"Fome. Comida. Calorias. Peso. Cintura. Abdominais. Balança."
Sem dúvida que estas palavras inundaram a minha mente nos últimos meses da minha vida. Uma necessidade de controlar tudo o que eu (não) comia.
Começou com uma simples vontade de emagrecer. O que poderá correr mal? Nada. Tantas foram as minhas amigas que perderam peso e que ficaram mais bonitas, por isso, porque não fazer o mesmo, certo?
"Não consigo mais. Estou esfomeada... Por favor, hoje só comi meia maçã. Por favor, só te peço para comer a outra metade. Só isso. Imploro-te..."
"Mas tu achas que és quem? Não precisas de mais 30 calorias no teu corpo. Eu sei o que é melhor para ti e sei que não precisas de comer. Olha para ti. Já viste a tua barriga? As tuas pernas? Por isso é que ninguém gosta de ti, porque o haviam de fazer? Confia em mim. Não falhes agora. Não desistas. Orgulha-te de todo o trabalho que fizeste até hoje. Não o deites fora. Vai correr à volta do quarteirão para te distraíres."
E eu ia. Até que um dia não consegui mais.
No último ano da minha vida, sofri em silêncio. Estava a destruir-me e ninguém deu conta. Estava a matar-me.
Boas notas, bem-educada, uma família equilibrada, apesar da ausência do meu pai. Nunca dei problemas a ninguém. O que é que poderia correr mal, certo?
Nada. Ou tudo.
Com esta auto-biografia espero mostrar a todos os leitores, alguns que até se poderão identificar com as minhas palavras, que estas doenças podem afetar toda a gente e, por isso, o estigma criado em torno destas doenças tem que acabar. A verdade é que esta doença não tem cara. Não é visível, apenas as suas consequências o são. Admitir que se está a sofrer pode ser humilhante para muitos. Falo, obviamente, por mim. Por isso desejo do fundo do coração que a minha biografia possa mudar a vida de muitos jovens e inspirá-los para se chegarem à frente.
Obrigada por lerem.
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Fome
Non-FictionOlá, o meu nome é Mariana, tenho 16 anos e tenho anorexia nervosa. Nesta auto-biografia vou falar um pouco sobre a minha história, desde como tudo começou, como tudo parecia ser algo insignificante e inócuo, a reação da minha família, até onde esto...