•Capítulo Dois•

10.5K 1K 143
                                    

Bato a porta da frente com força, jogo a bolsa em qualquer lugar e corro para a escada. Tudo o que eu queria naquele momento era entrar no meu quarto e chorar até adormecer, já estava acostumada com isso.

As vezes, eu queria voltar no tempo e não sair daquela boate no horário que saí, queria ter deixado o meu orgulho de lado e ter ligado para Maggie me buscar, como ela estava acostumada a fazer. Mas naquela noite em especial, eu surtara com Mag antes de sair de casa por causa de Charlie, meu ex namorado, que praticamente fugiu de mim com nojo quando soube o que aconteceu.

Estava satisfeita quando Maggie entrou no meu quarto aquela noite e me disse que estaríamos nos mudando, fiquei feliz por ela ter matado Walter, mas eu ainda sentia uma insegurança dentro de mim, como se ele não estivesse morto, como se ele ainda me perseguisse quando saio na rua.

A psicóloga que eu fui alguns meses depois, disse-me que eu pensaria isso e que eu tinha que superá-lo, não me esconder com medo no meu quarto durante todo o dia e me isolar das pessoas. Mas eu fiz o contrário. Eu me isolei, parei de ir as minhas consultas e cheguei no ponto profundo de depressão que estou hoje.

Ainda tenho aquela pequena fagulha de esperança dentro de mim, de que um dia vou encontrar um homem bom e forte para me defender, um homem que não fugirá com nojo igual Charlie fez.

Aquele homem no Sweet Coffee hoje me passou um calafrio gostoso no momento em que nossos olhares se encontraram, o seu toque antes de ser aterrorizante, foi atrativo. Eu realmente me senti atraída por ele.

Sabia que era bonita, mesmo estando acabada nos últimos dois anos, eu vi o interesse no olhar dele.

Em vez de me jogar na cama como normalmente fazia, fui para o banheiro tomar um banho e me controlar. Queria mudar a minha vida e superar tudo, mesmo quando apenas o toque de um homem me aterrorizava. Não estava de todo perdida, queria saber se eu ainda tinha salvação, e estava começando a ter forças para lutar por isso.






Três dias depois...

Olhei a panela no fogo antes de ir até o telefone fixo. Era domingo e eu ligaria para Simona, afim de saber como Maggie está. As notícias não eram das boas, Maggie ainda estava em coma e a comida se recusava a parar em seu estômago, mesmo pela sonda que eles estavam usando para alimentá-la. Insisti mais um pouco com ele, pedindo para ir até a Sicília ver a minha irmã, mas ele falou que isso não seria bom para mim, disse que Maggie não estava parecendo a minha irmã de antes.

Depois de mais alguns minutos, desliguei o telefone, me xingando internamente por obedecer a esse homem que sequer vira em toda a minha vida. Já era quase adulta, podia viajar sozinha e não precisava da permissão de ninguém. Infelizmente, esses criminosos não pareciam entender isso, eles apenas davam a ordem e esperavam que os outros as seguissem.

Voltei para a cozinha e desliguei o fogo, olhando o caldo de galinha que tinha preparado para comer sozinha.

Talvez aquela psicóloga estivesse certa anos atrás e eu devesse sair mais um pouco de casa, para socializar com as pessoas. Mas provavelmente elas me achariam estranha. Mantinha contato com Janete, amiga da época que eu trabalhava na boate, mas ela continuava morando no Brooklyn e trabalhando na boate.

Me servi com um pouco de caldo e me sentei na grande mesa, olhando para as cinco cadeiras desocupadas na mesma. Me sentia sozinha, sentia falta da companhia de Maggie e da época que podia sair na rua sem medo de surtar por estar perto de homens.

Suspirei, perdendo a fome. Emagrecera mais de quinze quilos nos últimos dois anos, consegui engordar dez nos últimos meses, mas sentia que estava retornando a imagem esquelética da menina que eu era a poucos meses atrás. Só por isso, resolvi comer o caldo, contra a minha vontade, mas comi.

Depois de um tempo, subi para o meu quarto e escovei os dentes. Vesti uma calça jeans folgada, uma blusinha branca com listras pretas na horizontal, calcei o meu par de  botas de salto médio e grosso preferido e peguei o casaco longo de cor preta.

Desci para o primeiro andar da minha casa — da máfia — e peguei a minha bolsa, não me preocupando em pentear os cabelos. Tranquei a porta ao sair e fui para a rua silenciosa, atenta a tudo ao meu redor. Esse bairro em específico era mais quieto, de dia tinha poucas pessoas andando pelas ruas.

Desci a rua rapidamente e entrei em outra rua mais movimentada. Não sabia ao certo onde estava indo, só queria andar um pouco e tentar voltar a ser a mesma pessoa que era antes.

Me surpreendi quando parei na frente do Sweet Coffee. Esperava ver aquele desconhecido de novo?

Não pensei mais sobre isso, entrei e fiz o meu pedido de costume, logo depois, fui para a minha mesa de costume do lado de fora. Dei uma boa olhada no salão, que estava mais cheio que de costume. Suspirei, peguei o meu celular e entrei no aplicativo do jornal online local para ver as notícias. O de sempre, assassinatos, roubos, política, esportes. Nada que me chamasse a atenção.

Passaram-se quarenta minutos e eu ainda estava sentada na mesa dentro do café, e tinha perdido as esperanças de encontrar aquele homem ali.

Me levantei e fui pagar o café, estava no balcão esperando o troco quando uma movimentação do lado de fora do Sweet Coffee me chamou a atenção. Olhei para fora, ficando completamente paralisada enquanto observava o mesmo loiro de quinta-feira sair de um carro de luxo preto, um homem de terno preto mantinha a porta aberta para ele.

Assim que ele entrou pelo arco da porta ele me viu, seu olhar avaliador me percorrendo de cima a baixo. Não os olhares que eu costumava receber dos homens, esse era diferente.  Eu me virei rapidamente, sorrindo para o atendente quando ele me deu o troco.

— Pode me preparar mais um Capuccino, por favor? — pedi, ele sorriu e foi preparar outro Capuccino para mim.

Engoli em seco, quando, de esguelha, vi o homem se aproximando. Ele parou ao meu lado no balcão, podia sentir o seu cheiro atraente, ele estava a menos de um metro de distância.

Estremeci quando o meu corpo rebelou com a idéia de ter um homem tão perto, mas me obriguei a ficar parada onde estava, afinal, ele sequer estava olhando para mim.

O atendente trouxe o meu Capuccino, sorri para ele: — Obrigado. — falei, estremecendo quando o homem ao meu lado virou seu olhar para mim no instante em que ouviu a minha voz, podia ver o seu cenho franzido.

O atendente acenou para mim e voltou para o homem ao meu lado.

— E o senhor? — saí dali o mais rápido que eu pude, não indo para a mesa como tinha decidido.

Parei na calçada, respirando fundo, sentindo a minha garganta fechar com a vergonha. Ele percebera a mulher suja que eu sou, pude ver em seu rosto quando olhou para mim. Me amaldiçoei internamente. Mais de dois anos não me interessando por ninguém, e quando consigo sentir uma leve atração por alguém, essa pessoa percebe o quão imunda estou.

Dei uma última olhada para trás, ele estava sentado em uma banqueta, virado para mim, me encarando de frente, como um gato, não desviando o olhar nem por um segundo, seus olhos azuis estavam semicerrados. Ele parecia um lobo, e tinha a sua atenção fixada em sua presa: eu.

Balancei a cabeça, sentindo o meu corpo estremecer com o medo, mas com algo diferente também, algo que não sinto a mais de dois anos. Excitação.

Saio dali rapidamente, ignorando o olhar que ele estava me lançando, e desço a rua. Joguei o Capuccino na primeira lata de lixo que vi e enfiei as mãos nos bolsos do meu casaco, abaixando a cabeça enquanto retomava o caminho de volta para casa. Já tinha tido o suficiente para hoje, não esperava encontrar esse homem tão cedo.

























Meus amores, desculpem o sumiço, mas essa internet não está colaborando comigo. Espero que tenham gostado do capítulo, volto em breve.

Até mais!

Vingança Fatal | Série "Donos da Máfia" | Livro 5 Where stories live. Discover now