— Você duvida? — desafio. — Não pode me prender aqui, eu vou chamar a polícia!

Ele ri sem nenhum humor. A expressão em seu rosto continua a mesma. Parece se divertir muito com tudo o que eu digo. Uma sensação ruim me aflige com uma carga de lembranças embaralhadas. Não sei porquê, mas acho que chamar a polícia não é uma boa ideia.

— Fique à vontade para tentar. — Ele dá de ombros, nem um pouco preocupado com a minha fuga. — Tenho planos mais interessantes para você essa noite.

Sua mão toca o puxador e só agora percebo que estamos diante de uma porta de vidro fumê. Posso ver tudo o que está acontecendo lá fora e tento dar um passo para trás, com os olhos arregalados.

— Você não pod...

Ele abre a porta, me levando junto. A brisa da noite é mais gelada quando se está seminua, enrolada em lençóis finos. E se torna mais vergonhoso quando se está no meio de uma festa em que todos param para te olhar.

Todos.

Homens, a maioria com duas vezes a minha idade, todos trajando roupas sociais, cabelos penteados com gel, bebidas translúcidas nas mãos. Uma música ambiente toca de caixas de sons espalhadas. Suas semelhanças é que olhavam para o mesmo ponto: eu.

Suas bocas formaram um "o", e os cochichos começaram. Eu estou tão envergonhada e humilhada que mal sinto meus pés continuarem andando para onde quer que fosse. Estou absorta, como se tivesse saído do próprio corpo. Não consigo acreditar que isso está acontecendo, que não posso abrir os olhos e acordar.

Eu estou fora da órbita. E só volto quando uma voz conhecida me alcança. Eu o vejo se aproximar de braços abertos, sorriso largo, e sinto um ódio mortal se apoderar de mim, sem entender o motivo. Tudo de mim detesta tudo dele.

— Eric! Então ela finalmente acor...

O sujeito é parado com um dedo. Literalmente, um dedo fincado em seu peito. É o suficiente para ele estacar e seu rosto ser tomado por uma mistura de confusão e pânico. Ele não demonstra, mas eu sei. Não estou muito diferente, afinal...

Seu olhar atravessa o homem que me arrastou até aqui, parando em mim. Sua feição muda para ferocidade. Ele parece ter se dado conta de algo. Eu, por outro lado, evito me encolher mais. Esse olhar é muito pior do que os mil em minhas costas, devorando meu corpo.

Eu estou chocada; apenas com um dedo, Eric — foi como o chamaram, certo? — fez esse homem se desestabilizar inteiro.

Enquanto o arredor silencia para ver o desenrolar da cena envolvendo nós três, o dedo de Eric sobe. Ele desliza esse indicador pela camisa social do outro, tão suave, tão intimidador. Então esse dedo alcança a gola da camisa, e agora ele usa toda a mão. Deduzo que ele vai enforcá-lo ali mesmo, mas o que faz é começar a ajeitar o amassado da gola no pescoço.

— Eu disse para você não exagerar. — O tom rouco e baixo de sua voz me faz tremer. Nesse ponto, só eu posso escutá-los. — Mas você adora me desobedecer, não é mesmo, seu bastardinho?

Sinto que estão falando de mim e meu rosto esquenta mais. O olhar do outro se transforma, de ferocidade para decepção consigo mesmo. Embora ele tente disfarçar, é claro como água. A plateia particular está em silêncio, observando a cena enquanto bebem de suas taças.

— Eu fiz o que me mandou.

Eric meneia com a cabeça, desdobrando uma parte amassada da gola. Bastante concentrado nisso.

— E por que a Caligari não se lembra de nada?

— Ela...

Eric faz um sinal com a mão, libertando sua camisa. Ele a estende aberta, um claro comando para o outro calar a boca.

DOMINADA PELA MÁFIA - SÉRIE BLOOD & SWEETWhere stories live. Discover now