Rabiscou algo sem importância no canto superior do caderno — vendo a matéria que começara a copiar pela metade —, totalmente alheia ao que o professor de Português lecionava.

O que ela não contava, no entanto, era que seu nome seria citado.

      — ...e você, Yara, pra representar a turma na conversa aberta de amanhã, que vai girar em torno do mês da prevenção ao suicídio. — a afirmação de Matias puxou bruscamente a menina do transe em que se encontrava, fazendo com que fixasse os olhos levemente arregalados e carregados de surpresa, no docente.

Alguns colegas fitavam-na, talvez por não saberem bem quem era ela e quisessem descobrir, ou também por estarem indignados por, justo a menina do fundo da sala que mal abria a boca, ter sido escolhida para algo aparentemente importante, mas que nem ela sabia do que se tratava.

Entretanto, antes que pudesse pedir a palavra para expor suas dúvidas, Matias fez o favor de começar a explicar.

      — Como eu já tinha informado na sexta, amanhã haverá uma conversa aberta entre os alunos do décimo primeiro e décimo segundo ano, sobre setembro amarelo, o mês da prevenção ao suicídio. — à medida que falava, ia caminhando a passos lentos pela sala. — Mas, tendo em conta que não será possível a participação de todos vocês, senão seria uma bagunça tremenda, além de que no auditório não cabe todo mundo, a senhora diretora pediu para que cada diretor de turma escolhesse dois representantes. — cessou seus passos, parando atrás da preta. — Por isso, eu escolhi o Fábio e a vossa colega que chegou esse ano, Yara, para participar e rep...

Yara desligou-se da explicação de Matias, enquanto sua mente reproduzia a parte mais importante e necessária da mensagem, suficiente para que algo dentro de si se remexesse desconfortavelmente, talvez por aquele ser um assunto no qual não lhe agradava muito tocar.

      — ...e vale ressaltar que eu e toda a turma estamos depositando a nossa confiança em vocês, e esperando que venham partilhar connosco tudo o que aprenderam e, quem sabe, podemos  organizar o nosso próprio debate aqui, com base no que vocês nos trouxerem de lá.

      — Professor. — a solarense ouviu alguém chamar, mas não prestou muita atenção. Estava mais ocupada em pensar numa forma de se livrar daquela responsabilidade.

      — Pois não, Fábio?

Assim que escutou o nome de quem chamava pelo professor, ergueu os olhos, a fim de identificar quem seria seu companheiro naquele castigo. Os seus traços lhe eram bastante familiares, bem como a pele bronzeada e o aspecto encaracolado dos cabelos que lhe caíam sobre o testa.

Não deu muita importância, concentrada em ouvir o que ele tinha a dizer, e torcendo para que fosse qualquer coisa que faria Matias desistir da ideia estúpida de mandá-la para a atividade do dia seguinte.

      — Assim, será que o senhor poderia, sei lá, me trocar por outra pessoa? — pediu o rapaz, coçando a parte de trás da cabeça.

"E a mim também, por favor!", suplicou a preta em pensamentos.

      — OK. Mas primeiro me explica por que você quer isso. — pediu, amigavelmente, aproximando-se lentamente do garoto de caracóis.

       — Ah, é que...assim...sabe, eu...não tenho, assim muito jeito pra esse tipo de coisa. — confessou, um tanto encabulado. — Na real, eu nem sei o que é pra fazer lá. Nunca sei o que falar nesses negócios aí.

Um leve burburinho começou a se alastrar pela sala; uma grande maioria manifestando seu desejo de pegar o lugar de Fábio, caso ele não quisesse mesmo participar do debate.

No Compasso das Estrelas | ⚢Where stories live. Discover now