❄| Capítulo 1 |❄

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Infelizmente Papai Noel não presenteia garotinhos mentirosos.

"Mas vamos lá, Noel, foi por uma boa causa..."

Agora, como um adulto independente, eu escolhi passar as festas de final de ano num lugar completamente diferente. O meu salário era estável, então pude acumular uma boa quantia para pegar um avião e ir visitar um local distante.

Eu tinha esperanças de que talvez novos ares fossem capazes de mudar o que já havia se tornado um tipo de rotina anual. Então, quando olhei para destinos turísticos da agência de viagens, visualizando os lagos e as fortalezas de pedra que decoravam os folhetos, e quando senti que aquilo me chamava, concluí que aquele ambiente poderia me trazer a tão estimada paz.

Contudo, não aconteceu como esperado. A sombra seguia presente em meus caminhos numa brincadeira sádica que parecia não ter fim.

Por isso, na noite de Natal, usei a comemoração como desculpa para não sucumbir ao sono que logo me encheria de tormento. Fiquei vagando pelo hall de entrada do hotel onde eu estava hospedado, e, em seguida, me dirigi às ruas sem rumo, sendo guiado apenas pelas peculiaridades que surgiam em meu caminho.

Escutei um coral de cantores bastante talentosos, depois caminhei pelas feiras tradicionais - onde aproveitei para comprar lembrancinhas aos meus pais -, e, por fim, passei por lojas e restaurantes que, aparentemente, iriam ficar abertos durante toda a madrugada.

Até que a minha atenção foi fisgada por uma roda cheia de crianças e adultos. Eles estavam sentados em bancos e observavam atentamente uma anciã contadora de histórias.

Aproximei-me silenciosamente e me coloquei logo atrás do grupo, num canto onde era possível escutar, sem muitos problemas, a voz ruidosa da velha mulher.

Para a minha sorte, a sua narrativa tinha acabado de começar.

- Todos conhecem a história do bom velhinho, acredito eu - disse ela, com um sorriso doce.

As crianças falaram "Sim" em uníssono, e os adultos assentiram.

- Claro! Papai Noel é muito famoso. Ele é tão famoso que existem milhares de histórias sobre sua origem. Mas a que eu conheço é a mais correta delas.

A plateia se entreolhou, descrente.

- Vocês duvidam de mim, eu vejo... Pois bem! Vou lhes contar o porquê de eu ter tanta certeza do que digo.

A anciã se ajeitou na cadeira e pigarreou, fazendo um pequeno suspense.

- A história que conheço é a mais correta porque ela também conta a origem de uma criatura assustadora que sempre surge quando o Papai Noel vem: O Diabo de Santa Claus. Hm... - Os olhos da idosa se estreitaram, criando uma tensão no ar.

Ela é uma boa dramaturga, pensei, entretido.

- O Papai Noel vem para presentear as crianças que foram boazinhas, já o Diabo de Santa Claus vem para puxar o pé daqueles pequeninos que passaram o ano sendo malcriados.

"Conta a lenda que os dois eram moradores do mesmo vilarejo, localizado nas Highlands e próximo ao castelo do fiorde. Noel era um carpinteiro doce e solitário que passava os seus dias fazendo brinquedos para as crianças menos abastadas da região. Já o Diabo de Santa Claus era o filho do dono daquelas terras."

"Esse jovem nobre tinha uma personalidade egocêntrica e carregava muita arrogância consigo. Por isso, ele odiava os menos desprovidos e considerava ridículo um trabalhador tão habilidoso como Noel gastar preciosas horas de seus dias criando brinquedos para a gentalha plebe."

"Porém, no fundo, o que ele sentia era inveja de todas aquelas crianças, pois, quando eram presenteadas, Noel as acolhia como um pai bondoso, coisa que o pequeno nobre nunca experimentou em seu lar severo."

"Então, na noite de Natal, movido pela má personalidade, o rapaz destruiu o brinquedo de uma criança muito preciosa para Noel. Em prantos e desejando o conserto do valioso presente, ela tentou correr até a casa do bondoso carpinteiro, cuja localização ficava no meio de uma perigosa floresta."

"A pobrezinha acabou sendo perseguida por uma alcateia de lobos ferozes e esfomeados. Sem forças para se defender, a criança foi morta no meio do caminho, restando apenas os pedaços de seu brinquedo quebrado."

"Noel ficou arrasado quando soube do ocorrido, pois considerava aquela pequenina criança sua própria filha. Dessa forma, ele faleceu de tristeza, solitário em sua cabana na floresta."

"Porém, Noel sempre fora um homem santo, carregado de luz e de amor, então os anjos o transformaram num espírito bom que surgiria em todos os natais para levar alegrias às crianças do mundo inteiro."

"Em contrapartida, os anjos puniram o jovem e arrogante nobre, transformando-o numa figura feia e aterrorizante que estaria fadada a assombrar criancinhas travessas por toda eternidade."

A anciã respirou fundo após concluir sua história, e olhou para as crianças que a encaravam com olhares aflitos.

- Eu espero que nenhum desses pequeninos aqui presentes tenham sido malcriados, porque daqui a pouco o Papai Noel aparecerá... E o Diabo de Santa Claus também - disse ela, sorrindo maliciosamente.

A infanta plateia engoliu em seco. Enquanto isso, os adultos seguravam risinhos.

Já eu internalizei aquele conto interessante em meu silêncio letárgico. A sonolência me abraçava, pois há dias não havia tido uma boa noite de sono. Por conseguinte, o conto da velha mulher agiu em mim como uma história de ninar.

Afastei-me da roda decidido a retornar ao hotel para um descanso. No meio do caminho, comecei a sentir uma tontura anormal daquelas que nublam a vista. As luzes dos postes passaram a bruxulear, opacas e trêmulas, e as pessoas se transformaram em meras sombras nas áreas mais escuras das vielas.

Pisquei cinco vezes para tentar me recompor, porém, logo após a última piscadela, despertei sobre uma cama estranha, bastante distinta daquela da hotelaria. Não só a cama era estranha como também as paredes, a janela e todo o resto.

Reconheci aquele lugar após alguns segundos de confusão. Era um dos quartos do castelo localizado ao lado do fiorde das Highlands. Eu tinha visitado aquele espaço mais cedo, com um grupo cheio de turistas.

De início, não havia nenhuma luz, pois o lugar já estava fechado para visitas naquele horário. Porém, chamas se acenderam nos castiçais espalhados pelo cômodo, como num passe de mágica.

Havia uma lareira bem diante da cama, mas nenhum fogo surgiu nela.

- Quando foi que eu...? - murmurei grogue, com a mente dando giros.

Nessa hora, uma ventania atravessou a janela e balançou as chamas, fazendo a iluminação oscilar bastante.

Ao longe, sons de sinos etéreos ecoaram. Em meu peito, um aperto se alastrou.

Algo estava se aproximando.

Algo se materializava diante de mim, transformando-se numa figura humanoide e aterradora, com chifres retorcidos iguais aos de um bode e olhos amarelos reluzentes.

- Finalmente nos reencontramos... - Disse a sombra, numa suavidade que contrastava com a sua inesperada chegada. - Volte para mim... Meu amor.

Foi então que algo se conectou em minha mente.

Correção: Em minha alma.

Adormeci fisicamente para despertar no passado, numa época longínqua onde residia a origem de tudo. Do meu tudo. Do nosso.

Nosso?

Sim, do meu e de Jeon Jungkook, o quarto filho do duque das Terras Altas, futuro senhor dos fiordes e meu primeiro e proibido amor, também conhecido como O Diabo de Santa Claus.

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Obrigada pela sua leitura!

Nos vemos amanhã, no capítulo 2💜

O Diabo de Santa Claus • JiKook ✓Where stories live. Discover now