Capítulo 21

2.2K 301 195
                                    


      Lacerda desviou os olhos do seu reflexo no largo espelho da casa de banho para o pingente de prata na palma da sua mão.

      — Isso é pra você sempre se lembrar que, independente do que acontecer, eu estarei com você e você também estará comigo, pra sempre. — Adelaide dissera antes de beijar sua testa com ternura e abraçá-la. — A mãe te ama muito, viu?

      — Eu também te amo, mãe. — sentiu os seus olhos encherem-se de lágrimas e apertou-a contra si, como se quisesse garantir que ela nunca iria embora. — Muito.

O sorriso bobo com que fitava o pingente de dois corações colados um ao outro mal cabia em seu rosto tomado emoção, enquanto escutava a mãe explicar que o maior era o próprio e o menor o dela, eternizando o amor incondicional que as unia além da vida.

Era como se pressentisse o que estava por vir e quisesse se certificar que a filha nunca se esqueceria de que jamais estaria só, e pudesse agarrar-se àquela certeza para que não fosse arrastada pela tempestade.

Como se quisesse garantir que, quando ela olhasse para o lado, tivesse a certeza de que ainda segurava com firmeza a sua mão, mesmo que não a pudesse ver. Pois, mais do que ver, ela precisava sentir que estava consigo e nunca a abandonaria.

Mal sabia ela que o impacto fora forte demais e nem aquilo havia sido capaz de manter a sua menina firme quando a culpa escravizou-a e anulou o merecimento do seu amor por si.

Um ano depois, Yara entendia tudo. Entendia o presente, o abraço apertado que lhe dera, as suas palavras e tudo o que elas significavam. Ela já estava se despedindo e ela nem sequer percebera.

Enquanto fitava a delicada jóia contra a palma quente da mão, sentia uma enxurrada de emoções atingir o seu coração, entre elas o arrependimento por ter se afastado quase que complemente das coisas que lhe lembravam a sua mãe, permitindo que tudo se resumisse à culpa e à vontade imensurável de que o tempo voltasse atrás e tivesse oportunidade de fazer tudo diferente.

O clico se repetia e mais uma vez era seu aniversário. Sentia falta de todas as coisas que aquela data costumava significar em um tempo não tão distante, lamentando por ter se resumido em um dia em que a alvorada vinha com um ano a somar e só.

Por outro lado, considerava um grande avanço ter conseguido dar um passo em direção a Adealide ao resgatar do fundo da gaveta aquele colar que tanto significava para si.

Levou-o a encostar na pele à volta do seu pescoço, prendendo-o quase ao mesmo tempo em que alguém bateu à porta, fazendo-a olhar naquela direção.

      — Yara? Tá tudo bem aí? — a voz de Lena se fez ouvir um pouco abafada do outro lado. — A Léia tá lá em baixo te esperando, viu?

      — Está bem, tia. Já vou.

Sentiu os passos dela ficarem cada vez mais distantes, após murmurar algo em compreensão, e voltou a prestar atenção no seu reflexo.

Pousou uma das mãos sobre os corações, sentindo as lágrimas se acumularem nos cantos dos olhos.

Coçou o nariz com o dorso da mão e forçou-as a permecer ali, pois, embora a vontade de chorar fosse enorme, não precisava acontecer justo naquele momento.

Não queria cancelar o passeio — como cogitara fazer pela manhã por não estar no seu melhor dia —, tendo em conta que Léia parecia muito animada, e também a sua insistiu que fosse, justificando que poderia ser uma maneira de se distrair.

Puxou um pouco para cima a tomara-que-caia branca — a combinar com as sandálias e a pequena bolsa suspensa em seus ombros — parcialmente coberta pela jardineira jeans descia que descia até acima dos seus joelhos.

No Compasso das Estrelas | ⚢Où les histoires vivent. Découvrez maintenant