Eu não sabia se havia realmente mudado algo, mas as palavras que eu havia dito ontem a Shikamaru tinham surtido efeito em mim. Talvez eu devesse ser mais leve também com minha vida, eu estava afastado algumas pessoas pelo fato de não conseguir seguir em frente.

Será que Sasuke ia querer isso?

Já havia passado algum tempo, mas a pergunta que me rondou a noite toda era: será que eu conseguiria seguir em frente?

— Não aconteceu nada — afirmei após terminar meu chá. Ela ergueu uma sobrancelha contrariada mas preferiu ficar em silêncio. Sarada ficaria fora por dois dias para uma das missões de Genin. Ela era tão forte e determinada, Sarada era minha luz em torno de toda essa escuridão.

— Sakura, eu só não quero que você volte a ser aquele botão de flor de novo. Durante todos esses anos você floresceu de uma forma tão linda. Por favor, não quero que volte a ser aquele botão.

Ino segurou minhas mãos por cima da mesa e tentei dar um sorriso, porém saiu meio desajeitado. Suas palavras me fizeram voltar há muitos anos, quando ainda éramos crianças, eu era tão envergonhada por minha apareceria e não me sentia capaz. Foram as palavras de Ino que me fizeram ir perdendo aos poucos o medo e me tornaram confiante.

Me fizeram florescer.

Lembro-me das provas chunnin e de como acabamos nos enfrentando, ali foi o meu ápice para cair na realidade e realmente querer ser uma Kunoichi. Senti a mão de Ino largar a minha e seus olhos azuis encararem o lado de fora da casa de chá, sua testa estava franzida. Deixei minha xícara sobre a mesa e virei minimamente o corpo para poder ver o que chamava sua atenção.

Temari segurava fortemente a mão de Shikadai, como se obrigasse o menino a acompanhar, comprimi os lábios não gostando do modo como ela puxava o filho.

— Eu não sei que diabos está acontecendo com Shika e Temari, mas isso tudo está passando um pouco dos limites.

— Temari vai se casar e que levar Shikadai para Suna.

— Chouji e eu já conversamos com Shikamaru, ele está péssimo. — Ino pressionou os dedos a testa, fechando os olhos. — As vezes sinto falta de quando éramos gennins e de todas as nossas preocupações bobas.

— Sarada está preocupada com Shikadai. — Olhei novamente para fora, vendo Temari sair arrastando o garoto emburrado. — Ela até pediu minha ajuda, mas eu não sei o que eu realmente posso fazer.

— É uma situação que não podemos nos envolver muito.

Concordei com Ino e voltamos tomar nosso chá, ela tentava me animar. Eu nunca poderia ser tão grata por existir pessoas tão especiais em minha vida, eu sei que independente de qualquer situação, elas estarão ao meu lado.

— Eu estava pensando em convidar o pessoal para uma noite dos adultos hoje. Aproveitar que as crianças estão em missão.

— Inoji vai sai em missão?

— Sim. — ela checou o relógio na parede. — Ele estava bem animado. Mas, não troque de assunto, Testuda.

Deixei um sorriso tímido aparecer em meu rosto, testuda, fazia algum tempo que eu não ouvia esse apelido.

— Farei o possível para ir.

— Vou pedir para Shikamaru passar na sua casa.

Ela piscou e antes que eu pudesse contestar, ela beijou o topo da minha cabeça e saiu apressada, dizendo que precisava ir até a floricultura.

[…]

Observei meu reflexo no espelho da suíte, eu não estava das melhores condições. Estava mais magra que o normal, podia ver os ossos saltado em minha clavícula. Passei as pontas dos dedos sobre minhas pequenas olheiras. Meu cabelo estava molhado denunciando meu banho recente. Olhei para a pequena bolsa de maquiagem sobre o balcão da pia, seria errado talvez eu dar uma ajeitada em meu rosto? Nunca gostei de maquiagem carregada, mas não queria encontrar meus amigos como se eu estivesse com uma aparecia de morta.

Fiquei encarando a pequena bolsa e após alguns segundos finalmente criei coragem e peguei o necessário para me deixar com uma aparência mais saudável. Apertei as bochechas e tentei as deixar levemente rosadas, como antigamente. Havia encontrado perdido em meu armário um vestido soltinho e com desenhos de pequenas flores, o tempo em Konohagakure as vezes ficava um pouco frio mas em especial nessa noite, parecia que o mesmo estava a meu favor — fresco.

Olhei novamente para o espelho e deixei um suspiro escapar de meus lábios. “Sasuke-kun, seria tão mais fácil se você estivesse aqui”. Pensei ainda me avaliando.

Já estava atrasada e teria que ir sozinha até o local onde Ino marcou. Sai do meu quarto, descendo as escadas que davam direto na sala de estar. Meus olhos pousaram em alguns porta-retratos que estavam ali, peguei um em minhas mãos. Meus olhos se fecharam ao senti o acumulo de lágrimas.

“Ah Sasuke-kun, por quê?”

Coloquei o retrato no lugar e caminhei para fora da casa. Tranquei a porta e ao me virar me assustei ao encontrar a figura de Shikamaru, ele terminava de fumar e quando me viu jogou a bituca de cigarro longe.

Ele estava com uma aparência diferente da noite anterior, havia feito sua barba e deixado o costumeiro cavanhaque. Usava uma calça escura, uma camisa e por cima, ao em vez de seu costumeiro sobretudo claro, ele usava um casaco preto de couro. Sua feição estava séria, mas seu olhar estava tranquilo. Pelo menos era o que ele estava tentando demonstrar.

Involuntariamente deixei um sorriso tímido aparecer em meu rosto, talvez a nossa pequena conversa de ontem tenha surtido efeito nele. Agora bastava, eu tentar acreditar nessas mesmas palavras e seguir em frente.

— Boa Noite, Sakura.


Mendokusē¹ - famosa frase dita pelos nossos Shika: que saco.

Depois de Você - ShikaSakuWhere stories live. Discover now