Capítulo quatro

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Ana

Minhas semanas seguintes foram cansativas, muitas reuniões, reformas chegando ao fim, clientes exigentes, mesmo assim, de vez em quando, a figura de Marcus segurando minha mão e cantando para mim, me passava pela mente, causando um frenesi em minha alma.

Naquele dia, cheguei mais cedo em casa. Tomei um banho quente demorado e preparei um lanche gostoso, que comi na sala em frente à TV. Mal podia esperar a hora de pegar o telefone para entrar na internet e ver as postagens do meu cantor preferido, para não dizer outra coisa. Ficava sonhando acordada e não me cansava de olhar para aquele rosto. Sua última postagem já tinha três dias e dizia: "Voltando para casa para um descanso merecido". Foi quando me dei conta de que já se passara um mês desde o show e eu não tinha visto meus amigos novamente.

Estive envolvida com um projeto novo para a agência, que acabou tomando todo o meu tempo. Sentia falta deles, de uma vida mais descompromissada e também de ter alguém do meu lado para compartilhar meu dia a dia. Estava cada vez mais carente e desejando um novo amor. Comecei a perceber que, apesar da minha obsessão por Marcus, talvez ele nunca passasse de um amor platônico, inacessível e inalcançável. Eu desejava algo real.

Estava precisando de colo, de carinho e por isso liguei para Amanda.

— Oi, querida! Como vai? Que saudade! — falei assim que ela atendeu.

Oie! Estou bem e você? Também estou com saudades.

— Ando tão carente, amiga, precisando conversar... — Sentei no sofá, com uma angústia apertando o peito. — Podemos nos encontrar no final de semana? — perguntei, enquanto me aconchegava entre as almofadas.

Claro. Aliás, tem uns amigos do Ricardo aqui e eles querem sair. Um deles é um carinha bem interessante que pensei que pudesse te agradar. O nome é André, mora em São Paulo, é advogado, bonito, e gente boa. Vou apresentar vocês, quem sabe rola alguma coisa? Podemos chamar Carol e Cris também! Sexta à noite no Drink's club?

— Combinado então! E, se você diz que o rapaz é interessante, vale a pena conferir.

Despedi-me de Amanda, coloquei uma playlist da 330 Hertz para tocar e deitei no tapete do chão da sala. Fiquei um bom tempo sonhando acordada com Marcus, mas pensativa e intrigada sobre o rapaz que minha amiga queria me apresentar.

Sexta chegou e, animada, me arrumei toda para sair.

Assim que cheguei ao local combinado, Ricardo apresentou os dois amigos da época da faculdade, Daniel e André. O último chamou minha atenção e fiquei com a impressão de que também chamei a dele, pois não parava de me observar, o que me fez pensar que provavelmente Ricardo havia falado sobre mim para ele. Nossos olhares se cruzaram por várias vezes durante a noite. Em alguns momentos percebi que ele sorria enquanto eu falava, um sorriso torto no canto da boca, admirado, interessado, sei lá... De repente, sua mão tocou na minha e seus dedos seguraram os meus. Gostei do seu contato.

— Está sendo uma noite muito agradável. Você e seus amigos são muito divertidos. Adorei conhecê-la — sussurrou ao meu ouvido, para que só eu ouvisse e pude sentir o hálito quente dele aquecer meu corpo.

Sorri, sem jeito.

— Também gostei de conhecer vocês, e está mesmo uma noite muito agradável — respondi, retirando minha mão da dele, com delicadeza.

Já era tarde, estava cansada e levemente embriagada quando falei:

— Preciso da minha cama urgente!

Ele fez uma careta discreta, parecendo decepcionado. Fingi que não notei, levantei e me despedi de todos.

— Poderíamos nos ver amanhã de novo? — André perguntou, ficando de pé também.

Contra todas as probabilidades (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora