda de Louis.

- Quer dividir? – esticando o cigarro apagado, Louis sorriu simpático e embriagado. – Não é a verdinha, desculpe. – A garota sorriu de volta, também compartilhando do nível alcoólico, aparentemente.

Acendeu o cigarro em seus lábios e soltou a fumaça ao que começavam a andar pelas pessoas, aproveitando a brisa da madrugada.

- Sou Louis. – murmurou ao que esticou o cigarro para a garota. Ela tragou algumas vezes antes de responder.

- Gemma. – engasgando com a fumaça que voltou a atingir seu rosto com o vento frio, Gemma devolveu o cigarro para Louis. – Então você é o rapaz responsável pela noite mais épica que essa universidade já viu?

Louis deu de ombros.

- Acredite. Leva bem mais do que uma pessoa para fazer isso acontecer. Não posso levar todo o crédito.

- Mas a ideia foi sua, não foi?

Sorrindo contra o cigarro, Louis voltou a tragar.

- O que cursa aqui na UM?

- Adivinhe.

- Economia.

- Nope.

- Administração.

- Não.

- Hm... psicologia?

- Está perguntando ou adivinhando?

Esticando o cigarro de volta para Gemma, Louis balançou a cabeça. Alcançaram a grama gelada e os vários alunos que deitavam com edredons e travesseiros chamou sua atenção. Ele amava aquele conceito.

Deitar na grama e simplesmente aproveitar o momento.

O recordava de coisas boas.

Com Harry.

E Minions.

- E você?

- Hm? – alheio à voz da garota, Louis forçou-se a concentrar.

- Perguntei o que cursa na UAL.

- Ah, - mastigando a resposta, já sentindo falta do cigarro em seus lábios, Louis colocou a mão nos bolsos do jeans. Será que iria demorar muito para Gemma devolver seu cigarro? – Música.

- Wow.

- Wow o que?

- Só... wow.

- Mas um wow bom ou um wow ruim?

- Por que se importa? Acabou de me conhecer. Não deveria estar buscando minha validação.

Sorrindo para o vento, Louis riu ao receber o cigarro de volta de bom grado.

- Gemma...

- É o meu nome. Se falar mais duas vezes eu apareço no banheiro da sua casa.

- Você é sempre assim? – Louis indagou, os olhos ardendo pela fumaça do cigarro. Ele desviava de formigueiros conforme avançavam na grama, a escuridão da madrugada e a pouca iluminação dos postes da uni dificultando sua vida.

- Assim como?

- Assim... direto ao ponto. – dando de ombros, confuso com as próprias palavras, Louis direcionou um olhar à garota, e ficou aliviado ao perceber que não a ofendera.

- É de família, eu acho. – ela também deu de ombros, cutucando Louis para que lhe desse o cigarro.

- Sua família é de Manchester?

Ela não respondeu. Louis não a cobrou, afinal, ele próprio não era muito fã do assunto. Quando alcançaram o final da grama e o início dos dormitórios, seus pés automaticamente retornaram pelo caminho que vieram.

Até que Gemma decidiu quebrar o silêncio.

- Como é na UAL? Tipo... – Louis podia notar sua concentração nas próprias palavras, quase como se estivesse com medo de falar algo a mais. – Sei que fez essa festa incrível para esfregar nas nossas caras como em Londres é tudo muito perfeito e etc... – Louis riu quando a viu revirar os olhos. – Mas isso quase me faz pensar que... talvez a UAL não seja tão perfeita assim. Seja só uma imagem que queiram passar.

Louis mastigou a resposta antes de a cuspir, o cigarro quase no fim em seus dedos. Finalmente.

- Eu sei que a minha opinião não é a das mais imparciais, mas... – ele a direcionou um olhar verdadeiro, para então perceber que ela já o olhava. – A UAL é realmente isso que está vendo. – ele esticou a mão que não segurava o cigarro e apontou para os carrinhos de comida nunca vazios, as pessoas na grama, se beijando, conversando, rindo, dormindo (ou desmaiadas), e também do outro lado da fonte, gritando, bebendo, dançando e se divertindo e em sua maioria vestidos. Gemma observou tudo minuciosamente até que a mão de Louis retornou para dentro do bolso do jeans e ela voltou a subir o olhar para seus olhos azuis. – O que está vendo aqui é um pedacinho do que temos todos os dias.

- Mas quantos de vocês tem aqui? Seis, sete?

- Viemos quase em vinte. Contando com os Wolves. – Louis automaticamente procurou por Harry na multidão, não o encontrando de imediato. – Mas não é questão de número, não é questão de presença. E sim de espírito. Somos em vinte aqui, mas trouxemos de casa a paixão e a dedicação dos outros.

- Fofo. – Gemma sorriu de canto, uma covinha apenas, ao que finalizava o cigarro. – Agora compreendo o porque as pessoas preferem ela ao invés das outras trinta unis do Reino. Bem, se são mesmo tudo isso que disse, fico feliz que tenham tido essa oportunidade de espalhar o sentimento.

- Eu também fico. – Louis murmurou. – A UAL tem muitos alunos incríveis, e toda e qualquer oportunidade para apreciar seu trabalho deve ser aproveitada. E a UM também, tenho que admitir. – Louis bateu ombros com a garota, fazendo-a sorrir.

- Agora só está dizendo isso pra compensar o meu elogio à sua universidade.

- Aquilo foi um elogio?

Parando de andar e o direcionando um olhar engraçado, Gemma balançou a cabeça ao que cruzavam a fonte.

- Inacreditável. Está andando comigo a alguns minutos e já acha que pode me responder assim.

Dando de ombros, Louis gargalhou. Ele gostava daquela garota.

- Mas brincadeiras à parte, realmente tem alunos bem impressionantes aqui na UM. A galera do clube de música, de artes cênicas, e não só em artes, meus amigos conheceram alguns outros alunos de cursos mais "tradicionais" – Gemma riu das aspas que Louis desenhou com os dedos. – que realmente elevam a barra do conhecimento que a UM oferece, sem dúvida. Merecem ser prestigiados, sempre.

- Você fala como se sua vida dependesse disso.

Louis a encarou, parando de andar.

- Ás vezes depende. Sempre que puder reconhecer alguém por algo que fazem ou são ou sentem, faça. Talvez o seu "você vale a pena" faça a diferença na vida de alguém, se não na deles, na sua. Eu sei que na minha fez.

- Alguém reconheceu seu trabalho? – levemente confusa, Gemma murmurou, consideravelmente baixo. Louis sorriu.

- Alguém reconheceu a minha vida.

Acenando a cabeça para a garota, em despedida, Louis virou nos calcanhares e andou em direção ao seu grupo de amigos, o coração cheio de memórias e a frase "você vale a pena" ecoando por seus ouvidos.

Ele precisava encontrar Harry e tomar seus lábios em quantos beijos conseguir. Ele devia isso ao universo. E a si mesmo. E à Harry.

FLASHBACK OFF

- Ei, você é aquela garota!

Os olhos verdes cintilaram antes dos lábios sorrirem, lembrando Louis de alguém muito querido.

- Precisa ser mais específico que isso, garoto UAL. - ela retrucou, enfiando as mãos nos bolsos do jeans enquanto encolhia os ombros.

Louis sorriu ladino, afinal, ela também se recordava dele.

- Eu te disse meu nome naquele dia.

- Eu também te disse o meu. - contrapondo, a garota arqueou as sobrancelhas em provocação. - E aposto que não lembra qual é.

- Como se você lembrasse o meu. - respondendo à mesma altura, Louis cruzou os braços, não conseguindo largar o sorriso.

Ele não se lembrava do nome da garota, mas lembrava do quanto havia gostado dela quando se conheceram meses antes.

Era o suficiente para manter a conversa.

Após uma pausa recheada de ironia e divertimento, ela suspirou.

- Eu lembro que dividiu seu cigarro comigo.

- E eu lembro que você me deu uma lição de moral sobre não buscar validação com estranhos.

A garota sorriu mais largo.

- Isso é mais importante do que lembrar um nome, não acha?

- Com certeza. - Louis concordou, assentindo para o ar enquanto se dava conta de que ainda estavam ambos na saída dos banheiros, atrapalhando a passagem. - Acho que estamos no pior lugar possível.

Os olhos verdes rolaram nas orbes.

- Tem, literalmente, milhares de outros lugares piores do que esse. Já tentou ir em um ginecologista?

Louis fez um bico ponderativo, notando que a expressão da garota era de puro divertimento às custas de sua vergonha. Por fim, suspirou.

- Acredita que me expulsaram do consultório na última vez que fui?

Abrindo a boca em choque, igualmente fingindo, a garota ofegou.

- Meu deus, por que eles fizeram isso com você?

Bufando em chateação, Louis deu de ombros.

- Ao que tudo indica, os procedimentos variam de uma vagina para um pênis.

- Não?! - a garota acompanhou seu choque falso, segurando as risadas enquanto encenavam aleatoriamente na saída do banheiro.

- Juro. - Louis assegurou, sério.

A garota, então, bateu as mãos nas laterais do corpo.

- Que injustiça. O que uma pessoa com pênis tem que fazer pra passar no ginecologista?

- Ter uma vagina, aparentemente. - finalmente fazendo a garota sucumbir a risadas, Louis deixou a encenação acabar, acompanhando-a. Havia algo nela que o fazia sentir seguro, e gostava disso. Por fim, deu de ombros. - Bom, meus amigos já devem estar preocupados com a minha demora.

A garota sorriu ladino.

- Que tipo de amigos controlam o tempo que fica no banheiro?

- Os meus amigos. - Louis retrucou, nada envergonhado. A garota, então, levou isso como o fim do assunto, dando alguns passos para trás como se indicasse que estava pronta para seguir seu caminho. - Você deveria vir para a festa depois do jogo, sabia?

Os olhos verdes brilharam.

- A festa que a minha universidade organizou para a sua?

- Hm, acho que sim.

- Está mesmo me convidando para a minha própria festa?

Louis deu de ombros, risonho.

- Só estava sendo educado.

A garota piscou com um só olho.

- Seus amigos já devem estar pensando que se afogou na descarga.

- Até mais tarde, então. - dando alguns passos em direção ao corredor da onde viera, Louis acenou educadamente para a garota, que sorriu com direito a covinhas. Era familiar.

Por fim, ela acenou de volta.

- Te vejo na festa, Louis. - com entonação o bastante para frisar que de fato lembrava do seu nome, a garota riu presunçosa, mas não durou muito, rapidamente assumindo uma postura surpresa quando Louis respondeu:

- Tchau, Gemma.

%%%

As festas da UAL eram diferentes de qualquer outra festa organizada por qualquer outra universidade, e isso não era surpresa para ninguém. Mas ali, perdido no meio da praça central da Universidade de Manchester, acompanhado por seus amigos dentre um mar de universitários nas quais não conhecia mas ainda assim se sentia confortável o bastante para dançar, rir e beber, Louis pôde sorrir satisfeito.

Não é porque uma coisa é melhor, que a outra necessariamente é ruim.

E o espírito festivo da UM poderia ser classificado, definitivamente, como incrível.

A tarde caía no céu, manchando o pouco que as nuvens deixavam escapar, e mesmo que o vento gélido fizesse seus corpos arrepiarem ocasionalmente, não tinha como reclamar do cheiro de pipoca doce e cerveja barata. Não havia música ao vivo igual na UAL, mas isso era puro reflexo de uma universidade mais padronizada e considerada "séria".

Dentre tantos cursos de Administração e Economia, muitos alunos sequer tinham tempo de praticar seus talentos artísticos.

Mas mesmo assim, Louis reconheceu uma pessoa querida - ou melhor, várias.

E então lá estava ele, de olhos arregalados e lábios abertos enquanto Wayne e Kyle corriam em sua direção, indicando que ou iriam pular e derrubá-lo no chão, ou erguê-lo no ar.

FLASHBACK ON

(Trecho retirado do capítulo 59%, caso queiram mais detalhes, só reler lá!)

- Nós não temos um curso dedicado a... bem, música, artes em geral, mas temos um grupo criado por nossos alunos que exerce a prática no tempo livre. Vamos, vou guiá-los até eles. – Foi o que o conselheiro Smith disse antes de começar uma caminhada pelo vento frio da UM.

Quando Louis retornou ao quarto esta manhã, depois de passar a noite maratonando Cinquenta Tons, enchendo a cara de pipoca e chocolate e fofocando sobre a vida Hollywoodiana com as garotas da irmandade Gamma Phi, e encontrou o folheto que o reitor mencionara sobre a sua cabeceira, as palavras Apresentação – Música 9h na Ala Sul chamando sua atenção instantaneamente, não imaginou que estaria caminhando para um grupo de alunos que veem música como passatempo e não uma profissão academicamente valiosa – mas tentou controlar sua cara de descontente conforme se aproximavam.

Seu pescoço ardia pelos chupões que Harry deixara mais cedo enquanto dividiam o box para tomarem banho. Suas pernas também tremiam levemente, mas isso era por outro motivo que também envolvia o verbo chupar.

Ele estava levemente decepcionado ao perceber que passariam o dia separados, com todas as atividades e os projetos e os treinos que tinham programados era quase impossível ver essa viagem como time off. Deixando isso de lado, se encolheu no moletom cinza da Nike e escondeu os dedos nas mangas ao subir os poucos degraus até o prédio marrom monótono, a voz do conselheiro Smith o irritando já àquela hora da manhã.

Seu coração parou quando conseguiu processar todas as informações da sala assim que passou pela porta. O espaço não deveria ser maior que seu dormitório, mas a quantidade de instrumentos e pessoas ali era ridícula – ele nunca vira tanto potencial em poucos metros quadrados.

O conselheiro Smith falava algo mas a mente de Louis se recusava a prestar atenção. Eles deveriam estar em um grupo de seis, oito pessoas no máximo, e entrar em uma sala com vinte pessoas que viam música como hobbie e não plano de carreira era... demais. Não em um sentido bom, e sim em um sentido de exagero, extravagância. Louis queria pegar cada um ali e chacoalhar até compreenderem o verdadeiro significado da música – mas se controlou, por enquanto, até que tivesse familiarizado com os outros alunos.

Sem se importar com as formalidades, deu passos em direção a um dos muitos violões, cegamente. Haviam dois rapazes o encarando e assim que parou próximo o bastante para deslizar o indicador nas cordas do instrumento, ouviu suas vozes, cada vez mais altas e claras.

- Você é da UAL?

- Hm-hmm. – murmurou ao que ergueu o olhar para o rapaz, ele tinha um black tão arrumado que parecia uma auréola ao redor de sua cabeça, Louis sentiu vontade de esticar o dedo para senti-lo. – Louis Tomlinson, prazer.

- Sou Wayne. – ele disse e virou para o outro rapaz ao seu lado. – E esse é Kyle.

- O reitor falou bastante de você. – Kyle se pronunciou e Louis notou a cicatriz no queixo dele, contrastando com os cabelos tão loiros que parecia branco na luz. – Das suas festas e dos projetos.

Louis deixou o violão de lado para fita-los melhor. Seus ombros encolheram.

- As festas não são minhas. Temos um comitê e, na verdade, envolve muitas pessoas. Muitas mesmo, alunos e administração, inclusive. – as sobrancelhas claras de Kyle se ergueram. – Mas fico feliz que estamos tendo esse alcance, os projetos são incríveis demais pra ficarem limitados no campus da UAL. Os alunos merecem esse reconhecimento.

Wayne deu um passo pra frente.

- E como funciona lá?

- Funciona o que? – Louis franziu o cenho.

- As aulas. Quer dizer, aqui nós mal temos tempo pra praticar e curtir nos ensaios e... – Wayne ponderou sobre suas próximas palavras. – Fico imaginando o que vocês fazem o dia todo estudando música. Devem afinar violões de segunda a sexta.

Louis engoliu os trinta e sete palavrões que ameaçaram subir sua garganta; as risadas de Kyle só piorando sua irritação.

- Na verdade, Wayne – piscando várias vezes para manter a voz baixa, Louis deu um passo à frente. – Nós estudamos até de sábado lá na UAL. Estudamos teoria, história, arranjos, elaboramos partituras, aprendemos harmonias e, como se não bastasse, estruturamos apresentações completas, desde a coreografia até a iluminação do palco. Não apenas curtimos como disse, diferente de vocês, nós enxergamos a música como profissão, verdadeiro ganha-pão diário, e não simplesmente um hobbie pra desestressar da correria da semana. A música é a nossa correria da semana. E tudo bem, de verdade, ter a música como passatempo e não carreira, só não desmereça o trabalho de quem rala muito para receber pouco e ainda o faz por amor. – alguns outros alunos da UM já começaram a observar a conversa com curiosidade e, virando-se para eles, Louis prosseguiu, a voz levemente irritadiça. – Quando os reitores das duas unis decidiram fazer essa emersão, eles pensaram na troca cultural que os alunos poderiam fazer e que isso agregaria muito à nossa competência acadêmica e pessoal, eu sei porque estava lá, e mesmo tendo duas composições completamente diferentes, a UAL e a UM têm muito em comum. Ou vão me dizer que separam um tempo da vida de vocês pra virem aqui ensaiar só pelo ponto extra? Não funciona assim com música, com arte, eu sei que não. É pelo sentimento que vem junto com o instrumento, é aquela sensação de unidade e liberdade ao mesmo tempo, a harmonia que vem de fontes distintas e que sempre atiça o coração. Pensem nisso, nessa sensação, da próxima vez que julgarem quem faz carreira na música.

Um silêncio tomou a sala antes de uma garota com uma grossa trança cor-de-rosa se pronunciar.

- É fácil pra vocês falarem. Muitos de nós aqui não tiveram essa "liberdade" que vocês tiveram quando escolheram o curso. – o emaranhado de sentimentos contido nas aspas que a garota gesticulou no ar fez a irritação de Louis diminuir. – Meus pais nunca me deixariam prestar Música ao invés de Economia. Esse grupo que temos aqui é tudo que me resta.

Alguns alunos da UM abaixaram as cabeças, o conselheiro Smith observando a cena estático. Louis abriu a boca para responder mas Anne, sua colega de sala na UAL, foi mais rápida.

- Nós entendemos. Entendemos de verdade. – Anne disse, a voz amena e os olhos diretamente focados na garota de trança rosa. – Às vezes estamos tão emersos na bolha de arte da UAL que esquecemos que o mundo fora dela raramente a enxerga como nós enxergamos. São dois lados da mesma moeda, quem faz arte para tentar viver e quem vive para tentar fazer arte, e discutir quem está certo ou errado só vai nos segregar ainda mais.

O olhar de Anne encontrou o de Louis e, suspirando, o rapaz estendeu o braço até que sua mão estivesse repousada no ombro de Wayne.

- Acho que o que eu estava tentando dizer com toda a minha arrogância e intolerância é que estamos gratos por terem tido a iniciativa de criar esse grupo, mesmo no meio de tanto tradicionalismo e estigmatizo acadêmico. Realmente demonstra força e determinação. Faz quem vem de fora, como nós, sentir-se em casa.

Wayne puxou Louis para um abraço de lado antes de pratos batendo ecoar pelas paredes. Os olhares desviaram até a garota sentada no banco de madeira erguendo o instrumento com um sorriso petulante no rosto.

- E ai, vamos fazer música ou não?

Os cantos dos lábios de Louis ergueram em satisfação. O conselheiro Smith saiu da sala após certificar que todos estavam em bons termos, deixando-os sozinhos e mais à vontade. Louis até estava odiando-o menos agora.

- Aí, olhos azuis! – um rapaz alto que usava Crocs chamou Louis. Ele automaticamente simpatizou com o mesmo, sorrindo. – Que tal dar uma palinha dessas apresentações que disse que fazem na UAL, hu?

Louis encarou seus colegas de classe, Anne e mais alguns. Não era um elenco grande mas quem disse que número é vantagem quando se trata de talento?

- Vamos testar os conhecimentos de musicais deles, hu? – Louis murmurou para Tracy, outra colega de classe, antes de retornar o olhar para os vinte alunos à sua frente. Acapela seria, então. - City of stars, are you shining just for me? – seus outros colegas acompanharam sua voz no próximo verso, reconhecendo La La Land logo de cara. - City of stars, there's so much that I can't see. Who knows?

Uma pausa de dois segundos se estendeu, a voz de Louis ecoando.

- Elphaba, why couldn't you have stayed calm for once instead of flying off the handle? – Anne continuou, trazendo um clássico de Wicked. Assim que sua voz cessou, todos bateram os pés no chão, imitando a batida da música original. - I hope you're happy. – outra batida de pés. - I hope you're happy now. – e outra. - I hope you're happy how you hurt your 'cause forever. I hope you think you're clever...

Subitamente, Grayson, outro colega de Louis, começou a bater as mãos juntas e outrora contra os jeans, imitando sons que rapidamente atiçaram a memória de Louis, reconhecendo a música antes mesmo de sua voz ecoar.

- Ok, ok, I see what's happening here... – Grayson começou, o gingado de seu corpo contrastando com sua voz grossa mas suave ao mesmo tempo. - You're face to face with greatness, and it's strange. You don't even know how you feel... – todos se juntaram para exclamar a próxima parte: - It's adorable! – ele prosseguiu sozinho novamente conforme os outros permaneciam batendo as mãos nas roupas para manter o ritmo. - Well, it's nice to see that humans never change. Open your eyes, let's begin. Yes, it's really me, it's Maui: breathe it in! – conforme prosseguia na música, alguns alunos da UM reconheciam a letra e cantavam juntos, desafinados e emocionados demais para ligar. - I know it's a lot: the hair, the bod! When you're staring at a demi-god... – a bagunça começou aqui quando pularam em batuques de pés e mãos. - What can I say except you're welcome. For the tides, the sun, the sky. Hey, it's okay, it's okay – suas vozes já se misturavam em coro, reconhecendo a música de Moana com facilidade. - You're welcome, I'm just an ordinary demi-guy!

Tracy emendou a próxima música tão sutilmente que Louis mal percebeu a transição – e ele a ensinara isso para o musical. Às vezes, a prática funciona mais do que a teoria.

- Mamma mia, here I go again, my my, how can I resist you? – conforme todos, sem exceção, reconheciam imediatamente o musical, suas vozes ecoaram em sincronia: - Mamma mia, does it show again, my my, just how much I've missed you? – antes de continuarem a estrofe, Tracy mudou novamente de música, pegando todos mais uma vez de surpresa. - You can dance, you can jive, having the time of your life... – o coro generalizado de uhs fez Louis arrepiar. - See that girl, watch that scene, diggin' the dancing queen... – alguns alunos da UM começaram a agarrar-se em instrumentos e tentar acompanhar conforme reconheciam as músicas mais populares. - You are the dancing queen, young and sweet, only seventeen. Dancing queen, feel the beat from the tambourine... – àquela altura já estavam gritando aos plenos pulmões no coro de oh yeah!, Louis dançava os passos originais com outros alunos, já sem conseguir distinguir UAL e UM mais. - You can dance, you can jive, having the time of your life. Uh! See that girl, watch that scene, diggin' the dancing queen...

Louis puxou um vocal de ta-na-na-na na-na-na-na, logo sendo acompanhado pelos outros, reconhecendo imediatamente a música. Ele amava quando isso acontecia.

- Under the sea – todos gritaram mais uma vez o verso. - Darling it's better down where it's wetter, take it from me... – Louis mudou rapidamente a música, fazendo alguns alunos gritarem em animação. – Hakuna Matata! What a wonderful frase... – todos o acompanharam na próxima estrofe, batendo palmas e dançando mesmo sem música. - Hakuna Matata! Ain't no passing craze... – todos cantaram a próxima parte, a voz de Louis sobressaindo-se mas ao mesmo tempo mesclando com as outras. - It means no worries for the rest of your days, It's our problem-free philosophy... Hakuna Matata!

Todo mundo conhecia Rei Leão tão bem quanto conhecia A Pequena Sereia, e seguindo no tema, Anne decidiu incluir Bela e a Fera na lista Disney – Louis não poderia estar mais feliz.

- Be our guest, be our guest, put our service to the test... – Anne e Tracy ecoavam juntas, Louis fazendo os instrumentos com as cordas vocais. - Tie your napkin 'round your neck, cherie and we'll provide the rest...

Diminuíram o ritmo ao trazer Cats na bagunça, a voz de Jane ecoando pela primeira vez sozinha, a sala em completo silêncio, deslumbrada.

- Memory, all alone in the moonlight, I can dream of the old days, I was beautiful then, I remember the time I knew what happiness was, let... the memory live again...

Segundos se estenderam e, após a curiosidade acumulada, Louis começou novamente, a voz percorrendo sutilmente no eco.

- Where's all my soul sistas? Lemme hear ya'll flow, sistas... – começou a estralar os dedos, todos automaticamente reconhecendo e acompanhando. - Hey sista, go sista, soul sista, flow sista, Hey sista, go sista, soul sista, go sista... – Anne o encarou satisfeita, ela amava Moulin Rouge. A voz de Louis ergueu dois tons. - He met Marmalade down in old Moulin Rouge, Struttin' her stuff on the street... – seus pés dançaram sozinhos conforme os estalos aumentavam. - She said, "Hello, hey Joe! You wanna give it a go?" – todos ecoaram Oh! Uh-huh - Gitchie, gitchie, ya-ya, da-da Gitchie, gitchie, ya-ya, here, Mocha Chocolata, ya-ya... – todos finalizaram juntos, rindo e gritando desafinados. - Creole Lady Marmalade!

E então, a voz de Louis ecoou novamente, dessa vez, mais confiante e arrebatadora. Naquele momento, Anne, Tracy, Grayson e Jane deram passos para trás – figurativamente – pois Louis estava em seu território ao ecoar Grease, e até mesmo quem era de fora conseguia notar.

- I got chills, They're multiplying and I'm losing control, cause the power you're supplying... It's electrifying!

Anne ecoou como Sandy conforme Louis impersonava Danny e começava a dançar.

- You better shape up, cause I need a man and my heart is set on you... – reconhecendo a música conforme avançavam, os alunos da UM começaram a cantar juntos, e Louis poderia explodir naquele momento. - You better shape up, You better understand, To my heart I must be true, Nothing left for me to do...

Um coro generalizado ecoou e Louis já estava dançando com Anne.

- You're the one that I want!

FLASHBACK OFF

- Olha só quem decidiu voltar para rever a plebe! - Wayne caçoou enquanto erguia Louis pela cintura e o jogava no ar a tempo de Kyle o pegar.

- Depois de ter esfregado o talento e a estrutura da UAL na nossa cara, me surpreende que ainda tenha a coragem de aparecer aqui. - seu tom denunciou cada gota de brincadeira enquanto finalmente colocava-o no chão, firme e estável em contrapartida dos arremessos no ar. Por fim, Kyle sorriu. - Como está, Louis?

Os olhos azuis quase sumiram pelo erguer das bochechas e o esticar dos lábios.

- Estou ótimo, cara. E por aqui? - abriu os braços no ar, indicando o campus e tudo a sua volta, desde a música saindo das caixas de som até os carrinhos de comida e os universitários aglomerados em risadas e gritos estridentes. - O que a UM nos traz nesse dia de jogo amistoso?

- Uma derrota, claramente. - Wayne ironizou, seu sorriso eletrizante cativando a atenção de Louis enquanto quase formavam um círculo. Ao fundo, conseguia ouvir a risada escandalosa de Niall e alguns xingamentos proferidos por Zayn. Será que ainda estavam brincando? - Não acredito que os Wolves venceram de novo contra o nosso time.

Louis semicerrou os olhos, sequer escondendo a preferência pelo time de sua universidade.

- Qual é. Todos sabíamos que isso ia acontecer. - e simples assim, os dois rapazes voltaram para tomá-lo em cócegas e arremessos no ar, como se mal pesasse alguma coisa. - Ei, ei, ei. É assim que me recebem de volta? - tentou dizer entre risadas, se vendo então parado no ar pelas mãos fortes de Wayne.

Kyle ergueu as sobrancelhas diante de sua frase.

- Nós quem deveríamos estar te perguntando isso. Depois de tantos meses, pensamos que tinha esquecido da pequena mas especial turma de música da UM.

Finalmente com os pés no chão, mais uma vez, Louis ofegou em busca de ar, e então, abriu os braços para tomar ambos os amigos pelos ombros.

- Na verdade, rapazes, eu tenho um convite para vocês e todo o resto da turma.

Kyle e Wayne trocaram um olhar curioso.

- Fala pra mim que vamos para o campus da UAL.

- Ou que conseguiu convencer nosso reitor a aumentar o investimento no clube de música. - Kyle complementou, as íris brilhando em expectativa. Por fim, Louis sorriu.

- Que tal os dois?

Quando foi erguido no ar de novo, sequer ficou surpreso, e rindo diante das acrobacias forçadas em seu corpo, gritou por ajuda para Niall e Zayn, que estavam um pouco mais distantes dali, brincando. Em instantes, após algumas apresentações e cumprimentos, todos estavam reunidos para incentivar um ao outro a colocar com sucesso um laço vermelho sobre o pau de Zayn - o que, claro, seria fácil se não tivessem vendado Niall, o escolhido da rodada.

Foi só então que Louis, entre gritos animados e palmas agitadas, sentiu mãos delicadas cobrindo seus olhos por trás, tão súbito quanto calmo. Seu primeiro instinto foi gritar, e após o fazer, pegou a pessoa pelos pulsos enquanto a puxava para frente de forma gentil.

Os olhos verdes denunciaram o sorriso antes dos próprios lábios da garota.

- Gemma! Você veio.

Após um revirar de olhos, ela riu.

- É claro que eu vim. Eu estudo aqui. - percebendo o quão sem sentido foi seu comentário, Louis deu de ombros, sem se importar enquanto erguia a palma da mão no ar e esperava pela outra metade do hi-5. - É sério isso?

Os olhos azuis oscilaram enquanto piscava propositalmente várias vezes.

- Qual é. Não seja estraga prazeres. Estamos comemorando!

Gemma franziu o cenho, embora sorrisse, a mão de Louis ainda intacta e persistente no ar.

- Comemorando o que? Sua uni derrotou a minha, de novo.

Louis bufou entre um revirar de olhos e outro.

- Por que vocês sempre falam isso? Foi há, tipo, duas horas atrás. Supera! - caçoou, e após um segundo de ponderação, a garota deu de ombros, aceitando o hi-5, enfim.

Com um grito animado proveniente de Louis, Gemma se arrependeu de sua decisão quase que instantaneamente, mas não tinha mais volta, e rodando o lugar com os olhos atentos, arqueou as sobrancelhas.

- O que está acontecendo ali? - apontou nada discreta para Niall, que vendado, caminhava cambaleante na direção de outro rapaz, o laço vermelho na mão consideravelmente longe do destino ideal: o pau de Zayn, sobre os jeans. Louis deu de ombros, como se não visse nada demais. - Eu... eu nem sei o que dizer.

Os olhos azuis cintilaram.

- Eu sei. - e em um intervalo de segundos, o bastante para pegá-la pelo pulso gentilmente, Louis gritou para os amigos. - Ei, Gemma é a próxima!

Zayn, que tinha as mãos para cima e o olho fixo em Niall, afinal, precisava garantir que o laço não fosse de encontro com suas genitálias, ecoou:

- Quem é Gemma?

Louis ergueu o braço da garota.

- Ela é Gemma!

- Eu sou Gemma. - erguendo o outro braço para demonstração, ela sorriu, e então, uma outra voz alheia ecoou, quase hesitante.

- Gemma? - Louis e Gemma viraram o olhar no mesmo instante, mas enquanto o menor sorria abertamente para Harry, tratando de abaixar o braço que havia erguido enquanto puxava a garota em sua direção, Gemma sequer manejava de fechar a boca após sua frase, os olhos verdes arregalados da mesma maneira que os do jogador.

E foi somente aí que Louis, fitando ambos cara a cara, fez a conexão do porquê Gemma o transmitia tanta familiaridade.

Enquanto sua mente reprisava a única conversa que teve com Harry a respeito da família Styles, não conseguiu processar reflexo algum enquanto o jogador piscava confuso para a figura de sua irmã e então saía correndo por entre os universitários alheios - e tão ágil quanto, Gemma o seguiu, deixando Louis para trás, perdido em pensamentos e coincidências.

FLASHBACK ON

Calado por alguns instantes, Harry deixou aquilo ser absorvido por seu sistema, a respiração controlada e o coração acelerado, contrastando. E então, limpou a garganta.

Mais uma parede estava caindo ao seu redor.

- Eu vou te contar uma coisa que nunca contei pra ninguém antes. - com um ofego, Louis se sentiu ansioso. - Mas tem que me prometer que vai ficar entre a gente.

- Eu prometo.

Assentindo para o nada, Harry fechou os olhos, absorto do mundo exterior e focado apenas nas lembranças em sua mente. Aquela era uma barreira firme que nunca tentou quebrar, e sentia a antecipação o atormentando antes mesmo de colocar a primeira palavra para fora.

Estava pronto para mostrar aquele lado para o mundo.

E que maneira melhor de começar do que contando para Louis?

- Quando contei pra minha mãe que iria cursar fotografia, ela não ficou muito satisfeita. - Louis imediatamente desencostou da estante, o corpo tensionando por completo ao se dar conta de que saberia sobre a família de Harry, pela primeira vez desde... sempre. - Minha irmã mais velha foi pressionada a escolher um curso mais tradicional, e quando eu quis algo no viés artístico, esse foi o limite pra minha mãe. Recebi a carta de aceitação para a UAL e ela surtou, disse que se eu escolhesse realmente cursar, não precisaria mais voltar para casa porque estaria decepcionada demais para conseguir me olhar como filho de novo.

- Harry, eu... - incapaz de processar tais informações e se manter calado, Louis se colocou de joelhos no carpete, inquieto, ansioso, e exasperado.

Mas Harry não estava pronto para parar, a parede estraçalhando tijolos contra o chão conforme falava.

- Eu saí de casa no dia seguinte. Entrei na UAL com dignidade, as últimas palavras que minha mãe direcionou pra mim foram você não vai ter sucesso com fotografia, e saiba que quando não tiver mais para onde ir, ainda não será bem-vindo debaixo do meu teto. Eu prometi pra mim mesmo que não ligaria pra isso, que faria meu próprio futuro. Mas... - a voz de Harry craquelou, e Louis apertou os dedos nas palmas, impotente. - Faltam apenas alguns meses pro fim do ano e eu não tenho a mínima ideia do que fazer com o meu portfolio. Minha orientadora não está convencida do potencial do material. E eu acho que estraguei tudo. Como minha mãe disse.

- Não, não estra... - Louis se colocou de pé, instintivamente, e deu alguns passos para frente, em direção ao outro corredor, à Harry, mas foi impedido por sua voz.

- Não, Lou. Não. - ciente de que precisava respeitar o espaço de Harry, e que aquele provavelmente era um passo muito grande em seu próprio progresso, Louis se controlou, forçando as pernas a pararem e o coração a se acalmar. Assim como ele precisou de distância, de tempo e de paciência quando saiu da UAL, Harry precisava falar "com as paredes" naquele momento, para só então deixar uma barreira cair. E Louis iria obedecer, por mais que todas as células de seu corpo gritassem para que seus corpos estivessem juntos. - Eu sabia que corria o risco. Os Wolves eram meu plano B. Se tudo desse errado com a fotografia, ainda poderia almejar algo como jogador secundário no time.

- Você não é um jogador secundário, Harry.

- Exatamente. - com o tom controlado, calmo, Harry se manteve firme. - Acho que descobri uma aptidão que não sabia ter. O treinador viu algo em mim. E quando as pessoas veem algo, elas querem outra coisa em troca. Nunca foi meu plano ser capitão dos Wolves. Mas também nunca foi meu plano falhar em fotografia. E agora... - com um suspiro longo e audível, Harry abriu os olhos, voltando ao mundo real por alguns instantes. - Agora estou preso em uma realidade onde nada está acontecendo conforme planejado. E não sei o que fazer.

- É agora que precisa confiar. - com a garganta fechada, Louis apoiou a testa na madeira da estante, incapaz de voltar ao chão com tamanhos fluxos de ansiedade percorrendo seu corpo naquele momento.

- Eu estou com medo, Lou.

- Eu sei. Mas eu confio em você. O treinador confia em você. O time confia em você. Sua orientadora confia em você. Todos confiam em você. - suspirou, tomado pela falta de fôlego. - Só precisa confiar em si mesmo, porque qualquer caminho que escolha, terá nosso apoio. Terá o meu apoio.

Harry sorriu, lentamente crescente e rapidamente satisfatório. Louis não podia vê-lo, mas sentia que sim. Portanto, sorriu também.

Estava rodeado de estantes, mas sentia-se livre, os tijolos que repousavam ao lado de seu corpo no chão simbolizavam a parede que havia deixado cair.

Depois de anos, não se sentia mais preso nas memórias de sua família. Pelo menos não quando se tratava de Louis, e isso era mais do que imaginava ser capaz.

- Obrigado, parede. Dá ótimos conselhos.

FLASHBACK OFF

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Gemma voltou mais rápido do que Louis imaginava, e foi pêgo de surpresa quando a garota tocou seu ombro, interrompendo uma das centenas de voltas sem rumo que fazia no meio do campus, quase cavando um buraco no chão enquanto se perdia em pensamentos e hipóteses. Mas então, se forçou a processar o toque e erguer o olhar, apenas para assumir um bico decepcionado quando notou a ausência de Harry.

Gemma compartilhava do mesmo semblante tristonho.

Após algumas tentativas de falar alguma coisa, sem realmente saber o quê, Louis suspirou, derrotado, até mesmo beirando o desespero.

Se virasse de costas e visse alguma de suas irmãs, em carne e osso, com certeza desmaiaria, ou morreria, ou gritaria, ou qualquer coisa, realmente - então podia ao menos imaginar o que estava passando na mente de Harry agora, após encontrar sua irmã de forma casual e ter que reagir de alguma maneira.

Correr para longe não soava como um reflexo tão ruim quando colocava as coisas em perspectiva.

- Você é a irmã dele. - murmurou o óbvio, esperando que fosse ajudar sua mente a estabelecer a conexão e aceitar o fato de que conhecia alguém da família de Harry por meses sem realmente se dar conta.

Como poderia?

Não é como se falassem sobre suas famílias com tanta frequência.

Gemma deu de ombros, tão chateada que mal conseguia disfarçar as linhas de expressões caídas. Parecia à beira de uma crise de choro.

- E você é o namorado dele. - ainda assim, a ternura em sua voz fez o coração de Louis aquecer. Ele nunca teve um namorado que conhecesse sua família, ou vice versa, e aquela frase com certeza desencadeou sensações em seu estômago e peito, mas havia ainda, antes de poderem apreciar aquele momento com seu total potencial, uma coisa pendente. - E-eu corri atrás dele mas... não sei para onde foi, não... não consegui...

Seu tom denunciava uma súplica - eu preciso de você - e também deixava algo implícito nas entrelinhas - Harry precisa de você.

Assentindo quase de prontidão, Louis ofegou. Bastou um olhar trocado com Gemma para estabelecerem um acordo, e em instantes, já corria pelo campus na direção que imaginou Harry ter ido.

Se o conhecia bem, tinha uma ideia da onde poderia estar.

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- Quem te contou que eu estava aqui? - a voz tensa de Harry ecoou, atravessando o gramado com precisão, todo o caminho desde o meio do campo até o portão recém aberto.

- Meu coração. - Louis suspirou, ainda segurando o metal gelado com firmeza, apenas um dos pés dentro. - E o seu? O que ele te contou antes de sair correndo?

Houve uma pausa longa, apenas seus corpos preenchendo o imenso espaço do campo de futebol que horas antes sediara um jogo amistoso entre ambas as unis. Ainda havia confete grudado na grama sintética, a maior parte proveniente dos pompons das líderes de torcida e dos bastões comemorativos, totalmente desnecessários para uma partida sem classificação alguma.

E naquele momento, perdiam ainda mais o sentido.

A voz de Harry voltou a soar, um pouco menos antipática do que da primeira vez, e isso arrancou um peso dos ombros de Louis, quase que inconscientemente.

- Por que não me contou que conheceu a minha irmã?

- É isso que seu coração te contou?

- Louis. - o menor mordeu o lábio, sem se conter. Tomando a iniciativa de se aproximar, largou o portão de metal em passos lentos, esmagando a grama conforme caminhava em direção a linha central, onde Harry estava sentado, impiedosamente. Diante de toda aquela imensidão, sua figura forte repousada exatamente no meio de jardas e mais jardas parecia até cômica, a bola de couro rodando em seus dedos como distração das palavras que escapavam tensas. - Por que não me contou que conhecia Gemma?

Podia sentir o peso que aquele nome carregava ao escapar da língua do maior.

Já a alguns passos de distância, Louis inalou uma grande quantidade de ar. O vento tomava seu corpo de forma impiedosa, gélida, mas seus olhos estavam fixos nas costas de Harry.

- Eu não sabia quem ela era até... - deu de ombros, mesmo que ninguém pudesse vê-lo. - Até vocês estarem cara a cara. São... bem parecidos. Quer dizer, - se corrigiu, o coração acelerado no peito tomando a clareza de seus pensamentos e ecoando estridentes em seus ouvidos. Em instantes, se viu desesperado, temendo cometer um erro irreversível e piorar aquela situação já delicada. - A maioria dos irmãos são parecidos mas não é comum você sair por aí tentando encontrar os irmãos de pessoas que acabou de conhecer e eu imaginei que se você estivesse indo para a universidade que sabe que a sua irmã estuda, teria dito algo ou ido encontrá-la ou...

- Gemma já estava aqui na UM quando eu decidi sair de casa. - a voz de Harry cortou Louis como uma flecha, e com a boca aberta ainda que não mais saísse som, o menor se viu parado a apenas alguns palmos das costas do jogador, finalmente podendo respirar após tantas palavras disparadas. Harry soava confuso, beirando ansioso, alheio ao que acontecia ao seu redor. - Faz quatro anos? Cinco? Como ela é a mais velha, saiu antes para a universidade, e alguns anos depois, foi a minha vez. Eu já te disse o que a minha mãe pensa sobre cursos não tradicionais, - Louis assentiu para o ar, uma vez que Harry continuava imóvel, de costas para si. - E para o orgulho dela, Gemma não só decidiu se dedicar em Administração como assim que se formou, se inscreveu mais uma vez para cursar...

- Psicologia. - ecoaram juntos, e então Louis suspirou diante do ofego surpreso de Harry. Sentiu sua confusão e tratou de justificar. - Quando viemos aqui pela primeira vez, ela me contou que cursava psicologia. Quer dizer, eu meio que adivinhei.

Uma espécie de risada amargurada deixou o peito de Harry.

- Então já sabe o quão irritantemente perfeita ela é.

- Hazz...

- Não, Louis. Você não tem ideia do quão... - engatando a voz, Harry pareceu engasgado com tantos sentimentos, e então, explodiu, exasperado. - Do quão confuso eu estou agora. Sabe como é saber da sua irmã pela primeira vez depois de anos? Eu saí de casa, Louis. Saí de casa e ela nem se deu ao trabalho de mandar uma mensagem para perguntar se eu estava bem, se eu tinha onde morar, o que comer, o que vestir. Ela sequer se preocupou comigo. Sabe como é isso?

E então, Louis estourou na mesma proporção, os únicos cúmplices de suas vozes magoadas sendo o céu já quase escuro e o vento chiando pelas arquibancadas vazias.

- Sei, Harry. Eu de fato sei como é isso. Sabe por que eu sei? - pela primeira vez desde que começaram aquela conversa, Harry havia olhado por detrás do ombro, e seus olhares enfim se conectaram, eletrizantes. Ele estava magoado, mas podia ver a ira pairando nas íris azuis, e soube ter dito a coisa errada para a pessoa errada no momento errado. - Porque eu também saí de casa. Não fugi igual você. Tudo bem, a sua mãe era tão controladora que precisou fazer isso. Eu entendo a sua dor, entendo mesmo. Mas ainda assim, apesar de eu ter saído por vontade própria de casa, minha mãe morreu anos depois. A mãe que parou de responder toda e qualquer mensagem, que queimava toda ponte que eu ousava tentar construir para evitar que nos distanciemos. Ela morreu, Harry. - os olhos azuis derramavam lágrimas, sequer notando que o jogador já estava de pé, a palmos de distância. - Sua irmã não te mandou mensagem quando você saiu de casa? Bem, adivinha só? Eu tenho seis irmãos, Harry, e nenhum deles teve a decência de me avisar sobre a morte da minha própria mãe. N-nenhum. Eu sei como se sente sobre Gemma não ter procurado saber como estava, eu sei tudo isso vezes seis. - Louis se viu entre os braços fortes de Harry, finalmente, e pôde chorar com força total enquanto deixava escorrer pelas bochechas o que vinha segurando há tempos. - Minha irmã mais velha têm me ligado. - isso pareceu despertar todos os músculos do corpo de Harry, instantaneamente, mas Louis continuou, absorto. - E-eu quase sempre ignoro, mas nas poucas vezes que atendo, sabe qual é a única coisa que eu quero fazer? - houve uma pausa breve preenchida por ofegos, fungadas e lágrimas pesadas, e então, soluçou contra o peitoral forte. - É falar o quanto eu senti a falta dela. A falta de todos os meus irmãos, mesmo depois de tudo que eles fizeram comigo. Porque todas aquelas coisas ruins não afetam o meu caráter, afetam o deles. E pode me chamar de idiota por querer abraçar meus irmãos, eu não ligo. Sabe por que? Porque desde que a minha mãe morreu, tudo o que eu mais quero é abraçar algum deles e dizer que tudo vai ficar bem. Se eu sinto um vazio no coração, imagina Doris? Imagina Elliot? Eles perderam Jay tão novos e... e eu não ligo que a minha infância tenha sido uma droga, porque no final do dia, eu não desejo essa dor para nenhum deles.

- Lou... - não sabia se os soluços ecoando em seus ouvidos eram realmente seus ou do jogador, mas eram altos, sôfregos, e ao mesmo tempo límpidos. Como se esvaziassem a barragem que estava prestes a romper.

Por fim, com a voz mais controlada e o fôlego menos irregular, Louis esfregou o rosto na roupa do maior, ansiando conforto.

- Então, Harry, não importa o quão chateado, o quão magoado esteja, não se crucifique por sentir saudades de Gemma, mesmo depois de todos esses anos. Ela ainda é a sua irmã, afinal de contas. E o mesmo vale pro contrário. Se não quiser enfrentar isso hoje, ou nunca, tudo bem. Não é obrigado a manter contato com a sua família, mesmo tendo laços sanguíneos, de criação ou de parentesco. Família é um título digno de merecimento, e se acha que Gemma perdeu isso ao longo dos últimos anos, eu estarei aqui para te apoiar.

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- Louis disse que você estaria aqui. - Gemma murmurou acanhada assim que cruzou o portão de metal do gramado, no exato instante em que a figura tensa de Harry levantou do banco que ficava nas laterais do campo. O desconforto era nítido, para ambos, a incerteza sobre as próximas palavras, movimentos ou possibilidades, os olhares igualmente verdes conectados de forma intensa. E então, a expressão rígida de Harry desmoronou em uma de choro, os braços abrindo no ar sendo o convite explícito de um abraço que Gemma correu para atender.

Uma mistura de senti tanta sua falta, eu te amo e me perdoa tomaram os próximos minutos enquanto Harry se permitia aproveitar o carinho familiar que por muito tempo se sentiu culpado por querer.

As palavras de Louis realmente fizeram a diferença em sua decisão.

Tudo bem escolher sua família mesmo depois de ter sido rejeitado. Isso não te faz menos digno, pelo contrário, te faz ainda melhor do que eles te ensinaram a ser.

E tudo bem também não escolher as pessoas que deveriam ter agido como família e não o fizeram. Isso não te faz menos digno, pelo contrário, te faz ainda mais forte do que eles pensaram que fosse.

Qualquer escolha que nos faça sentir qualquer coisa que não positiva, não é uma escolha vantajosa.

Por que de que adianta passar por tudo que passou com sua família e ainda assim sofrer quando recusa mais uma de suas tentativas de reaproximação?

Depois de tanto tempo não tendo outra escolha senão eles, é refrescante poder escolher a si mesmo - isso incluindo familiares ou não.

Não há uma escolha certa.

Nem uma escolha errada.

Mas há uma escolha que faz a parte machucada de seu coração doer menos.

E por mais que Harry tivesse ficado extremamente magoado quando saiu de casa após o descaso de sua mãe com suas preferências e a única pessoa que pensou poder o defender não ter sequer se pronunciado, não podia negar que era reconfortante ter sua irmã em seus braços depois de todos aqueles anos.

Mas essa era a sua escolha - e isso não significava que era a escolha certa para todo mundo. Principalmente quando, do outro lado do campus, absorto da festa que ainda acontecia, Louis fitava a tela do celular fixamente e não sentia vontade alguma de retornar as ligações de Felicité.

E tudo bem.

Porque a reaproximação de Harry e Gemma funcionava para eles. Para a pequena família deles.

Mas naquele momento, não sentia que funcionaria para ele e Fizzy, ou qualquer um de seus outros irmãos.

E tudo bem.

- Por que você não ligou? - Harry se viu sussurrando contra os cabelos de Gemma, sua voz craquelada denunciando o quão desesperado estava para perguntar aquilo em especial. Dentro de seus braços, sua irmã tensionou, desde as costas acolhidas por suas mãos até a respiração entrecortada por choramingos fracos. Ainda assim, prosseguiu. - Por que aceitou tudo o que ela disse como se fosse a única versão da história? Por que ignorou todas as minhas mensagens? Por que não me convidou para a sua formatura? Por que não ligou no meu aniversário? Por que não procurou saber se eu estava vivo? Por que aceitou meu sumiço como insignificante? Por que... - se interrompendo, Harry ofegou, sua garganta soltando uma espécie de grunhido pela falta de ar e excesso de lágrimas. Por fim, apertou Gemma em seu peitoral, ouvindo seus suspiros como sinfonias. - Por que você não ligou?

Gemma não respondeu de imediato, o que levou Harry a pensar que tal resposta jamais viria, mas então, após longos minutos de soluços e murmúrios desconexos, ela finalmente ergueu o rosto do peitoral forte, repousando o queixo ali enquanto erguia os olhos para os igualmente verdes do irmão.

A expectativa transbordava do corpo de Harry, era nítido em qualquer gesto ou reflexo, seja em seu maxilar, seus cílios, seu pescoço ou até mesmo as mãos hesitantes ao redor do torso da irmã.

A expectativa de ouvir uma explicação após anos - muitos deles - de angústia.

A expectativa de vivenciar na realidade o diálogo que se pegou imaginando várias vezes antes, seja no chuveiro, seja deitado na cama, seja andando pela calçada em uma terça-feira ensolarada.

A expectativa de um pedido de desculpas vindo de uma das pessoas que mais o machucou na vida.

Literalmente a única que ousaria chamar de família - nos limites do que laços sanguíneos significavam.

Gemma puxou um suspiro longo e, piscando os cílios em ansiedade, pesou ainda mais o queixo contra o peitoral que subia e descia em reflexo da respiração oscilante. Ela podia ver o quão importante era aquele momento para o irmão, e seu coração alarmado no peito sincronizava com o sentimento.

Por fim, deixou uma singela lágrima escapar.

- Porque eu fui uma idiota. - seu tom de voz autodepreciativo fez linhas aparecerem na testa de Harry, que ofegou surpreso. - Você fez várias perguntas mas a resposta de todas elas é: eu fui uma completa idiota. E tem razão. - mais uma lágrima escorreu, e então mais outra, e outra, manchando a bochecha rubra da garota enquanto Harry ousava estender a mão e deslizar o polegar trêmulo ali, consolando-a mesmo que seu coração fosse o que sangrasse mais naquele momento. Se ambos haviam sido machucados pela mesma adaga, será que realmente importava qual sangrava mais? - Eu não deveria ter ouvido a história da mamãe - o corpo de Harry reagiu com estranheza àquela palavra, levando um gosto amargo à sua boca. - sem ter procurado saber de você, eu... eu acho que... eu estava com inveja de você.

De todas as versões que Harry imaginou para aquela conversa, em nenhuma as palavras eu estava com inveja de você apareciam, principalmente vindas da boca de Gemma.

- Inveja? De mim? - sua mente foi mais rápida que seu coração, e antes de processar alguma reação ou expressão para aquilo, já havia pronunciado em voz alta. Gemma mexia conforme seu peitoral subia com a respiração e as palavras, o queixo pressionado esquentando a região como um lembrete de que estavam juntos, depois de anos separados.

Era uma sensação adorável, tinha que admitir.

Gemma engasgou algumas vezes antes de finalmente responder, sua expressão avermelhada tanto pela vergonha quanto pelo choro constante.

- Ah, Harry... - foi somente aí que Harry percebeu ser a primeira vez que ouvia seu nome pela boca de irmã desde que podia se lembrar, e independente do que viria a seguir, se viu entortando o canto da boca em um pequeno sorriso. O tom era quase igual ao de quando jogava detergente na escada e gritava Gemma do primeiro degrau, a observando escorrer de bunda até estar em seus pés, gargalhadas preenchendo a sala de estar enquanto Harryyyyyyy! ressoava pelos quatro cantos. - Você saiu de casa para seguir seu sonho de cursar fotografia mesmo quando a mamãe insistiu que cursasse Administração. E eu? Bem, eu cursei Administração, e como se não bastasse, agora estou cursando Psicologia. Tudo o que eu sempre fiz foi satisfazer o ego gigantesco que sabe que nossa mãe tem, mas você? - foi a vez de Gemma erguer os dedos para tocar o maxilar de Harry, de forma delicada. Admiração reluzia em seus olhos, diretamente para a expressão surpresa do irmão. - Você é o mais novo mas nunca precisou de ninguém para te dizer o que fazer, nem eu, nem a mamãe. Ninguém além de si mesmo. E quando você se foi... corajoso em busca do que sonhava desde sempre, eu... - hesitando com as palavras, receosa de que falar em voz alta fizesse com que sua mente finalmente aceitasse o veredito, Gemma suspirou. A expressão ansiosa de Harry, dentro de seus dedos, foi o que precisou para recolher a coragem de admitir seus erros e assumir responsabilidade por eles. - Eu senti inveja. Inveja da sua liberdade, da sua coragem, da sua determinação. Harry, eu senti inveja de você por perseguir tudo o que sempre sonhou enquanto eu continuava presa dos padrões que a mamãe estipulou para os Styles.

- Gemma...

- Sinto muito por não ter ligado. - respondeu, enfim, sua pergunta principal desde o início, e embora estivesse com a boca aberta em surpresa, Harry sucumbiu a um suspiro apologético, logo tomando a irmã em seus braços mais uma vez. - Eu sinto muito mesmo, Harry.

- Eu te amo, Gem.

Era um apelido antigo de infância. Mas os soluços provenientes do peito de Gemma denunciou que se lembrava perfeitamente dele, e isso levou sossego para o coração acelerado de Harry.

- Eu também te amo, Harry.

Os irmãos Styles estavam, enfim, reunidos.

Mas ainda assim havia alguns pontos a serem esclarecidos.

- Você sabia esse tempo todo que eu viria pra cá e nunca pensou em falar comigo? - a voz de Harry ecoou conforme se separavam do abraço que já durava há diversos minutos e caminhavam pelo gramado em direção aos bancos, o choro recente ainda ressoando em suas vozes embargadas. - Quer dizer, você praticamente já me viu jogar duas vezes.

Gemma enfiou as mãos nos bolsos.

- Não queria te deixar desestabilizado antes do jogo classificatório. Podia ter perdido a partida e prejudicado os Wolves. - pareceu um motivo plausível, e isso levou um bico aos lábios de Harry.

- E já sabia que Louis era meu namorado quando foi falar com ele?

Foi a vez de Gemma arregalar os olhos e abrir a boca em choque, beirando ofensa.

- Não acredito que está insinuando que eu usei Louis para chegar em você. - Harry se arrependeu de considerar a hipótese no momento em que recebeu o olhar de sua irmã, o mesmo que ela fazia segundos antes de gritar Mamãe! Harry quebrou o vaso da sala!. - Nós, literalmente, nos conhecemos ao acaso meses atrás na festa de comemoração da classificação dos Wolves. Ele me ofereceu um cigarro, conversamos um pouco e então nunca mais nos vimos até... hoje.

Harry suspirou rendido ao sentar- se no banco, Gemma tomando o lugar ao seu lado e de imediato cruzando as pernas enquanto virava para fitá-lo. Verde no verde.

- E o que achou dele? - parecia uma pergunta inocente se desconsiderasse o olhar cheio de expectativa de Harry, o que arrancou um sorriso da garota.

- Não acredito que está querendo que eu valide o seu relacionamento. - vendo que o irmão abriu a boca prestes a se justificar, Gemma adiantou. - Logo eu, que não te vejo há anos. Pelo amor, Harry. Louis podia ser o pior cara do mundo, eu não tenho nada a ver com a sua vida. Não teria a coragem de falar qualquer coisa a respeito disso pra você, não depois de termos feito as pazes minutos atrás.

Harry precisou de dois instantes para analisar a expressão da irmã antes de erguer o queixo em orgulho e sorrir presunçoso.

- Ele é incrível, não é?

Gemma revirou os olhos, bufando.

- A pessoa mais insuportavelmente adorável que eu já conheci na vida. E tem atitude, a língua afiada o bastante para te fazer rir e sentir calafrios ao mesmo tempo.

Harry bateu as mãos nas coxas.

- E eu não sei!?

Um sorriso gigantesco tomou o rosto de Gemma, que repousou o queixo sobre os joelhos recém erguidos enquanto piscava curiosa para o irmão.

- Vai me contar sua história?

Por um momento, Harry piscou confuso.

- Hm?

Ainda abraçando os joelhos, Gemma deu de ombros.

- Sua história com Louis.

Oh.

- É complicado.

- Que tal começar pelo começo? - ela tentou, mas dentro da mente de Harry, distante de seu olhar inocente, diversos flashbacks ressoavam.

Ryan. Abusos. Ryan. Mentiras. Ryan. Chantagens. Ryan. Manipulações. Ryan e Louis. Dúvidas. Louis. Receios. Ryan. Coragem. Louis. Felicidade. Louis. Dor. Louis. Perda. Louis. Distância. Louis. Reconciliação. Louis. Amor. Louis. Força. Louis. Conquistas. Louis e Harry.

Louis.

Harry piscou atordoado para Gemma, entrecortando suspiros. Por fim, sorriu.

- É complicado.

Gemma conhecia o irmão que tinha, e com um chacoalhar de ombros, deixou o assunto passar, afinal de contas, estava mais do que óbvio que Harry não queria ir ali - seja lá o que ali representava.

- Louis não me parece ser do tipo de pessoa complicada.

O sorriso de Harry aumentou.

- Louis é do tipo de pessoa que faz o complicado ser suportável. Não o bastante para te deixar acostumar, mas apenas o suficiente para poder superá-lo. - Gemma piscou encantada em sua direção, sequer precisando de mais do que alguns instantes para concluir que Louis realmente era daquele jeito, mesmo tendo o conhecendo por pouco tempo. - Mas e pra você? Ele pareceu que tipo de pessoa?

- O seu.

O coração de Harry alcançou um nível de conforto que jamais havia alcançado antes, como se tivesse unido a sensação calorosa que tomava seu ser quando Louis estava por perto com as sensações que floresceram em seu peito ao abraçar Gemma pela primeira vez em anos - naquele momento, sentia-se uma mistura dos dois.

Era uma sensação incrível.

- Espero que não tenha falado isso apenas porque eu quero que você goste do meu namorado.

Gemma arqueou uma sobrancelha.

- É muito ingênuo de você pensar que eu faria tudo isso para satisfazer as suas expectativas, nas quais eu não tive controle ou influência alguma sobre.

- Ah. - Harry dramaticamente suspirou, desviando o olhar para o campo iluminado pelos postes, uma vez que a noite já caíra por completo. - É como se eu nunca tivesse partido.

- Vai se fuder. - Gemma o empurrou pelo ombro, quase o levando ao chão, e em gargalhadas, caçoou da expressão cômica do irmão. - Mais de vinte anos se passaram e você ainda não se acostumou com o meu jeito direto de ser.

- E olha que convivo com o Louis agora, então tecnicamente estou bem treinado nesse departamento.

- Ele é direto desse jeito?

- Ele é pior.

- Jura?

- Ele me acorda as vezes no meio da madrugada pra pedir boquete.

Os olhos de Gemma arregalaram na mesma velocidade em que Harry gargalhou.

- Não acredito.

- É verdade.

- Mas boquete seu ou..?

- Como assim boquete meu? É claro que é boquete meu, Gemma. Eu sou o namorado. Se não é boquete meu, de quem mais seria?

- Não, idiota. - ela bateu na própria testa apenas para segundos depois bater na de Harry. - Boquete seu nele ou boquete dele em você?

Harry precisou de alguns momentos para compreender as conjunções, e assim que seus neurônios descobriram o significado verdadeiro daquela pergunta, assentiu.

- Depende do humor dele, pra falar a verdade. - deu de ombros, casual. - Na maioria das vezes é boquete meu nele. Sabe como é, né. Ele é um pequeno e gostoso narcisista.

- Perfeito pra você então. - retrucou, satisfatoriamente divertida enquanto observava a expressão de Harry se contorcer em ironia. Por fim, suspirou, assumindo uma leve postura séria. - É nítido que ele te faz feliz, Harry. Fico aliviada que tenha encontrado alguém que valha a pena.

- Louis é a pessoa que mais vale a pena no mundo, Gem. Em todos os sentidos possíveis e imagináveis.

Ela sorriu, as íris brilhando em orgulho.

- Tenho certeza que sim, Harry.

Aceitando de bom grado aquela interação, Harry observou Gemma ainda com o queixo repousado nos joelhos, e antes mesmo de ouvir suas palavras, sabia o que estava por vir.

- Você vai ligar pra mamã..?

- Não. - incapaz de sequer deixá-la terminar, Harry deu de ombros, impassível.

- Harry... - até mesmo seu tom de voz denunciava o quanto não queria estar insistindo naquele assunto, mas a expressão de Gemma demonstrava o quão achava necessário ao menos tentar. - Já se passaram anos.

- Exatamente. - elevando o tom de voz apenas um pouco, o bastante para que Gemma suspirasse, Harry chacoalhou a cabeça em descrença. - E além do mais, por que eu tenho que ligar? Sendo que ela quem impôs todas aquelas regras idiotas sobre o futuro que deveria ser escolha minha? Escolha sua? Hu? Por que, Gem? Por que eu tenho que ligar?

- Porque foi você que saiu de casa, Harry. - no instante em que as palavras escaparam de sua boca, Gemma contorceu o nariz. Era nítido seu descontentamento com a posição na qual estavam, injustamente. - E porque você sabe que se não ligar, nunca vão fazer as pazes.

- Talvez isso seja motivo o bastante para não fazermos as pazes em momento algum, Gemma. - retrucou, tão magoado que sua voz craquelou. Tomando sua mão em um aperto firme, sua irmã suspirou. - Se o fato de eu precisar engolir o orgulho para perdoar um erro dela não te fizer compreender o porquê eu ainda não liguei, não sei o que mais faria.

- Tenta ver a situação de outra perspectiva, Harry.

- Qual, Gemma? Qual perspectiva?

- A minha. - contrastando o tom de voz incisivo do irmão, Gemma murmurou branda, compreensiva diante da frustração do outro. - Eu errei com você, Harry. E por anos esse erro me perseguiu. Mas olha para nós agora. - ergueu seus dedos entrelaçados como exemplo, ousando repousar a bochecha contra as costas da mão de Harry, que a fitava confuso. - Isso só foi possível porque você me perdoou. Porque você engoliu o orgulho e perdoou um erro meu. Ou estou enganada? - conectando seus olhares em busca de uma resposta que sabia que não receberia, Gemma suspirou. - Faça o mesmo com a mamãe, Harry. Se ela sente o mesmo que eu senti nos últimos anos, deve estar a comendo de dentro pra fora.

Harry não respondeu, mas para Gemma foi o bastante.

Ela tinha que ao menos tentar, e Harry tinha que ao menos ouvir - porque se havia alguém nesse mundo capaz de convencê-lo a ligar para sua mãe, esse alguém era sua irmã.

%%%

- Posso te fazer uma pergunta? - Gemma murmurou enquanto caminhavam de volta para a concentração da festa. Por mais que Harry quisesse aproveitar ao máximo seu tempo limitado com sua irmã, algumas mensagens avisando que já estavam se preparando para retornar para a UAL o fizeram sair do campo, enfim.

- Se não for sobre a mamãe, pode.

Gemma tomou um instante para revirar os olhos antes de prosseguir, e suas próximas palavras pegaram Harry de surpresa, quase o fazendo tropeçar nos próprios pés.

- Por que não é o capitão dos Wolves?

Os olhos verdes arregalados encontraram os olhos verdes curiosos.

- O que?

Gemma deu de ombros, alheia ao porque aquilo havia o afetado tanto quanto Harry deixava transparecer.

- Eu te vi em campo, Harry. Duas vezes. E é de longe o melhor jogador dos Wolves, que estranhamente não têm capitão, e considerando que eu não entendo muito de futebol americano e mesmo assim vi potencial em você, imaginei que o seu treinador, que tem todo o conhecimento técnico, tivesse te oferecido a vaga de capitão em algum momento. Seria o mais lógico a se fazer. - disparando palavras como sempre fazia, Gemma colidiu seu ombro com a lateral do corpo do irmão, instigando-o a falar alguma coisa. - Hm? Por que não é o capitão dos Wolves, Harry?

Um suspiro e um chacoalhar de ombros tomou alguns instantes do cacheado.

- É complicado.

- Parece que tem muitas coisas complicadas na vida.

- Está vendo? - caçoou, mesmo que sua expressão não denunciasse graça alguma. - Não nos vemos há anos e mesmo assim já pegou o jeito das coisas.

- Harry, qual é. Sabe que pode me contar qualquer coisa.

- Não é nada, Gemma. É só bobagem minha.

- Então isso me torna ainda mais perfeita para te ajudar. Vamos, Harry, eu lido com as suas bobagens desde o dia em que nasceu.

Com um suspiro, constatando que além do válido argumento, sua irmã era, provavelmente, a melhor pessoa para falar sobre aquilo, uma vez que não sabia de literalmente nada envolvendo a situação, Harry deu de ombros.

- O último capitão meio que me intimidou sobre assumir essa posição. - encurtando a história que envolvia chantagem, manipulação e ameaças provenientes de Ryan para com a sua pessoa, e também com Louis nas entrelinhas, Harry murmurou diante dos olhos curiosos de sua irmã. - Ele já saiu da uni mas...

- Tem medo de que ele descubra e faça alguma coisa com você? - pulando para conclusões precipitadas, Gemma ofegou.

Harry negou veemente, embora não descartasse a possibilidade em seu interior mais profundo. Não que Gemma precisasse saber disso.

- Não é isso. Eu... eu acho que tenho medo de...

- De não ser bom o suficiente? - concluindo de forma certeira desta vez, Gemma o abraçou de lado, sem se importar com a caminhada que ainda tentavam prosseguir. Harry assentiu envergonhado. - Eu não conheço o antigo capitão, mas pelo que disse é nítido que ele se importava muito com títulos, e por isso quis garantir que ninguém ocupasse seu lugar quando saísse da uni. Mas eu te conheço, Harry, e não apenas sei como também vi que já joga como um capitão, que já lidera como um capitão e que já pensa como um capitão. E tenho certeza que todo o time, incluindo o treinador, enxergam a mesma coisa. Por isso é unânime para todos que você assuma tal cargo. Então não tenha medo de não ser bom o suficiente para ser capitão, porque adivinha? Você é mais do que suficiente. Você é tão bom que nem precisa de um título estúpido para ser respeitado.

- Gem... - com bochechas coradas e respiração entrecortada em lisonjeio, Harry ofegou.

Quando sua irmã começava, não havia nada capaz de fazê-la parar. Havia se esquecido desse detalhe após tantos anos separados, mas algo o dizia que em segundos seria relembrado.

- É verdade, Harry. O antigo capitão disse aquilo porque antes mesmo de sair já sabia do seu potencial de se tornar algo que ele jamais sequer chegou perto de ser. Se isso não é prova o bastante sobre seu merecimento...

- Você não entende, Gemma...

- Tem razão. Eu não entendo. Por que há minutos atrás você estava tentando me convencer de que não iria perdoar a mamãe e que estava bem sem ela durante todo esse tempo. Que finalmente está tomando suas próprias decisões sobre seu futuro. Mas agora quer que eu acredite que não aceita uma posição que tanto merece por medo do que alguém que nem está aqui mais vai pensar? - disparou, cessando a caminhada enquanto parava de frente para Harry, quase colando seus peitorais em seriedade, verde no verde. Suspirando, cruzou os braços para o irmão que a fitava com um bico nos lábios. - Então me explique, Harry, porque eu com certeza não entendo.

Após minutos gaguejando monossílabas e abrindo e fechando a boca sem nexo, Harry desistiu de se justificar - só então se dando conta de que Gemma estava certa, e que ela estava de fato o defendendo de algo que jamais ousou defender a si mesmo.

Não que fosse lhe dar o gostinho da razão, mas concluiu que sua expressão insatisfeita tivesse denunciado seus pensamentos, pois dando de ombros, sua irmã voltou a caminhar ao seu lado como se nada tivesse acontecido, o sorriso presunçoso em seus lábios sendo a prova viva de que compreendeu e aceitou sua vitória, até mesmo o queixo erguido demonstrando que carregaria a coroa da razão com destreza.

Harry a odiava - não realmente, mas a odiava por sempre ter razão.

Já conseguiam ver o estacionamento onde os ônibus estavam estacionados, e a julgar pela quantidade de universitários reunidos ali, a preparação para o retorno a UAL estava mais adiantada do que imaginavam. Como se compreendesse o que aquilo significava, o estômago de Harry gelou mais rápido que o vento noturno de Londres.

Se não fosse a expressão igualmente chateada de Gemma, ao seu lado, teria hesitado antes de dizer:

- Vamos manter contato... mesmo distantes de novo?

Os olhos verdes de sua irmã estavam marejados, ligeiramente. O bastante para negar caso ousasse perguntar.

- Pode me passar o seu número, o que acha? - seu tom de voz era esperançoso, e isso levou um sorriso ao canto dos lábios de Harry.

- Promete que vai ligar dessa vez?

Revirando os olhos, Gemma assentiu.

- Só se prometer que não vai mais jogar isso na minha cara. - murmurou enquanto buscava o celular no bolso dos jeans, esticando-o para Harry em seguida. - Pensei que já estivéssemos na boa.

- Estamos na boa.

- Então por que continua mencionando o assunto?

- Porque eu sou o seu irmão mais novo e você me magoou. Jogar isso na sua cara pelo resto da vida é o meu trabalho. E também a única coisa que me resta dessa situação toda.

- Cala a boca. - Gemma deu o assunto por terminado enquanto revirava os olhos mais uma vez, só então percebendo que Harry olhava fixamente para a tela de seu celular, ainda bloqueado. Precisou de alguns momentos para compreender o que estava acontecendo, e quando lembrou qual era sua tela de bloqueio, ofegou. - Foi no dia da minha formatura.

Harry piscou confuso para a tela, mantendo o dedão pressionado ali para que tivesse tempo o bastante para analisar as expressões faciais de sua mãe, que não via há anos. Desde seu cabelo preto - ainda estava dessa cor? - até o sorriso gigantesco na qual havia herdado, com as covinhas e tudo.

Anne parecia feliz.

E por que não estaria?

Sua filha primogênita havia se formado com honras no curso de Administração - como sempre desejou - e ainda havia lhe dado a satisfação de acompanhá-la no processo.

Por que não estaria feliz com Gemma?

Um sentimento semelhante à inveja tomou o estômago de Harry no mesmo momento que um gosto amargo inundou sua boca. Com um suspiro, percebeu que Gemma havia o abraçado de frente, mais uma vez os fazendo parar na caminhada em direção ao estacionamento. Com a bochecha pressionada em seu peitoral, sua irmã pôde observar a mesma tela, mas sabia que seus pensamentos eram distintos.

- Harry...

- Você parece... aliviada. - ele murmurou, mudando a perspectiva de sua mãe para Gemma e a pegando de surpresa pelo comentário neutro a respeito de uma situação bem delicada. - Imagino que se formar depois de anos de estudo forçado tenha sido bem gratificante.

- Não foi tão ruim assim.

- Mas também não foi bom, ou foi?

Gemma bufou contra seu peito, os braços apertando ao redor de seu torso.

- Olha pra ela, Harry.

- Estou tentando não fazer isso, Gemma, se não se importa.

- O que estou dizendo é que eu fiz isso por ela.

- E por que continua fazendo?

- Hm?

Desviando do celular para fitar mais para baixo, onde Gemma erguia os olhos em sua direção, Harry suspirou brando. Aquilo o lembrava do verão em que teve um surto de crescimento e ultrapassou-a na altura, desde então a abraçando daquele mesmo jeito carinhoso.

- Se formou em Administração por ela, tudo bem. Eu entendo. Mas por que de novo? Por que está cursando Psicologia agora?

Um sorriso pequeno tomou os lábios de Gemma.

- Não estou fazendo isso pela mamãe, Harry.

Após alguns segundos de puro silêncio, Harry analisando a expressão cheia de expectativa de sua irmã enquanto piscava os cílios gentilmente para si, se permitiu rir ao revirar os olhos.

- Ah meu deus, a minha irmãzinha quer ser psicóloga!

Com as bochechas ardendo, Gemma escondeu o rosto em seu peitoral, sua voz ecoando abafada e risonha.

- Cala a boca, seu idiota.

- Não acredito que sou parente de alguém que fez faculdade não uma, mas duas vezes. Por vontade própria!

- Harry!

- Sua psicopata. Eu sabia, eu sabia! - caçoou, se divertindo demais com a expressão chocada e igualmente engraçada de sua irmã enquanto o fitava com ira nos olhos. - Eu disse várias vezes pra mamãe que você tinha indícios de psicopata quando dava mais do que cinco bolinhas de comida por dia pro nosso peixe.

- Ele sentia fome!

- Ele sentia medo, Gemma. Medo! Sua psicopata.

- Harry!

- Psicopata!

- Eu só estava tentando manter ele fortinho...

- Você matou ele por obesidade, Gemma.

- Mas ele sempre comia tudo e ficava me pedindo mais...

- E você falava com ele por acaso?

- Ele ficava mexendo a boca assim... - fazendo um bico de peixe nos lábios, Gemma caçoou de Harry em sua própria cara, observando-o tentar não rir enquanto fazia caretas.

Por fim, Harry suspirou em falsa chateação.

- Pobre sr. Guelras. Morreu tão jovem.

- Ele tinha quase um ano!

- Peixes dourados podem viver até vinte e cinco anos, Gemma.

Com os olhos arregalados, a garota abriu a boca em choque.

- Não...

- Sim. - Harry concordou, brando diante da expressão estática da irmã.

E então, ela cobriu a boca com as mãos.

- Ah meu deus, ele se foi tão jovem.

Revirando os olhos enquanto ria, Harry desistiu de manter aquela conversa enquanto voltava a alcançar o celular para poder salvar seu contato, Gemma já se recuperando enquanto forçava-os a retomar a caminhada.

Não queria correr o risco de perderem o ônibus.

Como se fossem deixar Harry para trás.

- Não acredito que me culpa pela morte do sr. Guelras. - murmurou contida, incapaz de deixar aquilo passar.

Harry riu para o chão enquanto devolvia o celular.

- E eu não acredito que fez uma segunda faculdade por vontade própria.

Gemma encolheu os ombros.

- Vai me dizer que não gostaria de passar por tudo que passou na UAL de novo?

Um arrepio percorreu a espinha de Harry, ressoando um desconforto em sua nuca. Com a voz craquelada em suspiros, respondeu:

- Na verdade não.

Isso surpreendeu Gemma.

- Jura? Louis sempre falou muito bem da uni, pensei que fosse maravilhosa.

- E é. Mas não repetiria meus anos lá. - deu de ombros, não querendo se estender muito naquele assunto desconfortável, mesmo que Gemma não soubesse de nada que estava implícito nas entrelinhas. Talvez seja melhor assim. - Prefiro descobrir coisas novas daqui em diante.

- Considerando que a sua formatura é em alguma semanas, acho que vai conseguir o que deseja, então. - sua irmã tentou desviar do assunto que claramente não lhe apetecia, e sorriu agradecido por isso.

- Em algumas semanas serei oficialmente um adulto.

Gemma arqueou as sobrancelhas.

- Devo me preocupar com o fato de não se considerar um adulto ainda?

- Cala a boca. - retrucou, empurrando-a com o ombro no exato instante em que entraram no estacionamento, o ônibus aparecendo em seus campos de visão, assim como Louis e o treinador, ambos parados ao lado do veículo, provavelmente a sua espera.

Bastou um segundo de contato visual com os olhos azuis intensos para compreender que ganharia alguns minutos adicionais para se despedir propriamente de sua irmã, e suspirou agradecido para o namorado, mesmo distantes.

- Sobre a sua formatura... - Gemma desviou sua atenção de Louis, e mesmo que o cacheado quisesse parar de andar, sua irmã o puxou para prosseguir em direção ao ônibus. - Vai convidar a...

- Antes que você me aborreça com mais uma pergunta sobre a mamãe... - Harry interrompeu, sorrindo inabalado conforme se aproximavam da figura ansiosa de Louis e da impaciente de Travis. - Vou sentir sua falta, Gem.

Tentou não focar nos olhos verdes marejados de sua irmã, e foi um alívio quando chegou próximo o bastante de Louis para poder abraçá-lo em busca de conforto - só não esperava que Gemma tomaria o seu lugar no gesto.

- Obrigada por tudo, Louis. E desculpe também. - ela murmurou contra o ombro do menor, que sorria aliviado enquanto apertava seus torsos juntos. Harry observava de cima com orgulho de sua pequena e especial família. - Eu queria que tivéssemos mais tempo para se conhecer e fofocar sobre o meu irmão idiota mas...

- Obrigado você, Gemma. - Louis a cortou gentilmente, deslizando suas mãos nas costas da garota em um sinal de cordialidade. - E não se preocupe, o importante é que vocês se resolveram. O resto vai se ajeitando aos poucos, sim?

Afastando os peitorais para conectar seus olhares, Gemma assentiu, e então depositou um beijo na bochecha de Louis, que imediatamente corou, as risadas divertidas de Harry ecoando no fundo conforme Travis resmungava para irem logo.

Por fim, o maior os puxou para um abraço coletivo, Gemma esmagada entre seus corpos enquanto riam e desviavam das lágrimas que formavam em seus olhos. Louis logo compreendeu a situação e os deixou mais confortáveis para a despedida final, acenando para Gemma já no primeiro degrau do ônibus conforme Harry enfiava as mãos nos bolsos e suspirava para controlar o choro iminente.

- Da última vez que você foi embora eu nem tive a chance de me despedir. - Gemma murmurou baixo, sem rancor, sem raiva, apenas tristeza. A expressão de Harry se transformou em arrependimento imediato. - Promete pra mim que não vai fugir de novo?

- Promete que vai ligar? - retrucou, o sorriso acompanhado de lágrimas caindo bochechas abaixo.

Por fim, Gemma assentiu, igualmente emotiva.

- Eu te amo, Harry.

- Eu te amo, Gem. - compartilhando talvez o abraço mais intenso do dia, Harry beijou sua testa após ouvir a buzina do ônibus, como o aviso final de que seria deixado para trás, e forçou seu corpo para longe do de sua irmã, com pesar.

Não era uma despedida.

Era uma até logo.

Mas seu coração não sabia a diferença.

Caminhando até a escada que o levaria para o ônibus, não ousou virar para trás para fitá-la enquanto fazia seu trajeto até o corredor cheio de bancos ocupados pelos universitários da UAL, apenas para sentir seu celular vibrar no bolso.

Não precisou fitar o número desconhecido na tela para saber quem era, e quando atendeu contra a orelha, pôde observar a figura de Gemma do lado de fora da janela enquanto o ônibus já se colocava em movimento.

"Só queria ter a certeza de que tinha me dado seu número verdadeiro."

E desligou, a imagem de sua irmã pressionando o celular contra o peito sendo a última que os olhos verdes marejados de Harry captaram conforme o ônibus saía realmente do estacionamento e o treinador o mandava sentar logo no banco.

%%%

Louis estava no final do ônibus, sentado no banco do corredor enquanto se inclinava ao máximo para poder fitar a figura de Harry, que conversava avidamente com o treinador Travis ao que parecia ser a eternidade. Estava angustiado em ansiedade para saber do que se tratava. Não parecia ser coisa ruim, afinal, o homem de meia idade sorria orgulhoso conforme escrevia algumas coisas na prancheta para o maior.

Por fim, Harry esticou as costas e assentiu, trocando um abraço singelo com o treinador antes de caminhar pelo corredor em direção ao namorado.

Até que enfim.

Parecia que não se viam ou se falavam há anos, mesmo que sua última conversa decente tivesse sido mais cedo naquele dia, antes de Harry fugir ao reencontrar sua irmã mais velha por acaso.

Muita coisa havia acontecido desde aquele momento.

Por isso, Harry empurrou Louis gentilmente para o banco da janela enquanto se esticava contra seu peitoral, as pernas estendidas no corredor ao ser embalado pelos braços do menor quase que de imediato em um abraço desajeitado mas caloroso.

Com um suspiro, permitiu que seus músculos relaxassem pela primeira vez no dia, ao que parecia.

- Por onde quer que eu comece? - murmurou baixinho contra o ombro de Louis, sentindo-o se ajeitar sob seu corpo.

- Por onde quer começar? - o menor retrucou, ameno, já começando um carinho nos fios emaranhados do namorado, tomando seu tempo para desfazer cada nó com paciência e delicadeza. - Não deve ter sido fácil com Gemma.

Após uma pausa ponderativa na qual Harry ousou gemer baixinho pelo carinho gostoso em seu couro cabeludo, a voz rouca ecoou.

- Foi mais fácil do que eu imaginei, na verdade.

- Isso é ótimo, Hazz.

- Lou?

- Hm? - sob efeitos da mesma sonolência que atordoava o cacheado, Louis murmurou.

- O que disse mais cedo... sobre a sua irmã. - Harry soava calmo, mas o menor podia sentir seu corpo tensionando gradualmente conforme adentrava um assunto delicado. Agradeceu por não poder ver seu rosto empalidecendo naquele momento devido suas posições. - Quer falar sobre?

Não.

- Não tem nada do que falar, Harry. - soando até mesmo magoado, Louis respondeu, levemente desconfortável. - Além do mais, não quero estragar o clima bom agora que você e Gemma fizeram as pazes.

- Graças a você.

- Eu nem sabia que ela era a sua irmã até... ser tarde demais.

- Não, Lou. Foi graças às suas palavras lá no campo, lembra? Você... - medindo suas intenções com cautela, tentando não elevar o tom já que quase todo o ônibus dormia pacificamente naquela noite tardia de viagem, Harry suspirou contra o ombro de Louis. - Você me disse o que eu sempre quis ouvir. Que tudo bem perdoar alguém que me fez mal inconscientemente. Gemma... estava tão perdida quanto que eu e crucificá-la por um erro honesto estava me fazendo mais mal do que o erro em si. E agora sinto que finalmente posso respirar aliviado sem esse peso gigantesco nos ombros.

Louis sentiu o canto de seus lábios curvando.

- Fico feliz por você, Hazz.

- Então deixa eu fazer o mesmo por você. Com a sua irmã.

- Não. - a seriedade que estrondou com essa simples palavra que saiu dos lábios de Louis fez Harry compreender de imediato que aquela era uma decisão na qual não lhe dizia respeito. - Não pode fazer o mesmo comigo e com Felicité, Harry.

- Mas isso está te fazendo mal, gatinho.

- Eles me deixam pior, vai por mim. - algo no tom de Louis denunciou que eles se referia aos seus irmãos, e com um suspiro derrotado, Harry assentiu. - Gemma não sabia o que estava fazendo anos atrás. Eu acredito em você quando diz que estavam sob os mesmos comandos de sua mãe. Então preciso que acredite em mim quando eu digo que todos eles sabiam do que eu estava passando, e ninguém ousou fazer nada a respeito. Principalmente Felicité. Ela é a mais velha depois de mim, e talvez a única pessoa capaz de fazer todos eles pararem de me machucar, mas ela nunca o fez. Isso, essa escolha, não foi inconsciente. Não. Ela acordava todos os dias e aceitava aquilo, por divertimento próprio.

Louis não soava irritado, não soava bravo. Soava magoado, em instâncias. Como se o simples fato de sua irmã tentar contato novamente cutucasse uma ferida cicatrizada a anos.

Harry firmou o aperto do abraço, sentindo seus corações acelerados através dos moletons.

- Acha que ela está te ligando agora por arrependimento?

- Faz diferença? - dessa vez soou ácido, e Harry pressionou os lábios juntos, compreendendo sua dor.

- Pra você faz? - manteve a neutralidade, esperando que isso acalmasse os nervos agitados do namorado. - Saber que ela se arrepende. Faz diferença pra você?

- Não.

- Tem certeza disso?

- Sim.

- Acha que se a sua mãe estivesse viva, essa resposta seria diferente? - e no instante em que todo o corpo de Louis reverberou, Harry teve a certeza de que a resposta de sua pergunta era sim.

Quando soou de novo, Louis estava com os olhos marejados e a garganta embolada.

- Eu amo eles, Hazz. Eu realmente amo.

- Eu sei que sim, Lou.

- Mas não posso permitir que me tratem daquele jeito de novo.

- E essa é uma decisão inteiramente sua.

- Ela morreu, Harry. Minha mãe morreu e nenhum deles teve... nenhum deles...

- Eu sei, gatinho. - acalmando o choro que havia iniciado, Harry enrolou seus braços com mais firmeza ao redor do torso de Louis, deixando-o fungando em sua nuca conforme afagava seus fios de cabelos gentilmente.

Podia ouvir sua dor através das palavras, e isso era no mínimo sufocante.

- Nenhum deles era tão ligado a ela como eu, e mesmo assim foi como se eu não existisse. Como se nunca houvesse um irmão mais velho que não fosse Felicité. Depois de tudo que eu fiz pra eles... eu...

- Eu entendo, Lou. Eu sei. Mas por mais doloroso que tenha sido, se não quer perdoá-los, precisa ao menos deixá-los ir. - Harry tentou, brando para que Louis pudesse compreender mesmo através do choro baixo. - Você ainda carrega esse peso consigo, todos os dias. Sei que Olivia trabalhou com você na questão da sua mãe, e também sei que a deixou ir, livrando um pouco da pressão que sentia com o musical. Mas precisa fazer o mesmo agora, com os seus irmãos. Porque além do próprio peso que eles trazem à tona, você ainda resgata um pouco do peso da morte da sua mãe. E isso está te fazendo mal, gatinho.

Louis estava segurando o choro, Harry podia sentir que sim em seu peitoral, mas não o pressionou mais, ciente de que aquele assunto era delicado demais para ser debatido no fundo de um ônibus escolar no meio de uma estrada na calada da noite. Por fim, o aconchegou em seu peito e esperou que se acalmasse rapidamente, a tempo de poderem dormir um pouco e descansar antes de chegar na UAL.

Mas então, a vozinha melodiosa e embargada do menor ecoou novamente.

- Gemma gostou de mim?

Um sorriso divertido tomou os lábios de Harry, o clima da conversa automaticamente amenizando.

- Como se fosse possível alguém não gostar de você.

- Você não gostava de mim no começo do primeiro ano.

- Já concordamos que isso era apenas um teatro pra te conquistar.

- Que idiota acha que odiar alguém é o caminho para fazê-los se apaixonar no futuro?

- Você está aqui agora, não está? - Harry retrucou, ciente de que havia ganho o argumento, e com um bico chateado, Louis sucumbiu a uma risada nasalada.

- Idiota.

- O seu idiota.

- E eu lá quero um idiota pra chamar de meu?

- Louis!

- De idiota já basta eu mesmo, Harry. Pelo menos um de nós tem que ser inteligente.

- Falando em ser inteligente, adivinha quem acabou de aceitar o título de capitão dos Wolves?

E foi no momento em que Louis pulou do banco e ergueu os braços em um grito animado e estridente capaz de acordar todos do ônibus que Harry percebeu o erro que havia cometido em contar a novidade justo quando todos estavam dormindo - não mais, uma vez que com gritos repetitivos de Capitão Styles!, não demorou muito para os rapazes do time compreenderem o que havia de fato acontecido e se juntarem a comemoração que inundou as duas fileiras de bancos com palmas, gritos e parabenizações direcionadas ao maior. Liam era o mais agitado, e até mesmo Travis comemorava, afinal de contas, vinha tentando fazer isso acontecer há meses, e por fim, a viagem que estava pacífica se tornou uma extensão da festa de horas atrás.

Tirando alguns segundos dos tapas animados nas costas e apertos de mãos comemorativos, Harry fixou o olhar em Louis, no fundo do ônibus, e sorriu satisfeito ao vê-lo gargalhando com Niall e Zayn enquanto brincavam com os pompons das líderes de torcida.

Seu sorriso largo fez tudo valer a pena.

%%%

- Niall vai mesmo dormir no dormitório de Chad e Patrick? - Harry murmurou sonolento no exato instante em que Louis rodou a chave na maçaneta da porta de seu dormitório.

- E Zayn vai dormir no seu dormitório com Liam.

- Isso significa que posso ficar pelado e ninguém vai entrar de repente pela porta, né? - o maior retrucou enquanto já começava a desabotoar os jeans e remover a primeira camada de moletom.

Louis riu conforme trancava a porta de seu dormitório e tirava os Vans com os próprios pés, igualmente cansado por toda a movimentação que aquele dia os trouxera, sem contar a viagem noturna que os levara de volta ao campus em plena madrugada.

- Você fala como se os rapazes já não tivessem visto seu corpo nu antes. - provocou na esperança de irritar Harry sobre a suruba dos dias anteriores, mas quando não recebeu uma resposta, girou nos calcanhares a tempo de observá-lo deitado de barriga pra baixo na cama enquanto fitava o celular de forma estranha.

Louis conhecia bem aquele olhar.

Conhecia bem aquele sentimento.

E sequer precisou perguntar pra saber quem era do outro lado do aparelho.

- Ela mandou mensagem, acredita? - a voz rouca ecoou alheia, somente então erguendo o olhar para perceber que já tinha a atenção de Louis. Harry corou. - Gemma me mandou mensagem perguntando se cheguei bem na UAL.

Os cantos dos lábios de Louis curvaram igualmente aos do cacheado.

- Isso é ótimo, Harry. Trate de responder ela direito. - murmurou como se fosse sua mãe, fazendo-o rir. Já desviando o olhar da figura forte esparramada em sua cama de solteiro para se dirigir ao guarda-roupa em busca de algo confortável para usar após o banho, Louis divagou, o barulho das teclas sendo pressionadas no teclado do celular ecoando juntamente. - Não acredito que não percebi a semelhança entre vocês dois. São praticamente idênticos.

Harry riu, e em seguida, levantou da cama em passos lentos e preguiçosos até o namorado, ainda revirando as roupas nada arrumadas.

- Quer ver algumas fotos de quando éramos pequenos?

Isso chamou a atenção de Louis em níveis catastróficos. Quase nunca falavam sobre suas famílias, quem dirá mostrar fotos de infância, mas considerando que havia conhecido a irmã mais velha de Harry naquele dia, simplesmente deu de ombros e virou para fitar a tela do celular conforme o maior deslizava foto após foto.

- Essa daqui é de quando eu era bebê, obviamente. - sem graça ao estar mostrando aquilo para os olhos azuis gigantescos e curiosos, Harry murmurou, a mão que não estava segurando o celular repousada na nuca.

- Gemma já era estilosa desde cedo. - foi o que o menor comentou, um sorriso inconsciente tomando seus lábios.

- Aqui já estávamos mais velhos. Mamãe havia comprado um ursinho pra mim e Gemma ficou com inveja então tivemos que voltar na loja e comprar outro pra calar a boca dela. - com a bochecha ardendo, Harry encolheu os ombros, Louis praticamente dentro de seu abraço enquanto passava as fotos em sua galeria.

Após um suspiro encantado, o menor riu.

- Quem cortou franja primeiro?

- Hm?

Os olhos azuis subiram para os verdes.

- Você disse que ela ficou com inveja do seu ursinho e tiveram que comprar outro. Mas quem cortou franja primeiro? - apontando com o dedinho para a tela, onde ambos tinham franjas, Louis insistiu.

Harry fez um bico, passando para a próxima foto sem responder.

Não que precisasse.

- Essa aqui... - quase pegando a si mesmo de surpresa, Harry deixou que sua voz cessasse conforme fitava a foto seguinte com um peso no coração. Louis piscou algumas vezes para si antes de abraçá-lo mais forte e se limitar a dizer:

- Sua mãe é linda, Hazz.

Engolindo o bolo na garganta com dificuldade, o maior suspirou.

- O nome dela é Anne. - foi o máximo que disse a respeito daquela foto, mas Louis percebeu que demorou mais do que o normal para passar para a próxima, e quando o fez, um sorriso surgiu automaticamente. - Essa daqui foi uma das últimas fotos que tirei com Gemma antes de sair de casa.

- Vejo que as covinhas são de família. - ergueu o olhar para o maior, rodeando sua nuca com os braços enquanto levantava-se na ponta dos pés para tornar o abraço possível. Harry guardou o celular no bolso antes de tomar sua cintura carinhosamente. Sem esperar muito mais, Louis suspirou. - Felicité e Lottie são as duas mais velhas, Daisy e Phoebe são as gêmeas do meio e Doris e Ernest são os gêmeos mais novos. - absorvendo as informações despejadas repentinamente, Harry assentiu para o menor, azul no verde conforme o pressionava no guarda-roupa. Antes mesmo das próximas palavras ecoarem, já sabia o que viria a julgar pela mudança na expressão de Louis. - Minha mãe se chamava Johannah.

Após o que pareceu segundos infinitos, Harry sorriu ladino para o namorado, depositando um beijo significativo em sua testa conforme o levantava ligeiramente do chão.

- Obrigado por compartilhar isso comigo, gatinho.

- Eu acho que eu tenho uma foto nossa perdida aqui em algum lugar. - murmurou, envergonhado.

- Sabe que não precisa fazer isso se não quiser, né?

- Eu quero. - foi sua deixa enquanto se desvencilhava do aperto apenas o bastante para pisar no chão novamente e se virar mais uma vez para o guarda-roupa, de imediato se colocando a procurar a caixa de madeira na qual guardava esses tipos de pertences. Precisou de alguns instantes até conseguir encontrá-la sob tantas roupas amarrotadas, mas quando puxou para a superfície, Harry com o queixo em seu ombro conforme o abraçava de trás, destravou o fecho e a abriu. Dentre tantas fotos perdidas, folhas de rascunho e anotações, cordões, partituras, notas fiscais e documentos, estava a foto de sua família, a única que havia trago de casa. Assim que a agarrou com os dedos decididos, puxando apenas o bastante para liberar o que estava abaixo para seu campo de visão, um grito ficou engatilhado na base de sua garganta. Rapidamente fechou a caixa, quase prendendo seu dedo do processo, e então a jogou para dentro do guarda-roupa sem mais delongas, girando nos calcanhares para fitar Harry com sua melhor expressão neutra enquanto sorria inocente e chacoalhava a foto de sua família no ar. - A-achei.

Harry então fitou Louis com cautela enquanto assentia lentamente e o observava caminhar apressado para a cama, ou melhor, o mais longe do guarda-roupa possível. Optou por não dizer ou perguntar nada, mas podia jurar que havia visto uma foto familiar dentro daquela caixa, milésimos de segundos antes de tê-la fechada bruscamente e guardada.

Parecia uma polaroid.

E alguma coisa rosa cintilava no meio da foto.

Só não conseguiu ver com clareza o que.

A julgar pelo desespero de Louis ao escondê-la, era importante.

%%%

- Obrigado por virem cedo, rapazes. Sei que chegaram de madrugada pela viagem à Universidade de Manchester. - o reitor Jerry murmurou para Harry e Louis, que estavam sentados à frente de sua mesa. - Agora que são uma dupla de negócios para a UAL, com o sr. Styles assumindo o lugar que antes pertencia à Zachary, tenho certeza de que vamos conseguir colocar em prática vários projetos ainda antes da formatura.

Louis sorriu orgulhoso, afinal de contas, Harry estava ao seu lado, enfim. Como deveria ser. E pensando a mesma coisa, o maior esticou a mão para tomar a sua em um aperto delicado.

Nada podia estragar aquele momento.

- Aqui está a lista de convidados para o próximo evento, que vai ser semana que vem. - Jerry prosseguiu, esticando uma folha pela superfície da mesa. Com a mão que não estava entrelaçada na de Harry, Louis pegou o papel, os olhos revezando entre fitar o reitor e ler as palavras ali impressas. - Conto com vocês na organização da festa de ex-jogadores dos Wolves.

Havia falado cedo demais.

Simples assim, Louis já sabia o que estaria na folha em seus dedos, sequer ousando ler o nome de Ryan na lista de convidados. Sua maior preocupação era, na verdade, a reação de Harry ao perceber que seu abusador estaria pisando naquele campus pela primeira vez depois de anos, em apenas alguns dias.

Tão tenso que provavelmente poderia ser transmitido através de seus dedos entrelaçados, desviou os olhos azuis para observar a expressão de Harry, se surpreendendo quando nenhuma mudança aconteceu, mesmo que o cacheado continuasse tranquilamente lendo a lista de convidados.

Tudo bem, pensou, ele não deve ter chegado nessa parte ainda.

E então, Harry virou a página, continuando a ler o restante da lista.

Os olhos de Louis automaticamente arregalaram.

Ele não viu o nome de Ryan? Por que ele não está surtando tanto quanto eu surtei quando descobri que aquele desgraçado estaria na UAL de novo? Por que ele não está demonstrando emoção alguma? Por que?

Perdido em perguntas sem resposta, Louis ofegou quando Harry assentiu formalmente para o reitor, alheio à situação, e segundos depois dobrou as folhas com apenas uma mão, guardando-as no bolso do moletom como quem dizia que havia entendido.

Completamente perdido, Louis só pôde observar estático conforme Harry percebia seu espanto e sorria ameno, erguendo suas mãos juntas para beijar o peito de sua mão em um gesto singelo que sequer sabia o que significava.

E foi cogitando a hipótese de que Harry talvez já soubesse sobre a vista de Ryan que Louis apenas ouviu o restante da reunião com o reitor, incapaz de dizer qualquer coisa naquele momento.

wow

revelações

A polaroid fez uma aparição esse cap, que engraçado né? Até parece a fic do plug k

Ansiosxs pro desfecho desse plug? Pq eu to, me tremo só de pensar em escrever esse cap em especial hihi

Ryan está chegando galera, preparem os corações!

Gemma linda se apresentou formalmente também, e queria aproveitar para dizer que a parte da família é muito importante. As vezes ficamos tão presos no rancor que nos fazemos tão mal quanto aqueles que nos machucaram no início. Então é uma decisão extremamente pessoal e específica.

Mal posso esperar pro próximo cap que tomara que venha quarta que vem k

Espero que tenham gostado!

Até o próximo <3

amo ocês

tt as always ohnanathalie

insta as always nathaliemach_

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