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“Se foi amor, não importa quando,
ainda será outra vez.”

A maioria das coisas em que acreditamos sobre relacionamentos
vem daquilo que lemos ou, sei lá, assistimos na sessão da tarde
de domingo. Ninguém nos puxa no canto e diz “Olha só, isso é
ficção. Eu sei que te dá esperança, mas não é real. A realidade
exige muito mais esforço e paciência do que caberia em uma
mera trilogia.” E é pior ainda quando ouvimos as narrações de
amores perfeitos daqueles que estão próximos à gente. Mas
nenhum deles teria coragem de nos contar o que realmente
passou pra poder encarar uma vida a dois. Inclusive porque,
honestamente, muitas dessas pessoas também estão
diariamente engolindo suas inseguranças, respirando fundo e
dando segundas, terceiras, quartas chances. E a gente só escuta
a parte boa. Por isso que se comparar aos outros é uma
tremenda injustiça conosco, porque das nossas histórias nós
sabemos de tudo, não podemos ignorar a parte ruim. É
autoboicote.
Se você me quisesse, eu teria ficado. Se você me quisesse, eu
teria respeitado o seu tempo; eu não tenho essa pressa. Se você
me quisesse, eu teria tido paciência com sua insegurança,
compreensão com suas falhas. Teria sido o colo para seu pranto
até torná-lo brando. E se chegássemos ao fim novamente, ao
menos, teríamos esgotado as chances de dar certo. Mesmo
errados, mesmo cansados. Sem desistência, sem reticência.

Não parece patético acreditar que aconteça de alguma forma
especial? Que pessoas estejam destinadas a ficarem juntas?
Mas ninguém nos diz e, por causa disso, ainda acreditamos que
não está nas nossas mãos fazer acontecer. Acontece que,
embora nos exija por inteiro, compomos ainda só metade de um
desejo. Se um dos dois não se empenha, sequer enxerga o
esforço do outro. Quero dizer, quando uma pessoa quer terminar
e a outra insiste, então todas as suas boas intenções se tornam
abuso. Deixa de ser carinho pra se tornar hostilidade, invasão do
espaço.
Sou um emaranhado de pecado, sonhos, traumas e recomeços.
Me dou por inteiro, dou tudo. Ou nada. Não acho que seja
preciso durar, mas é preciso valer a pena. Mas todos os dias
quando eu acordo me dá um desespero por ter que aguentar
mais um dia inteiro. Você disse que não queria me perder, mas
agiu como se não se importasse em me encontrar. É terrível a
sensação de não saber o que foi real ou o que foi inventado.
Se você me quisesse, eu teria feito por ti o que ninguém jamais
fez por mim. Mas nem todas as promessas valem a pena quando
temos que convencer alguém a não partir. A gente tem que saber
reconhecer quando não é mais bem-vindo na vida do outro. Se
não tem reciprocidade, o que resta pra insistir? Convencer
alguém a nos querer é, sobretudo, estúpido. Não é amor, mas a
falta dele. Se foi amor, não importa quando, ainda será outra vez.

500 dias sem vocêOù les histoires vivent. Découvrez maintenant