Ao pensar na vida e na vontade de encontrar alguém que me fizesse amar de verdade, lembrei daquela moça que chamei ao palco para cantar, Ana, tão tímida... Quase nem consegui ouvir a voz dela quando lhe entreguei o microfone. Além de tê-la achado uma mulher muito bonita, desde que passei a acompanhar suas redes sociais, percebi que tínhamos muito em comum. Ela parecia o tipo de mulher forte e batalhadora, mas romântica e suave ao mesmo tempo. Talvez o tipo exato que eu estava procurando.

Engraçado tê-la encontrado no shopping e tê-la reconhecido. Pensei, intrigado com a coincidência.

Já era hora de retornar para casa. No voo de volta, a conversa fluía descontraída, como sempre entre nós quatro.

— Tenho achado você diferente nos últimos dias, amigão — disse Caio, que estava sentado ao meu lado, se voltando para mim.

— Tenho me sentido diferente mesmo, cara. Ando pensando muito em Ana, aquela menina que cantou comigo no palco, lembra? Sei lá, não consigo entender, mas sempre que ela me vem à mente, ou que a vejo em suas postagens, uma inquietação toma conta de mim.

— Ê amigo, pelo jeito anda carente. Deve ser isso. Acha que existe alguma possibilidade real de vocês dois se reencontrarem e talvez rolar alguma coisa? — Olhou-me, curioso.

— Não sei... De verdade não sei. Bem que eu gostaria de vê-la outra vez — respondi, pensativo, sentindo uma animação tomar conta da minha alma.

***

Chegando ao meu apartamento em São Paulo, desfiz as malas lentamente e, sem conseguir parar de pensar em Ana e na possibilidade de tentar reencontrá-la, fiquei distraído, apreciando cada lembrancinha que ganhei das fãs nos últimos shows. Sorri satisfeito. Estava realizado. O reconhecimento nacional era um sonho tornado real.

Depois de uma noite de descanso em minha própria cama, acordei no outro dia, animado. Fui à feira. Fiz compras de supermercado e preparei meu próprio almoço. Há muito não cozinhava, costumava fazer isso com Fabiana, entretanto nos últimos tempos andava comendo apenas comida pronta ou em restaurantes. Sentia falta de cozinhar, de ter alguém ao meu lado para dividir momentos do cotidiano.

Terminei de almoçar e lavei a louça, para manter tudo limpo e organizado, pois minha casa estava arrumada já que a faxineira, mesmo na minha ausência, vinha a cada quinze dias. Enquanto enxugava a louça, me bateu uma saudade enorme da minha família, o que me fez pegar o telefone e ligar para os meus pais. Combinei de visitá-los e também mandei uma mensagem para meu irmão mais velho, perguntando se poderia ir lá para nos vermos.

Considerava-me um bom filho, tinha uma família unida, papai e mamãe foram muito presentes na minha vida e muito companheiros meus. Meu velho sempre me incentivou, pois conseguiu perceber meu dom natural para a música desde garoto. Minha mãe, carinhosa, telefonava com frequência enquanto eu estava em turnê, preocupada, e sempre que eu retornava, gostava de fazer quitutes gostosos para mim.

Após receber minha mensagem, meu irmão me ligou e combinamos de nos encontrarmos para o almoço. Ele era um bom conselheiro, amigo para todas as horas, e estava precisando desabafar e de um pouco de colo também. Minha sobrinha Júlia, com cinco anos, me adorava e a recíproca era verdadeira. Estando com ela, me divertia como quando era criança.

Assim que cheguei à casa de meus pais, a família toda veio me receber à porta e a Julinha foi logo pulando em cima de mim.

— Titio, que saudade! — Agarrou-se no meu pescoço.

— Eu também senti muito a sua falta, gatinha. — Apertei o nariz dela. — Hum que cheirinho gostoso de comida, mãe! — Respirei fundo assim que entrei, para sentir melhor o aroma.

Contra todas as probabilidades (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now