— Arroz. — revelou, facilitando o seu trabalho.

      — Ah, eu sei onde fica. Posso ir pegar? — pediu, os olhinhos escuros brilhando em expetativa. — Por favorzinho.

      — Tudo bem. — a menina abriu um largo sorriso, fazendo menção de seguir caminho. — Mas, assim que fizer isso, me encontra na área dos congelados, OK? Combinado?

      — Tá bom. — acenou e saiu saltitando, como se dias atrás não estivesse doente e debilitada, desaparecendo pelo corredor a oeste.

Lacerda seguiu empurrando rumo ao ponto de encontro, recolhendo alguns produtos que constavam na lista, durante o trajeto.

Quando ia se aproximando, seus olhos bateram nos seus biscoitos favoritos no corredor à esquerda e, quando olhou mais à frente e ainda não havia sinal algum de Mariana, escapuliu rapidamente até lá, pensando que não teria mal algum se pegasse apenas um pacote. Certamente não levaria Lena à falência.

O problema, no entanto, era que o produto se encontrava na parte mais alta das prateleiras e, mesmo ficando na ponta dos pés, não alcançava ali, o que lhe fez soltar vários grunhidos de frustração, pois, fazia tempo que não comia o doce e o queria muito.

E a ausência de um funcionário por perto que pudesse auxíliá-la, dificultava ainda mais a sua situação.

Maldita genética que não permitia que tivesse mais do que um metro e cinquenta e seis.

Entre saltos, suspiros e resmungos, não demorou a ter o pacote azul ao seu alcance, entretanto, não por suas mãos, mas sim por uma maior, menos pigmentada e com alguns pêlos à superfície.

Uma alma caridosa havia llhefeito aquele enorme favor e, quando percebeu aquilo, quis dar um grande abraço na pessoa e inundá-la de agradecimentos.

Bem, e talvez fizesse isso se a pessoa em questão não fosse a mesma com quem não desejava se cruzar tão cedo, contudo, sabia que uma hora aquilo acabaria por acontecer, como naquele momento.

      — Yara? — o dito-cujo se mostrava um tanto incrédulo, tendo os olhos arregalados, como se estar de frente para ela fosse bom demais para ser real ou simplesmente estivesse surpreso pelo tanto que tinha crescido.

      — Pai. — foi o que escapuliu por entre seus lábios; a voz sem deixar transparecer emoção alguma, pois era assim que se sentia por dentro no momento, oca e vazia.

Por anos após a partida dele, punha-se ainda a imaginar como seria ao voltar a vê-lo, quando fosse visitá-la novamente, se o abraçaria, chorando de emoção, tamanha saudade pelo tempo em que haviam passado sem se ver.

Pensava se o tempo lhe seria suficiente para contar as tantas novidades que guardava para si, se brincariam até se cansarem e caírem, suados e exaustos, na grama do quintal — como em tempos acontecia —, se ele lhe levaria a tomar milk-shake de baunilha com bastante calda de caramelo, sob o combinado de jamais contar à sua mãe.

Houve tempos também em que acreditou que os dois se esqueceriam das brigas — embora nem soubesse as razões — e se reconciliariam, pois se amavam, e o amor tudo vence.

Contudo, depois de anos sonhando com um reencontro — mesmo depois de se inteirar dos motivos que haviam feito com que ele e sua mãe se separassem, e ele se ausentasse —, à medida que o tempo passava, parecia-lhe uma realidade cada vez mais distante, deixando de significar tanto.

Pois, se ele havia escolhido uma outra vida para si, uma outra família, não fazia sentido que se apegasse a fantasias, esperando que ele entrasse pela porta e lhe tomasse nos braços, como a sua filha amada.

No Compasso das Estrelas | ⚢Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin